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NÃO GOSTO DE PLÁGIO

UM BLOG DE UTILIDADE PÚBLICA CONTRA PLÁGIOS DE TRADUÇÃO. ALGUMAS VÍTIMAS: MONTEIRO


LOBATO, GODOFREDO RANGEL, LÍVIO XAVIER, LIGIA JUNQUEIRA, OSCAR MENDES, ODORICO
MENDES, MÁRIO QUINTANA, GALEÃO COUTINHO, JAMIL ALMANSUR HADDAD, BORIS
SCHNAIDERMAN, CARLOS PORTO CARREIRO, PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS, WILSON
LOUSADA, CASIMIRO FERNANDES, HERNÂNI DONATO, LEONIDAS HEGENBERG, LEONEL VALLANDRO,
ARAÚJO NABUCO, OCTAVIO MENDES CAJADO, MODESTO CARONE, BRENNO SILVEIRA, JACÓ
GUINSBURG, BENTO PRADO JR.
"daddy, tell me how a wolf looks: for such i never saw yet." (grimmelshausen,
simplicissimus; goodrick)
"sr. simplício, tem ali fora um sujeito..." (feliciano de castilho, o doente de
cisma)

24/03/2009
listinha dos plagiados
a listinha dos tombados à sanha dos bandoleiros, que é atualizada conforme vou
publicando os cotejos, fica em duas partes: uma no cabeçalho do blog e outra num
post chamado "outras vítimas", com link em "clique para ver", na coluna da
direita.

mas acho que não custa apresentá-la com sua última atualização. muito, muito
infelizmente até hoje não consegui tirar nenhum nome. os candidatos mais fortes
seriam:

1. joão paulo monteiro, com o leviatã de hobbes garfado pela martin claret sob o
nome de "jean melville", para o qual até soltei um foguetinho. segundo o que dra.
maria luiza egéa, advogada da martin claret, me disse em setembro do ano passado e
me autorizou a usar como fiel informação, sua cliente estaria fechando um acordo
com a editora lesada, a martins fontes, e indenizaria o tradutor. de fato a martin
claret até publicou outra tradução, mas fez o favor de NÃO retirar o plágio de
circulação. tampouco publicou qualquer retificação dos créditos em errata pública,
com vistas a esclarecer os leitores que haviam comprado muitas dezenas e dezenas
de milhares da fraude. a sociedade, portanto, continua ludibriada em sua boa-fé e
atropelada pela incontrolável vigarice da martin claret.

2. luiz costa lima, com o vermelho e o negro de stendhal, garfado pela nova
cultural sob o nome de "maria cristina figueiredo da silva" desde 1995, na coleção
"os imortais da literatura", até recentemente, nas sucessivas reedições pela
coleção "obras-primas", em parceria com o instituto ecofuturo. seu advogado, dr.
marco túlio de barros castro, chegou a um acordo com a editora, a qual ressarciu o
tradutor e até publicou uma pífia errata na imprensa. o nome de luiz costa lima
continua na listinha porque acho que nenhum leitor deve ter visto a retificação e
nenhuma biblioteca deve ter se dado conta. calculo por baixo, por baixo, uns 150
mil exemplares assim. como o principal lesado é o leitor, é a sociedade, falta
ainda uma verdadeira reparação, substituindo os exemplares fraudados por obras
legítimas, e uma errata decente que possa preencher - ah, conselheiro acácio - sua
finalidade de errata.

então segue a listinha atualizada até o cotejo de ontem.

adolfo casais monteiro


antônio pinto de carvalho
araújo nabuco
artur morão
bento prado jr.
blásio demétrio
boris schnaiderman
brenno silveira
carlos chaves
carlos porto carreiro
casimiro fernandes
cunha medeiros
de souza fernandes
eça de queiroz
éverton ralph
fernando de aguiar
galeão coutinho
godofredo rangel
hernâni donato
isabel sequeira
jacó guinsburg
jaime bruna
jamil almansur haddad
joão baptista de mello e souza
joão paulo monteiro
joaquim machado
josé augusto drummond
josé duarte
leila v. b. gouvêa
leonel vallandro
leonidas hegenberg
líbero rangel de andrade
ligia junqueira
lívio xavier
luísa derouet
luiz costa lima
manuel odorico mendes
margarida garrido esteves
maria beatriz nizza da silva
maria francisca ferreira de lima
maria helena rocha pereira
maria irene szmrecsányi
mário quintana
moacyr werneck de castro
modesto carone
monteiro lobato
natália nunes
neide smolka
octany silveira da mota
octavio mendes cajado
olinda gomes fernandes
oscar mendes
paulo m. oliveira
péricles eugênio da silva ramos
ricardo iglésias
rodrigo richter
sarmento de beires
sérgio milliet
silvio meira
sodré viana
suely bastos
sylvio deutsch
tamás szmrecsányi
vera pedroso
wilson lousada
ymaly salem chammas

alguns desses casos sofreram mais de um saque. por exemplo: monteiro lobato,
octavio mendes cajado, paulo m. oliveira, oscar mendes, mário quintana, j.b. mello
e souza.

imagem: saphan, pierre reymond, 1578

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23/03/2009
bicho-carpinteiro
o jardim dos livros é um selo editorial do grupo geração, nascido em março de
2008, congregando a geração editorial, a editora leitura e a ex-editora jardim dos
livros.

sobre as diversas atribuições internas: ao sr. luiz fernando emediato (da geração)
cabe a batuta editorial, o sr. yehezkel (da leitura) comanda o lado comercial e
logístico, e os irmãos ado e cláudio varela (da jardim dos livros) atendem à parte
comercial em são paulo e à editoria de livros de negócios.

a jardim dos livros, antes de aterrissar no grupo geração, teve existência


independente por uns 2 anos, e antes disso chamava-se editora sapienza, igualmente
efêmera. cheguei a esta tal sapienza porque, seguindo o fio da nova cultural e
seus vampiros, vi que enrico corvisieri, o nassettinho do sr. richard civita,
também estava na editora sapienza com a república de platão, ao lado de mirtes
ugeda, outra trêfega figura da nova cultural vezada em copidescar traduções de
terceiros e tascar seu nome nelas. achei estranha a convivência
novacultural/sapienza, e dediquei alguns posts ao tema. depois a sapienza fechou
as portas, e foi passear em seu novo jardim dos livros, esse que depois foi
incorporado pelo grupo geração.

infelizmente esse novo grupo editorial tem mostrado algumas graves deficiências no
quesito integridade: não só a embusteira arte da guerra de sun tzu, na edição de
bolso e em brochura, teve calorosa acolhida no catálogo do grupo, como este foi
enriquecido há menos de um ano com mais duas pérolas do plagiato nacional, o
essencial do alcorão e o essencial de jesus. veja aqui.

embora o sr. luiz fernando emediato tenha declarado que tomou a decisão de tirar o
lixo de circulação, parece que a coisa ficou só na intenção e na conversa mole,
pois tudo continua como dantes na terra de abrantes. ou seja, o grupo geração
abriga, publica, distribui e mantém em circulação obras fraudadas, com plena
consciência dos fatos - sem contar uma notificaçãozinha para mim, dizendo que eu
estava mentindo. na época não gostei e continuo a não gostar. é bom deixar claro:
plágio é feio, plágio é crime, plágio não se faz, e o sr. luiz fernando emediato,
antes de tratar seus leitores como ralé, deveria exercer sua responsabilidade
editorial e ir arrancar suas ervas daninhas.

quero apresentar aqui mais uma fraude descabelada da jardim dos livros, em edição
anterior à fusão com o grupo geração, mas mantida intocada no atual catálogo do
referido grupo. aplicam-se a ela os termos de jorio dauster perante a trapaça
bélica do jardim dos livros: "Não resta dúvida de que, ao adquirir a Jardim dos
Livros e continuar a publicar as obras que passaram a seu controle no bojo dessa
operação, a Editora Geração passou a ser responsável pela distribuição do plágio".

trata-se de a vida secreta de laszlo, conde drácula, de roderic anscombe. foi


publicado em 2007 pelo matagal do lixo e atualmente é propagandeado na
geraçãobooks, o catálogo online do grupo geração. é chapa fria, com um número de
isbn sem qualquer registro: 978-85-60018-10-9. a tradução é atribuída ao mesmo
espantalho "pedro h. berwick" que assina os solenes saques de o essencial do
alcorão e o essencial de jesus.

afora umas ralas e superficiais alterações, é um plágio literal de a vida secreta


de laszlo, conde drácula, traduzido por silvio deutsch para a editora bestseller
em 1994. conforme já comentei, a grande novidade introduzida pelos plágios do
jardim dos livros (grupo geração) é o roubo de obras recentes. até me pergunto
como e por que os irmãos varela se sentem tão à vontade com a bestseller,
justamente uma das editoras que, junto com a nova cultural, compõem "a larga
experiência editorial" que ostentam em seus currículos.

1. silvio deutsch
deveria haver um prefácio, eu sei. uma preparação do cenário ou uma exposição de
motivos. mas não posso esperar. paris é tudo o que sempre sonhei, ainda maior e
mais cheia de inspiração do que em meus sonhos de criança - e um dia, ainda esta
semana, vou descrever minhas impressões.
como fui instruído, na carta em que comunicavam que tinha sido aceito, apresentei-
me ontem no hospital salpêtrière e esperei o dia todo que o médico-chefe me
indicasse algum caso. mas não recebi nenhum. na verdade, o dr. ducasse parecia não
perceber minha presença, e disse-me de forma ríspida que esperasse, quando cheguei
perto dele. sexta-feira, claro, é o dia do mestre, e nessa manhã fui mais cedo
para o anfiteatro, a fim de ver pela primeira vez o professor charcot. poucos
médicos já tinham chegado para a demonstração, e consegui um lugar excelente na
segunda fila.
atrás e acima de mim, outras pessoas logo ocuparam seus lugares nas fileiras de
assentos, e um burburinho de conversas encheu a sala. virei-me para olhar - não
que esperasse ver alguém conhecido naquele meio elegante. ainda assim, examinei a
platéia à procura de um rosto familiar, com quem pudesse entabular uma conversa,
porque, para dizer a verdade, tenho estado um tanto solitário desde que cheguei a
esta cidade, especialmente porque não recebi nenhuma resposta de tia sophie. o
homem ao meu lado estava imerso numa monografia sobre histeria, e hesitei em
perturbá-lo. ao redor, homens colocavam-se em poses visivelmente estudadas e
falavam da forma mais afetada possível ou chamavam alguém do outro lado da sala,
mas, apesar da aparente disposição gregária, achei que os gestos pareciam
calculados para provocar um efeito, como se cada um desejasse ser notado pelos
outros. senti falta da turbulência com que nós, estudantes, aguardávamos uma
palestra em budapeste. em paris, suponho que tal falta de reserva viesse a ser
considerada inapelavelmente provinciana.

2. pedro h. berwick
deveria haver um prefácio, eu sei. uma preparação do cenário ou uma exposição de
motivos. mas não posso esperar. paris é tudo o que sempre sonhei, ainda maior e
mais cheia de inspiração do que em meus sonhos de criança - e um dia, ainda esta
semana, descreverei minhas impressões.
como fui instruído, na carta na qual comunicavam que tinha sido aceito,
apresentei-me ontem no hospital salpêtrière e esperei durante todo o dia que o
médico-chefe me indicasse algum caso. mas não recebi nenhum. na verdade, o dr.
ducasse parecia não perceber minha presença e disse-me, de forma ríspida, que
esperasse, quando cheguei perto dele. sexta-feira, claro, é o dia do mestre, e
nessa manhã fui mais cedo para o anfiteatro, a fim de ver pela primeira vez o
professor charcot. poucos médicos já tinham chegado para a demonstração, e
consegui um lugar excelente na segunda fila.
atrás e acima de mim, outras pessoas rapidamente ocuparam seus lugares nas
fileiras de assentos, e um burburinho de conversas encheu a sala. virei-me para
olhar - não que esperasse ver alguém conhecido naquele meio elegante. ainda assim,
examinei a platéia à procura de um rosto familiar, com quem pudesse entabular uma
conversa, porque, para dizer a verdade, tenho estado um tanto solitário desde que
cheguei a essa cidade, especialmente porque não recebi nenhuma resposta de tia
sophie. o homem ao meu lado estava imerso em uma monografia sobre histeria, e
hesitei em perturbá-lo. ao redor, homens colocavam-se em poses visivelmente
estudadas e falavam da forma mais afetada possível ou chamavam alguém do outro
lado da sala, mas, apesar da aparente disposição gregária, achei que os gestos
pareciam calculados para provocar um efeito, como se cada um desejasse ser notado
pelos outros. senti falta da turbulência com que nós, estudantes, aguardávamos uma
palestra em budapeste. em paris, suponho que tal falta de reserva viesse a ser
considerada inapelavelmente provinciana.

1. silvio deutsch
se este diário terminar aqui, quer dizer que caminhei para uma armadilha, como
desconfio. significa que sou o elo fraco que deve ser eliminado. essa conspiração
pode nunca ter existido. aceito minha morte, mas não posso aceitar que jamais
tenha vivido, por isso deixo este diário num lugar em que ficará empoeirado, junto
com os tratados de teologia de meu avô: não foram perturbados durante duas
gerações, e, como eles, este diário ficará fechado durante cinquenta anos. um dia,
quando eu já não puder me importar, será encontrado, e voltarei à vida na
imaginação do leitor.
aí, nas semanas e meses seguintes, o motivo da minha morte será revelado e minha
reputação como patriota e mártir pela liberdade da hungria irá juntar-se à memória
de meu pai e de meu irmão. sou o último da nossa linhagem. o nome morre comigo.
outros nomes mais ilustres - aponyi, kossuth, karolyi, tisza, andrassy - são
conhecidos além das nossas fronteiras. esses nomes são imortais. no entanto, tenho
esperança de que, nos corações e mentes do povo deste pequeno canto da hungria, a
solene dignidade de drácula irá subsistir carinhosamente até que desapareça
mansamente da memória das pessoas ainda vivas.

2. pedro h. berwick
se este diário terminar aqui, quer dizer que caminhei para uma armadilha, como
desconfio. significa que sou o elo fraco que deve ser eliminado. essa conspiração
pode nunca ter existido. aceito minha morte, mas não posso aceitar que jamais
tenha vivido, por isso deixo este diário em um lugar em que ficará empoeirado,
junto com os tratados de teologia de meu avô: não foram perturbados durante duas
gerações, e, como eles, este diário ficará fechado durante 50 anos. um dia, quando
eu já não puder me importar, será encontrado, e voltarei à vida na imaginação do
leitor.
aí, nas semanas e meses seguintes, o motivo da minha morte será revelado e minha
reputação como patriota e mártir pela liberdade da hungria irá juntar-se à memória
de meu pai e de meu irmão. sou o último da nossa linhagem. o nome morre comigo.
outros nomes mais ilustres - aponyi, kossuth, karolyi, tisza, andrassy - são
conhecidos além das nossas fronteiras. esses nomes são imortais. no entanto, tenho
esperança de que, nos corações e mentes do povo deste pequeno canto da hungria, a
solene dignidade de drácula subsistirá carinhosamente até que desapareça
mansamente da memória das pessoas ainda vivas.

ah, em tempo, os valhacoutos oferecidos pelos solidários responsáveis: relativa,


cultura, saraiva, siciliano, leonardo da vinci, livrarias curitiba etc.
imagens: me vs gutenberg versus; forum.outerspace.com.br

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22/03/2009
o avesso do avesso
um caso que achei engraçado.

há uma famosa tradução de lord jim, de joseph conrad, feita por mário quintana.
ela tinha sido garfada pela editora nova cultural (na coleção "obras-primas", em
parceria com a suzano celulose). houve troca de meia-dúzia de palavras e criou-se
uma fantasminha pluft para pôr no lugar, com o nome de "carmen lia lomonaco".

lorde jim pela martin claret, claretmente, aparecia com "pietro nassetti" como
tradutor. aí, em 2007, a claressetti publica uma nova edição, trazendo como
tradutor - ora, quem? mário quintana. aliás, a claret é tão dada aos espíritos e
fantasmas que conseguiu diretamente no além um "copyright desta tradução: Editora
Martin Claret, 2007". tudo bem, trocou o plágio pela contrafação, pois, ao que eu
saiba, a detentora dos direitos de mário quintana, sua sobrinha elena quintana,
não vendeu os direitos de tradução para a claret. (e, em caso de autorização de
uso, seria uma licença, não um copirraite.) aliás, só posso tributar esse ingente
esforço de simular algum crédito correto ao fato de que, naquela época, a objetiva
estava negociando a compra da claret, e talvez ela estivesse tentando mostrando
serviço. que seja.

o divertido é que os ishpertos claretianos esqueceram de retirar aquelas


troquinhas de palavras em começo de capítulo que usam em seus plágios, e
transformaram a própria tradução de mário quintana numa suposta tradução.

1. mário quintana, globo:


cap. 1: tinha um metro e oitenta de altura, talvez dois ou quatro centímetros a
menos, forte, espadaúdo, avançava direto para a gente, um pouco curvado, olhar
fixo [...]

2. mário quintana, martin claret:


cap. 1: tinha ele quase um metro e oitenta de altura: uns dois centímetros, talvez
cinco, a menos; forte, espadaúdo, avançava direto para a gente, um pouco curvado,
olhar fixo [...]

1. mário quintana, globo:


cap. 2: após dois anos de escola, ele fez-se ao mar, e achou singularmente vazias
de aventuras aquelas regiões tão familiares a sua imaginação.

2. mário quintana, martin claret:


cap. 2: após dois anos de escola, ele foi para o mar, e achou singularmente vazias
de aventuras aquelas regiões tão familiares à sua imaginação.

1. mário quintana, globo:


cap. 5: mas sim - dizia marlow -, eu assistia ao inquérito.

2. mário quintana, martin claret:


cap. 5: - mas sim, dizia ele -, eu assistia ao inquérito.

1. mário quintana, globo:


cap. 7: chegara de tarde um navio postal, com destino ao extremo oriente, e a sala
de jantar estava três quartos cheia de gente com centenas de libras de passagens
de circunavegação no bolso.

2. mário quintana, martin claret:


cap. 7: chegara de tarde um paquete postal, com destino ao extremo oriente, e três
quartos da sala de jantar estavam cheios de gente com centenas de libras de
passagens de circunavegação no bolso.

1. mário quintana, globo:


último parágrafo: quem sabe? ele partiu, de coração impenetrável, e a pobre mulher
que deixou para trás leva, na casa de stein, uma existência inerte e muda. [...]

2. mário quintana, martin claret:


último parágrafo: quem sabe? ele partiu, de coração impenetrável, e a pobre
rapariga que deixou após si leva, na casa de stein, uma existência inerte e muda.
[...]

imagens: nextnature.net; orson welles, f for fake

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21/03/2009
abrir o livro
um estudo interessante da fgv: modelos legislativos em direitos autorais,
comparando principalmente o capítulo das limitações aos direitos autorais na
legislação de cinco países, a saber, canadá, austrália, chile, filipinas e
noruega.

certamente a reformulação dos infames dispositivos da lei 9610/98 que proíbem


qualquer cópia para uso pessoal ou educacional sem fins lucrativos sanaria boa
parte da pirataria editorial, com seus plágios, contrafações e falsificações, que
tem assolado o mundo do livro.

quem manda? os figurões foram gulosos demais em 1998, conseguiram proibir o xerox
nas escolas, aí foi o boom da cópia digital. agora ficam propondo por aí soluções
capengas para tentar manter o monopólio do livro como bem exclusivamente
comercial, e continuam esquecendo que livro também é cultura, ou seja, precisa ter
um mínimo de circulação social...

imagem: www.95bellstreet.com

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20/03/2009
plagiador
de dudu oliva, está no portal literal

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


19/03/2009
new age
a editora martin claret, dizem, anda em nova fase. estou curiosíssima para ver o
cyrano de bergerac, de edmond rostand, que ela deve estar lançando, se é que ainda
não lançou, em tradução de regina célia de oliveira.

é uma proeza e tanto! tomara que a tradutora tenha se saído bem. quem quiser se
deliciar com o original e ter uma leve idéia dos tremendos nós para verter a obra
para o português, aqui tem o link para o download em francês.

imagem: oaleph2008.files.wordpress.com

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liz bennet kidnapped
jane austen , a encantadora dama das letras inglesas, parece encantar também em
português. além do sequestro sofrido às mãos da landmark, em persuasão, ela foi
alvo de outro atentado em orgulho e preconceito, às mãos do nefário claret.

a rapinagem foi feita em cima da tradução de maria francisca ferreira de lima, na


edição da europa-américa. sofreu leves alterações, sobretudo nos primeiros
parágrafos, e saiu atribuída a "jean melville".
capítulo I
a. maria francisca ferreira de lima

É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma


bela fortuna necessita de uma esposa.
Por muito pouco que se conheçam os sentimentos ou modo de pensar de tal homem ao
entrar pela primeira vez numa vizinhança, essa verdade encontra-se de tal modo
enraizada nos espíritos das famílias circundantes que ele é considerado como
propriedade legítima desta ou daquela de suas filhas.
- Meu caro Sr. Bennet - disse-lhe sua mulher um dia -, sabe que Netherfield Park
foi finalmente alugado?
O Sr. Bennet respondeu-lhe que não sabia.
- É como lhe digo - tornou ela -; pois a Sra. Long ainda há pouco aqui esteve e
contou-me tudo.
O Sr. Bennet não deu qualquer resposta.
- Não lhe interessa saber quem o alugou? - exclamou a mulher, impaciente.
- A senhora pretende participar-mo, e eu não me oponho a ouvi-la.
Como convite era mais que suficiente.
- Pois saiba, meu caro, que, pelo que a Sra. Long me disse, Netherfield foi
alugado por um jovem de grande fortuna do norte de Inglaterra. Chegou na segunda-
feira, numa carruagem puxada por quatro cavalos, para visitar o local, e ficou tão
encantado que desde logo aceitou as condições do Sr. Morris. Vem ocupar a casa
ainda antes do dia de S. Miguel e alguns de seus criados deverão chegar já no fim
da próxima semana. (p. 5)

capítulo I
b. "jean melville"

É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro na posse de uma bela
fortuna deve estar necessitando de uma esposa.
Por muito pouco que sejam conhecidos os sentimentos ou o modo de pensar de tal
homem ao entrar pela primeira vez em uma localidade, essa verdade encontra-se de
tal modo enraizada no espírito das famílias vizinhas que ele é considerado como
propriedade legítima de uma de suas filhas.
- Meu caro Mr. Bennet - disse-lhe sua mulher certo dia -, sabe que Netherfield
Park foi finalmente alugado?
Mr. Bennet respondeu-lhe que não sabia.
- Pois foi - tornou ela -; Mrs. Long ainda há pouco esteve aqui e contou-me tudo.
Mr. Bennet nada respondeu.
- Não quer saber quem o alugou? - exclamou a mulher, impaciente.
- A senhora deseja contar, e eu não me oponho a ouvi-la.
Esse convite foi mais que suficiente.
- Pois saiba, meu caro, que, pelo que Mrs. Long me disse, Netherfield foi alugado
por um jovem de grande fortuna, proveniente do norte de Inglaterra. Chegou na
segunda-feira, em uma carruagem puxada por quatro cavalos, para visitar o local, e
ficou tão encantado que logo aceitou as condições de Mr. Morris. Ocupará a casa
antes do dia de São Miguel e alguns de seus criados deverão chegar já no fim da
próxima semana. (p. 13)

Capítulo XXIV
a. maria francisca ferreira de lima

- E são os homens que se encarregam de as convencer.


- Se é propositadamente que o fazem, não têm desculpa; mas não creio que no mundo
haja tanta duplicidade, comoa maioria das pessoas pretendem fazer acreditar.
- Estou longe de atribuir à duplicidade alguma faceta do comportamento do Sr.
Bingley - disse Elisabeth -; mas o que é certo é que, mesmo sem se planear fazer o
mal ou tornar outros infelizes, podem-se criar situações de equívoco e de miséria.
Refiro-me à inconsciência, à falta de atenção para com os sentimentos dos outros e
à falta de poder de resolução.
- E qual lhe atribuis?
- O último. Mas não vou continuar, pois corro o risco de te desagradar ao dizer o
que penso de pessoas que tu estimas.
- Persistes, então, em supor que as suas irmãs o influenciam?
- Sim, de combinação com o amigo dele.
- Não acredito. Porque tentariam elas influenciá-lo? Apenas lhe podem desejar a
sua felicidade, e, se ele sente atracção por mim, nenhuma outra mulher lha pode
garantir.
- A tua primeira afirmação é falsa. Elas podem desejar-lhe várias outras coisas
além da felicidade; podem desejá-lo mais rico e mais influente: podem desejar
casá-lo com uma rapariga investida de toda a importância que o dinheiro, a nobreza
e o orgulho conferem.
- Sem dúvida que elas desejam vê-lo escolher a Menina Darcy - replicou Jane -, mas
os sentimentos que as norteiam podem ser melhores do que aqueles que supões.
Conhecendo-a há mais tempo do que me conhecem a mim, não me admira que a apreciem
mais. Porém, quaisquer que sejam os seus desejos, não é provavel que se oponham
aos do irmão; Que irmã se atreveria a tanto, a não ser em uma situação deveras
censurável? (pp. 102-3)

Capítulo XXIV
b. "jean melville"

- E são os homens que se encarregam de as convencer.


- Se é propositadamente que o fazem, não têm desculpa; mas não creio que no mundo
haja tanta duplicidade, como a maioria das pessoas pretendem fazer acreditar.
- Estou longe de atribuir à duplicidade alguma faceta do comportamento de Mr.
Bingley - disse Elisabeth -; mas o que é certo é que, mesmo sem se planejar fazer
o mal ou tornar outros infelizes, podem-se criar situações de equívoco e de
sofrimento. Refiro-me à inconsciência, à falta de atenção para com os sentimentos
dos outros e à falta de poder de resolução.
- E qual atribuis?
- O último. Mas não vou continuar, pois corro o risco de te desagradar ao dizer o
que penso de pessoas que tu estimas.
- Persistes, então, em supor que as irmãs dele o influenciam?
- Sim, em combinação com o amigo dele.
- Não acredito. Porque tentariam influenciá-lo? Apenas podem desejar a felicidade
dele e, se ele sente atração por mim, nenhuma outra mulher pode lhe trazer essa
felicidade.
- A tua primeira afirmação é falsa. Elas podem desejar-lhe várias outras coisas
além de felicidade; podem desejá-lo mais rico e mais influente: podem desejar
casá-lo com uma moça investida de toda a importância que o dinheiro, a nobreza e o
orgulho conferem.
- Sem dúvida que elas desejam vê-lo escolher Miss Darcy - replicou Jane -, mas os
sentimentos que as norteiam podem ser melhores do que aqueles que supões. Eles a
conhecem há mais tempo do que a mim, não me admira que a apreciem mais. Porém,
quaisquer que sejam os seus desejos, não é provável que se oponham aos do irmão.
Que irmã se atreveria a tanto, a não ser em uma situação realmente censurável? (p.
121)

Capítulo XLVIII
a. maria francisca ferreira de lima

Elisabeth imediatamente compreendeu de onde provinha aquela deferência pela sua


autoridade no assunto, mas, infelizmente, não possuía informações que a
justificassem.
Nunca ouvira dizer que ele tivesse quaisquer parentes, além do pai e da mãe, e
ambos já haviam falecido há muitos anos. Era possível, no entanto, que alguns dos
seus companheiros do regimento pudessem dar informações mais substanciais; e,
embora não alimentasse grandes esperanças a esse respeito, tal medida não era de
desdenhar.
Cada dia em Longbourn era agora um dia de ansiedade; mas o momento mais angustioso
era o da chegada do correio. Eram esperadas cartas todas as manhãs, com a maior
impaciência; e cada dia que passava aguardavam notícias importantes.
Porém, antes de tornarem a receber notícias do Sr. Gardiner, chegou uma carta para
o Sr. Bennet da parte do Sr. Collins; e, como Jane recebera instruções para abrir
toda a correspondência dirigida a seu pai na sua ausência, ela leu a carta.
Elisabeth, que sabia como as cartas do Sr. Collins eram curiosas e singulares,
debruçou-se sobre a irmã e leu também. (p. 212)

Capítulo XLVIII
b. "jean melville"

Elisabeth imediatamente compreendeu de onde provinha aquela deferência por sua


autoridade no assunto, mas, infelizmente, não possuía informações que a
justificassem.
Nunca ouvira dizer que ele tivesse alguns parentes, além do pai e da mãe, e ambos
já haviam falecido há muitos anos. Era possível, no entanto, que alguns de seus
companheiros do regimento pudessem dar informações mais substanciais; e, embora
não alimentasse grandes esperanças a esse respeito, tal medida não era de
desprezar.
Cada dia em Longbourn era agora um dia de ansiedade; mas o momento mais
angustiante era o da chegada do correio. Eram esperadas cartas todas as manhãs,
com grande impaciência; e todo dia [] aguardavam notícias importantes.
Porém, antes de tornarem a receber notícias de Mr. Gardiner, chegou uma carta para
Mr. Bennet da parte de Mr. Collins; e, como Jane recebera instruções para abrir
toda correspondência dirigida a seu pai em sua ausência, ela leu a carta.
Elisabeth, que sabia como as cartas de Mr. Collins eram curiosas e singulares,
debruçou-se sobre a irmã e leu também. (p. 241)

[agradeço a colaboração de thiago augusto]

sobre essa ishperteza, veja também "quanta enganação!". ela encontra solidário
valhacouto entre a fiel turminha: livraria da travessa, livraria da vila, livraria
cultura, livraria loyola, livrarias siciliano etc.

imagens: http://janeausten.com.br; www.players.com.br

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rapinare insopitabilis est
Edgar Allan Poe, Histórias Extraordinárias, "A Queda da Casa de Usher".
Civilização Brasileira - Tradução Brenno Silveira e outros
Martin Claret - "Tradução" Pietro Nassetti

I. Civilização:

No mais verde de nossos vales,


habitado por anjos bons,
antigamente um belo e imponente palácio
- um palácio radiante - se erguia.
Nos domínios do rei Pensamento,
lá se achava ele !
Jamais um serafim espalmou a asa
sobre um edifício só metade tão belo.
I. Claret:

No mais verde de nossos vales,


povoado por anjos bons,
antigamente um belo e majestoso palácio
- um palácio luminoso - se erguia.
Nos domínios do rei Pensamento,
lá se encontrava ele !
Jamais um serafim estendeu a asa
sobre um edifício apenas metade tão belo.

II. Civilização:

Estandartes amarelos, gloriosos, dourados,


sobre o seu telhado ondulavam, flutuavam.
(Isso, tudo isso, aconteceu há muito,
muitíssimo tempo.)
E em cada brisa suave que soprava,
naqueles doces dias,
ao longo dos muros pálidos e empenachados,
se elevava um aroma alado.

II. Claret:

Estandartes amarelos, gloriosos, dourados,


sobre o seu telhado ondulavam, flutuavam.
([] Tudo isso aconteceu há muito,
muitíssimo tempo.)
E em cada brisa suave que soprava,
naqueles doces dias,
ao longo dos muros pálidos e enfeitados de penas,
se elevava uma fragrância alada.

III. Civilização:

Caminhantes que passavam por esse vale feliz


viam, através de duas janelas iluminadas,
espíritos que se moviam musicalmente
ao som de um alaúde bem afinado,
em torno de um trono onde, sentado,
(Porfirogênito !)
com majestade digna de sua glória,
aparecia o senhor do reino.

III. Claret:

Caminhantes que passavam por esse vale feliz


viam, através de duas janelas iluminadas,
espíritos que se moviam musicalmente
ao som de um alaúde bem afinado,
ao redor de um trono onde, sentado,
(Porfirogênito !)
com majestade digna de sua glória,
surgia o senhor do reino.

IV. Civilização:
E toda refulgente de pérolas e rubis
era a linda porta do palácio,
através da qual passava, passava e passava,
a refulgir sem cessar,
um turba de ecos cuja grata missão
era apenas cantar,
com vozes de inexcedível beleza,
o talento e o saber de seu rei.

IV. Claret:

E toda resplandecente de pérolas e rubis


era a linda porta do palácio,
através da qual passava, passava e passava,
a resplandecer sem cessar,
um coro de ecos cuja missão agradável
era apenas cantar,
com vozes de incomparável beleza,
o talento e o saber de seu rei.

V. Civilização:

Mas seres maus, trajados de luto,


assaltaram o alto trono do monarca;
(Ah, lamentemo-nos, visto que nunca mais a alvorada
despontará sobre ele, o desolado !)
e, em torno de sua mansão, a glória
que, rubra, florescia,
não passa, agora, de uma história quase esquecida
dos velhos tempos já sepultados.

V. Claret:

Mas seres maus, trajados de luto,


assaltaram o alto trono do monarca;
(Ah, lamentemo-nos, visto que nunca mais a alvorada
despontará sobre ele, o desolado!)
e, em torno de sua mansão, a glória
que, rubra, florescia,
não passa, agora, de uma história quase esquecida
dos velhos tempos já sepultados.

VI. Civilização:

E agora os caminhantes, nesse vale,


através das janelas de luz avermelhada, vêem
grandes vultos que se movem fantasticamente
ao som de desafinada melodia;
enquanto isso, qual rio rápido e medonho,
através da porta descorada,
odiosa turba se precipita sem cessar,
rindo - mas sem sorrir nunca mais.

VI. Claret:

E agora os caminhantes, nesse vale,


através das janelas de luz avermelhada, divisam
grandes vultos que se movem fantasticamente
ao som de desafinada melodia;
enquanto isso, qual rio veloz e medonho,
através da porta descorada,
odiosa turba se precipita sem cessar,
rindo - mas sem sorrir nunca mais.

[agradeço a saulo von randow jr. por este cotejo]

solidários responsáveis por mais essa pichelingada que se arrasta desde 1999:
leitura, saraiva, livraria da vila, loyola etc.

imagem: www.leyline.com.br

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18/03/2009
mais um lobato clareteado
foi monteiro lobato quem introduziu jack london no brasil. fez as traduções de
caninos brancos (1933), o lobo do mar (1934), o grito da selva (1935) e a filha da
neve (1947).

o lobo do mar foi publicado pela companhia editora nacional em 1934, e nela se
mantém até hoje, na enésima edição. em 1998 a martin claret abocanhou a obra, e
desde então vem trapaceando o público em sucessivas edições com a tradução roubada
a monteiro lobato e atribuída a "pietro nassetti".
monteiro lobato

CAPÍTULO 1
Não sei por onde começar, embora por brincadeira eu costume atribuir a causa de
tudo a Charley Furuseth. Este amigo possuía uma casa de campo em Mill Valley, onde
repousava durante os meses de inverno lendo Nietzsche e Schopenhauer; já os verões
passava imerso no trabalho, a suar no tumulto da cidade. Não fosse meu costume de
aparecer por lá aos sábados, ficando até a semana seguinte, e aquela manhã de
janeiro não me teria pilhado a vogar na baía São Francisco. Meu barco, o
"Martinez", oferecia toda a segurança; tratava-se dum barco recém-construído e
ainda na sua quarta ou quinta viagem de carreira entre Sausalito e São Francisco.
O que não oferecia segurança era o nevoeiro reinante, apesar de que, na minha
ignorância das coisas do mar, não me passasse pela cabeça a menor idéia de perigo.
Soprava uma brisa fresca e eu me sentia sozinho dentro da névoa úmida, embora com
a consciência de que, lá em cima, na casa de vidro, estavam o piloto e o homem que
devia ser o capitão.
Lembro-me que me pus a refletir sobre a divisão do trabalho. Graças a ela me via
dispensado do estudo e conhecimento dos nevoeiros, marés e o mais relativo à
navegação sempre que ia de visita a Charley Furuseth, lá do outro lado de baía.
Ótimo que os homens se especializem no trabalho, ponderava eu. Os conhecimentos
marítimos do capitão e do piloto, por exemplo, permitem que milhares de pessoas
não pensem nisso, e uma, como eu, se dedique a estudos como aquele sobre o lugar
de Poe na literatura norte-americana, que eu publiquei na Atlantic. Ao subir para
bordo tinha visto, numa cabina entreaberta, um homem alentado a ler com atenção
essa revista — a ler o meu ensaio. Era outra demonstração do valor da divisão do
trabalho. O "conhecimento especial" do piloto e do capitão permitiam que aquele
passageiro se inteirasse do meu "conhecimento especial" sobre Poe, enquanto era
"navegado" com toda a segurança de São Francisco a Sausalito.
Minhas reflexões foram interrompidas pelo aparecimento no convés dum homem de cara
vermelha, que ao deixar a sua cabina bateu a porta com violência e aproximou-se de
mim manquitolando e martelando o chão com uma perna de pau. Isso, aliás, não
impediu que eu tomasse rápida nota mental daqueles pensamentos, para pô-los num
artigo que tinha em vista escrever sobre a necessidade da liberdade estética. O
sujeito lançou uma olhadela para a casa do piloto e em seguida pôs-se a contemplar
o nevoeiro, de pernas abertas, com visível ar de satisfação. Percebi ser homem
afeito às coisas do mar.
— Tempo destes é que os põem de cabelos brancos tão cedo, murmurou, indicando com
um movimento de cabeça a casa de vidro onde estavam o piloto e o capitão.
— Qual o quê! respondi na minha santa ignorância. Há a bússola para orientá-los. E
há o leme que dirige o navio. E há os mapas. O negócio é simples como o abc. Tudo
matemático.
— Qual o que, heim? rosnou o homem. Simples abc, heim? Certeza matemática, heim?
E cresceu para mim ao dizer isto.
— Que acha desta maré que incha todo o Golden Gate, senhor? perguntou-me quase num
rugido. Com que rapidez vaza ela? Em que rumo? Vamos lá, senhor! Está ouvindo
aquele som? Bóia de campainha — e mal a ouvimos já estamos sobre ela. Veja como
mudam de lugar... Realmente, de dentro do nevoeiro brotava um som de campainha — o
que fez o piloto dar à roda do leme com violência, até que o som, que vinha pela
nossa frente, passasse a vir de lado. Enquanto isso a sereia de bordo pusera-se a
apitar com a sua voz rouca, em resposta a outros apitos brotados de dentro da
cerração.
— É algum "ferry-boat", explicou o homem da perna de pau, referindo-se a um apito
que vinha da direita. E aquele lá, está ouvindo? Buzina! Buzina de assoprar com a
boca. É o que usam nas escunas. Cuidado, mestre escuneiro! O inferno está hoje com
vontade de comer gente...
O invisível "ferry-boat" apitava com furor e a buzina da escuna respondia com
desespero.
— Estão agora a trocar cumprimentos e explicações, disse o homem logo que a fúria
dos avisos cessou.
Seus olhos enchiam-se do brilho da excitação à medida que me ia traduzindo em
língua de gente a fala daqueles instrumentos de fazer barulho no mar.
— Ouça! Aquilo é sinal para evolução à esquerda... E esse acolá, com voz de sapo,
é grito de escuna a vapor que forceja contra a maré.
Um silvo fino e esganiçado rompeu à frente. Os gongos do "Martinez" soaram fazendo
as rodas propulsoras afrouxarem o andamento, que só foi retomado quando aquele
trilhar de grilo entre feras rugidoras se sumiu ao longe. Olhei para o meu homem,
à espera de interpretação.
— Lancha, disse ele. Dessas endemoninhadas lanchas que só mesmo a gente metendo a
pique. Umas pestes que vivem a causar trapalhadas. Qualquer imbecil julga-se no
direito de meter-se nelas e sulcar as águas apitando com impertinência para que o
mundo inteiro saiba que tais pulgas existem. E é preciso levá-las em conta. Estão
no uso dum direito — direito de caminho pela superfície das águas. Direito, ah,
ah!
Diverti-me com a cólera do homem, e enquanto ele andava de cá para lá,
manquitolando na sua perna de pau, pus-me a refletir no romantismo da bruma.
Romantismo, sim. É romântico o nevoeiro que tudo envolve com o seu manto cinzento,
de passo que os homens — meros átomos — blasfemam nos corcéis de aço flutuantes
através do Mistério, às cegas dentro do Invisível, com palavras de confiança na
boca e a incerteza e o medo nos corações.
A voz do meu companheiro fez-me voltar à realidade e sorrir. Eu também havia
devaneado às tontas e às cegas dentro do mistério, julgando seguir caminho seguro.
— Olá! dizia ele. Vem algo ao nosso encontro, está ouvindo? Vem rápido e em linha
reta. Juro que não nos percebeu ainda. Não ouve a nossa sereia. O vento está a
nosso favor.
A brisa fresca soprava de frente, e pude ouvir bem nítido o silvo a que o meu
homem se referia.
— "Ferry-boat"? perguntei.
O homem fez com a cabeça sinal que sim e acrescentou:
— Do contrário não viria nessa marcha. E com uma risada nervosa: — Estão
assustados, lá em cima...
Olhei para a casa do piloto. O capitão, com a cabeça e ombros de fora, cravava
fixamente os olhos no nevoeiro, como tentando devassá-lo à força. Suas feições
mostravam ansiedade — a mesma que vi no rosto do meu companheiro, agora de bruços
na amurada e também com os olhos presos no perigo invisível que se alapava dentro
da névoa.
E o que tinha de dar-se, deu-se com incrível rapidez. Rompido por uma cunha, o
nevoeiro mostrou a proa dum vapor a emergir franjado de espuma na linha d'água,
com bigodes dum Leviatã. Pude ver a casa do piloto, com um homem de barbas brancas
assomado a uma das janelas. Trajava uniforme azul, e lembro-me da impressão de
calma que me deu.
Era terrível tal calma em tais circunstâncias. O homem aceitava o seu destino,
avançava com ele de mãos dadas, a medir friamente o choque. Seu olhar inquisitivo
fixava-se no "Martinez" como para determinar o ponto exato da colisão — e em nada
se alterou quando o nosso piloto, branco de raiva, berrou-lhe: — Foi você o
culpado!
A observação era por demais óbvia para tomar necessária qualquer resposta.
— Agarre-se no que puder e agüente-se! gritou-me o homem da perna de pau. Notei
que a sua arrogância se dissipara e que parecia contagiado pela calma anormal do
homem de barbas brancas. — E veja como as mulheres gritam, prosseguiu ele
sombriamente, quase com amargura, fazendo-me crer que já havia passado por transes
iguais àquele.
Os dois navios chocaram-se antes que eu pudesse seguir o seu conselho. O impacto
devia ter sido no meio do "Martinez", que adernou violentamente por entre
estrondos do madeirame. Vi-me lançado de borco sobre o convés alagado, e antes que
pudesse erguer-me vi-me tonto pela grita das mulheres. Foi isso — esse
indescritível e arrepiante uivo de pânico o que mais me apavorou. Lembrei-me do
salva-vidas do meu camarote. Corri para lá. Ao alcançar a porta fui varrido por
uma onda selvagem de criaturas em disparada. Não me recordo do que sucedeu logo
depois, a não ser o avanço no estoque de salva-vidas, com o homem de perna de pau
a atar os que podia à cintura dum bando histérico de mulheres. A memória dessa
cena é mais nítida do que a de qualquer outra que me haja passado sob os olhos.
Inda hoje vejo o quadro: o rombo numa cabina, através do qual a névoa revoluteava
em turbilhão; divãs e poltronas esvaziados de súbito e com todos os sinais do
estouro — pacotes, bolsas, guardachuvas, capas; o alentado sujeito da Atlantic,
engastado num salva-vidas e ainda com a revista na mão, a perguntar-me com
insistência se havia perigo; o meu companheiro da perna de pau a manquitolar por
toda a parte muito seguro de si na tarefa de distribuir salva-vidas a quantos
apareciam, e, finalmente, a inferneira louca do mulherio apavorado.

pietro nassetti

CAPÍTULO 1
Não sei por onde começar, embora por brincadeira eu costume atribuir a causa de
tudo a Charley Furuseth. Este amigo possuía uma casa de campo em Mill Valley, onde
descansava durante os meses de inverno lendo Nietzsche e Schopenhauer; já os
verões passava imerso no trabalho, a suar no tumulto da cidade. Não fosse o meu
costume de aparecer por lá aos sábados, ficando até a semana seguinte, e aquela
manhã de janeiro não me teria encontrado a navegar na baía S. Francisco.
Meu barco, o "Martinez", oferecia toda a segurança; tratava-se dum barco recém-
construído e ainda na sua quarta ou quinta viagem de carreira entre Sausalito e S.
Francisco. O que não oferecia segurança era o nevoeiro circundante, apesar de que,
na minha ignorância das coisas do mar, não me passasse pela cabeça a menor idéia
de perigo. Soprava uma brisa fresca e eu me sentia sozinho dentro da névoa úmida,
embora com a consciência de que, lá em cima, na casa de vidro, estavam o piloto e
o homem que devia ser o capitão.
Lembro-me que me pus a pensar na divisão do trabalho. Graças a ela me via
dispensado do estudo e conhecimento dos nevoeiros, marés e o mais relativo à
navegação sempre que ia de visita a Charley Furuseth, lá do outro lado de baía.
Ótimo que os homens se especializem no trabalho, ponderava eu. Os conhecimentos
marítimos do capitão e do piloto, por exemplo, permitem que milhares de pessoas
não pensem nisso, e permitem que uma, como eu, se dedique a estudos como aquele
sobre o lugar de Poe na literatura norte-americana, que eu publicara na Atlantic.
Ao subir a bordo eu tinha visto, numa cabina entreaberta, um homem [] a ler com
atenção essa revista — a ler o meu ensaio. Era outra demonstração do valor da
divisão do trabalho. O "conhecimento especial" do piloto e do capitão permitiam
que aquele passageiro se inteirasse do meu "conhecimento especial" sobre Poe,
enquanto era "navegado" com toda a segurança de S. Francisco a Sausalito.
Minhas reflexões foram interrompidas pelo aparecimento no convés dum homem de cara
vermelha, que ao deixar a sua cabina bateu com violência a porta e aproximou-se de
mim mancando e martelando o chão com uma perna-de-pau. Isso, aliás, não impediu
que eu tomasse rápida nota mental daqueles pensamentos, para pô-los num artigo que
tinha em vista escrever sobre a [] liberdade estética. O sujeito lançou uma
olhadela para a casa do piloto e em seguida pôs-se a contemplar o nevoeiro, de
pernas abertas, com visível ar de satisfação. Percebi ser homem afeito às coisas
do mar.
— Tempo destes é que os põem de cabelos brancos tão cedo, murmurou, indicando com
um movimento de cabeça a casa de vidro onde estavam o piloto e o capitão.
— Qual o quê! respondi na minha santa ignorância. Há a bússola para orientá-los. E
há o leme que dirige o navio. E há os mapas. O negócio é simples como o abc. Tudo
matemático.
— Qual o que, hein? rosnou o homem. Simples abc, hein? Certeza matemática, hein?
E veio em minha direção ao dizer isto.
— Que acha desta maré que incha todo o Golden Gate, senhor? perguntou-me quase num
rugido. Com que rapidez vasa ela? Em que rumo? Vamos lá, senhor! Está ouvindo
aquele som? Bóia de campainha — e mal a ouvimos já estamos sobre ela. Veja como
mudam de lugar...
Realmente, de dentro do nevoeiro brotava um som de campainha — o que fez o piloto
dar a roda do leme com violência, até que o som, que vinha pela nossa frente,
passasse a vir de lado. Enquanto isso a sereia de bordo apitava com a sua voz
rouca, em resposta a outros apitos brotados de dentro da cerração.
— É algum ferry-boat, explicou o homem da perna-de-pau, referindo-se a um apito
que vinha da direita. E aquele lá, está ouvindo? Buzina! Buzina de assoprar com a
boca. É o que usam nas escunas. Cuidado, mestre escuneiro! O inferno está com
vontade de comer gente hoje...
O invisível ferry-boat apitava com furor e a buzina da escuna respondia com
desespero.
— Estão agora trocando cumprimentos e explicações, disse o homem logo que a fúria
dos avisos cessou.
Seus olhos enchiam-se do brilho da excitação à medida que me ia traduzindo em
língua de gente a fala daqueles instrumentos de fazer barulho no mar.
— Ouça! Aquilo é sinal para evolução à esquerda... E este acolá, com voz de sapo,
é grito de escuna a vapor que forceja contra a maré.
Um assovio fino e esganiçado rompeu à frente. Os gongos do "Martinez" soaram,
fazendo as rodas propulsoras afrouxarem o andamento, que só foi retomado quando
aquele trilar de grilo entre feras rugidoras se sumiu ao longe. Olhei para o meu
homem, à espera de interpretação.
— Lancha, disse ele. Dessas endemoninhadas lanchas que só mesmo a gente metendo-as
a pique. Umas pestes que vivem a causar trapalhadas. Qualquer imbecil julga-se no
direito de meter-se nelas e sulcar as águas apitando com impertinência para que o
mundo inteiro saiba que tais pulgas existem. E é preciso levá-las em conta. Estão
no uso dum direito — direito de caminho pela superfície das águas. Direito, ah,
ah!
Diverti-me com a cólera do homem e, enquanto ele andava de cá para lá,
manquitolando na sua perna-de-pau, pus-me a refletir no romantismo da bruma.
Romantismo, sim. É romântico o nevoeiro que tudo envolve com o seu manto cinzento,
de passo que os homens — meros átomos — blasfemam nos corcéis de aço flutuantes
através do Mistério, às cegas dentro do Invisível, com palavras de confiança na
boca e a incerteza e o medo nos corações.
A voz do meu companheiro fez-me voltar à realidade e sorrir. Eu também havia
devaneado às tontas e às cegas dentro do mistério, julgando seguir caminho seguro.
— Olá! dizia ele. Vem algo ao nosso encontro, está ouvindo? Vem, rápido e em linha
reta. Juro que não nos percebeu ainda. Não ouve a nossa sereia. O vento está a
nosso favor.
A brisa fresca soprava de frente, e pude ouvir bem nítido o silvo a que o meu
homem se referia.
— Ferry-boat? perguntei.
O homem fez sinal que sim com a cabeça; e acrescentou: "Do contrário não viria
nessa marcha". E com uma risada nervosa: "Estão assustados, lá em cima..."
Olhei para a casa do piloto. O capitão, com a cabeça e ombros de fora, cravava
fixamente os olhos no nevoeiro, como tentando devassá-lo à força. Suas feições
mostravam ansiedade — a mesma que vi no rosto do meu companheiro, agora de bruços
na amurada e também com os olhos presos no perigo invisível que se ocultava dentro
da névoa.
E o que tinha de dar-se, deu-se com incrível rapidez. Rompido por uma cunha, o
nevoeiro mostrou a proa dum vapor a emergir franjado de espuma na linha d'água,
com os bigodes dum Leviatã. Pude ver a casa do piloto, com um homem de barbas
brancas assomado a uma das janelas; trajava uniforme azul, e lembro-me da
impressão de calma que me deu.
Era terrível aquela calma em tais circunstâncias. O homem aceitava o seu destino,
avançava de mãos dadas com ele, a medir friamente o choque. Seu olhar inquisitivo
fixava-se no "Martinez" como para determinar o ponto exato da colisão — e em nada
se alterou quando o nosso piloto, branco de raiva, berrou-lhe: "Foi você o
culpado!".
A observação era por demais óbvia para tomar necessária qualquer resposta.
— Agarre-se no que puder e agüente-se! gritou-me o homem da perna-de-pau. Notei
que a sua arrogância se dissipara e que parecia contagiado pela calma anormal do
homem de barbas brancas. "E veja como as mulheres gritam", prosseguiu ele
sombriamente, quase com amargura, fazendo-me crer que já havia passado por
situações iguais àquela.
Os dois navios chocaram-se antes que eu pudesse seguir o seu conselho. O impacto
devia ter sido no meio do "Martinez", que tombou violentamente por entre estrondos
do madeirame. Fui lançado de bruços sobre o convés alagado, e antes que pudesse
erguer-me vi-me tonto pela gritaria das mulheres. Foi isso — esse indescritível e
arrepiante uivo de pânico o que mais me apavorou. Lembrei-me do salva-vidas do meu
camarote. Corri para lá. Ao alcançar a porta fui varrido por uma onda selvagem de
criaturas em disparada. Não me recordo do que sucedeu logo depois, a não ser o
avanço no sortimento de salva-vidas, com o homem de perna-de-pau a atar os que
podia à cintura dum bando histérico de mulheres. A memória dessa cena é mais
nítida do que a de qualquer outra que me haja passado sob os olhos. Ainda hoje
vejo o quadro: o rombo numa cabina, através do qual a névoa revoluteava em
turbilhão; divãs e poltronas esvaziados de súbito e com todos os sinais do
"estouro" — pacotes, bolsas, guardachuvas, capas largados ali; o alentado sujeito
da Atlantic, engastado num salva-vidas e ainda com a revista na mão, a perguntar-
me com insistência se havia perigo; o meu companheiro da perna-de-pau a mancar por
toda parte, muito seguro de si na tarefa de distribuir salva-vidas a quantos
apareciam, e, finalmente, a inferneira louca do mulherio apavorado.

à venda nos usuais amiguinhos da martin claret: fnac, martins fontes, galileu,
siciliano, saraiva, cultura, submarino, travessa, americanas, leitura, da vinci,
cortez etc., todos eles solidariamente responsáveis com o editor responsável pela
fraude, de acordo com o art. 104, capítulo II, título VII da lei 9.610/98.

imagens: london.sonoma.edu; adrianapeliano.blogspot.com;


missoavancine.blogspot.com; portugues.istockphoto.com
POSTADO POR DENISE 1 COMENTÁRIOS
17/03/2009
uísque uruguaio fabricado em são paulo

deu na folha de hoje:

"Um livro de geografia distribuído pelo governo paulista aos alunos da sexta série
do ensino fundamental traz duas vezes o Paraguai no mapa da América do Sul e ainda
inverte a localizaç ão do Uruguai e Paraguai."

e começa o jogo de peteca: a secretaria estadual da educação diz que o responsável


pelo erro é a fundação vanzolini. já a fundação vanzolini diz que quem produziu o
material foram professores indicados pela secretaria.

eia nóis.

imagens: msn emoticons, yikes e faint

POSTADO POR DENISE 1 COMENTÁRIOS


a aufklärung digital
fazendo jus à aura esclarecida e democrática que sempre cercou o intelectual
bento prado jr., sua família, com extrema gentileza e desprendimento, atendeu à
solicitação feita em "uma boa e digna troca".

os familiares autorizaram, na parte que lhes toca, a digitalização e


disponibilização em ebook para download gratuito na internet de o discurso do
método de descartes na consagrada tradução de jacó guinsburg e bento prado jr. -
naturalmente, em se tratando de uma tradução a quatro mãos, agora cabe aguardar a
decisão do cotradutor sr. jacó guinsburg.

acompanhe aqui, em ordem cronológica, a triste novela dessa fraude cometida pela
nova (in)cultural, na coleção "os pensadores", adulterando a famosa tradução de
jacó guinsburg e bento prado jr. e atribuindo-a ao fantasmagórico "enrico
corvisieri": 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8.

imagem: matisse, nautikkon.blogspot.com

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


pero que sí, pero que no
a resposta do setor de vestibular da uesc:

Prezada Senhora Denise,


Agradecemos o seu contato e observações. Quanto as obras que estão disponíveis e
em domínio público iremos providenciar para que esta informação chegue aos
estudantes através do nosso site. Com os mais sinceros e cordiais cumprimentos,
Profa. Clemildes Alves
GESEOR-Gerência de Seleção e Orientação

e da vice-reitoria:

Prezada Senhora Denise Botmann,


Confirmamos recebimento da sua mensagem e informamos que foi encaminhada para
análise pelo setor competente.
Desde já agradecemos a colaboração.
Cordialmente,
Adélia Pinheiro
Vice-Reitora
POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS
16/03/2009
o essencial do jardim dos livros

algum tempo atrás, apresentei aqui o caso de o essencial do alcorão, de thomas


cleary, publicado no ano passado pela jardim dos livros (selo do grupo geração).
essa edição é uma valente garfada da tradução de leila v.b. gouvêa, publicada pela
editora bestseller, e dá como tradutor um tal de "pedro h. berwick". os cotejos
saíram em 6 posts, a partir daqui.

na ocasião, o sr. luiz fernando emediato, responsável pelo setor editorial do


grupo, comprometeu-se a retirar a obra espúria de catálogo e de circulação.
infelizmente, porém, ele deve andar muito ocupado, pois não teve tempo de tomar
suas providências. passados quase dois meses, o essencial do alcorão continua belo
e formoso no site geraçãobooks, impávido e destemido nas prateleiras da saraiva,
cultura, siciliano, submarino, loyola etc.

mas imagino que o sr. luiz saberá honrar a palavra empenhada, e por isso apresento
mais um cotejo de outra infeliz obra sob sua responsabilidade editorial. quem
sabe, tendo um tempinho, ele já não aproveita e tira essa fraude também?
a outra solene garfada do jardim dos livros, selo do grupo geração, foi em cima de
o essencial de jesus, de john dominic crossan, também em 2008. o glutão é o mesmo
misterioso "pedro h. berwick", e a vítima foi uma vez mais a editora bestseller,
que havia publicado a obra em 1994 na tradução de ymaly salem chammas.
1. ymaly salem chammas (bestseller)
PRÓLOGO
Espalhados pelos campos, podem-se observar certos animais selvagens, machos e
fêmeas, escuros, lívidos e queimados pelo Sol, atados à terra que escavam e
revolvem com invencível teimosia. Entretanto, eles produzem algo parecido com uma
voz articulada e, quando se levantam, revelam uma face humana. Na verdade, eles
são seres humanos... Graças a eles, os outros seres humanos não precisam semear,
trabalhar e colher para viver. É por isso que a eles não deve faltar o pão que
semearam.

Jean la Bruyère, moralista francês do final do século dezessete (citado por Eric
J. Hobsbawm, Journal of Peasant Studies, vol. 1 [1973])

A Roma Imperial
É repleta de arcos do triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem
Os Césares triunfaram?

César derrotou os gauleses.


Não havia nem mesmo um cozinheiro em seu exército?

Cada página uma vitória.


A custa de quem o baile da vitória?
Em cada década um grande homem.
Quem pagou a conta?

Tantas particularidades.
Tantas perguntas.

Bertolt Brecht, A Worker Reads History

Se nenhum cristão houvesse escrito nada sobre Jesus durante os primeiros cem anos
após a sua morte, ainda teríamos dois relatos sucintos daqueles que não estavam
entre os seus seguidores. Um relato data da última década do século primeiro e vem
do historiador judeu Flávio Josefo em Jewish Antiquities, 18.63:

Naquela época lá vivia Jesus, um homem sábio... Pois ele era um homem que operava
feitos surpreendentes e era um mestre para as pessoas que aceitam a verdade com
alegria. Ele ganhou o apoio de muitos judeus e de muitos gregos...
Quando Pilatos, depois de ouvi-lo ser acusado pelos homens mais honrados dentre
nós, o condenou à crucificação, aqueles que o haviam seguido para amá-lo não
desistiram do afeto por ele... E a tribo dos cristãos, assim chamada em homenagem
ao seu nome, até hoje não desapareceu.

Essa descrição é cuidadosamente neutra ou, no máximo, ligeiramente crítica. O


texto original foi conservado, mas existe uma versão modificada pelos editores
cristãos, porém eu o cito sem as alterações propostas.
O relato seguinte data das primeiras décadas do século dois e foi escrito pelo
historiador pagão Cornélio Tácito. Tendo dito que um rumor culpava Nero pelo
desastroso incêndio que destruiu Roma no ano 64 d.C., ele prossegue em Anais,
15.44:

Portanto, para encerrar os rumores, Nero apontou como culpada, e puniu com os mais
extremos requintes de crueldade, uma classe de homens, abominada por seus vícios,
que o povo conhecia como cristãos. Cristo, o “fundador” do nome, havia recebido o
castigo da morte no reinado de Tibério, sentenciado pelo procurador Pôncio
Pilatos, e a superstição perniciosa havia sido interrompida na época, somente para
recrudescer mais uma vez, não apenas na Judéia, lugar de origem da doença, mas na
própria capital, onde todas as coisas horríveis ou vergonhosas do mundo se reúnem
e encontram expressão.

Apesar das diferenças entre a imparcialidade calculada de Josefo e a parcialidade


cheia de desprezo de Tácito, eles concordam em três fatos bastante elementares.
Primeiro, havia algum tipo de movimento associado a Jesus. Segundo, ele foi
executado por uma autoridade oficial presumivelmente para encerrar o movimento.
Terceiro, em vez de morrer, o movimento continuou a se espalhar.
Permanecem, portanto, esses três fatos: movimento, execução, continuação. Mas o
maior deles é a continuação.

2. pedro h. berwick (selo jardim dos livros)

PRÓLOGO
Espalhados pelos campos, podem-se observar certos animais selvagens, machos e
fêmeas, escuros, lívidos e queimados pelo Sol, atados à terra que escavam e
revolvem com invencível teimosia. Entretanto, eles produzem algo parecido com uma
voz articulada e, quando se levantam, revelam uma face humana. Na verdade, eles
são seres humanos... Graças a eles, os outros seres humanos não precisam semear,
trabalhar e colher para viver. É por isso que a eles não deve faltar o pão que
semearam.

Jean la Bruyère, moralista francês do final do século dezessete (citado por Eric
J. Hobsbawm, Journal of Peasant Studies, vol. 1 [1973])

A Roma Imperial
É repleta de arcos do triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem
Os Césares triunfaram?

César derrotou os gauleses.


Não havia nem mesmo um cozinheiro em seu exército?
Cada página uma vitória.
À custa de quem o baile da vitória?
Em cada década um grande homem.
Quem pagou a conta?

Tantas particularidades.
Tantas perguntas.

Bertolt Brecht, A Worker Reads History

Se nenhum cristão houvesse escrito nada sobre Jesus durante os primeiros cem anos
após a sua morte, ainda teríamos dois relatos sucintos daqueles que não estavam
entre os seus seguidores. Um relato data da última década do século primeiro e vem
do historiador judeu Flávio Josefo em Jewish Antiquities, 18.63:

Naquela época lá vivia Jesus, um homem sábio... Pois ele era um homem que operava
feitos surpreendentes e era um mestre para as pessoas que aceitam a verdade com
alegria. Ele ganhou o apoio de muitos judeus e de muitos gregos... Quando Pilatos,
depois de ouvi-lo ser acusado pelos homens mais honrados dentre nós, o condenou à
crucificação, aqueles que o haviam seguido para amá-lo não desistiram do afeto por
ele... E a tribo dos cristãos, assim chamada em homenagem ao seu nome, até hoje
não desapareceu.

Essa descrição é cuidadosamente neutra ou, no máximo, ligeiramente crítica. O


texto original foi conservado, mas existe uma versão modificada pelos editores
cristãos, porém eu o cito sem as alterações propostas. O relato seguinte data das
primeiras décadas do século dois e foi escrito pelo historiador pagão Cornélio
Tácito. Tendo dito que um rumor culpava Nero pelo desastroso incêndio que destruiu
Roma no ano 64 d.C., ele prossegue em Anais, 15.44:

Portanto, para encerrar os rumores, Nero apontou como culpada, e puniu com os mais
extremos requintes de crueldade, uma classe de homens, abominada por seus vícios,
que o povo conhecia como cristãos. Cristo, o “fundador” do nome, havia recebido o
castigo da morte no reinado de Tibério, sentenciado pelo procurador Pôncio
Pilatos, e a superstição perniciosa havia sido interrompida na época, somente para
recrudescer mais uma vez, não apenas na Judéia, lugar de origem da doença, mas na
própria capital, onde todas as coisas horríveis ou vergonhosas do mundo se reúnem
e encontram expressão.

Apesar das diferenças entre a imparcialidade calculada de Josefo e a parcialidade


cheia de desprezo de Tácito, eles concordam em três fatos bastante elementares.
Primeiro, havia algum tipo de movimento associado a Jesus. Segundo, ele foi
executado por uma autoridade oficial presumivelmente para encerrar o movimento.
Terceiro, em vez de morrer, o movimento continuou a se espalhar.
Permanecem, portanto, esses três fatos: movimento, execução, continuação. Mas o
maior deles é a continuação.

1. ymaly salem chammas (bestseller)


CONTEXTOS
Nós queremos que todos trabalhem, como nós. Não deveria mais haver ricos e pobres.
Todos deveriam ter o pão para se alimentar e alimentar os filhos. Deveríamos ser
todos iguais. Eu tenho cinco filhos e apenas um quarto pequeno, onde temos de
comer e dormir e fazer tudo, enquanto tantos Senhores (signori) têm dez ou doze
quartos, palácios inteiros... Será suficiente compartilhar tudo e dividir com
justiça o que se produz.
Camponesa anônima de Piana dei Greci, província de Palermo, Sicília, falando a um
jornalista do norte da Itália durante uma rebelião de camponeses em 1893 (citada
por Eric J. Hobsbawm, Primitive Rebels: Studies in Archaic Forms of Social
Movement in the 19th and 20th Centuries [New York: Norton, 1965])

Um duplo entrave sempre permeou o núcleo da história mediterrânea: a pobreza e a


incerteza do amanhã.

Fernand Braudel

No mundo precário do Mediterrâneo, o reino dos Céus tinha de estar relacionado a


alimentos e bebida.

Peter Brown

O Que É Essencial Sobre Jesus?

Dois problemas principais surgem quando se aplica o termo essencial a Jesus. O


primeiro é se estamos falando do Jesus canônico ou do Jesus histórico. O Jesus
canônico é a figura que permeia os quatro evangelhos oficiais do Novo Testamento
das igrejas cristãs. Uma possível interpretação do termo essencial seria aquele
Jesus oficial, conforme retratado exclusivamente nos textos aprovados. Mas
escolhi, no lugar disso, interpretar essencial como significando histórico,
designando não o Jesus descrito pelos cristãos, que acreditam nos evangelhos
escritos entre quarenta e sessenta anos após a sua morte, mas, sim, aquele Jesus
que poderia ter sido visto na Galiléia durante a sua vida real. Imagine, por
exemplo, estas respostas de observadores diferentes, que viram e ouviram
exatamente as mesmas palavras e feitos daquele Jesus
histórico:

Ele é perigoso, vamos combatê-lo.


Ele é criminoso, vamos executá-lo.
Ele é divino, vamos segui-lo.

Um relato histórico deve ser capaz de explicar todas essas respostas diferentes,
ou então não será fiel ao que aconteceu.
Neste livro, portanto, o Jesus essencial significa não o Jesus canônico, mas o
Jesus histórico. Não irei simplesmente examinar os quatro evangelhos do Novo
Testamento, pinçar os ditos mais conhecidos de Jesus e reinterpretá-Ios. Em vez
disso, apresento aqueles ditos que, segundo a minha melhor avaliação histórica,
são originais de Jesus. Já tive oportunidade de defender essa avaliação em dois
livros anteriores*, assim este livro conclui uma trilogia sobre o Jesus histórico.

* The Historical Jesus: The Life of a Mediterranean Jewish Peasant. San Francisco:
HarperSanFrancisco, 1991. Edição Encapada, 1993. Jesus: A Revolutionary
Biograp¬hy. San Francisco: HarperSanFrancisco, 1994.

O segundo problema é tão difícil e importante quanto o primeiro. Seria o essencial


de Jesus uma questão de palavra sem feito, de idéia sem ação, de visão sem
programa? Imagine, por exemplo, um livro sobre o Gandhi essencial, ou sobre o
Martin Luther King Jr. essencial: seria suficiente conhecer uma seleção bem-feita
e representativa das suas palavras e ignorar suas práticas? Não se estaria, assim,
negando o que lhes é mais essencial, notadamente a conjunção de suas visões e
programas, da vida e da morte? O mesmo se dá com o Jesus essencial. Ele tinha um
sonho religioso e um programa social, e foi essa conjunção que provocou sua morte.
O Império Romano pode ter abusado do seu poder com freqüência, mas raramente o
exercia sem necessidade. Ele
não crucificava professores ou filósofos; exilava-os permanentemente ou os removia
de Roma periodicamente. Na verdade, se Jesus tivesse sido apenas uma questão de
palavras ou idéias, os romanos provavelmente o teriam ignorado e, talvez, não
estaríamos falando dele hoje. O
movimento do seu Reino, entretanto, com suas curas e exorcismos, era ação e
prática, não pensamento e teoria. Mas como se pode mostrar um programa num livro?
É possível, naturalmente, notar as palavras por meio das quais Jesus se refere ao
seu programa, ou coloca em prática seus procedimentos. Contudo, ainda estaríamos
emaranhados em palavras e textos. Para ver um programa em ação é preciso ter
acesso a imagens, de preferência, é claro, com transmissões ao vivo via satélite!
Minha solução, na ausência de vídeos arcaicos da antiga Galiléia, depende das
imagens intercaladas com os ditos que se encontram no corpo deste livro. Essas
imagens não são, definitivamente, meros ornamentos. São os mais antigos retratos
do programa de Jesus e, conseqüentemente, constituem um complemento necessário às
traduções das palavras de Jesus. Neste livro, em resumo, o Jesus essencial é o
Jesus histórico, com sua visão e seu programa.

2. pedro h. berwick (selo jardim dos livros)

CONTEXTOS
Nós queremos que todos trabalhem, como nós. Não deveria mais haver ricos e pobres.
Todos everiam ter o pão para se alimentar e alimentar os filhos. Deveríamos ser
todos iguais. Eu tenho cinco filhos e apenas um quarto pequeno, onde temos de
comer e dormir e fazer tudo, enquanto tantos Senhores (signori) têm dez ou doze
quartos, palácios inteiros... Será suficiente compartilhar tudo e dividir com
justiça o que se produz.

Camponesa anônima de Piana dei Greci, província de Palermo, Sicília, falando a um


jornalista do norte da Itália durante uma rebelião de camponeses em 1893 (citada
por Eric J. Hobsbawm, Primitive Rebels: Studies in Archaic Forms of Social
Movement in the 19th and 20th Centuries New York: Norton, 1965)

Um duplo entrave sempre permeou o núcleo da história mediterrânea: a pobreza e a


incerteza do amanhã.

Fernand Braudel

No mundo precário do Mediterrâneo, o reino dos Céus tinha de estar relacionado a


alimentos e bebida.

Peter Brown

O Que É Essencial Sobre Jesus?

Dois problemas principais surgem quando se aplica o termo essencial a Jesus. O


primeiro é se estamos falando do Jesus canônico ou do Jesus histórico. O Jesus
canônico é a figura que permeia os quatro evangelhos oficiais do Novo Testamento
das igrejas cristãs. Uma possível interpretação do termo essencial seria aquele
Jesus oficial, conforme retratado exclusivamente nos textos aprovados. Mas
escolhi, no lugar disso, interpretar essencial como significando histórico,
designando não o Jesus descrito pelos cristãos, que acreditam nos evangelhos
escritos entre quarenta e sessenta anos após a sua morte, mas, sim, aquele Jesus
que poderia ter sido visto na Galiléia durante a sua vida real. Imagine, por
exemplo, estas respostas de observadores diferentes, que viram e ouviram
exatamente as mesmas palavras e feitos daquele Jesus histórico:

Ele é perigoso, vamos combatê-lo.


Ele é criminoso, vamos executá-lo.
Ele é divino, vamos segui-lo.

Um relato histórico deve ser capaz de explicar todas essas respostas diferentes,
ou então não será fiel ao que aconteceu. Neste livro, portanto, o Jesus essencial
significa não o Jesus canônico, mas o Jesus histórico. Não irei simplesmente
examinar os quatro evangelhos do Novo Testamento, pinçar os ditos mais conhecidos
de Jesus e reinterpretá-Ios. Em vez disso, apresento aqueles ditos que, segundo a
minha melhor avaliação histórica, são originais de Jesus. Já tive oportunidade de
defender essa avaliação em dois livros anteriores*, assim este livro conclui uma
trilogia sobre o Jesus histórico.

* The Historical Jesus: The Life of a Mediterranean Jewish Peasant. San Francisco:
HarperSanFrancisco, 1991. Edição Encapada, 1993. Jesus: A Revolutionary
Biograp¬hy. San Francisco: HarperSanFrancisco, 1994.

O segundo problema é tão difícil e importante quanto o primeiro. Seria o essencial


de Jesus uma questão de palavra sem feito, de idéia sem ação, de visão sem
programa? Imagine, por exemplo, um livro sobre o Gandhi essencial, ou sobre o
Martin Luther King Jr. essencial: seria suficiente conhecer uma seleção bem-feita
e representativa das suas palavras e ignorar suas práticas? Não se estaria, assim,
negando o que lhes é mais essencial, notadamente a conjunção de suas visões e
programas, da vida e da morte? O mesmo se dá com o Jesus essencial. Ele tinha um
sonho religioso e um programa social, e foi essa conjunção que provocou sua morte.
O Império Romano pode ter abusado do seu poder com freqüência, mas raramente o
exercia sem necessidade. Ele não crucificava professores ou filósofos; exilava-os
permanentemente ou os removia de Roma periodicamente. Na verdade, se Jesus tivesse
sido apenas uma questão de palavras ou idéias, os romanos provavelmente o teriam
ignorado e, talvez, não estaríamos falando dele hoje. Omovimento do seu Reino,
entretanto, com suas curas e exorcismos, era ação e prática, não pensamento e
teoria. Mas como se pode mostrar um programa num livro? É possível, naturalmente,
notar as palavras por meio das quais Jesus se refere ao seu programa, ou coloca em
prática seus procedimentos. Contudo, ainda estaríamos emaranhados em palavras e
textos. Para ver um programa em ação é preciso ter acesso a imagens, de
preferência, é claro, com transmissões ao vivo via satélite! Minha solução, na
ausência de vídeos arcaicos da antiga Galiléia, depende das imagens intercaladas
com os ditos que se encontram no corpo deste livro. Essas imagens não são,
definitivamente, meros ornamentos. São os mais antigos retratos do programa de
Jesus e, conseqüentemente, constituem um complemento necessário às traduções das
palavras de Jesus. Neste livro, em resumo, o Jesus essencial é o Jesus histórico,
com sua visão e seu programa.
além disso, essa edição é chapa fria: seu suposto isbn 978-85-60018-12-3 não
consta cadastrado na agência brasileira do isbn/fbn. a fraude se encontra à venda
na fnac, cultura, siciliano, leitura, submarino etc.
imagens: images_businessweek.com; digitaldropos.com.br

ah, sr. luiz, por favor não se esqueça de retirar também a arte da guerra do tal
nikko bushido!

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zumbi trapalhares
na semana passada, escrevi para o ministério público pedindo se eles teriam
alguma maneira de dar um jeito lá na fbn. pois é a fbn (fundação biblioteca
nacional), do minc, que abriga a agência brasileira de isbn.

eu morro de vergonha de ver aquelas fichas de isbn na fbn com pietro nassetti
tradutor de machado de assis, josé de alencar, eça de queiroz etc.

por mais que o minc, a fbn e a agência do isbn digam que não é problema deles e
que não têm nada a ver com isso, eu acho que um pouco de discernimento não faz mal
a ninguém, e na verdade também acho que eles têm algo a ver com isso, sim senhor.
pois a agência não é obrigada a aceitar qualquer sandice que lhe passa pela
frente. ela podia muito bem ter dito "não, não vou cadastrar essa coisa", e
devolver a solicitação. mas aceitou, cadastrou, atribuiu número de isbn, deu
chancela oficial, então claro que a responsabilidade é dela.

até imagino por esse mundão afora as agências de cada país ou da UE aceitando,
cadastrando, atribuindo isbns e mantendo fichas com dados assim:

victor hugo, les misérables, traduit par pierre ulalah, ed. martinet clareté, ou
miguel de cervantes, don quijote, traducción de juan pepe, ed. martí clarés, ou
walt whitman, leaves of grass, translated by jackass, ed. marty clary

vou ficar aqui torcendo para que o ministério público consiga enfiar um mínimo de
bom senso na cabeça daquele pessoal.

imagem: zombiemonalisa, www.boingboing.net

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15/03/2009
bonitinho
livros e afins deu o caminho das pedras:

Article 1
Les livres, tous les livres ont le droit d’exister.
Article 2
Les livres sont égaux entre eux, sans distinction d’origine, de fortune, de
naissance, d’opinion, d’éditeur.
Article 3
Tout livre a droit à la vie, à sa commercialisation, à la chance d’être exposé au
lecteur, et de donner à son auteur celle d’être entendu et rémunéré à juste titre.
Article 4
Tous sont égaux devant la loi qui les met à égalité de prix pour tous en quelques
lieux qu’ils soient proposés.
Article 5
Chacun a droit à la reconnaissance en tout lieu de sa personnalité, de la
personnalité de son auteur, de celle de son éditeur.
Article 6
Le livre, oeuvre d’imagination autant que de recherche, s’adresse à l’imagination
autant qu’au besoin de l’homme. Il ne peut en aucune façon être dévoyé dans sa
commercialisation comme un produit d’appel de consommation courante.
Article 7
Le livre est, et demeure garant de nos libertés. Il ne peut en aucun cas être
soumis à quelque aliénation que ce soit tant sur le plan de la pensée que sur
celui de sa vocation fondamentale qui est de promouvoir le libre-échange des
cultures, des mentalités et des savoirs.
Article 8
Le livre, ouverture de l’esprit, de recherches, de plaisirs, consignation du
savoir autant qu’oeuvre de création doit être traité comme un bien indispensableà
la culture, à la promotion sociale et spirituelle, à l’information, et ne peut
être traité comme un vulgaire objet de profit.

imagem e texto: bibliofrance.org

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14/03/2009
... ...
ISBN: 85-7232-696-0
TÍTULO: A LÍNGUA E O ESTILO DE RUI BARBOSA
AUTOR: GLADSTONE CLARES [sic]
TRADUTOR: JEAN MELVILLE
EDIÇÃO: 1
TIPO DE SUPORTE: PAPEL
PÁGINAS: 228
EDITORA: MARTIN CLARET

Gladstone Chaves é autor, entre outras coisas, de Iniciação à Filologia e à


Linguística Portuguesa, A Língua do Brasil, Gramática Fundamental da Língua
Portuguesa, Na Ponta da Língua.

imagem: www.npr.org

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13/03/2009
faits-divers

vi outro dia que a landmark fez mais uma de suas landemarquices. a editora do sr.
jorge cyrino e do sr. fábio cyrino tinha publicado um plágio ridículo de o morro
dos ventos uivantes, usando a tradução de vera pedroso (bruguera, 1971) e tascando
o nome da pobre da revisora como a responsável pelo plágio.

a profissional, quando soube que tinha virado plagiadora à sua revelia,


naturalmente subiu pelas paredes e foi tomar satisfação com a dupla dinâmica. em
atenção a ela e ao relato que me fez sobre as agruras em que fora precipitada
pelas baixarias da landmark, postei uma retificação e retirei seu nome da lista de
quem assinava os plágios - pois, embora de fato seu nome constasse como a autora
do plágio landemarquiano de o morro dos ventos uivantes, o fato se dera por
absoluta falta de escrúpulos da editora, que nem se incomodou com os danos morais
e materiais que estava causando à profissional contratada.

o engraçado da história, se é que tem alguma coisa de engraçado, é que o morro dos
ventos uivantes no plágio da landmark também tinha chapa fria: ou seja, constava
cadastrado no isbn/fbn com tradução de "ana maria oliveira rosa" e na edição
impressa o plágio aparecia atribuído à referida profissional. pois muito que bem:
a dupla landemarquiana, perante os legítimos protestos da revisora convertida em
plagiadora, tentou se safar do imbróglio prometendo-lhe que corrigiria o "engano"
na próxima reimpressão da obra.

aparentemente saiu uma nova reimpressão, pois agora a espectral "ana maria
oliveira rosa" da chapa fria no isbn/fbn comparece como a tradutora de o morro dos
ventos uivantes da landmark.

mas o importante é: a landmark lançou nova tradução? publicou alguma errata para
os ludibriados compradores dos exemplares anteriores? abriu mão da cópia
deslavada? ou pelo menos deu o nome da verdadeira tradutora, vera pedroso? nada
disso. ficou a fantasminha pluft, e ao leitor restou o triste fado de ter que
conviver com mais esse acinte nacional...

imagem: exlibris.memphis.edu

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12/03/2009
uma boa e digna troca
que bom que o mec tirou o estrupício do enrico corvisieri de seu portal domínio
público.

mas me ocorreu que, afinal, tem que se pensar em inclusão social e circulação da
cultura, e não só em exclusão dos trapaceiros ishpertos.

então pensei assim:

- é importante que a sociedade possa ter acesso à famosa tradução do discurso do


método de guinsburg e prado jr., com a introdução de gilles-gaston granger e as
notas de gérard lebrun

- as edições da difel e da abril (em "os pensadores") e as edições prestáveis da


nova cultural (em "os pensadores" até 1996) estão esgotadas

- a dona abdr protofascista não deixa ninguém tirar xerox e sai por aí invadindo
universidades, processando reitores e fechando serviços de xerox

- a edição espúria do discurso do método em nome de "enrico corvisieri" está


circulando para download na internet desde 2001, faz oito anos

- essa edição espúria saiu de catálogo da nova cultural em 2008 e do portal


domínio público agora em 2009, sem nada legítimo para ocupar seu lugar, e vai
continuar circulando em inúmeros sites de download, até por falta de opção

- então um bom tributo público à memória de bento prado jr. poderia talvez ser o
seguinte: quem sabe o sr. jacó guinsburg e os herdeiros de bento prado jr. não
disponibilizariam gentilmente para a sociedade a consagrada tradução do discurso
do método, se possível com a famosa introdução de granger e as notas de lebrun?

aí tenho certeza de que todos os sites de downloads se aprestariam em cancelar a


tosca edição corvisieriana e poderiam substituí-la condignamente por um bom
discurso do método.

imagens: tractatus.free.fr; delymyth.net

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viva, que maravilha

eu tinha escrito ao portal do domínio público do mec, expondo o problema de


disponibilizarem em seu site o discurso do método na suposta tradução de enrico
corvisieri, que para começar nem seria domínio público e, o mais importante, era
uma fraude descabelada.

recebi agora a resposta:

"Prezada Denise,
agradecemos a sua valiosa contribuição e informamos que a obra 'Discurso do
Método', tradução feita por 'Enrico Corvisieri' está inativa em nosso Portal.
Atenciosamente,
Dalvanisa Luiz - Domínio Público."

fui conferir. resultado: Nenhum registro encontrado

que maravilha, sr. mec, isso mesmo. e me sinto realmente encantada em ver que o
governo ouve os cidadãos.

imagem: logo do portal domínio público

POSTADO POR DENISE 1 COMENTÁRIOS


discurso do método 4
uma das poucas vozes da academia que se manifestaram publicamente:
"mal se podia na época, se bem me lembro, recorrer às traduções em língua
portuguesa. [...] foi nesse contexto que surgiu a coleção 'os pensadores', então
publicada pela abril cultural. o projeto visionário de josé américo pessanha
consistia em trazer ao público brasileiro, de maneira ampla e acessível, escritos
filosóficos significativos, precedidos de estudos introdutórios à obra de seus
autores. zelar pela escolha dos textos e pelo rigor e qualidade das traduções eram
pontos inquestionáveis. [...]
"a coleção 'os pensadores' tornou-se referência. é bem verdade que alterações se
produziram à medida que sucediam as edições: suprimiram textos que compunham
volumes, dividiram volumes em partes. interesses comerciais. algo estupefaciente
estava ainda por ocorrer. ao deparar-me recentemente com uma das últimas edições
do volume descartes, percebi, atônita, que tinha nas mãos outro livro.67
inteiramente transformado, nele substituíram por outra a tradução de bento prado
júnior e jacó guinsburg; suprimiram a introdução de gilles-gaston granger e as
notas de gérard lebrun. custa crer que um projeto tão bem cuidado e tão bem
sucedido venha sendo dessa forma desmantelado."
67. descartes, discurso do método, as paixões da alma, meditações, trad. enrico
corvisieri, são paulo, nova cultural, 2000 (coleção "os pensadores").

scarlett marton, a irrecusável busca de sentido, ateliê editorial, 2004, pp. 64-
65.

embora a profa. scarlett tenha sido caridosa em chamar o copidesque corvisieriano


de "outra" tradução, o que vale é sua expressão de repúdio.

se as dezenas de filósofos e correlatos uspianos, unespianos e unicampianos que


torcem o nariz a essas pseudotraduções tomassem alguma iniciativa para além das
quatro paredes da academia, certamente prestariam um bom serviço à sociedade.
podem começar, por exemplo, solicitando ao mec que retire de seu portal de domínio
público o tripudio à memória de bento prado. o coordenador do portal se chama
marco antonio rodrigues, seu endereço eletrônico é dompub@mec.gov.br e o telefone
é (61) 2104-8100.
eu, de minha parte, já escrevi.

retificação em 13/03: a atual coordenadora do portal é dalvanisa luiz. e-mail e


telefone continuam os mesmos.

imagem: portas-lapsos.zip.net; negrito meu na citação.

POSTADO POR DENISE 2 COMENTÁRIOS


11/03/2009
discurso do método 3

previsivelmente, enrico corvisieri com seu discurso do método sob a égide da nova
cultural (1999 em diante), copidescado a partir da tradução de jacó guinsburg e
bento prado jr., tem uma presença significativa nas escolas e universidades.
exemplinhos:

http://www.utfp/r.edu.br/proplad/arquivos/edital_052_2008_PS_PB_Programa_Filosofia
_Sociologia.pdf www.sbem.com.br/files/ix_enem/Poster/Trabalhos/PO12201369801T.rtf
http://www.meuartigo.brasilescola.com/filosofia/reflexao-sobre-educacao.htm
www.ple.uem.br/programas/ple4040.doc
www.fafiuv.br/tseletivo/FILOSOFIA.doc
www.espacoeducacao.ufjf.br/index.php?local=bibliografia
www.pucrs.br/direito/graduacao/ementas/241/eletivas/argumentacao_juridica.pdf
www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT19-2283--Int.pdf
www.ucs.br/ucs/tplCongressoFilosofia/extensao/agenda/eventos/cd_60/comunicacoes_ci
entificas/apresentacao/papel.../andre.p http://cac-
php.unioeste.br/pos/media/File/geografia/docs/Modernidade_natureza1.pdf
www.uern.br/pdf/Documentos/Programa_Filosofia_Medieval_e_Moderna_Mossoro.pdf
https://sistemas.usp.br/fenixweb/fexDisciplina?sgldis=ECO5023
www.vestibular.pucpr.br/pseletivo/verao2008/programas.html
www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/VCSA-
6W9FL4/9/09__bibliografia.pdf
www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-
bin/PRG_0599.EXE/9594_9.PDF?nrOcoSis=30314&CdLinPrg=pt
www.filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Filosofia_Ocidente_Cristao.pdf
www.anppom.com.br/opus/opus14/105/105-Amato.htm
www.utfpr.edu.br/proplad/arquivos/Edital_001_2009_PS_CT_Programa_de_Filosofia.pdf.
pdf www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=professores&id=52
www.comvest.unicamp.br/vr/vr2009/programas/Curso27/EF116.pdf
https://sistemas.usp.br/fenixweb/fexDisciplina?sgldis=IAL5770
www.abhr.org.br/wp-content/uploads/2008/12/klatau-diego.pdf
www.unimontes.br/unimontescientifica/revistas/Anexos/artigos/revista_v2_n2/artigo_
morte_do_homem.htm http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9340&p=5
www.ciencialit.letras.ufrj.br/ensaios/carmello_camillo.doc
http://200.201.11.31:8000/cgi-
bin/gw_46_7/chameleon?host=localhost%2B1111%2BDEFAULT&search=KEYWORD&function=INIT
REQ&SourceScreen=NEXTPAGE&sessionid=2008081600330607230&skin=bce&conf=.%2Fchameleo
n.conf&lng=pt&itemu1=1003&scant1=Medina,%20S%C3%B4nia%20Gr%C3%A1cia%20Pucci&scanu1
=1003&u1=1003&t1=%01195353&pos=1&prevpos=-19&
http://inf.unisul.br/~ines/pccsi/Manual_Direito2004.doc
www.tede.ufop.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=310
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/view/1350
/1055
www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=122
www.bibliotecadigital.puc-
campinas.edu.br/tde_busca/processaArquivo.php?codArquivo=209
www.bdtd.ufjf.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=34
www.teia.fe.usp.br/biblioteca_virtual/7%20EA-%20EA%20e%20Paradigmas-%20Marilia.doc
www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1285
www.fieo.br/v2/download.php?arquivo=mec/cursos/pedagogia.pdf
http://alexandria.cpd.ufv.br:8000/cgi-
bin/gw_46_4_2/chameleon?host=localhost%2B1111%2BDEFAULT&search=KEYWORD&function=IN
ITREQ&SourceScreen=INITREQ&sessionid=2008040221260720647&skin=default&conf=.%2Fcha
meleon.conf&lng=hy&itemu1=4&scant1=paix%C3%A3o%20de%20N.S.%20Jesus%20Cristo&scanu1
=4&u1=4&t1=%01453254&pos=1&prevpos=1&
www.faced.ufu.br/antigo/colubhe06/anais/arquivos/218JoaoCavalcante_HumbertoGuido.p
df
www.bdtd.ufes.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=487
www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/cao.../planos%20de%20saúde%20são%2...
http://www.nesef.ufpr.br/baixar-arquivo.php?arquivo=2008-09-01-16-33-12-NORMAS-
PARA-APRESENTACAO-GERAL-E-GRAFICA-DO-TRABALHO-ACADEMICO.doc
www.slab.uff.br/dissertacoes/2007/Tiago.pdf
www.bdtd.ufjf.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=283
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000393674
www.dep.ufmg.br/pos/defesas/diss141.pdf
www.teia.fe.usp.br/biblioteca_virtual/9%20EA-%20EA%20no%20ensino%20superior-
%20Marilia.doc
www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/ARBZ-
7KAJ4R/1/disserta__o_final___revisada.pdf
http://www1.capes.gov.br/estudos/dados/2002/33003017/038/2002_038_33003017001P2_Di
sc_Ofe.pdf
http://www4.fct.unesp.br/pos/geo/dis_teses/05/05_FABIO_CESAR_ALVES_DA_CUNHA.pdf
http://www.tede.ufsc.br/tedesimplificado//tde_arquivos/48/TDE-2007-10-18T123712Z-
92/Publico/OlivierAllain.pdf
www.unifra.br/professores/CARLOTA/Apresentação(Vinicius)sepe.ppt
www.inf.ufsc.br/~adiel/en/misc/books/index.html
http://servicos.capes.gov.br/arquivos/avaliacao/estudos/dados/2005/32005016/038/20
05_038_32005016007P0_Disc_Ofe.pdf.

imagem: www.toonpool.com

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o discurso do método 2
em “o trabalhão de plagiar”, citei alguns procedimentos habituais em plágios,
montagens e adulterações de tradução.

um dos procedimentos mais eficientes para disfarçar a tradução de base usada em


algumas fraudes editoriais é o que eu chamaria de “copidesque cerrado”. toma-se a
tradução previamente existente e alteram-se exaustivamente os termos, trocando-os
por sinônimos. há aí embutidos pelo menos três pressupostos: a. a tradução é
correta e fiel ao original; b. as palavras são unívocas, e portanto a substituição
por sinônimos igualmente unívocos não constitui problema; c. estruturas
gramaticais são universais.

a meu ver, é nesse tipo de procedimento que se enquadra o caso de o discurso do


método na coleção “os pensadores” da editora nova cultural, nas edições a partir
de 1999 com tradução atribuída a enrico corvisieri. à primeira vista, as
diferenças podem dar a impressão de que se trata de uma tradução de direito
próprio.* quando reafloram os eventuais erros da tradução de base, as mudanças de
pontuação e periodização das frases em relação à obra original, a sintaxe própria
adotada na tradução de base e, ainda, quando surgem os deslizes com o uso de
“sinônimos” descabidos, evidencia-se o padrão de apropriação utilizado.

para expor esse padrão, apresento também o original em francês, a título de


acompanhamento. abaixo de cada trecho segue-se primeiro a tradução de jacó
guinsburg e bento prado jr., e depois o texto de enrico corvisieri.

Les plus grandes âmes sont capables des plus grands vices aussi bien que des plus
grandes vertus; et ceux qui ne marchent que fort lentement peuvent avancer
beaucoup davantage, s'ils suivent toujours le droit chemin, que ne font ceux qui
courent et qui s'en éloignent.
Pour moi, je n'ai jamais présumé que mon esprit fût en rien plus parfait que ceux
du commun; même j'ai souvent souhaité d'avoir la pensée aussi prompte, ou
l'imagination aussi nette et distincte, ou la mémoire aussi ample ou aussi
présente, que quelques autres. Et je ne sache point de qualités que celles-ci qui
servent à la perfection de l'esprit; car pour la raison, ou le sens, d'autant
qu'elle est la seule chose qui nous rend hommes et nous distingue des bêtes, je
veux croire qu'elle est tout entière en un chacun; et suivre en ceci l'opinion
commune des philosophes, qui disent qu'il n'y a du plus et du moins qu'entre les
accidents, et non point entre les formes ou natures des individus d'une même
espèce.
Mais je ne craindrai pas de dire que je pense avoir eu beaucoup d'heur de m'être
rencontré dès ma jeunesse en certains chemins qui m'ont conduit à des
considérations et des maximes dont j'ai formé une méthode, par laquelle il me
semble que j'ai moyen d'augmenter par degrés ma connoissance, et de l'élever peu à
peu au plus haut point auquel la médiocrité de mon esprit et la courte durée de ma
vie lui pourront permettre d'atteindre. Car j'en ai déjà recueilli de tels fruits,
qu'encore qu'au jugement que je fais de moi-même je tâche toujours de pencher vers
le côté de la défiance plutôt que vers celui de la présomption, et que, regardant
d'un oeil de philosophe les diverses actions et entreprises de tous les hommes, il
n'y en ait quasi aucune qui ne me semble vaine et inutile, je ne laisse pas de
recevoir une extrême satisfaction du progrès que je pense avoir déjà fait en la
recherche de la vérité, et de concevoir de telles espérances pour l'avenir, que
si, entre les occupations des hommes, purement hommes, il y en a quelqu'une qui
soit solidement bonne et importante, j'ose croire que c'est celle que j'ai
choisie.

As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das maiores
virtudes, e os que só andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem
sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam.
Quanto a mim, jamais presumi que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que
os do comum; amiúde desejei mesmo ter o pensamento tão rápido, ou a imaginação tão
nítida e distinta, ou a memória tão ampla ou tão presente, quanto alguns outros. E
não sei de quaisquer outras qualidades, exceto as que servem à perfeição do
espírito; pois, quanto à razão ou ao senso, posto que é a única coisa que nos
torna homens e nos distingue dos animais, quero crer que existe inteiramente em
cada um, e seguir nisso a opinião comum dos filósofos, que dizem não existir mais
nem menos senão entre os acidentes, e não entre as formas ou naturezas dos
indivíduos de uma mesma espécie.
Mas não temerei dizer que penso ter tido muita felicidade de me haver encontrado,
desde a juventude, em certos caminhos, que me conduziram a considerações e
máximas, de que formei um método, pelo qual me parece que eu tenha meio de
aumentar gradualmente meu conhecimento, e de alçá-lo, pouco a pouco, ao mais alto
ponto, a que a mediocridade de meu espírito e a curta duração de minha vida lhe
permitam atingir [eliminação do "poderão"]. Pois já colhi dele tais frutos que,
embora no juízo que faço de mim próprio eu procure pender mais para o lado da
desconfiança do que para o da presunção, e que,* mirando com um olhar de filósofo
as diversas ações e empreendimentos de todos os homens, não haja quase nenhum que
não me pareça vão e inútil, não deixo de obter extrema satisfação do progresso que
penso já ter feito na busca da verdade e de conceber tais esperanças para o futuro
que, se entre as ocupações dos homens puramente homens existe alguma que seja
solidamente boa e importante, ouso crer que é aquela que escolhi. *[tendo optado
por "embora", este segundo "que", que no original pertence à locução "encore que",
aqui perde seu sentido ou cria o sentido equivocado de ser a continuação da frase
"tais frutos que..."]

As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das maiores virtudes,
e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais, se continuarem sempre pelo
caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam.
Quanto a mim, nunca supus que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que os
dos outros; com freqüência desejei [] ter o pensamento tão rápido, ou a imaginação
tão clara e diferente, ou a memória tão abrangente ou tão pronta, quanto alguns
outros. E desconheço quaisquer outras qualidades, afora as que servem para o
aperfeiçoamento do espírito; pois, quanto à razão ou ao senso, posto que é a única
coisa que nos torna homens e nos diferencia dos animais, acredito que existe
totalmente em cada um, acompanhando nisso a opinião geral dos filósofos, que
afirmam não existir mais nem menos senão entre os acidentes, e não entre as formas
ou naturezas dos indivíduos de uma mesma espécie.
Mas não recearei dizer que julgo ter tido muita felicidade de me haver encontrado,
a partir da juventude, em determinados caminhos, que me levaram a considerações e
máximas, das quais formei um método, pelo qual me parece que eu consiga aumentar
de forma gradativa meu conhecimento, e de elevá-lo, pouco a pouco, ao mais alto
nível, a que a mediocridade de meu espírito e a breve duração de minha vida lhe
permitam alcançar. [note-se que foi mantida a não de todo correta virgulação
introduzida na tradução de base] [repete-se a eliminação do "poderão"] Pois já
colhi dele tais frutos que, apesar de no juízo que faço de mim próprio eu procure
inclinar-me mais para o lado da desconfiança do que para o da presunção, e que,
observando com um olhar de filósofo as variadas ações e empreendimentos de todos
os homens, não exista quase nenhum que não me pareça fútil e inútil, não deixo de
lograr extraordinária satisfação do progresso que creio já ter feito na procura da
verdade e de conceber tais esperanças para o futuro que, se entre as ocupações dos
homens puramente homens existe alguma que seja solidamente boa e importante,
atrevo-me a acreditar que é aquela que escolhi. [uma frase absurda: "apesar de ...
eu procure"; mantém o problema do "que" solto]

[...] J'ai été nourri aux lettres dès mon enfance; et, pour ce qu'on me persuadoit
que par leur moyen on pouvoit acquérir une connaissance claire et assurée de tout
ce qui est utile à la vie, j'avois un extrême désir de les apprendre.

[...] Fui nutrido nas letras desde a infância, e por me haver persuadido de que,
por meio delas, se podia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é
útil à vida, sentia extraordinário desejo de aprendê-las.

[...] Fui instruído nas letras desde a infância, e por me haver convencido de que,
por intermédio delas, poder-se-ia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo
o que é útil à vida, sentia extraordinário desejo de aprendê-las.

Je ne laissois pas toutefois d'estimer les exercices auxquels on s'occupe dans les
écoles. Je savois que les langues qu'on y apprend sont nécessaires pour
l'intelligence des livres anciens; que la gentillesse des fables réveille
l'esprit; que les actions mémorables des histoires le relèvent, et qu'étant lues
avec discrétion elles aident à former le jugement; que la lecture de tous les bons
livres est comme une conversation avec les plus honnêtes gens des siècles passés,
qui en ont été les auteurs, et même une conversation étudiée en laquelle ils ne
nous découvrent que les meilleures de leurs pensées; que l'éloquence a des forces
et des beautés incomparables; que la poésie a des délicatesses et des douceurs
très ravissantes; que les mathématiques ont des inventions très subtiles, et qui
peuvent beaucoup servir tant à contenter les curieux qu'à faciliter tous les arts
et diminuer le travail des hommes; que les écrits qui traitent des moeurs
contiennent plusieurs enseignements et plusieurs exhortations à la vertu qui sont
fort utiles; que la théologie enseigne à gagner le ciel; que la philosophie donne
moyen de parler vraisemblablement de toutes choses, et se faire admirer des moins
savants; que la jurisprudence, la médecine et les autres sciences apportent des
honneurs et des richesses à ceux qui les cultivent; et enfin qu'il est bon de les
avoir toutes examinées, même les plus superstitieuses et les plus fausses, afin de
connoître leur juste valeur et se garder d'en être trompé.

Não deixava, todavia, de estimar os exercícios com os quais se ocupam nas escolas.
Sabia que as línguas que nelas se aprendem são necessárias ao entendimento dos
livros antigos; que a gentileza das fábulas desperta o espírito; que as ações
memoráveis das histórias o alevantam, e que, sendo lidas com discrição, ajudam a
formar o juízo; que a leitura de todos os bons livros é qual uma conversação com
as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram seus autores, e até
uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam tao-somente os melhores de
seus pensamentos; que a eloquência tem forças e belezas incomparáveis; que a
poesia tem delicadezas e doçuras muito encantadoras; que as Matemáticas têm
invenções muito sutis, e que podem servir muito, tanto para contentar os curiosos
quanto para facilitar todas as artes e diminuir o trabalho dos homens; que os
escritos que tratam dos costumes contêm muitos ensinamentos e muitas exortações à
virtude que são muito úteis; que a Teologia ensina a ganhar o céu; que a Filosofia
dá meio de falar com verossimilhança de todas as coisas e de se fazer admirar
pelos menos eruditos; que a Jurisprudência, a Medicina e as outras ciências trazem
honras e riquezas àqueles que as cultivam; e, enfim, que é bom tê-las examinado a
todas, mesmo as mais supersticiosas e as mais falsas, a fim de conhecer-lhes o
justo valor e evitar ser por elas enganado.

Apesar disso, não deixava de apreciar os exercícios com os quais se ocupam nas
escolas. Sabia que as línguas que nelas se aprendem são necessárias ao
entendimento dos livros antigos; que a gentileza das fábulas estimula o espírito;
que as realizações notáveis das histórias o fazem crescer, e que, sendo lidas com
discrição, ajudam a formar o juízo; que a leitura de todos os bons livros é igual
a uma conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram
seus autores, e até uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam apenas
seus melhores [] pensamentos; que a eloqüência possui forças e belezas
incomparáveis; que a poesia tem delicadezas e ternuras deveras encantadoras; que
as matemáticas têm invenções bastante sutis, e que podem servir muito, tanto para
satisfazer os curiosos quanto para facilitar todas as artes e reduzir o trabalho
dos homens; que os escritos que tratam dos costumes contêm muitos ensinamentos e
muitos estímulos à virtude que são muito úteis; que a teologia ensina a ganhar o
céu; que a filosofia ensina a falar com coerência de todas as coisas e de se fazer
admirar pelos que possuem menos erudição; que a jurisprudência, a medicina e as
outras ciências proporcionam honras e riquezas àqueles que as cultivam; e, enfim,
que é bom havê-las examinado a todas, até mesmo as mais eivadas de superstição e
as mais falsas, a fim de conhecer-lhes o exato valor e evitar ser por elas
enganado.

C'est pourquoi je ne saurois aucunement approuver ces humeurs brouillonnes et


inquiètes, qui, n'étant appelées ni par leur naissance ni par leur fortune au
maniement des affaires publiques, ne laissent pas d'y faire toujours en idée
quelque nouvelle réformation; et si je pensois qu'il y eût la moindre chose en cet
écrit par laquelle on me pût soupçonner de cette folie, je serois très marri de
souffrir qu'il fût publié. [brouillon: agitado, desordenado, confuso etc.*]
* sou alertada de que brouillon também comporta a acepção de "perturbador". em
todo caso, duvido que o sr. enrico corvisieri fosse capaz de chegar sozinho a ela.

Eis por que não poderia de forma alguma aprovar esses temperamentos perturbadores
e inquietos que, não sendo chamados, nem pelo nascimento, nem pela fortuna, ao
manejo dos negócios públicos, não deixam de neles praticar sempre, em idéia,
alguma nova reforma. E se eu pensasse haver neste escrito a menor coisa que
pudesse tornar-me suspeito de tal loucura, ficaria muito pesaroso de ter aceito
publicá-lo.

Aqui está o motivo pelo qual eu não poderia de maneira alguma aprovar esses
temperamentos perturbadores e inquietos que, não sendo chamados, nem pelo
nascimento, nem pela fortuna, à administração dos negócios públicos, não deixam de
neles realizar sempre, em teoria, alguma nova reforma. E se eu pensasse haver
neste escrito a menor coisa que pudesse tornar-me suspeito de tal loucura, ficaria
muito pesaroso de ter concordado em publicá-lo.
[aliás, a trajetória de souffrir (um "permitir" muito passivo) até concordar é
curiosa.]

é interessante notar que, de modo geral, a tradução de base é bastante literal. já


a suposta tradução de enrico corvisieri afasta-se sistematicamente das soluções
mais simples e óbvias. esse afastamento sistemático do original em francês é outra
boa indicação do copidesque realizado, por ocorrer em passagens muito claras e
diretas, onde menos se esperariam soluções tortuosas e indiretas.

Comme en effet j'ose dire que l'exacte observation de ce peu de préceptes que
j'avois choisis me donna telle facilité à démêler toutes les questions auxquelles
ces deux sciences s'étendent, qu'en deux ou trois mois que j'employai à les
examiner, ayant commencé par les plus simples et plus générales, et chaque vérité
que je trouvois étant une règle qui me servoit après à en trouver d'autres, non
seulement je vins à bout de plusieurs que j'avois jugées autrefois très
difficiles, mais il me sembla aussi vers la fin que je pouvois déterminer, en
celles même que j'ignorois, par quels moyens et jusqu'où il étoit possible de les
résoudre. En quoi je ne vous paroîtrai peut-être pas être fort vain, si vous
considérez que, n'y ayant qu'une vérité de chaque chose, quiconque la trouve en
sait autant qu'on en peut savoir; et que, par exemple, un enfant instruit en
l'arithmétique, ayant fait une addition suivant ses règles, se peut assurer
d'avoir trouvé, touchant la somme qu'il examinoit, tout ce que l'esprit humain
sauroit trouver: car enfin la méthode, qui enseigne à suivre le vrai ordre, et à
dénombrer exactement toutes les circonstances de ce qu'on cherche, contient tout
ce qui donne de la certitude aux règles d'arithmétique.

E como, efetivamente, ouso dizer que a exata observação desses poucos preceitos
que eu escolhera me deu tal facilidade de deslindar todas as questões às quais se
estendem essas duas ciências que, nos dois ou três meses que empreguei em examiná-
las, tendo começado pelas mais simples e mais gerais, e constituindo cada verdade
que eu achava uma regra que me servia em seguida para achar outras, não só
consegui resolver muitas que julgava antes muito difíceis, como me pareceu também,
perto do fim, que podia determinar, mesmo naquelas que ignorava, por quais meios e
até onde seria possível resolvê-las. No que não vos parecerei talvez muito
vaidoso, se considerardes que, havendo apenas uma verdade de cada coisa, todo
aquele que a encontrar sabe a seu respeito tanto quanto se pode saber; e que, por
exemplo, uma criança instruída na aritmética, que tenha efetuado uma adição
segundo as regras, pode estar certa de ter achado, quanto à soma que examinava,
tudo o que o espírito humano poderia achar. Pois, enfim, o método que ensina a
seguir a verdadeira ordem e a enumerar exatamente todas as circunstâncias daquilo
que se procura contém tudo quanto dá certeza às regras da aritmética.

E já que, com efeito, atrevo-me a dizer que a exata observação desses poucos
preceitos que eu escolhera me deu tal facilidade de desenredar todas as questões
às quais se estendem essas duas ciências que, nos dois ou três meses que levei
para analisá-las, havendo iniciado pelas mais simples e mais gerais, e compondo
cada verdade que eu encontrava uma regra que me servia depois para encontrar
outras, não apenas consegui resolver muitas que antes considerava muito difíceis,
como me pareceu também, próximo ao fim, que podia determinar, até mesmo naquelas
que ignorava, por quais meios e até onde seria possível resolvê-las. No que,
talvez, não vos afigurarei muito vaidoso, se considerardes que, existindo somente
uma verdade de cada coisa, [] aquele que a encontrar conhece a seu respeito tanto
quanto se pode conhecer; e que, por exemplo, uma criança instruída na aritmética,
que haja realizado uma adição de acordo com as regras, pode ter certeza de haver
encontrado, no que concerne à soma que analisava, tudo o que o espírito humano
poderia encontrar. Pois, enfim, o método que ensina a seguir a verdadeira ordem e
a enumerar exatamente todas as circunstâncias daquilo que se procura contém tudo
quanto dá certeza às regras da aritmética.
[os "dénombrements" da quarta regra do método estão traduzidos corretamente por
"enumerações" na tradução de base e copidescados erroneamente por "relações".
aqui, quando o copidesque mantém "enumerar", que é o correto, perde a remissão
direta ao quarto preceito e anula a coesão conceitual interna. outro despropósito
conceitual no caso de descartes é empregar o verbo "compor", que remete ao método
compositivo das matemáticas, para "constituir", no francês um simples "ser";
"analisar" para "examiner" e como suposto sinônimo de "examinar"; também não creio
que trocar "saber" por "conhecer" seja totalmente isento de consequências, numa
obra que pretende estabelecer os fundamentos do conhecimento.]

negrito: substituição por sinônimos


azul: erro ou problema na tradução de base reproduzido no copidesque
vermelho: erro ou problema no copidesque
verde: erro ou confusão de conceito no copidesque

edições usadas:
discours de la méthode, project gutenberg
discurso do método, trad. jacó guinsburg e bento prado jr., difel, 2a. ed., 1973
discurso do método, "trad." enrico corvisieri, domínio público MEC

* Plagiarism is an imitation of a product for the purpose of economic


exploitation. It is made either with slavish accuracy or with minute changes.
Especially perfidious are more significant changes made so skilfully that the
casual observer interprets them into a visual perception of the appearance of the
original.

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10/03/2009
o mundo às avessas

a universidade estadual de santa cruz coloca como bibliografia obrigatória para


seu vestibular no triênio de 2010 a 2012 i-juca pirama (gonçalves dias) e papéis
avulsos (machado de assis). sua assessoria de imprensa tem o cuidado de
especificar claramente que devem ser usadas as edições da martin claret.

papéis avulsos está em domínio público, disponível tanto pela biblioteca virtual
do estudante universitário (usp) quanto pela unama (universidade da amazônia),
disponíveis no site do mec.
juca-pirama está em domínio público, disponível pelas duas acima citadas e também
pela fbn, disponíveis no site do mec.

tirando o detalhe de que papéis avulsos da claret está cadastrado no isbn/fbn como
se tivesse sido traduzido por marcellin talbot, é difícil supor que ela tenha
plagiado machado e gonçalves dias.

mas que uma universidade estadual imponha por três anos aos vestibulandos uma
bibliografia com obras publicadas por uma editora notoriamente inidônea, de mais a
mais sendo obras de acesso 100% gratuito à sociedade, é realmente bizarro.

imagem: collectivereinventions.org

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o discurso do método 1
existem várias traduções brasileiras de o discurso do método, de descartes: jacó
guinsburg com bento prado jr. (difel, abril), joão cruz costa (ediouro), maria
ermantina galvão (martins fontes), elza moreira marcelina (ática/unb), paulo neves
(lpm).*

* pietro nassetti, que assina pelo abutre martin claret, não conta.

a tradução que acabou se tornando a mais consagrada é a de jacó guinsburg e bento


prado jr., com introdução de gilles-gaston granger, prefácio e notas de gérard
lebrun, no volume chamado obra escolhida, pela clássicos garnier (difel, 1a. ed.
1962).

esta tradução foi publicada também na coleção "os pensadores", da abril cultural,
em incontáveis reedições. com a extinção da abril cultural, o catálogo foi para a
nova cultural, onde a mesma tradução de jacó guinsburg e bento prado jr. continuou
a ser reeditada até 1996.

em 1999, o discurso do método na coleção "os pensadores" da nova cultural passa


por uma misteriosa transformação, e surge em cena o suposto tradutor "enrico
corvisieri".

"enrico corvisieri" vinha assinando curiosas metamorfoses tradutórias na nova


cultural desde 1995: os irmãos karamázovi, suave é a noite, o retrato de dorian
gray, a mulher de trinta anos, apologia de sócrates.

que um e-group de jovens do yahoo tenha disponibilizado a fraude para download


gratuito, espalhando por todos os sites de e-books, é mero acidente de percurso.
foram apenas, digamos, "inocentes úteis".

mas agora que o MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, no site do DOMÍNIO PÚBLICO DO GOVERNO,


disponibilize a obra sem o menor critério de discernimento, é de uma
irresponsabilidade sem tamanho.

imagem: primaryconcern.org

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fraude em domínio público
o nãogostodeplágio premiou o MEC por disponibilizar em seu site de obras em
domínio público o discurso do método de descartes, na pretensa tradução de enrico
corvisieri, assim consagrando oficialmente a fraude.

esse infeliz arquivo para download teve origem na iniciativa de um e-group chamado
acrópolis, que resolveu distribuir para meio mundo o dito arquivo, com a condição
de receberem os créditos de digitalização e a divulgação de seu endereço no
yahoo.*

com isso, essa pseudotradução de enrico corvisieri de o discurso do método está


presente em todos os sites que disponibilizam e-books: domínio público do mec;
cultvox; universidade federal de santa catarina; ateus; virtualbooks; ebookcult;
livros para todos; ebooksbrasil; centro de filosofia ; maxbook; fae centro
universitário; 4shared; scribd e dezenas de outros.

não critico bibliotecas virtuais, pelo contrário. o que me alarma é que a fraude
intelectual agora atingiu um novo patamar, ainda por cima com chancela oficial do
ministério da educação. sr. richard civita, dona janice florido, sr. eliel
silveira cunha e, last but not least, o fantasmagórico enrico corvisieri devem
estar se fartando de rir.

* até onde entendo, o e-group acrópolis é uma meninada dinâmica. mas, vendo
algumas discussões deles, fico com a impressão de que plágio, não-plágio,
filosofia, não-filosofia, "idéias claras e distintas" ou "idéias claras e
diferentes", devem lhes parecer abstrusas bizantinices absolutamente tediosas e
irrelevantes. por exemplo:
http://br.groups.yahoo.com/group/Acropolis_/message/76766

imagem: rebelart.net

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


09/03/2009
contrafação
deu na folha de s.paulo:
"TIJOLADA A editora jurídica Bookseller foi condenada a pagar R$ 600 mil por
danos morais à família do ex-ministro do STF Eduardo Espinola, que ficou na corte
de 1931 a 1945. A empresa publicou, sem autorização, três obras do jurista e
deverá retirar os livros de circulação, sob pena de multa diária de R$ 500. As
contas da Bookseller e de seu sócio Juan Carlos Ormachea foram bloqueadas para o
pagamento. O empresário não foi localizado para comentar."
ah, se essa moda pega!
imagem: suserania.wordpress.com
POSTADO POR DENISE 1 COMENTÁRIOS
08/03/2009
memória e história
essa briga contra o plágio já tem uma memoriazinha e uma historiazinha própria.
escrevi muitos posts a respeito de plágios e outros temas correlatos no antigo
assinado-tradutores, do qual me afastei em final de setembro de 2008. como o
referido assinado-tradutores, por alguma razão que ignoro, fechou seu acesso ao
público em novembro de 2008, acho importante resgatar vários materiais de pesquisa
e comentários de opinião que eu havia postado lá. assim ficam em arquivo público e
aberto, aqui no nãogostodeplágio.

seguem-se eles, pois.

imagem: memória histórica, gaelx, flickr

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metralhadoras x livros
a boa notícia é que gente mais sensata propôs alteração na 9610/98, sobre a
autorização de reprodução de obras e trechos de obras para estudantes
universitários: trata-se do projeto de lei 5046, da autoria do deputado mendes
thames, de 2005.

a comissão de educação e cultura aprovou o substitutivo do relator deputado rocha


loures.

falta ainda ir a plenário.vejam a notícia:


http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia.aspx?cod=63189 (informe passado pela
colega margarete)

Publicado por denise bottmann at 10:32 (UTC-3)

originalmente publicado em 24/06/2008, em "assinado-tradutores"

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


nazismo agora no país?
que notícia! http://www.publishnews.com.br/ de 20/06/2008

que coisa lamentável a ação policialesca de invasões armadas em singelas oficinas


de xerox dentro ou perto das universidades!

senhores professores, não indiquem mais livros ou capítulos de livros. escrevam


tudo na lousa, os alunos que copiem.

ou façam vestibulares exigindo declarações de renda acima de 10 salários mínimos


por estudante, para terem certeza de que cada um deles vai poder comprar todos os
livros, nacionais e importados, indicados (mesmo que seja apenas um capítulo) no
curso.

o mês passado foi ação policial brutal em recife, agora em goiânia.

aliás, me pergunto: que editoras são essas que financiam essas ações? por que não
usam esse dinheiro com que financiam essas associações quase sanguinárias para
fazer algo que preste, tipo um fundo nacional de livros gratuitos ou para
financiar a digitalização de obras esgotadas ou de domínio público na internet?
por que a opção tão pouco cultural da ameaça dos tiros de metralhadora em cima dos
pobres xeroqueiros?

SR. MINISTRO DA CULTURA, CADÊ O SR.? VOLTOU DE SUAS CANTORIAS PELO MUNDO AFORA?
ALÔ, ALÔ, NÃO DEIXE OS POLÍCIA MATAR OS XEROQUEIROS!!! MUDE ESSA LEI RIDÍCULA,
VEJA MELHOR O ATENTADO À DEMOCRACIA DESSAS ASSOCIAÇÕES PROTONAZISTAS, DEFENDA A
EDUCAÇÃO E CULTURA NESTE PAÍS. E SEU COLEGA DA EDUCAÇÃO, DÊ UNS TOQUES NELE, AVISE
QUE NÃO É BEM ASSIM QUE SE FOMENTA O ENSINO NESTE POBRE PAÍS.

haja cinismo.
p.s. mensagem absolutamente pessoal, eximindo o assinado-tradutores de qualquer
responsabilidade pelo conteúdo acima divulgado.
p.p.s. quem nunca foi estudante e nunca tirou xerox atire a primeira pedra.

Publicado por denise bottmann at 23:14 (UTC-3)

originalmente publicado em 23/06/2008, em "assinado-tradutores"

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nossos votos
quem sabe assim a fbn melhora um pouquinho a qualidade de seus registros e a
confiabilidade de seus catálogos?

Biblioteca Nacional amplia o quadro Blog do Galeno - 17/06/2008 - por Galeno


Amorim

Acaba de sair no Diário Oficial da União a nomeação de 52 candidatos aprovados no


concurso público aberto há dois anos pelo Ministério da Cultura para a Biblioteca
Nacional e a Funarte, conforme Galeno Amorim. Na BN, 27 das 84 novas funções de
nível superior que haviam sido autorizadas não puderam ser preenchidas na época, o
que, enfim, agora acontece. Isso é importante para consolidar o papel e a vocação
da Biblioteca Nacional, uma das maiores do mundo, como grande responsável pelo
patrimônio do livro brasileiro. >> Leia mais http://blogdogaleno.blog.uol.com.br/

Publicado por denise bottmann at 14:01 (UTC-3)

originalmente publicado em 18/06/2008

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


nova cultural e biblioteca nacional
as pesquisas no site da fundação biblioteca nacional sempre revelam dados
interessantes.

- no catálogo do isbn, composto por fichas cadastrais com informações prestadas


pela editora, constam todos os títulos (embora sem nome de tradutor) da coleção
"obras-primas" - que, conforme temos mostrado exaustivamente, apresenta
irregularidades e alterações nos créditos de tradução de vários deles.

- no catálogo da biblioteca nacional, composto por fichas catalográficas no


sentido estrito do termo, não consta nenhum, absolutamente nenhum dos títulos
pertencentes à coleção "obras-primas" da ed. nova cultural/suzano celulose.

ou seja: pelo que entendo, a nova cultural solicitou os isbns para os tais
títulos, recebeu-os, imprimiu e publicou os livros, mas não enviou nenhum exemplar
da coleção para o acervo da biblioteca nacional (o que é obrigatório por lei).

não é curioso?

Publicado por denise bottmann at 18:18 (UTC-3)

originalmente publicado em 05/06/2008, em "assinado-tradutores"


POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS
be happy

não é que a letrinha esteja muito miúda: dá para ver que o nome abaixo de huberto
rohden é alvorada.

será mais um caso de aparente dupla identidade, martin claret e alvorada?

pois, até onde sei, o caminho da felicidade de huberto rohden ganhou direito de
cidadania no mundo dos livros com o isbn 85 (brasil), 7232 (prefixo editorial da
mc), 147 (cadastro da obra), 0 (dígito verificador), ou seja, 8572321470

british lady, quando vossa senhoria vai se dar conta de que não é bonito lavar as
mãos?

quanto aos bad boys, nem adianta perguntar nada. a gente só pergunta para quem tem
alguma possibilidade de ouvir.

Publicado por denise bottmann at 21:50 (UTC-3)

originalmente publicado em 26/05/2008, em "assinado-tradutores"

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


novidades no pedaço
o departamento "não tenho nada a ver com isso" às vezes é rápido.

a agência brasileira do isbn (fbn) acrescentou em sua página inicial de consulta a


seguinte mensagem:

"TODAS AS INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE CADASTRO FORAM FORNECIDAS PELOS EDITORES NO


MOMENTO DA SOLICITAÇÃO DO ISBN"
http://www.bn.br/site/default.htm

podia ter acrescentado:


"e, por absurdas que sejam, todas elas foram, são e serão imperturbavelmente
aceitas por nós".

;-) very british!

Publicado por denise bottmann at 19:16 (UTC-3)

originalmente publicado em 25/05/2008, em "assinado-tradutores"

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


novo tag: "não tenho nada a ver com isso"
não gostamos muito de nos dispersar.

nosso foco são as práticas editoriais pouco ortodoxas em que, aparentemente, vêm
se esmerando empresas como a nova cultural e a martin claret (a germinal, também
famosa por esses descaminhos, já encerrou suas atividades).

infelizmente, em vista de alguns desdobramentos recentes, fomos obrigados a


ampliar um pouco esse foco, para abranger algumas instâncias que parecem se eximir
a suas responsabilidades quanto às práticas aparentemente adotadas pelas editoras
acima citadas.

essas instâncias são a fundação biblioteca nacional (fbn) e a agência brasileira


do isbn, órgão da fbn vinculado diretamente à agência internacional do isbn, ambas
subordinadas ao minc (ministério da cultura).

essas instâncias oficiais, em data recente, expuseram com todas as letras sua
posição pilatística sobre as incontestáveis fraudes tradutórias alegremente
registradas em seus cadastros, e por isso criamos um novo tag (título de assunto)
chamado "não tenho nada a ver com isso".

esperamos vivamente que sejam as únicas a ser enquadradas nesse tag.

o minc (ministério da cultura), em sua penúltima mensagem [abaixo reproduzida],


havia apresentado sua candidatura ao título, mas a seguir resolveu retirá-la,
optando por uma posição de quem "tem algo a ver com isso" e afirmando que tentará
corrigir os vácuos legais que dão azo àquele nefasto absenteísmo.

as entidades representativas dos editores e livreiros têm sido constantemente


contatadas pelo assinado-tradutores, para que manifestem uma posição firme contra
os malfeitos na área editorial. suas respostas têm sido tímidas, mas alguma
manifestação concreta têm dado, aqui e ali. por ora, não podem concorrer ao título
"não tenho nada a ver com isso", porém continuamos a esperar que se expressem com
mais corpo e sonoridade.

as entidades literárias e acadêmicas vêm se manifestando em alto e bom som, e a


imprensa também.

assim, torcemos para que a fbn e a agência brasileira do isbn permaneçam as


detentoras exclusivas do título "não tenho nada a ver com isso". por outro lado,
queremos deixar claro que poderão renunciar a essa exclusividade a qualquer
momento, e isso não será motivo de vergonha, muito pelo contrário!

todos desejamos que possam fazer jus à credibilidade de que, de forma não
totalmente merecida, desfrutam.

Publicado por denise bottmann at 00:50 (UTC-3)

originalmente publicado em 25/05/2008, em "assinado-tradutores"

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


nem o minc aguenta a non-chalance pilatística da fbn
sobre o inqualificável episódio da fbn, exposto em post anterior, cadastrando eça,
josé de alencar, machado de assis, em suas gloriosas traduções para o português na
martin claret.

como todos sabem, escrevi perplexa e revoltada à fbn e ao minc, e do minc tive de
início uma pseudo-resposta, estritamente burocrática: "A atribuição de ISBN aos
livros publicados no Brasil segue os mesmos procedimentos adotados em todas as
agências do mundo, que não consideram o conteúdo da obra que solicita a
identificação".

naturalmente reagi a essa pifiedade, da seguinte maneira:

"----- Original Message -----


From: Denise Bottmann
To: Coordenação Geral de Direito Autoral do MinC
Sent: Friday, May 16, 2008 11:22 PM
Subject: Re: assunto sério e complicado

prezado sr. marcos alves de souza,


agradeço sua resposta. como o sr. vê, é de fato uma situação deplorável.

nenhum cidadão tem obrigação de saber como funcionam os meandros internos da


agência brasileira do isbn - a única coisa que vemos é uma ficha com a chancela da
fbn dizendo que machado de assis foi traduzido por pietro nassetti. imagine só o
sr. um site público ficar divulgando informações absolutamente falsas!!! e imagine
o sr. que ele diga, "Ah, mas não é responsabilidade minha!". tal seria....

talvez a agência internacional do isbn não tenha levado essa hipótese em conta por
ser absurda demais. duvido que, caso existisse na inglaterra alguma editora tão
estranha quanto as que temos no brasil, a qual remetesse à agência de isbn da
inglaterra uma boneca de folha de rosto e uma planilha de dados dizendo que john
smith era o tradutor de shakespeare, repito, duvido que o agente local da agência
local digitasse isso.... e duvido que a diretoria local se mantivesse impávida,
sem sequer pestanejar, quando fosse alertada do fato....

resta sempre o mais importante e menos atendido: o respeito ao cidadão. se a fbn


informa em seu site que o tradutor de machado de assis é pietro nassetti,
desculpe-me o sr., mas ela, ao publicar tal informação, está validando a mesma.
tentar se eximir dizendo que apenas copiou os dados enviados pelo editor,
desculpe-me novamente, não dá para aceitar, de maneira alguma. é um desrespeito e
uma grande displicência em relação ao valor da palavra escrita e publicada sob o
selo da fbn, em seu site oficial, e uma grande desconsideração para com, repito,
os cidadãos.

torço para que o ministério realmente comece a pôr fim a tantos vexames e tantas
demonstrações de irresponsabilidade por parte da agência brasileira de isbn.
talvez eu entre em contato com a agência internacional, exponha os fatos e peça
para eles reverem as normas, pois para o brasil as atuais parecem inadequadas.

atenciosamente,
denise bottmann"

aparentemente o minc caiu um pouco em si e enviou nova resposta:

"----- Original Message -----


From: Coordenação Geral de Direito Autoral do MinC
To: Denise Bottmann
Sent: Monday, May 19, 2008 2:53 PM
Subject: Re: assunto sério e complicado

Prezada senhora Denise Bottmann,


De acordo com as informações a que tivemos acesso, creio que há uma divergência
entre o que o editor da obra inseriu no catálogo do ISBN e as informações
catalográficas retiradas da própria edição. Nesse caso, reiteramos o que foi dito
pela FBN em resposta à matéria de O Globo On Line pela senhora divulgada
(atualização II - http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/post.asp?cod_post=102805),
que é de responsabilidade do editor os dados por ele enviados. [...]

Conforme já lhe explicamos, infelizmente não possuímos previsão legal e


institucional para agir nessa seara. Por esse e outros aspectos, estamos
convocando a sociedade, por meio do Fórum Nacional de Direito Autoral, para
debater a legislação nacional e levantar sugestões a respeito da necessidade de
alteração da Lei.

Agradecemos seu esforço na defesa de assunto tão importante e nos colocamos à


disposição para outros questionamentos.
Atenciosamente,
Marcos Alves de Souza
Coordenador Geral de Direito Autoral
Ministério da Cultura"

Publicado por denise bottmann at 23:27 (UTC-3)

originalmente publicado em 22/05/2008, em "assinado-tradutores"

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


a triste história do livro no brasil
é complicado. peguem-se essas editoras com livros destinados ao grande público,
com o discurso barato sobre a pseudodemocratização do livro no país, a nova
cultural e a martin claret. [...]

[parte II: a impassibilidade]

outra coisa que não engulo é a impassibilidade de nossos órgãos públicos.

uma hora voltarei com calma a mais um episódio envolvendo algo que parece cheirar
a falsidade ideológica de uma dessas editoras junto ao pilatístico monumento
nacional do "não tenho nada a ver com isso", encarnado pela gloriosa Agência
Brasileira do ISBN, a Fundação Biblioteca Nacional.

a esta relembro a antiqüíssima máxima: poder e responsabilidade caminham juntos.

sra. fbn, se quiser o poder de atribuir isbns, que assuma a responsabilidade


inerente a isso.

do contrário, não conseguirá provar ser mais do que uma emperrada, inútil e, na
verdade, perniciosa máquina de fazer dinheiro (sim, amigos, pois é preciso pagar
cada pedido de isbn), a qual, depois de receber seus pingados nove reais por
número, lava as mãos e deixa o povo a ver navios.

queremos livros de verdade! queremos cultura! queremos transparência! queremos


honestidade! (cópia devidamente enviada à atenciosa funcionária substituta de
algum departamento da fbn que nos mandou vaga consideração a esse respeito, e ao
presidente da mesma entidade, dr. muniz sodré)

Publicado por denise bottmann at 21:25 (UTC-3)

originalmente publicado em 22/05/2008, em "assinado-tradutores"

POSTADO POR DENISE 0 COMENTÁRIOS


martin claret na wikipedia
Editora Martin Claret é uma editora brasileira fundada na década de 1970 por um
jornalista gaúcho chamado Martin Claret, e que é especializada em coleções de
obras clássicas, internacionais e nacionais lançadas em versões de bolso por um
baixo preço. Com cerca de 500 livros de bolso no catálogo no ano de 2007, a
empresa negocia a venda de 75% de suas ações para a Objetiva, apesar de enfrentar
inúmeros processos de plágios em traduções.
Fundador
Martin Claret é um empresário, editor e jornalista brasileiro. Nasceu na cidade de
Ijuí, RS. Presta consultoria a entidades culturais e ecológicas. Na indústria do
livro inovou, criando o conceito do livro-clipping. É herdeiro universal da obra
literária do filósofo e educador Huberto Rohden.
Ligações externas
Site oficial
Editora plagiou traduções de clássicos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Editora_Martin_Claret

- e o que a objetiva vai fazer com todo esse catálogo?!

afora que o tal "livro-clipping" é de dar medo - não entendo como nem por que os
setores mais diretamente relacionados com o mercado editorial fazem vistas grossas
a tudo isso!

será que vai sobrar mais uma vez para o pobre do cidadão deste país?! mais um
solene "vá reclamar com o bispo"?!

Publicado por denise bottmann at 12:54 (UTC-3)

originalmente publicado em 22/05/2008, em "assinado-tradutores"

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mais pietro nassetti
uma relação mais completa das obras de tradução de pietro nassetti, cadastradas na
Agência Brasileira do ISBN (Fundação Biblioteca Nacional). lembremos que a
responsabilidade pelas informações cadastradas nesta agência cabe apenas à editora
(ver esclarecimento da FBN no post do dia 16/05, em sua clara exposição de razões
"não tenho nada a ver com isso")

Nome do Autor: MASSETTI, PIETRO (sic)


23 Publicações encontradas, distribuídas em 1 página
ISBN e TÍTULO
85-7232-421-6ECCE-HOMO 85-7232-419-4OS QUATRO CAVALEIROS DO APOCALIPSE 85-7232-
433-XNA PRESENCA DO CRISTO 85-7232-432-1O REFLEXO DO CRISTO 85-7232-431-3DORES DO
MUNDO 85-7232-430-5A ETICA 85-7232-429-1A ARTE DA GUERRA 85-7232-428-3A CIDADE
ANTIGA - VOL. II 85-7232-427-5O ANTICRISTO 85-7232-426-7A ETICA PROTESTANTE E O
ESPIRITO DO CAPITALISMO 85-7232-425-9DOS DELITOS DAS PENAS 85-7232-424-0A LUTA
PELO DIREITO 85-7232-423-2A CIDADE ANTIGA - VOL. I 85-7232-422-4AS REGRAS DO
METODO SOCIOLOGICO 85-7232-461-5O LEVIATA 85-7232-460-7O ESPIRITO DAS LEIS 85-
7232-459-3AS AVENTURAS DE SHERLOCK HOLMES 85-7232-458-5 CRITICA DA RAZAO PURA 85-
7232-591-3OS IRMAOS KARANAZOV 85-7232-607-3SONETOS 85-7232-600-6A MEGERA DOMADA
85-7232-654-5O IDIOTA 85-7232-653-7O PAI GORIOT Página 1

Nome do Autor: NASSETTI, PIETRO


74 Publicações encontradas, distribuídas em 2 páginas
ISBN e TÍTULO
85-7232-393-7O TROVEJAR DO SILENCIO 85-7232-398-8REPUBLICA 85-7232-405-4AS FLORES
DO MAL 85-7232-411-9CONTRATO SOCIAL 85-7232-408-9DISCURSO DO METODO 85-7232-417-
8PINOCCHIO 85-7232-416-XFRANKSTEIN 85-7232-415-1CANDIDO 85-7232-414-3O PROCESSO
85-7232-413-5RESPOSTAS PARA A VIDA 2 85-7232-412-7RESPOSTAS PARA A VIDA 1 85-7232-
418-6O MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA 85-7232-439-9A VIDA DAS ABELHAS 85-7232-438-
0AS REGRAS DO METODO SOCIOLOGICO 85-7232-436-4AS MINAS DO REI SALOMAO 85-7232-435-
6OS TRABALHADORES DO MAR 85-7232-447-XQUINCAS BORBA 85-7232-446-1FEDRO 85-7232-
445-3O CAO DOS BASKERVILLE 85-7232-444-5METAFISICA DA MORTE 85-7232-455-0PLATAO
85-7232-454-2RAMA 85-7232-453-4ORFEU 85-7232-452-6KRISHNA 85-7232-451-8PITAGORAS
85-7232-450-XJESUS 85-7232-448-8HERMES 85-7232-449-6MOISES 85-7232-456-9A POLITICA
85-7232-457-7A ENCARNACAO 85-7232-472-0O LEVIATA VOL. II 85-7232-471-2UM ESTUDO EM
VERMELHO 85-7232-470-4EDIPO-REI 85-7232-469-0MEDITACOES 85-7232-467-4CINCO LICOES
DE PSICANALISE 85-7232-465-8OS KAMA-SUTRA 85-7232-473-9AS MINAS DO REI SALOMAO 85-
7232-490-9DESOBEDECEND, - A DESOBEDIENCIA CIVIL 85-7232-489-5AS PALAVRAS DE BUDA
85-7232-486-0RUBAIYAT 85-7232-501-8A FARSA DE INES PEREIRA 85-7232-500-XA CARTA DE
PERO VAZ DE CAMINHA 85-7232-498-4DE PROFUNDIS 85-7232-496-8LORDE JEAN 85-7232-509-
3ALEM DE BEM E MAL 85-7232-511-5MARILIA DE DIRCEU 85-7232-522-0A CIDADE DO SOL 85-
7232-521-2JESUS: O FILHO DO HOMEM 85-7232-512-3O DOMINIO DE SI MESMO 85-7232-529-
8O REI EPIDO 85-7232-528-XO PRIMO BASILIO 85-7232-527-1ROMEU E JULIETA 85-7232-
548-4O PRINCIPE E O MENDIGO 85-7232-557-3UMA ESTADIA NO INFERNO 85-7232-562-XFEDON
85-7232-568-9A ARTE DE AMAR 85-7232-572-7ENEIDA 85-7232-573-5METAMORFOSES 85-7232-
575-1PRAGMANTISMO E OUTROS ENSAIOS 85-7232-578-6A VIDA DE NOSSO SENHOR 85-7232-
580-8O CORACAO DAS TREVAS 85-7232-581-6A LETRA ESCARLATE 85-7232-589-1O ULTIMO
ADEUS DE SHERLOCK HOLMS 85-7232-598-0DO CIDADAO 85-7232-592-1O VERMELHO E O NEGRO
85-7232-608-1ZADIG 85-7232-637-5O PENSAMENTO DE EPICURO 85-7232-638-3O GITAN JALI
85-7232-645-6ALCOORAO 85-7232-644-8GUERRA E PAZ 85-7232-642-1A VIDA DOS DOZE
CESARES 85-7232-639-1O CORCUNDA DE NOTRE DAME 85-7232-659-6O CONDE DE MONTE CRISTO
- VOLUMES 85-7232-665-0PAIS E FILHOS Página 1 2

Publicado por denise bottmann at 17:07 (UTC-3)

originalmente publicado em 21/05/2008, em "assinado-tradutores"

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machado, nassetti, claret, fbn
BUSCA NO CADASTRO DO ISBN
RESULTADO
Palavra Pesquisada: QUINCAS BORBA
ISBN: 85-7232-447-X
TÍTULO: QUINCAS BORBA
AUTOR: ASSIS, MACHADO DE
TRADUTOR: NASSETTI, PIETRO
EDITORA: MARTIN CLARET
http://www.bn.br/bnPortal/site/pages/servicosProfissionais/agenciaISBN/isbnBusca/F
bnBuscaISBNRetorno.asp?pBusca=QUINCAS%20BORBA&pISBN=181460

Se você encontrar essa ficha cadastral na Fundação Biblioteca Nacional, não


estranhe. Ela apenas transcreve as informações enviadas pelo editor, quando ele
pediu um número de ISBN, que somente a Fundação pode atribuir.

A Fundação Biblioteca Nacional tem também outra ficha, que é montada pelos
bibliotecários da Biblioteca Nacional, que se refere ao mesmo livro, mas pode ter
dados diferentes. Aqui também não há o que estranhar.

Autor: Assis, Machado de, 1839-1908.


Título / Barra de autoria: Quincas Borba / Machado de Assis.
-Imprenta: São Paulo : M. Claret, 2006.
Descrição física: 223p. ; 19cm. -Série: (A obra-prima de cada autor ; 59)
ISBN: 857232447X (broch.)
Assuntos: Ficção brasileira.
Classificação Edição Dewey: B869.3 22
Indicação do Catálogo: VI-411,5,60
Registro Patrimonial: 1.135.935 DL 10/03/2006
Sigla do Acervo: DRG
http://catalogos.bn.br/scripts/odwp032k.dll?t=bs&pr=livros_pr&db=livros&use=isbn&d
isp=list&ss=NEW&arg=857232447x

Resumindo, a Agência Brasileira do ISBN monta uma ficha cadastral, e a Biblioteca


Nacional monta uma ficha catalográfica.

Tanto a Agência Brasileira do ISBN quanto a Agência Bibliográfica Nacional fazem


parte da Fundação Biblioteca Nacional. E os dados de uma ficha podem ser
diferentes dos dados da outra. Isso porque, na Agência do ISBN, a ficha cadastral
é feita a partir de uma planilha preenchida pelo editor e da "boneca" da folha de
rosto do livro, e na Biblioteca a ficha catalográfica é feita a partir do livro
impresso.

As duas fichas são independentes, sem cruzamento de dados, e não é preciso existir
nenhuma relação de correspondência direta entre aquela planilha e boneca da folha
de rosto (cujos dados são registrados na ficha da Agência do ISBN) e o livro
impresso propriamente dito (cujos dados são usados para montar a ficha
catalográfica da Biblioteca).

É por isso que Machado de Assis pode aparecer traduzido por Pietro Nassetti numa
das fichas, e na outra não, gerando a base da explicação oficial "não tenho nada a
ver com isso".

Exponho tudo isso porque enviei uma cartinha à FBN preocupada com as fichas da
Agência do ISBN, dando nomes de tradutores a livros de Machados, José de Alencar,
Eça de Queiroz etc.

A Sra. Angela Monteiro Bettencourt, diretora substituta do centro de processos


técnicos da FBN, gentilmente enviou os esclarecimentos acima expostos, colocando-
se à disposição para sanar outras eventuais dúvidas.

Publicado por denise bottmann at 20:32 (UTC-3)

originalmente publicado em 16/05/2008, em "assinado-tradutores"

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"A primeira tradução de Machado de Assis para ... o português"
vejam a matéria de miguel conde no blog prosa online, sobre a atribuição de isbn e
catalogação de traduções do português para o português na fundação biblioteca
nacional:
http://oglobo.globo.com/
ou
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/

vejam também a matéria postada por renato pacca, no blog traduzindo o juridiquês:
"uma tradução mágica do Bruxo do Cosme Velho?"
- http://oglobo.globo.com/blogs/juridiques/default.asp

Publicado por denise bottmann at 13:21 (UTC-3)

originalmente publicado em 16/05/2008, em "assinado-tradutores"

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martin claret e o respeito ao direito autoral
Na matéria da Folha de S.Paulo, publicada em o4/11/2007 (veja o link na coluna à
direita, "notícias sobre irregularidades em traduções", Editora plagiou traduções
de clássicos - Folha de S. Paulo, 04.11.2007), o jornalista Luiz Fernando Vianna
informava sobre as edições da Martin Claret: "Na folha de rosto, aparece a
mensagem: 'Cópia não autorizada é crime - Respeite o direito autoral'."

Realmente constatamos que a editora utiliza a logomarca da ABDR (Associação


Brasileira de Direitos Reprográficos), à qual é associada. Essa logomarca consiste
na imagem estilizada de uma impressão digital, com o nome da associação no centro,
e ao redor os dizeres citados pelo jornalista.

Evidentemente não questionamos o direito da MC em usá-la, visto que é filiada à


associação, e com certeza essa filiação lhe faculta tal direito. Apenas
estranhamos que o tenha feito em edições que, afinal, talvez não fossem de todo
dignas de ostentá-la.
Publicado por denise bottmann at 11:56 (UTC-3)

originalmente publicado em 13/05/2008 em "assinado-tradutores".

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vida nova e martin claret
chegara-nos às mãos o scan de duas páginas da obra vida nova, de dante, publicada
em duas editoras diferentes. seguem elas abaixo:

Dante Alighieri, Vida Nova, trad. Paulo M. Oliveira e Blasio Demétrio, Atena
Editora, pp. 13-14

Naquele ponto, digo com verdade que o espírito da vida (4), que habita a
secretíssima câmara do coração, começou a tremer tão fortemente que aparecia de
modo horrível nas menores pulsações; e, tremendo, disse estas palavras: Ecce Deus
fortior me, qui veniens, dominabitur mihi. Naquele ponto, o espírito animal, que
habita a alta câmara (5) à qual todos os espíritos sensitivos levam as suas
percepções, começou a maravilhar-se muito e, falando especialmente aos espíritos
visuais, disse estas palavras: Apparuit iam beatitudo vestra. Naquele ponto, o
espírito natural, que habita a parte onde se ministra a nossa nutrição, começou a
chorar e, chorando, disse estas palavras: Heu miser, quia frequenter impeditus ero
deinceps. Doravante digo que Amor se apoderou de minha alma, a qual foi por êle
tão depressa desposada, e começou a tomar sôbre mim tanta segurança e tanta
senhoria pela virtude que lhe dava a minha imaginação, que me convinha satisfazer
completamente todos os seus prazeres. Êle mandava-me muitas vêzes que procurasse
ver êsse anjo juveníssimo, de modo que eu na minha meninice muitas vêzes a andei
procurando, e a vi com tão nobres e louváveis aparências que, certo, dela se podia
dizer a palavra do poeta Homero: "Não parecia filha de homem mortal, mas de Deus".
E, se bem que a sua imagem, que contìnuamente estava comigo, fôsse audácia de Amor
a se apoderar de mim, todavia era de tão nobre virtude que nenhuma vez tolerou que
Amor me regesse sem o fiel conselho da razão nas cousas em que tal conselho [fôsse
útil ouvir.]

Dante Alighieri, Vida Nova, trad. atribuída a Jean Melville, Martin Claret, p. 92.

Naquele ponto, digo com verdade que o espírito da vida (4), que habita a
secretíssima câmara do coração, começou a tremer tão fortemente que aparecia de
modo horrível nas menores pulsações e, tremendo, disse estas palavras: Ecce Deus
fortior me, qui veniens, dominabitur mihi. Naquele ponto, o espírito animal, que
habita a alta câmara (5) à qual todos os espíritos sensitivos levam as suas
percepções, começou a maravilhar-se muito e, falando especialmente aos espíritos
visuais, disse estas palavras: Apparuit iam beatitudo vestra. Naquele ponto, o
espírito natural, que habita a parte onde se ministra a nossa nutrição, começou a
chorar e, chorando, disse estas palavras: Heu miser, quia frequenter impeditus ero
deinceps. Doravante digo que o Amor se apoderou de minha alma, a qual foi por ele
tão depressa desposada, e começou a tomar sobre mim tanta segurança e tanta
senhoria, pela virtude que lhe dava a minha imaginação, que me convinha satisfazer
completamente todos os seus prazeres. Ele mandava-me muitas vezes que procurasse
ver esse anjo juveníssimo, de modo que eu na minha meninice muitas vezes a andei
procurando, e a vi com tão nobres e louváveis aparências que, certo, dela se podia
dizer a palavra do poeta Homero: "Não parecia filha de homem mortal, mas de Deus".
E, se bem que a sua imagem, que continuamente estava comigo, fosse audácia de Amor
a se apoderar de mim, todavia era de tão nobre virtude que nenhuma vez tolerou que
Amor me regesse sem o fiel conselho da razão nas coisas em que tal conselho fosse
útil ouvir.

devido à extraordinária semelhança entre esses dois trechos, parece ser o caso de
se proceder a um cotejo mais extenso, que possa vir a indicar concretamente uma
eventual apropriação da tradução de paulo m. oliveira e blásio demétrio.

Publicado por denise bottmann at 11:14 (UTC-3)

originalmente publicado em 13/05/2008 em "assinado-tradutores".

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ética e martin claret
tomaz tadeu enviou um comentário que reproduzo aqui pelos vários elementos que
traz:
"É um comentário a uma mensagem mais antiga. Anexo abaixo o trecho pertinente
daquela mensagem. Refere-se à suposta tradução da Ética, de Spinoza, pela Martin
Claret. Naquela mensagem, cujo trecho reproduzo abaixo, informa-se que o texto
plagiado é o da tradução portuguesa. Não exatamente. O texto plagiado é o de Lívio
Xavier, publicado inicialmente por uma editora já extinta (cujo nome não lembro)
e, posteriormente, reimpresso diversas vezes, com o devido crédito, pela antiga
Ediouro. Na verdade, o que pertence à tradução portuguesa são apenas as notas de
rodapé da Parte I da Ética. Isto é, o texto publicado pela MC é uma combinação de
dois textos: o corpo da tradução brasileira de LX e as notas da tradução
portuguesa mencionada na mensagem. A propósito, seria interessante mapear a origem
de todas as supostas traduções da Martin Claret, convocando para isso a expertise
dos tradutores que frequentam este blogue.
Um abraço
Tomaz Tadeu
Tradutor da nova tradução da Ética, pela Autêntica Editora, de Belo Horizonte (com
direito a nome na capa, um luxo!)."

diversas considerações:
- em primeiro lugar, agradecemos a colaboração de tomaz tadeu em esclarecer esses
dados. fizemos a devida retificação no post "jean melville tradutor de quixote",
sob o assunto prodígios tradutórios. a informação anterior foi extraída de:
http://www.benedictusdespinoza.pro.br/38439/24739.html?*session*id*key*=*session*i
d*val
- no mesmo comentário, mencionamos também o tributo a dante, vida nova. postaremos
a seguir o cotejo inicial que levou a tal comentário. são indicações que podem
apontar para uma certa irregularidade no uso de obras anteriores, sem os devidos
créditos, por parte da martin claret.
- "o texto publicado pela MC é uma combinação de dois textos": é uma indicação
interessante, que parece encontrar confirmação no depoimento de um ex-funcionário
da ed. martin claret, descrevendo as operações editoriais adotadas pela empresa.
este depoimento, chamado "pseudotraduções" está disponível na internet:
http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=5018
- a sugestão final de tomaz tadeu parece bastante pertinente, em vista da
quantidade de obras que apresentam indicações claras de uso irregular de outras
traduções. creio que talvez o assinado-tradutores possa levantar a proposta de se
montar um grupo de trabalho para essa tarefa.
- finalmente, parabéns pelo nome na capa!
Obs.: tal como o Portal Amigos do Livro, Assinado-Tradutores garante o direito de
resposta de todas as pessoas e empresas citadas no texto.

Publicado por denise bottmann at 10:02 (UTC-3)

originalmente publicado em 13/05/2008 em assinado-tradutores.

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07/03/2009
...
ISBN: 85-7232-714-2
TÍTULO: POESIA DE RICARDO REIS
AUTOR: FERNANDO PESSOA
TRADUTOR: MARCELLIN TALBOT
EDIÇÃO: 1
ANO DE EDIÇÃO: 2006
TIPO DE SUPORTE: PAPEL
PÁGINAS: 268
EDITORA: MARTIN CLARET

imagem: fernando pessoa, wikipedia

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06/03/2009
os cavaleiros do bem
eu até teria vontade de criar uma listinha das "livrarias do bem", que não
compactuam com as fraudes, que não são delinquentes solidárias com os editores
fraudadores, que não vendem tranqueiragem para os clientes, que têm consciência e
um pouco de amor-próprio.

só que seria uma listinha tão curta, tão pequena, que me deixaria tão desalentada
e desacreditando do meu país que até acabo desistindo.

mas, para não deixar passar batido, sei que a livraria crisálida (belo horizonte),
a livraria folha seca (rio de janeiro) e a livraria do globo (porto alegre) não se
prestam ao papel de receptadores nem de traficantes: respeitam o leitor, respeitam
a si mesmas e respeitam a cultura.

se alguém souber de mais alguma, avise, por favor!

imagem: matisse, jazz suite, guache recortado

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rocco/claret 4
quanto aos agentes de distribuição do lixo tóxico, solidariamente responsáveis,
nos termos da lei, com o editor das fraudes, vou dar alguns exemplos. além dos
pontos usuais - cultura, curitiba, americanas, travessa, fnac, saraiva -, a
desobediência civil da claret, plagiada da rocco e protegida por seu silêncio,
também é comercializada, entre outros, por:

submarino; galileu; da vinci; leitura (savassi); livraria da vila

imagem: www.hthclan.com

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e o prêmio vai para...
... o discurso do método de descartes disponível no site do domínio público do
mec. ganhou de lavada e recebe a estatueta do plagiarius.

assim é que, com ruidosos aplausos, o país consagra oficialmente a fraude, sob a
égide e a chancela do ministério da educação.

a própria nova cultural, de livre e espontânea vontade, já havia tirado a obra de


circulação e eliminou esse volume de sua coleção "os pensadores" [veja aqui]. a
tradução vem assinada por aquele fantasma de tantos outros carnavais inculturais,
enrico corvisieri.

é uma novela comprida, que vai dar um certo pano pra manga. está na fila, e espero
apresentá-la ainda este mês.

imagem: www.ikh-niederbayern.de

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05/03/2009
mãos à obra
recebi uma mensagem que foi um alento e uma louvável demonstração de dignidade
institucional.

Prezada Denise Bottmann,

Em nome da Equipe do Portal IDEA da UFRGS, que coordeno, gostaria de parabenizá-la


pela difícil e corajosa tarefa de combater o plágio. De nossa parte, iremos
retirar do catálogo de publicações em língua portuguesa os denunciados em seu
site.

Atenciosamente,

Lia Levy
Dep. de Filosofia da UFRGS
Coordenadora do Projeto IDEA – Portal de Filosofia

tomara que seja o início da tarefa indispensável de saneamento do lixo tóxico


espalhado no país. e oxalá outras universidades sigam o exemplo da ufrgs.

imagem: forum0937.miniancora.com

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tal a fuga
tal a fuga noticia as pesquisas contra o plágio. obrigada, jean. a gente tem que
combater essa delinquência e esse cinismo editorial.

imagem: vindicatum plagiarius, http://www.jacobvann.com/

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04/03/2009
rocco/claret 3, o escárnio e o silêncio
quanto às vítimas de mais essa trapaça da martin claret, garfando a desobediência
civil traduzida por josé augusto drummond e publicada pela editora rocco, eis
alguns exemplos:

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7892&p=2
www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2465/Desobediencia-civil-um-meio-de-se-
exercer-a-cidadania
http://200.135.4.10/cgi/Demetrios.exe/busca_avancada?usa_sql=SELECT%20*%20FROM%20B
USCA_OBRAS_BY_ID_EDITORA(1869)%20ORDER%20BY%20TITULO
http://www2.fic.br/sysbibli_cgi/sysbweb.exe/busca_html?alias=sysbibli&editor=%22MA
RTIN%20CLARET%22
www.pucrs.br/direito/graduacao/tc/tccII/trabalhos2007_2/Roberta_Werlang.pdf
http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/rdire/article/viewPDFInterstitial/44/42
www.leonildocorrea.adv.br/curso/ivo4.htm
www.farn.br/navegacao/plano/20082/direito_not/5ano/etica_deontologia.pdf
www.uniandrade.br/cep/bibliografia.asp
www.univem.edu.br/mestrado_dir/detalhe.asp?reg=88&lng=1
www.historia.uff.br/culturaspoliticas/files/File/daniel2005_1.doc
www.abennacional.org.br/57CBEn/artigos/A_nomia.html
http://www2.fic.br/sysbibli_cgi/sysbweb.exe/busca_html?alias...%20%22MARTIN%20CLAR
ET%...
www.inicepg.univap.br/docs/Arquivos/arquivosINIC/INIC1516_02_A.pdf
www.unicruz.edu.br/site/cursos/danca/biblioteca/FILOSOFIA.doc
http://revistaescola.abril.com.br/online/redatores/marcelo/20070820_posts.shtml
www.alumac.com.br/biblioteca.htm
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4257&p=2
www.sad-licitacao.mt.gov.br/Aplicativos/Sad-
Licitacao/LCLcentral.nsf/.../$FILE/ANEXO%20I.doc
www.tribunaanimal.com/docs/Monografia_de_Barbara_Ferrari.doc
www.religiosidadepopular.uaivip.com.br/BibliografiaRP.htm
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/15149/1/DISSERTAÇÃO%20COMPLETA.pd
f
http://gestcorp.incubadora.fapesp.br/portal/monografias/pdf/24.pdf/
www.ufmt.br/fd/Download/Projeto_Curso_Direito.pdf
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/2996/1/A%20Distopia%20do%20Indiví
duo%20Sob%20Contr...

uma retificação: em meu exemplar da desobediência civil pela claret consta


"copyright desta tradução: editora martin claret, 2005" e na fbn/isbn não consta o
ano de publicação. daí eu ter afirmado que a fraude da claret era de 2005. mas
constato em alguns links dos vitimados acima que ela começou a ser publicada em
2001.

ou seja, o acinte claretiano ao mundo institucional do livro, na figura do ex-


presidente do snel, sr. paulo rocco, vem desde seu primeiro mandato (1999-2001) e
atravessa seus dois mandatos subsequentes (2002-2005; 2005-2008): oito anos de
escárnio de um lado e silêncio do outro. complicado.

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rocco/claret 2
continuando o bandoleirismo da claret em cima da rocco, agora:
1. thoreau, uma semana nos rios concord e merrimack (josé augusto drummond, rocco,
1986)
2. thoreau, uma semana nos rios concord e merrimack (alex marins/pietro nassetti,
martin claret, 2005)

1.
É sempre uma experiência singular, embora estimulante, encontrar o senso comum em
livros bem antigos, como o Hitopadesa de Vishnu Sarma;39 trata-se de uma sabedoria
brincalhona que tem olhos também na nuca e é capaz de se supervisionar. O senso
comum afirma a saúde e a independência desses livros em relação às experiências
posteriores. Essa garantia de sanidade tem que estar incluída num livro, de forma
que ele seja capaz de às vezes refletir gostosamente sobre si mesmo. A história e
as partes fabulosas desse livro ondulam lentamente de uma a outra sentença como se
seguissem os oásis num deserto; seu caminho é indistinto como a trilha de um
camelo entre Murzuch e Darfur. É uma crítica ao fluxo e à correnteza dos livros
modernos. O leitor pula de uma sentença a outra, como se atravessasse um rio
pisando nas pedras, enquanto a correnteza da história vai passando sem despertar
atenção. O Bhagavad-Gita talvez seja menos fraseado e poético, mas é ainda mais
seguro e elaborado. Sua sanidade e sublimidade impressionaram até mesmo as mentes
de militares e comerciantes. É uma característica dos grandes poemas dar de si na
justa proporção que diferencia o leitor apressado de um outro leitor atento. Tais
poemas serão senso comum para os práticos e sabedoria para os sábios; é como um
rio onde o viajante solitário molha os lábios, enquanto um exército decide encher
os cantis.

2. aqui a maquiagem consiste, mais do que na troca de termos (em negrito), em


inversões das frases (em itálico)
Experiência singular sempre é, conquanto estimulante, encontrar o senso comum em
livros bem antigos, como o Hitopadesa de Vishnu Sarma.39 Constitui-se de uma
sabedoria brincalhona que tem olhos também na nuca sendo, por isso, capaz de se
supervisionar. Afirma o senso comum a saúde e a independência desses livros
comparando-se às experiências posteriores. Tal garantia de sanidade tem de estar
incluída num livro, de forma que ele seja capaz de às vezes refletir gostosamente
sobre si mesmo. Ondulam lentamente de uma a outra sentença a história e as partes
fabulosas desse livro, como se seguissem os oásis num deserto. Indistinto é seu
caminho qual a trilha de um camelo entre Murzuch e Darfur. Trata-se de uma crítica
ao fluxo e à correnteza dos livros modernos. O leitor pula de uma sentença a
outra, como se atravessasse um rio pisando nas pedras, enquanto a correnteza da
história vai passando sem despertar atenção. Talvez o Bhagavad-Gita seja menos
fraseado e poético, mas é ainda mais seguro e elaborado. Sua sanidade e
sublimidade impressionaram até mesmo a mente de militares e comerciantes. Essa é
uma característica dos grandes poemas: dar de si na justa proporção que diferencia
o leitor apressado de um outro leitor atento. Esses poemas serão senso comum para
os práticos e sabedoria para os sábios. Qual um rio onde o viajante solitário
molha os lábios, enquanto um exército decide encher os cantis.

como diz thoreau, na tradução de josé augusto drummond:

"Se seu vizinho o trapaceia e lhe subtrai um mero dólar, você não se satisfaz com
a descoberta da trapaça, ou com a proclamação de que foi trapaceado e nem mesmo
com suas gestões no sentido de ser devidamente reembolsado; o que você faz é tomar
medidas efetivas imediatas para ser integralmente reembolsado e cuidar de nunca
mais ser vitimado por outra trapaça. Ações baseadas em princípios - a percepção e
a execução do que é certo - modificam coisas e relações." certamente o sr. rocco
sabe disso.

imagem: http://www.daehlico.no/?page=230

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03/03/2009
banner
hoje o nãogosto ganhou um presente maravilhoso da raquel do jane austen em
português.

é um lindo bannerzinho, em duas opções:

colabore na campanha contra o plágio - coloque o bannerzinho em seu blog ou site!

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rocco/claret 1
em 1986 a rocco lançou uma coletânea de textos de henry david thoreau, com
organização, seleção, introdução, tradução e notas de josé augusto drummond, além
de um prefácio de fernando gabeira. essa coletânea também saiu pelo círculo do
livro, teve diversas edições, ainda está no catálogo da rocco, mas anda meio
esgotada. chama-se desobedecendo, e traz como subtítulo a desobediência civil &
outros escritos. a coletânea é composta por cinco ensaios, a saber: a
desobediência civil; a vida sem princípio; caminhando; a escravidão em
massachusetts; uma semana nos rios concord e merrimack (este último em trechos
selecionados pelo organizador/tradutor).

em 2005, a martin claret lançou uma coletânea chamada a desobediência civil e


outros escritos. ela contém: a desobediência civil; andar a pé; trechos escolhidos
[sic; trata-se de uma seleta de walden]; um passeio num inverno rigoroso; uma
semana nos rios concord e merrimack. a tradução é atribuída a "alex marins", e a
coletânea usa "chapa fria". está cadastrada na fbn/isbn tendo como tradutor pietro
nassetti, e com o título desobedecend [sic] - talvez porque o pessoal da claret
não tenha entendido o lance da letra "o" fora de alinhamento na capa da rocco...

em floresta dos plágios, apresentei a suposta tradução de alex marins para andar a
pé, mostrando que é uma cópia mal disfarçada da tradução de sarmento de beires e
josé duarte, pela jackson (clássicos, volume xxxiii, ensaístas americanos, 1950).

quanto aos ensaios a desobediência civil e uma semana nos rios concord e merrimack
publicados pela claret, são cópias atamancadas da tradução de josé augusto
drummond, na edição da rocco acima citada.

a. a desobediência civil, josé augusto drummond:

A única obrigação que tenho direito de assumir é fazer a qualquer momento aquilo
que julgo certo. Costuma-se dizer, e com toda a razão, que uma corporação não tem
consciência; mas uma corporação de homens conscienciosos é uma corporação com uma
consciência. A lei nunca fez os homens sequer um pouco mais justos; e o respeito
reverente pela lei tem levado até mesmo os bem-intencionados a agirem
cotidianamente como mensageiros da injustiça. Um resultado comum e natural de um
respeito indevido pela lei é a visão de uma coluna de soldados - coronel, capitão,
cabos, combatentes, e outros - marchando para a guerra numa ordem impecável,
cruzando morros e vales, contra as suas vontades, e como sempre, contra seu senso
comum e suas consciências; por isso essa marcha é muito pesada e faz o coração
bater forte. Eles sabem perfeitamente que estão envolvidos numa iniciativa
maldita; eles têm tendências pacíficas. O que são eles, agora? Chegarão a ser
homens? Ou pequenos fortes e paióis móveis, a serviço de algum inescrupuloso
detentor do poder? É só visitar o Estaleiro Naval (4) e contemplar um fuzileiro:
eis aí o tipo de homem que um governo norte-americano é capaz de fabricar - ou
transformar com sua magia negra - uma sombra pálida, uma vaga recordação da
condição humana, um cadáver de pé e vivo e, no entanto, se poderia considerá-lo
enterrado sob armas com acompanhamento funeral, embora possa acontecer que

"Não se ouviu um rufar e sequer um toque de silêncio


enquanto à muralha seu corpo levamos
nenhum soldado disparou uma salva de adeus
sobre o túmulo onde jaz o herói que enterramos".5

4 Thoreau provavelmente se refere ao Estaleiro Naval da Marinha de Guerra dos EUA,


em Boston, no Estado de Massachusetts.
5 Trecho do poema The Burial of Sir John Moore at Corunna (O Enterro de Sir John
Moore em Corunna), de Charles Wolfe (1791-1823).

b. a desobediência civil, alex marins/pietro nassetti:

A única obrigação que tenho direito de assumir é fazer a qualquer momento aquilo
que julgo certo. Com toda a razão, costuma-se dizer que uma corporação não tem
consciência. Uma corporação de homens conscienciosos, todavia, é uma corporação
consciente. A lei jamais tornou os homens sequer um pouco mais justos. O respeito
reverente pela lei tem levado até mesmo os bem-intencionados a agir
quotidianamente como mensageiros da injustiça. O produto comum e natural de um
respeito indevido pela lei é a visão de uma coluna de soldados - coronel, capitão,
cabos, combatentes e outros - marchando para a guerra numa ordem impecável,
cruzando morros e vales, contra sua vontade, e como sempre contra seu juízo e sua
consciência comuns. Daí que essa marcha é muito pesada e faz o coração bater
forte. Eles têm perfeita noção de que estão envolvidos numa iniciativa maldita.
Porque eles têm tendências pacíficas. Que são eles, então? Chegarão a ser homens?
Ou pequenos fortes e paióis móveis, a serviço de algum inescrupuloso detentor do
poder? Basta visitar o estaleiro naval (4) e contemplar um fuzileiro: aí se vê o
tipo de homem que um governo norte-americano é capaz de fabricar - ou transformar
com sua magia negra - uma sombra pálida, uma vaga recordação da condição humana,
um cadáver de pé e vivo que, entretanto, se poderia considerar enterrado sob armas
com acompanhamento fúnebre, conquanto possa acontecer que

"Não se ouviu um rufar e sequer um toque de silêncio


enquanto à muralha seu corpo levamos
nenhum soldado disparou uma salva de adeus
sobre o túmulo onde jaz o herói que enterramos"5.

4 Provavelmente Thoreau se refere ao estaleiro naval da Marinha de Guerra dos EUA,


em Boston, no Estado de Massachusetts.
5 Trecho do poema "The burial of Sir John Moore at Corunna" (O Enterro de Sir John
Moore em Corunna), de Charles Wolfe (1791-1823).

a. a desobediência civil, josé augusto drummond:

Antigamente, na nossa aldeia, havia o costume de saudar os pobres endividados que


saíam da cadeia olhando-os através dos dedos dispostos em forma das barras de uma
janela de prisão; e se perguntava ao recém-liberto: "Como vai você?" Não recebi
essa saudação de meus conhecidos, que primeiro me encaravam e depois se
entreolhavam, corno se eu acabasse de voltar de uma longa viagem. Eu tinha sido
preso quando me dirigia ao sapateiro para pegar uma bota consertada. Quando fui
solto na manhã seguinte, resolvi retomar o que estava fazendo e, depois de calçar
a tal bota, juntei-me a um grupo que pretendia colher frutas silvestres e que
ansiava me ter como guia.24 E em pouco mais de meia hora - pois logo recebi um
cavalo arreado -chegamos ao alto de um dos nossos mais altos morros, onde
abundavam frutas silvestres, a três quilômetros da cidade; e aí então não se podia
ver o Estado em lugar nenhum.
Essa é a história completa de "Minhas Prisões".25

24 Isso se justifica, pois Thoreau era ótimo conhecedor das florestas em torno do
Concord. Aliás, na época dessa sua prisão. Thoreau estava residindo sozinho numa
cabana nas florestas vizinhas de Concord, experiência que durou pouco mais de dois
anos e que lhe forneceu o material para escrever a sua obra principal, Walden,
publicada pela primeira vez em 1854.
25 Referência irônica ao livro Le mie prigioni, do escritor e político italiano
Silvio Pellico (1789-1854). Thoreau não gostava da curiosidade despertada pela sua
prisão e evitava o assunto. O próprio estilo desse relato sobre a prisão é
diferente do resto do ensaio, indicando talvez certa relutância em abordar o fato.
É possível que esse trecho tenha sido retirado, sem maiores revisões, diretamente
do seu Journals (Diário), no qual ele anotou desde 1837 as passagens, experiências
e idéias do seu dia-a-dia. É sabido que várias obras de Thoreau foram compostas a
partir da reelaboração de trechos de seu Diário.

b. a desobediência civil, alex marins/pietro nassetti:

Em nossa aldeia, havia o antigo costume de saudar os pobres endividados que saíam
da cadeia olhando-os através dos dedos dispostos em forma das barras de uma janela
de prisão, perguntando ao recém-liberto: "Como vai você?" Eu não recebi essa
saudação de meus conhecidos, que primeiro me encaravam e depois se entreolhavam,
corno se eu acabasse de voltar de uma longa viagem. Minha prisão se dera quando eu
me dirigia ao sapateiro para pegar uma bota consertada. Ao ser solto na manhã
seguinte, resolvi retomar o que estava fazendo e, depois de calçar a tal bota,
juntei-me a um grupo que pretendia colher frutas silvestres e me queria como
guia.24 Em pouco mais de meia hora - logo recebi um cavalo arreado - chegamos ao
topo de uma de nossas mais altas colinas, onde abundavam frutas silvestres, a três
quilômetros da cidade. Daquele ponto não se podia ver propriamente nada do Estado.
A história completa de "Minhas Prisões" se resume nisso.25

24 Realmente Thoreau era profundo conhecedor das florestas que ladeavam Concord.
Na época dessa sua prisão. Thoreau residia sozinho numa cabana nas florestas
vizinhas de Concord, experiência que durou pouco mais de dois anos e que lhe
forneceu o material para escrever a sua obra principal, Walden, publicada pela
primeira vez em 1854.
25 Referência irônica ao livro La mia prigione, do escritor e político italiano
Silvio Pellico (1789-1854). Thoreau não gostava da curiosidade despertada pela sua
prisão e evitava o assunto. A própria forma desse relato sobre a prisão difere um
pouco do resto do ensaio, indicando talvez certa relutância em abordar o caso. É
possível que esse trecho tenha sido extraído, sem maiores revisões, diretamente do
seu Journals (Diário), no qual ele anotou desde 1837 as passagens, experiências e
idéias do seu dia-a-dia. Várias obras de Thoreau, foram compostas a partir da
reelaboração de trechos de seu Diário.

a. a desobediência civil, josé augusto drummond:

A autoridade do governo, mesmo do governo ao qual estou disposto a me submeter


-pois obedecerei com satisfação aos que saibam e façam melhor do que eu e, sob
certos aspectos, obedecerei até aos que não saibam nem façam as coisas tão bem -é
ainda impura; para ser inteiramente justa, ela precisa contar com a sanção e com o
consentimento dos governados. Ele não pode ter sobre minha pessoa e meus bens
qualquer direito puro além do que eu lhe concedo. O progresso de uma monarquia
absoluta para uma monarquia constitucional, e desta para uma democracia, é um
progresso no sentido do verdadeiro respeito pelo indivíduo. [falta uma frase do
original] Será que a democracia tal como a conhecemos é o último aperfeiçoamento
possível em termos de construir governos? Não será possível dar um passo a mais no
sentido de reconhecer e organizar os direitos do homem?

b. a desobediência civil, alex marins/pietro nassetti:

A autoridade do governo, inclusive a do governo ao qual estou disposto a me


submeter - eis que obedecerei de bom grado aos que saibam e façam melhor do que eu
e, sob certos aspectos, obedecerei até àqueles que não saibam nem façam as coisas
tão bem - é ainda impura. Para se tornar totalmente justa, ela precisa contar com
a sanção e com o consentimento dos governados. O governo não pode ter sobre minha
pessoa e meus bens qualquer direito puro além do que eu lhe concedo. A evolução de
uma monarquia absoluta para uma monarquia constitucional, e desta para uma
democracia, é um progresso no sentido do verdadeiro respeito pelo indivíduo.
[falta a mesma frase do original] Será que a democracia, da forma como a
conhecemos, é o último aperfeiçoamento possível em termos de construir governos?
Não será possível dar um passo a mais no sentido de reconhecer e organizar os
direitos do homem?

vale a pena ver o original para entender até que ponto é tola e inútil a
maquiagem aplicada:
1. The only obligation which I have a right to assume is to do at any time what I
think right. It is truly enough said that a corporation has no conscience; but a
corporation of conscientious men is a corporation with a conscience. Law never
made men a whit more just; and, by means of their respect for it, even the well-
disposed are daily made the agents on injustice. A common and natural result of an
undue respect for the law is, that you may see a file of soldiers, colonel,
captain, corporal, privates, powder-monkeys, and all, marching in admirable order
over hill and dale to the wars, against their wills, ay, against their common
sense and consciences, which makes it very steep marching indeed, and produces a
palpitation of the heart. They have no doubt that it is a damnable business in
which they are concerned; they are all peaceably inclined. Now, what are they? Men
at all? or small movable forts and magazines, at the service of some unscrupulous
man in power? Visit the Navy Yard, and behold a marine, such a man as an American
government can make, or such as it can make a man with its black arts—a mere
shadow and reminiscence of humanity, a man laid out alive and standing, and
already, as one may say, buried under arms with funeral accompaniment, though it
may be,
"Not a drum was heard, not a funeral note,
As his corpse to the rampart we hurried;
Not a soldier discharged his farewell shot
O'er the grave where out hero was buried."

2. It was formerly the custom in our village, when a poor debtor came out of jail,
for his acquaintances to salute him, looking through their fingers, which were
crossed to represent the jail window, "How do ye do?" My neighbors did not thus
salute me, but first looked at me, and then at one another, as if I had returned
from a long journey. I was put into jail as I was going to the shoemaker's to get
a shoe which was mended. When I was let out the next morning, I proceeded to
finish my errand, and, having put on my mended shoe, joined a huckleberry party,
who were impatient to put themselves under my conduct; and in half an hour—for the
horse was soon tackled—was in the midst of a huckleberry field, on one of our
highest hills, two miles off, and then the State was nowhere to be seen.
This is the whole history of "My Prisons."

3. The authority of government, even such as I am willing to submit to—for I will


cheerfully obey those who know and can do better than I, and in many things even
those who neither know nor can do so well—is still an impure one: to be strictly
just, it must have the sanction and consent of the governed. It can have no pure
right over my person and property but what I concede to it. The progress from an
absolute to a limited monarchy, from a limited monarchy to a democracy, is a
progress toward a true respect for the individual. Even the Chinese philosopher
was wise enough to regard the individual as the basis of the empire. Is a
democracy, such as we know it, the last improvement possible in government? Is it
not possible to take a step further towards recognizing and organizing the rights
of man?

estou me estendendo mais neste cotejo porque é um caso raro no padrão das
apropriações indébitas da claret. há alguns casos de saques esporádicos à
companhia das letras e à martins fontes e o caso nada esporádico, e sim em grande
escala, de pilhagem à ediouro. bom, como a ediouro foi parceira dos livros-
clipping da claret até 1998 mais ou menos, este fato deve, de alguma maneira, ter
levado a claret a achar que podia ficar saqueando à vontade sua antiga coleguinha.
mas, de modo geral, a bandoleira prefere exercer suas artes de rapinagem em
edições antigas ou portuguesas.

agora, pegar assim de frente uma rocco, bem na época em que o titular da empresa
ocupava a presidência do snel, achei de um senso de humor fora de série – tipo um
claro desafio para mostrar como claret é indômito e escarnece das entidades do
livro, na figura de seus dirigentes. não é um humor que me agrade, e essa
incontrolável disposição antissocial do sr. claret também
não faz muito meu gênero – em todo caso, confesso que fiquei realmente surpresa!

com certeza o sr. paulo rocco, voz de expressiva representatividade no mundo do


livro, saberá se conduzir à altura do problema: não o desafio barato de um
provecto empresário calejado nas piores práticas editoriais, e sim o incessante
alastramento do descrédito do livro neste país, que não poupa editores nem
leitores.

logo apresentarei o plágio da claret em cima do outro texto publicado na coletânea


da rocco, uma semana nos rios concord e merrimack.

imagens: site da rocco; www.plagiarius.com/; www.images.portoeditora.pt/;


www.publishers.asn.au

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plagiarism: 1621, from L. plagiarius "kidnapper, seducer, plunderer," used in the


sense of "literary thief" by Martial, from plagium "kidnapping," from plaga
"snare, net," from PIE base *p(e)lag- "flat, spread out." Plagiary is attested
from 1597.

imagem e verbete: http://www.etymonline.com/index.php?term=plagiarism

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02/03/2009
nóis é vivo
émile durkheim, as regras do método sociológico

a. margarida garrido esteves (abril, sob licença da editorial presença)


b. pietro nassetti (martin claret)

esse caso é engraçado: os sumários dos capítulos, mesmo sendo bastante


discursivos, foram mantidos incólumes. iniciada a exposição propriamente dita, o
ishperto pôs o lápis em uso.

a. margarida garrido esteves:

regras relativas à distinção entre o normal e o patológico


utilidade teórica e prática desta distinção. É preciso que ela seja possível
cientificamente para que a ciência possa servir para dirigir a conduta.
i — exame dos critérios correntemente utilizados: a dor não é o sinal distintivo
da doença, porque faz parte da saúde, nem a diminuição das probabilidades de
sobrevivência, na medida em que por vezes é produzida por fatos normais (velhice,
parto, etc.) e não resulta necessariamente da doença; para além disso, este
critério é, na maior parte das vezes, inaplicável, sobretudo em sociologia. a
doença distinguida do estado de saúde como o anormal do normal. o tipo médio ou
específico. necessidade de levar em linha de conta a idade para determinar se o
fato é normal ou não. como esta definição do patológico coincide em geral com o
conceito corrente de doença, o anormal é o acidental; porque o anormal, em geral,
constitui o ser em estado de inferioridade.
ii — utilidade que há em verificar os resultados do método precedente, procurando
as causas da normalidade do fato, quer dizer, da sua generalidade. necessidade que
há em proceder a esta verificação quando se trata de fatos que se reportam a
sociedades que não acabaram a sua história. por que não pode este segundo critério
ser usado senão a título complementar e em segundo lugar. enunciado das regras.
iii — aplicação destas regras a quaisquer casos, designadamente à questão do
crime. por que é que a existência de uma criminalidade é um fenômeno normal.
exemplos de erros em que se cai quando não se seguem estas regras. a própria
ciência torna-se impossível.
I.
a observação, quando guiada pelas regras precedentes, confina duas ordens de fatos
bastante diferentes: aqueles que são o que devem ser e aqueles que deveriam ser
diferentes daquilo que são, os fenômenos normais e os fenômenos patológicos. (p.
110)

b. pietro nassetti:

regras relativas à distinção entre o normal e o patológico


utilidade teórica e prática desta distinção. É preciso que ela seja possível
cientificamente para que a ciência possa servir para dirigir a conduta.
i — exame dos critérios correntemente utilizados: a dor não é o sinal distintivo
da doença, porque faz parte da saúde, nem a diminuição das probabilidades de
sobrevivência, na medida em que por vezes é produzida por fatos normais (velhice,
parto, etc.) e não resulta necessariamente da doença; para além disso, este
critério é, na maior parte das vezes, inaplicável, sobretudo em sociologia. a
doença distinguida do estado de saúde como o anormal do normal. o tipo médio ou
específico. necessidade de levar em linha de conta a idade para determinar se o
fato é normal ou não. como esta definição do patológico coincide em geral com o
conceito corrente de doença, o anormal é o acidental; porque o anormal, em geral,
constitui o ser em estado de inferioridade.
ii — utilidade que há em verificar os resultados do método precedente, procurando
as causas da normalidade do fato, quer dizer, da sua generalidade. necessidade que
há em proceder a esta verificação quando se trata de fatos que se reportam a
sociedades que não acabaram a sua história. por que não pode este segundo critério
ser usado senão a título complementar e em segundo lugar. enunciado das regras.
iii — aplicação destas regras a quaisquer casos, designadamente à questão do
crime. por que é que a existência de uma criminalidade é um fenômeno normal.
exemplos de erros em que se cai quando não se seguem estas regras. a própria
ciência torna-se impossível.
I.
quando conduzida pelas regras precedentes, a observação, confunde duas ordens de
fatos bastante distintas sob alguns aspectos: aqueles que são tudo o que devem ser
e aqueles que deveriam ser diferentes do que são, os fenômenos normais e os
fenômenos patológicos. (pp. 67-68)

a. margarida garrido esteves:

regras relativas à explicação dos fatos sociais


a constituição das espécies é essencialmente um modo de agrupar os fatos a fim de
facilitar a sua interpretação; a morfologia social encara os verdadeiros problemas
da explicação científica. qual é o método desta?
i — caráter finalista das explicações em vigor. a utilidade de um fato não explica
a sua existência. dualidade das duas questões, estabelecida pelos fatos de
sobrevivência, pela independência do órgão e da função, e a diversidade de
serviços que pode prestar sucessivamente uma mesma instituição. necessidade da
investigação das causas eficientes dos fatos sociais. importância preponderante
destas causas na sociologia, demonstrada pela generalidade das práticas sociais,
mesmo as mais minuciosas. a causa eficiente deve, portanto, ser determinada
independentemente da função. por que deve a primeira investigação preceder à
segunda. utilidade desta última.
ii — caráter psicológico do método de explicação geralmente seguido. este método
desconhece a natureza do fato social que é irredutível aos fatos puramente
psíquicos em virtude da sua definição. os fatos sociais só podem ser explicados
por fatos sociais. como isto acontece mesmo que a sociedade não tenha por matéria
mais do que consciências individuais. importância da associação que dá nascimento
a um novo ser e a uma nova ordem de realidades. solução de continuidade entre a
sociologia e a psicologia, análoga à que separa a biologia das ciências físico-
químicas. se esta proposição se aplica ao fato da formação da sociedade. relação
positiva entre os fatos psíquicos e os fatos sociais. os primeiros são a matéria
indeterminada que o fator social transforma: exemplos. se os sociólogos lhes
atribuíram um papel mais direto na gênese da vida social é porque tomaram por
fatos puramente psíquicos estados de consciência que são apenas fenômenos sociais
transformados. outras provas em apoio da mesma proposição: 1. — independência dos
fatos sociais em relação ao fator ético, o qual é de ordem orgânico-psíquica; 2. —
a evolução social não é explicável por causas puramente psíquicas. enunciado das
regras sobre esta questão. É por estas regras serem desconhecidas que as
explicações sociológicas têm um caráter demasiado geral, que as desacredita.
necessidade de uma cultura propriamente sociológica.
iii — importância primária dos fatos de morfologia social nas explicações
sociológicas: o meio interno é a origem de todo o processo social de alguma
importância. papel particularmente preponderante do elemento humano desse meio. o
problema sociológico consiste, portanto, e, sobretudo, em encontrar as
propriedades desse meio que têm mais influências sobre os fenômenos sociais. duas
espécies de características correspondem, em particular, a esta condição: o volume
da sociedade e a densidade dinâmica medida pelo grau de coalescência dos
segmentos. os meios internos secundários; as suas relações com o meio geral e o
detalhe da vida coletiva. importância desta noção de meio social. se a rejeitamos,
a sociologia deixa de poder estabelecer relações de causalidade mas, apenas,
relações de sucessão, não comportando a previsão científica: exemplos tirados de
comte e de spencer. importância desta mesma noção para explicar como pode variar o
valor útil das práticas sociais sem depender de arranjos arbitrários. relações
desta questão com a dos tipos sociais. a vida social assim concebida depende de
causas internas.
iv — caráter geral desta concepção sociológica. para hobbes, a ligação entre o
psíquico e o social é sintética e artificial; para spencer e para os economistas,
a ligação é natural mas analítica; para nós, é natural e sintética. como estas
duas características são conciliáveis. conseqüências gerais que daqui resultam.
I.
a maior parte dos sociólogos julga ter explicado os fenômenos a partir do momento
em que definiu a sua utilidade e o papel que desempenham. raciocina-se como se
tais fenômenos só existissem para desempenhar esse papel e tivessem como única
causa determinante o sentimento, claro ou confuso, dos serviços que são chamados a
prestar. (p. 132)

b. pietro nassetti:

regras relativas à explicação dos fatos sociais


a constituição das espécies é essencialmente um modo de agrupar os fatos a fim de
facilitar a sua interpretação; a morfologia social encara os verdadeiros problemas
da explicação científica. qual é o método desta?
i — caráter finalista das explicações em vigor. a utilidade de um fato não explica
a sua existência. dualidade das duas questões, estabelecida pelos fatos de
sobrevivência, pela independência do órgão e da função, e a diversidade de
serviços que pode prestar sucessivamente uma mesma instituição. necessidade da
investigação das causas eficientes dos fatos sociais. importância preponderante
destas causas em sociologia, demonstrada pela generalidade das práticas sociais,
mesmo as mais minuciosas. a causa eficiente deve, portanto, ser determinada
independentemente da função. por que deve a primeira investigação preceder a
segunda. utilidade desta última.
ii — caráter psicológico do método de explicação geralmente seguido. este método
desconhece a natureza do fato social que é irredutível aos fatos puramente
psíquicos em virtude da sua definição. os fatos sociais só podem ser explicados
por fatos sociais. como isto acontece mesmo que a sociedade não tenha por matéria
mais do que consciências individuais. importância da associação que dá nascimento
a um novo ser e a uma nova ordem de realidades. solução de continuidade entre a
sociologia e a psicologia, análoga à que separa a biologia das ciências físico-
químicas. se esta proposição se aplica ao fato da formação da sociedade. relação
positiva entre os fatos psíquicos e os fatos sociais. os primeiros são a matéria
indeterminada que o fator social transforma em exemplos. se os sociólogos lhes
atribuíram um papel mais direto na gênese da vida social é porque tomaram por
fatos puramente psíquicos estados de consciência que são apenas fenômenos sociais
transformados. outras provas em apoio da mesma proposição: 1. — independência dos
fatos sociais em relação ao fator ético, o qual é de ordem orgânico-psíquica; 2. —
a evolução social não é explicável por causas puramente psíquicas. enunciado das
regras sobre esta questão. É por estas regras serem desconhecidas que as
explicações sociológicas têm um caráter demasiado geral, que as desacredita.
necessidade de uma cultura propriamente sociológica.
iii — importância primária dos fatos de morfologia social nas explicações
sociológicas: o meio interno é a origem de todo o processo social de alguma
importância. papel particularmente preponderante do elemento humano desse meio. o
problema sociológico consiste, portanto, e, sobretudo, em encontrar as
propriedades desse meio que têm mais influências sobre os fenômenos sociais. duas
espécies de características correspondem, em particular, a esta condição: o volume
da sociedade e a densidade dinâmica medida pelo grau de coalescência dos
segmentos. os meios internos secundários; as suas relações com o meio geral e o
detalhe da vida coletiva. importância desta noção de meio social. se a rejeitamos,
a sociologia deixa de poder estabelecer relações de causalidade mas, apenas,
relações de sucessão, não comportando a previsão científica: exemplos tirados de
comte e de spencer. importância desta mesma noção para explicar como pode variar o
valor útil das práticas sociais sem depender de arranjos arbitrários. relações
desta questão com a dos tipos sociais. a vida social assim concebida depende de
causas internas.
iv — caráter geral desta concepção sociológica. para hobbes, a ligação entre o
psíquico e o social é sintética e artificial; para spencer e para os economistas,
a ligação é natural mas analítica; para nós, é natural e sintética. como estas
duas características são conciliáveis. conseqüências gerais que daqui resultam.
I.
a maioria dos sociólogos julgam ter explicado os fenômenos logo que mostraram para
que servem e o papel que desempenham. raciocina-se como se eles só existissem para
desempenhar esse papel e tivessem como única causa determinante o sentimento,
claro ou confuso, dos serviços que são chamados a prestar. (pp. 103-104)

por lei, as livrarias são solidariamente responsáveis com o editor da fraude. a


ishperteza prospera, naturalmente, graças aos bons préstimos de solícitas
prateleiras como, por exemplo, as da livraria travessa, da fnac, da livraria
cultura, da saraiva, das livrarias curitiba, das americanas...

imagens: tzvee.blogspot.com; carmen miranda, images google; emoticon, whistle

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οιδιποθσ

sófocles, rei édipo (j. b. de mello e souza, jackson)

sófocles, édipo rei (jean melville, martin claret)

além de plagiada, a edição usa "chapa fria". sobre o termo "chapa fria", veja
aqui.

este parece ser mais um caso de montagem de edições diferentes. a jackson teve
surripiadas todas as notas de autoria de mello e souza.

a. notas de mello e souza:


1. conforme antigo costume grego, os que tinham alguma súplica a fazer aos deuses
acercavam-se dos altares trazendo ramos de louros, ou de oliveira, enfeitados com
fitas de lã.
2. havia em tebas dois templos dedicados a minerva (palas) e um a apolo, junto do
ismênio, no qual, segundo heródoto (viii, 134), se colhiam bons oráculos.
3. ter à cabeça uma coroa de louros significava ter ganho um prêmio, ou ser
portador de uma notícia auspiciosa.
4. os gregos supunham que, por intermédio da sacerdotisa de delfos, falava pelo
oráculo o próprio deus apolo.
5. "causa o sangue o flagelo sobre a cidade" diz, literalmente, sófocles.
6. os interpretadores assinalam esta passagem como sendo das mais notáveis da
tragédia, pois édipo vai fazer o contrário do que diz, em uma anfibologia trágica,
usada com frequência por sófocles.
7. literalmente: "às plagas do deus ocidental" porque, para os gregos, o hades,
região dos mortos, ficava na zona escura do mundo, isto é, no ocidente, visto que
a luz vinha do oriente.
8. justifica-se essa alegoria, visto que marte, além de ser deus da guerra, era-o
também da peste, a que se refere o sumo sacerdote, em sua primeira fala.
9. um dos títulos conferidos ao deus apolo, por ter nascido na lícia (cf. horácio,
iii, ode iv).
10. segundo a lenda a que se refere heródoto, (l. v., 59), agenor era um rei da
fenícia. seu filho cadmo fundou tebas, dando seu nome à colina principal, e ao
recinto fortificado da cidade (cadméia). de cadmo foi filho polidoro, pai de
lábdaco. a este rei sucedeu o infeliz laio.
11. tirésias tinha, com efeito, o tratamento de rei, prova de que o sacerdócio o
igualava aos reis de fato, se não o punha acima deles. isso explica a altivez e o
desassombro com que, por vezes, falava tirésias a édipo.
12. "este dia te dará o nascimento e a morte" - diz o original, literalmente, mas
a idéia evidente é a de que édipo iria descobrir na mesma ocasião os dois
terríveis lances de sua trágica existência.
[...]
27. que édipo se houvesse ferido com um simples colchete do manto real, não
admira, visto que essa peça do vestuário grego era muito maior que os atuais
colchetes, e bastante forte para ser assim utilizada. heródoto conta em suas
histórias, (v, 87) que as atenienses mataram um covarde, servindo-se dos próprios
colchetes de suas roupas como punhais. para isso bastava forçar a fita metálica,
dando-lhe a forma de um gancho ou de um estilete pontiagudo.

b. notas de mello e souza pirateadas pela martin claret:


1. conforme antigo costume grego, os que tinham alguma súplica a fazer aos deuses
acercavam-se dos altares, trazendo ramos de louros ou de oliveira, adornados com
fitas de lã.
2. havia em tebas dois templos dedicados a minerva (palas) e um a apolo, junto do
ismênio, onde, segundo heródoto (viii, 134), se colhiam bons oráculos.
3. os gregos supunham que, por intermédio da sacerdotisa de delfos, falava pelo
oráculo ali existente o próprio deus apolo. [vasta trapalhada, a claret trocou a
nota 3 pela 4]
4. ter à cabeça uma coroa de louros significava ter ganho um prêmio ou ser
portador de uma notícia auspiciosa.
5. "causa o sangue o flagelo sobre a cidade" diz, literalmente, sófocles.
6. os comentadores assinalam esta passagem como sendo das mais notáveis da
tragédia, pois édipo fará o contrário do que diz, em uma anfibologia trágica,
usada com frequência por sófocles. 7. literalmente: "às plagas do deus ocidental"
porque, para os gregos, o hades, região dos mortos, ficava na zona escura do
mundo, isto é, no ocidente, visto que a luz vinha do oriente.
8. justifica-se essa alegoria, visto que marte, além de ser deus da guerra, era-o
também da peste, a que se refere o sacerdote em sua primeira fala.
9. um dos títulos conferidos ao deus apolo, por ter nascido na lícia (cf. horácio,
iii, ode iv).
10. segundo a lenda a que se refere heródoto, (1. v., 59), agenor era um rei da
fenícia. seu filho cadmo fundou tebas, dando seu nome à colina principal e ao
recinto fortificado da cidade (cadméia). de cadmo foi filho polidoro, pai de
lábdaco. a esse rei sucedeu o infeliz laio.
11. tirésias tinha, com efeito, o tratamento de rei, prova de que o sacerdócio o
igualava aos reis de fato, se não o punha acima deles. isso explica a altivez e o
desassombro com que, por vezes, fala tirésias a édipo.
12. "este dia te dará o nascimento e a morte" - diz o original, literalmente, mas
a idéia evidente é a de que édipo iria descobrir na mesma ocasião os dois
terríveis lances de sua trágica existência.
[...]
27. que édipo se houvesse ferido com um simples colchete do manto real, não
admira, visto que essa peça do vestuário grego era muito maior que os atuais
colchetes, e bastante forte para ser assim utilizada. heródoto conta em suas
histórias (v, 87), que as atenienses mataram um covarde, servindo-se dos próprios
colchetes de suas roupas como punhais. para isso bastava forçar a fita metálica,
dando-lhe a forma de um gancho ou de um estilete pontiagudo.

se, conforme reza a lei 9610/98, "quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir,
distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com
fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto
ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o
contrafator, nos termos dos artigos precedentes", então algumas solidárias
responsáveis são, por exemplo, a saraiva, a fnac, a cultura, a travessa, a
curitiba.

imagem: http://www.interney.net/

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eugênia claret
em eugénie claret o sr. martin grandet não hesitou em arrancar uns pedaços à
respeitabilíssima tradução de moacyr werneck de castro.

a associação brasileira de imprensa (abi) deu seu apoio à campanha contra os


plágios e divulgou em seu site. por outro lado, moacyr werneck de castro foi
escolhido, ao lado de lygia fagundes telles, para compor a comissão de honra para
a comemoração do centésimo aniversário da abi. espero que a combativa associação
dê uma nota em protesto contra esse infame desrespeito e saque à pessoa e obra de
moacyr werneck.

o padrão do plágio é por remendo e acoplagem de duas traduções diferentes, uma


portuguesa e outra brasileira, além de substituição de termos aqui e acolá, ao
longo do livro.

é uma salada russa, inclusive no tratamento. por exemplo, temos na mesma frase:
"assuntos que te trazem aqui ... se o senhor quiser ir... desculpe-me que não te
acompanhe... talvez veja por ti". ou: "sinta-se em sua casa ... se precisar, chama
nanon ... o cão te comeria... durma bem". ou: "meteste na cabeça ... tome
cuidado". ou "vais ver.. quer saquear... és a patroa... faça uma torta e assa no
forno".
vou me concentrar na cópia adulterada a partir da tradução de moacyr werneck.

balzac, eugênia grandet


a. moacyr werneck de castro (abril)
b. alex marins (martin claret)

a. a maria*
seja o teu nome aqui - pois que o teu retrato é o mais belo adorno desta obra -
como um ramo bento de murta, apanhado numa árvore qualquer, mas certamente
santificado pela religião e renovado, sempre verde, por mãos piedosas, para
proteger a casa.

* trata-se de maria du fresnay, que foi, por algum tempo, a amante de balzac, e
que, segundo se julga, lhe deu uma filha, marie caroline du fresnay, nascida em
sartrouville em 1834 e falecida em nice em 1930, com mais de noventa anos de
idade.

b. a maria*
seja o teu nome aqui - pois que o teu retrato é o mais belo ornamento desta obra -
como um ramo bento de murta, colhido numa árvore qualquer; mas certamente
santificado pela religião e revigorado, sempre verde, por mãos piedosas, para
proteger a casa.

* trata-se de maria du fresnay, que foi, por algum tempo, a amante de balzac, e
que, segundo se acredita, lhe deu uma filha, marie caroline du fresnay, nascida em
sartrouville em 1834 e falecida em nice em 1930, com noventa anos. [sic]

a. este desfecho necessariamente ilude a curiosidade. talvez seja assim com todos
os desfechos verdadeiros. as tragédias, os dramas, para falar a linguagem de nosso
tempo, são raridades na natureza. lembrai-vos do preâmbulo. esta história é a
tradução imperfeita de algumas páginas esquecidas pelos copistas no grande livro
do mundo. aqui, nenhuma invenção. a obra é uma humilde miniatura, que exigiria
mais paciência do que arte. cada departamento tem o seu grandet. apenas, o grandet
de mayenne ou de lille é menos rico que o antigo prefeito de saumur. é possível
que o autor tenha forçado um traço, esboçado mal os seus anjos terrestres, posto
cor de mais ou de menos em seu papel. talvez tenha sobrecarregado de ouro o
contorno da cabeça de sua maria; talvez não tenha distribuído as luzes segundo as
regras da arte; enfim, talvez tenha sombreado demais as tintas já escuras do seu
velho, imagem toda material. mas não recuseis vossa indulgência ao monge paciente,
vivendo no fundo de sua cela, humilde admirador da rosa mundi, de maria, bela
imagem de todo o sexo, a mulher do monge, a segunda eva dos cristãos.

se ele continua a atribuir, apesar dos críticos, tantas perfeições à mulher, é que
pensa ainda ele, um jovem, que a mulher é a mais perfeita entre as criaturas.
saída em último lugar das mãos que moldavam o mundo, ela deve expressar mais
puramente que qualquer outro ser o pensamento divino. por isso, ao contrário do
homem, não foi tirada do granito primevo, não foi argila mole sob os dedos de
deus; não: extraída dos flancos do homem, matéria flexível e dútil, ela é uma
criação transitória entre o homem e o anjo. por isso a vedes forte como é forte o
homem, e delicadamente inteligente pelo sentimento, como o é o anjo. não seria
preciso unir nela duas naturezas, para incumbi-la de trazer sempre a espécie em
seu seio? uma criança, para ela, não é toda a humanidade?

b. necessariamente este desfecho ilude a curiosidade. talvez deste modo seja com
todos os desfechos verdadeiros. as tragédias, os dramas, para falar a linguagem de
nosso tempo, são raridades na natureza. lembrai-vos do preâmbulo.* esta história é
a tradução imperfeita de algumas páginas esquecidas pelos copistas no grande livro
do mundo. nisto, nenhuma invenção. a obra é uma humilde miniatura, que exigiria
mais paciência do que arte. cada departamento tem o seu grandet. apenas, o grandet
de mayenne ou de lille é menos rico que o antigo prefeito de saumur. é provável
que o autor tenha forçado um traço, delineado mal os seus anjos terrestres, posto
cor mais ou menos em seu papel. talvez tenha sobrecarregado de ouro o contorno da
cabeça de sua maria; talvez não tenha distribuído as luzes segundo as regras da
arte; enfim, talvez tenha sombreado demasiadamente as tintas já escuras do seu
velho, imagem toda material. mas não recuseis vossa compaixão ao monge resignado,
vivendo no fundo de sua cela, humilde admirador da rosa mundi de maria, bela
imagem de todo o sexo, a mulher do monge, a segunda eva dos cristãos.

se ele persiste em atribuir, a despeito dos críticos, tantas perfeições à mulher,


é que pensa ainda, ele, um jovem, que a mulher é a mais perfeita entre as
criaturas. saída em último lugar das mãos que moldavam o mundo, ela deve expressar
mais puramente que qualquer outro ser o pensamento divino. por isso, ao contrário
do homem, não foi extraída do granito primevo, não foi argila mole sob os dedos de
deus; não: retirada dos flancos do homem, matéria flexível e dútil, ela é uma
criação transitória entre o homem e o anjo. por isso a vedes forte como é forte o
homem, e delicadamente inteligente pelo sentimento, como o é o anjo. não seria
preciso unir nela duas naturezas, para incumbi-la de trazer sempre a espécie em
seu seio? uma criança, para ela, não é toda a humanidade?

* só que o preâmbulo do autor foi suprimido na edição da claret.

não custa lembrar: como dispõe o art. 104, capítulo II, título VII da lei
9.610/98, as livrarias são solidariamente responsáveis com o editor da fraude.
martin grandet coleta sofregamente seus tostões nas usuais máquinas registradoras
(ou caixas eletrônicos) de seus costumeiros acoutadores: fnac, livrarias curitiba,
livraria saraiva, livraria cultura, livraria da travessa, americanas.

imagem: memphis-industries.com

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01/03/2009
isan
was it really necessary?

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mas a sociedade reage

"ABDR é processada por abuso de suas ações contra cópias de livros

O Instituto de Direito do Comércio Internacional e Desenvolvimento (IDCID),


ajuizou Ação Civil Pública contra a Associação Brasileira de Direitos
Reprográficos (ABDR). A ACP ajuizada pelo IDCID visa a liberar o direito de
reprodução parcial de obras protegidas para fins educacionais, docência, pesquisa
em todo o Brasil, e mais importante, permitir a reprodução integral de obras
protegidas pela parcela materialmente mais fragilizada da sociedade brasileira, de
forma a viabilizar o acesso aos instrumentos básicos de formação intelectual do
indivíduo.

Desde 2004, a ABDR vem implementando, em todo o território nacional, inúmeras


atividades com o único escopo de suprimir, total e absolutamente, os direitos dos
estudantes e professores brasileiros de reproduzir, parcialmente, obras protegidas
para fins educacionais, pesquisas acadêmicas e docência. Desde então, o ato de
xerocopiar passou a ser nivelado a uma infração penal gravíssima, e os professores
e estudantes passaram a ser criminosos.
[...]
A ação tramita perante a 5ª Vara Cível de São Paulo, Capital."

obs.: a notícia é de 2006, mas o ponto continua válido; negritos meus. fonte.

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28/02/2009
a abdr e o trauma por existirem bibliotecas, xeroxes e internet
o cinismo e o corporativismo protofascista da abdr horrorizam:

http://www.abdr.org.br/fotos/pages/cg16-2_jpg.htm
http://www.abdr.org.br/fotos/pages/curitiba2_jpg.htm
http://www.abdr.org.br/fotos/pages/pusp3-4_jpg.htm

na última foto fica evidente o tamanhozinho do capítulo xerocado e o tamanhão do


original. só que a abdr usa a polícia com metralhadora para invadir as oficinas de
xerox, enquanto protege a martin claret, sua associada. o pior é que a abdr
inventou agora uma tal pasta-professor, que é um absurdo sem tamanho, e está
tentando vender a idéia como se fosse boa coisa.

pela abdr, nem existiria biblioteca no mundo. imaginem só, pessoas poderem ler
livros sem pagar por isso!

fiquei com raiva e mandei essa mensagem no faleconosco da abdr:

"a editora martin claret é a maior pirateadora de livros no país. lesa o mercado
editorial com sua concorrência desleal, lesa os tradutores vivos e falecidos, lesa
as editoras legítimas titulares dos direitos patrimoniais das obras.
ela sozinha pirateia muito mais do que muitas oficinas de xerox somadas. e além do
mais mente: quem paga por um xerox sabe que é xerox. quem compra claret pensa que
está comprando coisa que preste, e não sabe que está sendo enganado.
a abdr não pode ser tão corporativista e defender a martin claret enquanto manda a
polícia invadir com armas os espaços de escolas e universidades. a abdr não pode
abusar da disparidade entre pessoa jurídica e pessoa física, e ficar acoitando
pessoas jurídicas fraudulentas em seu quadro de associados. quer dizer, poder
pode, mas é feio pra danar e só se desmoraliza ao não tomar providências em
relação às piratarias da claret."

em tempo: abdr quer dizer "associação brasileira de direitos reprográficos", e o


ideário programático dela é criminalizar e perseguir toda e qualquer leitura que
não seja no exemplar físico impresso comprado nas livrarias.

em tempo ainda: pessoalmente não creio que xerox de livro, em parte ou na íntegra,
com finalidades de ensino, seja a rigor "pirataria". só o é numa leitura muito
patrimonialista, interesseira e unilateral de um infame capítulo da lei de
direitos autorais de 1998, que converteu o brasil num dos países mais atrasados e
retrógrados do mundo - verdade, não é retórica não! - nessa questão dos limites
que a sociedade pode e deve impor aos interesses privados na área da cultura. uma
hora retorno ao tema.

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fórum do minc
agora está disponível no site do minc todo o material apresentado nos seminários
do fórum nacional de direito autoral: textos, slides e vídeos.

imagem: cabeçalho, www.cultura.gov.br, arte de menote cordeiro

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a floresta dos plágios
a desobediência civil e outros escritos, de thoreau, pela martin claret, traz o
ensaio "andar a pé". visivelmente a edição de base usada para o plágio de walking
na claret foi a da jackson.

henry david thoreau, andar a pé


a. sarmento de beires e josé duarte (jackson)
b. alex marins (cof, cof, martin claret)*
* a edição usa chapa fria: está cadastrada na fbn/isbn com o título desobedecend
[sic], e em nome de pietro nassetti como tradutor

a. sarmento de beires e josé duarte:


atualmente quase todos os pretensos progressos do homem, tais como a construção de
casas, e a derribada de florestas e de todas as árvores de grande porte, deformam
simplesmente outro panorama e fá-lo cada vez mais inexpressivo e vulgar. ah, um
povo que iniciasse a destruição dos marcos e deixasse intatas as florestas! eu vi
os marcos meio queimados, seus tocos perdidos no meio do prado e certo miserável
mundano cuidando dos seus limites como administrador, enquanto que o céu havia
baixado até ele, que não percebia a movimentação dos anjos em torno, mas procurava
um velho buraco no meio do paraíso. encarei novamente e vi-o de pé em meio dum
paul infernal cercado de demônios, e havia encontrado seus limites exatos, três
pequenas pedras onde haviam fixado uma estaca. olhando melhor, vi que o príncipe
das trevas era o administrador. sou capaz de andar facilmente dez, quinze, vinte,
qualquer número de milhas, começando da minha porta sem parar em qualquer casa,
sem atravessar uma estrada exceto nos trechos em que as próprias raposas e
doninhas são obrigadas a fazê-lo: primeiro pelas margens dos rios, depois pelo
campo e pelas bordas da floresta. há milhas quadradas na minha vizinhança,
completamente desabitadas. no alto de muitas colinas posso ver a civilização e as
casas do homem distante. os fazendeiros e suas plantações são pouco evidentes do
que os instrumentos agrários e os sulcos por eles produzidos. o homem e seus
negócios, a igreja, o estado, a escola, o comércio, a indústria, a agricultura, e
até a política, de todos a menos abúlica - folgo em verificar a insignificância do
espaço que ocupam no panorama. a política não passa de um campo estreito e aquela
estrada real que se descortina ao longe dá para ela. às vezes, encaminho o viajor
para lá. se quiserdes ir ter ao mundo político, segui a grande estrada - segui
aquele negociante, segui-o bem de perto e lá chegareis. tal mundo também possui
seu lugar e não ocupa todo o espaço. dele saio como se saísse de um faval para
internar-me numa floresta, nenhuma recordação trazendo. posso, em meia hora,
encaminhar-me para algum setor da superfície da terra, onde um homem não resista
permanecer todo um ano, sítio esse impróprio para a política medrar, essa política
tão parecida com cinza de charuto.

b. alex marins:
nos dias de hoje quase todos os pretensos progressos do ser humano, tais como a
construção de casas, e a derrubada de florestas e de todas as árvores de grande
porte, deformam simplesmente outro panorama e fá-lo cada vez mais inexpressivo e
vulgar. ah, quem me dera conhecer um povo que iniciasse a destruição das divisas
demarcatórias e deixasse intactas as florestas! eu vi os marcos meio queimados,
seus tocos perdidos pelo prado e um miserável mundano cuidando dos seus limites
como administrador. neste momento o céu havia baixado até ele, que não percebia a
movimentação graciosa dos anjos à volta, mas procurava um velho buraco no meio do
paraíso. fixei novamente minha atenção e vi-o de pé em meio dum paul infernal
cercado de demônios. eis que havia encontrado seus limites exatos: três pequenas
pedras onde haviam fixado uma estaca. olhando melhor, vi que o príncipe das trevas
era o administrador. andar dez, quinze, vinte, qualquer número de milhas, sou
capaz facilmente, começando da minha porta sem parar em qualquer casa, sem
atravessar uma estrada exceto nos trechos em que as próprias raposas e doninhas
são obrigadas a fazê-lo. a começar pelas margens dos rios, depois pelo campo e
pelas bordas da floresta. ainda completamente ermas há milhas e milhas na minha
vizinhança. do alto de muitas colinas posso vislumbrar a civilização e as casas do
homem distante. percebem-se menos os fazendeiros e suas plantações do que os
instrumentos agrários e os sulcos por eles produzidos. o homem e seus negócios, a
igreja, o estado, a escola, o comércio, a indústria, a agricultura, e até a
política, de todos a menos abúlica - folgo em verificar a insignificância do
espaço que ocupam no panorama. resume-se num campo estreito a política, e aquela
estrada real que se descortina ao longe é a que leva a ela. ensino o viajor a se
dirigir para lá, algumas vezes. se quiserdes ir ter ao mundo político, segui a
grande estrada - segui aquele negociante, segui-o bem de perto e lá chegareis.
também esse mundo tem seu lugar e não ocupa todo o espaço. saio dele como se
saísse de um faval para ingressar numa floresta, sem trazer nenhuma recordação. em
apenas meia hora posso encaminhar-me para algum setor da superfície da terra, onde
um homem não resista permanecer durante um ano, campo esse impróprio para a
política vicejar, essa política tão parecida com cinza de charuto.

podemos cruzar com esse espécime passeando pelos acolhedores bosques livrários
onde se refestelam os ishpertos: americanas, fnac, cultura, saraiva, travessa,
curitiba...
repetindo: como dispõe o art. 104, capítulo II, título VII da lei 9.610/98, as
livrarias são solidariamente responsáveis com o editor responsável pela fraude:
então, donas livrarias, que tal começar a ser um pouco mais conscienciosas e
tratar um pouco melhor seus clientes?

imagem: www.images.amazon.com

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27/02/2009
o trabalhão de plagiar
já comentei que existem alguns procedimentos mais ou menos padronizados nas
malandragens da martin claret (e das outras editoras aqui tratadas: nova cultural,
jardim dos livros e landmark).

pode ser cópia literal, cópia com alterações em começo de parágrafo, cópia com
troca de termos em algumas passagens ou em todo o livro, cópia montando trechos de
diversas edições, cópia em qualquer uma dessas formas mudando a pontuação e as
aberturas de parágrafo.

além dessas coincidências flagrantes, facilmente identificáveis, há vezes em que é


feito um intenso trabalho de "tradução por sinonímia", mantendo-se intocada a
estrutura gramatical adotada na tradução. outro elemento ainda consiste em
eventuais erros - de impressão, de revisão, de tradução - na edição que serve de
base à ishperteza, e que aparecem reproduzidos na cópia.

tenho aqui alguns casos quase cômicos. num deles, por exemplo, a tradução de base
foi copidescada praticamente de cabo a rabo, trocando uma quantidade enorme de
palavras por sinônimos. o curioso é que nessa tradução de base:
1. havia alguns erros de entendimento do texto na língua original, o que resultou
em alguns erros de tradução;
2. como o original trazia alguns períodos longuíssimos, o tradutor inicial teve
por bem repicá-los e subdividi-los em várias frases mais curtas;
3. sendo uma obra de filosofia, alguns conceitos eram constantes e se repetiam ao
longo do texto.

só que o ishperto encarregado de "criar" uma nova tradução passou longe de


qualquer sombra da obra original. assim:
a. os erros da tradução de base foram preservados, às vezes com sinônimos
laboriosamente escolhidos;
b. toda a alteração dos períodos e frases introduzida pelo tradutor inicial foi
ciosamente seguida pelo adulterador;
c. os conceitos fixos e constantes da obra ganharam ricos e variados sinônimos
durante a copidescagem.

a coisa beirou o burlesco numa passagem devidamente vertida pelo tradutor inicial
como "uma imaginação nítida e distinta". com "distinta", naturalmente o autor
referia-se à clareza, precisão etc., das imagens criadas mentalmente. ah, pois o
mercenário não se avexou: tascou-lhe um sinônimo de "distinto" e a passagem ficou
com "uma imaginação clara e diferente"!

imagem: http://www.p4m.de/

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carlota tropical

o pobre werther de galeão coutinho já havia caído nas garras da nova cultural, em
sua coleção "obras-primas" patrocinada pela suzano celulose.
a pseudoeditora martin claret, cuja única ou principal atividade parece consistir
em copiar o já feito, seguiu o exemplo da nova cultural e surripiou, também ela, a
tradução de galeão coutinho.

o plágio na nova cultural vinha em nome de um tal alberto maximiliano, e era


praticamente literal, de fio a pavio.

o surripio na martin claret vem em nome do inefável peter von nassetten, e mostra
um vão empenho copidescatório que, aliás, apenas reforça a malandrice ishperta da
edição.*
* a situação desse werther na fbn/isbn é meio confusa: além de não dar nome de
tradutor, ele consta como vol. 43 da coleção "a obra-prima de cada autor", sendo
que no exemplar impresso consta como vol. 51.

a. galeão coutinho (abril, sob licença da livr. martins)


b. peter von nassetten (martinus klaretten)

a. junho, 16

[...] - quando eu era mais jovem - disse-me ela -, nada me fascinava tanto como os
romances. só deus sabe quanto eu me sentia feliz, aos domingos, recolhendo-me a um
cantinho para participar, de todo o coração, da felicidade ou do infortúnio de
qualquer srta. jenny. não nego que esse gênero de leitura ainda encerra algum
encanto para mim; acontece, porém, que são tão raras as vezes em que posso agora
abrir um livro, que me tornei mais exigente na escolha. o autor que eu prefiro é
aquele onde eu encontro meu mundo costumeiro e os incidentes comuns no meu círculo
de relações, de sorte que sua narrativa me inspire um interesse tão cordial como o
que acho na minha vida doméstica, a qual, embora não seja um paraíso, me oferece
uma fonte de felicidade inexprimível.

esforcei-me, debalde, por abafar a emoção que essas palavras me produziram. quando
ela se referiu, de passagem, ao vigário de wakefield, de ...*, com tanta verdade,
não me contive e disse-lhe tudo quanto a respeito eu pensava. só ao cabo de algum
tempo, ao dirigir-se carlota, novamente, às outras duas damas, percebi que ambas,
arregalando muito os olhos, tinham estado até ali inteiramente alheias à nossa
conversa. a prima olhou-me por mais de uma vez com um ar de troça, mas não liguei
importância.

a conversa recaiu sobre o prazer da dança.


- se essa paixão é um crime - disse carlota -, não posso ocultá-lo; para mim, não
há nada melhor do que a dança. se alguma coisa perturba a minha cabeça, é só
sentar-me ao meu cravo desafinado e martelar uma contradança, e está tudo acabado!
(pp. 304-305)

* aqui, também, suprimimos o nome de vários escritores do nosso país. se alguns


daqueles a quem são endereçados os elogios de carlota chegarem a ler esta
passagem, serão com certeza advertidos pelo próprio coração. quanto aos demais,
nada têm a ver com isso.

b. 16 de junho

[...] - quando eu era mais jovem - disse ela -, nada me fascinava tanto como os
romances. só deus sabe o quanto eu me sentia feliz, aos domingos, recolhendo-me a
um cantinho para compartilhar, de todo o coração, da felicidade ou das desventuras
da srta. jenny. não nego que esse gênero de leitura ainda tenha algum encanto para
mim; como agora, porém, são tão raras as vezes em que posso abrir um livro,
tornei-me mais exigente na escolha. o autor que eu prefiro é aquele em que
reconheço o mundo e os incidentes comuns no meu círculo de relações, tornando a
história tão interessante e terna quanto a minha vida doméstica, que, embora não
seja um paraíso, é para mim fonte de felicidade inexprimível.

esforcei-me para ocultar a emoção que essas palavras me produziram. quando ela se
referiu, de passagem, ao vigário de wakefield, de ...*, com tanta verdade, não me
contive e disse-lhe tudo o que pensava a respeito. só ao cabo de algum tempo, ao
dirigir-se lotte novamente às outras duas damas, percebi que ambas, arregalando
muito os olhos, tinham estado até ali inteiramente alheias à nossa conversa. a
prima olhou-me por mais de uma vez com um ar zombeteiro, mas não dei importância.

a conversa recaiu sobre o prazer da dança.

- se essa paixão é um crime - disse lotte - não posso ocultá-lo; para mim, não há
nada melhor do que a dança. se alguma coisa perturba a minha cabeça, é só sentar-
me ao meu cravo desafinado e martelar uma contradança, e tudo volta ao normal!
(pp. 26-27)

* novamente suprimimos o nome de vários de nossos escritores . se alguns daqueles


a quem são endereçados os elogios de lotte chegarem a ler essa passagem, acharão
seu nome no próprio coração. quanto aos demais, nada têm a ver com isso.

quem quiser contribuir com o vandalismo intelectual, encontra a carlota abaixo do


equador nos usuais valhacoutos dos ishpertos: saraiva, curitiba, cultura, fnac,
americanas, travessa - todos garbosa e solidariamente responsáveis com o editor
responsável pela fraude, nos termos do artigo 104, capítulo II do título VII da
lei 9.610/98.

imagem: assinatura de goethe, www.dw-world.de

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26/02/2009
"é chapa fria. vai encarar?"

uma questão de terminologia

imagino uma cena assim: o cliente quer comprar um carro usado. ele pega a
documentação do veículo. o carro ali é um, sei lá, um palio verde-escuro, ano
2003, de placa ZZZ-0000. aí ele quer conferir a situação de ipva, de multa etc.,
numa consulta trivial no site do detran. só que aparece que aquela placa
corresponde a um, digamos, beetle amarelinho, ano 2005.

acho que outro termo de comparação possível para os números de isbn, além de
carteira de identidade ou cpf de pessoas, é documento de carro, por que não?
registro obrigatório por lei, sob um número único e exclusivo, em instância
pública federal, com validade em todo o território nacional, que só pode ser
atribuído por agências expressamente designadas para tal fim a um ser ou objeto
cujas características devem corresponder à descrição que consta em seu cadastro.

então agora vou adotar o termo "chapa fria" para designar números falsos ou
inexistentes de isbn ou com dados divergentes dos que constam no livro impresso.

título e imagem: www.pandemoniocarioca.globolog.com.br

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desta maneira sinistra...
carlos chaves se soma à legião dos tradutores que perderam sua identidade à sanha
dos bandoleiros editoriais. sua tradução (1954) de aventuras de sherlock holmes
agora engrossa o curriculum mortis de jean melville, na martin claret.* a tradução
de carlos chaves consta no catálogo ativo da melhoramentos. consultei a editora a
este respeito, não tive resposta. em vista do curioso antecedente das memórias de
sherlock holmes, aqui noticiado, talvez seja um caso parecido. em todo caso,
plágio é plágio, sempre indesculpável.

* na verdade, a edição da claret está cadastrada na fbn/isbn em nome de pietro


massetti [sic, massetti].
as aventuras originais trazem doze histórias; na edição da claret, constam apenas
nove delas. o padrão do plágio é por substituição eventual de termos ao longo de
todo o livro, além de alteração dos parágrafos, abrindo novos onde não existem e
continuando o parágrafo anterior quando se abririam novos.

1. as cinco sementes de laranja (carlos chaves)

desta maneira sinistra foi que entrei na posse de minha herança. poderá bem me
perguntar por que não a vendo e eu lhe responderei que tenho quase certeza de que
nossa infelicidade se relacionava e dependia de algum incidente na vida de meu tio
e que o perigo continuaria tanto numa casa como em outra. foi em janeiro de 85 que
meu pobre pai encontrou a morte e já se passaram dois anos e oito meses. durante
todo esse tempo vivi feliz em horsham e tinha esperanças de que essa maldição na
família houvesse passado e que terminava na última geração. [...]
- tenho uma vaga lembrança - disse ele - de que no dia em que meu tio queimou os
papéis, eu reparei que as pequenas margens que não estavam queimadas e que jaziam
entre as cinzas, eram desta cor. achei esta única folha no chão do quarto dele, e
estou inclinado a pensar que seja um dos papéis que talvez se desprendeu dos
outros, escapando assim à destruição. além do fato de se referir às sementes não
sei em que nos possa ajudar. (pp. 113-15)

2. cinco sementes de laranja ("jean melville")

dessa maneira sinistra foi que entrei na posse de minha herança. poderá bem me
perguntar por que não a vendo, e eu lhe responderei que tenho quase certeza de que
nossa infelicidade era decorrência de algum incidente na vida de meu tio, e que o
perigo continuaria tanto numa casa como na outra. foi em janeiro de 85 que meu
pobre pai encontrou a morte, e já se passaram dois anos e oito meses. durante todo
esse tempo vivi feliz em horsham, com esperanças de que essa maldição na família
houvesse passado e que terminava na última geração. [...]
- tenho uma vaga lembrança - disse ele - de que no dia em que meu tio queimou os
papéis, eu reparei que as pequenas margens que não estavam queimadas e que jaziam
entre as cinzas eram desta cor. achei esta única folha no chão do quarto dele, e
estou inclinado a pensar que seja um dos papéis que talvez se desprendeu dos
outros, escapando assim à destruição. além do fato de se referir às sementes, não
sei em que nos pode ajudar. (pp. 94-96)

1. a coroa de berilos (carlos chaves)

o senhor, naturalmente, sabe que um banco em franco progresso depende muito da


obtenção de investimentos remunerativos para o dinheiro, porque isto aumenta as
nossas relações e o número de nossos depositantes. um dos meios mais lucrativos de
despender o dinheiro são empréstimos, onde a segurança é completa. durante estes
últimos anos temos feito muito nesse setor. há muitas famílias nobres a quem temos
adiantado grandes somas, aceitando como garantia seus valiosos quadros,
bibliotecas ou pratarias.

ontem, estava sentado em meu escritório, no banco, quando um dos escriturários me


trouxe um cartão de visita.

estremeci quando vi o nome porque não era outro senão... bem acho que nem ao
senhor devo revelar, basta dizer que é um nome pronunciado em todas as casas e no
mundo inteiro, um dos nomes mais nobres, mais exaltados na inglaterra. (p. 244)

[...] o senhor supõe que seu filho levantou-se da cama, e foi, com grande risco,
ao seu quarto de vestir, abriu seu bureau, tirou sua coroa, quebrando uma parte
dela à força, foi-se para outro lugar e escondeu três das gemas com tanta
habilidade que ninguém as encontra, depois voltou com as outras 36 gemas para o
quarto, onde ele se expôs ao grande perigo de ser descoberto. pergunto-lhe, é
sustentável tal teoria?
- mas pode haver outra? exlamou o banqueiro com um gesto de desespero. - se os
motivos dele eram inocentes, por que não os explica? (p. 253)

2. o caso da coroa de berilos (jean melville)

o senhor certamente sabe que um banco em franco progresso depende muito da


obtenção de investimentos remunerativos para o dinheiro, pois isso aumenta as
nossas relações e o número de nossos depositantes. um dos meios mais lucrativos de
dispender o dinheiro são empréstimos, nos quais a segurança é completa. nos
últimos anos, temos feito muito nesse setor. há muitas famílias nobres a quem
temos adiantado grandes somas, tomando em garantia seus valiosos quadros,
bibliotecas ou pratarias. ontem, estava eu sentado em meu escritório, no banco,
quando um dos escriturários me trouxe um cartão de visita. estremeci quando vi o
nome, porque outro não era senão... bem, acho que nem ao senhor devo revelar,
basta dizer que é um nome pronunciado em todas as casas e no mundo inteiro. um dos
nomes mais nobres, mais exaltados da inglaterra. (p. 170)

[...] o senhor supõe que seu filho levantou-se da cama, e foi, com grande risco,
ao seu quarto de vestir, abriu seu bureau e tirou a coroa, quebrando uma parte
dela à força. então foi para outro lugar e escondeu três das gemas com tanta
habilidade que ninguém as encontrou até agora, voltando depois com as outras 35
gemas para o quarto, onde se expôs ao enorme perigo de ser descoberto. pergunto-
lhe, é sustentável tal teoria?
- e pode haver outra? exlamou o banqueiro com um gesto de desespero.
- se os motivos dele eram inocentes, por que não os explica? (p. 178)
naturalmente essas sinistras aventuras claretianas se encontram nos valhacoutos
favoritos dos ishpertos: livraria cultura, livrarias curitiba, livraria da
travessa, fnac, saraiva...
como dispõe o art. 104, no capítulo referente às sanções civis que aplicam às
violações dos direitos autorais, da lei 9.610/98, as livrarias são solidariamente
responsáveis com o editor responsável pela fraude: a meu ver, seria muito
importante que as livrarias começassem a exercer um maior discernimento na seleção
das obras que colocam à disposição do público consumidor.

imagens: five orange pips, http://www.sherlockian.net/; http://www.audible.com/

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20/02/2009
valhacoutos
de hoje até dia 25, vou dar uma pausa e retorno dia 26.
antes disso, uma rápida avaliaçãozinha.

em meu perene assombro diante da munificência da martin claret em sua incessante


contribuição para a incultura, a desmemória e a degradação editorial do país, hoje
vamos de a república de platão, aquela que gonçalo armijo desmascarou lá nos idos
de 2007.

eis uma pequenina amostra de teses, ementas de curso, artigos, concursos públicos
etc., dando como referência o grande salteador da boa-fé dos leitores, amparado
pelo interesse dos coniventes e pela indiferença dos acomodados:

www.fafich.ufmg.br/~labfil/wp-content/uploads/2009/01/livro-didatico-filosofia.pdf
www.fasete.edu.br/arquivos/file/secretaria/2008/LETRAS%202008%20PDF/IV%20PERÍODO/L
iteratura_Latina.pdf
www.farn.br/novo/navegacao/cursos/planos/2008.2/direito/2o_ano/filosofia_direito.p
df
www.ggpe.reitoria.unicamp.br/teia/material/paulo_renato/relacoes_de_poder_e_democr
acia.pdf www.esag.udesc.br/arquivos/Planos%20de%20Ensino/2004-
2/.../Teoria%20Geral%20da%20Adm%20publica%20-%20...
http://w3.ufsm.br/leaf/menuesp5/eefd48f82dbce95fadc86a5751ae60ad.pdf
www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/589/533
http://200.17.209.5:8000/cgi-bin/gw_42_13/chameleon.42.13a?host...ufpr&conf...
www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2892
www.facs.br/revistajuridica/edicao_maio2006/discente/dis5.doc
www.abralic.org.br/enc2007/anais/42/22.pdf
www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao022/Rommel_Carneiro.htm
www.pucsp.br/pos/filosofia/Pragmatismo/cognitio_estudos/cog_estudos_v4n1/cog_est_v
4n1_freitas_lorena_de_m.pdf www.ufpe.br/historia/artigo3rev1.html
http://www.amatra3.com.br/uploaded_files/artigo%20sobre%20Platão.pdf
www.cchla.ufrn.br/odisseia/numero2/arquivos/5_Maria_Suely_da_Costa.pdf
www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=432
www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=419
www.unc.br/ementas/e_direito.pdf
www.al.rs.gov.br/biblioteca/servicos_aquisicoes.asp
http://www6.ufrgs.br/idea/modules.php?op=modload&name=books&file=index&req=view_su
bcat&sid=65&orderby=ratingA
www.polemica.uerj.br/pol23/cimagem/p23_carmen.htm
www.unincor.br/revista/Aspectos%20formadores5.html
www.consa.com.br/consa/download/2009/lista_material/listas_materiais_para_6_ano_3_
serie.doc http://biblioteca.facitec.br/arquivos/120000/123600/147_123659.htm
www.administradores.com.br/artigos/aspectos_formadores_para_a_aplicacao_etica_aos_
direitos.../13484/ www.insaf.com.br/site/arquivos/aproveitamento_estudos2008.1.pdf
www.unifra.br/eventos/jornadaeducacao2006/.../O%20ENSINO%20DE%20FILOSOFIA%20E%20SU
A
www.unioeste.br/prppg/download/pos_nao_iniciados/Esp_cvel_FundEducacao.pdf
www.fc.unesp.br/upload/rh/concursos/edital_10407.pdf
www.lo.unisal.br/sistemas/bioetica/arquivos/Marcius%20Artigo%20-
%20o%20ser%20humano.doc
https://sie.juvencioterra.edu.br/sie/sis_disc.jsp?disc=471
www.jfrn.gov.br/docs/doutrina152.doc
www.coperve.ufsc.br/ead2007/edital/programa.doc
www.scielo.br/cgi-bin/fbpe/fbtext?pid=S1413-81232007000200026
www.revista.art.br/site-numero-02/trabalhos/06.htm
www.ichs.ufop.br/memorial/trab/h11_2.doc
www.cefipoa.com.br/artigos.php?id=7&PHPSESSID=f84aa952d1278d26bf71ca5ea18d...
http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
34372005000100007&lng=pt&nrm=iso
http://direito.catolica-
to.edu.br/index.php?conteudo=planosdeensino&disciplina=132&semestre=2008/2
www.unieuro.edu.br/downloads_2005/consilium_02_03.pdf
http://www2.pucpr.br/reol/index.php/DIALOGO?dd1=565&dd99=pdf
www.universia.com.br/materia/img/ilustra/2005/out/artigos/Para%20uma%20Critica%20d
a%20Razao%20Androce...
www.artigonal.com/educacao-artigos/5ª-serie-uma-questao-escolar-o-drama-da-
transicao-379626.html
https://nexos.ufscar.br/nexos/PlanosConsultaL.jsp?Disciplina=170119&Turma=A&Ano=20
07
www.seed.pr.gov.br/portals/folhas/anexosFase2/folhas1825_versaoFinal_DEM.doc
www.santamariadasvitorias.com.br/documentos/moral_e_direito_em_tomas_de_aquino.doc
www.sieduca.com.br/2006/admin/upload/5.doc
www.facs.br/revistajuridica/edicao_abril2006/convidados/con3.doc
http://bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=229
www.fav.ufg.br/download.php?tipo=graduacao_design-de-interiores_programas-das-
disciplinas&item=1&arquivo
www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/revistalable/numero6/geraldo.pdf
www.intercom.org.br/papers/nacionais/2003/www/pdf/2003_NP13_costa.pdf
www.insaf.com.br/cursos/ementas.php
www.cbc.ufms.br/tedesimplificado/tde_busca/processaArquivo.php?codArquivo=196
www.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/021e4.pdf
http://sistemas2.usp.br:8080/jupiterweb/obterDisciplina?sgldis=CMU0542&verdis=1
www.concursosed.ufsc.br/sed2005_01/gabarito_provas/provas/filosofia.doc
www.sindsemg.com.br/.../27.../Raimundo%20Nonato%20-
%20Revolução%20Científica%20em%20Secretariado
http://www2.camara.gov.br/posgraduacao/dinter-projeto-jose-de-ribamar-barreiros-
soares
www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20081029100044.pdf
www.zoon.org.br/biblioteca/textos_artigos/educacao_ludica_do_olhar.pdf
www.textolivre.com.br/joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=4619
http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/1884/11166/1/Disserta%C3%A7%C3%A3
o%20Rosanea%20E%20Ferreira.PDF.
www.ccsa.ufrn.br/ccsa/docente/rodson/ftp/ProgramaFHF-I.doc
www.fc.unesp.br/econcurso/concurso.visualizarArquivo.action?txt_arquivo=175
http://www2.mp.ma.gov.br/ampem/artigos/25.%20Anencefalia_e_%20aborto.pdf
http://bdtd.unisinos.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=387
www.esamaz.com.br/fotos/file/GuiaAcademico/CienciasPolitica.doc
http://www.inventario.ufba.br/04/04dcarrascosa.htm
www.ppgletras.furg.br/disserta/danilomachado.pdf
www.amatra20.org.br/amatrawi/arquivos/justica_e_seguranca.doc
www.fenassec.com.br/consec_1lugar.pdf
www.abrapso.org.br/encontro_abrapso_Folder/Propostas_dos_cursos.doc
www.unama.br/graduacao/cursos/Direito/download/GuiaAcademicoSemestral.pdf
www.rsirius.uerj.br/boletim2005/Boletim_9.htm
http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0511064_07_postextual.pdf
http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/download/259/187.
http://www6.univali.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=357
www.ufpi.br/picos/uploads/coordenacoes/coord1/mural/File/PROJETO_DE_PESQUISA_MSTRA
DO.doc http://sites2.ufal.br/prograd/academico/cursos/campus-maceio/ppc-
direito.pdf.
www.dibib.ufsj.edu.br/dibib/principal/resultadofinal.pdf
www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/556/500
www.cefetmg.br/info/downloads/PrEletronico005.2005LIVROS.pdf
www.filosofia.cchla.ufrn.br/costaandrade/doismiletres.html
http://www1.capes.gov.br/estudos/dados/2003/20001010/038/2003_038_20001010008P8_Di
sc_Ofe.pdf http://engema.up.edu.br/arquivos/engema/pdf/PAP0160.pdf
www.fazendogenero7.ufsc.br/artigos/B/Bertani-Rezende-Sakamoto-Silva-Silva_26.pdf
http://www.abralic.org.br/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/006/LIGIA_WINTER.pdf

o assustador é que esse monstrengo, que acho que foi o mais denunciado de todos,
continua à venda em livrarias supostamente respeitáveis como a cultura, a fnac, as
livrarias curitiba, a livraria da travessa...

aí é complicado: o trêfego bandoleiro admite e readmite o plágio, a imprensa


divulga a fraude de norte a sul do país, e as livrarias continuam a vender o livro
esse tempo todo, como se nada fosse? e a responsabilidade, onde fica? desde quando
é bonito vender coisa roubada?

certamente essas livrarias não iriam ficar mais ricas nem mais pobres se parassem
de espalhar esse lixo pelo país. e de lambugem ainda poderiam se sentir de
consciência tranquila por não estar enganando seus clientes.

imagem: parafrasefacil.blogspot.com

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εθριπεδεσ να μαρτιν ψλαρετ - ηιπολιτο
eurípedes, hipólito.
a. mello e souza (jackson)*
b. pietro nassetti (claret)
a. vênus:
(...) há tempo indo hipólito, da casa
de piteu, visitar a ática terra,
e ver e assistir aos venerandos
mistérios; o viu fedra, nobre esposa
de seu pai, e então por arte minha
um furioso amor concebeu n'alma.
e antes de vir aqui, no mais sublime
do rochedo de palas, donde avista
esta terra trezênia, um templo a vênus
levantou: porque amava amor ausente.
os vindouros dirão que ali a deusa,
pelo amor a hipólito, foi posta.
coa morte dos palântidas, fugindo
do sangue derramado à triste mancha,
teseu com a consorte aqui aporta,
para cumprir seu anual desterro.
assim a miseranda, suspirando,
e das setas de amor atravessada
morre em silêncio; o mal ninguém lho sabe.
mas este amor não me convém que afrouxe:
mostrá-lo-ei a teseu, será sabido.
ao meu duro adversário autor da morte
será seu mesmo pai; pois que netuno
anuiu a teseu, por dom, três vezes
todo o voto outorgar que lhe fizesse.
sim é ilustre fedra; porém morre:
pois o seu mal a mim mais não me importa,
que de sorte punir meus inimigos,
que um ponto não se ofusque a minha glória.

b. vênus:
(...) há tempo indo hipólito, da casa
de piteu, visitar a ática terra,
e ver e assistir aos venerandos
mistérios; o viu fedra, nobre esposa
de seu pai, e então por arte minha
um furioso amor concebeu n'alma.
e antes de vir aqui, no mais sublime
do rochedo de palas, donde avista
esta terra trezênia, um templo a vênus
levantou: porque amava amor ausente.
os vindouros dirão que ali a deusa,
pelo amor a hipólito, foi posta.
co'a morte dos palântidas, fugindo
do sangue derramado à triste mancha,
teseu com a consorte aqui aporta,
para cumprir seu anual desterro.
assim a miseranda, suspirando,
e das setas de amor atravessada
morre em silêncio; o mal ninguém lho sabe.
mas este amor não me convém que afrouxe:
mostrá-lo-ei a teseu, será sabido.
ao meu duro adversário autor da morte
será seu mesmo pai; pois que netuno
anuiu a teseu, por dom, três vezes
todo o voto outorgar que lhe fizesse.
sim é ilustre fedra; porém morre:
pois o seu mal a mim mais não me importa,
que de sorte punir meus inimigos,
que um ponto não se ofusque a minha glória.
* na verdade, mello e souza adverte em seu prefácio que se trata de uma tradução
portuguesa antiga de autoria desconhecida

imagem: valérie dréville no papel da fedra de racine

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19/02/2009
εθριπεδεσ να μαρτιν ψλαρετ - ελεψτρα
electra, além de prantear o pai, demonstra seu pesar em cair nas garras de μαρτιν
ψλαρετ e seu fâmulo πιετρο νασσεττι.

eurípedes, electra:
a. trad.: j.b. de mello e souza (jackson/ediouro)
b. plágio: pietro nassetti (martin claret)
a. o trabalhador - ó veneranda argos, da terra por onde corre o ínaco e de onde,
outrora, comandando mil navios de guerra, até as plagas de tróia velejou o rei
agamêmnon! tendo vencido a príamo, que reinava sobre a terra ilíada, ele retornou
a argos, deixando em ruínas a cidade ilustre de dárdano; e depositou nos altos
templos numerosos despojos daqueles bárbaros. foi feliz, lá na ásia, sim! - mas,
aqui, de regresso ao lar, pereceu vítima da astúcia de sua esposa clitemnestra, e
sob o golpe de egisto, filho de tiestes. pereceu o detentor do cetro antigo de
tântalo; e é egisto quem manda agora nesta terra, e possui a tíndaris, esposa do
atrida. este deixara em sua casa, ao partir para tróia, seu filho orestes e sua
filha electra. um velho, que fora mestre do pai, conseguiu levar consigo orestes,
quando egisto ia matá-lo; e confiou-o, na terra de focéia, a estrófio, para que o
criasse; mas a jovem electra permaneceu no lar paterno. logo que atingiu a
puberdade, os mais ilustres helenos pediram-lhe a mão; mas o usurpador, receando
que do consórcio da princesa com um árgio eminente nascesse um descendente que
vingasse um dia a morte de agamêmnon, preferiu conservá-la solteira.

b. o trabalhador - ó veneranda argos, da terra por onde corre o ínaco e de onde,


outrora, comandando mil navios de guerra, até as plagas de tróia velejou o rei
agamemnon! tendo vencido a príamo, que reinava sobre a terra ilíada, ele retornou
a argos, deixando em ruínas a cidade ilustre de dárdano; e depositou nos altos
templos numerosos despojos daqueles bárbaros. foi feliz, lá na ásia, sim! - mas,
aqui, de regresso ao lar, pereceu vítima da astúcia de sua esposa clitemnestra, e
sob o golpe de egisto, filho de tiestes. pereceu o detentor do cetro antigo de
tântalo; e é egisto quem manda agora nesta terra, e possui a tíndaris, esposa do
atrida. este deixara em sua casa, ao partir para tróia, seu filho orestes e sua
filha electra. um velho, que fora mestre do pai, conseguiu levar consigo orestes,
quando egisto ia matá-lo; e confiou-o, na terra de foceia, a estrófio, para que o
criasse; mas a jovem electra permaneceu no lar paterno. logo que atingiu a
puberdade, os mais ilustres helenos pediram-lhe a mão; mas o usurpador, receando
que do consórcio da princesa com um árgio eminente nascesse um descendente que
vingasse um dia a morte de agamêmnon, preferiu conservá-la solteira.

e por aí vai, um embuste do começo ao fim.

imagem: richmond, electra, wikimedia.commons

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18/02/2009
εθριπεδεσ να μαρτιν ψλαρετ - αλψεστε

um bom tempo atrás, a clássicos jackson publicou eurípedes nas famosas traduções,
acompanhadas de introdução e notas, de j. b. de mello e souza. essas traduções
continuam ativas no catálogo da ediouro.

como o sr. μαρτιν ψλαρετ tem uma compulsão irrefreável em se apropriar do alheio,
ele resolveu copiar alceste, electra e hipólito da jackson/ediouro e tascou o nome
de seu inseparável companheiro πιετρο νασσεττι.

e nós leitorinhos, em nossa irrefreável compulsão masoquista, pagamos caro por


mais um lesa-memória e perdemos mais uma chance de ir formando um mínimo de
bagagem cultural.

eurípedes, alceste
introdução
1. tem esta bela tragédia de eurípedes, por principal objetivo, a exaltação do
amor conjugal que atinge o mais sublime heroísmo.
alceste, laodâmia e penélope, esposas de admeto, protesilau e ulisses,
respectivamente, constituem o tríptico das mais nobres figuras figuras femininas
que a lenda grega nos apresenta. das três, porém, coube à incomparável rainha de
feres praticar o rasgo de abnegação que lhe assegura a primazia entre as esposas
modelares. (j. b. mello e souza)

2. tem esta bela tragédia de eurípedes, por principal objetivo, a exaltação do


amor conjugal que atinge o mais sublime heroísmo.
alceste, laodâmia e penélope, esposas de admeto, protesilau e ulisses,
respectivamente, constituem o tríptico das mais nobres figuras figuras femininas
que a lenda grega os apresenta. das três, porém, coube à incomparável rainha de
feres praticar o rasgo de abnegação que lhe assegura a primazia entre as esposas
modelares. (πιετρο νασσεττι)

1. Ó palácio de Admeto, onde me vi coagido a trabalhar como servo humilde, sendo


embora um deus, como sou! Júpiter assim o quis, porque tendo fulminado pelo raio
meu filho Esculápio, eu, justamente irritado, matei os Ciclopes, artífices do fogo
celeste. E meu pai, para me punir, impôs-me a obrigação de servir a um homem, a um
simples mortal! Eis por que vim ter a este país; aqui apascentei os rebanhos de
meu patrão, e me fiz protetor deste solar até hoje. Sendo eu próprio bondoso, e
servindo a um homem bondoso, — o filho de Feres — eu o livrei da morte, iludindo
as Parcas. Estas deusas prometeram-me que Admeto seria preservado da morte, que já
o ameaçava, se oferecesse alguém, que quisesse morrer por ele, e ser conduzido ao
Hades.
Tendo posto a prova todos os seus amigos, seu pai, e sua velha mãe, que o criou,
ele não achou quem consentisse em dar a vida por ele, e nunca mais ver a luz do
sol! Ninguém, senão Alceste, sua dedicada esposa; e agora, no palácio, conduzida a
seus aposentos nos braços de seu marido, vai desprender-se sua alma, porque é hoje
que o Destino exige que ela deixe a vida. Eis por que, para me não macular, eu
abandono estes tetos queridos. Vejo que já se aproxima Tânatos, o odioso nume da
Morte, para levar consigo Alceste à merencória mansão do Hades. E vem no momento
preciso, pois aguardava apenas o dia fatal em que a mísera Alceste deve perder a
vida. (j. b. mello e souza)

2. Ó palácio de Admeto, onde me vi coagido a trabalhar como servo humilde, sendo


embora um deus, como sou! Júpiter assim o quis porque tendo fulminado pelo raio
meu filho Esculápio, eu, justamente irritado, matei os Cíclopes, artífices do fogo
celeste. E meu pai, para me punir, impôs-me a obrigação de servir a um homem, a um
simples mortal! Eis por que vim ter a este país; aqui apascentei os rebanhos de
meu patrão, e me fiz protetor deste solar até hoje. Sendo eu próprio bondoso, e
servindo a um homem bondoso — o filho de Féres —, eu o livrei da morte, iludindo
as Parcas. Estas deusas prometeram-me que Admeto seria preservado da morte, que já
o ameaçava, se oferecesse alguém, que quisesse morrer por ele, e ser conduzido ao
Hades.
Tendo posto a prova todos os seus amigos, seu pai e sua velha mãe, que o criou,
ele não achou quem consentisse em dar a vida por ele, e nunca mais ver a luz do
sol! Ninguém, senão Alceste, sua dedicada esposa; e agora, no palácio, conduzida a
seus aposentos nos braços de seu marido, vai desprender-se sua alma, porque é hoje
que o Destino exige que ela deixe a vida. Eis por que, para me não macular, eu
abandono estes tetos queridos. Vejo que já se aproxima Tânatos, o odioso nume da
Morte, para levar consigo Alceste à merencória mansão do Hades. E vem no momento
preciso, pois aguardava apenas o dia fatal em que a mísera Alceste deve perder a
vida. (πιετρο νασσεττι)
imagem: sinodal.com.br
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tegan e sara neles

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sócrates na claret
por favor, algum excelso filósofo saberia me informar que obra é esta?
PESQ UISA NO CADASTRO DO ISBN
ISBN: 85-7232-444-5
TÍTULO: METAFISICA DA MORTE
AUTOR: SOCRATES
TRADUTOR: NASSETTI, PIETRO
PÁGINAS: NÃO INFORMADO
EDITORA: MARTIN CLARET
agora é plágio retroativo? sócrates, que nunca escreveu nada, resolveu copiar
schopenhauer?
sr. claret, preste mais atenção nas coisas, peço-lhe encarecidamente! não
deseduque e desensine tanto as pessoas! que desprezo pelo leitor, que acinte para
com nossas instituições, que vergonha para o país!
imagem: www.hightech.com

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17/02/2009
tom sawyer e os piratas
pois tom sawyer caiu na conversa dos bandoleiros, e a tradução de luísa derouet
foi pirateada pelo incorrigível pietro nassetti.

mark twain, as aventuras de tom sawyer:


a. luísa derouet (portugália)
b. pietro nassetti (martin claret)

a. as tardes de Verão são muito compridas. ainda não estava escuro. pouco depois,
ao ver na sua frente um rapaz mais alto do que ele, tom moderou o tom do assobio.
qualquer recém-chegado, fosse qual fosse a sua idade ou sexo, era um acontecimento
impressionante na pequena aldeia de são petersurgo. além disso, aquele rapaz
estava bem vestido - bem vestido num dia de semana -, o que era simplesmente
espantoso. o boné era uma coisa linda, e o casaco, de pano azul e todo abotoado,
era novo e bem feito, assim como as calças. tinha sapatos calçados, apesar de ser
só sexta-feira. até trazia gravata, feita de um bocado de fita de cor. tinha um ar
citadino que indignava tom. quanto mais olhava para aquela esplêndida maravilha,
quanto mais arrebitava o nariz a olhar para tanto luxo, mais pobre e mesquinho lhe
parecia o seu próprio fato. nenhum deles falava. se um se mexia, o outro mexia-se
também, mas sem deixarem de estar em frente um do outro nem de se olhar. (pp. 7-8)

o desconhecido afastou-se sacudindo o pó do fato, soluçando e fungando; de quando


em quando olhava para trás com um movimento de cabeça que representava uma ameaça
do que faria a tom na primeira ocasião em que o apanhasse de jeito. tom respondeu-
lhe com motejos e seguiu o seu caminho muito contente, mas, logo que se virou, o
desconhecido pegou uma pedra e atirou-a, acertando-lhe com ela no meio das
coistas. em seguida, deitou a correr como um antílope. tom foi atrás dele até
casa, e ficou sabendo onde morava. aí ficou algum tempo junto do portão,
desafiando-o para tornar a sair, mas o inimigo só lhe fez caretas através da
vidraça da janela e desapareceu. (p. 10)

descobrira, sem o saber, uma grande lei que rege a Humanidade e que é: para se
conseguir que um homem ou um rapaz cobice uma coisa, basta tornar essa coisa
difícil de obter.
se fosse um grande e sábio filósofo, como o autor deste livro, teria compreendido
então que trabalho consiste em tudo que se é obrigado a fazer e que prazer
consiste naquilo que não se é obrigado a fazer. este raciocínio tê-lo-ia ajudado a
entender por que se chama trabalho aos trabalhos forçados e a fazer flores
artificiais, enquanto que jogar o berlinde ou escalar o monte branco não passa de
um divertimento. há senhores muito ricos, em inglaterra, capazes de guiar carros
de passageiros puxados por quatro cavalos num caminho de vinte ou trinta milhas
todos os dias no Verão, porque para isso têm de pagar uma quantia considerável,
mas que se recusariam a fazê-lo se lhes oferecessem um ordenado, pois isso
passaria então a ser considerado trabalho. (p. 15)

b. as tardes de verão são muito compridas. ainda não estava escuro. pouco depois,
tom moderou o seu assobio, vendo na sua frente um menino pouco mais alto do que
ele. qualquer recém-chegado, fosse qual fosse a sua idade ou sexo, era um
acontecimento impressionante na pequena vila de são petersurgo. além disso, aquele
rapaz estava bem vestido - considerando-se que era um dia de semana -, o que era
simplesmente espantoso. o boné era uma coisa linda, e o casaco, de pano azul e
todo abotoado, era novo e bem-feito, assim como as calças. calçava sapatos, apesar
de ser só sexta-feira. usava até gravata, feita de um pedaço de fita de cor. tinha
um ar citadino que indignava tom. quanto mais olhava para aquela esplêndida
maravilha, quanto mais arrebitava o nariz a olhar para tanto luxo, mais pobre e
mesquinha lhe parecia a sua própria roupa. nenhum deles falava. se um se mexia, o
outro também, mas sem deixarem de estar em frente um do outro nem de se olhar. (p.
16)

o desconhecido afastou-se, sacudindo o pó da roupa, soluçando e fungando; de vez


em quando olhava para trás com um movimento de cabeça que representava uma ameaça
do que faria a tom na primeira ocasião em que o apanhasse de jeito. tom respondeu-
lhe com motejos e seguiu o seu caminho muito contente, mas, logo que se virou, o
desconhecido pegou uma pedra e atirou-a, acertando-lhe com ela no meio das
coistas. em seguida, deitou a correr como um louco. tom foi atrás dele até vê-lo
entrar em casa, e ficou sabendo onde morava. aí ficou algum tempo junto do portão,
desafiando-o para tornar a sair, mas o inimigo só lhe fez caretas através da
vidraça da janela e desapareceu. (p. 18)

descobrira, sem o saber, uma grande lei que rege a humanidade e que é: para se
conseguir que um homem ou um menino cobice uma coisa, basta tornar essa coisa
difícil de obter.
se fosse um grande e sábio filósofo, como o autor desse livro, teria compreendido
então que trabalho consiste em tudo que se é obrigado a fazer e que prazer
consiste naquilo que não se é obrigado a fazer. este raciocínio tê-lo-ia ajudado a
entender por que se chama trabalho aos trabalhos forçados e ao fazer flores
artificiais, enquanto jogar pino ou escalar o monte branco não passa de
divertimento. há senhores muito ricos, na inglaterra, capazes de guiar carros de
passageiros puxados por quatro cavalos num caminho de vinte ou trinta milhas todos
os dias no verão, porque para isso têm de pagar uma quantia considerável, mas que
se recusariam a fazê-lo se lhes oferecessem um ordenado, pois isso passaria então
a ser considerado trabalho. (p. 23)

imagens: www.picture-book.com; www.willcad.org

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16/02/2009
balzac na claret
a mulher de trinta anos nas edições da nova cultural tinha um duplo plágio:
1. enrico corvisieri na coleção imortais da literatura, 1995
2. gisele donat soares na coleção obras-primas, 2003
ambos são cópia atamancada da tradução de josé maria maria machado, pelo clube do
livro.
já a mulher de trinta anos na edição claretiana, com plágio em nome de pietro
nassetti, preferiu garfar a globo, com tradução de casimiro fernandes e wilson
lousada, além de prefácio e notas de paulo rónai (aqui cit. na edição de 1948).

a.
A magnífica parada comandada pelo imperador devia ser a última daquelas que por
tanto tempo exaltaram a admiração dos parisienses e dos estrangeiros. A velha
guarda ia executar, pela última vez, as sábias manobras cuja pompa e precisão
espantaram algumas vezes até o próprio gigante, que se preparava então para o seu
duelo com a Europa. Um triste sentimento levava às Tulherias uma brilhante e
curiosa população. Cada um parecia adivinhar o futuro, e pressentia talvez que
mais de uma vez a imaginação teria que retraçar o quadro daquela cena, quando os
tempos heróicos da França adquirissem, como hoje, tintas quase fabulosas.
(fernandes/lousada, p. 515)

b.
A magnífica parada comandada pelo imperador devia ser a última daquelas que por
tanto tempo exaltaram a admiração dos parisienses e dos estrangeiros. A velha
guarda ia executar, pela última vez, as sábias manobras cuja pompa e precisão
espantaram algumas vezes até o próprio gigante, que se preparava então para o seu
duelo com a Europa. Um triste sentimento levava às Tulherias uma brilhante e
curiosa população. Todos pareciam adivinhar o futuro, e pressentiam talvez que,
mais de uma vez, a imaginação teria que retraçar o quadro daquela cena, quando os
tempos heróicos da França adquirissem, como hoje, cores quase fabulosas.
(nassetti, p. 19)

a.
Uma mulher moça, célebre em Paris por sua graça, por sua beleza e por seus dotes
de espírito, e cuja posição social e fortuna estavam em harmonia com a sua
celebridade, veio, com grande espanto do vilarejo situado a cerca de uma milha de
Saint-Lange, estabelecer-se ali em fins do anos de 1820.39 Desde tempos imemoriais
que os rendeiros e camponeses não viam os donos do castelo. Se bem que de uma
produção considerável, as terras estavam abandonadas aos cuidados de um
administrador e guardadas por velhos serviçais. Por isso, a viagem da senhora
marquesa causou uma certa sensação na região. Muitas pessoas tinham-se agrupado na
entrada da vila, no pátio de um albergue situado no entroncamento das estradas de
Nemours e Moret, para verem passar uma caleça que avançava lentamente, pois a
marquesa viera de Paris com os seus cavalos. No assento dianteiro, a criada de
quarto fazia companhia a uma menina mais tristonha do que risonha. A mão vinha no
fundo da carruagem, imóvel como um moribundo que os médicos tivessem enviado para
o campo. (fernandes/lousada, p. 570)

39. 1820. Esta data parece errada; deveria ser substituída por 1823, pois a morte
de Artur ocorreu nesse ano. Cf. também a nota seguinte. [obs.: a nota é de paulo
rónai]

b.
Uma mulher moça, célebre em Paris por sua graça, por sua beleza e por seus dotes
de espírito, e cuja posição social e fortuna estavam em harmonia com a sua
celebridade, veio, para grande espanto do vilarejo situado a cerca de uma milha de
Saint-Lange, estabelecer-se ali em fins do anos de 1820.1 Desde tempos imemoriais
que os rendeiros e camponeses não viam os donos do castelo. Apesar de ter um
rendimento considerável, as terras estavam abandonadas aos cuidados de um
administrador e guardadas por velhos serviçais. Por isso, a viagem da senhora
marquesa causou uma certa sensação na região.
Muitas pessoas tinham-se agrupado na entrada da vila, no pátio de um albergue
situado no entroncamento das estradas de Nemours e Moret, para verem passar a
carruagem, que avançava lentamente, pois a marquesa viera de Paris com os seus
cavalos. No assento dianteiro, a criada de quarto fazia companhia a uma menina
mais tristonha que risonha. A mão vinha no fundo, imóvel como um moribundo que os
médicos tivessem enviado para o campo. (nassetti, pp. 73-74)

1. 1820. Esta data parece errada; deveria ser substituída por 1823, ano em que
ocorreu a morte de Artur.
imagem: migas-bdc.blogger.com.br

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15/02/2009
eleições da cbl
deu no blog do galeno:

"Por conta da forte presença da CBL nos últimos anos nas grandes discussões sobre
as políticas públicas do livro e leitura no Brasil, as eleições deste ano
revestem-se de importância estratégica para a consolidação da questão do livro e
da leitura no Brasil."

já manifestei meu espanto com a candidatura da landmark e da leitura/geração ao


comando da cbl. o sr. luiz emediato, do grupo geração, prometeu de público
providências contra as fraudes no selo "jardim dos livros". já o sr. fábio cyrino,
da landmark, responsável pela publicação dos plágios de persuasão e o morro dos
ventos uivantes, continua a se fazer de mortinho.

mas, qualquer chapa que vença, entendo que o compromisso básico da câmara
brasileira do livro é com o livro (honesto, ça va sans dire) e com o leitor.

imagem: matisse, www.peabirus.com.br

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14/02/2009
pensadores, xenofonte II
xenofonte, apologia de sócrates

1. trad. líbero rangel de andrade, abril cultural, sob licença


2. "trad." mirtes coscodai ou não consta, nova cultural, "direitos exclusivos"

1. líbero rangel de andrade


p. 181:
É de crer que tanto Sócrates como aqueles de seus amigos que falaram em sua defesa
dissessem ainda muitas outras coisas. Mas não me propus desfiar todos os
pormenores do processo; basta-me ter feito ver que Sócrates tomara por ponto
demonstrar que jamais fora ímpio para com os deuses nem injusto para com os
homens, mas que longe dele pensar rebaixar-se a súplicas para escapar à morte: ao
contrário, desde logo se persuadira haver chegado a hora de morrer.

p. 182:
Atos contra os quais a lei pronuncia a morte, como a profanação dos templos, o
roubo com efração, a venda de homens livres, a traição à pátria, meus próprios
acusadores não ousam dizer que os haja cometido. Surpreso, pois, pergunto a mim
mesmo qual o crime por que me condenais à morte. Nem por morrer injustamente devo
ter-me em menor estima: não sobre mim, mas sobre os que me condenam cairá a
ignomínia. Demais, consolo-me com Palamedes que findou quase como eu. Até hoje
ainda lhe cantam hinos mais magníficos que a Ulisses, que o fez perecer
injustamente.
p. 183:
Acompanhava-o certo Apolodoro, alma simples e extremamente afeiçoada a Sócrates,
que lhe disse:
— Não posso suportar, Sócrates, ver-te morrer injustamente.
Então se diz que, passando-lhe de leve a mão pela cabeça, Sócrates respondeu:
— Como! Meu caro Apolodoro então preferias ver-me morrer justamente?
E ao mesmo tempo sorria.
É voz ainda que, vendo passar Ânito, disse:
— Vejam só como vai ufano aquele homem: crê ter realizado bela façanha em me
matando, por haver-lhe eu dito certo dia que, uma vez que fora levado às primeiras
dignidades da República, não ficava bem elevar o filho ao mister de tanoeiro.
Miserável! Parece ignorar que, de nós dois, verdadeiro vencedor é aquele que
durante toda a vida não cessou de praticar ações úteis e honestas.

2. ambíguo: mirtes coscodai na página de rosto; não consta no início do texto


p. 278:
É de acreditar que tanto Sócrates como os seus amigos que falaram em sua defesa
dissessem ainda muitas outras coisas. Mas não me propus alinhavar todos os
pormenores do processo; basta-me ter feito ver que Sócrates tomara por ponto
demonstrar que nunca havia sido ímpio para com os deuses nem injusto para com os
homens, mas que longe dele pensar rebaixar-se a súplicas para escapar à morte: ao
contrário, desde logo se convencera haver chegado o momento de morrer.

pp. 278-79:
Atos contra os quais a lei pronuncia a morte, como a profanação dos templos, o
roubo, a venda de homens livres, a traição à pátria, meus próprios acusadores não
ousam dizer que os tenha cometido. Surpreso, pois, indago a mim mesmo qual o crime
por que me condenais à morte. Nem por morrer injustamente devo ter-me em menor
estima: não sobre mim, mas sobre os que me condenam cairá a ignomínia. Ademais,
consolo-me com Palamedes que acabou quase como eu. Até hoje ainda lhe cantam hinos
mais estupendos do que a Ulisses, que o fez morrer injustamente.

p. 281:
Acompanhava-o certo Apolodoro, alma simples e extremamente afeiçoada a Sócrates,
que lhe disse:
— Não posso aguentar, Sócrates, ver-te morrer injustamente.
Então dizem que, passando-lhe de leve a mão pela cabeça, Sócrates respondeu:
— Meu caro Apolodoro, então preferias ver-me morrer justamente?
E ao mesmo tempo sorria.
Dizem ainda que, vendo passar Ânito, disse:
— Vejam só como vai orgulhoso aquele homem: julga haver realizado bela façanha em
me matando, por haver-lhe eu dito certo dia que, uma vez que fora levado às
primeiras dignidades da República, não ficava bem elevar o filho ao ofício de
tanoeiro. Miserável! Parece ignorar que, de nós dois, verdadeiro vencedor é aquele
que durante toda a vida não parou de praticar ações úteis e honestas.
imagem: www.digitaldrops.com.br

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13/02/2009
pensadores, xenofonte I
xenofonte, ditos e feitos memoráveis de sócrates
1. trad. líbero rangel de andrade, abril cultural sob licença (a partir da trad.
francesa de eugène talbot)
2. "trad." mirtes coscodai, nova cultural, "direitos exclusivos"
1. líbero rangel de andrade

pp. 59-6o:
A que testemunho, afinal, recorreram para provar que ele não honrava os deuses do
Estado; se fazia sacrifícios freqüentes às abertas, ora em sua casa, ora nos
altares públicos; se praceiramente recorria à arte divinatória? Corria a voz,
ateada pelo próprio Sócrates, de que o inspirava um demônio[1]: eis, sem dúvida,
por que o criminaram de introduzir extravagâncias demoníacas. No entanto, não
introduzia ele mais novidades do que todos aqueles que crêem na adivinhação e
interrogam o vôo das aves, as vozes, os signos e as entranhas das vítimas: não
supõem nas aves nem naqueles com que se encontram o conhecimento do que buscam,
mas acreditam que por seu intermédio lho revelam os deuses; Sócrates também
pensava o mesmo. Diz o vulgo que as aves e os encontros nos advertem se devemos
prosseguir ou retroceder no que temos de olho: Sócrates falava o que sentia,
dizendo-se inspirado por um demônio. E de acordo com as revelações desse demônio
aconselhava aos amigos o fazer certas coisas, o abster-se de outras. Só tinham a
ganhar os que o ouviam. Arrependiam-se os que nele não acreditavam. Claro que não
havia de querer passar por imbecil nem por impostor aos olhos de seus discípulos.
E imbecil e impostor ter-se-ia tornado, se predissesse coisas como reveladas por
um deus e em seguida fosse desmentido. Evidente, portanto, é que se absteria de
predizer caso não estivesse certo de falar verdade. Ora, o que lhe inspiraria esta
certeza senão um deus? E se tinha fé nos deuses, como poderia negar-lhes a
existência?
[1] - Demônio: gênio bom ou divindade, e não o sentido posterior de gênio do mal.
(N. do E.)
p. 70:
Mas Sócrates — diz seu acusador — destruía nas crianças o respeito filial,
convencendo seus discípulos de que os tornava mais hábeis que seus pais, dizendo-
lhes que a lei permite encarcerar o pai convicto de loucura, para provar o que
dizia que ao homem instruído assiste o direito de encadear o ignorante. Longe
disso, achava Sócrates que o indivíduo que sob capa de ignorância acorrentasse
outro, merecia ser acorrentado a seu turno pelo primeiro que soubesse mais que
ele. Eis por que examinava de cotio em que difere a ignorância da loucura,
parecen-do-lhe não se proceder erradamente encarcerando os loucos — em seu próprio
interesse e de seus amigos — ao passo que os ignorantes devem aprender o de que
necessitam da boca dos que sabem.
p. 80:
"[...] Não é um dever, para todo aquele que saiba ser a temperança o cimento da
virtude, o encastoá-la antes de tudo na própria alma? Sem ela, como discernir o
bem e praticá-lo dignamente? O escravo das próprias paixões não degrada
vergonhosamente o corpo e o espírito? Parece-me, por Juno!, que todo homem livre
deve pedir aos deuses não venha a ter um escravo tal, e todo escravo das próprias
paixões encontre bons senhores; do contrário estará perdido". Eis o que dizia, e
suas ações mais que suas palavras testemunhavam sua temperança: sobranceiro não
somente aos prazeres dos sentidos como também ao que busca a riqueza, achava que
receber dinheiro do primeiro que aparece é comprar um senhor e sujeitar-se à mais
ignominiosa servidão.

2. mirtes coscodai

p. 79:
A que testemunho, afinal, recorreram para provar que ele não honrava os deuses do
Estado; se fazia sacrifícios freqüentes às abertas, ora em sua casa, ora nos
altares públicos; se praceiramente recorria à arte divinatória? Corria a voz,
ateada pelo próprio Sócrates, de que o inspirava um demônio: eis, sem dúvida, por
que o culparam de introduzir extravagâncias demoníacas. Contudo, não introduzia
ele mais novidades do que todos aqueles que acreditam na adivinhação e interrogam
o vôo das aves, as vozes, os signos e as entranhas das vítimas: não supõem nas
aves nem naqueles com que se encontram o conhecimento do que buscam, mas crêem que
por seu intermédio lho revelam os deuses; Sócrates também pensava o mesmo. Diz o
vulgo que as aves e os encontros nos advertem se devemos prosseguir ou retroceder
no que temos de olho: Sócrates falava o que sentia, dizendo-se inspirado por um
demônio. E de acordo com as revelações desse demônio aconselhava aos amigos o
fazer certas coisas, o abster-se de outras. Só tinham a ganhar os que ouviam.
Arrependiam-se os que nele não acreditavam. Claro que não havia de querer passar
por imbecil nem por impostor aos olhos de seus discípulos. E imbecil e impostor
ter-se-ia tornado, se predissesse coisas como reveladas por um deus e em seguida
fosse desmentido. Evidente, então, é que se absteria de predizer caso não
estivesse certo de falar verdade. Ora, o que lhe inspiraria esta certeza senão um
deus? E se tinha fé nos deuses, como poderia negar-lhes a existência?

pp. 94-95:
Mas Sócrates — diz seu acusador — destruía nas crianças o respeito filial,
convencendo seus discípulos de que os tornava mais hábeis que seus pais, dizendo-
lhes que a lei permite encarcerar o pai convicto de loucura, para provar o que
dizia que ao homem instruído assiste o direito de encadear o ignorante. Longe
disso, julgava Sócrates que o indivíduo que sob capa de ignorância acorrentasse
outro, merecia ser acorrentado a seu turno pelo primeiro que soubesse mais que
ele. Eis por que examinava cotidianamente em que difere a ignorância da loucura,
parecen-do-lhe não se agir erradamente encarcerando os loucos, em seu próprio
interesse e de seus amigos, ao passo que os ignorantes devem aprender o de que
necessitam da boca dos que sabem.

p. 110:
"[...] Não é um dever, para todo aquele que saiba ser a temperança o cimento da
virtude, o engastá-la antes de tudo na própria alma? Sem ela, como distinguir o
bem e praticá-lo dignamente? O escravo das próprias paixões não degrada
vergonhosamente o corpo e o espírito? Parece-me, por Juno!, que todo homem livre
deve pedir aos deuses não venha a possuir um escravo tal, e todo escravo das
próprias paixões encontre bons senhores; do contrário estará perdido". Eis o que
dizia, e seus atos mais que suas palavras testemunhavam sua temperança: superior
não apenas aos prazeres dos sentidos como também ao que busca a riqueza, achava
que receber dinheiro do primeiro que aparece é comprar um senhor e sujeitar-se à
mais vergonhosa servidão.

imagem: www.famousplagiarists.com

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12/02/2009
pela memória e pela história
matisse

se você também não gosta de plágio e quiser deixar seu nome, escreva seu recado
aqui nos comentários deste post.

data original de postagem: 28/11/08

POSTADO POR DENISE 104 COMENTÁRIOS


pensadores, platão
1. platão, defesa de sócrates, trad. jaime bruna, abril cultural sob licença
2. platão, apologia de sócrates, "trad." enrico corvisieri, nova cultural -
publicada em duplicidade no volume "sócrates" e no volume "platão"
esta edição da nova cultural, com tradução atribuída a enrico corvisieri, começou
a circular em 1999.

o padrão desse plágio usa três recursos: a cópia pura e simples, a "tradução por
sinonímia", isto é, troca simples de termos, e em alguns trechos um copidesque
mais carregado, mas sempre mantendo visível a estrutura de base.

1. jaime bruna, "exórdio", abril cultural, pp. 33-34:


Não sei, Atenienses, que influência exerceram meus acusadores em vosso espírito; a
mim próprio, quase me fizeram esquecer quem sou, tal a força de persuasão de sua
eloqüência. Verdade, porém, a bem dizer, não proferiram nenhuma. Uma, sobretudo,
me assombrou das muitas aleivosias que assacaram: a recomendação de cautela para
não vos deixardes embair pelo orador formidável que sou. Com efeito, não corarem
de me haver eu de desmentir prontamente com os fatos, ao mostrar-me um orador nada
formidável, eis o que me pareceu o maior de seus descaramentos, salvo se essa
gente chama formidável a quem diz a verdade; se é o que entendem, eu cá admitiria
que, em contraste com eles, sou um orador. Seja como for, repito-o, verdade eles
não proferiram nenhuma ou quase nenhuma; de mim, porém, vós ides ouvir a verdade
inteira. Mas não, por Zeus, Atenienses, não ouvireis discursos como os deles,
aprimorados em nomes e verbos, em estilo florido; serão expressões espontâneas,
nos termos que me ocorrerem, porque deposito confiança na justiça do que digo; nem
espere outra coisa quem quer de vós. Deveras, senhores, não ficaria bem, a um
velho como eu, vir diante de vós plasmar seus discursos como um rapazola. Faço-
vos, no entanto, um pedido, Atenienses, uma súplica premente; se ouvirdes, na
minha defesa, a mesma linguagem que habitualmente emprego na praça, junto das
bancas, onde tantos dentre vós me tendes escutado, e noutros lugares, não a
estranheis nem vos amotineis por isso. Acontece que venho ao tribunal pela
primeira vez aos setenta anos de idade; sinto-me, assim, completamente estrangeiro
à linguagem do local. Se eu fosse de fato um estrangeiro, sem dúvida me
desculparíeis o sotaque e o linguajar de minha criação; peço-vos nesta ocasião a
mesma tolerância, que é de justiça a meu ver, para minha linguagem — que poderia
ser talvez pior, talvez melhor — e que examineis com atenção se o que digo é justo
ou não. Nisso reside o mérito de um juiz; o de um orador, em dizer a verdade.

2. enrico corvisieri, "exortação", nova cultural, pp. 65-66:


Desconheço, atenienses, que influência tiveram meus acusadores em vosso espírito;
a mim próprio, quase me fizeram esquecer quem sou, tal o poder de persuasão de sua
eloqüência. De verdades, porém, não disseram nenhuma. Uma, sobretudo, me espantou
das muitas perfídias que proferiram: a recomendação de precaução para não vos
deixardes seduzir pelo orador formidável que sou. Com efeito, não corarem de me
haver eu de desmentir prontamente com os fatos, ao mostrar-me um orador nada
formidável, eis o que me pareceu a maior de suas insolências, salvo se essa gente
chama formidável a quem diz a verdade; se é o que entendem, eu admitiria que, em
contraste com eles, sou um orador. Seja como for, repito-o, de verdades eles não
disseram alguma; de mim, porém, vós ouvireis a verdade inteira. Mas não, por Zeus,
atenienses, não ouvireis discursos como os deles, aprimorados em substantivos e
verbos, em estilo florido; serão expressões espontâneas, nos termos que me
ocorrerem, porque deposito confiança na justiça do que digo; nem espere outra
coisa qualquer um de vós. Verdadeiramente, senhores, não ficaria bem, a um velho
como eu, vir diante de vós modelar seus discursos como um rapazinho. Faço-vos,
contudo, um pedido, atenienses, uma súplica premente; se ouvirdes, na minha
defesa, a mesma linguagem que habitualmente emprego na praça, junto das bancas,
onde tantos dentre vós me haveis escutado, e em outros lugares, não a estranheis
nem vos revolteis por isso. Acontece que venho ao tribunal pela primeira vez aos
setenta anos de idade; sinto-me, assim, completamente estrangeiro à linguagem do
local. Se eu fosse de fato um estrangeiro, sem dúvida me desculparíeis o sotaque e
o linguajar de minha criação; peço-vos nesta ocasião a mesma tolerância, que é de
justiça a meu ver, para a minha linguagem, que poderia ser talvez pior, talvez
melhor, e que examineis com atenção se o que digo é justo ou não. Nisso reside o
mérito de um juiz; o de um orador, em dizer a verdade.

1. jaime bruna, "aos que o absolveram", abril cultural, p. 58:


Vós também, senhores juízes, deveis bem esperar da morte e considerar
particularmente esta verdade: não há, para o homem bom, nenhum mal, quer na vida,
quer na morte, e os deuses não descuidam de seu destino. O meu não é efeito do
acaso; vejo claramente que era melhor para mim morrer agora e ficar livre de
fadigas. Por isso é que a advertência nada me impediu. Não me insurjo
absolutamente contra os que votaram contra mim ou me acusaram. Verdade é que não
me acusaram e condenaram com esse modo de pensar, mas na suposição de que me
causavam dano: nisso merecem censura. Contudo, só tenho um pedido que lhes faça:
quando meus filhos crescerem, castigai-os, atormentai-os com os mesmíssimos
tormentos que eu vos infligi, se achardes que eles estejam cuidando mais da
riqueza ou de outra coisa que da virtude; se estiverem supondo ter um valor que
não tenham, repreendei-os, como vos fiz eu, por não cuidarem do que devem e por
suporem méritos, sem ter nenhum. Se vós o fizerdes, eu terei recebido de vós
justiça; eu, e meus filhos também.
Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue
melhor rumo, se eu, se vós, é segredo para todos, menos para a divindade.

2. enrico corvisieri, "aos que o absolveram", nova cultural, pp. 96-97:


Vós também, senhores juízes, deveis bem esperar da morte e considerar
particularmente esta verdade: não há, para o homem bom, mal algum, quer na vida,
quer na morte, e os deuses não descuidam de seu destino. O meu não é consequência
do acaso; vejo claramente que era melhor para mim morrer agora e ficar livre de
fadigas. Por isso é que a advertência nada me impediu. Não me insurjo
absolutamente contra os que votaram contra mim ou me acusaram. Verdade é que não
me acusaram e condenaram com esse modo de pensar, mas na suposição de que me
causavam dano: nisso merecem censura. No entanto, só tenho um pedido que a lhes
fazer: quando meus filhos crescerem, castigai-os, atormentai-os com os mesmíssimos
tormentos que eu vos infligi, se achardes que eles estejam cuidando mais da
riqueza ou de outra coisa que da virtude; se estiverem supondo ter um valor que
não tenham, repreendei-os, como vos fiz eu, por não cuidarem do que devem e por
suporem méritos, sem ter nenhum. Se vós assim agirdes, eu terei recebido de vós
justiça; eu, e meus filhos também.
Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue
melhor destino, se eu, se vós, é segredo para todos, exceto para a divindade.

imagens: cienciabrasil.blogspot.com; thepickards.com.uk

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11/02/2009
o contexto II
continuando.

I. sobre os autores e a ordem das obras


os quarenta autores publicados na coleção os pensadores da nova cultural (2004-
2005) foram selecionados entre os 114 autores da coleção original da abril
cultural.

na programação inicial da nc, que previa apenas 20 volumes, os autores foram


escolhidos entre os 58 autores dos 35 volumes iniciais da coleção da abril
cultural (sem contar os pré-socráticos, que são quinze). o critério de ordenamento
é claramente cronológico, e segue o mesmo recorte temporal da coleção de 1972-75.
claro que sempre se pode indagar dos critérios empregados para incluir uns e
excluir outros, mas não é disso que se trata.
com a ampliação do projeto para 40 volumes, fica evidente que, a partir do
vigésimo-primeiro volume, teve-se por bem abandonar o critério de ordenamento
cronológico. mas não consegui discernir com clareza qual teria sido o critério que
veio a substituí-lo: rousseau de cambulhada entre pavlov e husserl, santo anselmo
se sucedendo a heidegger, a coleção se encerrando com os pré-socráticos seguidos
de montesquieu.

II. sobre os títulos


quanto ao conteúdo propriamente dito das obras, não comparei todas elas. mas, até
onde vi, corresponde ao das edições selecionadas entre a coleção original - salvo
as seguintes exceções:

- platão
a. abril cultural:
diálogos: o banquete, fédon, sofista, político
b. nova cultural:
diálogos: eutífron, apologia de sócrates*, críton, fédon
* cabe notar que há a repetição da apologia, que já estava no volume 1 (sócrates)
da nova cultural

- platão II
a. abril cultural:
----
b. nova cultural:
a república (a título de brinde, acompanhando platão I)

- aristóteles
a. abril cultural:
(vol. I) tópicos, dos argumentos sofísticos; (vol. II) metafísica. ética a
nicômaco, poética
b. nova cultural:
poética, organon, política, constituição de atenas (volume único)

III. sobre as traduções


quanto às traduções usadas pela abril cultural, várias foram publicadas sob
licença de outras editoras, devidamente creditadas, e muitas outras foram feitas
expressamente para a coleção, idem.

comparei a lista das traduções dos títulos comuns às duas coleções. em sua
maioria, são as mesmas, mas com uma ressalva: em casos de traduções licenciadas de
outras editoras, não há qualquer menção à licença e tampouco a seus nomes como
detentoras dos direitos de publicação (em outros termos, se não for simples
desleixo, essa omissão parece talvez indicar contrafação ou reprodução não-
autorizada). já nos casos das traduções feitas para a antiga coleção da abril
cultural, consta "direitos exclusivos sobre as traduções deste volume: editora
nova cultural ltda."
eu disse acima: "em sua maioria, são as mesmas". as exceções são as seguintes:

- sócrates
a. abril cultural:
platão, defesa de sócrates (jaime bruna)
xenofonte, ditos e feitos memoráveis de sócrates (líbero rangel de andrade)
xenofonte, apologia de sócrates (líbero rangel de andrade)
b. nova cultural:
platão, apologia de sócrates (enrico corvisieri)
xenofonte, ditos e feitos memoráveis de sócrates (mirtes coscodai)
xenofonte, apologia de sócrates (ambíguo: consta mirtes coscodai na página de
rosto e não consta no começo da obra)
- aristóteles
a. abril cultural:
poética (eudoro de souza)
b. nova cultural:
poética (baby abrão)

- maquiavel
a. abril cultural:
o príncipe (lívio xavier)
escritos políticos (lívio xavier)
b. nova cultural:
o príncipe (olívia bauduh)
escritos políticos (olívia bauduh)

- descartes
a. abril cultural:
discurso do método (jacó guinsburg e bento prado jr.)
meditações (jacó guinsburg e bento prado jr.)
paixões da alma (jacó guinsburg e bento prado jr.)
b. nova cultural:
discurso do método (enrico corvisieri)
meditações (enrico corvisieri)
paixões da alma (enrico corvisieri)

- pascal
a. abril cultural:
pensamentos (sérgio milliet)
b. nova cultural:
pensamentos (olívia bauduh)

IV. sobre as traduções dos títulos novos


quanto às sete obras que não constavam na coleção da abril cultural, e foram
introduzidas na coleção da nova cultural, as respectivas traduções são de:

platão, eutífron: ambíguo - enrico corvisieri/ não consta


platão, críton: ambíguo - enrico corvisieri/ não consta
platão, fédon: ambíguo - enrico corvisieri/ não consta
platão, a república: enrico corvisieri
aristóteles, organon: pinharanda gomes
aristóteles, política: baby abrão e therezinha deutsch
aristóteles, constituição de atenas: therezinha deutsch

V. resumindo
há, portanto, 17 obras publicadas na coleção os pensadores da nova cultural que
não constavam ou constavam em outras traduções na coleção original da abril
cultural.

entre as traduções dessas 17 obras:


- pinharanda gomes é um estudioso português, cuja tradução do organon teve sua
primeira edição em 1985, pela guimarães. aparentemente a nova cultural teria
comprado os direitos da guimarães, pois afirma ser a detentora dos "direitos
exclusivos sobre as traduções deste volume" de aristóteles. mas tenho algumas
dúvidas, e acharia mais provável que se trate de uma contrafação, visto que
organon de pinharanda gomes continua ativo no catálogo da guimarães.
- 12/16 obras aparecem em novas traduções.
- 4/0 obras não mencionam os créditos de tradução.
sobre elas pretendo me debruçar um pouco nos próximos dias.

imagem: lugardoconhecimento.wordpress.com

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o contexto I
o lançamento da coleção os pensadores da abril cultural começou em 1972 e se
estendeu até 1975, num projeto de grande fôlego coordenado por josé américo
pessanha. a coleção contou com o trabalho de acompanhamento, consultoria, seleção
e tradução de dezenas e dezenas de intelectuais do mais alto nível. foi uma
iniciativa muito importante, que marcou época, introduzindo no brasil autores,
obras e excertos de obras do pensamento até então indisponíveis no país. tornaram-
se de fato livros de imensa utilidade para o ensino nas mais diversas áreas de
graduação e para quem queria se enfronhar um pouco em filosofia, teoria econômica,
teoria política, antropologia, lógica, psicologia, psicanálise, teoria da
linguagem etc. a coleção era composta por 52 volumes, com textos de 114 pensadores
no total (pois diversos volumes traziam textos de dois ou mais pensadores), com
apresentação em ordem cronológica. teve inúmeras reedições, e muitos textos
realmente se tornaram obras de referência.

após a extinção da abril cultural, a nova cultural não interrompeu a publicação


dos títulos herdados na partilha, reeditando-os à medida que iam se esgotando.
mas, neste processo, foram se registrando várias mudanças em relação a os
pensadores originais: no escopo, na abrangência temática, na quantidade de obras
ou excertos de cada pensador, na apresentação, na qualidade técnica, material e
editorial. em suma, foi se tornando um fantasma pálido do projeto inicial. no
final dos anos 1990, a coleção da nova cultural começou rapidamente a perder
credibilidade nos meios acadêmicos e entre os aficionados de obras do pensamento.

em 2004, veio a iniciativa da nova cultural em "relançar" a coleção com grande


campanha de marketing e propaganda. de início, a coleção se resumiria a 20 volumes
e 20 pensadores, além de uma obra adicional chamada história da filosofia. devido
ao sucesso alcançado, a editora decidiu ampliar a coleção para 40 volumes,
acrescentando mais outra obra chamada grandes filósofos, totalizando 42 volumes.

a coleção os pensadores da nova cultural estava a cargo da coordenadora editorial


janice florido e do editor eliel silveira cunha, os mesmos de triste memória que
em 2002-2003 tinham estado à frente da infeliz coleção obras-primas. com a
diferença, porém, que desta feita não havia o patrocínio da suzano celulose.
projeto inicial de lançamento em 2004:
1. Sócrates
2. Platão
3. Aristóteles
4. Santo Agostinho
5. São Tomás de Aquino
Volume extra: História da filosofia
6. Maquiavel
7. Thomas More
8. Galileu
9. Montaigne
10. Thomas Hobbes
11. Descartes
12. Espinosa
13. Leibniz
14. Hume
15. Kant
16. Hegel
17. Schopenhauer
18. Comte
19. Nietzsche
20. Marx
os que vieram a se acrescentar à coleção foram:
21. Freud
22. Bacon
23. Heidegger
24. Santo Anselmo
25. John Locke
26. Montaigne II
27. Pascal
28.Vico
29. Berkeley
30. Pavlov
Volume extra: Grandes Filósofos
31. Rousseau
32. Husserl
33. Diderot
34. Newton
35. Bergson
36. Rousseau II
37. Adorno
38. Abelardo
39. Pré-Socráticos
40. Montesquieu
se alguém se interessar pelo conteúdo da coleção original de os pensadores pela
abril cultural, veja aqui.
imagem: domenico ghirlandaio, são jerônimo em seu gabinete

POSTADO POR DENISE 3 COMENTÁRIOS


10/02/2009
à guisa de explicação
voltando um pouco à nova cultural e ao fio desse trabalho aqui do nãogosto -
minha perplexidade surgiu em agosto/setembro de 2007, quando saulo von randow jr.
comentou que havia constatado o plágio de ivanhoé, trad. de brenno silveira, na
coleção obras-primas da nc.
em novembro e dezembro de 2007, com as duas matérias da folha de s.paulo sobre
mais outros plágios, minha perplexidade virou pânico e indignação, e daí vem esse
trabalho de pesquisa e alerta. às vezes ele pode parecer disperso, mas tenho um
quadro na cabeça razoavelmente claro, que vou tentar expor.
a martin claret até pode dar de dez na nova cultural em quantidade de títulos
plagiados, embora não necessariamente no total das tiragens. mas não há a menor
dúvida de que quem implantou o recurso ao plágio como prática editorial
sistemática e em escala industrial foi a nova cultural. esse pioneirismo ninguém
lhe tira. e ninguém lhe tira por uma razão cronológica muito simples: ela
inaugurou esse recurso sistemático à fraude em 1995, na coleção "os imortais da
literatura universal", e a claret começou seus plágios em 1998, na coleção "a
obra-prima de cada autor".

os pequenos aventureiros posteriores, tipo sapienza, jardim dos livros, landmark,


são subespécies. embora cada qual tenha suas características próprias, integram a
família mais geral das editoras que não recusam o artifício do plagiato.

nas pesquisas sobre os plágios da nova cultural, eu tinha me concentrado em obras


literárias, até porque foi em 2002-2003 que a editora, com o patrocínio da suzano
celulose, adquiriu uma visibilidade fantástica, em edições e reedições de tiragens
espantosas, com sua coleção "obras-primas" para venda em bancas de jornais. muito
bem, mereceria aplausos se fosse uma coleção idônea; infelizmente, porém, sabemos
que não é.

mas há uma outra coleção importante, "os pensadores", da mesma editora, e oriunda
da mesma partilha da editora abril, feita em 1982 por victor civita entre os dois
filhos, roberto e richard civita. na separação, os fascículos e livros da extinta
abril cultural ficaram para richard civita, o qual então criou a editora nova
cultural, como parte da empresa c.l.c. (comunicação, lazer e cultura). e foi assim
que ele foi relançando, adulterando e plagiando obras da ex-abril cultural que lhe
couberam na partilha, tanto nos "imortais" quanto nas "obras-primas" ou nos
"pensadores".

estou me delongando sobre isso porque, nestes próximos dias, vou tratar de alguns
títulos de "os pensadores" também vitimados por plágio, e acho interessante uma
visão geral da coisa.

se alguém tiver interesse em acompanhar o fio da discussão, pode consultar:


- tudo sobre a nc
ou mais especificamente:
- exposição de motivos
- aviso aos navegantes
- uma boa cobertura do problema, dada por o globo
- menções iniciais a "os pensadores"
- histórico 1
- onde tudo começou
- e por onde continuou
- angu de caroço

imagens: são jorge em seu gabinete, codecarnival.com; thief and pig, gutenberg.org

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como escapar aos plágios?

o blog jane austen em português colocou e está tentando enfrentar um problema


muito importante: como fazer quando livros fundamentais estão esgotadésimos no
brasil?

e aí pergunto eu: como escapar dos ishpertos que se aproveitam de uma demanda
reprimida, lançam mão de artifícios escusos e publicam plágios? e quando aquele
livro classicíssimo você não encontra mais nem em sebo, tipo a abadia de
northanger? se quiser ler, vai ter que dar dinheiro para algum ladrão?

o morro dos ventos uivantes é outro problema. foi editado recentemente, ótimo. só
que a edição da landmark surripiou a tradução da luiza lobo. e diz a revisora do
livro que botaram o nome dela como tradutora, à sua revelia. quer dizer, além de
plagiar, a landmark atribui o plágio à sua prestadora de serviços e lhe causa
danos morais de longa duração?

e o leitor? tem sua inteligência insultada e seu direito básico de consumidor


tripudiado?

uma vez li um artigo de nelson ascher, "para racionalizar o mercado de traduções"


[link para assinantes uol ou fsp]. achei muito pertinente e interessante. ele
comentava que nosso mercado editorial tem muitos "projetos redundantes", e sugeria
um pouco mais de racionalidade. verdade. só que tem esse mistério brasileiro da
volatilidade das edições.

como diz ascher: "Há tantas excelentes traduções já esgotadas e sem perspectiva
próxima de republicação que seria lícito tomá-las antes como a regra geral do que
como exceções infelizes".

aí fica essa bizarrice: não temos acesso a centenas de clássicos os mais básicos,
batidos e conhecidos do mundo. não porque não foram editados. não foram é
REeditados, as editoras esquecem lá no fundo do baú, mas não saem de cima dele, e
ninguém mais publica, até vir o aventureiro do dia garfar aquilo lá ou aquilo
outro, para suprir a demanda ou ir na onda oportunista de algum filme de sucesso.

ascher dá uma sugestão: "Hoje, contudo, os departamentos universitários de Letras,


operando com editores, críticos e consulados, teriam condições de criar na
internet sites cujas informações auxiliariam [...] a recolocar em circulação
traduções esquecidas". seria maravilhoso, embora eu seja um tanto cética em
relação ao interesse e à capacidade de iniciativa sobretudo das universidades.

talvez o que demande uma racionalização mais premente sejam os critérios para a
manutenção ativa de títulos fundamentais, a cargo das editoras que detêm seus
direitos.

assim talvez nós leitores não ficássemos reféns dos ladrões das letras e essas
obras escapassem ao destino de virar papa recozida no caldeirão pirata dos
ishpertos.

imagem: biblioteca vaticana

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09/02/2009
e dá-lhe cept
a ciência da esperteza e a política da trambicagem, infelizmente, têm sucesso
entre os leitores e estudantes de boa-fé. elas contam, naturalmente, com os bons
préstimos de fiéis aliadas: livrarias curitiba, livraria cultura, fnac, livraria
da travessa...

alguns exemplos de max weber, ciência e política, na delinquência da claretex,


como obra de referência:

www.cpdoc.fgv.br/cursos/bensculturais/teses/CPDOC2007EvanizeMartinsSydow.pdf
www.cpdoc.fgv.br/cursos/bensculturais/teses/CPDOC2006TatianaOliveiraSiciliano.pdf
http://201.48.149.88/anpocs/arquivos/5_11_2007_16_3_49.pdf
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000381382
http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3414
www.pgpp.ufma.br/disciplinas/listar.php?id=12
www.cce.udesc.br/titosena/Arquivos/Textos%20para%20aulas/livros1afase.doc
www.pos.ufsc.br/arquivos/41000099/Filosofia_Ciencia_e_Saude.pdf
www.fasete.edu.br/arquivos/file/secretaria/2008/LETRAS%202008%20PDF/III%20PERÍODO/
Estrut_Func_Educ_Basic.pdf
http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/.../MESTRADO%20DIREITO%20COOPERAT
IVO%20E
http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=905
www.geociencias.ufpb.br/posgrad/dissertacoes/paulo_henrique_guedes.pdf
www.nfr.ufsc.br/pen/secretaria/planoDeEnsino/Filosofia%20da%20ciencia%20e%20da%20s
a%FAde.p...
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/8078/1/Dissertação%20Mauricio%20N
atel.pdf
www.mestradohistoria.ufjf.br/download_tese.php?cd_tese=Mw%3D%3D
www.cienciasecognicao.org/pdf/v13/cec_v13-1_m318220.pdf
www.ccj.ufsc.br/Graduacao/Planos_de_ensino/200802/DIR5126%20T.%200205%20e%200222.d
oc
www.unifor.br/pls/oul/w_uol_programa_disciplina_ncm?p_tp_arquivo=1&p_cd_disciplina
=H143&p...
www.uem.br/~urutagua/005/03dir_silveira.htm
https://nexos.ufscar.br/nexos/PlanosConsultaL.jsp?Disciplina=170542&Turma=F&Ano=20
08&S...
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/3085/1/LUIZ%20A.%20DOS%20S.%20BEZ
ERRA%20-%20TESE%20-%...
www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3393
www.sociologia.ufsc.br/npms/fabiano_brito_santos.pdf
www.unisc.br/cursos/pos_graduacao/mestrado/direito/corpo_discente/2006_dissertacoe
s/janrie.pdf
www.saudebucalcoletiva.unb.br/ensino/introducao_a_ciencia_politica/ICP_ementa_1_20
07.doc www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4787
www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Bezerra.PDF
www.al.rs.gov.br/biblioteca/servicos_aquisicoes.asp
www.cchla.ufrn.br/interlegere/revista/pdf/2/pi02.pdf
www.convibra.com.br/2008/apres/154.swf
www.fflch.usp.br/df/geral3/francisco.html
www.ufpi.br/mesteduc/eventos/iiencontro/GT-4/GT-04-03.htm
www.sbsociologia.com.br/congresso_v02/papers/.../Microsoft%20Word%20-
%20GT25_Homero_Nunes_Pereira_2007.pdf
www.fmd.pucminas.br/nap/GRUPO%2003.pdf
www.proead.unit.br/professor/joao_lago/arquivos/textos/Sociologia%20I%20-
%20unidade%201.ppt
www.fafich.ufmg.br/compolitica/anais2006/Pontes_2006.pdf
www.cienciasecognicao.org/artigos/v13/318220.htm
www.fasete.edu.br/arquivos/file/cursos/letras/grade/PlanosLetras20072/7/Plano%20de
%20Curso_Estrutura%20II.pdf
www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/salvador/gilson_gileno_de_sa_oliveira.pdf
www.unirg.edu.br/cur/adm/planos/1per/cs1.pdf
www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-
bin/PRG_0599.EXE/11349_7.PDF?NrOcoSis=36669&CdLinPrg=pt
www.mp.al.gov.br/atica_sentido_trabalho.ppt
www.unc.br/ementas/e_servico_social.pdf
www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Jose_Montagnoli.pdf
http://www2.camara.gov.br/.../Maria%20da%20Graca%20Lobo%20de%20Almeida%...
www.ufrgs.br/faced/educacaomatematica/.../O_SIGNIFICADO_IND_GENA_PARA_A_ESCOLA_AFI
RMA__O_DE_IDENTIDA..p www.scielo.br/scieloOrg/php/articleXML.php?pid=S1414-
40772007000300005&lang=en
www.anpuh.uepg.br/.../CARLOS%20ANDRÉ%20MACÊDO%20CAVALCAN...
www.facs.br/revistajuridica/edicao_maio2008/convidados/con5.doc
http://www2.camara.gov.br/posgraduacao/Claudionor%20Rocha%20-
%20projeto%20curso%20IP%202a%20ed.pdf
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/viewPDFInterstitial/1740/14
39
http://servicos.capes.gov.br/arquivos/avaliacao/estudos/dados1/2004/24001015/034/2
004_034_24001015004P3_Disc_Ofe.pdf
http://servicos.capes.gov.br/arquivos/avaliacao/estudos/dados1/2006/26001012/034/2
006_034_26001012013P8_Disc_Ofe.pdf
www.eba.ufrj.br/ppgartesvisuais/revista/e16/OctavioAragao.pdf
www.emtese.ufsc.br/g_Fabio.pdf
www.fo.usp.br/departamentos/social/ciencias_sociais/ciencias_sociais_arquivos/anal
ise_compreensiva.pdf
www.pucsp.br/revistacordis/downloads/numero1/artigos/7_monteiro_lobato.pdf
https://sistemas2.usp.br/jupiterweb/obterDisciplina?sgldis=CJE0620&codcur=27011&co
dhab=404
www.eaesp.fgvsp.br/subportais/interna/Apoio%20Academico/CG_AE_Programa.pdf

imagem: wiki.observatoriodaimprensa.pt

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a ciência da esperteza e a política da trambicagem
...

max weber, ciência e política: duas vocações

a. tradução original: leonidas hegenberg e octany silveira da mota (cultrix)


b. plágio com leves alterações, ou "tradução por sinonímia": jean melville
(martinix claretix)

A ciência como vocação

a. [...] o "pressuposto" geral da Medicina assim se coloca: o dever do médico está


na obrigação de conservar a vida pura e simplesmente e de reduzir, quanto
possível, o sofrimento. Tudo isso é, porém, problemático. Graças aos meios de que
dispõe, o médico mantém vivo o moribundo, mesmo que este lhe implore pôr fim a
seus dias e ainda que os parentes desejem e devam desejar a morte, conscientemente
ou não, porque já não tem mais valor aquela vida, porque os sofrimentos cessariam
ou porque os gastos para conservar aquela vida inútil - trata-se, talvez, de um
pobre demente - se fazem pesadíssimos. Só os pressupostos da Medicina e do código
penal impedem o médico de se apartar da linha que foi traçada. A Medicina,
contudo, não se propõe a questão de saber se aquela vida merece ser vivida e em
que condições. Todas as ciências da natureza nos dão uma resposta à pergunta: que
deveremos fazer, se quisermos ser tecnicamente senhores da vida. (leonidas/octany,
p. 37)

b. [...] o "pressuposto" geral da medicina assim se coloca: O dever do médico está


na obrigação de conservar a vida pura e simplesmente e de reduzir, tanto quanto
possível, o sofrimento. Isso tudo, porém, é problemático. Mercê dos meios de que
dispõe, o médico mantém vivo o moribundo, mesmo que este lhe implore declarar o
término a seus dias e ainda que os parentes desejem e devam desejar a morte,
conscientemente ou não, porque já não tem mais valor aquela vida, porque os
sofrimentos cessariam ou porque os gastos para conservar aquela vida inútil -
trata-se, provavelmente, de um pobre demente - se fazem pesadíssimos. Somente os
pressupostos da medicina e do código penal impedem o médico de se separar da linha
que foi traçada. Não obstante, a medicina não se propõe a questão de saber se
aquela vida merece ser vivida e em que condições. Todas as ciências da natureza
nos dão uma resposta à pergunta: Que deveremos fazer, se quisermos ser
tecnicamente senhores da vida? (jean melville, p. 44)
[o "se" e o "tecnicamente" perderam o itálico - quem já leu weber alguma vez sabe
que é justamente este o problema]

A política como vocação

a. [...] O que é um Estado? Sociologicamente, o Estado não se deixa definir por


seus fins. Em verdade, quase que não existe uma tarefa de que um agrupamento
político qualquer não se haja ocupado alguma vez; de outro lado, não é possível
referir tarefas das quais se possa dizer que tenham sempre sido atribuídas, com
exclusividade, aos agrupamentos políticos hoje chamados Estados ou que se
constituíram, historicamente, nos precursores do Estado moderno. Sociologicamente,
o Estado não se deixa definir a não ser pelo específico meio que lhe é peculiar,
tal como é peculiar a todo outro agrupamento político, ou seja, o uso da coação
física. (leonidas/octany, pp. 55-56)
b. [...] Que é um Estado? O Estado, sociologicamente, não se deixa definir por
seus fins. Realmente, quase não existe uma tarefa de que um agrupamento político
qualquer não se haja ocupado alguma vez. De outra feita, não é possível referir
tarefas das quais se possa dizer que tenham sempre sido atribuídas, com
exclusividade, aos agrupamentos políticos hoje denominados Estados ou que se
constituíram, segundo a história, nos precursores do Estado moderno. O Estado não
se deixa definir, sociologicamente, a não ser pelo específico meio que lhe é
peculiar, da forma como é, peculiar a todo outro agrupamento político, a saber, o
uso da coação física. (jean melville, p. 60) [outros dois itálicos importantes
suprimidos]

a feliz expressão "tradução por sinonímia" é de saulo von randow jr.

imagem: o plagiador, www.slate.com

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08/02/2009
domingueira
rogério bettoni deu um toque interessante quanto às francas fontes de inspiração
das agências de publicidade. oren lavie é uma lindeza. já o bradesco é uma rudeza.

o achado está no blog de manu borghi, caligraffiti, muito lindo.

POSTADO POR DENISE 2 COMENTÁRIOS


07/02/2009
dobles
sugeri há uns dois meses um sistema de self-service para corrigir os monstrengos
da claret. segue agora o respectivo cotejo:

pascal, pensamentos:

1. tradução de leonel vallandro, globo/inl

2. plágio de pietro nassetti, martin claret

o plágio é literal, sem cosméticos ou disfarces, do começo ao fim.

1. vallandro: [...] Por isso é raro que os geômetras sejam sutis e que os sutis
sejam geômetras, pois que os segundos pretendem tratar geometricamente as coisas
sutis e se tornam ridículos quando querem começar pelas definições e depois
estabelecer os princípios, já que esse não é o procedimento apropriado na espécie
de raciocínio em apreço. Isso não quer dizer que o espírito deixe de fazê-lo; mas
ele o faz tacitamente, naturalmente e sem arte, pois exprimi-lo é tarefa superior
a todos os homens, e senti-lo não é dado senão a alguns poucos.

Os espíritos sutis, pelo contrário, acostumados como estão a julgar com um só


relance de olhos, ficam profundamente confusos quando alguém lhes apresenta
proposições de que nada entendem, e para ter acesso às quais é necessário passar
por definições e princípios tão estéreis que eles não estão habituados a
considerar em detalhe; e sentem repugnância e aversão a raciocinar dessa maneira.

Os espíritos falsos, porém, nunca são sutis nem geômetras.

2. nassetti: [...] Por isso é raro que os geômetras sejam sutis e que os sutis
sejam geômetras, pois que os segundos pretendem tratar geometricamente as coisas
sutis e se tornam ridículos quando querem começar pelas definições e depois
estabelecer os princípios, já que esse não é o procedimento apropriado na espécie
de raciocínio em apreço. Isso não quer dizer que o espírito deixe de fazê-lo; mas
ele o faz tacitamente, naturalmente e sem arte, pois exprimi-lo é tarefa superior
a todos os homens, e senti-lo não é dado senão a alguns poucos.

Os espíritos sutis, pelo contrário, acostumados como estão a julgar com um só


relance de olhos, ficam profundamente confusos quando alguém lhes apresenta
proposições de que nada entendem, e para ter acesso às quais é necessário passar
por definições e princípios tão estéreis que eles não estão habituados a
considerar em detalhe; e sentem repugnância e aversão a raciocinar dessa maneira.

Os espíritos falsos, porém, nunca são sutis nem geômetras.

1. vallandro: 885 (924) Gente sem palavra, sem fé, sem honra, sem verdade, dobles
d e coração,
dobles de língua e semelhantes, como vos foi censurado outrora, a esse animal
anfíbio da fábula, que se conservava num estado indefinido entre os peixes e os
pássaros...

2. nassetti: 885 (924) Gente sem palavra, sem fé, sem honra, sem verdade, dobles
de coração, dobles de língua e semelhantes, como vos foi censurado outrora, a esse
animal anfíbio da fábula, que se conservava num estado indefinido entre os peixes
e os pássaros...

imagens: emoticons, yes e no; fleurs du mal, valiena, flickr

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06/02/2009
a pertinaz insídia claretiana

exemplos de pascal, com seus pensamentos conspurcados por aquela pseudo-editora,


usado como obra de referência em teses, artigos, palestras:

libdigi.unicamp.br/document/?view=vtls000380058
www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1482
www.seer.ufu.br/index.php/cadernoshistoria/article/view/333/346
http://uninove.br/ojs/index.php/dialogia/article/view/1101/840
www.webartigos.com/articles/5916/1/o-pincipio-da-igualdade/pagina1.html
www.unest.edu.br/cgi-
bin/wxis.exe?IsisScript=phl8/003.xis&cipar=phl8.cip&bool=exp&opc...&lang=
www.bdjur.stj.gov.br/jspui/bitstream/2011/6682/3/An_Introduction_to_the_Juridicial
.pdf
www.ufpe.br/pgletras/2007/dissertacoes/diss-salmo-sostenes.pdf
www.icpg.com.br/hp/revista/download.exec.php?rpa_chave=351afec6365ad54db93f
http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1069

imagem: canhenho.wordpress.com

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letras, palavras e livros

ando recebendo o boletim do publishnews com problema. os links não abrem, meu
outlook sai do ar, uma tristeza. então não posso linkar. mas hoje vi lá uma
indicação maravilhosa: a campanha save the words!, do oxford dictionaries.
o site é lindo e o tema absolutamente interessante, embora possa parecer meio
sofisticado demais para nós tapuias, que nem chegamos ao primitivíssimo "salve os
livros", que estão em acelerado ritmo de extinção (os honestos, digo eu).

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05/02/2009
isso mesmo!
mais um foguetinho, este para o instituto ecofuturo.
faz um ano que estou batendo nessa história do patrocínio da suzano celulose para
a edição das obras-primas da nova cultural [clique aqui].
ontem vi na publishnews que o instituto ecofuturo, a ong da suzano, tinha doado 50
mil livros para a biblioteca nacional. fiquei meio aflita porque o ecofuturo, em
seus concursos de redação nas escolas públicas, adorava distribuir como prêmio
justamente aquelas malfadadas coleções.
já pensou se ele estivesse entregando pilhas e pilhas daquele lixo tóxico na
biblioteca nacional, a qual, por sua vez, vai distribuir a doação entre
bibliotecas do brasil todo?
bom, escrevi correndo um e-mail para a sra. christine fontelles, da referida ong,
expondo minha preocupação. hoje recebi a resposta: a direção do instituto
ecofuturo informa que suspendeu as doações da coleção obras-primas até receber um
relatório escrito da nova cultural, atualizando sobre os problemas e pendências
referentes às traduções, conforme compromisso assumido pela editora em reunião
realizada em 19 de janeiro no escritório do ecofuturo.
que coisa! e pensar que a contrapartida do patrocínio da suzano para a nova
cultural tinha sido receber 1% do faturamento com as vendas dos livros, quase
metade deles espúrios, e mais 900 coleções a seu dispor (45.000 volumes, sendo uns
20 mil pura fraude!)...
muito bem, sr. ecofuturo, isso mesmo - sinta-se mexido em seus brios ao constatar
quão solenemente foi ludibriado em sua boa-fé e que papelão lhe faz passar sua
parceira amiga-da-onça. mostre firmeza, pois o brasil não merece essa banda podre
do livro.
foto: federico carotti

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o retorno do leviatã

um foguetório para joão paulo monteiro: sua abalizada tradução de o leviatã de


hobbes tinha sido garfada pela claret, que a publicou em nome de "jean melville".

após várias peripécias, finalmente a claret voltou atrás e, agora em 2009,


substituiu o infame plágio por uma outra tradução, esperemos que desta feita
legítima.

parabéns a dr. joão paulo monteiro, cuja indignação não esmoreceu apesar das
enrolações dos demais envolvidos no episódio, e conseguiu, se não reverter, pelo
menos sustar o embuste.

o outro crime de lesa-tradução envolvendo joão paulo monteiro é o saque ao espólio


de seu pai adolfo casais monteiro, autor da também clássica tradução de o
desespero humano, de kierkegaard, garfada pela claret em nome de alex marins.

espero logo poder soltar um segundo foguetório para ele.

foto: federico carotti

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04/02/2009
essa eu não entendi 2
aliás, essas memórias de sherlock holmes da claret, garfando a tradução de joaquim
machado e atribuindo-a a um "john green", têm o isbn 85-7232-510-7.

só que na agência do isbn esse número corresponde a:

ISBN: 85-7232-510-7
TÍTULO: A DIVINA COMEDIA
AUTOR: ALIGHIERI, DANTE
TRADUTOR: MARINS, ALEX

imagem: emoticon, yike

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03/02/2009
essa eu não entendi

conan doyle, memórias de sherlock holmes

tradução joaquim machado (melhoramentos)*


x
cópia john green (martin claret)

*em portugal, pela bertrand

o livro tem onze histórias. pode-se pegar qualquer uma, à vontade. vou pegar a
segunda, a face amarela.

ao publicar estes breves esboços, baseados em numerosos casos, de que os dotes


singulares de meu companheiro me fizeram ouvinte e, eventualmente, ator em algum
drama estranho, é muito natural que me demore mais nos seus êxitos do que nos seus
fracassos. não é tanto por amor à sua reputação, porque na verdade era quando não
sabia mais o que fazer que sua energia e vitalidade se tornavam mais admiráveis,
mas porque acontecia muitas vezes que onde ele fracassava nenhum outro era bem
sucedido. entretanto, quase sempre acontecia que, até errando, a verdade era ainda
descoberta. tenho algumas meias dúzias de casos dessa natureza, dos quais o
negócio da segunda mancha e o que agora vou narrar são os dois que apresentam os
mais fortes característicos de interesse. (joaquim machado)

ao publicar estes breves esboços, baseados em numerosos casos, de que os dotes


singulares de meu companheiro me fizeram ouvinte e, eventualmente, ator em algum
drama estranho, é muito natural que me demore mais nos seus êxitos do que nos seus
fracassos. não é tanto por amor à sua reputação, porque na verdade era quando não
sabia mais o que fazer que sua energia e vitalidade se tornavam mais admiráveis,
mas porque acontecia, muitas vezes, de onde ele fracassar nenhum outro ser bem
sucedido. entretanto, quase sempre acontecia de, até errando, a verdade ser ainda
descoberta. tenho algumas meias dúzias de casos dessa natureza, dos quais o
negócio da segunda mancha e o que agora vou narrar são os dois que apresentam os
mais fortes característicos de interesse. (john green)

[...] embora isto muito me aborreça, watson, eu tenho muita necessidade de um


caso, e esse me parece de importância a julgar pela impaciência do homem. olá!
esse cachimbo em cima da mesa não é o seu! ele o deve ter esquecido. um bonito
cachimbo velho de roseira, com um cabo comprido que os tabaquistas chamam âmbar.
imagino quantos bocais de âmbar verdadeiro há em londres. alguns acham que ter uma
mosca é o seu sinal. ora, é perfeitamente um ramo de negócio simular moscas no
âmbar simulado. deve ter sofrido um distúrbio mental para deixar o que
evidentemente muito estima. (joaquim machado)
[...] embora isto muito me aborreça, watson, eu tenho muita necessidade de um
caso, e esse me parece de importância a julgar pela impaciência do homem. olhe!
esse cachimbo em cima da mesa não é o seu! ele o deve ter esquecido. um bonito
cachimbo velho de roseira, com um cabo comprido que os tabaquistas chamam âmbar.
imagino quantos bocais de âmbar verdadeiro há em londres. alguns acham que ter uma
mosca é o seu sinal. ora, é perfeitamente um ramo de negócio simular moscas no
âmbar simulado. deve ter sofrido um distúrbio mental para deixar o que
evidentemente muito estima. (john green)

e por aí vai, de cabo a rabo.

mas o mais engraçado nessa história é que, naturalmente, entrei em contato com a
melhoramentos, por telefone e e-mail, para me informar se ela havia cedido a
tradução à claret. a resposta demorou uns dez dias, mas veio: sim, a melhoramentos
cedeu os direitos de tradução desta obra para a claret.

aí, a pergunta que fica é: então por que a claret, se tinha autorização da
melhoramentos, tirou fora o nome de joaquim machado, o tradutor original, e tascou
o nome visivelmente inventado de "john green"? é um conluio de ambas contra o
pobre joaquim machado?

bom, não me senti muito esclarecida, indaguei de novo à melhoramentos se era isso
mesmo e expus minha perplexidade - pois não faz sentido na minha cabeça uma
editora adquirir uma licença e mesmo assim apresentar a obra sublicenciada como
plágio (pois plágio continua a ser, só que agora autorizado pela detentora dos
direitos...). não tive resposta, tomei o silêncio como confirmação, mas continuo a
achar que é uma bizarrice sem tamanho.

sinceramente penso que todo esse pessoal deveria ter muito mais respeito para com
os leitores. é tão absurdo assim esperar que os livros sejam produtos
transparentes e honestos, com dados corretos e créditos verdadeiros? não seria o
normal? e as editoras lesadas não deveriam se proteger a si próprias e proteger a
nós, incautos consumidores, no que estivesse ao alcance delas?

não sei... ando me desiludindo um pouco com essa gente. afinal quem compra os
livros delas somos nós. não acho certo.

imagens: blackberrybooks.com; tux.crystalxp.net

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frase do dia
It is better to fail in originality than to succeed in imitation (herman melville,
moby dick)

obrigada a federico.

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02/02/2009
para visitar
interessante: não deixe de visitar.

www.plagiarius.com
Architects: Reinhard Angelis, Planung Architektur Gestaltung
Photographers: ©Tomas Riehle / artur

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01/02/2009
telegraph
essa lista é mais antiguinha, de abril de 2008, mas também muito simpática: os 110
livros da biblioteca perfeita do telegraph - os 10 melhores em 11 categorias.

especial para a raquel sallaberry, do jane austen em português, que é também a


autora da foto ao lado: a srta. de orgulho e preconceito está entre os 10
clássicos, junto com homero, swift, tolstói et al.

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31/01/2009
jack london na claret

mais um cotejo que estava no fundo do baú: jack london, white fang.

caninos brancos teve várias traduções no brasil, desde a primeira feita por
monteiro lobato até a mais recente de rosaura eichenberg.

o insaciável claret recorreu ao infatigável nassetti, garfando a tradução


portuguesa de olinda gomes fernandes, pela editora civilização, porto, 1969. a
tradução de olinda traz o nome de colmilhos brancos, mas o inclemente claret
preferiu a forma consagrada no brasil, caninos brancos mesmo.

este plágio traz as substituições habituais na claret - alterações cosméticas da


primeira frase; troca de termos menos usuais, como "arrostar" por "enfrentar",
"cabedal" por "couro macio", "terra ártica" por "terra do pólo norte" e assim por
diante.

afora isso, a malandragem despudorada de sempre, marca registrada da pseudo-


editora.

Capítulo I.
- civilização:
[...] Um vento recente arrancara às árvores o seu manto de geada, e elas pareciam
inclinar-se umas para as outras, negras e agoirentas, na luz agonizante. Reinava
sobre a paisagem um silêncio imenso. Aquela região era desolada, sem vida, sem
movimento, tão só e gelada que a palavra tristeza não chegava para a descrever.
Havia nela uma sugestão de riso, mas de um riso mais terrível que qualquer
tristeza - um riso sem alegria, como o sorriso da esfinge, um riso frio como o
gelo e com algo do horror da infalibilidade. Era a sabedoria despótica e
incomunicável do riso eterno perante a futilidade e os esforços da vida. Era a
terra árctica, agreste e gelada. (olinda gomes fernandes)

- claret:
[...] Um vento recente arrancara às árvores o seu manto de geada, e elas pareciam
inclinar-se umas para as outras, negras e agourentas, na luz agonizante. Reinava
sobre a paisagem um silêncio imenso. Aquela região era desolada, sem vida, sem
movimento, tão só e gelada que a palavra tristeza não era suficiente para a
descrever. Havia nela uma sugestão de riso, mas de um riso mais terrível que
qualquer tristeza - um riso sem alegria, como o sorriso da esfinge, um riso frio
como o gelo e com algo do horror da infalibilidade. Era a sabedoria despótica e
incomunicável do riso eterno perante a futilidade e as agruras da vida. Era a
terra do pólo Norte, agreste e gelada. (pietro nassetti)

Capítulo III
- civilização:
[...] Henry sentou-se no trenó e ficou a observar. Não podia fazer mais nada, já
perdera de vista o companheiro; mas, de vez em quando, aparecendo e desaparecendo
por entre os grupos isolados de árvores, lobrigava o Desorelhado. Calculou que o
cão estava perdido. Dir-se-ia que o próprio animal tinha consciência do perigo em
que se encontrava, mas corria traçando um extenso círcuo exterior, enquanto a
alcateia de lobos se movimentava num círculo interior e mais acanhado. Tornava-se
fútil admitir a possibilidade de o cão ultrapassar o círculo formado pelos seus
perseguidores e conseguir alcançar o trenó. (olinda gomes fernandes)

- claret:
[...] Henry sentou-se no trenó e ficou a observar. Não podia fazer mais nada, já
perdera de vista o companheiro; mas, de vez em quando, aparecendo e desaparecendo
por entre os grupos isolados de árvores, lobrigava o Desorelhado. Calculou que o
cão estava perdido. Dir-se-ia que o próprio animal tinha consciência do perigo em
que se encontrava, mas corria traçando um extenso círcuo exterior, enquanto a
alcatéia de lobos se movimentava num círculo interior e mais acanhado. Tornava-se
fútil admitir a possibilidade de o cão ultrapassar o círculo formado pelos seus
perseguidores e conseguir alcançar o trenó. (pietro nassetti)

Último capítulo
- civilização:
[...] A este não se podia censurar o seu juízo errado. Passara toda a vida a
tratar seres humanos, produtos de uma civilização que os enfraquecera, que levavam
vida fácil e descendiam de muitas gerações criadas de igual modo. Comparados com
Colmilhos Brancos, não passavam de entes frágeis e débeis, incapazes de se
agarrarem à vida com força suficiente. Ele vinha directamente da selva; no meio
onde se criara, os fracos não subsistem; e não havia quaisquer contemplações.
(olinda gomes fernandes)

- claret:
[...] A este não se podia censurar o seu juízo errado. Passara toda a vida a
tratar seres humanos, produtos de uma civilização que os enfraquecera, que levavam
vida fácil e descendiam de muitas gerações criadas de igual modo. Comparados com
Caninos Brancos, não passavam de entes frágeis e débeis, incapazes de se agarrarem
à vida com força suficiente. Ele vinha diretamente da selva; no meio onde se
criara, os fracos não subsistem; e não havia quaisquer contemplações. (pietro
nassetti)

em tempo: outra coisa absolutamente obrigatória nos livros é a ficha


catalográfica. esqueci de comentar que a claret não é dada a tais vezos, sequer a
colocar o nome original da obra na página de créditos.

em compensação, ela nunca se esquece de especificar "copyright desta tradução:


editora martin claret, ano tal", nem de estampar cinicamente, na primeira página,
o soturno selo da abdr: "cópia não autorizada é crime: respeite o direito
autoral".

imagens: capa ed. civilização, 1969; selo da abdr

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30/01/2009
livreto e cartilha
desde dezembro de 2007, o minc está promovendo debates e seminários entre a
sociedade civil, recolhendo subsídios para elaborar uma proposta de reformulação
da atual lei do direito autoral.

finalmente saiu um esboço inicial da proposta elaborada pela coordenação geral do


direito autoral, minc, incluindo vários subsídios oferecidos pelas mais diversas
entidades artísticas, literárias e científicas durante aqueles debates e
seminários.
para baixar em pdf:

e lançaram também uma cartilhinha superprática, tipo as 11 dúvidas mais


frequentes, em pdf, já colocando mais ou menos a forma de abordagem com que a cgda
está tratando o problema.

durante seis meses, até junho de 2009, haverá um amplo processo de consulta
pública, para discussão e avaliação da proposta da cgda. para as entidades
geralmente pouco ouvidas em processos que tantas vezes ficam restritos aos
corredores de brasília, acho uma ocasião e tanto! e mesmo para o mero fulaninho
individual, feito eu, que se interessa por essas coisas de cidadania cultural,
acho uma boa.

fiquei com vontade de escrever para eles e dizer que cuidem melhor dos isbns, por
exemplo, e que diminuam esse prazo espantoso de 70 anos após a morte do autor para
sua obra entrar em domínio público. 70 anos?! imaginem, o updike morreu ontem ou
anteontem, só em 2080 é que os rabbitts dele vão para domínio público?! minha
tataraneta não vai ter a menor idéia de quem foi o fulano. (não errei na
aritmética: é 2080 mesmo porque os 70 anos são contados a partir de 01 de janeiro
do ano subsequente à morte da pessoa). aí é dureza. em tempo: o prazo mínimo para
entrar em dp, por convenção internacional, é de 50 anos após a morte do autor.
chega, né?

um exemplo mais próximo da gente: o drummond. só vai para dp em 2058...

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viva legal, faça legal!

nessas irregularidades que venho apontando nesse tempo todo, que envolvem plágios,
apropriações indébitas, contrafações etc., deu para notar também a alta incidência
de irregularidades no número de isbn dessas obras, obrigatório por lei.

ou não estão cadastradas de jeito nenhum na agência brasileira do isbn, ou estão,


mas com dados que não batem com os dados no livro impresso, ou ainda têm um
registro para um determinado número de isbn que não bate com o isbn do livro
impresso.

já expus em outro post a importância que, a meu ver, tem o isbn como identificador
de um livro - não só por razões comerciais ou catalográficas, mas até como um
indicador da maior ou menor transparência nos procedimentos adotados pelas
editoras.

então gostaria de lembrar ao grupo geração, como responsável pelo selo jardim dos
livros, que todos os títulos do referido selo (à exceção de um, justamente a arte
da guerra do tal nikko bushido, de triste fama) apresentam problemas de isbn: ou
não estão cadastrados ou, quando cadastrados, os números não batem com os que
estão no catálogo do site. em vista da decisão do sr. luiz emediato em proceder à
retirada de circulação dos títulos com fraude, eu sugeriria humildemente que
aproveitasse a ocasião e determinasse a regularização dos isbns dos demais
títulos.

imagem: en.wikipedia.org

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