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24/03/2009
listinha dos plagiados
a listinha dos tombados à sanha dos bandoleiros, que é atualizada conforme vou
publicando os cotejos, fica em duas partes: uma no cabeçalho do blog e outra num
post chamado "outras vítimas", com link em "clique para ver", na coluna da
direita.
mas acho que não custa apresentá-la com sua última atualização. muito, muito
infelizmente até hoje não consegui tirar nenhum nome. os candidatos mais fortes
seriam:
1. joão paulo monteiro, com o leviatã de hobbes garfado pela martin claret sob o
nome de "jean melville", para o qual até soltei um foguetinho. segundo o que dra.
maria luiza egéa, advogada da martin claret, me disse em setembro do ano passado e
me autorizou a usar como fiel informação, sua cliente estaria fechando um acordo
com a editora lesada, a martins fontes, e indenizaria o tradutor. de fato a martin
claret até publicou outra tradução, mas fez o favor de NÃO retirar o plágio de
circulação. tampouco publicou qualquer retificação dos créditos em errata pública,
com vistas a esclarecer os leitores que haviam comprado muitas dezenas e dezenas
de milhares da fraude. a sociedade, portanto, continua ludibriada em sua boa-fé e
atropelada pela incontrolável vigarice da martin claret.
2. luiz costa lima, com o vermelho e o negro de stendhal, garfado pela nova
cultural sob o nome de "maria cristina figueiredo da silva" desde 1995, na coleção
"os imortais da literatura", até recentemente, nas sucessivas reedições pela
coleção "obras-primas", em parceria com o instituto ecofuturo. seu advogado, dr.
marco túlio de barros castro, chegou a um acordo com a editora, a qual ressarciu o
tradutor e até publicou uma pífia errata na imprensa. o nome de luiz costa lima
continua na listinha porque acho que nenhum leitor deve ter visto a retificação e
nenhuma biblioteca deve ter se dado conta. calculo por baixo, por baixo, uns 150
mil exemplares assim. como o principal lesado é o leitor, é a sociedade, falta
ainda uma verdadeira reparação, substituindo os exemplares fraudados por obras
legítimas, e uma errata decente que possa preencher - ah, conselheiro acácio - sua
finalidade de errata.
alguns desses casos sofreram mais de um saque. por exemplo: monteiro lobato,
octavio mendes cajado, paulo m. oliveira, oscar mendes, mário quintana, j.b. mello
e souza.
sobre as diversas atribuições internas: ao sr. luiz fernando emediato (da geração)
cabe a batuta editorial, o sr. yehezkel (da leitura) comanda o lado comercial e
logístico, e os irmãos ado e cláudio varela (da jardim dos livros) atendem à parte
comercial em são paulo e à editoria de livros de negócios.
infelizmente esse novo grupo editorial tem mostrado algumas graves deficiências no
quesito integridade: não só a embusteira arte da guerra de sun tzu, na edição de
bolso e em brochura, teve calorosa acolhida no catálogo do grupo, como este foi
enriquecido há menos de um ano com mais duas pérolas do plagiato nacional, o
essencial do alcorão e o essencial de jesus. veja aqui.
embora o sr. luiz fernando emediato tenha declarado que tomou a decisão de tirar o
lixo de circulação, parece que a coisa ficou só na intenção e na conversa mole,
pois tudo continua como dantes na terra de abrantes. ou seja, o grupo geração
abriga, publica, distribui e mantém em circulação obras fraudadas, com plena
consciência dos fatos - sem contar uma notificaçãozinha para mim, dizendo que eu
estava mentindo. na época não gostei e continuo a não gostar. é bom deixar claro:
plágio é feio, plágio é crime, plágio não se faz, e o sr. luiz fernando emediato,
antes de tratar seus leitores como ralé, deveria exercer sua responsabilidade
editorial e ir arrancar suas ervas daninhas.
quero apresentar aqui mais uma fraude descabelada da jardim dos livros, em edição
anterior à fusão com o grupo geração, mas mantida intocada no atual catálogo do
referido grupo. aplicam-se a ela os termos de jorio dauster perante a trapaça
bélica do jardim dos livros: "Não resta dúvida de que, ao adquirir a Jardim dos
Livros e continuar a publicar as obras que passaram a seu controle no bojo dessa
operação, a Editora Geração passou a ser responsável pela distribuição do plágio".
1. silvio deutsch
deveria haver um prefácio, eu sei. uma preparação do cenário ou uma exposição de
motivos. mas não posso esperar. paris é tudo o que sempre sonhei, ainda maior e
mais cheia de inspiração do que em meus sonhos de criança - e um dia, ainda esta
semana, vou descrever minhas impressões.
como fui instruído, na carta em que comunicavam que tinha sido aceito, apresentei-
me ontem no hospital salpêtrière e esperei o dia todo que o médico-chefe me
indicasse algum caso. mas não recebi nenhum. na verdade, o dr. ducasse parecia não
perceber minha presença, e disse-me de forma ríspida que esperasse, quando cheguei
perto dele. sexta-feira, claro, é o dia do mestre, e nessa manhã fui mais cedo
para o anfiteatro, a fim de ver pela primeira vez o professor charcot. poucos
médicos já tinham chegado para a demonstração, e consegui um lugar excelente na
segunda fila.
atrás e acima de mim, outras pessoas logo ocuparam seus lugares nas fileiras de
assentos, e um burburinho de conversas encheu a sala. virei-me para olhar - não
que esperasse ver alguém conhecido naquele meio elegante. ainda assim, examinei a
platéia à procura de um rosto familiar, com quem pudesse entabular uma conversa,
porque, para dizer a verdade, tenho estado um tanto solitário desde que cheguei a
esta cidade, especialmente porque não recebi nenhuma resposta de tia sophie. o
homem ao meu lado estava imerso numa monografia sobre histeria, e hesitei em
perturbá-lo. ao redor, homens colocavam-se em poses visivelmente estudadas e
falavam da forma mais afetada possível ou chamavam alguém do outro lado da sala,
mas, apesar da aparente disposição gregária, achei que os gestos pareciam
calculados para provocar um efeito, como se cada um desejasse ser notado pelos
outros. senti falta da turbulência com que nós, estudantes, aguardávamos uma
palestra em budapeste. em paris, suponho que tal falta de reserva viesse a ser
considerada inapelavelmente provinciana.
2. pedro h. berwick
deveria haver um prefácio, eu sei. uma preparação do cenário ou uma exposição de
motivos. mas não posso esperar. paris é tudo o que sempre sonhei, ainda maior e
mais cheia de inspiração do que em meus sonhos de criança - e um dia, ainda esta
semana, descreverei minhas impressões.
como fui instruído, na carta na qual comunicavam que tinha sido aceito,
apresentei-me ontem no hospital salpêtrière e esperei durante todo o dia que o
médico-chefe me indicasse algum caso. mas não recebi nenhum. na verdade, o dr.
ducasse parecia não perceber minha presença e disse-me, de forma ríspida, que
esperasse, quando cheguei perto dele. sexta-feira, claro, é o dia do mestre, e
nessa manhã fui mais cedo para o anfiteatro, a fim de ver pela primeira vez o
professor charcot. poucos médicos já tinham chegado para a demonstração, e
consegui um lugar excelente na segunda fila.
atrás e acima de mim, outras pessoas rapidamente ocuparam seus lugares nas
fileiras de assentos, e um burburinho de conversas encheu a sala. virei-me para
olhar - não que esperasse ver alguém conhecido naquele meio elegante. ainda assim,
examinei a platéia à procura de um rosto familiar, com quem pudesse entabular uma
conversa, porque, para dizer a verdade, tenho estado um tanto solitário desde que
cheguei a essa cidade, especialmente porque não recebi nenhuma resposta de tia
sophie. o homem ao meu lado estava imerso em uma monografia sobre histeria, e
hesitei em perturbá-lo. ao redor, homens colocavam-se em poses visivelmente
estudadas e falavam da forma mais afetada possível ou chamavam alguém do outro
lado da sala, mas, apesar da aparente disposição gregária, achei que os gestos
pareciam calculados para provocar um efeito, como se cada um desejasse ser notado
pelos outros. senti falta da turbulência com que nós, estudantes, aguardávamos uma
palestra em budapeste. em paris, suponho que tal falta de reserva viesse a ser
considerada inapelavelmente provinciana.
1. silvio deutsch
se este diário terminar aqui, quer dizer que caminhei para uma armadilha, como
desconfio. significa que sou o elo fraco que deve ser eliminado. essa conspiração
pode nunca ter existido. aceito minha morte, mas não posso aceitar que jamais
tenha vivido, por isso deixo este diário num lugar em que ficará empoeirado, junto
com os tratados de teologia de meu avô: não foram perturbados durante duas
gerações, e, como eles, este diário ficará fechado durante cinquenta anos. um dia,
quando eu já não puder me importar, será encontrado, e voltarei à vida na
imaginação do leitor.
aí, nas semanas e meses seguintes, o motivo da minha morte será revelado e minha
reputação como patriota e mártir pela liberdade da hungria irá juntar-se à memória
de meu pai e de meu irmão. sou o último da nossa linhagem. o nome morre comigo.
outros nomes mais ilustres - aponyi, kossuth, karolyi, tisza, andrassy - são
conhecidos além das nossas fronteiras. esses nomes são imortais. no entanto, tenho
esperança de que, nos corações e mentes do povo deste pequeno canto da hungria, a
solene dignidade de drácula irá subsistir carinhosamente até que desapareça
mansamente da memória das pessoas ainda vivas.
2. pedro h. berwick
se este diário terminar aqui, quer dizer que caminhei para uma armadilha, como
desconfio. significa que sou o elo fraco que deve ser eliminado. essa conspiração
pode nunca ter existido. aceito minha morte, mas não posso aceitar que jamais
tenha vivido, por isso deixo este diário em um lugar em que ficará empoeirado,
junto com os tratados de teologia de meu avô: não foram perturbados durante duas
gerações, e, como eles, este diário ficará fechado durante 50 anos. um dia, quando
eu já não puder me importar, será encontrado, e voltarei à vida na imaginação do
leitor.
aí, nas semanas e meses seguintes, o motivo da minha morte será revelado e minha
reputação como patriota e mártir pela liberdade da hungria irá juntar-se à memória
de meu pai e de meu irmão. sou o último da nossa linhagem. o nome morre comigo.
outros nomes mais ilustres - aponyi, kossuth, karolyi, tisza, andrassy - são
conhecidos além das nossas fronteiras. esses nomes são imortais. no entanto, tenho
esperança de que, nos corações e mentes do povo deste pequeno canto da hungria, a
solene dignidade de drácula subsistirá carinhosamente até que desapareça
mansamente da memória das pessoas ainda vivas.
há uma famosa tradução de lord jim, de joseph conrad, feita por mário quintana.
ela tinha sido garfada pela editora nova cultural (na coleção "obras-primas", em
parceria com a suzano celulose). houve troca de meia-dúzia de palavras e criou-se
uma fantasminha pluft para pôr no lugar, com o nome de "carmen lia lomonaco".
lorde jim pela martin claret, claretmente, aparecia com "pietro nassetti" como
tradutor. aí, em 2007, a claressetti publica uma nova edição, trazendo como
tradutor - ora, quem? mário quintana. aliás, a claret é tão dada aos espíritos e
fantasmas que conseguiu diretamente no além um "copyright desta tradução: Editora
Martin Claret, 2007". tudo bem, trocou o plágio pela contrafação, pois, ao que eu
saiba, a detentora dos direitos de mário quintana, sua sobrinha elena quintana,
não vendeu os direitos de tradução para a claret. (e, em caso de autorização de
uso, seria uma licença, não um copirraite.) aliás, só posso tributar esse ingente
esforço de simular algum crédito correto ao fato de que, naquela época, a objetiva
estava negociando a compra da claret, e talvez ela estivesse tentando mostrando
serviço. que seja.
quem manda? os figurões foram gulosos demais em 1998, conseguiram proibir o xerox
nas escolas, aí foi o boom da cópia digital. agora ficam propondo por aí soluções
capengas para tentar manter o monopólio do livro como bem exclusivamente
comercial, e continuam esquecendo que livro também é cultura, ou seja, precisa ter
um mínimo de circulação social...
imagem: www.95bellstreet.com
é uma proeza e tanto! tomara que a tradutora tenha se saído bem. quem quiser se
deliciar com o original e ter uma leve idéia dos tremendos nós para verter a obra
para o português, aqui tem o link para o download em francês.
imagem: oaleph2008.files.wordpress.com
capítulo I
b. "jean melville"
É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro na posse de uma bela
fortuna deve estar necessitando de uma esposa.
Por muito pouco que sejam conhecidos os sentimentos ou o modo de pensar de tal
homem ao entrar pela primeira vez em uma localidade, essa verdade encontra-se de
tal modo enraizada no espírito das famílias vizinhas que ele é considerado como
propriedade legítima de uma de suas filhas.
- Meu caro Mr. Bennet - disse-lhe sua mulher certo dia -, sabe que Netherfield
Park foi finalmente alugado?
Mr. Bennet respondeu-lhe que não sabia.
- Pois foi - tornou ela -; Mrs. Long ainda há pouco esteve aqui e contou-me tudo.
Mr. Bennet nada respondeu.
- Não quer saber quem o alugou? - exclamou a mulher, impaciente.
- A senhora deseja contar, e eu não me oponho a ouvi-la.
Esse convite foi mais que suficiente.
- Pois saiba, meu caro, que, pelo que Mrs. Long me disse, Netherfield foi alugado
por um jovem de grande fortuna, proveniente do norte de Inglaterra. Chegou na
segunda-feira, em uma carruagem puxada por quatro cavalos, para visitar o local, e
ficou tão encantado que logo aceitou as condições de Mr. Morris. Ocupará a casa
antes do dia de São Miguel e alguns de seus criados deverão chegar já no fim da
próxima semana. (p. 13)
Capítulo XXIV
a. maria francisca ferreira de lima
Capítulo XXIV
b. "jean melville"
Capítulo XLVIII
a. maria francisca ferreira de lima
Capítulo XLVIII
b. "jean melville"
sobre essa ishperteza, veja também "quanta enganação!". ela encontra solidário
valhacouto entre a fiel turminha: livraria da travessa, livraria da vila, livraria
cultura, livraria loyola, livrarias siciliano etc.
I. Civilização:
II. Civilização:
II. Claret:
III. Civilização:
III. Claret:
IV. Civilização:
E toda refulgente de pérolas e rubis
era a linda porta do palácio,
através da qual passava, passava e passava,
a refulgir sem cessar,
um turba de ecos cuja grata missão
era apenas cantar,
com vozes de inexcedível beleza,
o talento e o saber de seu rei.
IV. Claret:
V. Civilização:
V. Claret:
VI. Civilização:
VI. Claret:
solidários responsáveis por mais essa pichelingada que se arrasta desde 1999:
leitura, saraiva, livraria da vila, loyola etc.
imagem: www.leyline.com.br
o lobo do mar foi publicado pela companhia editora nacional em 1934, e nela se
mantém até hoje, na enésima edição. em 1998 a martin claret abocanhou a obra, e
desde então vem trapaceando o público em sucessivas edições com a tradução roubada
a monteiro lobato e atribuída a "pietro nassetti".
monteiro lobato
CAPÍTULO 1
Não sei por onde começar, embora por brincadeira eu costume atribuir a causa de
tudo a Charley Furuseth. Este amigo possuía uma casa de campo em Mill Valley, onde
repousava durante os meses de inverno lendo Nietzsche e Schopenhauer; já os verões
passava imerso no trabalho, a suar no tumulto da cidade. Não fosse meu costume de
aparecer por lá aos sábados, ficando até a semana seguinte, e aquela manhã de
janeiro não me teria pilhado a vogar na baía São Francisco. Meu barco, o
"Martinez", oferecia toda a segurança; tratava-se dum barco recém-construído e
ainda na sua quarta ou quinta viagem de carreira entre Sausalito e São Francisco.
O que não oferecia segurança era o nevoeiro reinante, apesar de que, na minha
ignorância das coisas do mar, não me passasse pela cabeça a menor idéia de perigo.
Soprava uma brisa fresca e eu me sentia sozinho dentro da névoa úmida, embora com
a consciência de que, lá em cima, na casa de vidro, estavam o piloto e o homem que
devia ser o capitão.
Lembro-me que me pus a refletir sobre a divisão do trabalho. Graças a ela me via
dispensado do estudo e conhecimento dos nevoeiros, marés e o mais relativo à
navegação sempre que ia de visita a Charley Furuseth, lá do outro lado de baía.
Ótimo que os homens se especializem no trabalho, ponderava eu. Os conhecimentos
marítimos do capitão e do piloto, por exemplo, permitem que milhares de pessoas
não pensem nisso, e uma, como eu, se dedique a estudos como aquele sobre o lugar
de Poe na literatura norte-americana, que eu publiquei na Atlantic. Ao subir para
bordo tinha visto, numa cabina entreaberta, um homem alentado a ler com atenção
essa revista — a ler o meu ensaio. Era outra demonstração do valor da divisão do
trabalho. O "conhecimento especial" do piloto e do capitão permitiam que aquele
passageiro se inteirasse do meu "conhecimento especial" sobre Poe, enquanto era
"navegado" com toda a segurança de São Francisco a Sausalito.
Minhas reflexões foram interrompidas pelo aparecimento no convés dum homem de cara
vermelha, que ao deixar a sua cabina bateu a porta com violência e aproximou-se de
mim manquitolando e martelando o chão com uma perna de pau. Isso, aliás, não
impediu que eu tomasse rápida nota mental daqueles pensamentos, para pô-los num
artigo que tinha em vista escrever sobre a necessidade da liberdade estética. O
sujeito lançou uma olhadela para a casa do piloto e em seguida pôs-se a contemplar
o nevoeiro, de pernas abertas, com visível ar de satisfação. Percebi ser homem
afeito às coisas do mar.
— Tempo destes é que os põem de cabelos brancos tão cedo, murmurou, indicando com
um movimento de cabeça a casa de vidro onde estavam o piloto e o capitão.
— Qual o quê! respondi na minha santa ignorância. Há a bússola para orientá-los. E
há o leme que dirige o navio. E há os mapas. O negócio é simples como o abc. Tudo
matemático.
— Qual o que, heim? rosnou o homem. Simples abc, heim? Certeza matemática, heim?
E cresceu para mim ao dizer isto.
— Que acha desta maré que incha todo o Golden Gate, senhor? perguntou-me quase num
rugido. Com que rapidez vaza ela? Em que rumo? Vamos lá, senhor! Está ouvindo
aquele som? Bóia de campainha — e mal a ouvimos já estamos sobre ela. Veja como
mudam de lugar... Realmente, de dentro do nevoeiro brotava um som de campainha — o
que fez o piloto dar à roda do leme com violência, até que o som, que vinha pela
nossa frente, passasse a vir de lado. Enquanto isso a sereia de bordo pusera-se a
apitar com a sua voz rouca, em resposta a outros apitos brotados de dentro da
cerração.
— É algum "ferry-boat", explicou o homem da perna de pau, referindo-se a um apito
que vinha da direita. E aquele lá, está ouvindo? Buzina! Buzina de assoprar com a
boca. É o que usam nas escunas. Cuidado, mestre escuneiro! O inferno está hoje com
vontade de comer gente...
O invisível "ferry-boat" apitava com furor e a buzina da escuna respondia com
desespero.
— Estão agora a trocar cumprimentos e explicações, disse o homem logo que a fúria
dos avisos cessou.
Seus olhos enchiam-se do brilho da excitação à medida que me ia traduzindo em
língua de gente a fala daqueles instrumentos de fazer barulho no mar.
— Ouça! Aquilo é sinal para evolução à esquerda... E esse acolá, com voz de sapo,
é grito de escuna a vapor que forceja contra a maré.
Um silvo fino e esganiçado rompeu à frente. Os gongos do "Martinez" soaram fazendo
as rodas propulsoras afrouxarem o andamento, que só foi retomado quando aquele
trilhar de grilo entre feras rugidoras se sumiu ao longe. Olhei para o meu homem,
à espera de interpretação.
— Lancha, disse ele. Dessas endemoninhadas lanchas que só mesmo a gente metendo a
pique. Umas pestes que vivem a causar trapalhadas. Qualquer imbecil julga-se no
direito de meter-se nelas e sulcar as águas apitando com impertinência para que o
mundo inteiro saiba que tais pulgas existem. E é preciso levá-las em conta. Estão
no uso dum direito — direito de caminho pela superfície das águas. Direito, ah,
ah!
Diverti-me com a cólera do homem, e enquanto ele andava de cá para lá,
manquitolando na sua perna de pau, pus-me a refletir no romantismo da bruma.
Romantismo, sim. É romântico o nevoeiro que tudo envolve com o seu manto cinzento,
de passo que os homens — meros átomos — blasfemam nos corcéis de aço flutuantes
através do Mistério, às cegas dentro do Invisível, com palavras de confiança na
boca e a incerteza e o medo nos corações.
A voz do meu companheiro fez-me voltar à realidade e sorrir. Eu também havia
devaneado às tontas e às cegas dentro do mistério, julgando seguir caminho seguro.
— Olá! dizia ele. Vem algo ao nosso encontro, está ouvindo? Vem rápido e em linha
reta. Juro que não nos percebeu ainda. Não ouve a nossa sereia. O vento está a
nosso favor.
A brisa fresca soprava de frente, e pude ouvir bem nítido o silvo a que o meu
homem se referia.
— "Ferry-boat"? perguntei.
O homem fez com a cabeça sinal que sim e acrescentou:
— Do contrário não viria nessa marcha. E com uma risada nervosa: — Estão
assustados, lá em cima...
Olhei para a casa do piloto. O capitão, com a cabeça e ombros de fora, cravava
fixamente os olhos no nevoeiro, como tentando devassá-lo à força. Suas feições
mostravam ansiedade — a mesma que vi no rosto do meu companheiro, agora de bruços
na amurada e também com os olhos presos no perigo invisível que se alapava dentro
da névoa.
E o que tinha de dar-se, deu-se com incrível rapidez. Rompido por uma cunha, o
nevoeiro mostrou a proa dum vapor a emergir franjado de espuma na linha d'água,
com bigodes dum Leviatã. Pude ver a casa do piloto, com um homem de barbas brancas
assomado a uma das janelas. Trajava uniforme azul, e lembro-me da impressão de
calma que me deu.
Era terrível tal calma em tais circunstâncias. O homem aceitava o seu destino,
avançava com ele de mãos dadas, a medir friamente o choque. Seu olhar inquisitivo
fixava-se no "Martinez" como para determinar o ponto exato da colisão — e em nada
se alterou quando o nosso piloto, branco de raiva, berrou-lhe: — Foi você o
culpado!
A observação era por demais óbvia para tomar necessária qualquer resposta.
— Agarre-se no que puder e agüente-se! gritou-me o homem da perna de pau. Notei
que a sua arrogância se dissipara e que parecia contagiado pela calma anormal do
homem de barbas brancas. — E veja como as mulheres gritam, prosseguiu ele
sombriamente, quase com amargura, fazendo-me crer que já havia passado por transes
iguais àquele.
Os dois navios chocaram-se antes que eu pudesse seguir o seu conselho. O impacto
devia ter sido no meio do "Martinez", que adernou violentamente por entre
estrondos do madeirame. Vi-me lançado de borco sobre o convés alagado, e antes que
pudesse erguer-me vi-me tonto pela grita das mulheres. Foi isso — esse
indescritível e arrepiante uivo de pânico o que mais me apavorou. Lembrei-me do
salva-vidas do meu camarote. Corri para lá. Ao alcançar a porta fui varrido por
uma onda selvagem de criaturas em disparada. Não me recordo do que sucedeu logo
depois, a não ser o avanço no estoque de salva-vidas, com o homem de perna de pau
a atar os que podia à cintura dum bando histérico de mulheres. A memória dessa
cena é mais nítida do que a de qualquer outra que me haja passado sob os olhos.
Inda hoje vejo o quadro: o rombo numa cabina, através do qual a névoa revoluteava
em turbilhão; divãs e poltronas esvaziados de súbito e com todos os sinais do
estouro — pacotes, bolsas, guardachuvas, capas; o alentado sujeito da Atlantic,
engastado num salva-vidas e ainda com a revista na mão, a perguntar-me com
insistência se havia perigo; o meu companheiro da perna de pau a manquitolar por
toda a parte muito seguro de si na tarefa de distribuir salva-vidas a quantos
apareciam, e, finalmente, a inferneira louca do mulherio apavorado.
pietro nassetti
CAPÍTULO 1
Não sei por onde começar, embora por brincadeira eu costume atribuir a causa de
tudo a Charley Furuseth. Este amigo possuía uma casa de campo em Mill Valley, onde
descansava durante os meses de inverno lendo Nietzsche e Schopenhauer; já os
verões passava imerso no trabalho, a suar no tumulto da cidade. Não fosse o meu
costume de aparecer por lá aos sábados, ficando até a semana seguinte, e aquela
manhã de janeiro não me teria encontrado a navegar na baía S. Francisco.
Meu barco, o "Martinez", oferecia toda a segurança; tratava-se dum barco recém-
construído e ainda na sua quarta ou quinta viagem de carreira entre Sausalito e S.
Francisco. O que não oferecia segurança era o nevoeiro circundante, apesar de que,
na minha ignorância das coisas do mar, não me passasse pela cabeça a menor idéia
de perigo. Soprava uma brisa fresca e eu me sentia sozinho dentro da névoa úmida,
embora com a consciência de que, lá em cima, na casa de vidro, estavam o piloto e
o homem que devia ser o capitão.
Lembro-me que me pus a pensar na divisão do trabalho. Graças a ela me via
dispensado do estudo e conhecimento dos nevoeiros, marés e o mais relativo à
navegação sempre que ia de visita a Charley Furuseth, lá do outro lado de baía.
Ótimo que os homens se especializem no trabalho, ponderava eu. Os conhecimentos
marítimos do capitão e do piloto, por exemplo, permitem que milhares de pessoas
não pensem nisso, e permitem que uma, como eu, se dedique a estudos como aquele
sobre o lugar de Poe na literatura norte-americana, que eu publicara na Atlantic.
Ao subir a bordo eu tinha visto, numa cabina entreaberta, um homem [] a ler com
atenção essa revista — a ler o meu ensaio. Era outra demonstração do valor da
divisão do trabalho. O "conhecimento especial" do piloto e do capitão permitiam
que aquele passageiro se inteirasse do meu "conhecimento especial" sobre Poe,
enquanto era "navegado" com toda a segurança de S. Francisco a Sausalito.
Minhas reflexões foram interrompidas pelo aparecimento no convés dum homem de cara
vermelha, que ao deixar a sua cabina bateu com violência a porta e aproximou-se de
mim mancando e martelando o chão com uma perna-de-pau. Isso, aliás, não impediu
que eu tomasse rápida nota mental daqueles pensamentos, para pô-los num artigo que
tinha em vista escrever sobre a [] liberdade estética. O sujeito lançou uma
olhadela para a casa do piloto e em seguida pôs-se a contemplar o nevoeiro, de
pernas abertas, com visível ar de satisfação. Percebi ser homem afeito às coisas
do mar.
— Tempo destes é que os põem de cabelos brancos tão cedo, murmurou, indicando com
um movimento de cabeça a casa de vidro onde estavam o piloto e o capitão.
— Qual o quê! respondi na minha santa ignorância. Há a bússola para orientá-los. E
há o leme que dirige o navio. E há os mapas. O negócio é simples como o abc. Tudo
matemático.
— Qual o que, hein? rosnou o homem. Simples abc, hein? Certeza matemática, hein?
E veio em minha direção ao dizer isto.
— Que acha desta maré que incha todo o Golden Gate, senhor? perguntou-me quase num
rugido. Com que rapidez vasa ela? Em que rumo? Vamos lá, senhor! Está ouvindo
aquele som? Bóia de campainha — e mal a ouvimos já estamos sobre ela. Veja como
mudam de lugar...
Realmente, de dentro do nevoeiro brotava um som de campainha — o que fez o piloto
dar a roda do leme com violência, até que o som, que vinha pela nossa frente,
passasse a vir de lado. Enquanto isso a sereia de bordo apitava com a sua voz
rouca, em resposta a outros apitos brotados de dentro da cerração.
— É algum ferry-boat, explicou o homem da perna-de-pau, referindo-se a um apito
que vinha da direita. E aquele lá, está ouvindo? Buzina! Buzina de assoprar com a
boca. É o que usam nas escunas. Cuidado, mestre escuneiro! O inferno está com
vontade de comer gente hoje...
O invisível ferry-boat apitava com furor e a buzina da escuna respondia com
desespero.
— Estão agora trocando cumprimentos e explicações, disse o homem logo que a fúria
dos avisos cessou.
Seus olhos enchiam-se do brilho da excitação à medida que me ia traduzindo em
língua de gente a fala daqueles instrumentos de fazer barulho no mar.
— Ouça! Aquilo é sinal para evolução à esquerda... E este acolá, com voz de sapo,
é grito de escuna a vapor que forceja contra a maré.
Um assovio fino e esganiçado rompeu à frente. Os gongos do "Martinez" soaram,
fazendo as rodas propulsoras afrouxarem o andamento, que só foi retomado quando
aquele trilar de grilo entre feras rugidoras se sumiu ao longe. Olhei para o meu
homem, à espera de interpretação.
— Lancha, disse ele. Dessas endemoninhadas lanchas que só mesmo a gente metendo-as
a pique. Umas pestes que vivem a causar trapalhadas. Qualquer imbecil julga-se no
direito de meter-se nelas e sulcar as águas apitando com impertinência para que o
mundo inteiro saiba que tais pulgas existem. E é preciso levá-las em conta. Estão
no uso dum direito — direito de caminho pela superfície das águas. Direito, ah,
ah!
Diverti-me com a cólera do homem e, enquanto ele andava de cá para lá,
manquitolando na sua perna-de-pau, pus-me a refletir no romantismo da bruma.
Romantismo, sim. É romântico o nevoeiro que tudo envolve com o seu manto cinzento,
de passo que os homens — meros átomos — blasfemam nos corcéis de aço flutuantes
através do Mistério, às cegas dentro do Invisível, com palavras de confiança na
boca e a incerteza e o medo nos corações.
A voz do meu companheiro fez-me voltar à realidade e sorrir. Eu também havia
devaneado às tontas e às cegas dentro do mistério, julgando seguir caminho seguro.
— Olá! dizia ele. Vem algo ao nosso encontro, está ouvindo? Vem, rápido e em linha
reta. Juro que não nos percebeu ainda. Não ouve a nossa sereia. O vento está a
nosso favor.
A brisa fresca soprava de frente, e pude ouvir bem nítido o silvo a que o meu
homem se referia.
— Ferry-boat? perguntei.
O homem fez sinal que sim com a cabeça; e acrescentou: "Do contrário não viria
nessa marcha". E com uma risada nervosa: "Estão assustados, lá em cima..."
Olhei para a casa do piloto. O capitão, com a cabeça e ombros de fora, cravava
fixamente os olhos no nevoeiro, como tentando devassá-lo à força. Suas feições
mostravam ansiedade — a mesma que vi no rosto do meu companheiro, agora de bruços
na amurada e também com os olhos presos no perigo invisível que se ocultava dentro
da névoa.
E o que tinha de dar-se, deu-se com incrível rapidez. Rompido por uma cunha, o
nevoeiro mostrou a proa dum vapor a emergir franjado de espuma na linha d'água,
com os bigodes dum Leviatã. Pude ver a casa do piloto, com um homem de barbas
brancas assomado a uma das janelas; trajava uniforme azul, e lembro-me da
impressão de calma que me deu.
Era terrível aquela calma em tais circunstâncias. O homem aceitava o seu destino,
avançava de mãos dadas com ele, a medir friamente o choque. Seu olhar inquisitivo
fixava-se no "Martinez" como para determinar o ponto exato da colisão — e em nada
se alterou quando o nosso piloto, branco de raiva, berrou-lhe: "Foi você o
culpado!".
A observação era por demais óbvia para tomar necessária qualquer resposta.
— Agarre-se no que puder e agüente-se! gritou-me o homem da perna-de-pau. Notei
que a sua arrogância se dissipara e que parecia contagiado pela calma anormal do
homem de barbas brancas. "E veja como as mulheres gritam", prosseguiu ele
sombriamente, quase com amargura, fazendo-me crer que já havia passado por
situações iguais àquela.
Os dois navios chocaram-se antes que eu pudesse seguir o seu conselho. O impacto
devia ter sido no meio do "Martinez", que tombou violentamente por entre estrondos
do madeirame. Fui lançado de bruços sobre o convés alagado, e antes que pudesse
erguer-me vi-me tonto pela gritaria das mulheres. Foi isso — esse indescritível e
arrepiante uivo de pânico o que mais me apavorou. Lembrei-me do salva-vidas do meu
camarote. Corri para lá. Ao alcançar a porta fui varrido por uma onda selvagem de
criaturas em disparada. Não me recordo do que sucedeu logo depois, a não ser o
avanço no sortimento de salva-vidas, com o homem de perna-de-pau a atar os que
podia à cintura dum bando histérico de mulheres. A memória dessa cena é mais
nítida do que a de qualquer outra que me haja passado sob os olhos. Ainda hoje
vejo o quadro: o rombo numa cabina, através do qual a névoa revoluteava em
turbilhão; divãs e poltronas esvaziados de súbito e com todos os sinais do
"estouro" — pacotes, bolsas, guardachuvas, capas largados ali; o alentado sujeito
da Atlantic, engastado num salva-vidas e ainda com a revista na mão, a perguntar-
me com insistência se havia perigo; o meu companheiro da perna-de-pau a mancar por
toda parte, muito seguro de si na tarefa de distribuir salva-vidas a quantos
apareciam, e, finalmente, a inferneira louca do mulherio apavorado.
à venda nos usuais amiguinhos da martin claret: fnac, martins fontes, galileu,
siciliano, saraiva, cultura, submarino, travessa, americanas, leitura, da vinci,
cortez etc., todos eles solidariamente responsáveis com o editor responsável pela
fraude, de acordo com o art. 104, capítulo II, título VII da lei 9.610/98.
"Um livro de geografia distribuído pelo governo paulista aos alunos da sexta série
do ensino fundamental traz duas vezes o Paraguai no mapa da América do Sul e ainda
inverte a localizaç ão do Uruguai e Paraguai."
eia nóis.
acompanhe aqui, em ordem cronológica, a triste novela dessa fraude cometida pela
nova (in)cultural, na coleção "os pensadores", adulterando a famosa tradução de
jacó guinsburg e bento prado jr. e atribuindo-a ao fantasmagórico "enrico
corvisieri": 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8.
e da vice-reitoria:
mas imagino que o sr. luiz saberá honrar a palavra empenhada, e por isso apresento
mais um cotejo de outra infeliz obra sob sua responsabilidade editorial. quem
sabe, tendo um tempinho, ele já não aproveita e tira essa fraude também?
a outra solene garfada do jardim dos livros, selo do grupo geração, foi em cima de
o essencial de jesus, de john dominic crossan, também em 2008. o glutão é o mesmo
misterioso "pedro h. berwick", e a vítima foi uma vez mais a editora bestseller,
que havia publicado a obra em 1994 na tradução de ymaly salem chammas.
1. ymaly salem chammas (bestseller)
PRÓLOGO
Espalhados pelos campos, podem-se observar certos animais selvagens, machos e
fêmeas, escuros, lívidos e queimados pelo Sol, atados à terra que escavam e
revolvem com invencível teimosia. Entretanto, eles produzem algo parecido com uma
voz articulada e, quando se levantam, revelam uma face humana. Na verdade, eles
são seres humanos... Graças a eles, os outros seres humanos não precisam semear,
trabalhar e colher para viver. É por isso que a eles não deve faltar o pão que
semearam.
Jean la Bruyère, moralista francês do final do século dezessete (citado por Eric
J. Hobsbawm, Journal of Peasant Studies, vol. 1 [1973])
A Roma Imperial
É repleta de arcos do triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem
Os Césares triunfaram?
Tantas particularidades.
Tantas perguntas.
Se nenhum cristão houvesse escrito nada sobre Jesus durante os primeiros cem anos
após a sua morte, ainda teríamos dois relatos sucintos daqueles que não estavam
entre os seus seguidores. Um relato data da última década do século primeiro e vem
do historiador judeu Flávio Josefo em Jewish Antiquities, 18.63:
Naquela época lá vivia Jesus, um homem sábio... Pois ele era um homem que operava
feitos surpreendentes e era um mestre para as pessoas que aceitam a verdade com
alegria. Ele ganhou o apoio de muitos judeus e de muitos gregos...
Quando Pilatos, depois de ouvi-lo ser acusado pelos homens mais honrados dentre
nós, o condenou à crucificação, aqueles que o haviam seguido para amá-lo não
desistiram do afeto por ele... E a tribo dos cristãos, assim chamada em homenagem
ao seu nome, até hoje não desapareceu.
Portanto, para encerrar os rumores, Nero apontou como culpada, e puniu com os mais
extremos requintes de crueldade, uma classe de homens, abominada por seus vícios,
que o povo conhecia como cristãos. Cristo, o “fundador” do nome, havia recebido o
castigo da morte no reinado de Tibério, sentenciado pelo procurador Pôncio
Pilatos, e a superstição perniciosa havia sido interrompida na época, somente para
recrudescer mais uma vez, não apenas na Judéia, lugar de origem da doença, mas na
própria capital, onde todas as coisas horríveis ou vergonhosas do mundo se reúnem
e encontram expressão.
PRÓLOGO
Espalhados pelos campos, podem-se observar certos animais selvagens, machos e
fêmeas, escuros, lívidos e queimados pelo Sol, atados à terra que escavam e
revolvem com invencível teimosia. Entretanto, eles produzem algo parecido com uma
voz articulada e, quando se levantam, revelam uma face humana. Na verdade, eles
são seres humanos... Graças a eles, os outros seres humanos não precisam semear,
trabalhar e colher para viver. É por isso que a eles não deve faltar o pão que
semearam.
Jean la Bruyère, moralista francês do final do século dezessete (citado por Eric
J. Hobsbawm, Journal of Peasant Studies, vol. 1 [1973])
A Roma Imperial
É repleta de arcos do triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem
Os Césares triunfaram?
Tantas particularidades.
Tantas perguntas.
Se nenhum cristão houvesse escrito nada sobre Jesus durante os primeiros cem anos
após a sua morte, ainda teríamos dois relatos sucintos daqueles que não estavam
entre os seus seguidores. Um relato data da última década do século primeiro e vem
do historiador judeu Flávio Josefo em Jewish Antiquities, 18.63:
Naquela época lá vivia Jesus, um homem sábio... Pois ele era um homem que operava
feitos surpreendentes e era um mestre para as pessoas que aceitam a verdade com
alegria. Ele ganhou o apoio de muitos judeus e de muitos gregos... Quando Pilatos,
depois de ouvi-lo ser acusado pelos homens mais honrados dentre nós, o condenou à
crucificação, aqueles que o haviam seguido para amá-lo não desistiram do afeto por
ele... E a tribo dos cristãos, assim chamada em homenagem ao seu nome, até hoje
não desapareceu.
Portanto, para encerrar os rumores, Nero apontou como culpada, e puniu com os mais
extremos requintes de crueldade, uma classe de homens, abominada por seus vícios,
que o povo conhecia como cristãos. Cristo, o “fundador” do nome, havia recebido o
castigo da morte no reinado de Tibério, sentenciado pelo procurador Pôncio
Pilatos, e a superstição perniciosa havia sido interrompida na época, somente para
recrudescer mais uma vez, não apenas na Judéia, lugar de origem da doença, mas na
própria capital, onde todas as coisas horríveis ou vergonhosas do mundo se reúnem
e encontram expressão.
Fernand Braudel
Peter Brown
Um relato histórico deve ser capaz de explicar todas essas respostas diferentes,
ou então não será fiel ao que aconteceu.
Neste livro, portanto, o Jesus essencial significa não o Jesus canônico, mas o
Jesus histórico. Não irei simplesmente examinar os quatro evangelhos do Novo
Testamento, pinçar os ditos mais conhecidos de Jesus e reinterpretá-Ios. Em vez
disso, apresento aqueles ditos que, segundo a minha melhor avaliação histórica,
são originais de Jesus. Já tive oportunidade de defender essa avaliação em dois
livros anteriores*, assim este livro conclui uma trilogia sobre o Jesus histórico.
* The Historical Jesus: The Life of a Mediterranean Jewish Peasant. San Francisco:
HarperSanFrancisco, 1991. Edição Encapada, 1993. Jesus: A Revolutionary
Biograp¬hy. San Francisco: HarperSanFrancisco, 1994.
CONTEXTOS
Nós queremos que todos trabalhem, como nós. Não deveria mais haver ricos e pobres.
Todos everiam ter o pão para se alimentar e alimentar os filhos. Deveríamos ser
todos iguais. Eu tenho cinco filhos e apenas um quarto pequeno, onde temos de
comer e dormir e fazer tudo, enquanto tantos Senhores (signori) têm dez ou doze
quartos, palácios inteiros... Será suficiente compartilhar tudo e dividir com
justiça o que se produz.
Fernand Braudel
Peter Brown
Um relato histórico deve ser capaz de explicar todas essas respostas diferentes,
ou então não será fiel ao que aconteceu. Neste livro, portanto, o Jesus essencial
significa não o Jesus canônico, mas o Jesus histórico. Não irei simplesmente
examinar os quatro evangelhos do Novo Testamento, pinçar os ditos mais conhecidos
de Jesus e reinterpretá-Ios. Em vez disso, apresento aqueles ditos que, segundo a
minha melhor avaliação histórica, são originais de Jesus. Já tive oportunidade de
defender essa avaliação em dois livros anteriores*, assim este livro conclui uma
trilogia sobre o Jesus histórico.
* The Historical Jesus: The Life of a Mediterranean Jewish Peasant. San Francisco:
HarperSanFrancisco, 1991. Edição Encapada, 1993. Jesus: A Revolutionary
Biograp¬hy. San Francisco: HarperSanFrancisco, 1994.
ah, sr. luiz, por favor não se esqueça de retirar também a arte da guerra do tal
nikko bushido!
eu morro de vergonha de ver aquelas fichas de isbn na fbn com pietro nassetti
tradutor de machado de assis, josé de alencar, eça de queiroz etc.
por mais que o minc, a fbn e a agência do isbn digam que não é problema deles e
que não têm nada a ver com isso, eu acho que um pouco de discernimento não faz mal
a ninguém, e na verdade também acho que eles têm algo a ver com isso, sim senhor.
pois a agência não é obrigada a aceitar qualquer sandice que lhe passa pela
frente. ela podia muito bem ter dito "não, não vou cadastrar essa coisa", e
devolver a solicitação. mas aceitou, cadastrou, atribuiu número de isbn, deu
chancela oficial, então claro que a responsabilidade é dela.
até imagino por esse mundão afora as agências de cada país ou da UE aceitando,
cadastrando, atribuindo isbns e mantendo fichas com dados assim:
victor hugo, les misérables, traduit par pierre ulalah, ed. martinet clareté, ou
miguel de cervantes, don quijote, traducción de juan pepe, ed. martí clarés, ou
walt whitman, leaves of grass, translated by jackass, ed. marty clary
vou ficar aqui torcendo para que o ministério público consiga enfiar um mínimo de
bom senso na cabeça daquele pessoal.
Article 1
Les livres, tous les livres ont le droit d’exister.
Article 2
Les livres sont égaux entre eux, sans distinction d’origine, de fortune, de
naissance, d’opinion, d’éditeur.
Article 3
Tout livre a droit à la vie, à sa commercialisation, à la chance d’être exposé au
lecteur, et de donner à son auteur celle d’être entendu et rémunéré à juste titre.
Article 4
Tous sont égaux devant la loi qui les met à égalité de prix pour tous en quelques
lieux qu’ils soient proposés.
Article 5
Chacun a droit à la reconnaissance en tout lieu de sa personnalité, de la
personnalité de son auteur, de celle de son éditeur.
Article 6
Le livre, oeuvre d’imagination autant que de recherche, s’adresse à l’imagination
autant qu’au besoin de l’homme. Il ne peut en aucune façon être dévoyé dans sa
commercialisation comme un produit d’appel de consommation courante.
Article 7
Le livre est, et demeure garant de nos libertés. Il ne peut en aucun cas être
soumis à quelque aliénation que ce soit tant sur le plan de la pensée que sur
celui de sa vocation fondamentale qui est de promouvoir le libre-échange des
cultures, des mentalités et des savoirs.
Article 8
Le livre, ouverture de l’esprit, de recherches, de plaisirs, consignation du
savoir autant qu’oeuvre de création doit être traité comme un bien indispensableà
la culture, à la promotion sociale et spirituelle, à l’information, et ne peut
être traité comme un vulgaire objet de profit.
imagem: www.npr.org
vi outro dia que a landmark fez mais uma de suas landemarquices. a editora do sr.
jorge cyrino e do sr. fábio cyrino tinha publicado um plágio ridículo de o morro
dos ventos uivantes, usando a tradução de vera pedroso (bruguera, 1971) e tascando
o nome da pobre da revisora como a responsável pelo plágio.
o engraçado da história, se é que tem alguma coisa de engraçado, é que o morro dos
ventos uivantes no plágio da landmark também tinha chapa fria: ou seja, constava
cadastrado no isbn/fbn com tradução de "ana maria oliveira rosa" e na edição
impressa o plágio aparecia atribuído à referida profissional. pois muito que bem:
a dupla landemarquiana, perante os legítimos protestos da revisora convertida em
plagiadora, tentou se safar do imbróglio prometendo-lhe que corrigiria o "engano"
na próxima reimpressão da obra.
aparentemente saiu uma nova reimpressão, pois agora a espectral "ana maria
oliveira rosa" da chapa fria no isbn/fbn comparece como a tradutora de o morro dos
ventos uivantes da landmark.
mas o importante é: a landmark lançou nova tradução? publicou alguma errata para
os ludibriados compradores dos exemplares anteriores? abriu mão da cópia
deslavada? ou pelo menos deu o nome da verdadeira tradutora, vera pedroso? nada
disso. ficou a fantasminha pluft, e ao leitor restou o triste fado de ter que
conviver com mais esse acinte nacional...
imagem: exlibris.memphis.edu
mas me ocorreu que, afinal, tem que se pensar em inclusão social e circulação da
cultura, e não só em exclusão dos trapaceiros ishpertos.
- a dona abdr protofascista não deixa ninguém tirar xerox e sai por aí invadindo
universidades, processando reitores e fechando serviços de xerox
- então um bom tributo público à memória de bento prado jr. poderia talvez ser o
seguinte: quem sabe o sr. jacó guinsburg e os herdeiros de bento prado jr. não
disponibilizariam gentilmente para a sociedade a consagrada tradução do discurso
do método, se possível com a famosa introdução de granger e as notas de lebrun?
"Prezada Denise,
agradecemos a sua valiosa contribuição e informamos que a obra 'Discurso do
Método', tradução feita por 'Enrico Corvisieri' está inativa em nosso Portal.
Atenciosamente,
Dalvanisa Luiz - Domínio Público."
que maravilha, sr. mec, isso mesmo. e me sinto realmente encantada em ver que o
governo ouve os cidadãos.
scarlett marton, a irrecusável busca de sentido, ateliê editorial, 2004, pp. 64-
65.
previsivelmente, enrico corvisieri com seu discurso do método sob a égide da nova
cultural (1999 em diante), copidescado a partir da tradução de jacó guinsburg e
bento prado jr., tem uma presença significativa nas escolas e universidades.
exemplinhos:
http://www.utfp/r.edu.br/proplad/arquivos/edital_052_2008_PS_PB_Programa_Filosofia
_Sociologia.pdf www.sbem.com.br/files/ix_enem/Poster/Trabalhos/PO12201369801T.rtf
http://www.meuartigo.brasilescola.com/filosofia/reflexao-sobre-educacao.htm
www.ple.uem.br/programas/ple4040.doc
www.fafiuv.br/tseletivo/FILOSOFIA.doc
www.espacoeducacao.ufjf.br/index.php?local=bibliografia
www.pucrs.br/direito/graduacao/ementas/241/eletivas/argumentacao_juridica.pdf
www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT19-2283--Int.pdf
www.ucs.br/ucs/tplCongressoFilosofia/extensao/agenda/eventos/cd_60/comunicacoes_ci
entificas/apresentacao/papel.../andre.p http://cac-
php.unioeste.br/pos/media/File/geografia/docs/Modernidade_natureza1.pdf
www.uern.br/pdf/Documentos/Programa_Filosofia_Medieval_e_Moderna_Mossoro.pdf
https://sistemas.usp.br/fenixweb/fexDisciplina?sgldis=ECO5023
www.vestibular.pucpr.br/pseletivo/verao2008/programas.html
www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/VCSA-
6W9FL4/9/09__bibliografia.pdf
www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-
bin/PRG_0599.EXE/9594_9.PDF?nrOcoSis=30314&CdLinPrg=pt
www.filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Filosofia_Ocidente_Cristao.pdf
www.anppom.com.br/opus/opus14/105/105-Amato.htm
www.utfpr.edu.br/proplad/arquivos/Edital_001_2009_PS_CT_Programa_de_Filosofia.pdf.
pdf www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=professores&id=52
www.comvest.unicamp.br/vr/vr2009/programas/Curso27/EF116.pdf
https://sistemas.usp.br/fenixweb/fexDisciplina?sgldis=IAL5770
www.abhr.org.br/wp-content/uploads/2008/12/klatau-diego.pdf
www.unimontes.br/unimontescientifica/revistas/Anexos/artigos/revista_v2_n2/artigo_
morte_do_homem.htm http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9340&p=5
www.ciencialit.letras.ufrj.br/ensaios/carmello_camillo.doc
http://200.201.11.31:8000/cgi-
bin/gw_46_7/chameleon?host=localhost%2B1111%2BDEFAULT&search=KEYWORD&function=INIT
REQ&SourceScreen=NEXTPAGE&sessionid=2008081600330607230&skin=bce&conf=.%2Fchameleo
n.conf&lng=pt&itemu1=1003&scant1=Medina,%20S%C3%B4nia%20Gr%C3%A1cia%20Pucci&scanu1
=1003&u1=1003&t1=%01195353&pos=1&prevpos=-19&
http://inf.unisul.br/~ines/pccsi/Manual_Direito2004.doc
www.tede.ufop.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=310
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/view/1350
/1055
www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=122
www.bibliotecadigital.puc-
campinas.edu.br/tde_busca/processaArquivo.php?codArquivo=209
www.bdtd.ufjf.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=34
www.teia.fe.usp.br/biblioteca_virtual/7%20EA-%20EA%20e%20Paradigmas-%20Marilia.doc
www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1285
www.fieo.br/v2/download.php?arquivo=mec/cursos/pedagogia.pdf
http://alexandria.cpd.ufv.br:8000/cgi-
bin/gw_46_4_2/chameleon?host=localhost%2B1111%2BDEFAULT&search=KEYWORD&function=IN
ITREQ&SourceScreen=INITREQ&sessionid=2008040221260720647&skin=default&conf=.%2Fcha
meleon.conf&lng=hy&itemu1=4&scant1=paix%C3%A3o%20de%20N.S.%20Jesus%20Cristo&scanu1
=4&u1=4&t1=%01453254&pos=1&prevpos=1&
www.faced.ufu.br/antigo/colubhe06/anais/arquivos/218JoaoCavalcante_HumbertoGuido.p
df
www.bdtd.ufes.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=487
www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/cao.../planos%20de%20saúde%20são%2...
http://www.nesef.ufpr.br/baixar-arquivo.php?arquivo=2008-09-01-16-33-12-NORMAS-
PARA-APRESENTACAO-GERAL-E-GRAFICA-DO-TRABALHO-ACADEMICO.doc
www.slab.uff.br/dissertacoes/2007/Tiago.pdf
www.bdtd.ufjf.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=283
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000393674
www.dep.ufmg.br/pos/defesas/diss141.pdf
www.teia.fe.usp.br/biblioteca_virtual/9%20EA-%20EA%20no%20ensino%20superior-
%20Marilia.doc
www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/ARBZ-
7KAJ4R/1/disserta__o_final___revisada.pdf
http://www1.capes.gov.br/estudos/dados/2002/33003017/038/2002_038_33003017001P2_Di
sc_Ofe.pdf
http://www4.fct.unesp.br/pos/geo/dis_teses/05/05_FABIO_CESAR_ALVES_DA_CUNHA.pdf
http://www.tede.ufsc.br/tedesimplificado//tde_arquivos/48/TDE-2007-10-18T123712Z-
92/Publico/OlivierAllain.pdf
www.unifra.br/professores/CARLOTA/Apresentação(Vinicius)sepe.ppt
www.inf.ufsc.br/~adiel/en/misc/books/index.html
http://servicos.capes.gov.br/arquivos/avaliacao/estudos/dados/2005/32005016/038/20
05_038_32005016007P0_Disc_Ofe.pdf.
imagem: www.toonpool.com
Les plus grandes âmes sont capables des plus grands vices aussi bien que des plus
grandes vertus; et ceux qui ne marchent que fort lentement peuvent avancer
beaucoup davantage, s'ils suivent toujours le droit chemin, que ne font ceux qui
courent et qui s'en éloignent.
Pour moi, je n'ai jamais présumé que mon esprit fût en rien plus parfait que ceux
du commun; même j'ai souvent souhaité d'avoir la pensée aussi prompte, ou
l'imagination aussi nette et distincte, ou la mémoire aussi ample ou aussi
présente, que quelques autres. Et je ne sache point de qualités que celles-ci qui
servent à la perfection de l'esprit; car pour la raison, ou le sens, d'autant
qu'elle est la seule chose qui nous rend hommes et nous distingue des bêtes, je
veux croire qu'elle est tout entière en un chacun; et suivre en ceci l'opinion
commune des philosophes, qui disent qu'il n'y a du plus et du moins qu'entre les
accidents, et non point entre les formes ou natures des individus d'une même
espèce.
Mais je ne craindrai pas de dire que je pense avoir eu beaucoup d'heur de m'être
rencontré dès ma jeunesse en certains chemins qui m'ont conduit à des
considérations et des maximes dont j'ai formé une méthode, par laquelle il me
semble que j'ai moyen d'augmenter par degrés ma connoissance, et de l'élever peu à
peu au plus haut point auquel la médiocrité de mon esprit et la courte durée de ma
vie lui pourront permettre d'atteindre. Car j'en ai déjà recueilli de tels fruits,
qu'encore qu'au jugement que je fais de moi-même je tâche toujours de pencher vers
le côté de la défiance plutôt que vers celui de la présomption, et que, regardant
d'un oeil de philosophe les diverses actions et entreprises de tous les hommes, il
n'y en ait quasi aucune qui ne me semble vaine et inutile, je ne laisse pas de
recevoir une extrême satisfaction du progrès que je pense avoir déjà fait en la
recherche de la vérité, et de concevoir de telles espérances pour l'avenir, que
si, entre les occupations des hommes, purement hommes, il y en a quelqu'une qui
soit solidement bonne et importante, j'ose croire que c'est celle que j'ai
choisie.
As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das maiores
virtudes, e os que só andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem
sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam.
Quanto a mim, jamais presumi que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que
os do comum; amiúde desejei mesmo ter o pensamento tão rápido, ou a imaginação tão
nítida e distinta, ou a memória tão ampla ou tão presente, quanto alguns outros. E
não sei de quaisquer outras qualidades, exceto as que servem à perfeição do
espírito; pois, quanto à razão ou ao senso, posto que é a única coisa que nos
torna homens e nos distingue dos animais, quero crer que existe inteiramente em
cada um, e seguir nisso a opinião comum dos filósofos, que dizem não existir mais
nem menos senão entre os acidentes, e não entre as formas ou naturezas dos
indivíduos de uma mesma espécie.
Mas não temerei dizer que penso ter tido muita felicidade de me haver encontrado,
desde a juventude, em certos caminhos, que me conduziram a considerações e
máximas, de que formei um método, pelo qual me parece que eu tenha meio de
aumentar gradualmente meu conhecimento, e de alçá-lo, pouco a pouco, ao mais alto
ponto, a que a mediocridade de meu espírito e a curta duração de minha vida lhe
permitam atingir [eliminação do "poderão"]. Pois já colhi dele tais frutos que,
embora no juízo que faço de mim próprio eu procure pender mais para o lado da
desconfiança do que para o da presunção, e que,* mirando com um olhar de filósofo
as diversas ações e empreendimentos de todos os homens, não haja quase nenhum que
não me pareça vão e inútil, não deixo de obter extrema satisfação do progresso que
penso já ter feito na busca da verdade e de conceber tais esperanças para o futuro
que, se entre as ocupações dos homens puramente homens existe alguma que seja
solidamente boa e importante, ouso crer que é aquela que escolhi. *[tendo optado
por "embora", este segundo "que", que no original pertence à locução "encore que",
aqui perde seu sentido ou cria o sentido equivocado de ser a continuação da frase
"tais frutos que..."]
As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das maiores virtudes,
e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais, se continuarem sempre pelo
caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam.
Quanto a mim, nunca supus que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que os
dos outros; com freqüência desejei [] ter o pensamento tão rápido, ou a imaginação
tão clara e diferente, ou a memória tão abrangente ou tão pronta, quanto alguns
outros. E desconheço quaisquer outras qualidades, afora as que servem para o
aperfeiçoamento do espírito; pois, quanto à razão ou ao senso, posto que é a única
coisa que nos torna homens e nos diferencia dos animais, acredito que existe
totalmente em cada um, acompanhando nisso a opinião geral dos filósofos, que
afirmam não existir mais nem menos senão entre os acidentes, e não entre as formas
ou naturezas dos indivíduos de uma mesma espécie.
Mas não recearei dizer que julgo ter tido muita felicidade de me haver encontrado,
a partir da juventude, em determinados caminhos, que me levaram a considerações e
máximas, das quais formei um método, pelo qual me parece que eu consiga aumentar
de forma gradativa meu conhecimento, e de elevá-lo, pouco a pouco, ao mais alto
nível, a que a mediocridade de meu espírito e a breve duração de minha vida lhe
permitam alcançar. [note-se que foi mantida a não de todo correta virgulação
introduzida na tradução de base] [repete-se a eliminação do "poderão"] Pois já
colhi dele tais frutos que, apesar de no juízo que faço de mim próprio eu procure
inclinar-me mais para o lado da desconfiança do que para o da presunção, e que,
observando com um olhar de filósofo as variadas ações e empreendimentos de todos
os homens, não exista quase nenhum que não me pareça fútil e inútil, não deixo de
lograr extraordinária satisfação do progresso que creio já ter feito na procura da
verdade e de conceber tais esperanças para o futuro que, se entre as ocupações dos
homens puramente homens existe alguma que seja solidamente boa e importante,
atrevo-me a acreditar que é aquela que escolhi. [uma frase absurda: "apesar de ...
eu procure"; mantém o problema do "que" solto]
[...] J'ai été nourri aux lettres dès mon enfance; et, pour ce qu'on me persuadoit
que par leur moyen on pouvoit acquérir une connaissance claire et assurée de tout
ce qui est utile à la vie, j'avois un extrême désir de les apprendre.
[...] Fui nutrido nas letras desde a infância, e por me haver persuadido de que,
por meio delas, se podia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é
útil à vida, sentia extraordinário desejo de aprendê-las.
[...] Fui instruído nas letras desde a infância, e por me haver convencido de que,
por intermédio delas, poder-se-ia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo
o que é útil à vida, sentia extraordinário desejo de aprendê-las.
Je ne laissois pas toutefois d'estimer les exercices auxquels on s'occupe dans les
écoles. Je savois que les langues qu'on y apprend sont nécessaires pour
l'intelligence des livres anciens; que la gentillesse des fables réveille
l'esprit; que les actions mémorables des histoires le relèvent, et qu'étant lues
avec discrétion elles aident à former le jugement; que la lecture de tous les bons
livres est comme une conversation avec les plus honnêtes gens des siècles passés,
qui en ont été les auteurs, et même une conversation étudiée en laquelle ils ne
nous découvrent que les meilleures de leurs pensées; que l'éloquence a des forces
et des beautés incomparables; que la poésie a des délicatesses et des douceurs
très ravissantes; que les mathématiques ont des inventions très subtiles, et qui
peuvent beaucoup servir tant à contenter les curieux qu'à faciliter tous les arts
et diminuer le travail des hommes; que les écrits qui traitent des moeurs
contiennent plusieurs enseignements et plusieurs exhortations à la vertu qui sont
fort utiles; que la théologie enseigne à gagner le ciel; que la philosophie donne
moyen de parler vraisemblablement de toutes choses, et se faire admirer des moins
savants; que la jurisprudence, la médecine et les autres sciences apportent des
honneurs et des richesses à ceux qui les cultivent; et enfin qu'il est bon de les
avoir toutes examinées, même les plus superstitieuses et les plus fausses, afin de
connoître leur juste valeur et se garder d'en être trompé.
Não deixava, todavia, de estimar os exercícios com os quais se ocupam nas escolas.
Sabia que as línguas que nelas se aprendem são necessárias ao entendimento dos
livros antigos; que a gentileza das fábulas desperta o espírito; que as ações
memoráveis das histórias o alevantam, e que, sendo lidas com discrição, ajudam a
formar o juízo; que a leitura de todos os bons livros é qual uma conversação com
as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram seus autores, e até
uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam tao-somente os melhores de
seus pensamentos; que a eloquência tem forças e belezas incomparáveis; que a
poesia tem delicadezas e doçuras muito encantadoras; que as Matemáticas têm
invenções muito sutis, e que podem servir muito, tanto para contentar os curiosos
quanto para facilitar todas as artes e diminuir o trabalho dos homens; que os
escritos que tratam dos costumes contêm muitos ensinamentos e muitas exortações à
virtude que são muito úteis; que a Teologia ensina a ganhar o céu; que a Filosofia
dá meio de falar com verossimilhança de todas as coisas e de se fazer admirar
pelos menos eruditos; que a Jurisprudência, a Medicina e as outras ciências trazem
honras e riquezas àqueles que as cultivam; e, enfim, que é bom tê-las examinado a
todas, mesmo as mais supersticiosas e as mais falsas, a fim de conhecer-lhes o
justo valor e evitar ser por elas enganado.
Apesar disso, não deixava de apreciar os exercícios com os quais se ocupam nas
escolas. Sabia que as línguas que nelas se aprendem são necessárias ao
entendimento dos livros antigos; que a gentileza das fábulas estimula o espírito;
que as realizações notáveis das histórias o fazem crescer, e que, sendo lidas com
discrição, ajudam a formar o juízo; que a leitura de todos os bons livros é igual
a uma conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram
seus autores, e até uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam apenas
seus melhores [] pensamentos; que a eloqüência possui forças e belezas
incomparáveis; que a poesia tem delicadezas e ternuras deveras encantadoras; que
as matemáticas têm invenções bastante sutis, e que podem servir muito, tanto para
satisfazer os curiosos quanto para facilitar todas as artes e reduzir o trabalho
dos homens; que os escritos que tratam dos costumes contêm muitos ensinamentos e
muitos estímulos à virtude que são muito úteis; que a teologia ensina a ganhar o
céu; que a filosofia ensina a falar com coerência de todas as coisas e de se fazer
admirar pelos que possuem menos erudição; que a jurisprudência, a medicina e as
outras ciências proporcionam honras e riquezas àqueles que as cultivam; e, enfim,
que é bom havê-las examinado a todas, até mesmo as mais eivadas de superstição e
as mais falsas, a fim de conhecer-lhes o exato valor e evitar ser por elas
enganado.
Eis por que não poderia de forma alguma aprovar esses temperamentos perturbadores
e inquietos que, não sendo chamados, nem pelo nascimento, nem pela fortuna, ao
manejo dos negócios públicos, não deixam de neles praticar sempre, em idéia,
alguma nova reforma. E se eu pensasse haver neste escrito a menor coisa que
pudesse tornar-me suspeito de tal loucura, ficaria muito pesaroso de ter aceito
publicá-lo.
Aqui está o motivo pelo qual eu não poderia de maneira alguma aprovar esses
temperamentos perturbadores e inquietos que, não sendo chamados, nem pelo
nascimento, nem pela fortuna, à administração dos negócios públicos, não deixam de
neles realizar sempre, em teoria, alguma nova reforma. E se eu pensasse haver
neste escrito a menor coisa que pudesse tornar-me suspeito de tal loucura, ficaria
muito pesaroso de ter concordado em publicá-lo.
[aliás, a trajetória de souffrir (um "permitir" muito passivo) até concordar é
curiosa.]
Comme en effet j'ose dire que l'exacte observation de ce peu de préceptes que
j'avois choisis me donna telle facilité à démêler toutes les questions auxquelles
ces deux sciences s'étendent, qu'en deux ou trois mois que j'employai à les
examiner, ayant commencé par les plus simples et plus générales, et chaque vérité
que je trouvois étant une règle qui me servoit après à en trouver d'autres, non
seulement je vins à bout de plusieurs que j'avois jugées autrefois très
difficiles, mais il me sembla aussi vers la fin que je pouvois déterminer, en
celles même que j'ignorois, par quels moyens et jusqu'où il étoit possible de les
résoudre. En quoi je ne vous paroîtrai peut-être pas être fort vain, si vous
considérez que, n'y ayant qu'une vérité de chaque chose, quiconque la trouve en
sait autant qu'on en peut savoir; et que, par exemple, un enfant instruit en
l'arithmétique, ayant fait une addition suivant ses règles, se peut assurer
d'avoir trouvé, touchant la somme qu'il examinoit, tout ce que l'esprit humain
sauroit trouver: car enfin la méthode, qui enseigne à suivre le vrai ordre, et à
dénombrer exactement toutes les circonstances de ce qu'on cherche, contient tout
ce qui donne de la certitude aux règles d'arithmétique.
E como, efetivamente, ouso dizer que a exata observação desses poucos preceitos
que eu escolhera me deu tal facilidade de deslindar todas as questões às quais se
estendem essas duas ciências que, nos dois ou três meses que empreguei em examiná-
las, tendo começado pelas mais simples e mais gerais, e constituindo cada verdade
que eu achava uma regra que me servia em seguida para achar outras, não só
consegui resolver muitas que julgava antes muito difíceis, como me pareceu também,
perto do fim, que podia determinar, mesmo naquelas que ignorava, por quais meios e
até onde seria possível resolvê-las. No que não vos parecerei talvez muito
vaidoso, se considerardes que, havendo apenas uma verdade de cada coisa, todo
aquele que a encontrar sabe a seu respeito tanto quanto se pode saber; e que, por
exemplo, uma criança instruída na aritmética, que tenha efetuado uma adição
segundo as regras, pode estar certa de ter achado, quanto à soma que examinava,
tudo o que o espírito humano poderia achar. Pois, enfim, o método que ensina a
seguir a verdadeira ordem e a enumerar exatamente todas as circunstâncias daquilo
que se procura contém tudo quanto dá certeza às regras da aritmética.
E já que, com efeito, atrevo-me a dizer que a exata observação desses poucos
preceitos que eu escolhera me deu tal facilidade de desenredar todas as questões
às quais se estendem essas duas ciências que, nos dois ou três meses que levei
para analisá-las, havendo iniciado pelas mais simples e mais gerais, e compondo
cada verdade que eu encontrava uma regra que me servia depois para encontrar
outras, não apenas consegui resolver muitas que antes considerava muito difíceis,
como me pareceu também, próximo ao fim, que podia determinar, até mesmo naquelas
que ignorava, por quais meios e até onde seria possível resolvê-las. No que,
talvez, não vos afigurarei muito vaidoso, se considerardes que, existindo somente
uma verdade de cada coisa, [] aquele que a encontrar conhece a seu respeito tanto
quanto se pode conhecer; e que, por exemplo, uma criança instruída na aritmética,
que haja realizado uma adição de acordo com as regras, pode ter certeza de haver
encontrado, no que concerne à soma que analisava, tudo o que o espírito humano
poderia encontrar. Pois, enfim, o método que ensina a seguir a verdadeira ordem e
a enumerar exatamente todas as circunstâncias daquilo que se procura contém tudo
quanto dá certeza às regras da aritmética.
[os "dénombrements" da quarta regra do método estão traduzidos corretamente por
"enumerações" na tradução de base e copidescados erroneamente por "relações".
aqui, quando o copidesque mantém "enumerar", que é o correto, perde a remissão
direta ao quarto preceito e anula a coesão conceitual interna. outro despropósito
conceitual no caso de descartes é empregar o verbo "compor", que remete ao método
compositivo das matemáticas, para "constituir", no francês um simples "ser";
"analisar" para "examiner" e como suposto sinônimo de "examinar"; também não creio
que trocar "saber" por "conhecer" seja totalmente isento de consequências, numa
obra que pretende estabelecer os fundamentos do conhecimento.]
edições usadas:
discours de la méthode, project gutenberg
discurso do método, trad. jacó guinsburg e bento prado jr., difel, 2a. ed., 1973
discurso do método, "trad." enrico corvisieri, domínio público MEC
papéis avulsos está em domínio público, disponível tanto pela biblioteca virtual
do estudante universitário (usp) quanto pela unama (universidade da amazônia),
disponíveis no site do mec.
juca-pirama está em domínio público, disponível pelas duas acima citadas e também
pela fbn, disponíveis no site do mec.
tirando o detalhe de que papéis avulsos da claret está cadastrado no isbn/fbn como
se tivesse sido traduzido por marcellin talbot, é difícil supor que ela tenha
plagiado machado e gonçalves dias.
mas que uma universidade estadual imponha por três anos aos vestibulandos uma
bibliografia com obras publicadas por uma editora notoriamente inidônea, de mais a
mais sendo obras de acesso 100% gratuito à sociedade, é realmente bizarro.
imagem: collectivereinventions.org
* pietro nassetti, que assina pelo abutre martin claret, não conta.
esta tradução foi publicada também na coleção "os pensadores", da abril cultural,
em incontáveis reedições. com a extinção da abril cultural, o catálogo foi para a
nova cultural, onde a mesma tradução de jacó guinsburg e bento prado jr. continuou
a ser reeditada até 1996.
imagem: primaryconcern.org
esse infeliz arquivo para download teve origem na iniciativa de um e-group chamado
acrópolis, que resolveu distribuir para meio mundo o dito arquivo, com a condição
de receberem os créditos de digitalização e a divulgação de seu endereço no
yahoo.*
não critico bibliotecas virtuais, pelo contrário. o que me alarma é que a fraude
intelectual agora atingiu um novo patamar, ainda por cima com chancela oficial do
ministério da educação. sr. richard civita, dona janice florido, sr. eliel
silveira cunha e, last but not least, o fantasmagórico enrico corvisieri devem
estar se fartando de rir.
* até onde entendo, o e-group acrópolis é uma meninada dinâmica. mas, vendo
algumas discussões deles, fico com a impressão de que plágio, não-plágio,
filosofia, não-filosofia, "idéias claras e distintas" ou "idéias claras e
diferentes", devem lhes parecer abstrusas bizantinices absolutamente tediosas e
irrelevantes. por exemplo:
http://br.groups.yahoo.com/group/Acropolis_/message/76766
imagem: rebelart.net
aliás, me pergunto: que editoras são essas que financiam essas ações? por que não
usam esse dinheiro com que financiam essas associações quase sanguinárias para
fazer algo que preste, tipo um fundo nacional de livros gratuitos ou para
financiar a digitalização de obras esgotadas ou de domínio público na internet?
por que a opção tão pouco cultural da ameaça dos tiros de metralhadora em cima dos
pobres xeroqueiros?
SR. MINISTRO DA CULTURA, CADÊ O SR.? VOLTOU DE SUAS CANTORIAS PELO MUNDO AFORA?
ALÔ, ALÔ, NÃO DEIXE OS POLÍCIA MATAR OS XEROQUEIROS!!! MUDE ESSA LEI RIDÍCULA,
VEJA MELHOR O ATENTADO À DEMOCRACIA DESSAS ASSOCIAÇÕES PROTONAZISTAS, DEFENDA A
EDUCAÇÃO E CULTURA NESTE PAÍS. E SEU COLEGA DA EDUCAÇÃO, DÊ UNS TOQUES NELE, AVISE
QUE NÃO É BEM ASSIM QUE SE FOMENTA O ENSINO NESTE POBRE PAÍS.
haja cinismo.
p.s. mensagem absolutamente pessoal, eximindo o assinado-tradutores de qualquer
responsabilidade pelo conteúdo acima divulgado.
p.p.s. quem nunca foi estudante e nunca tirou xerox atire a primeira pedra.
ou seja: pelo que entendo, a nova cultural solicitou os isbns para os tais
títulos, recebeu-os, imprimiu e publicou os livros, mas não enviou nenhum exemplar
da coleção para o acervo da biblioteca nacional (o que é obrigatório por lei).
não é curioso?
não é que a letrinha esteja muito miúda: dá para ver que o nome abaixo de huberto
rohden é alvorada.
pois, até onde sei, o caminho da felicidade de huberto rohden ganhou direito de
cidadania no mundo dos livros com o isbn 85 (brasil), 7232 (prefixo editorial da
mc), 147 (cadastro da obra), 0 (dígito verificador), ou seja, 8572321470
british lady, quando vossa senhoria vai se dar conta de que não é bonito lavar as
mãos?
quanto aos bad boys, nem adianta perguntar nada. a gente só pergunta para quem tem
alguma possibilidade de ouvir.
nosso foco são as práticas editoriais pouco ortodoxas em que, aparentemente, vêm
se esmerando empresas como a nova cultural e a martin claret (a germinal, também
famosa por esses descaminhos, já encerrou suas atividades).
essas instâncias oficiais, em data recente, expuseram com todas as letras sua
posição pilatística sobre as incontestáveis fraudes tradutórias alegremente
registradas em seus cadastros, e por isso criamos um novo tag (título de assunto)
chamado "não tenho nada a ver com isso".
todos desejamos que possam fazer jus à credibilidade de que, de forma não
totalmente merecida, desfrutam.
como todos sabem, escrevi perplexa e revoltada à fbn e ao minc, e do minc tive de
início uma pseudo-resposta, estritamente burocrática: "A atribuição de ISBN aos
livros publicados no Brasil segue os mesmos procedimentos adotados em todas as
agências do mundo, que não consideram o conteúdo da obra que solicita a
identificação".
talvez a agência internacional do isbn não tenha levado essa hipótese em conta por
ser absurda demais. duvido que, caso existisse na inglaterra alguma editora tão
estranha quanto as que temos no brasil, a qual remetesse à agência de isbn da
inglaterra uma boneca de folha de rosto e uma planilha de dados dizendo que john
smith era o tradutor de shakespeare, repito, duvido que o agente local da agência
local digitasse isso.... e duvido que a diretoria local se mantivesse impávida,
sem sequer pestanejar, quando fosse alertada do fato....
torço para que o ministério realmente comece a pôr fim a tantos vexames e tantas
demonstrações de irresponsabilidade por parte da agência brasileira de isbn.
talvez eu entre em contato com a agência internacional, exponha os fatos e peça
para eles reverem as normas, pois para o brasil as atuais parecem inadequadas.
atenciosamente,
denise bottmann"
uma hora voltarei com calma a mais um episódio envolvendo algo que parece cheirar
a falsidade ideológica de uma dessas editoras junto ao pilatístico monumento
nacional do "não tenho nada a ver com isso", encarnado pela gloriosa Agência
Brasileira do ISBN, a Fundação Biblioteca Nacional.
do contrário, não conseguirá provar ser mais do que uma emperrada, inútil e, na
verdade, perniciosa máquina de fazer dinheiro (sim, amigos, pois é preciso pagar
cada pedido de isbn), a qual, depois de receber seus pingados nove reais por
número, lava as mãos e deixa o povo a ver navios.
afora que o tal "livro-clipping" é de dar medo - não entendo como nem por que os
setores mais diretamente relacionados com o mercado editorial fazem vistas grossas
a tudo isso!
será que vai sobrar mais uma vez para o pobre do cidadão deste país?! mais um
solene "vá reclamar com o bispo"?!
A Fundação Biblioteca Nacional tem também outra ficha, que é montada pelos
bibliotecários da Biblioteca Nacional, que se refere ao mesmo livro, mas pode ter
dados diferentes. Aqui também não há o que estranhar.
As duas fichas são independentes, sem cruzamento de dados, e não é preciso existir
nenhuma relação de correspondência direta entre aquela planilha e boneca da folha
de rosto (cujos dados são registrados na ficha da Agência do ISBN) e o livro
impresso propriamente dito (cujos dados são usados para montar a ficha
catalográfica da Biblioteca).
É por isso que Machado de Assis pode aparecer traduzido por Pietro Nassetti numa
das fichas, e na outra não, gerando a base da explicação oficial "não tenho nada a
ver com isso".
Exponho tudo isso porque enviei uma cartinha à FBN preocupada com as fichas da
Agência do ISBN, dando nomes de tradutores a livros de Machados, José de Alencar,
Eça de Queiroz etc.
vejam também a matéria postada por renato pacca, no blog traduzindo o juridiquês:
"uma tradução mágica do Bruxo do Cosme Velho?"
- http://oglobo.globo.com/blogs/juridiques/default.asp
Dante Alighieri, Vida Nova, trad. Paulo M. Oliveira e Blasio Demétrio, Atena
Editora, pp. 13-14
Naquele ponto, digo com verdade que o espírito da vida (4), que habita a
secretíssima câmara do coração, começou a tremer tão fortemente que aparecia de
modo horrível nas menores pulsações; e, tremendo, disse estas palavras: Ecce Deus
fortior me, qui veniens, dominabitur mihi. Naquele ponto, o espírito animal, que
habita a alta câmara (5) à qual todos os espíritos sensitivos levam as suas
percepções, começou a maravilhar-se muito e, falando especialmente aos espíritos
visuais, disse estas palavras: Apparuit iam beatitudo vestra. Naquele ponto, o
espírito natural, que habita a parte onde se ministra a nossa nutrição, começou a
chorar e, chorando, disse estas palavras: Heu miser, quia frequenter impeditus ero
deinceps. Doravante digo que Amor se apoderou de minha alma, a qual foi por êle
tão depressa desposada, e começou a tomar sôbre mim tanta segurança e tanta
senhoria pela virtude que lhe dava a minha imaginação, que me convinha satisfazer
completamente todos os seus prazeres. Êle mandava-me muitas vêzes que procurasse
ver êsse anjo juveníssimo, de modo que eu na minha meninice muitas vêzes a andei
procurando, e a vi com tão nobres e louváveis aparências que, certo, dela se podia
dizer a palavra do poeta Homero: "Não parecia filha de homem mortal, mas de Deus".
E, se bem que a sua imagem, que contìnuamente estava comigo, fôsse audácia de Amor
a se apoderar de mim, todavia era de tão nobre virtude que nenhuma vez tolerou que
Amor me regesse sem o fiel conselho da razão nas cousas em que tal conselho [fôsse
útil ouvir.]
Dante Alighieri, Vida Nova, trad. atribuída a Jean Melville, Martin Claret, p. 92.
Naquele ponto, digo com verdade que o espírito da vida (4), que habita a
secretíssima câmara do coração, começou a tremer tão fortemente que aparecia de
modo horrível nas menores pulsações e, tremendo, disse estas palavras: Ecce Deus
fortior me, qui veniens, dominabitur mihi. Naquele ponto, o espírito animal, que
habita a alta câmara (5) à qual todos os espíritos sensitivos levam as suas
percepções, começou a maravilhar-se muito e, falando especialmente aos espíritos
visuais, disse estas palavras: Apparuit iam beatitudo vestra. Naquele ponto, o
espírito natural, que habita a parte onde se ministra a nossa nutrição, começou a
chorar e, chorando, disse estas palavras: Heu miser, quia frequenter impeditus ero
deinceps. Doravante digo que o Amor se apoderou de minha alma, a qual foi por ele
tão depressa desposada, e começou a tomar sobre mim tanta segurança e tanta
senhoria, pela virtude que lhe dava a minha imaginação, que me convinha satisfazer
completamente todos os seus prazeres. Ele mandava-me muitas vezes que procurasse
ver esse anjo juveníssimo, de modo que eu na minha meninice muitas vezes a andei
procurando, e a vi com tão nobres e louváveis aparências que, certo, dela se podia
dizer a palavra do poeta Homero: "Não parecia filha de homem mortal, mas de Deus".
E, se bem que a sua imagem, que continuamente estava comigo, fosse audácia de Amor
a se apoderar de mim, todavia era de tão nobre virtude que nenhuma vez tolerou que
Amor me regesse sem o fiel conselho da razão nas coisas em que tal conselho fosse
útil ouvir.
devido à extraordinária semelhança entre esses dois trechos, parece ser o caso de
se proceder a um cotejo mais extenso, que possa vir a indicar concretamente uma
eventual apropriação da tradução de paulo m. oliveira e blásio demétrio.
diversas considerações:
- em primeiro lugar, agradecemos a colaboração de tomaz tadeu em esclarecer esses
dados. fizemos a devida retificação no post "jean melville tradutor de quixote",
sob o assunto prodígios tradutórios. a informação anterior foi extraída de:
http://www.benedictusdespinoza.pro.br/38439/24739.html?*session*id*key*=*session*i
d*val
- no mesmo comentário, mencionamos também o tributo a dante, vida nova. postaremos
a seguir o cotejo inicial que levou a tal comentário. são indicações que podem
apontar para uma certa irregularidade no uso de obras anteriores, sem os devidos
créditos, por parte da martin claret.
- "o texto publicado pela MC é uma combinação de dois textos": é uma indicação
interessante, que parece encontrar confirmação no depoimento de um ex-funcionário
da ed. martin claret, descrevendo as operações editoriais adotadas pela empresa.
este depoimento, chamado "pseudotraduções" está disponível na internet:
http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=5018
- a sugestão final de tomaz tadeu parece bastante pertinente, em vista da
quantidade de obras que apresentam indicações claras de uso irregular de outras
traduções. creio que talvez o assinado-tradutores possa levantar a proposta de se
montar um grupo de trabalho para essa tarefa.
- finalmente, parabéns pelo nome na capa!
Obs.: tal como o Portal Amigos do Livro, Assinado-Tradutores garante o direito de
resposta de todas as pessoas e empresas citadas no texto.
só que seria uma listinha tão curta, tão pequena, que me deixaria tão desalentada
e desacreditando do meu país que até acabo desistindo.
mas, para não deixar passar batido, sei que a livraria crisálida (belo horizonte),
a livraria folha seca (rio de janeiro) e a livraria do globo (porto alegre) não se
prestam ao papel de receptadores nem de traficantes: respeitam o leitor, respeitam
a si mesmas e respeitam a cultura.
imagem: www.hthclan.com
assim é que, com ruidosos aplausos, o país consagra oficialmente a fraude, sob a
égide e a chancela do ministério da educação.
é uma novela comprida, que vai dar um certo pano pra manga. está na fila, e espero
apresentá-la ainda este mês.
imagem: www.ikh-niederbayern.de
Atenciosamente,
Lia Levy
Dep. de Filosofia da UFRGS
Coordenadora do Projeto IDEA – Portal de Filosofia
imagem: forum0937.miniancora.com
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7892&p=2
www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2465/Desobediencia-civil-um-meio-de-se-
exercer-a-cidadania
http://200.135.4.10/cgi/Demetrios.exe/busca_avancada?usa_sql=SELECT%20*%20FROM%20B
USCA_OBRAS_BY_ID_EDITORA(1869)%20ORDER%20BY%20TITULO
http://www2.fic.br/sysbibli_cgi/sysbweb.exe/busca_html?alias=sysbibli&editor=%22MA
RTIN%20CLARET%22
www.pucrs.br/direito/graduacao/tc/tccII/trabalhos2007_2/Roberta_Werlang.pdf
http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/rdire/article/viewPDFInterstitial/44/42
www.leonildocorrea.adv.br/curso/ivo4.htm
www.farn.br/navegacao/plano/20082/direito_not/5ano/etica_deontologia.pdf
www.uniandrade.br/cep/bibliografia.asp
www.univem.edu.br/mestrado_dir/detalhe.asp?reg=88&lng=1
www.historia.uff.br/culturaspoliticas/files/File/daniel2005_1.doc
www.abennacional.org.br/57CBEn/artigos/A_nomia.html
http://www2.fic.br/sysbibli_cgi/sysbweb.exe/busca_html?alias...%20%22MARTIN%20CLAR
ET%...
www.inicepg.univap.br/docs/Arquivos/arquivosINIC/INIC1516_02_A.pdf
www.unicruz.edu.br/site/cursos/danca/biblioteca/FILOSOFIA.doc
http://revistaescola.abril.com.br/online/redatores/marcelo/20070820_posts.shtml
www.alumac.com.br/biblioteca.htm
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4257&p=2
www.sad-licitacao.mt.gov.br/Aplicativos/Sad-
Licitacao/LCLcentral.nsf/.../$FILE/ANEXO%20I.doc
www.tribunaanimal.com/docs/Monografia_de_Barbara_Ferrari.doc
www.religiosidadepopular.uaivip.com.br/BibliografiaRP.htm
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/15149/1/DISSERTAÇÃO%20COMPLETA.pd
f
http://gestcorp.incubadora.fapesp.br/portal/monografias/pdf/24.pdf/
www.ufmt.br/fd/Download/Projeto_Curso_Direito.pdf
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/2996/1/A%20Distopia%20do%20Indiví
duo%20Sob%20Contr...
1.
É sempre uma experiência singular, embora estimulante, encontrar o senso comum em
livros bem antigos, como o Hitopadesa de Vishnu Sarma;39 trata-se de uma sabedoria
brincalhona que tem olhos também na nuca e é capaz de se supervisionar. O senso
comum afirma a saúde e a independência desses livros em relação às experiências
posteriores. Essa garantia de sanidade tem que estar incluída num livro, de forma
que ele seja capaz de às vezes refletir gostosamente sobre si mesmo. A história e
as partes fabulosas desse livro ondulam lentamente de uma a outra sentença como se
seguissem os oásis num deserto; seu caminho é indistinto como a trilha de um
camelo entre Murzuch e Darfur. É uma crítica ao fluxo e à correnteza dos livros
modernos. O leitor pula de uma sentença a outra, como se atravessasse um rio
pisando nas pedras, enquanto a correnteza da história vai passando sem despertar
atenção. O Bhagavad-Gita talvez seja menos fraseado e poético, mas é ainda mais
seguro e elaborado. Sua sanidade e sublimidade impressionaram até mesmo as mentes
de militares e comerciantes. É uma característica dos grandes poemas dar de si na
justa proporção que diferencia o leitor apressado de um outro leitor atento. Tais
poemas serão senso comum para os práticos e sabedoria para os sábios; é como um
rio onde o viajante solitário molha os lábios, enquanto um exército decide encher
os cantis.
"Se seu vizinho o trapaceia e lhe subtrai um mero dólar, você não se satisfaz com
a descoberta da trapaça, ou com a proclamação de que foi trapaceado e nem mesmo
com suas gestões no sentido de ser devidamente reembolsado; o que você faz é tomar
medidas efetivas imediatas para ser integralmente reembolsado e cuidar de nunca
mais ser vitimado por outra trapaça. Ações baseadas em princípios - a percepção e
a execução do que é certo - modificam coisas e relações." certamente o sr. rocco
sabe disso.
imagem: http://www.daehlico.no/?page=230
em floresta dos plágios, apresentei a suposta tradução de alex marins para andar a
pé, mostrando que é uma cópia mal disfarçada da tradução de sarmento de beires e
josé duarte, pela jackson (clássicos, volume xxxiii, ensaístas americanos, 1950).
quanto aos ensaios a desobediência civil e uma semana nos rios concord e merrimack
publicados pela claret, são cópias atamancadas da tradução de josé augusto
drummond, na edição da rocco acima citada.
A única obrigação que tenho direito de assumir é fazer a qualquer momento aquilo
que julgo certo. Costuma-se dizer, e com toda a razão, que uma corporação não tem
consciência; mas uma corporação de homens conscienciosos é uma corporação com uma
consciência. A lei nunca fez os homens sequer um pouco mais justos; e o respeito
reverente pela lei tem levado até mesmo os bem-intencionados a agirem
cotidianamente como mensageiros da injustiça. Um resultado comum e natural de um
respeito indevido pela lei é a visão de uma coluna de soldados - coronel, capitão,
cabos, combatentes, e outros - marchando para a guerra numa ordem impecável,
cruzando morros e vales, contra as suas vontades, e como sempre, contra seu senso
comum e suas consciências; por isso essa marcha é muito pesada e faz o coração
bater forte. Eles sabem perfeitamente que estão envolvidos numa iniciativa
maldita; eles têm tendências pacíficas. O que são eles, agora? Chegarão a ser
homens? Ou pequenos fortes e paióis móveis, a serviço de algum inescrupuloso
detentor do poder? É só visitar o Estaleiro Naval (4) e contemplar um fuzileiro:
eis aí o tipo de homem que um governo norte-americano é capaz de fabricar - ou
transformar com sua magia negra - uma sombra pálida, uma vaga recordação da
condição humana, um cadáver de pé e vivo e, no entanto, se poderia considerá-lo
enterrado sob armas com acompanhamento funeral, embora possa acontecer que
A única obrigação que tenho direito de assumir é fazer a qualquer momento aquilo
que julgo certo. Com toda a razão, costuma-se dizer que uma corporação não tem
consciência. Uma corporação de homens conscienciosos, todavia, é uma corporação
consciente. A lei jamais tornou os homens sequer um pouco mais justos. O respeito
reverente pela lei tem levado até mesmo os bem-intencionados a agir
quotidianamente como mensageiros da injustiça. O produto comum e natural de um
respeito indevido pela lei é a visão de uma coluna de soldados - coronel, capitão,
cabos, combatentes e outros - marchando para a guerra numa ordem impecável,
cruzando morros e vales, contra sua vontade, e como sempre contra seu juízo e sua
consciência comuns. Daí que essa marcha é muito pesada e faz o coração bater
forte. Eles têm perfeita noção de que estão envolvidos numa iniciativa maldita.
Porque eles têm tendências pacíficas. Que são eles, então? Chegarão a ser homens?
Ou pequenos fortes e paióis móveis, a serviço de algum inescrupuloso detentor do
poder? Basta visitar o estaleiro naval (4) e contemplar um fuzileiro: aí se vê o
tipo de homem que um governo norte-americano é capaz de fabricar - ou transformar
com sua magia negra - uma sombra pálida, uma vaga recordação da condição humana,
um cadáver de pé e vivo que, entretanto, se poderia considerar enterrado sob armas
com acompanhamento fúnebre, conquanto possa acontecer que
24 Isso se justifica, pois Thoreau era ótimo conhecedor das florestas em torno do
Concord. Aliás, na época dessa sua prisão. Thoreau estava residindo sozinho numa
cabana nas florestas vizinhas de Concord, experiência que durou pouco mais de dois
anos e que lhe forneceu o material para escrever a sua obra principal, Walden,
publicada pela primeira vez em 1854.
25 Referência irônica ao livro Le mie prigioni, do escritor e político italiano
Silvio Pellico (1789-1854). Thoreau não gostava da curiosidade despertada pela sua
prisão e evitava o assunto. O próprio estilo desse relato sobre a prisão é
diferente do resto do ensaio, indicando talvez certa relutância em abordar o fato.
É possível que esse trecho tenha sido retirado, sem maiores revisões, diretamente
do seu Journals (Diário), no qual ele anotou desde 1837 as passagens, experiências
e idéias do seu dia-a-dia. É sabido que várias obras de Thoreau foram compostas a
partir da reelaboração de trechos de seu Diário.
Em nossa aldeia, havia o antigo costume de saudar os pobres endividados que saíam
da cadeia olhando-os através dos dedos dispostos em forma das barras de uma janela
de prisão, perguntando ao recém-liberto: "Como vai você?" Eu não recebi essa
saudação de meus conhecidos, que primeiro me encaravam e depois se entreolhavam,
corno se eu acabasse de voltar de uma longa viagem. Minha prisão se dera quando eu
me dirigia ao sapateiro para pegar uma bota consertada. Ao ser solto na manhã
seguinte, resolvi retomar o que estava fazendo e, depois de calçar a tal bota,
juntei-me a um grupo que pretendia colher frutas silvestres e me queria como
guia.24 Em pouco mais de meia hora - logo recebi um cavalo arreado - chegamos ao
topo de uma de nossas mais altas colinas, onde abundavam frutas silvestres, a três
quilômetros da cidade. Daquele ponto não se podia ver propriamente nada do Estado.
A história completa de "Minhas Prisões" se resume nisso.25
24 Realmente Thoreau era profundo conhecedor das florestas que ladeavam Concord.
Na época dessa sua prisão. Thoreau residia sozinho numa cabana nas florestas
vizinhas de Concord, experiência que durou pouco mais de dois anos e que lhe
forneceu o material para escrever a sua obra principal, Walden, publicada pela
primeira vez em 1854.
25 Referência irônica ao livro La mia prigione, do escritor e político italiano
Silvio Pellico (1789-1854). Thoreau não gostava da curiosidade despertada pela sua
prisão e evitava o assunto. A própria forma desse relato sobre a prisão difere um
pouco do resto do ensaio, indicando talvez certa relutância em abordar o caso. É
possível que esse trecho tenha sido extraído, sem maiores revisões, diretamente do
seu Journals (Diário), no qual ele anotou desde 1837 as passagens, experiências e
idéias do seu dia-a-dia. Várias obras de Thoreau, foram compostas a partir da
reelaboração de trechos de seu Diário.
vale a pena ver o original para entender até que ponto é tola e inútil a
maquiagem aplicada:
1. The only obligation which I have a right to assume is to do at any time what I
think right. It is truly enough said that a corporation has no conscience; but a
corporation of conscientious men is a corporation with a conscience. Law never
made men a whit more just; and, by means of their respect for it, even the well-
disposed are daily made the agents on injustice. A common and natural result of an
undue respect for the law is, that you may see a file of soldiers, colonel,
captain, corporal, privates, powder-monkeys, and all, marching in admirable order
over hill and dale to the wars, against their wills, ay, against their common
sense and consciences, which makes it very steep marching indeed, and produces a
palpitation of the heart. They have no doubt that it is a damnable business in
which they are concerned; they are all peaceably inclined. Now, what are they? Men
at all? or small movable forts and magazines, at the service of some unscrupulous
man in power? Visit the Navy Yard, and behold a marine, such a man as an American
government can make, or such as it can make a man with its black arts—a mere
shadow and reminiscence of humanity, a man laid out alive and standing, and
already, as one may say, buried under arms with funeral accompaniment, though it
may be,
"Not a drum was heard, not a funeral note,
As his corpse to the rampart we hurried;
Not a soldier discharged his farewell shot
O'er the grave where out hero was buried."
2. It was formerly the custom in our village, when a poor debtor came out of jail,
for his acquaintances to salute him, looking through their fingers, which were
crossed to represent the jail window, "How do ye do?" My neighbors did not thus
salute me, but first looked at me, and then at one another, as if I had returned
from a long journey. I was put into jail as I was going to the shoemaker's to get
a shoe which was mended. When I was let out the next morning, I proceeded to
finish my errand, and, having put on my mended shoe, joined a huckleberry party,
who were impatient to put themselves under my conduct; and in half an hour—for the
horse was soon tackled—was in the midst of a huckleberry field, on one of our
highest hills, two miles off, and then the State was nowhere to be seen.
This is the whole history of "My Prisons."
estou me estendendo mais neste cotejo porque é um caso raro no padrão das
apropriações indébitas da claret. há alguns casos de saques esporádicos à
companhia das letras e à martins fontes e o caso nada esporádico, e sim em grande
escala, de pilhagem à ediouro. bom, como a ediouro foi parceira dos livros-
clipping da claret até 1998 mais ou menos, este fato deve, de alguma maneira, ter
levado a claret a achar que podia ficar saqueando à vontade sua antiga coleguinha.
mas, de modo geral, a bandoleira prefere exercer suas artes de rapinagem em
edições antigas ou portuguesas.
agora, pegar assim de frente uma rocco, bem na época em que o titular da empresa
ocupava a presidência do snel, achei de um senso de humor fora de série – tipo um
claro desafio para mostrar como claret é indômito e escarnece das entidades do
livro, na figura de seus dirigentes. não é um humor que me agrade, e essa
incontrolável disposição antissocial do sr. claret também
não faz muito meu gênero – em todo caso, confesso que fiquei realmente surpresa!
b. pietro nassetti:
b. pietro nassetti:
além de plagiada, a edição usa "chapa fria". sobre o termo "chapa fria", veja
aqui.
este parece ser mais um caso de montagem de edições diferentes. a jackson teve
surripiadas todas as notas de autoria de mello e souza.
se, conforme reza a lei 9610/98, "quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir,
distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com
fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto
ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o
contrafator, nos termos dos artigos precedentes", então algumas solidárias
responsáveis são, por exemplo, a saraiva, a fnac, a cultura, a travessa, a
curitiba.
imagem: http://www.interney.net/
é uma salada russa, inclusive no tratamento. por exemplo, temos na mesma frase:
"assuntos que te trazem aqui ... se o senhor quiser ir... desculpe-me que não te
acompanhe... talvez veja por ti". ou: "sinta-se em sua casa ... se precisar, chama
nanon ... o cão te comeria... durma bem". ou: "meteste na cabeça ... tome
cuidado". ou "vais ver.. quer saquear... és a patroa... faça uma torta e assa no
forno".
vou me concentrar na cópia adulterada a partir da tradução de moacyr werneck.
a. a maria*
seja o teu nome aqui - pois que o teu retrato é o mais belo adorno desta obra -
como um ramo bento de murta, apanhado numa árvore qualquer, mas certamente
santificado pela religião e renovado, sempre verde, por mãos piedosas, para
proteger a casa.
* trata-se de maria du fresnay, que foi, por algum tempo, a amante de balzac, e
que, segundo se julga, lhe deu uma filha, marie caroline du fresnay, nascida em
sartrouville em 1834 e falecida em nice em 1930, com mais de noventa anos de
idade.
b. a maria*
seja o teu nome aqui - pois que o teu retrato é o mais belo ornamento desta obra -
como um ramo bento de murta, colhido numa árvore qualquer; mas certamente
santificado pela religião e revigorado, sempre verde, por mãos piedosas, para
proteger a casa.
* trata-se de maria du fresnay, que foi, por algum tempo, a amante de balzac, e
que, segundo se acredita, lhe deu uma filha, marie caroline du fresnay, nascida em
sartrouville em 1834 e falecida em nice em 1930, com noventa anos. [sic]
a. este desfecho necessariamente ilude a curiosidade. talvez seja assim com todos
os desfechos verdadeiros. as tragédias, os dramas, para falar a linguagem de nosso
tempo, são raridades na natureza. lembrai-vos do preâmbulo. esta história é a
tradução imperfeita de algumas páginas esquecidas pelos copistas no grande livro
do mundo. aqui, nenhuma invenção. a obra é uma humilde miniatura, que exigiria
mais paciência do que arte. cada departamento tem o seu grandet. apenas, o grandet
de mayenne ou de lille é menos rico que o antigo prefeito de saumur. é possível
que o autor tenha forçado um traço, esboçado mal os seus anjos terrestres, posto
cor de mais ou de menos em seu papel. talvez tenha sobrecarregado de ouro o
contorno da cabeça de sua maria; talvez não tenha distribuído as luzes segundo as
regras da arte; enfim, talvez tenha sombreado demais as tintas já escuras do seu
velho, imagem toda material. mas não recuseis vossa indulgência ao monge paciente,
vivendo no fundo de sua cela, humilde admirador da rosa mundi, de maria, bela
imagem de todo o sexo, a mulher do monge, a segunda eva dos cristãos.
se ele continua a atribuir, apesar dos críticos, tantas perfeições à mulher, é que
pensa ainda ele, um jovem, que a mulher é a mais perfeita entre as criaturas.
saída em último lugar das mãos que moldavam o mundo, ela deve expressar mais
puramente que qualquer outro ser o pensamento divino. por isso, ao contrário do
homem, não foi tirada do granito primevo, não foi argila mole sob os dedos de
deus; não: extraída dos flancos do homem, matéria flexível e dútil, ela é uma
criação transitória entre o homem e o anjo. por isso a vedes forte como é forte o
homem, e delicadamente inteligente pelo sentimento, como o é o anjo. não seria
preciso unir nela duas naturezas, para incumbi-la de trazer sempre a espécie em
seu seio? uma criança, para ela, não é toda a humanidade?
b. necessariamente este desfecho ilude a curiosidade. talvez deste modo seja com
todos os desfechos verdadeiros. as tragédias, os dramas, para falar a linguagem de
nosso tempo, são raridades na natureza. lembrai-vos do preâmbulo.* esta história é
a tradução imperfeita de algumas páginas esquecidas pelos copistas no grande livro
do mundo. nisto, nenhuma invenção. a obra é uma humilde miniatura, que exigiria
mais paciência do que arte. cada departamento tem o seu grandet. apenas, o grandet
de mayenne ou de lille é menos rico que o antigo prefeito de saumur. é provável
que o autor tenha forçado um traço, delineado mal os seus anjos terrestres, posto
cor mais ou menos em seu papel. talvez tenha sobrecarregado de ouro o contorno da
cabeça de sua maria; talvez não tenha distribuído as luzes segundo as regras da
arte; enfim, talvez tenha sombreado demasiadamente as tintas já escuras do seu
velho, imagem toda material. mas não recuseis vossa compaixão ao monge resignado,
vivendo no fundo de sua cela, humilde admirador da rosa mundi de maria, bela
imagem de todo o sexo, a mulher do monge, a segunda eva dos cristãos.
não custa lembrar: como dispõe o art. 104, capítulo II, título VII da lei
9.610/98, as livrarias são solidariamente responsáveis com o editor da fraude.
martin grandet coleta sofregamente seus tostões nas usuais máquinas registradoras
(ou caixas eletrônicos) de seus costumeiros acoutadores: fnac, livrarias curitiba,
livraria saraiva, livraria cultura, livraria da travessa, americanas.
imagem: memphis-industries.com
obs.: a notícia é de 2006, mas o ponto continua válido; negritos meus. fonte.
http://www.abdr.org.br/fotos/pages/cg16-2_jpg.htm
http://www.abdr.org.br/fotos/pages/curitiba2_jpg.htm
http://www.abdr.org.br/fotos/pages/pusp3-4_jpg.htm
pela abdr, nem existiria biblioteca no mundo. imaginem só, pessoas poderem ler
livros sem pagar por isso!
"a editora martin claret é a maior pirateadora de livros no país. lesa o mercado
editorial com sua concorrência desleal, lesa os tradutores vivos e falecidos, lesa
as editoras legítimas titulares dos direitos patrimoniais das obras.
ela sozinha pirateia muito mais do que muitas oficinas de xerox somadas. e além do
mais mente: quem paga por um xerox sabe que é xerox. quem compra claret pensa que
está comprando coisa que preste, e não sabe que está sendo enganado.
a abdr não pode ser tão corporativista e defender a martin claret enquanto manda a
polícia invadir com armas os espaços de escolas e universidades. a abdr não pode
abusar da disparidade entre pessoa jurídica e pessoa física, e ficar acoitando
pessoas jurídicas fraudulentas em seu quadro de associados. quer dizer, poder
pode, mas é feio pra danar e só se desmoraliza ao não tomar providências em
relação às piratarias da claret."
em tempo ainda: pessoalmente não creio que xerox de livro, em parte ou na íntegra,
com finalidades de ensino, seja a rigor "pirataria". só o é numa leitura muito
patrimonialista, interesseira e unilateral de um infame capítulo da lei de
direitos autorais de 1998, que converteu o brasil num dos países mais atrasados e
retrógrados do mundo - verdade, não é retórica não! - nessa questão dos limites
que a sociedade pode e deve impor aos interesses privados na área da cultura. uma
hora retorno ao tema.
b. alex marins:
nos dias de hoje quase todos os pretensos progressos do ser humano, tais como a
construção de casas, e a derrubada de florestas e de todas as árvores de grande
porte, deformam simplesmente outro panorama e fá-lo cada vez mais inexpressivo e
vulgar. ah, quem me dera conhecer um povo que iniciasse a destruição das divisas
demarcatórias e deixasse intactas as florestas! eu vi os marcos meio queimados,
seus tocos perdidos pelo prado e um miserável mundano cuidando dos seus limites
como administrador. neste momento o céu havia baixado até ele, que não percebia a
movimentação graciosa dos anjos à volta, mas procurava um velho buraco no meio do
paraíso. fixei novamente minha atenção e vi-o de pé em meio dum paul infernal
cercado de demônios. eis que havia encontrado seus limites exatos: três pequenas
pedras onde haviam fixado uma estaca. olhando melhor, vi que o príncipe das trevas
era o administrador. andar dez, quinze, vinte, qualquer número de milhas, sou
capaz facilmente, começando da minha porta sem parar em qualquer casa, sem
atravessar uma estrada exceto nos trechos em que as próprias raposas e doninhas
são obrigadas a fazê-lo. a começar pelas margens dos rios, depois pelo campo e
pelas bordas da floresta. ainda completamente ermas há milhas e milhas na minha
vizinhança. do alto de muitas colinas posso vislumbrar a civilização e as casas do
homem distante. percebem-se menos os fazendeiros e suas plantações do que os
instrumentos agrários e os sulcos por eles produzidos. o homem e seus negócios, a
igreja, o estado, a escola, o comércio, a indústria, a agricultura, e até a
política, de todos a menos abúlica - folgo em verificar a insignificância do
espaço que ocupam no panorama. resume-se num campo estreito a política, e aquela
estrada real que se descortina ao longe é a que leva a ela. ensino o viajor a se
dirigir para lá, algumas vezes. se quiserdes ir ter ao mundo político, segui a
grande estrada - segui aquele negociante, segui-o bem de perto e lá chegareis.
também esse mundo tem seu lugar e não ocupa todo o espaço. saio dele como se
saísse de um faval para ingressar numa floresta, sem trazer nenhuma recordação. em
apenas meia hora posso encaminhar-me para algum setor da superfície da terra, onde
um homem não resista permanecer durante um ano, campo esse impróprio para a
política vicejar, essa política tão parecida com cinza de charuto.
podemos cruzar com esse espécime passeando pelos acolhedores bosques livrários
onde se refestelam os ishpertos: americanas, fnac, cultura, saraiva, travessa,
curitiba...
repetindo: como dispõe o art. 104, capítulo II, título VII da lei 9.610/98, as
livrarias são solidariamente responsáveis com o editor responsável pela fraude:
então, donas livrarias, que tal começar a ser um pouco mais conscienciosas e
tratar um pouco melhor seus clientes?
imagem: www.images.amazon.com
pode ser cópia literal, cópia com alterações em começo de parágrafo, cópia com
troca de termos em algumas passagens ou em todo o livro, cópia montando trechos de
diversas edições, cópia em qualquer uma dessas formas mudando a pontuação e as
aberturas de parágrafo.
tenho aqui alguns casos quase cômicos. num deles, por exemplo, a tradução de base
foi copidescada praticamente de cabo a rabo, trocando uma quantidade enorme de
palavras por sinônimos. o curioso é que nessa tradução de base:
1. havia alguns erros de entendimento do texto na língua original, o que resultou
em alguns erros de tradução;
2. como o original trazia alguns períodos longuíssimos, o tradutor inicial teve
por bem repicá-los e subdividi-los em várias frases mais curtas;
3. sendo uma obra de filosofia, alguns conceitos eram constantes e se repetiam ao
longo do texto.
a coisa beirou o burlesco numa passagem devidamente vertida pelo tradutor inicial
como "uma imaginação nítida e distinta". com "distinta", naturalmente o autor
referia-se à clareza, precisão etc., das imagens criadas mentalmente. ah, pois o
mercenário não se avexou: tascou-lhe um sinônimo de "distinto" e a passagem ficou
com "uma imaginação clara e diferente"!
imagem: http://www.p4m.de/
o pobre werther de galeão coutinho já havia caído nas garras da nova cultural, em
sua coleção "obras-primas" patrocinada pela suzano celulose.
a pseudoeditora martin claret, cuja única ou principal atividade parece consistir
em copiar o já feito, seguiu o exemplo da nova cultural e surripiou, também ela, a
tradução de galeão coutinho.
o surripio na martin claret vem em nome do inefável peter von nassetten, e mostra
um vão empenho copidescatório que, aliás, apenas reforça a malandrice ishperta da
edição.*
* a situação desse werther na fbn/isbn é meio confusa: além de não dar nome de
tradutor, ele consta como vol. 43 da coleção "a obra-prima de cada autor", sendo
que no exemplar impresso consta como vol. 51.
a. junho, 16
[...] - quando eu era mais jovem - disse-me ela -, nada me fascinava tanto como os
romances. só deus sabe quanto eu me sentia feliz, aos domingos, recolhendo-me a um
cantinho para participar, de todo o coração, da felicidade ou do infortúnio de
qualquer srta. jenny. não nego que esse gênero de leitura ainda encerra algum
encanto para mim; acontece, porém, que são tão raras as vezes em que posso agora
abrir um livro, que me tornei mais exigente na escolha. o autor que eu prefiro é
aquele onde eu encontro meu mundo costumeiro e os incidentes comuns no meu círculo
de relações, de sorte que sua narrativa me inspire um interesse tão cordial como o
que acho na minha vida doméstica, a qual, embora não seja um paraíso, me oferece
uma fonte de felicidade inexprimível.
esforcei-me, debalde, por abafar a emoção que essas palavras me produziram. quando
ela se referiu, de passagem, ao vigário de wakefield, de ...*, com tanta verdade,
não me contive e disse-lhe tudo quanto a respeito eu pensava. só ao cabo de algum
tempo, ao dirigir-se carlota, novamente, às outras duas damas, percebi que ambas,
arregalando muito os olhos, tinham estado até ali inteiramente alheias à nossa
conversa. a prima olhou-me por mais de uma vez com um ar de troça, mas não liguei
importância.
b. 16 de junho
[...] - quando eu era mais jovem - disse ela -, nada me fascinava tanto como os
romances. só deus sabe o quanto eu me sentia feliz, aos domingos, recolhendo-me a
um cantinho para compartilhar, de todo o coração, da felicidade ou das desventuras
da srta. jenny. não nego que esse gênero de leitura ainda tenha algum encanto para
mim; como agora, porém, são tão raras as vezes em que posso abrir um livro,
tornei-me mais exigente na escolha. o autor que eu prefiro é aquele em que
reconheço o mundo e os incidentes comuns no meu círculo de relações, tornando a
história tão interessante e terna quanto a minha vida doméstica, que, embora não
seja um paraíso, é para mim fonte de felicidade inexprimível.
esforcei-me para ocultar a emoção que essas palavras me produziram. quando ela se
referiu, de passagem, ao vigário de wakefield, de ...*, com tanta verdade, não me
contive e disse-lhe tudo o que pensava a respeito. só ao cabo de algum tempo, ao
dirigir-se lotte novamente às outras duas damas, percebi que ambas, arregalando
muito os olhos, tinham estado até ali inteiramente alheias à nossa conversa. a
prima olhou-me por mais de uma vez com um ar zombeteiro, mas não dei importância.
- se essa paixão é um crime - disse lotte - não posso ocultá-lo; para mim, não há
nada melhor do que a dança. se alguma coisa perturba a minha cabeça, é só sentar-
me ao meu cravo desafinado e martelar uma contradança, e tudo volta ao normal!
(pp. 26-27)
imagino uma cena assim: o cliente quer comprar um carro usado. ele pega a
documentação do veículo. o carro ali é um, sei lá, um palio verde-escuro, ano
2003, de placa ZZZ-0000. aí ele quer conferir a situação de ipva, de multa etc.,
numa consulta trivial no site do detran. só que aparece que aquela placa
corresponde a um, digamos, beetle amarelinho, ano 2005.
acho que outro termo de comparação possível para os números de isbn, além de
carteira de identidade ou cpf de pessoas, é documento de carro, por que não?
registro obrigatório por lei, sob um número único e exclusivo, em instância
pública federal, com validade em todo o território nacional, que só pode ser
atribuído por agências expressamente designadas para tal fim a um ser ou objeto
cujas características devem corresponder à descrição que consta em seu cadastro.
então agora vou adotar o termo "chapa fria" para designar números falsos ou
inexistentes de isbn ou com dados divergentes dos que constam no livro impresso.
desta maneira sinistra foi que entrei na posse de minha herança. poderá bem me
perguntar por que não a vendo e eu lhe responderei que tenho quase certeza de que
nossa infelicidade se relacionava e dependia de algum incidente na vida de meu tio
e que o perigo continuaria tanto numa casa como em outra. foi em janeiro de 85 que
meu pobre pai encontrou a morte e já se passaram dois anos e oito meses. durante
todo esse tempo vivi feliz em horsham e tinha esperanças de que essa maldição na
família houvesse passado e que terminava na última geração. [...]
- tenho uma vaga lembrança - disse ele - de que no dia em que meu tio queimou os
papéis, eu reparei que as pequenas margens que não estavam queimadas e que jaziam
entre as cinzas, eram desta cor. achei esta única folha no chão do quarto dele, e
estou inclinado a pensar que seja um dos papéis que talvez se desprendeu dos
outros, escapando assim à destruição. além do fato de se referir às sementes não
sei em que nos possa ajudar. (pp. 113-15)
dessa maneira sinistra foi que entrei na posse de minha herança. poderá bem me
perguntar por que não a vendo, e eu lhe responderei que tenho quase certeza de que
nossa infelicidade era decorrência de algum incidente na vida de meu tio, e que o
perigo continuaria tanto numa casa como na outra. foi em janeiro de 85 que meu
pobre pai encontrou a morte, e já se passaram dois anos e oito meses. durante todo
esse tempo vivi feliz em horsham, com esperanças de que essa maldição na família
houvesse passado e que terminava na última geração. [...]
- tenho uma vaga lembrança - disse ele - de que no dia em que meu tio queimou os
papéis, eu reparei que as pequenas margens que não estavam queimadas e que jaziam
entre as cinzas eram desta cor. achei esta única folha no chão do quarto dele, e
estou inclinado a pensar que seja um dos papéis que talvez se desprendeu dos
outros, escapando assim à destruição. além do fato de se referir às sementes, não
sei em que nos pode ajudar. (pp. 94-96)
estremeci quando vi o nome porque não era outro senão... bem acho que nem ao
senhor devo revelar, basta dizer que é um nome pronunciado em todas as casas e no
mundo inteiro, um dos nomes mais nobres, mais exaltados na inglaterra. (p. 244)
[...] o senhor supõe que seu filho levantou-se da cama, e foi, com grande risco,
ao seu quarto de vestir, abriu seu bureau, tirou sua coroa, quebrando uma parte
dela à força, foi-se para outro lugar e escondeu três das gemas com tanta
habilidade que ninguém as encontra, depois voltou com as outras 36 gemas para o
quarto, onde ele se expôs ao grande perigo de ser descoberto. pergunto-lhe, é
sustentável tal teoria?
- mas pode haver outra? exlamou o banqueiro com um gesto de desespero. - se os
motivos dele eram inocentes, por que não os explica? (p. 253)
[...] o senhor supõe que seu filho levantou-se da cama, e foi, com grande risco,
ao seu quarto de vestir, abriu seu bureau e tirou a coroa, quebrando uma parte
dela à força. então foi para outro lugar e escondeu três das gemas com tanta
habilidade que ninguém as encontrou até agora, voltando depois com as outras 35
gemas para o quarto, onde se expôs ao enorme perigo de ser descoberto. pergunto-
lhe, é sustentável tal teoria?
- e pode haver outra? exlamou o banqueiro com um gesto de desespero.
- se os motivos dele eram inocentes, por que não os explica? (p. 178)
naturalmente essas sinistras aventuras claretianas se encontram nos valhacoutos
favoritos dos ishpertos: livraria cultura, livrarias curitiba, livraria da
travessa, fnac, saraiva...
como dispõe o art. 104, no capítulo referente às sanções civis que aplicam às
violações dos direitos autorais, da lei 9.610/98, as livrarias são solidariamente
responsáveis com o editor responsável pela fraude: a meu ver, seria muito
importante que as livrarias começassem a exercer um maior discernimento na seleção
das obras que colocam à disposição do público consumidor.
eis uma pequenina amostra de teses, ementas de curso, artigos, concursos públicos
etc., dando como referência o grande salteador da boa-fé dos leitores, amparado
pelo interesse dos coniventes e pela indiferença dos acomodados:
www.fafich.ufmg.br/~labfil/wp-content/uploads/2009/01/livro-didatico-filosofia.pdf
www.fasete.edu.br/arquivos/file/secretaria/2008/LETRAS%202008%20PDF/IV%20PERÍODO/L
iteratura_Latina.pdf
www.farn.br/novo/navegacao/cursos/planos/2008.2/direito/2o_ano/filosofia_direito.p
df
www.ggpe.reitoria.unicamp.br/teia/material/paulo_renato/relacoes_de_poder_e_democr
acia.pdf www.esag.udesc.br/arquivos/Planos%20de%20Ensino/2004-
2/.../Teoria%20Geral%20da%20Adm%20publica%20-%20...
http://w3.ufsm.br/leaf/menuesp5/eefd48f82dbce95fadc86a5751ae60ad.pdf
www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/589/533
http://200.17.209.5:8000/cgi-bin/gw_42_13/chameleon.42.13a?host...ufpr&conf...
www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2892
www.facs.br/revistajuridica/edicao_maio2006/discente/dis5.doc
www.abralic.org.br/enc2007/anais/42/22.pdf
www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao022/Rommel_Carneiro.htm
www.pucsp.br/pos/filosofia/Pragmatismo/cognitio_estudos/cog_estudos_v4n1/cog_est_v
4n1_freitas_lorena_de_m.pdf www.ufpe.br/historia/artigo3rev1.html
http://www.amatra3.com.br/uploaded_files/artigo%20sobre%20Platão.pdf
www.cchla.ufrn.br/odisseia/numero2/arquivos/5_Maria_Suely_da_Costa.pdf
www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=432
www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=419
www.unc.br/ementas/e_direito.pdf
www.al.rs.gov.br/biblioteca/servicos_aquisicoes.asp
http://www6.ufrgs.br/idea/modules.php?op=modload&name=books&file=index&req=view_su
bcat&sid=65&orderby=ratingA
www.polemica.uerj.br/pol23/cimagem/p23_carmen.htm
www.unincor.br/revista/Aspectos%20formadores5.html
www.consa.com.br/consa/download/2009/lista_material/listas_materiais_para_6_ano_3_
serie.doc http://biblioteca.facitec.br/arquivos/120000/123600/147_123659.htm
www.administradores.com.br/artigos/aspectos_formadores_para_a_aplicacao_etica_aos_
direitos.../13484/ www.insaf.com.br/site/arquivos/aproveitamento_estudos2008.1.pdf
www.unifra.br/eventos/jornadaeducacao2006/.../O%20ENSINO%20DE%20FILOSOFIA%20E%20SU
A
www.unioeste.br/prppg/download/pos_nao_iniciados/Esp_cvel_FundEducacao.pdf
www.fc.unesp.br/upload/rh/concursos/edital_10407.pdf
www.lo.unisal.br/sistemas/bioetica/arquivos/Marcius%20Artigo%20-
%20o%20ser%20humano.doc
https://sie.juvencioterra.edu.br/sie/sis_disc.jsp?disc=471
www.jfrn.gov.br/docs/doutrina152.doc
www.coperve.ufsc.br/ead2007/edital/programa.doc
www.scielo.br/cgi-bin/fbpe/fbtext?pid=S1413-81232007000200026
www.revista.art.br/site-numero-02/trabalhos/06.htm
www.ichs.ufop.br/memorial/trab/h11_2.doc
www.cefipoa.com.br/artigos.php?id=7&PHPSESSID=f84aa952d1278d26bf71ca5ea18d...
http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
34372005000100007&lng=pt&nrm=iso
http://direito.catolica-
to.edu.br/index.php?conteudo=planosdeensino&disciplina=132&semestre=2008/2
www.unieuro.edu.br/downloads_2005/consilium_02_03.pdf
http://www2.pucpr.br/reol/index.php/DIALOGO?dd1=565&dd99=pdf
www.universia.com.br/materia/img/ilustra/2005/out/artigos/Para%20uma%20Critica%20d
a%20Razao%20Androce...
www.artigonal.com/educacao-artigos/5ª-serie-uma-questao-escolar-o-drama-da-
transicao-379626.html
https://nexos.ufscar.br/nexos/PlanosConsultaL.jsp?Disciplina=170119&Turma=A&Ano=20
07
www.seed.pr.gov.br/portals/folhas/anexosFase2/folhas1825_versaoFinal_DEM.doc
www.santamariadasvitorias.com.br/documentos/moral_e_direito_em_tomas_de_aquino.doc
www.sieduca.com.br/2006/admin/upload/5.doc
www.facs.br/revistajuridica/edicao_abril2006/convidados/con3.doc
http://bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=229
www.fav.ufg.br/download.php?tipo=graduacao_design-de-interiores_programas-das-
disciplinas&item=1&arquivo
www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/revistalable/numero6/geraldo.pdf
www.intercom.org.br/papers/nacionais/2003/www/pdf/2003_NP13_costa.pdf
www.insaf.com.br/cursos/ementas.php
www.cbc.ufms.br/tedesimplificado/tde_busca/processaArquivo.php?codArquivo=196
www.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/021e4.pdf
http://sistemas2.usp.br:8080/jupiterweb/obterDisciplina?sgldis=CMU0542&verdis=1
www.concursosed.ufsc.br/sed2005_01/gabarito_provas/provas/filosofia.doc
www.sindsemg.com.br/.../27.../Raimundo%20Nonato%20-
%20Revolução%20Científica%20em%20Secretariado
http://www2.camara.gov.br/posgraduacao/dinter-projeto-jose-de-ribamar-barreiros-
soares
www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20081029100044.pdf
www.zoon.org.br/biblioteca/textos_artigos/educacao_ludica_do_olhar.pdf
www.textolivre.com.br/joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=4619
http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/1884/11166/1/Disserta%C3%A7%C3%A3
o%20Rosanea%20E%20Ferreira.PDF.
www.ccsa.ufrn.br/ccsa/docente/rodson/ftp/ProgramaFHF-I.doc
www.fc.unesp.br/econcurso/concurso.visualizarArquivo.action?txt_arquivo=175
http://www2.mp.ma.gov.br/ampem/artigos/25.%20Anencefalia_e_%20aborto.pdf
http://bdtd.unisinos.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=387
www.esamaz.com.br/fotos/file/GuiaAcademico/CienciasPolitica.doc
http://www.inventario.ufba.br/04/04dcarrascosa.htm
www.ppgletras.furg.br/disserta/danilomachado.pdf
www.amatra20.org.br/amatrawi/arquivos/justica_e_seguranca.doc
www.fenassec.com.br/consec_1lugar.pdf
www.abrapso.org.br/encontro_abrapso_Folder/Propostas_dos_cursos.doc
www.unama.br/graduacao/cursos/Direito/download/GuiaAcademicoSemestral.pdf
www.rsirius.uerj.br/boletim2005/Boletim_9.htm
http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0511064_07_postextual.pdf
http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/download/259/187.
http://www6.univali.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=357
www.ufpi.br/picos/uploads/coordenacoes/coord1/mural/File/PROJETO_DE_PESQUISA_MSTRA
DO.doc http://sites2.ufal.br/prograd/academico/cursos/campus-maceio/ppc-
direito.pdf.
www.dibib.ufsj.edu.br/dibib/principal/resultadofinal.pdf
www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/556/500
www.cefetmg.br/info/downloads/PrEletronico005.2005LIVROS.pdf
www.filosofia.cchla.ufrn.br/costaandrade/doismiletres.html
http://www1.capes.gov.br/estudos/dados/2003/20001010/038/2003_038_20001010008P8_Di
sc_Ofe.pdf http://engema.up.edu.br/arquivos/engema/pdf/PAP0160.pdf
www.fazendogenero7.ufsc.br/artigos/B/Bertani-Rezende-Sakamoto-Silva-Silva_26.pdf
http://www.abralic.org.br/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/006/LIGIA_WINTER.pdf
o assustador é que esse monstrengo, que acho que foi o mais denunciado de todos,
continua à venda em livrarias supostamente respeitáveis como a cultura, a fnac, as
livrarias curitiba, a livraria da travessa...
certamente essas livrarias não iriam ficar mais ricas nem mais pobres se parassem
de espalhar esse lixo pelo país. e de lambugem ainda poderiam se sentir de
consciência tranquila por não estar enganando seus clientes.
imagem: parafrasefacil.blogspot.com
b. vênus:
(...) há tempo indo hipólito, da casa
de piteu, visitar a ática terra,
e ver e assistir aos venerandos
mistérios; o viu fedra, nobre esposa
de seu pai, e então por arte minha
um furioso amor concebeu n'alma.
e antes de vir aqui, no mais sublime
do rochedo de palas, donde avista
esta terra trezênia, um templo a vênus
levantou: porque amava amor ausente.
os vindouros dirão que ali a deusa,
pelo amor a hipólito, foi posta.
co'a morte dos palântidas, fugindo
do sangue derramado à triste mancha,
teseu com a consorte aqui aporta,
para cumprir seu anual desterro.
assim a miseranda, suspirando,
e das setas de amor atravessada
morre em silêncio; o mal ninguém lho sabe.
mas este amor não me convém que afrouxe:
mostrá-lo-ei a teseu, será sabido.
ao meu duro adversário autor da morte
será seu mesmo pai; pois que netuno
anuiu a teseu, por dom, três vezes
todo o voto outorgar que lhe fizesse.
sim é ilustre fedra; porém morre:
pois o seu mal a mim mais não me importa,
que de sorte punir meus inimigos,
que um ponto não se ofusque a minha glória.
* na verdade, mello e souza adverte em seu prefácio que se trata de uma tradução
portuguesa antiga de autoria desconhecida
eurípedes, electra:
a. trad.: j.b. de mello e souza (jackson/ediouro)
b. plágio: pietro nassetti (martin claret)
a. o trabalhador - ó veneranda argos, da terra por onde corre o ínaco e de onde,
outrora, comandando mil navios de guerra, até as plagas de tróia velejou o rei
agamêmnon! tendo vencido a príamo, que reinava sobre a terra ilíada, ele retornou
a argos, deixando em ruínas a cidade ilustre de dárdano; e depositou nos altos
templos numerosos despojos daqueles bárbaros. foi feliz, lá na ásia, sim! - mas,
aqui, de regresso ao lar, pereceu vítima da astúcia de sua esposa clitemnestra, e
sob o golpe de egisto, filho de tiestes. pereceu o detentor do cetro antigo de
tântalo; e é egisto quem manda agora nesta terra, e possui a tíndaris, esposa do
atrida. este deixara em sua casa, ao partir para tróia, seu filho orestes e sua
filha electra. um velho, que fora mestre do pai, conseguiu levar consigo orestes,
quando egisto ia matá-lo; e confiou-o, na terra de focéia, a estrófio, para que o
criasse; mas a jovem electra permaneceu no lar paterno. logo que atingiu a
puberdade, os mais ilustres helenos pediram-lhe a mão; mas o usurpador, receando
que do consórcio da princesa com um árgio eminente nascesse um descendente que
vingasse um dia a morte de agamêmnon, preferiu conservá-la solteira.
um bom tempo atrás, a clássicos jackson publicou eurípedes nas famosas traduções,
acompanhadas de introdução e notas, de j. b. de mello e souza. essas traduções
continuam ativas no catálogo da ediouro.
como o sr. μαρτιν ψλαρετ tem uma compulsão irrefreável em se apropriar do alheio,
ele resolveu copiar alceste, electra e hipólito da jackson/ediouro e tascou o nome
de seu inseparável companheiro πιετρο νασσεττι.
eurípedes, alceste
introdução
1. tem esta bela tragédia de eurípedes, por principal objetivo, a exaltação do
amor conjugal que atinge o mais sublime heroísmo.
alceste, laodâmia e penélope, esposas de admeto, protesilau e ulisses,
respectivamente, constituem o tríptico das mais nobres figuras figuras femininas
que a lenda grega nos apresenta. das três, porém, coube à incomparável rainha de
feres praticar o rasgo de abnegação que lhe assegura a primazia entre as esposas
modelares. (j. b. mello e souza)
a. as tardes de Verão são muito compridas. ainda não estava escuro. pouco depois,
ao ver na sua frente um rapaz mais alto do que ele, tom moderou o tom do assobio.
qualquer recém-chegado, fosse qual fosse a sua idade ou sexo, era um acontecimento
impressionante na pequena aldeia de são petersurgo. além disso, aquele rapaz
estava bem vestido - bem vestido num dia de semana -, o que era simplesmente
espantoso. o boné era uma coisa linda, e o casaco, de pano azul e todo abotoado,
era novo e bem feito, assim como as calças. tinha sapatos calçados, apesar de ser
só sexta-feira. até trazia gravata, feita de um bocado de fita de cor. tinha um ar
citadino que indignava tom. quanto mais olhava para aquela esplêndida maravilha,
quanto mais arrebitava o nariz a olhar para tanto luxo, mais pobre e mesquinho lhe
parecia o seu próprio fato. nenhum deles falava. se um se mexia, o outro mexia-se
também, mas sem deixarem de estar em frente um do outro nem de se olhar. (pp. 7-8)
descobrira, sem o saber, uma grande lei que rege a Humanidade e que é: para se
conseguir que um homem ou um rapaz cobice uma coisa, basta tornar essa coisa
difícil de obter.
se fosse um grande e sábio filósofo, como o autor deste livro, teria compreendido
então que trabalho consiste em tudo que se é obrigado a fazer e que prazer
consiste naquilo que não se é obrigado a fazer. este raciocínio tê-lo-ia ajudado a
entender por que se chama trabalho aos trabalhos forçados e a fazer flores
artificiais, enquanto que jogar o berlinde ou escalar o monte branco não passa de
um divertimento. há senhores muito ricos, em inglaterra, capazes de guiar carros
de passageiros puxados por quatro cavalos num caminho de vinte ou trinta milhas
todos os dias no Verão, porque para isso têm de pagar uma quantia considerável,
mas que se recusariam a fazê-lo se lhes oferecessem um ordenado, pois isso
passaria então a ser considerado trabalho. (p. 15)
b. as tardes de verão são muito compridas. ainda não estava escuro. pouco depois,
tom moderou o seu assobio, vendo na sua frente um menino pouco mais alto do que
ele. qualquer recém-chegado, fosse qual fosse a sua idade ou sexo, era um
acontecimento impressionante na pequena vila de são petersurgo. além disso, aquele
rapaz estava bem vestido - considerando-se que era um dia de semana -, o que era
simplesmente espantoso. o boné era uma coisa linda, e o casaco, de pano azul e
todo abotoado, era novo e bem-feito, assim como as calças. calçava sapatos, apesar
de ser só sexta-feira. usava até gravata, feita de um pedaço de fita de cor. tinha
um ar citadino que indignava tom. quanto mais olhava para aquela esplêndida
maravilha, quanto mais arrebitava o nariz a olhar para tanto luxo, mais pobre e
mesquinha lhe parecia a sua própria roupa. nenhum deles falava. se um se mexia, o
outro também, mas sem deixarem de estar em frente um do outro nem de se olhar. (p.
16)
descobrira, sem o saber, uma grande lei que rege a humanidade e que é: para se
conseguir que um homem ou um menino cobice uma coisa, basta tornar essa coisa
difícil de obter.
se fosse um grande e sábio filósofo, como o autor desse livro, teria compreendido
então que trabalho consiste em tudo que se é obrigado a fazer e que prazer
consiste naquilo que não se é obrigado a fazer. este raciocínio tê-lo-ia ajudado a
entender por que se chama trabalho aos trabalhos forçados e ao fazer flores
artificiais, enquanto jogar pino ou escalar o monte branco não passa de
divertimento. há senhores muito ricos, na inglaterra, capazes de guiar carros de
passageiros puxados por quatro cavalos num caminho de vinte ou trinta milhas todos
os dias no verão, porque para isso têm de pagar uma quantia considerável, mas que
se recusariam a fazê-lo se lhes oferecessem um ordenado, pois isso passaria então
a ser considerado trabalho. (p. 23)
a.
A magnífica parada comandada pelo imperador devia ser a última daquelas que por
tanto tempo exaltaram a admiração dos parisienses e dos estrangeiros. A velha
guarda ia executar, pela última vez, as sábias manobras cuja pompa e precisão
espantaram algumas vezes até o próprio gigante, que se preparava então para o seu
duelo com a Europa. Um triste sentimento levava às Tulherias uma brilhante e
curiosa população. Cada um parecia adivinhar o futuro, e pressentia talvez que
mais de uma vez a imaginação teria que retraçar o quadro daquela cena, quando os
tempos heróicos da França adquirissem, como hoje, tintas quase fabulosas.
(fernandes/lousada, p. 515)
b.
A magnífica parada comandada pelo imperador devia ser a última daquelas que por
tanto tempo exaltaram a admiração dos parisienses e dos estrangeiros. A velha
guarda ia executar, pela última vez, as sábias manobras cuja pompa e precisão
espantaram algumas vezes até o próprio gigante, que se preparava então para o seu
duelo com a Europa. Um triste sentimento levava às Tulherias uma brilhante e
curiosa população. Todos pareciam adivinhar o futuro, e pressentiam talvez que,
mais de uma vez, a imaginação teria que retraçar o quadro daquela cena, quando os
tempos heróicos da França adquirissem, como hoje, cores quase fabulosas.
(nassetti, p. 19)
a.
Uma mulher moça, célebre em Paris por sua graça, por sua beleza e por seus dotes
de espírito, e cuja posição social e fortuna estavam em harmonia com a sua
celebridade, veio, com grande espanto do vilarejo situado a cerca de uma milha de
Saint-Lange, estabelecer-se ali em fins do anos de 1820.39 Desde tempos imemoriais
que os rendeiros e camponeses não viam os donos do castelo. Se bem que de uma
produção considerável, as terras estavam abandonadas aos cuidados de um
administrador e guardadas por velhos serviçais. Por isso, a viagem da senhora
marquesa causou uma certa sensação na região. Muitas pessoas tinham-se agrupado na
entrada da vila, no pátio de um albergue situado no entroncamento das estradas de
Nemours e Moret, para verem passar uma caleça que avançava lentamente, pois a
marquesa viera de Paris com os seus cavalos. No assento dianteiro, a criada de
quarto fazia companhia a uma menina mais tristonha do que risonha. A mão vinha no
fundo da carruagem, imóvel como um moribundo que os médicos tivessem enviado para
o campo. (fernandes/lousada, p. 570)
39. 1820. Esta data parece errada; deveria ser substituída por 1823, pois a morte
de Artur ocorreu nesse ano. Cf. também a nota seguinte. [obs.: a nota é de paulo
rónai]
b.
Uma mulher moça, célebre em Paris por sua graça, por sua beleza e por seus dotes
de espírito, e cuja posição social e fortuna estavam em harmonia com a sua
celebridade, veio, para grande espanto do vilarejo situado a cerca de uma milha de
Saint-Lange, estabelecer-se ali em fins do anos de 1820.1 Desde tempos imemoriais
que os rendeiros e camponeses não viam os donos do castelo. Apesar de ter um
rendimento considerável, as terras estavam abandonadas aos cuidados de um
administrador e guardadas por velhos serviçais. Por isso, a viagem da senhora
marquesa causou uma certa sensação na região.
Muitas pessoas tinham-se agrupado na entrada da vila, no pátio de um albergue
situado no entroncamento das estradas de Nemours e Moret, para verem passar a
carruagem, que avançava lentamente, pois a marquesa viera de Paris com os seus
cavalos. No assento dianteiro, a criada de quarto fazia companhia a uma menina
mais tristonha que risonha. A mão vinha no fundo, imóvel como um moribundo que os
médicos tivessem enviado para o campo. (nassetti, pp. 73-74)
1. 1820. Esta data parece errada; deveria ser substituída por 1823, ano em que
ocorreu a morte de Artur.
imagem: migas-bdc.blogger.com.br
"Por conta da forte presença da CBL nos últimos anos nas grandes discussões sobre
as políticas públicas do livro e leitura no Brasil, as eleições deste ano
revestem-se de importância estratégica para a consolidação da questão do livro e
da leitura no Brasil."
mas, qualquer chapa que vença, entendo que o compromisso básico da câmara
brasileira do livro é com o livro (honesto, ça va sans dire) e com o leitor.
p. 182:
Atos contra os quais a lei pronuncia a morte, como a profanação dos templos, o
roubo com efração, a venda de homens livres, a traição à pátria, meus próprios
acusadores não ousam dizer que os haja cometido. Surpreso, pois, pergunto a mim
mesmo qual o crime por que me condenais à morte. Nem por morrer injustamente devo
ter-me em menor estima: não sobre mim, mas sobre os que me condenam cairá a
ignomínia. Demais, consolo-me com Palamedes que findou quase como eu. Até hoje
ainda lhe cantam hinos mais magníficos que a Ulisses, que o fez perecer
injustamente.
p. 183:
Acompanhava-o certo Apolodoro, alma simples e extremamente afeiçoada a Sócrates,
que lhe disse:
— Não posso suportar, Sócrates, ver-te morrer injustamente.
Então se diz que, passando-lhe de leve a mão pela cabeça, Sócrates respondeu:
— Como! Meu caro Apolodoro então preferias ver-me morrer justamente?
E ao mesmo tempo sorria.
É voz ainda que, vendo passar Ânito, disse:
— Vejam só como vai ufano aquele homem: crê ter realizado bela façanha em me
matando, por haver-lhe eu dito certo dia que, uma vez que fora levado às primeiras
dignidades da República, não ficava bem elevar o filho ao mister de tanoeiro.
Miserável! Parece ignorar que, de nós dois, verdadeiro vencedor é aquele que
durante toda a vida não cessou de praticar ações úteis e honestas.
pp. 278-79:
Atos contra os quais a lei pronuncia a morte, como a profanação dos templos, o
roubo, a venda de homens livres, a traição à pátria, meus próprios acusadores não
ousam dizer que os tenha cometido. Surpreso, pois, indago a mim mesmo qual o crime
por que me condenais à morte. Nem por morrer injustamente devo ter-me em menor
estima: não sobre mim, mas sobre os que me condenam cairá a ignomínia. Ademais,
consolo-me com Palamedes que acabou quase como eu. Até hoje ainda lhe cantam hinos
mais estupendos do que a Ulisses, que o fez morrer injustamente.
p. 281:
Acompanhava-o certo Apolodoro, alma simples e extremamente afeiçoada a Sócrates,
que lhe disse:
— Não posso aguentar, Sócrates, ver-te morrer injustamente.
Então dizem que, passando-lhe de leve a mão pela cabeça, Sócrates respondeu:
— Meu caro Apolodoro, então preferias ver-me morrer justamente?
E ao mesmo tempo sorria.
Dizem ainda que, vendo passar Ânito, disse:
— Vejam só como vai orgulhoso aquele homem: julga haver realizado bela façanha em
me matando, por haver-lhe eu dito certo dia que, uma vez que fora levado às
primeiras dignidades da República, não ficava bem elevar o filho ao ofício de
tanoeiro. Miserável! Parece ignorar que, de nós dois, verdadeiro vencedor é aquele
que durante toda a vida não parou de praticar ações úteis e honestas.
imagem: www.digitaldrops.com.br
pp. 59-6o:
A que testemunho, afinal, recorreram para provar que ele não honrava os deuses do
Estado; se fazia sacrifícios freqüentes às abertas, ora em sua casa, ora nos
altares públicos; se praceiramente recorria à arte divinatória? Corria a voz,
ateada pelo próprio Sócrates, de que o inspirava um demônio[1]: eis, sem dúvida,
por que o criminaram de introduzir extravagâncias demoníacas. No entanto, não
introduzia ele mais novidades do que todos aqueles que crêem na adivinhação e
interrogam o vôo das aves, as vozes, os signos e as entranhas das vítimas: não
supõem nas aves nem naqueles com que se encontram o conhecimento do que buscam,
mas acreditam que por seu intermédio lho revelam os deuses; Sócrates também
pensava o mesmo. Diz o vulgo que as aves e os encontros nos advertem se devemos
prosseguir ou retroceder no que temos de olho: Sócrates falava o que sentia,
dizendo-se inspirado por um demônio. E de acordo com as revelações desse demônio
aconselhava aos amigos o fazer certas coisas, o abster-se de outras. Só tinham a
ganhar os que o ouviam. Arrependiam-se os que nele não acreditavam. Claro que não
havia de querer passar por imbecil nem por impostor aos olhos de seus discípulos.
E imbecil e impostor ter-se-ia tornado, se predissesse coisas como reveladas por
um deus e em seguida fosse desmentido. Evidente, portanto, é que se absteria de
predizer caso não estivesse certo de falar verdade. Ora, o que lhe inspiraria esta
certeza senão um deus? E se tinha fé nos deuses, como poderia negar-lhes a
existência?
[1] - Demônio: gênio bom ou divindade, e não o sentido posterior de gênio do mal.
(N. do E.)
p. 70:
Mas Sócrates — diz seu acusador — destruía nas crianças o respeito filial,
convencendo seus discípulos de que os tornava mais hábeis que seus pais, dizendo-
lhes que a lei permite encarcerar o pai convicto de loucura, para provar o que
dizia que ao homem instruído assiste o direito de encadear o ignorante. Longe
disso, achava Sócrates que o indivíduo que sob capa de ignorância acorrentasse
outro, merecia ser acorrentado a seu turno pelo primeiro que soubesse mais que
ele. Eis por que examinava de cotio em que difere a ignorância da loucura,
parecen-do-lhe não se proceder erradamente encarcerando os loucos — em seu próprio
interesse e de seus amigos — ao passo que os ignorantes devem aprender o de que
necessitam da boca dos que sabem.
p. 80:
"[...] Não é um dever, para todo aquele que saiba ser a temperança o cimento da
virtude, o encastoá-la antes de tudo na própria alma? Sem ela, como discernir o
bem e praticá-lo dignamente? O escravo das próprias paixões não degrada
vergonhosamente o corpo e o espírito? Parece-me, por Juno!, que todo homem livre
deve pedir aos deuses não venha a ter um escravo tal, e todo escravo das próprias
paixões encontre bons senhores; do contrário estará perdido". Eis o que dizia, e
suas ações mais que suas palavras testemunhavam sua temperança: sobranceiro não
somente aos prazeres dos sentidos como também ao que busca a riqueza, achava que
receber dinheiro do primeiro que aparece é comprar um senhor e sujeitar-se à mais
ignominiosa servidão.
2. mirtes coscodai
p. 79:
A que testemunho, afinal, recorreram para provar que ele não honrava os deuses do
Estado; se fazia sacrifícios freqüentes às abertas, ora em sua casa, ora nos
altares públicos; se praceiramente recorria à arte divinatória? Corria a voz,
ateada pelo próprio Sócrates, de que o inspirava um demônio: eis, sem dúvida, por
que o culparam de introduzir extravagâncias demoníacas. Contudo, não introduzia
ele mais novidades do que todos aqueles que acreditam na adivinhação e interrogam
o vôo das aves, as vozes, os signos e as entranhas das vítimas: não supõem nas
aves nem naqueles com que se encontram o conhecimento do que buscam, mas crêem que
por seu intermédio lho revelam os deuses; Sócrates também pensava o mesmo. Diz o
vulgo que as aves e os encontros nos advertem se devemos prosseguir ou retroceder
no que temos de olho: Sócrates falava o que sentia, dizendo-se inspirado por um
demônio. E de acordo com as revelações desse demônio aconselhava aos amigos o
fazer certas coisas, o abster-se de outras. Só tinham a ganhar os que ouviam.
Arrependiam-se os que nele não acreditavam. Claro que não havia de querer passar
por imbecil nem por impostor aos olhos de seus discípulos. E imbecil e impostor
ter-se-ia tornado, se predissesse coisas como reveladas por um deus e em seguida
fosse desmentido. Evidente, então, é que se absteria de predizer caso não
estivesse certo de falar verdade. Ora, o que lhe inspiraria esta certeza senão um
deus? E se tinha fé nos deuses, como poderia negar-lhes a existência?
pp. 94-95:
Mas Sócrates — diz seu acusador — destruía nas crianças o respeito filial,
convencendo seus discípulos de que os tornava mais hábeis que seus pais, dizendo-
lhes que a lei permite encarcerar o pai convicto de loucura, para provar o que
dizia que ao homem instruído assiste o direito de encadear o ignorante. Longe
disso, julgava Sócrates que o indivíduo que sob capa de ignorância acorrentasse
outro, merecia ser acorrentado a seu turno pelo primeiro que soubesse mais que
ele. Eis por que examinava cotidianamente em que difere a ignorância da loucura,
parecen-do-lhe não se agir erradamente encarcerando os loucos, em seu próprio
interesse e de seus amigos, ao passo que os ignorantes devem aprender o de que
necessitam da boca dos que sabem.
p. 110:
"[...] Não é um dever, para todo aquele que saiba ser a temperança o cimento da
virtude, o engastá-la antes de tudo na própria alma? Sem ela, como distinguir o
bem e praticá-lo dignamente? O escravo das próprias paixões não degrada
vergonhosamente o corpo e o espírito? Parece-me, por Juno!, que todo homem livre
deve pedir aos deuses não venha a possuir um escravo tal, e todo escravo das
próprias paixões encontre bons senhores; do contrário estará perdido". Eis o que
dizia, e seus atos mais que suas palavras testemunhavam sua temperança: superior
não apenas aos prazeres dos sentidos como também ao que busca a riqueza, achava
que receber dinheiro do primeiro que aparece é comprar um senhor e sujeitar-se à
mais vergonhosa servidão.
imagem: www.famousplagiarists.com
se você também não gosta de plágio e quiser deixar seu nome, escreva seu recado
aqui nos comentários deste post.
o padrão desse plágio usa três recursos: a cópia pura e simples, a "tradução por
sinonímia", isto é, troca simples de termos, e em alguns trechos um copidesque
mais carregado, mas sempre mantendo visível a estrutura de base.
- platão
a. abril cultural:
diálogos: o banquete, fédon, sofista, político
b. nova cultural:
diálogos: eutífron, apologia de sócrates*, críton, fédon
* cabe notar que há a repetição da apologia, que já estava no volume 1 (sócrates)
da nova cultural
- platão II
a. abril cultural:
----
b. nova cultural:
a república (a título de brinde, acompanhando platão I)
- aristóteles
a. abril cultural:
(vol. I) tópicos, dos argumentos sofísticos; (vol. II) metafísica. ética a
nicômaco, poética
b. nova cultural:
poética, organon, política, constituição de atenas (volume único)
comparei a lista das traduções dos títulos comuns às duas coleções. em sua
maioria, são as mesmas, mas com uma ressalva: em casos de traduções licenciadas de
outras editoras, não há qualquer menção à licença e tampouco a seus nomes como
detentoras dos direitos de publicação (em outros termos, se não for simples
desleixo, essa omissão parece talvez indicar contrafação ou reprodução não-
autorizada). já nos casos das traduções feitas para a antiga coleção da abril
cultural, consta "direitos exclusivos sobre as traduções deste volume: editora
nova cultural ltda."
eu disse acima: "em sua maioria, são as mesmas". as exceções são as seguintes:
- sócrates
a. abril cultural:
platão, defesa de sócrates (jaime bruna)
xenofonte, ditos e feitos memoráveis de sócrates (líbero rangel de andrade)
xenofonte, apologia de sócrates (líbero rangel de andrade)
b. nova cultural:
platão, apologia de sócrates (enrico corvisieri)
xenofonte, ditos e feitos memoráveis de sócrates (mirtes coscodai)
xenofonte, apologia de sócrates (ambíguo: consta mirtes coscodai na página de
rosto e não consta no começo da obra)
- aristóteles
a. abril cultural:
poética (eudoro de souza)
b. nova cultural:
poética (baby abrão)
- maquiavel
a. abril cultural:
o príncipe (lívio xavier)
escritos políticos (lívio xavier)
b. nova cultural:
o príncipe (olívia bauduh)
escritos políticos (olívia bauduh)
- descartes
a. abril cultural:
discurso do método (jacó guinsburg e bento prado jr.)
meditações (jacó guinsburg e bento prado jr.)
paixões da alma (jacó guinsburg e bento prado jr.)
b. nova cultural:
discurso do método (enrico corvisieri)
meditações (enrico corvisieri)
paixões da alma (enrico corvisieri)
- pascal
a. abril cultural:
pensamentos (sérgio milliet)
b. nova cultural:
pensamentos (olívia bauduh)
V. resumindo
há, portanto, 17 obras publicadas na coleção os pensadores da nova cultural que
não constavam ou constavam em outras traduções na coleção original da abril
cultural.
imagem: lugardoconhecimento.wordpress.com
mas há uma outra coleção importante, "os pensadores", da mesma editora, e oriunda
da mesma partilha da editora abril, feita em 1982 por victor civita entre os dois
filhos, roberto e richard civita. na separação, os fascículos e livros da extinta
abril cultural ficaram para richard civita, o qual então criou a editora nova
cultural, como parte da empresa c.l.c. (comunicação, lazer e cultura). e foi assim
que ele foi relançando, adulterando e plagiando obras da ex-abril cultural que lhe
couberam na partilha, tanto nos "imortais" quanto nas "obras-primas" ou nos
"pensadores".
estou me delongando sobre isso porque, nestes próximos dias, vou tratar de alguns
títulos de "os pensadores" também vitimados por plágio, e acho interessante uma
visão geral da coisa.
imagens: são jorge em seu gabinete, codecarnival.com; thief and pig, gutenberg.org
e aí pergunto eu: como escapar dos ishpertos que se aproveitam de uma demanda
reprimida, lançam mão de artifícios escusos e publicam plágios? e quando aquele
livro classicíssimo você não encontra mais nem em sebo, tipo a abadia de
northanger? se quiser ler, vai ter que dar dinheiro para algum ladrão?
o morro dos ventos uivantes é outro problema. foi editado recentemente, ótimo. só
que a edição da landmark surripiou a tradução da luiza lobo. e diz a revisora do
livro que botaram o nome dela como tradutora, à sua revelia. quer dizer, além de
plagiar, a landmark atribui o plágio à sua prestadora de serviços e lhe causa
danos morais de longa duração?
como diz ascher: "Há tantas excelentes traduções já esgotadas e sem perspectiva
próxima de republicação que seria lícito tomá-las antes como a regra geral do que
como exceções infelizes".
aí fica essa bizarrice: não temos acesso a centenas de clássicos os mais básicos,
batidos e conhecidos do mundo. não porque não foram editados. não foram é
REeditados, as editoras esquecem lá no fundo do baú, mas não saem de cima dele, e
ninguém mais publica, até vir o aventureiro do dia garfar aquilo lá ou aquilo
outro, para suprir a demanda ou ir na onda oportunista de algum filme de sucesso.
talvez o que demande uma racionalização mais premente sejam os critérios para a
manutenção ativa de títulos fundamentais, a cargo das editoras que detêm seus
direitos.
assim talvez nós leitores não ficássemos reféns dos ladrões das letras e essas
obras escapassem ao destino de virar papa recozida no caldeirão pirata dos
ishpertos.
www.cpdoc.fgv.br/cursos/bensculturais/teses/CPDOC2007EvanizeMartinsSydow.pdf
www.cpdoc.fgv.br/cursos/bensculturais/teses/CPDOC2006TatianaOliveiraSiciliano.pdf
http://201.48.149.88/anpocs/arquivos/5_11_2007_16_3_49.pdf
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000381382
http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3414
www.pgpp.ufma.br/disciplinas/listar.php?id=12
www.cce.udesc.br/titosena/Arquivos/Textos%20para%20aulas/livros1afase.doc
www.pos.ufsc.br/arquivos/41000099/Filosofia_Ciencia_e_Saude.pdf
www.fasete.edu.br/arquivos/file/secretaria/2008/LETRAS%202008%20PDF/III%20PERÍODO/
Estrut_Func_Educ_Basic.pdf
http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/.../MESTRADO%20DIREITO%20COOPERAT
IVO%20E
http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=905
www.geociencias.ufpb.br/posgrad/dissertacoes/paulo_henrique_guedes.pdf
www.nfr.ufsc.br/pen/secretaria/planoDeEnsino/Filosofia%20da%20ciencia%20e%20da%20s
a%FAde.p...
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/8078/1/Dissertação%20Mauricio%20N
atel.pdf
www.mestradohistoria.ufjf.br/download_tese.php?cd_tese=Mw%3D%3D
www.cienciasecognicao.org/pdf/v13/cec_v13-1_m318220.pdf
www.ccj.ufsc.br/Graduacao/Planos_de_ensino/200802/DIR5126%20T.%200205%20e%200222.d
oc
www.unifor.br/pls/oul/w_uol_programa_disciplina_ncm?p_tp_arquivo=1&p_cd_disciplina
=H143&p...
www.uem.br/~urutagua/005/03dir_silveira.htm
https://nexos.ufscar.br/nexos/PlanosConsultaL.jsp?Disciplina=170542&Turma=F&Ano=20
08&S...
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/3085/1/LUIZ%20A.%20DOS%20S.%20BEZ
ERRA%20-%20TESE%20-%...
www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3393
www.sociologia.ufsc.br/npms/fabiano_brito_santos.pdf
www.unisc.br/cursos/pos_graduacao/mestrado/direito/corpo_discente/2006_dissertacoe
s/janrie.pdf
www.saudebucalcoletiva.unb.br/ensino/introducao_a_ciencia_politica/ICP_ementa_1_20
07.doc www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4787
www.unirevista.unisinos.br/_pdf/UNIrev_Bezerra.PDF
www.al.rs.gov.br/biblioteca/servicos_aquisicoes.asp
www.cchla.ufrn.br/interlegere/revista/pdf/2/pi02.pdf
www.convibra.com.br/2008/apres/154.swf
www.fflch.usp.br/df/geral3/francisco.html
www.ufpi.br/mesteduc/eventos/iiencontro/GT-4/GT-04-03.htm
www.sbsociologia.com.br/congresso_v02/papers/.../Microsoft%20Word%20-
%20GT25_Homero_Nunes_Pereira_2007.pdf
www.fmd.pucminas.br/nap/GRUPO%2003.pdf
www.proead.unit.br/professor/joao_lago/arquivos/textos/Sociologia%20I%20-
%20unidade%201.ppt
www.fafich.ufmg.br/compolitica/anais2006/Pontes_2006.pdf
www.cienciasecognicao.org/artigos/v13/318220.htm
www.fasete.edu.br/arquivos/file/cursos/letras/grade/PlanosLetras20072/7/Plano%20de
%20Curso_Estrutura%20II.pdf
www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/salvador/gilson_gileno_de_sa_oliveira.pdf
www.unirg.edu.br/cur/adm/planos/1per/cs1.pdf
www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-
bin/PRG_0599.EXE/11349_7.PDF?NrOcoSis=36669&CdLinPrg=pt
www.mp.al.gov.br/atica_sentido_trabalho.ppt
www.unc.br/ementas/e_servico_social.pdf
www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Jose_Montagnoli.pdf
http://www2.camara.gov.br/.../Maria%20da%20Graca%20Lobo%20de%20Almeida%...
www.ufrgs.br/faced/educacaomatematica/.../O_SIGNIFICADO_IND_GENA_PARA_A_ESCOLA_AFI
RMA__O_DE_IDENTIDA..p www.scielo.br/scieloOrg/php/articleXML.php?pid=S1414-
40772007000300005&lang=en
www.anpuh.uepg.br/.../CARLOS%20ANDRÉ%20MACÊDO%20CAVALCAN...
www.facs.br/revistajuridica/edicao_maio2008/convidados/con5.doc
http://www2.camara.gov.br/posgraduacao/Claudionor%20Rocha%20-
%20projeto%20curso%20IP%202a%20ed.pdf
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/viewPDFInterstitial/1740/14
39
http://servicos.capes.gov.br/arquivos/avaliacao/estudos/dados1/2004/24001015/034/2
004_034_24001015004P3_Disc_Ofe.pdf
http://servicos.capes.gov.br/arquivos/avaliacao/estudos/dados1/2006/26001012/034/2
006_034_26001012013P8_Disc_Ofe.pdf
www.eba.ufrj.br/ppgartesvisuais/revista/e16/OctavioAragao.pdf
www.emtese.ufsc.br/g_Fabio.pdf
www.fo.usp.br/departamentos/social/ciencias_sociais/ciencias_sociais_arquivos/anal
ise_compreensiva.pdf
www.pucsp.br/revistacordis/downloads/numero1/artigos/7_monteiro_lobato.pdf
https://sistemas2.usp.br/jupiterweb/obterDisciplina?sgldis=CJE0620&codcur=27011&co
dhab=404
www.eaesp.fgvsp.br/subportais/interna/Apoio%20Academico/CG_AE_Programa.pdf
imagem: wiki.observatoriodaimprensa.pt
pascal, pensamentos:
1. vallandro: [...] Por isso é raro que os geômetras sejam sutis e que os sutis
sejam geômetras, pois que os segundos pretendem tratar geometricamente as coisas
sutis e se tornam ridículos quando querem começar pelas definições e depois
estabelecer os princípios, já que esse não é o procedimento apropriado na espécie
de raciocínio em apreço. Isso não quer dizer que o espírito deixe de fazê-lo; mas
ele o faz tacitamente, naturalmente e sem arte, pois exprimi-lo é tarefa superior
a todos os homens, e senti-lo não é dado senão a alguns poucos.
2. nassetti: [...] Por isso é raro que os geômetras sejam sutis e que os sutis
sejam geômetras, pois que os segundos pretendem tratar geometricamente as coisas
sutis e se tornam ridículos quando querem começar pelas definições e depois
estabelecer os princípios, já que esse não é o procedimento apropriado na espécie
de raciocínio em apreço. Isso não quer dizer que o espírito deixe de fazê-lo; mas
ele o faz tacitamente, naturalmente e sem arte, pois exprimi-lo é tarefa superior
a todos os homens, e senti-lo não é dado senão a alguns poucos.
1. vallandro: 885 (924) Gente sem palavra, sem fé, sem honra, sem verdade, dobles
d e coração,
dobles de língua e semelhantes, como vos foi censurado outrora, a esse animal
anfíbio da fábula, que se conservava num estado indefinido entre os peixes e os
pássaros...
2. nassetti: 885 (924) Gente sem palavra, sem fé, sem honra, sem verdade, dobles
de coração, dobles de língua e semelhantes, como vos foi censurado outrora, a esse
animal anfíbio da fábula, que se conservava num estado indefinido entre os peixes
e os pássaros...
libdigi.unicamp.br/document/?view=vtls000380058
www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1482
www.seer.ufu.br/index.php/cadernoshistoria/article/view/333/346
http://uninove.br/ojs/index.php/dialogia/article/view/1101/840
www.webartigos.com/articles/5916/1/o-pincipio-da-igualdade/pagina1.html
www.unest.edu.br/cgi-
bin/wxis.exe?IsisScript=phl8/003.xis&cipar=phl8.cip&bool=exp&opc...&lang=
www.bdjur.stj.gov.br/jspui/bitstream/2011/6682/3/An_Introduction_to_the_Juridicial
.pdf
www.ufpe.br/pgletras/2007/dissertacoes/diss-salmo-sostenes.pdf
www.icpg.com.br/hp/revista/download.exec.php?rpa_chave=351afec6365ad54db93f
http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1069
imagem: canhenho.wordpress.com
ando recebendo o boletim do publishnews com problema. os links não abrem, meu
outlook sai do ar, uma tristeza. então não posso linkar. mas hoje vi lá uma
indicação maravilhosa: a campanha save the words!, do oxford dictionaries.
o site é lindo e o tema absolutamente interessante, embora possa parecer meio
sofisticado demais para nós tapuias, que nem chegamos ao primitivíssimo "salve os
livros", que estão em acelerado ritmo de extinção (os honestos, digo eu).
parabéns a dr. joão paulo monteiro, cuja indignação não esmoreceu apesar das
enrolações dos demais envolvidos no episódio, e conseguiu, se não reverter, pelo
menos sustar o embuste.
ISBN: 85-7232-510-7
TÍTULO: A DIVINA COMEDIA
AUTOR: ALIGHIERI, DANTE
TRADUTOR: MARINS, ALEX
o livro tem onze histórias. pode-se pegar qualquer uma, à vontade. vou pegar a
segunda, a face amarela.
mas o mais engraçado nessa história é que, naturalmente, entrei em contato com a
melhoramentos, por telefone e e-mail, para me informar se ela havia cedido a
tradução à claret. a resposta demorou uns dez dias, mas veio: sim, a melhoramentos
cedeu os direitos de tradução desta obra para a claret.
aí, a pergunta que fica é: então por que a claret, se tinha autorização da
melhoramentos, tirou fora o nome de joaquim machado, o tradutor original, e tascou
o nome visivelmente inventado de "john green"? é um conluio de ambas contra o
pobre joaquim machado?
bom, não me senti muito esclarecida, indaguei de novo à melhoramentos se era isso
mesmo e expus minha perplexidade - pois não faz sentido na minha cabeça uma
editora adquirir uma licença e mesmo assim apresentar a obra sublicenciada como
plágio (pois plágio continua a ser, só que agora autorizado pela detentora dos
direitos...). não tive resposta, tomei o silêncio como confirmação, mas continuo a
achar que é uma bizarrice sem tamanho.
sinceramente penso que todo esse pessoal deveria ter muito mais respeito para com
os leitores. é tão absurdo assim esperar que os livros sejam produtos
transparentes e honestos, com dados corretos e créditos verdadeiros? não seria o
normal? e as editoras lesadas não deveriam se proteger a si próprias e proteger a
nós, incautos consumidores, no que estivesse ao alcance delas?
não sei... ando me desiludindo um pouco com essa gente. afinal quem compra os
livros delas somos nós. não acho certo.
obrigada a federico.
www.plagiarius.com
Architects: Reinhard Angelis, Planung Architektur Gestaltung
Photographers: ©Tomas Riehle / artur
mais um cotejo que estava no fundo do baú: jack london, white fang.
caninos brancos teve várias traduções no brasil, desde a primeira feita por
monteiro lobato até a mais recente de rosaura eichenberg.
Capítulo I.
- civilização:
[...] Um vento recente arrancara às árvores o seu manto de geada, e elas pareciam
inclinar-se umas para as outras, negras e agoirentas, na luz agonizante. Reinava
sobre a paisagem um silêncio imenso. Aquela região era desolada, sem vida, sem
movimento, tão só e gelada que a palavra tristeza não chegava para a descrever.
Havia nela uma sugestão de riso, mas de um riso mais terrível que qualquer
tristeza - um riso sem alegria, como o sorriso da esfinge, um riso frio como o
gelo e com algo do horror da infalibilidade. Era a sabedoria despótica e
incomunicável do riso eterno perante a futilidade e os esforços da vida. Era a
terra árctica, agreste e gelada. (olinda gomes fernandes)
- claret:
[...] Um vento recente arrancara às árvores o seu manto de geada, e elas pareciam
inclinar-se umas para as outras, negras e agourentas, na luz agonizante. Reinava
sobre a paisagem um silêncio imenso. Aquela região era desolada, sem vida, sem
movimento, tão só e gelada que a palavra tristeza não era suficiente para a
descrever. Havia nela uma sugestão de riso, mas de um riso mais terrível que
qualquer tristeza - um riso sem alegria, como o sorriso da esfinge, um riso frio
como o gelo e com algo do horror da infalibilidade. Era a sabedoria despótica e
incomunicável do riso eterno perante a futilidade e as agruras da vida. Era a
terra do pólo Norte, agreste e gelada. (pietro nassetti)
Capítulo III
- civilização:
[...] Henry sentou-se no trenó e ficou a observar. Não podia fazer mais nada, já
perdera de vista o companheiro; mas, de vez em quando, aparecendo e desaparecendo
por entre os grupos isolados de árvores, lobrigava o Desorelhado. Calculou que o
cão estava perdido. Dir-se-ia que o próprio animal tinha consciência do perigo em
que se encontrava, mas corria traçando um extenso círcuo exterior, enquanto a
alcateia de lobos se movimentava num círculo interior e mais acanhado. Tornava-se
fútil admitir a possibilidade de o cão ultrapassar o círculo formado pelos seus
perseguidores e conseguir alcançar o trenó. (olinda gomes fernandes)
- claret:
[...] Henry sentou-se no trenó e ficou a observar. Não podia fazer mais nada, já
perdera de vista o companheiro; mas, de vez em quando, aparecendo e desaparecendo
por entre os grupos isolados de árvores, lobrigava o Desorelhado. Calculou que o
cão estava perdido. Dir-se-ia que o próprio animal tinha consciência do perigo em
que se encontrava, mas corria traçando um extenso círcuo exterior, enquanto a
alcatéia de lobos se movimentava num círculo interior e mais acanhado. Tornava-se
fútil admitir a possibilidade de o cão ultrapassar o círculo formado pelos seus
perseguidores e conseguir alcançar o trenó. (pietro nassetti)
Último capítulo
- civilização:
[...] A este não se podia censurar o seu juízo errado. Passara toda a vida a
tratar seres humanos, produtos de uma civilização que os enfraquecera, que levavam
vida fácil e descendiam de muitas gerações criadas de igual modo. Comparados com
Colmilhos Brancos, não passavam de entes frágeis e débeis, incapazes de se
agarrarem à vida com força suficiente. Ele vinha directamente da selva; no meio
onde se criara, os fracos não subsistem; e não havia quaisquer contemplações.
(olinda gomes fernandes)
- claret:
[...] A este não se podia censurar o seu juízo errado. Passara toda a vida a
tratar seres humanos, produtos de uma civilização que os enfraquecera, que levavam
vida fácil e descendiam de muitas gerações criadas de igual modo. Comparados com
Caninos Brancos, não passavam de entes frágeis e débeis, incapazes de se agarrarem
à vida com força suficiente. Ele vinha diretamente da selva; no meio onde se
criara, os fracos não subsistem; e não havia quaisquer contemplações. (pietro
nassetti)
durante seis meses, até junho de 2009, haverá um amplo processo de consulta
pública, para discussão e avaliação da proposta da cgda. para as entidades
geralmente pouco ouvidas em processos que tantas vezes ficam restritos aos
corredores de brasília, acho uma ocasião e tanto! e mesmo para o mero fulaninho
individual, feito eu, que se interessa por essas coisas de cidadania cultural,
acho uma boa.
fiquei com vontade de escrever para eles e dizer que cuidem melhor dos isbns, por
exemplo, e que diminuam esse prazo espantoso de 70 anos após a morte do autor para
sua obra entrar em domínio público. 70 anos?! imaginem, o updike morreu ontem ou
anteontem, só em 2080 é que os rabbitts dele vão para domínio público?! minha
tataraneta não vai ter a menor idéia de quem foi o fulano. (não errei na
aritmética: é 2080 mesmo porque os 70 anos são contados a partir de 01 de janeiro
do ano subsequente à morte da pessoa). aí é dureza. em tempo: o prazo mínimo para
entrar em dp, por convenção internacional, é de 50 anos após a morte do autor.
chega, né?
nessas irregularidades que venho apontando nesse tempo todo, que envolvem plágios,
apropriações indébitas, contrafações etc., deu para notar também a alta incidência
de irregularidades no número de isbn dessas obras, obrigatório por lei.
já expus em outro post a importância que, a meu ver, tem o isbn como identificador
de um livro - não só por razões comerciais ou catalográficas, mas até como um
indicador da maior ou menor transparência nos procedimentos adotados pelas
editoras.
então gostaria de lembrar ao grupo geração, como responsável pelo selo jardim dos
livros, que todos os títulos do referido selo (à exceção de um, justamente a arte
da guerra do tal nikko bushido, de triste fama) apresentam problemas de isbn: ou
não estão cadastrados ou, quando cadastrados, os números não batem com os que
estão no catálogo do site. em vista da decisão do sr. luiz emediato em proceder à
retirada de circulação dos títulos com fraude, eu sugeriria humildemente que
aproveitasse a ocasião e determinasse a regularização dos isbns dos demais
títulos.
imagem: en.wikipedia.org
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