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FACULDADE METROPOLITANA DE ANÁPOLIS – FAMA

CURSO SUPERIOR DE PSICOLOGIA

HELENA BARBOZA FRAGA QUEIROZ


MARIA FRANSCISCA DA SILVA ALMEIDA

ESTUDO DA MEMÓRIA SEGUNDO A NEUROPSICOLOGIA

ANÁPOLIS – GO
2023
HELENA BARBOZA FRAGA QUEIROZ
MARIA FRANSCISCA DA SILVA ALMEIDA

TRABALHO DE NEUROPSICOLOGIA

Trabalho acadêmico do Curso de Psicologia da


Faculdade Fama de Anápolis através de aulas
ministradas pela professora Gislene Silva Maia
– CRP: 09/010285 no curso de Neuropsicologia.
ESTUDO DA MEMÓRIA SEGUNDO A NEUROPSICOLOGIA

1 INTRODUÇÁO

Este trabalho pretende expor a importância do campo de Neuropsicologia nos


avanços científicos sobre a memória e seu papel no desenvolvimento humano. Essa
especialidade oriunda da Psicologia, é conhecida pela análise das modificações de
comportamentos que lesões podem causar no cérebro humano. Através da sua prática,
soluções e terapias de reabilitação podem ser ofertadas as pessoas afetadas por esta condição.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 BREVE CONCEITO DE MEMÓRIA

Entre as várias funções psicológicas existentes, a memória é uma das áreas que
mais se destaca, justamente pela importância no aprendizado e desenvolvimento cognitivo do
ser humano. Há vários sistemas de memória e os estudos neuropsicológicos têm demonstrado
um crescimento significativo ao identificar suas múltiplas estruturas e conexões cerebrais.
(OLIVEIRA E BUENO, 1993).
Para Cotta (2012), a memória possui um processo cognitivo que compreende a
aquisição, formação, conservação e anamnese de informações. No desenvolvimento do ser
humano, que perpassa desde a infância até a terceira idade, ocorre uma série de
transformações que permitem que o indivíduo adquira conhecimento através de sistemas e
sub- sistemas da memória. Como existem esses sub- sistemas, sua função não é unitária, se
dividindo em diversos tipos. Entre eles há a memória de curto prazo responsável por guardar
informações limitadas e com tempo limitado. Em direção contrária, a memória de longo prazo
se desempenha na recuperação de informações ocorridas há pouco tempo ou até anos atrás. A
de longo prazo pode ser explícita, que envolve a habilidade de armazenar conscientemente os
acontecimentos ou a não explícita, que condiz ao aprendizado motor ou habilidades formadas
ao longo do desenvolvimento humano, adquiridas inconscientemente.
Coexiste com esses tipos de memória a episódica, que se trata de uma memória
que guarda as informações contextualizadas e de auto- biografia.
Tais memórias se integram e se modificam com a idade do indivíduo, e é durante
a infância que se torna de grande importância nas novas experiências, o que requer grande
flexibilidade cognitiva quanto à atenção, controle e na resolução de problemas. A manutenção
de informações e suas reverberações são alteradas por sua quantidade na memória operacional
do indivíduo, por esse motivo se modifica ao longo da vida.
O processo de aquisição de novas informações que vão ser retidas na
memória é chamado aprendizagem. Através dele nos tornamos capazes de
orientar o comportamento e o pensamento. Memória, diferentemente, é o
processo de arquivamento seletivo dessas informações, pelo qual podemos
evocá-las sempre que desejarmos, consciente ou inconscientemente. De
certo modo, a memória pode ser vista como o conjunto de processos
neurobiológicos e neuropsicológicos que permitem a aprendizagem. (Lent,
2001. p.594)

2.2 MEMÓRIA NAS ESTRUTURAS CEREBRAIS

O cérebro possui dois hemisférios, o direito e esquerdo. Cada um possui seus


lobos com características associadas às funções cognitivas de cada um. O hemisfério esquerdo
se caracteriza pelo lado mais racional do homem enquanto o hemisfério direito contribui em
sua maioria pela imaginação criativa e a capacidade de sintetizar. Segundo Sprenger (2008),
os lobos occipitais são responsáveis pelos estímulos visuais enquanto os lobos parietais
processam os sensoriais. Os lobos temporais localizados acima dos ouvidos se encarregam
dos estímulos auditivos e orais. Quanto às funções executivas que envolve a memória de
trabalho, pensamentos mais complexos e planejamentos a longo prazo os lobos frontais são os
responsáveis. Não somente uma é única no papel do processo de memória e ambas trabalham
em conjunto no desenvolvimento de sua função.
As emoções se correlacionam diretamente com a memória e a estrutura que
desempenha a atividade de filtrá-las para um uso futuro está no sistema límbico. O hipocampo
que também está localizada no sistema límbico, processa as informações que chegam ao
cérebro e se mostra crucial no percurso das de curto a longo prazo. O cerebelo conhecido
como estrutura responsável pelo sensor do equilíbrio foi descoberto nos últimos estudo como
auxiliar no processo motor de orientação e também de pensamentos.
O sistema de ativação reticular localizado na base do cérebro é responsável pela
conexão do lobos frontais, dos sistemas límbicos, tronco cerebral e órgãos dos sentidos. Por
conseguinte, os 100 bilhões de neurônios são as mais importantes células responsáveis pelo
habitual funcionamento das informações. Estas células se comunicam através do que
chamamos de sinapses, formando substâncias químicas denominadas neurotransmissores.
Toda essa passagem de sinapses ocorridas entre os neurônios geram o que
conhecemos como processo cognitivo. Lent (2001). Aqui se apresentaram as mais
importantes, porém pela própria complexidade do cérebro há diversas outras estruturas que
trabalham no desempenho e funcionamento da memória.

2.3 PATOLOGIAS DEMÊNCIAIS

O conceito de demência se define pelo declínio de memória e de mais outras


funções cognitivas. Pesquisas realizadas por Marques (2006), mostram que pessoas com
poucos anos de escolaridade podem ter dificuldades cognitivas ao atingir uma certa idade.
Também é comprovado que transtornos de comportamento são fatores que acarretam na
deficiência da memória e os testes neuropsicológicos podem ajudar na compreensão do
diagnóstico.

A doença de Alzheimer corresponde a 50% dos casos de doenças demenciais em


pessoas com mais de 65 anos e é caracterizada pela perda considerável de várias funções
cognitivas como memória, linguagem, visuo espacial e função executiva. Segundo Corder
(2012), a memória declarativa que se trata daquela que o indivíduo explica fatos e eventos
recentes é altamente comprometida enquanto as não-declarativas continuam preservadas. A
linguagem também afetada e passa a ocorrer a dificuldade na nomeação de objetos tornando o
discurso difícil e até incompreensível. A execução de tarefas se torna lenta influenciando no
planejamento.
Uma vez que a área do hipocampo começa a se degenerar, as áreas corticais e
associativas passam a ficar comprometidas somente com preservação nos córtices primários.
A linguagem pode demonstrar alterações já antes dos 65 anos contudo os sintomas psicóticos
seguidos de alucinações e delírios acometem sobretudo os idosos.
2.4 MANUTENÇÃO DA MEMÓRIA NO PROCESSO DE APRENDIZADO

Para Luria (1984) os processos mentais de memória, atenção e percepção estão


diretamente ligados ao processo de aprendizagem. Atualmente, a ciência cognitiva se faz
presente nos ambientes educacionais e exige atualizações constantes na aplicação de
conhecimento. Ter uma boa compreensão das bases neurológicas da memória interfere
positivamente no desempenho intelectual e comportamental dos indivíduos. Conhecendo os
métodos e maneiras adequadas de armazenar a memória, educadores podem aproveitar
estudos da Neuropsicologia para otimizar o ensino aos seus alunos.

Resta afirmar que os diferentes níveis de aprendizagem perpassam pela


operacionalidade e pela conceituação, ou seja, o que se aprende, como se
aprende e por que se aprende. Ganha ênfase atualmente a perspectiva de
valorarmos, ainda mais, o aprender conceitual, visto que o que gera a
motivação para alguma coisa geralmente é originado por um desafio as
nossas próprias limitações (BEAUCLAIR, 2011, p. 637).

2.5 CONTRIBUIÇÃO DA NEUROPSICOLOGIA NO CAMPO DA MEMÓRIA

O trabalho conjunto de profissionais na área de neurologia, como médicos,


psicólogos, cientistas, anatomistas compreende uma contribuição significativa no
conhecimento sobre o cérebro.
O estudo dos processos de memória e sua correlação com a aprendizagem
vêm sendo renovados por numerosos avanços científicos e seu dinamismo se
traduz por suas grandes implicações em áreas como a saúde e a educação e
também graças às pesquisas experimentais, em particular as provenientes da
neuropsicologia. (SANTO, E. E.; BRUNO, R. S. 2009)

Através da Avaliação Neuropsicológica, pode-se conseguir um exame detalhado


das queixas de memória como também um auxiliar no diagnóstico oferecido pelo profissional.
Os testes psicométricos podem ajudar a detalhar as disfunções cerebrais ao demonstrar onde
ocorre as falhas. Para Cotta (2012), a memória se desenha como uma espécie de U ao
contrário na vida do indivíduo, ou seja, se desenvolve até um certo ponto até cair em declínio.
Eis aqui a relação de alguns instrumentos neuropsicológicos para a avaliação
detalhada da atividade da memória segundo Gil e Busse (pg 46, 2009):

 MEEM: (Mini-Exame do Estado Mental): Instrumento utilizado nas


instituições brasileiras de saúde e também domiciliares, é um teste prático em sua
adaptabilidade e rastreamento de distúrbios cognitivos. Se baseia em orientação espacial e
temporal, atenção, cálculos, linguagem, construção visual/ espacial, registro e evocação. Cada
questão possui pontuação que vai de 0 a 1 pontos, totalizando 30 pontos. A escolaridade do
público deve ser considerada. Para pacientes mais graves com demência ou depressão esse
tipo de teste tem menor desempenho, pois esses fatores podem agravar o rendimento do
paciente em sua aplicabilidade.

 Clinical Dementia Rating/ CDR: (Escala de avaliação clínica de demência): É


um instrumento global utilizado para verificar o estágio e grau das doenças demenciais. Os
domínios considerados são a memória, orientação, capacidade de julgamento e resolução de
problemas, a interação com o meio em que convive, atividades de casa, lazer e cuidados
pessoais. A escolaridade não é pré-requisito na consideração do teste e sua pontuação vai de 0
a 3, sendo 0 resultado para idosos normais, 0,3 para suspeita de demência e acima de 1 com
demência leve, moderada ou grave.

 RAVLT e MLWMS-R (Teste de aprendizagem auditivo verbal de Rey e


Memória lógica de bateria Wechsler revisada): Esses dois testes, sendo MLWMS-R um sub-
teste, são considerados dois dos mais eficazes para auxílio no diagnóstico de demência. Se
aplica através da leitura de 2 listas. A primeira possui apresentações com 15 palavras. A
segunda lista também possui a mesma quantidade de palavras. Após 30 minutos, o
profissional lê para o paciente uma lista com 30 palavras o qual deve identificar as 15
palavras da primeira lista. Esse teste permite medir o grau de aprendizagem, de recordação e o
efeito das interferências. O sub-teste avalia a memória imediata e tardia através da leitura de
duas histórias.
Esses testes são de características restritas e científicas, e sua aplicabilidade é
permitida apenas aos psicólogos.

 Instrumento de atividade de vida diária: A rotina diária dos pacientes é


comprovadamente afetada pelas doenças demenciais e sua avaliação mostra-se eficaz no
auxílio de diagnósticos. Combinado a outros testes, oferece um bom nível de confiabilidade
de resultados. O IQCODE é um questionário do informante que é alguém que acompanha a
vida do paciente, sobre o declínio cognitivo do idoso.
Formado por 26 perguntas sobre situações corriqueiras na vida do indivíduo,
considera-se as mudanças significativas ao longo de 10 anos com escalas de 1 a 5. Esse tipo
de teste possui a vantagem de não considerar escolaridade do indivíduo. Outro questionário
do informante é a escala-ADL, um teste multi-cultural que considera a forma de vida da
população ao qual a pessoa é inserida. Possui 25 perguntas sobre a rotina, problemas do dia a
dia, tarefas específicas e outras que avaliam funções cognitivas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste trabalho podemos entender a correlação entre o estudo da


Neuropsicologia à memória, função cognitiva primordial do ser humano. Compreendemos
que a memória se subdivide em sistemas, atribuindo a cada um suas particularidades.
Vimos que a partir das sinapses formadas pelos neurônios acorrem o que entendemos por
processo cognitivo. Desta forma a ciência da neurologia pode se ramificar em várias
matérias o que permitiu que a Psicologia investigasse lesões cerebrais que afetassem a
memória. Através de testes psicométricos profissionais da saúde auxiliam no diagnóstico
de patologias demênciais.
REFERÊNCIAS
BRITO-MARQUES, P. R. de. A Arte de Conviver com a Doença de Alzheimer: as bases
fisiopatológicas do diagnóstico ao tratamento. Recife: Ed. Edupe, 2006

CARVALHO, A.H.C. NEUROCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA


NA FORMAÇÃO DOCENTE. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 8 n. 3, p. 537-550,
nov.2010/fev.2011
Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/tes/a/jScBCkB8ZwsGK3f9kZLgQmk/?lang=pt&format=pdf>
Acesso em: 21 mar. 2023.

Gil G, Busse AL. Avaliação neuropsicológica e o diagnóstico de demência, comprometimento


cognitivo leve e queixa de memória relacionada à idade. ArqMed Hosp Fac Cienc Med Santa Casa
São Paulo. 2009; 54(2): 44-50. Disponível em:
https://arquivosmedicos.fcmsantacasasp.edu.br/index.php/AMSCSP/article/view/368/401

LENT, Robert. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais da neurociência. São Paulo:
Atheneu, 2001

OLIVEIRA, Maria Gabriela Menezes; BUENO, Orlando F. A. Neuropsicologia da memória


humana. Psicol. USP, São Paulo, v. 4, n. 1-2, p. 117-138, 1993.   Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
51771993000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  21 mar.  2023.

ROLINS, Ana Paula Cota. A Neuropsicologia e o tratamento da doença de alzheimer.


repositorio.uniceub.br, 2005. Disponível em:
https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/123456789/3062/2/20068980.pdf. Acesso em: 21 mar.
2023.

VALLE, Luiza Elena Leite Ribeiro Do. Temas multidisciplinares de neuropsicologia &
aprendizagem. 2. ed. Ribeirão Preto, SP: Novo Conceito Editora, 2011. 1-912 p. v. 1. ISBN ISBN
978-85-63219-51-0.
Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Luiza-Elena-Valle/publication/
309374409_Temas_Multidisiciplinares_de_Neuropsicologia_e_Aprendizagem/links/
580b94aa08aecba93500cf6e/Temas-Multidisiciplinares-de-Neuropsicologia-e-Aprendizagem.pdf

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