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Jusnaturalismo Racionalista moral, segundo sua conveniência ou

não conveniência com a própria


razão natural ou social2.
A concepção jusnaturalista teológica
foi substituída a partir do Século XVII
em face do processo de Hobbes (1588/1679)3 – Natureza
secularização da vida social, por Humana Individualista
uma doutrina subjetiva e racional,
Viveu em tempos turbulentos para a
com fundamento em uma identidade
Inglaterra agitada por lutas internas.
de uma razão humana universal.
É necessário ter isso presente para
Crença na ordenação da vida social entender a doutrina de Hobbes, o
e da natureza pela razão. qual via a salvação do Estado
somente em um poder que fosse
Teocentrismo - Antropocentrismo capaz de dominar com plena
Serviu de fundamento legitimador autoridade todas as lutas e paixões
das revoluções liberais burguesas individuais. (Teórico absolutista,
que marcaram a modernidade assim como Bodin e Maquiavel).
jurídica: Premissas filosóficas: o homem
a) Revolução Inglesa; não é sociável por natureza; o
homem é naturalmente egoísta,
b) Independência dos Estados busca apenas o seu bem, é
Unidos; insensível ao bem dos outros;
c) Revolução Francesa. considera-se governado apenas
por sua natureza, vive como de
Consolidação no Século VIII1. devesse reconhecer inevitável a
guerra permanente entre todo
Grócio (1583/1645) – Natureza indivíduo e os seus semelhantes,
Humana Social razão porque cada procura levar
vantagem com prejuízo dos
O direito é o que se mostra segundo outros4.
a razão (não pela revelação) apto a
tornar possível a convivência social, A solução: o contrato
isto é, o que a reta razão demonstra (subordinação) = renúncia de toda
conforme a natureza sociável do 2
DEL VECCHIO, Giorgio, Belo Horizonte: Ed.
homem (...). O direito natural é uma Líder, 2003, p.69.
3
Ibidem, pp. 75/79.
imposição da reta razão que indica, 4
Segundo Ricardo Maurício Soares, op. cit.
para determinado ato, que é ele uma pp. 149/150: (...) as leis naturais são normas
torpeza moral ou uma necessidade morais que incutem no ser humano o desejo
de assegurar sua autoconservação e defesa
por uma ordem político-social, garantida por
1
SOARES, Ricardo Maurício, Elementos de um poder coercitivo absoluto –
Teoria Geral do Direito, 4ª Edição, São Estado-Leviatã.(...) Por tais motivos, a
Paulo Saraiva, 2017, pp. 148/149. justiça é concebida como constante
fidelidade ao Estado Leviatã (...)
a liberdade do estado da natureza, O vínculo está subordinado à
em favor de um soberano. obediência do contrato pelo
Opondo-se até em relação à Igreja. soberano. (fato racionalizado).
Jonh Locke (1632/1704)5- Natureza Rousseau (1712/1778)7- Natureza
Humana Social Humana Individualista
Locke afirma que a lei natural ~e Anseio pelo estado de natureza
mais inteligível e clara do que o perdido. O discurso da origem da
direito positivo. Só o pacto social desigualdade entre homens precede
sanaria as deficiências do estado de o contrato.
natureza, instaurando um governo
Não pregava o retorno a um estado
do estado civil ou político, com três
primitivo, mas pretendia encontrar
poderes (executivo, legislativo e
um modo de restituir ao homem
federativo. O pacto social era
selvagem o gozo dos direitos à
condicional ou rescindível,
liberdade e à igualdade para
conforme decisão dos
6 modelar, com base neles, a
contraentes .
Constituição Política.
Tendência liberal e democrática
O Contrato deveria ter um conteúdo
oposta à Hobbes. Locke vale-se das
determinado: Encontrar uma forma
mesmas hipóteses para demonstrar
de associação, que defenda e
os limites jurídicos do soberano.
proteja de toda força comum a
O homem é naturalmente sociável, pessoa e os bens de cada
não existe estado de natureza sem associado, e pela qual cada um,
sociedade; para o homem o estado unindo-se a todos, obedeça,
de natureza é a sociedade. Nesse assim, a si mesmo e permaneça
estado o homem já possui alguns livre daí por diante.
direitos (liberdade, trabalho e
O contrato seria o modelo que
propriedade), sendo necessário uma
permitiria, considerando seu
autoridade para garantir esses
conteúdo fixado a priori, a
direitos.
consagração política dos direitos à
Para se organizar politicamente, os liberdade e à igualdade. O Estado
indivíduos devem renunciar existe somente para a atuação
parcialmente aos seus direitos desses princípios
naturais por meio do contrato,
O contrato seria uma necessidade
havendo a possibilidade de
racional, um postulado da razão,
retomada da soberania originária
uma verdade não histórica, mas
pelo povo, desobediência civil.
normativa e reguladora.

7
5
DEL VECCHIO, Giorgio, op. cit. pp. 84/89. DEL VECCHIO, Giorgio, op. cit, pp.
6
Ricardo Maurício Soares, op. cit. p. 149. 103/109.
O contrato social não é um fato, A época em que vivemos é a época
nem depende do arbítrio de da crítica, à qual tudo tem de
qualquer um; mas é o resultado submeter-se. A religião, pela sua
necessário de termos dados santidade e a legislação, pela sua
objetivamente e fixados pela majestade, querem da mesma forma
natureza das coisas; é a desligar-se dela. (KANT, Immanuel,
interferência ideal dos direitos in Crítica da Razão Pura, Prefácio
conaturais do indivíduo. à Primeira Edição, São Paulo:
Martin&Claret, 2004)
Direitos naturais – Estado – Direitos
Civis.

Não há alienação da liberdade Kant – Criticismo Transcendental


individual. Os indivíduos são súditos procura conciliar o empirismo e o
de uma vontade geral, que eles idealismo que servirá de
concorrem para formação. fundamento ao racionalismo
moderno.
De acordo com Rousseau, o
contrato social espelharia uma CONHECIMENTO = EXPERIÊNCIA
ordem justa, correspondente ao + CATEGORIAS FORMAIS DA
estado de natureza submetida à RAZÃO, passando o sujeito a ser o
vontade geral, que jamais falha e elemento de destaque na ideia se
está sempre retamente constituída. conhecimento.
(...) o contrato social figura como a
base de uma comunidade
democrática, buscando assegurar o Kant talvez tenha sido o primeiro
livre exercício de direitos iguais a escritor a definir o homem moderno
quantos decidam viver em como autodefinidor, e não como um
sociedade (...)a vontade geral é uma ser que interpreta conjuntos de
vontade de pactuar e de formar uma significados a partir dos quais as
sociedade que saiba preservar coisas se posicionam empiricamente
direitos, como a liberdade e a na ordenação cósmica9.
igualdade, inatos ao homem, A dignidade e singularidade do
anteriores ao pacto, imanentes, homem encontram-se em sua
inalienáveis e insuprimíveis8. capacidade de usar a razão; essa é
uma capacidade que todos os
homens compartilham enquanto
KANT (1724/1804) – seres racionais, e que lhes permite
Jusnaturalismo Racionalista. extrapolar os limites de seus

9
MORRISON, Wayne, Filosofia do Direito:
8
SOARES, Ricardo Maurício, op. cit. p. 150. dos gregos ao pós-modernismo, São
Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 157.
padrões locais ou comunitários de Ele é o que existe num nível mais
crenças socializadas10. profundo12.
Se usarmos um óculos com lentes Crítica da Razão Pura
cor-de-rosa, elas vão colorir todos os
Como é possível o conhecimento
aspectos da nossa experiência
sintético a priori? Conhecimento que
visual. Podemos esquecer que
antecede a experiência.
estamos usando os óculos, mas
mesmo assim eles continuarão Debate – Século XVII e XVIII
afetando o que vemos.
(...)Acreditava que todos nós Há um conhecimento a priori?
compreendemos o mundo por um Locke – empirista, achava que não,
filtro como esse. O filtro da mente pois tudo vem da experiência.
humana. Ela determina como
experimentamos tudo e impõe Descarte pesava que sim.
determinada forma na experiência. Conhecimento analítico – significa
Tudo o que percebemos acontece no verdadeiro por definição, por isso
tempo e no espaço, e todo mudança não acrescenta nada de novo. Ex:
tem uma causa. No entanto, Todos os homens são do sexo
segundo Kant, isso não se deve à masculino.
maneira como a realidade é em
última instância, mas sim a uma Conhecimento sintético – requer a
contribuição de nossa mente. Não experiência ou a observação e nos
temos acesso direto ao modo como fornece uma informação nova, algo
é o mundo (mundo numênico). E que simplesmente não está contido
também jamais podemos tirar os no significado das palavras ou
óculos e ver as coisas como símbolos que usamos. Ex: limões
realmente são. Esse filtro está preso são amargos.
a nós, e sem ele seríamos A RACIONALIDADE DA
totalmente incapazes de MORALIDADE E A DEFESA DA
experimentar qualquer coisa11. CONCEPÇÃO DO HOMEM COMO
O que você vê é o mundo dos UM INDIVÍDUO LIVRE, COMO
fenômenos – grama, carro, céu, PRESSUPÕE O DIREITO.
prédios ou qualquer outra coisa. Não A MORAL KANTIANA
podemos ver o mundo numênico,
somente o mundo fenomênico, mas Para Kant, a moralidade não diz
o mundo numênico se oculta por trás respeito apenas ao que fazer, mas
de todas as nossas experiências. também a por que fazer. Aqueles
que fazem a coisa certa não o fazem
só por causa do modo como se
10
Ibid, p. 158.
sentem: a decisão precisa ser
11
WARBURTON, Nigel, in Uma Breve baseada na razão, pois é ela que diz
História da Filosofia, 1ª edição, Porto
Alegre, RS: L&PM POCKET, 2013, p. 122. 12
Ibid, p. 124.
qual é nosso dever, seres racionais como obrigatórias.
independentemente de como (Wayne, p.166)
porventura nos sentimos. Emoções
não se mistura com a moral13. Kant argumenta que as únicas
regras morais aceitáveis são
A emoção pode mascarar a
aquelas que todos poderiam adotar.
utilização do outro como meio para
A moralidade nos impõe princípios e
atingir um determinado fim, como na
condições para a ação que – uma
parábola do bom samaritano, a
vez compreendidos - estão
perspectiva de ir para o céu. Assim
racionalmente qualificados ao
não se estaria diante de um agir
consentimento de qualquer
moral.
comunidade possível; além disso,
IMPERATIVO CATEGÓRICO X Kant insinua que, na base de nossas
IMPERATIVO HIPOTÉTICO posições morais, existe apenas um
conjunto de tais princípios e
Todos nós temos o dever absoluto condições que passarão no teste da
de dizer a verdade, ou, como dizia aceitabilidade crítica racional. A
ele, um imperativo categórico de tarefa da filosofia moral consiste em
dizê-la. Um imperativo é uma empenhar-se em revelar esse
ordem. conjunto de princípios. (Wayne, pp.
166/167)
Os imperativos hipotéticos têm
uma forma de: Se quiser x, faça y. Para Kant, as categorias da razão
Se não quiser ir para a prisão, não prática – funcionamento da moral –
roube. fornecem um mecanismo que
estabiliza os desejos conflitantes e
Imperativo categórico servem os impulsos empíricos do mundo
como instrução, no caso, seria do espaço-temporal, e a lei moral é a
tipo: Não roube! condição de funcionamento do eu
que verdadeiramente eu mesmo.
(...) o funcionamento da liberdade Esta é, porém, uma tarefa difícil, e
humana sujeita-se às regras dos Kant coloca a natureza da vontade
inteligíveis. Podemos criar regras na posição central de sua solução.
sobre o certo; podemos determinar o (Wayne, p. 167).
que a natureza exige de nós. As
exigências fundamentais da Desejo x Vontade (moral é
moralidade são concebidas de modo fenomenal, ato de vontade)
que façam parte da própria estrutura
da racionalidade; segue-se, então, Animal x Homem
que as exigências morais devem, a
priori, ser reconhecidas por todos os A característica central do homem,
do homem social, está no fato de ele
13
envolver-se com uma esfera dos fins
Ibid, p. 129.
na qual tudo tem ou preço ou
dignidade. Tudo que tem preço pode Nesse contexto, a razão prática é
ser substituído por outra coisa como legisladora de si, definindo os limites
seu equivalente; por outro lado tudo da ação e conduta humanas.
que está além de qualquer preço, e,
portanto, não admite equivalente, A ÉTICA É, PORTANTO, O
tem dignidade. (Wayne, p. 171). COMPROMISSO DE SEGUIR O
PRÓPRIO PRECEITO ÉTICO
Kant acreditava que a moral seria FUNDAMENTAL E PELO FATO DE
um sistema de imperativos SEGUI-LO EM SI E POR SI.
categóricos. O seu dever moral é o
seu dever moral, AGIR LIVRE É AGIR MORAL. AGIR
independentemente de quaisquer MORAL É O AGIR DE ACORDO
que sejam as consequências, COM O DEVER.
quaisquer que sejam as
circunstâncias. O AGIR DE ACORDO COM O
DEVER É FAZER DE SUA LEI
Nós não agimos somente por SUBJETIVA UM PRINCÍPIO DE
instinto, mas também baseados na LEGISLAÇÃO UNIVERSAL, A SER
razão. A forma de Kant dizer isso é INSCRITA EM TODA A NATUREZA.
em termos de máximas a partir das
quais agimos. A máxima é apenas AS NORMAS JURÍDICAS, PARA
o princípio subjacente, a resposta TAL CONCEPÇÃO, SERÃO DE
à pergunta: Por que você fez DIREITO NATURAL, SE SUA
isso? É o que realmente importa. OBRIGATORIEDADE FOR
COGNOSCÍVEL PELA RAZÃO,
Deveríamos agir apenas sob as INDEPENDENTEMENTE DE LEI
máximas universalizáveis, ou seja, EXTERNA, E SERÃO DE DIREITO
por meio de um princípio subjacente POSITIVO, SE SUA
que pudesse ser aplicado a todas as OBRIGATORIEDADE RESULTAR
pessoas. DE LEI EXTERNA.

A PRÁTICA MORAL NÃO SERIA KANT acreditava que, na prática,


FUNDADA NA PURA isso significava que não deveríamos
EXPERIÊNCIA, MAS NA usar os outros, mas sim tratá-los
RACIONALIDADE UNIVERSAL com respeito, reconhecendo a
HUMANA – IMPERATIVO autonomia das pessoas e sua
CATEGÓRICO: capacidade como indivíduos de
tomar, por conta própria, decisões
AGE SÓ, SEGUNDO UMA MÁXIMA pensadas.
TAL, QUE POSSA QUERER, AO
MESMO TEMPO, QUE SE TORNE Essa reverência pela dignidade e
UMA MÁXIMA UNIVERSAL. pelo valor dos seres humanos
individuais é o cerne da teoria Ressurgimento do debate do tema
moderna dos direitos humanos. A justiça após o advento da 2ª Guerra
grande contribuição de Kant para Mundial, tendo como principais
a filosofia moral. expoentes, Rudolf Stammler e
Giorgio Del Vecchio.
Kant, portanto, pode ser considerado
um jusnaturalista por admitir leis Stammler propõe um jusnaturalismo
jurídicas anteriores ao direito de conteúdo variável no espaço e no
positivo e atreladas a ideia de tempo, rejeita a ideia de um direito
liberdade. São leis naturais que natural baseado na natureza
obrigam a priori, antes de qualquer humana absoluta e sustenta a
imposição de autoridade humana, possibilidade de valoração formal de
fundadas que estão na metafísica um direito justo.
dos costumes e na racionalidade
prática. A justiça impõe-se com um Del Vecchio parte de uma
imperativo da razão. concepção teleológica de natureza
humana para afirmar que o direito
O CONHECIMENTO JURÍDICO natural representa o reconhecimento
PASSA A SER UM CONSTRUÍDO das propriedades e exigências
SISTEMÁTICO DA RAZÃO, essenciais da pessoa humana,
CONFORME O RIGOR LÓGICO DA devendo o direito positivo
DEDUÇÃO E UM INSTRUMENTO adequar-se a esse princípio ético
DE CRÍTICA AO DIREITO, POSTO universal.
EM FAVOR DE PADRÕES ÉTICOS
CONTIDOS NOS PRINCÍPIOS Relativização do conceito de
RECONHECIDOS PELA RAZÃO. justiça.

Críticas:
Jusnaturalismo contemporâneo
a) Visão axiológica do direito;
Prevalência da ciência positivista
como critério de aferição da b) Não oferece fundamentação e
legitimação de um direito
verdade, única forma de conhecer.
justo;
Concomitantemente, surgiram, no c) Confunde os planos do ser e
Séc. XIX, as ciências sociais, a do dever-ser. Direito injusto
antropologia, a etnologia, que não seria direito;
passaram a apontar a diversidade
das sociedades humanas, por isso a d) Não visualizam a bipolaridade
concepção de justiça passou a ser axiológica – valor x desvalor;
localizada no espaço e no tempo. o que não autoriza afirmar-se
que direito injusto não seja
direito, pois juízos de fato e
de valor se situação em
planos cognitivos diferentes;

e) Compreensão da justiça
como a-histórica, atemporal e
aespacial;

f) Confusão entre os atributos


normativos de validade e da
legitimidade – a norma vale
se for justa.

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