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TEORIA GERAL DO DIREITO conteúdo transcendente ao direito

positivo.
Positivismo Jurídico: Conceito e
Características. Legalista, Limita-se a descrever e organizar
Historicismo, Lógico/Normativismo apenas o direito produzido pelo
convívio humano, direito positivo.
A passagem da concepção
jusnaturalista à positivista está O objeto poderá variar:
ligada à formação do Estado
Moderno que surge com a a) em torno dos Códigos
dissolução da sociedade medieval. produzidos nos novecentos
Ocorre assim, o processo de (Positivismo Legalista);
monopolização da produção jurídica
pelo Estado, rompendo com o b) Em torno da norma jurídica
pluralismo jurídico medieval (criação (Hans Kelsen) ou de seu
do direito pelos mais diversos conceito (Herbert Hart);
agrupamentos sociais1.
c) ou, ainda, em torno do
Segundo Norberto Bobbio: A teoria conjunto de decisões
do jusnaturalismo vem ao encontro emitidas pelos tribunais
de nossa exigência de muda, de (realismo).
aperfeiçoar, ou, conforme o caso, de
justificar o direito vigente; mas como Na perspectiva do método:
disse Gellner, é mais fácil acreditar
no positivos jurídico, construído - o positivismo separa a ciência do
racionalmente e controlada direito (ponto do observador) e o
empiricamente. (...) em outras das práticas jurídicas (ponto
palavras, o jusnaturalismo observado);
desempenha bem sua função,
quando se apresenta como uma - afirma um ideal de neutralidade,
ideologia do direito; o positivismo, pois nenhum elemento da descrição
quando se apresenta como uma pode ter natureza ideológica,
teoria do direito2. psicológica ou política de forma a
influenciar o observador;
O positivismo seria um modo
específico de estudar o Direito - Separação entre o direito
distinto do conceito de Direito (validade, autorreferência) e a moral
Positivo. (heterorreferência);

A postura metodológica do Uma definição:


positivismo jurídico afasta de seu
exame qualquer possibilidade de (...) um conjunto de normas válidas
que regem o convívio social em um
1
Cf. Ricardo Maurício Freire Soares, peculiar momento histórico e
Elementos de Teoria Geral do Direito, espacial. Vale ressaltar que os
São Paulo: Saraiva, 2013, p. 155. critérios de validade dessas normas
2
Cf. Norberto Bobbio; Nicola Matteucci; encontram-se estabelecidos pelo
Gianfranco Pasquino. Dicionário de próprio ordenamento jurídico3.
política. Brasília: Ed. UnB/São Paulo:
3
Imprensa Oficial do Estado, 2000, Georges Abboud, Henrique Garbellini
vol.1,p.33, n. 1,1,1. Carnio, Rafael Tomaz de Oliveira,
Características4: - o Direito é um fato e não um valor,
por isso o jurista deve estudá-lo
- O objeto é determinado a partir como um cientista estuda a
das fontes estatais-sociais do realidade natural, a neutralidade
direito. Recusa-se, assim, que a valorativa é um ponto importante.
abordagem do fenômeno jurídico dê
conta de fatores externos àquilo que Enquanto teoria, seis
foi produzido em termos de concepções:
regulação social;
a) Teoria coativa do direito, que
- Separação entre direito e moral; é definido a partir desse
elemento;
- Professa certo coeficiente de b) Teoria legislativa do Direito, a
discricionariedade judicial, no lei é a principal fonte;
momento de aplicação do direito a c) Teoria Imperativa, a norma é
casos especiais – que podem ser considerada um comando,
chamado, à moda do direito um imperativo;
americano, casos difíceis (Hard d) Teoria da Completude do
Cases), que deverão ser decididos ordenamento jurídico;
pelo julgador independente de haver e) Teoria da Coerência do
uma previsão pelo ordenamento ou ordenamento jurídico,
sistema jurídico para a solução. impossibilidade de normas
antinômicas;
O Positivismo Legalista f) Teoria da Interpretação
Mecanicista do Direito.
De acordo com Bobbio5 o
positivismo legalista apresenta-se Enquanto ideologia:
sob três aspectos:
Impõe a obediência à lei, um dever
a) como um certo modo de absoluto (justiça de uma lei válida,
abordagem do direito; valor final); versão moderada, é
b) como uma certa teoria do justo porque é um meio para
direito; realização de um valor, a ordem
c) como uma certa ideologia do (valor instrumental).
direito.
Um exemplo:
Como modo de abordagem:
Escola da Exegese (França, Séc.
Introdução à Teoria e à Filosofia do XIX)
Direito. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013, p. 67. Características:
4
Cf. Lenio Luiz Streck. Verdade e
consenso. Constituição, hermenêutica
e teorias discursivas da possibilidade à
a) Culto ao texto da lei
necessidade de respostas corretas em (Codificação);
direito, 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. b) Direito positivo = Direito
Posfácio, n. 4.2, p. 509. Legal (lei como fonte
5
In O positivismo jurídico: lições de exclusiva);
filosofia do direito. São Paulo: Ícone, c) Monismo jurídico;
1999a.
d) Perfeição racional do h) Reconhecimento do empirismo
legislador; e relativismo na teoria do
e) Completude; conhecimento jurídico;
f) Coerência; i) Ênfase nos valores e costumes
g) Método gramatical, literal, de como fonte jurídica como
interpretação; expressão de um povo;
h) Atuação mecânica do j) Apego ao Direito Romano –
Magistrado; doutrina dos juristas.
i) Aplicação da lei – silogismo
lógico-dedutivo; Mérito:
- colocou o direito na zona dos
Historicismo objetos reais, culturais.

- Final do Séc. XIX Críticas:

- Marco de fundação da Escola d) Ausência de segurança;


Histórica: a polêmica doutrinária e) Espírito do povo – conceito
entre Thibaut vago, artificial/consensual,
(Codificação/Defensor) e Savigny ocultador de conflitos sociais;
(Crítico). f) Valorização da doutrina como
fonte científica do direito, o
- Thibaut defendia a codificação que seria contraditório com a
como elemento integrador da concepção de espontânea
Alemanha, com base na criação do direito pelo
experiência francesa do Código de espírito do povo.
Napoleão;
Sociologismo
- Savigny, por sua vez, defendia a
ideia de um direito fundado no - Final do Séc. XIX
processo histórico e de forma
espontânea por meio dos - Contexto Rev. Industrial;
costumes, daquilo que chamou de
espírito do povo (Volksgeist); - Modelo empírico, Augusto Comte,
fundador da Sociologia;
- Com isso inaugurou a Escola
Histórica do Direito, historicismo - o Direito seria uma parte da
jurídico; sociologia e deveria ser estudado
no plano do ser (mundo real),
- Características: desprezando a dimensão do
dever-ser normativo (mundo ideal);
d) Negação do direito natural;
e) Direito como produto - Valorização da relação do Direito
histórico-social; com fatores econômicos, políticos e
f) Crença em uma alma do povo ideológicos – fatores reais de poder
com ente real e fundamento do – a realidade social;
direito;
g) Defesa do pluralismo jurídico, o - Projetou-se por várias correntes:
Direito não tem como fonte
produtor único o Estado; . Realismo;
. Teologismo;
. Jurisprudência sociológica; Críticas:
. Livre investigação científica;
- Valorização da dimensão fática x
Características segurança e objetividade/Estado;

- Oposição ao formalismo e - Relativização da legalidade


abstracionismo conceitual; (revolta dos fatos) promoveria uma
fragmentação da sociedade;
- Direito visto como fato social
observável, concreto, de acordo - Comprometimento da autonomia
com a causalidade empírica; científica do Direito;

- Conversão em sociologia do - Instrumentalização


direito; ideológica-política;
- Negação do direito natural e da
metafísica;
- Confusão entre
- O ser desemboca no dever-ser – a causalidade-imputação e
regularidade dos comportamentos validade-efetividade.
sociais permitem induzir a norma
social regente; Positivismo Lógico ou
Normativismo Jurídico
- Ênfase na ideia de efetividade e
eficácia social; - Primeira metade do Séc. XX;

- Pluralismo jurídico; - Aprofundamento/distanciamento –


valores e fatos;
- negação da completude, coerência
e perfeição racional do sistema - Exigência de pureza do método,
legislativo; condição de cientificidade;

- Validade x Costume contra legem - Ciência Jurídica normativa, objeto:


(revolta dos fatos); a normatividade jurídica.

- Valorização da jurisprudência; - Reação ao sincretismo


epistemológico;
- Valorização do modelo
hermenêutico subjetivista e da - Estabelecer os marcos da
interpretação sociológica do direito; autonomia e do método da Ciência
do Direito;
- Denúncia das deficiências
semânticas da linguagem jurídica - Teoria do Direito Positivo em Geral
(vagueza, ambiguidade e a textura e não de uma ordem jurídica
aberta dos modelos normativos. especial.

Mérito: Kelsen

- Demonstra a íntima relação dos A multiplicidade de abordagem do


fatos sociais com o direito, direito levou Hans Kelsen a propor o
afastando do idealismo. que chamou de Teoria Pura do
Direito, numa manifesta pretensão fundamental (KELSEN, Hans.
de reduzir todos os fenômenos Teoria Pura do Direito. Tradução
jurídicos a uma dimensão exclusiva João Batista Machado, São
e própria, capaz de ordená-lo Paulo: Martins Fontes, 1994).
coerentemente. Esta dimensão
seria a normativa. (...) O princípio de Conceitos Básicos
sua proposta está numa radical
distinção entre duas categorias g) Princípio metodológico
básicas de todo o conhecimento fundamental: condições para a
humano: ser e dever ser, a partir do construção de um conhecimento
qual se distinguem o mundo da científico para o direito.
natureza e o mundo das normas.
a1. O objeto. O cientista deve
Kelsen reconhece que o direito preocupar-se com a norma posta.
possui múltiplas dimensões, porém
ele dever ser analisado pela sua a2. Neutro. Não há espaço para
dimensão normativa. juízos de valores.

Teoria Pura do Direito - O princípio metodológico


fundamental kelseniano afirma que
o conhecimento da norma jurídica
A teoria pura do direito é uma teoria deve necessariamente prescindir
do Direito – do Direito positivo em daqueles outros relativos à sua
geral, não interpretação de produção, bem com abstrair
particulares normas jurídicas, totalmente os valores envolvidos em
nacionais ou internacionais. sua aplicação, pois são aspectos
Contudo, fornece uma teoria da pré ou metanormativos.
interpretação. Com teoria, quer
única e exclusivamente conhecer o - A pureza do direito decorre da
seu próprio objeto. Procura definição de seu objeto (corte
responder a esta questão: o que é epistemológico) e de sua
e o como é o Direito? Mas já não neutralidade (corte axiológico).
lhe importa a questão de saber
como deve ser o Direito, ou como b) Sistema estático e sistema
deve ele ser feito. É ciência dinâmico:
jurídica e não política do Direito.
Quando a si própria se designa Conhecimento das normas a partir
como pura teoria do Direito, isto de duas perspectivas:
significa que ela se propõe a
garantir um conhecimento . Norma jurídica como reguladora da
apenas dirigido ao Direito e conduta humana – estática –
excluir deste conhecimento tudo procura-se relacionar as normas
quanto não pertença ao seu entre si dentro de uma ordem
objeto, tudo quanto não se possa, vigente (sanção, ilícito, dever,
rigorosamente, determinar como responsabilidade, direitos
Direito. Quer isto dizer que ela subjetivos, capacidade, pessoa
pretende libertar a ciência jurídica jurídica, entre outros);
de todos os elementos que lhe
são estranhos. Esse é o seu A organização de sistemas de
princípio metodológico normas:
proposições que descrevem as
j) Relação a partir das regras normas.
de competência (sistema
estático); - Quando a autoridade competente
k) Relação a partir das normas para editar normas gerais ou
reguladoras de sua produção individuais (leis, sentenças) formula
(sistema dinâmico). uma prescrição em que
determinada consequência deve
Kelsen considera o sistema jurídico ocorrer em certa situação, produz
essencialmente dinâmico. um enunciado.

Segundo a natureza do fundamento - Quando o doutrinador interpreta


de validade, podemos distinguir dois a norma e procura avaliá-la sob
tipos diferentes de sistemas de os diversos ângulos, também
normas: um tipo estático e um tipo externa um enunciado.
dinâmico. As normas de um
ordenamento do primeiro tipo, - Ambos os enunciados afirmam
quer dizer, a conduta dos algo que deve ser.
indivíduos por elas determinada,
é considerada como devida - A norma jurídica editada pela
(devendo ser) por força do seu autoridade competente tem caráter
conteúdo: porque a sua validade prescritivo (ato de vontade),
pode ser reconduzida a uma enquanto que a proposição jurídica
norma a cujo conteúdo pode ser emanada da doutrina tem natureza
subsumido o conteúdo das descritiva (ato de conhecimento).
normas que formam o
ordenamento, como o particular - A norma hipotética fundamental
ao geral. (...) O tipo dinâmico é (...) a norma fundamental é a
caracterizado pelo fato de a norma instauração do fato fundamental da
fundamental pressuposta não ter criação jurídica e pode, nestes
conteúdo senão a instituição de um termos, ser designada como
fato produtor de normas, a constituição no sentido
atribuição de poder a uma lógico-jurídico, para a distinguir da
autoridade legisladora ou – o que Constituição em sentido jurídico
significa o mesmo – uma regra que positivo. Ela é o ponto de partida
determina como devem ser criadas de um processo: processo da
as normas gerais e individuais do criação do Direito positivo. Ela
ordenamento fundado sobre esta não é uma norma posta, posta
norma fundamental. (Op. Cit. pp. pelo costume ou pelo ato de um
217/219). órgão jurídico, não é uma norma
positiva, mas uma norma
c) Normas jurídicas e proposições pressuposta, na medida em que a
jurídicas: distinção instância constituinte é
considerada como a mais elevada
- Com essa distinção Kelsen autoridade e por isso não pode
pretendeu destacar a diferença ser havida como recebendo
entre a atividade de aplicação do poder constituinte através de
direito e aquela própria do uma outra norma, posta por uma
cientista do direito, conjunto de autoridade superior (Op. Cit, p.
222) (Ex. Agente Fiscal e Traficante
– ordem para pagar uma quantia). -Questionamento/princípio da
segurança jurídica;
- Princípio da Imputação x
Causalidade: - Utilização ideológica.
distinguem-se os dois princípios em
razão da natureza de suas
consequências: no último caso, o Bibliografia:
efeito da relação causal não está
relacionado à descrição do que SOARES, Ricardo Freire.
fora estabelecido por uma ato de Elementos de Teoria Geral do
vontade das autoridades Direito. São Paulo: Saraiva, 2013.
competentes sob o aspecto
jurídico; FERRAZ JR, Tércio Sampaio. A
Ciência do Direito, 2ª edição, São
- Independe da vontade humana, Paulo: Atlas, 2012.
pois segue o antecedente no mundo
do ser, COELHO, Fábio Ulhoa. Para
Entender Kelsen, 2ª edição, São
Vertentes de Estudo Paulo: Max Limonad, 1996.

​ Nomoestática = Teoria da KELSEN, Hans. Teoria Pura do


Norma; a norma é estudada Direito. Tradução João Batista
como sentido objetivo de um Machado, São Paulo: Martins
ato criador de direito dotado Fontes, 1994.
de validez. Nesse contexto, a
natureza da norma jurídica é
de um juízo hipotético de
caráter imputativo, que pode
ser decomposto: a) preceito
primário (dada a não
prestação, deve ser uma
sanção), visão coativa;
preceito secundário (dado um
fato, deve ser a prestação),
licitude.

​ Nomodinâmica = Teoria do
Ordenamento. Sistema de
Normas disposto
hierarquicamente. Dogmas:
unidade, completude e
coerência.

Críticas:

- Identidade entre direito justo e


direito positivo;

- Axiologia afasta;

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