Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2018
Livro II
VETORES FUNDAMENTAIS
PARA UMA TEORIA GERAL DO DIREITO
Sumário:
Parte I
Filosofia:
De uma noção descritiva de Direito às tópicas
axiológica e
sociológica.
A Justiça e o Direito. O exemplo de Antígona.
Correntes do pensamento jurídico
Parte II
Semiótica
Signos jurídicos
Parte III
Dinâmica:
Dimensões e Funções,
Valores, Princípios e Fins do Direito
Parte IV
Linguística:
Aceções do termo “Direito”
11
1
Parte V
Metodologia:
Fontes de Direito
Parte VI
Epistemologia especial:
Ramos de Direito e Disciplinas afins.
As Ciências Jurídicas Humanísticas
Parte VII
Geografia:
Pluralidade de Ordens Jurídicas
e Comparação de Direitos
Parte VIII
Sociologia:
O Direito e a sua Circunstância:
História, Ordens Sociais Normativas,
Política, Estado
11
2
Parte I
Filosofia:
De uma noção descritiva de Direito às tópicas
axiológica e
sociológica . A Justiça e o Direito36. O exemplo de
35
Antígona37.
Correntes do pensamento jurídico38.
Sumário:
Capítulo I
Em demanda do entendimento do Direito
Capítulo II
Direito, Justiça, Direito Natural
Capítulo III
Correntes do Pensamento Jurídico
11
5
Paulo Ferreira da Cunha
12
1
Paulo Ferreira da Cunha
12
2
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
12
4
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
12
5
Paulo Ferreira da Cunha
13
3
Paulo Ferreira da Cunha
11 .Coercibilidade e Sanção
Se a ordem jurídica se limitasse a estabelecer
catálogos mais ou menos bem intencionados de direitos
e deveres (como são tantas declarações universais de
direitos, por exemplo), não reagindo contra as violações
a essa ordem, perderia a credibilidade; toda a
segurança que visara estabelecer se quedaria ineficaz –
no fundo, a única diferença que passaria a haver entre
tal ordem e a sua inexistência proviria (a sermos
otimistas, a crermos na juridicidade do comportamento
corrente do homem comum), de, na maior parte das
situações, se observar o respeito (costumeiro,
tradicional, ou “político”) por tais normas.
Mas há aqui um sem número de questões a
ponderar. A principal seria talvez a de saber em que
medida o respeito por muitas normas não deriva
precisamente da garantia geral da sua observância
13
8
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
14
2
Capítulo II
Direito, Justiça, Direito Natural
1 .Direito e Justiça
Será da Justiça que falaremos — brevemente —
agora. É um tema naturalmente recorrente, de resto.
Terminámos precisamente a nossa descrição
fazendo depender da Justiça todas as funções
desempenhadas pelo Direito: orientação e estruturação
da vida social, reconhecimento e atribuição de direitos,
imposição de deveres, distribuição de papéis, etc. É ela
que confere uma ordem à ordem, que a dota de um
sentido (o do Justo) impedindo por um lado o caos, e
por outro a roleta, o arbítrio de uma qualquer ordenação
surrealista, ilógica, ou mesmo lógica, geométrica e
rigorosa mas desatendendo à natureza das coisas e à
natureza humana, racional, livre e ignorando ou
ofendendo a Justiça.
O Direito perderia toda a aceitação e credibilidade
(e pontualmente a perde, sabemo-lo, quando nisto não
atenta) se ordenasse, estabelecesse (criasse
segurança), de forma efetiva (com coercibilidade),
normas completamente alheias à razão, à liberdade e à
Justiça (que às duas primeiras pressupõe e a ambas
atende).
Uma ordem “jurídica” que estabelecesse hic et
nunc, constitucionalmente e até por maioria absoluta (ou
unanimidade) não só do legislativo mas de todos os
14
3
Paulo Ferreira da Cunha
15
0
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
45
Há quem defenda, porém, a irresponsabilidade dos infratores por
razões empáticas. Referindo-se a uma tal posição, característica de certa
"intelectualização" hodierna v. PARETO, Vilfredo — Traité de Sociologie
deste ou daquele sistema jurídico não justificam de
forma alguma o recuo para a idade das cavernas, para
o chamado “estado de natureza”, e portanto de forma
alguma legitimam um absurdamente opor alguns
considerado “natural” direito ao armamento, por
exemplo. A legítima defesa e a ação direta são resíduos
desses tempos, mas importa, para que realmente se
verifiquem, que se não possa recorrer em tempo útil à
força pública.
15
4
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
Générale, ed. Suíça, Genebra, Droz, 1968, p. 603: "... As pessoas que
não vivem em boas condições económicas estão persuadidas de que a
culpa é da sociedade. Por analogia pensam também que os delitos dos
ladrões, dos assassinos, são igualmente o efeito das faltas da sociedade.
Assim, ladrões e assassinos afiguram- se-lhes como irmãos
desafortunados dignos de condescendência e piedade. Os 'intelectuais'
estão convencidos de não ocuparem um lugar condigno na hierarquia
social. Invejam os ricos, as altas patentes militares, os prelados, etc., em
suma o resto da alta sociedade. Supõem que os pobres, os delinquentes
são, também eles, vítimas dessa classe. Sentem-se nisso semelhantes;
essa é razão pela qual por eles têm benevolência e piedade (…). E
depois passa Pareto a dar exemplos concretos. É preciso ter muito
cuidado em não confundir as observações referidas com a ideologia do
medo que infesta certas classes em diversos países, e que parece
inclusivamente querer colocar de cabeça para baixo todo o Direito Penal,
nomeadamente invertendo o ónus da prova, julgando em praça pública
crimes mais apaixonadamente odiados (pontualmente) por certa opinião
pública fanatizada, etc.. A constitucionalização do Direito Penal e alguma
tenacidade política, que se espera do poder democrático que manda
ainda, nos livrem dessas barbarizações. São dois exageros: o que aos
agentes criminosos desculpa tudo, e o que a meros suspeitos ou
acusados por inimigos já querem linchar... Há pessoas com uma sede de
sangue e maldade muito grandes, talvez na medida das suas
frustrações.
15
5
Paulo Ferreira da Cunha
15
6
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
15
7
Paulo Ferreira da Cunha
15
8
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
16
0
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
16
3
Paulo Ferreira da Cunha
16
5
Paulo Ferreira da Cunha
16
6
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
17
1
Parte II
Semiótica
Signos jurídicos
2.Símbolos do Direito
O principal símbolo do Direito é a Balança, e tal
acontece em várias latitudes, embora ela seja também
símbolo de outras coisas. A verdade é que ela pesa
simbolicamente o bem e o mal jurídicos, e por ela se
procura o equilíbrio entre infração e pena, lesão e
indemnização, etc..
17
2
Paulo Ferreira da Cunha
3.Palavras do 'Direito'
Há duas palavras para este campo semântico:
"Direito", ou de "Jurídico". É uma dualidade que tem um
57 Cf. Mito e Constitucionalismo, ct., pp. 60 et sq, máxime, p. 62.
58 Cf. o nosso Desvendar o Direito, pp. 15-23, p.119 et sq., p. 199 et sq..
17
3
Paulo Ferreira da Cunha
17
4
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
17
5
Parte III
Dinâmica:
Dimensões e Funções,
Valores, Princípios e Fins do
Direito
Sumário:
Capítulo I
Dimensões e Funções do
Direito
Capítulo II
Valores, Princípios e Fins do
Direito
16
9
Capítulo I
Dimensões e Funções do Direito
17
2
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
3 .Tridimensionalidade fenoménica e
funcional do Direito
Enquanto fenómeno, o Direito é facto, valor e
norma. É as três coisas e cada uma delas. Avançou-se
mais tarde um quarto elemento fenoménico, mas
diferente conforme os autores (fala de
tetradimensionalidade Paulo Lopo Saraiva): num caso,
remetendo para a Justiça (que, contudo, parece mais
valorativo que propriamente fenoménico), e noutro caso
(que, esse sim, é de índole fenoménica) para o facto de
que o Direito será sempre texto – oral ou escrito. Assim
(afastando o elemento de Justiça não porque ela não
17
3
Paulo Ferreira da Cunha
17
9
Paulo Ferreira da Cunha
inspiração básica.
É evidente que os princípios de índole dogmática,
doutrinal (os primeiros que acabámos de referir) só têm
interesse de organização metodológica, sistematização,
e importância didática. Muito mais fundantes são os que
realmente polarizam grandes ideias de Justiça, para
além da decantação a partir das regras concretas, e,
pelo contrário, funcionando como inspiração e
imposição do alto da sua auctoritas axiológica superior.
As Constituições principiológicas (estudadas, por
exemplo, por um Paulo Bonavides no Brasil), e o
Estado Constitucional nelas fundado, deram uma
enorme esperança à renovação jurídica, pela decisiva
superação do legalismo pedestre, que sufocava a
respiração da Justiça.
Contudo, em alguns casos, caiu-se num abuso da
invocação de princípios, por vezes a torto e a direito, a
propósito e sem propósito, para justificar tudo e o seu
contrário. Especialmente se esgrimiu com a dignidade
da pessoa humana e o princípio da proporcionalidade,
gazuas abridoras de todas as portas ao serviço de um
ativismo judicial67 nem sempre respeitador de todos os
requisitos jurídicos (desde logo, da separação dos
poderes).
O exagerado uso dos princípios, porém, não
anula a necessidade de os ter em alta conta na
hermenêutica jurídica. Apenas, aqui como em tantos
outros assuntos, se requer uma aplicação segundo o
19
1
Parte IV
Linguística:
Aceções do termo “Direito”
19
3
Paulo Ferreira da Cunha
19
5
Paulo Ferreira da Cunha
68
NINO, Carlos Santiago —- Introducción al análisis del Derecho, l.ª ed.
espanhola, Barcelona, Ariel, 1983 [2.ª ed. argentina, Buenos Aires,
Astrea, 1980], tradução nossa.
19
7
Parte V
Metodologia:
Fontes de Direito
Sumário:
Capítulo I
Sentidos da expressão “Fontes de Direito”
Capítulo II
Fontes do Direito em sentido técnico-jurídico — análise
global
Capítulo III
Fontes do Direito em Sentido Técnico-jurídico —
análise especial
Capítulo IV
Hierarquia das Fontes de Direito
Capítulo V
Conclusão
19
5
Capítulo I
Sentidos da expressão “Fontes de Direito”
19
7
Paulo Ferreira da Cunha
19
9
Paulo Ferreira da Cunha
20
4
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
80
Cf., por todos, Idem. Direito Internacional: Raízes & Asas, Belo
Horizonte, Forum, 2017.
20
5
Paulo Ferreira da Cunha
20
9
Capítulo II
Fontes do Direito em sentido técnico-jurídico
— análise global
21
0
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
9. As normas corporativas
A questão, nos seus recortes tradicionais, não
parece ser de enorme atualidade e muito menos
universal. Ela resultará da consagração legal autónoma
de um tipo de normativos, que são, lato sensu, leis,
embora lhes possa faltar o caráter de estadualidade.
Porém, o mundo informacional tende para a criação de
entidades mais ou menos autónomas, efémeras
algumas, que possuem, pela própria natureza das
coisas, uma vocação e uma ação normativa.
Certamente teremos de considerar, pelo menos numa
fase de transição, certos aglomerados de associação
humana ("comissões especiais" numa designação
clássica, certamente) como verdadeiras pessoas morais
21
9
Paulo Ferreira da Cunha
22
1
Paulo Ferreira da Cunha
10. A equidade
A equidade refere-se a uma particular forma de
adaptação do geral ao concreto, de suavização e
adequação das normas, de atenuação do brocardo da
decadência romana dura lex, sed lex. Numa perspetiva
positivista, é, sem dúvida, um amortecedor da dureza da
lei. Já, contudo, para quem entenda o Direito como
subordinado a princípios fundamentais e à Justiça, pode
parecer tautológico92. Toda a Justiça é, por natureza,
équa. Só um direito estritamente legal necessita dessa
válvula de segurança, como entidade autónoma.
Porém, como se vai tornando complicado e
certamente não muito usual resolver casos concretos
com invocação direta à Justiça, parece que será, na
prática, certamente melhor prescindir do rigor conceitual
neste ponto, e admitir a utilização autónoma da
equidade. Os resultados práticos poderão ser,
certamente, mais positivos.
22
3
Paulo Ferreira da Cunha
22
4
Capítulo III
Fontes do Direito em Sentido Técnico-jurídico — análise
especial
2 .Os Valores
Embora não seja habitual considerar os valores
em sede de fontes de Direito, parece um pouco
estranha essa ausência, porquanto noutros contextos
eles são considerados (naturalmente) como de grau
superior aos próprios princípios e, portanto, mais
importantes ainda, a fortiori, que as leis.
Os valores jurídicos são múltiplos. Houve tempo
em que classicamente se fazia uma dicotomia entre o
Valor da Justiça, ou simplesmente o Valor Justiça, e a
segurança, ou o valor da segurança. São, na verdade,
valores que estão num nível muito diferente, e também
sempre se poderá dizer que a Justiça, para o ser, já
implica pelo menos alguma segurança jurídica. É
necessária alguma certeza ou pelo menos alguma
previsibilidade. É preciso, para usar uma linguagem
simples, “saber em que lei se vive”. E isto implica, muito,
saber um pouco antecipar o que será a decisão dos
juízes com base na mesma lei.
23
1
Paulo Ferreira da Cunha
23
2
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
23
3
Paulo Ferreira da Cunha
prospetivos:
3 .A Lei e o Legalismo
A Lei, mesmo falando apenas no seu sentido
jurídico (excluindo a lei eterna, divina, e as leis
científicas, etc.), pode comportar vários sentidos. Assim,
pode ser sinónimo de Direito (em sentido normativo,
especialmente); identificar-se com a autoridade do
Estado ou com o ordenamento jurídico (assim
retornando a primeira aceção); referir-se a certas
normas, enquanto fonte de Direito. Obviamente que é
este último o sentido que nos importa.
Mas mesmo nesta aceção se pode entender lei
de forma mais ou menos ampla. Assim, lato sensu, lei
opor-se-á, como fonte intencional, especialmente ao
costume (fonte não voluntária), abrangendo um conjunto
vasto de atos legislativos, e ainda regulamentos
administrativos, convenções coletivas de trabalho, etc.
Num sentido menos lato, abarca apenas "todas as
disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais
competentes", deixando de fora os atos normativos
gerais, abrangentes, de cariz privatístico, não estadual.
Finalmente, numa última e ainda mais
especializada aceção, só será lei a lei em sentido
formal, material e orgânico: uma disposição genérica,
abstrata, inovadora, suficientemente digna para tal,
imperativa, coerciva e provinda do órgão por excelência
legislativo, o Congresso (ou Parlamento). É a visão
racionalista- liberal de lei. Talvez se lhe possa
acrescentar ainda: justa.
Dentro destas várias aceções parece dever
considerar-se lei, para efeitos de interpretação quanto
às fontes de Direito, o segundo sentido.
23
5
Paulo Ferreira da Cunha
4 .Costume
Trata-se não dos meros usos, da prática habitual
de dados atos, mas, especificamente, de diuturnos
comportamentos, observados com a convicção de quem
23
6
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
5 . jurisprudência
Quando se fala em jurisprudência (com
minúscula para distinguir da episteme jurídica, essa com
maiúscula), como se sabem trata-se das decisões
verdadeiramente pertinentes aos processos nos
tribunais, as sentenças. Há muitas decisões
96 Cf., v.g., http://rio20.net/pt-br/propuestas/declaracao-universal-dos-
direitos-da- mae-terra/ - Consultado em 11 de outubro de 2016.
97 Embora haja quem tenha pudor em usar a expressão, ela é
perfeitamente adequada. V., especialmente, RIEMEN, Rob — De
eeuwige terugkeer van het fascisme, trad. port. de Maria Carvalho, O
Eterno Retorno do Fascismo, trad. port., Lisboa, Bizâncio, 2012. E não se
trata de uma curiosidade ou de um distante facto político, mas de real
ameaça ao Estado de Direito, ou seja, a pessoas concretas.
98 AVRITZER, Leonardo et al. — O Constitucionalismo democrático
latino- americano em debate, Belo Horizonte, Autêntica, 2017.
23
8
Teoria Geral do Direito: Uma Síntese Crítica
6 .Normas corporativas
As normas corporativas, normas das pessoas
morais, são fontes intencionais e imediatas do Direito de
origem em geral não estatal (porque pode haver
pessoas coletivas estatais por vezes ou sempre não
emitindo normas por “lei” formal: aliás, em rigor dos
rigores só o Parlamento emite verdadeiras leis),
representando a autonomia nomogenética das
entidades privadas (ou pelo menos com alguma
autonomia), embora possa englobar também pessoas
coletivas públicas.
De todo o modo, o problema é muito complexo,
prendendo-se com a classificação (hoje uma selva
conceitual e inextricável na prática, a não ser caso a
caso) dos entes coletivos. Mas o que não estiver no
âmbito das normas editadas pelos organismos
99 CASTANHEIRA NEVES, António — O Instituto dos Assentos e a
função jurídica dos supremos tribunais, Coimbra, Coimbra Editora, 1983.
23
9
Paulo Ferreira da Cunha
24
1
Capítulo IV
Hierarquia das Fontes de Direito
24
5
Paulo Ferreira da Cunha
24
7
Capítulo V
Conclusão
24
9
Paulo Ferreira da Cunha