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Curso de Direito
Teoria Geral do Direito
Prof. Mauro Campello
1a. edição
2020.1
Unidade 06:
1. Introdução:
A conceituação ética do Direito foi dada pelo poeta Dante Alighieri 2 em sua
obra Monarquia3, no Livro Segundo, denominado de “Como o povo romano obteve
legitimidade e o encargo da monarquia e do império”.
1 - Jurista italiano (Bolonha 1913-2005). Professor nas universidades de Bolonha, Modena, Siena, Gênova, Milão e de
1950 a 1954 na Universidade de São Paulo no Brasil, especialista em história da filosofia moral, política e jurídica e na
metodologia das ciências sociais e jurídicas, ele escreveu: Direito e ciência jurídica na crítica do
conceito (1941), Avaliação prática como realidade social (1950), A escolha do método na
jurisprudência (1957), Filosofia do trabalho (1971), Justiça e Sociedade (1983).
2 - Dante Alighieri (1265-1321) foi o maior poeta italiano da literatura medieval. Autor do poema épico “A Divina
Comédia”, onde relata sua viagem imaginária ao inferno, purgatório e paraíso, encontrando mortos ilustres do passado
ou de sua época, discutindo fé e razão, religião e ciência, amor e paixões. Dante nasceu em Florença, Itália, por volta
de 25 de maio de 1265. Filho de Alighieri e Bella, importante família de origem aristocrática, ficou órfão de mãe ainda
menino. Deixou obras de Política e Filosofia, destacando-se entre estas, Monarquia.
3 - De Monarchia é um tratado sobre o poder secular e religioso por Dante Alighieri (1265-1321). Com este texto
em latim, o poeta interveio em um dos temas mais controversos do seu período: a relação entre a autoridade secular
(representada pelo Imperador do Sacro Império Romano-Germânico) e a autoridade religiosa (representada pelo Papa).
O ponto de vista de Dante é conhecido neste problema, uma vez que durante a sua atividade política ele lutou para
defender a autonomia do governo da cidade de Florença da demanda temporal do papa Bonifácio VIII.
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Nessa obra, Dante escreveu que “o direito é uma relação real e pessoal de
homem para homem que, observada, serve à sociedade e, corrompida, a corrompe”.
Verifica-se nesta definição de Direito que a ordem jurídica 4 é apresentada como
fundamento inarredável da sociedade.
Dessa forma, Dante trabalha a ideia de que esta relação é uma proporção,
que significa uma expressão de medida. Portanto, o Direito não é uma relação qualquer
entre os homens, mas uma relação que implica uma proporcionalidade, cuja medida é o
próprio homem.
Percebe-se que Dante oferece uma compreensão do Direito conjugando os
conceitos de proporção e socialidade.
Proporção entre quem? De homem para homem. E, assim, quando a
proporção é respeitada, realiza-se a harmonia e, quando corrompida, corrompe a mesma
sociedade.
O mencionado poeta também distingue as relações de direitos reais e as de
direitos pessoais para melhor delimitar o sentido da palavra proporção ao afirmar que “o
direito é uma proporção real e pessoal, de homem para homem (...)”. Portanto, o Direito
tutela as coisas somente em razão dos homens: a relação jurídica conclui-se entre
pessoas, não entre homens e coisas, mas é real quando tem uma coisa ( res) como seu
objeto.
Em verdade, Dante Alighieri inspirou-se nas lições aristotélico-tomistas e nos
ensinamentos dos jurisconsultos romanos, especialmente em Cícero, que defendia a ideia
de que devemos conhecer a natureza humana, ou seja, o homem, para, depois, conhecer
o Direito.
Miguel Reale analisando esse pensamento conclui que devemos “buscar o
elemento fundamental do Direito no exame mesmo da natureza humana, pois é ele uma
expressão ou dimensão da vida humana, como intersubjetividade e convivência
ordenada.”
Para o mestre, as ideias de humanização e da socialização do Direito, que
nos parecem tão contemporânea, encontram seus antecedentes através de uma tradição
histórica desde os tempos da antiguidade. Realmente o Direito é dinâmico, inova,
apresenta elementos de renovação permanente, todavia, conserva, sempre, um apoio na
tradição.
Reflexão:
5 - Meu Pós-doutoramento em Direito foi realizado e concluído na Itália em 2016, na Università degli Studi di Messina,
que, atualmente, é uma Universidade Federal Italiana. A mesma foi fundada em 1548, pelo Papa Paulo III, e sempre se
caracterizou pela qualidade da pesquisa e do ensino. Esse Pós-doutoramento era vinculado ao dipartimento di
giurisprudenza (trad. Departamento de Direito).
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O símbolo de adição “+”, refere-se a uma adição, ou seja, a uma única e determinada
operação. Logo, 2 + 3 = 5 e 3 + 2 = 5, pois o sinal para somar os dois números acha-se
convencionado no símbolo acima identificado.
Miguel Reale ensina que “no campo das ciências sociais, não podemos
alimentar ilusões no sentido de extremado rigor terminológico, mas nem por isso nos
faltam estruturas conceituais ajustáveis à complexa e matizada conduta humana.”
b) Fato, valor e norma não existem separados um dos outros, mas coexistem numa
unidade concreta;
c) Fato, valor e norma não só se exigem reciprocamente, mas atuam como elos de um
processo de tal modo que a vida do Direito resulta da interação dinâmica e dialética dos
três que a integram.
Reflexão:
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No Direito brasileiro há norma legal 6 que prevê o pagamento de uma letra de câmbio na
data de seu vencimento, sob pena de protesto do título e de sua cobrança, gozando o
credor, desde logo, do privilégio a execução do crédito. Monte a estrutura da norma
jurídica.
Verificamos no exemplo para reflexão, que a norma de direito cambial representa uma
disposição legal que se baseia num fato de ordem econômica e que visa assegurar um
valor – o valor do crédito, a vantagem de um pronto pagamento com base no que é
formalmente declarado na letra de câmbio. Percebe-se que um fato econômico liga-se a
um valor de garantia para se expressar por meio de uma norma legal que atende às
relações que devem existir entre aqueles dois elementos.
Segundo Miguel Reale, a história da letra de câmbio explica que esta
surgiu como sendo um documento onde Augerio ordenava a Negidio que pagasse a
Faustina determinada importância, a vista da apresentação do título. E que ao
pesquisarmos sobre esse título, verificaremos uma evolução que ele vem sofrendo
através dos tempos.
Essas alterações são operadas tanto no plano dos fatos (alterações nos
meios de comunicação e informação, do sistema de crédito ou organização bancária),
como no plano dos valores ou fins econômico-utilitários do crédito e da circulação
garantida da riqueza, até se converter nos dias atuais num título de crédito de natureza
autônoma, literal, abstrata e exequível.
Dessa forma, fatos, valores e normas se implicam e se exigem
reciprocamente. Desde o surgimento da norma jurídica até o momento final de sua
aplicação, o Direito se caracteriza por sua estrutura tridimensional, na qual fatos e valores
se dialetizam, obedecendo a um processo dinâmico.
Reale denominou esse processo do Direito, que obedece a uma forma
especial de dialética, de “dialética de implicação-polaridade”. Segundo esta dialética,
aplicada à experiência jurídica, o fato e o valor nesta se correlacionam de tal modo que
cada um deles se mantém irredutível ao outro (polaridade) mas se exigindo mutuamente
(implicação) o que dá origem à estrutura normativa como momento de realização do
Direito. Por isto, também denominada de “dialética de complementaridade”.
Para uma melhor compreensão da Teoria Tridimensional do Direito,
conjugaremos esta à noção de Direito, recorrendo-se a bilateralidade atributiva de Reale.
Dessa forma, ao analisar estas três noções de Direito, Miguel Reale conclui
que cada uma delas obedece a três perspectivas respectivamente: a do fato (realização
ordenada do bem comum), da norma (ordenação bilateral-atributiva de fatos segundo
valores) ou do valor (concretização da ideia de justiça).
Conclui Miguel Reale “que a compreensão integral do Direito somente pode
ser atingida graças à correlação unitária e dinâmica das três apontadas dimensões da
experiência jurídica, que se confunde com a história mesma do homem na sua perene
faina de harmonizar o que é com o que deve ser”.
Jamais poderemos esquecer a lição de Jackson de Figueiredo 7, para quem
o Direito representa uma das dimensões essenciais da vida humana, em razão de sua
própria estrutura e destinação.
Fonte bibliográfica:
7 - Professor, advogado, filósofo, político, jornalista, crítico e ensaísta. Formou-se em Ciência Jurídica na Faculdade
Livre de Direito da Bahia. Mudou-se para o Rio de Janeiro onde dedicou-se à política. Combateu o liberalismo e o
comunismo. (1891 – 1928)
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1. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27ª Ed. 9ª tiragem. São Paulo: Saraiva,
2010.
26. Por que Miguel Reale afirma que a compreensão integral do Direito somente pode ser
atingida graças à correlação unitária e dinâmica das três dimensões da experiência
jurídica (fato, valor e norma)? Explique.
27. Segundo Jackson de Figueiredo, “o Direito, em razão de sua própria estrutura e
destinação, representa uma das dimensões essenciais da vida humana”, explique essa
ideia.
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