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Talcott Parsons, em “The Structure of Social Action” (1937), define a Sociologia como
“a ciência que tenta desenvolver uma teoria analítica de sistemas de ação social, na
medida que esses sistemas possam ser compreendidos em termos de propriedade da
integração de valor comum”. Preferimos ousar, em sede também decorrente de teoria da
ação, de base compreensiva, que a Sociologia serve à observação e compreensão de
dinâmicas sociais e ao acompanhamento de tais dinâmicas, com base em metodologias
próprias das Ciências Sociais, aplicadas de acordo com a compatibilidade reservada ao
objeto observado.
Sociologia e Antropologia Jurídicas:
ciências dos fenômenos tingidos pelo Direito
Com Durkheim, é preciso ir além e contra Latour, reconhecendo a presença do social que
carrega o Direito, no seio de qualquer "associação". A sociedade se infiltra nas relações
entre os indivíduos, através das instituições apreendidas, tanto pelo sociólogo quanto
pelos atores, como referência que permite organizar e identificar as relações que se
poderia dizer, sociais. isso implica conceber uma causalidade complexa, ou seja, o
Direito muda o mundo de forma direta, ao organizar, por exemplo, a implantação do
poder pública, mas também, e principalmente, de forma indireta, como motivo da
atividade social dos indivíduos (DIRDRY, 2011). Nesta seara, para Dirdry (2011) a
sociologia weberiana do direito está associada à descoberta de Durkheim (2010) o rigor
científico reivindicado para a sociologia.
Muitas definições de Sociologia do Direito e/ou Jurídica foram propostas, muitas vezes
muito detalhadas e antecipando pesquisas e seus resultados. Por vezes definida, a
sociologia jurídica, como uma ciência da realidade, contraposta à ciência dos valores que
seria a Filosofia do Direito e a ciência das normas, o Direito Dogmático.
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Carbonnier (2012) tenta “simplificar” afirmando que seu interesse (desta ciência
especializada) seria a parte da sociedade que está no Direito, a parte do Direito que está
na sociedade. Ou, então, amplia: uma disciplina que tem por objeto o estudo dos
fenômenos sociais (“humanos?”, pergunta) nos quais a presença da lei (norma) é
detectável. Dito isto, propõe que pensemos primeiro nas diferenças de objeto: o direito
dogmático estuda as regras do direito em si, enquanto a sociologia jurídica se esforça
para descobrir as causas sociais que as produziram e os efeitos sociais que elas
produzem.
Analisando o impacto “negativo” que a simplificação pode suscitar à dogmática,
pergunta: - mas que jurista dito dogmático aceitaria hoje ser reduzido em seu estudo,
dessa maneira, a textos cortados da vida, copiados de sua gênese como aplicação?
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Explica: “sempre aconteceu aos mais dogmáticos recorrer, para a interpretação do
Direito, quer à história legislativa (o exame dos trabalhos preparatórios das normas), quer
à apreciação das consequências, que os colocaram no caminho quer das necessidades
sociais a que o direito devesse responder, ou das mudanças sociais que a norma
provocou” (CARBONNIER, 2012). A diferença de objeto às vezes é aprofundada: o
dogmático, declarado, analisa a lei como um conjunto de fatos normativos, obrigatórios e
restritivos, enquanto o sociólogo vê neles apenas fenômenos.
Entre o direito dogmático e a sociologia do direito, a diferença não surge de um objeto: é
uma diferença do ponto de vista, do ângulo de visão. O mesmo objeto que o direito
dogmático analisa de dentro, a sociologia do direito o observa de fora. E é justamente
porque o observa de fora que o vê como fenômeno, como exterioridade, aparência, sem
questionar o que pode ser em si mesmo, em sua profundidade ontológica, como essência,
análise que coloca Carbonnier ao lado de Durkheim, quanto ao direito enquanto fato
social.
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Tem razão o autor quando observa que o jurista dogmático está, por profissão, inserido
em um sistema jurídico, seu sistema nacional, e, ainda que fosse apenas um teórico, pode
legitimamente reivindicar que age de acordo com sua lei, porque dela faz parte, visto que
é membro da “doutrina” e, como tal, ele mesmo é uma autoridade, se não for exatamente
a fonte do direito. E que o sociólogo, ao contrário, permanece fora do sistema que
observa, mesmo que esse sistema fuja do seu e da observação de que ele, de fato, não
pode influenciar em nada o seu funcionamento (CARBONNIER, 2012).
Para Carbonnier (2012) a sociologia jurídica conhece a separação radical, específica das
ciências experimentais, entre o observador e a matéria observada. Metaforicamente,
aduz: “se a lei é Deus para o dogmático, o sociólogo, por sua vez, requer a prática do
ateísmo metodológico”.
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Robert Shirley (1987), tenta mostrar a relação da antropologia nascente no século XIX
com o projeto político de dominação colonial. É por isso que ele chama a antropologia do
século XIX de pragmática ou instrumental. Faz comparação de diferentes experiências
coloniais, tentando mostrar como isso se reflete em maior ou menor grau no saber
antropológico. Se não houvesse relação entre esses fatores, a discussão do contexto de
cada país seria irrelevante para entender o conhecimento produzido pela antropologia.
Ele compara o perfil da experiência colonial francesa com o perfil da experiência
colonial britânica.
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Para Shirley (1987), isso explicaria por que, num primeiro momento, a antropologia
britânica se desenvolveu mais do que a francesa, já que ela era mais necessária do que no
perfil de dominação francês. O saber antropológico era fundamental à própria sustentação
da dominação política indireta. Isso tudo demonstra o perfil da antropologia no momento
de sua implementação, a partir de onde se traçará o seu projeto crítico.
A transposição dessas ciências para o Direito é originada do fato de que ele é uma criação
da sociedade, portanto da cultura. A elas se aplica a mesma fórmula: a Antropologia
observaria, com seu aporte metodológico específico (para nós, a Etnologia enquanto
método), a parte da sociedade que está no Direito, e a parte do Direito que está na
sociedade. Nesse sentido das múltiplas dimensões, entre os estudos dos campos
interdisciplinares, merece destaque a contribuição feita por Guedes (2021), ao afirmar que
caberia à antropologia jurídica um duplo objetivo: “a de analisar de uma perspectiva
antropológica, e em princípio segundo metodologias tradicionais da disciplina, os
domínios das práticas e representações jurídicas”.
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Lévi-Strauss (2003), observando o movimento feito na antropologia do século XIX, constata
que essa, encontrava-se em uma crise de identidade pela extinção de seu objeto.
Antropólogos resolvem, em especial primeiramente os da Escola francesa, direcionar seu
olhar para aquilo que é conhecido como patrimônio etnológico próprio, redirecionando,
assim, sua atenção para sua própria cultura. Acontece que sua própria cultura é a cultura
ocidental, um campo que anteriormente era consignado à abordagem sociológica. Surge uma
questão de delimitação entre antropologia e sociologia. Essa crise, contudo, já foi sanada.
Hoje não há mais objeto que delimite claramente antropologia e sociologia. A Antropologia,
em especial a jurídica, continua particularmente sensível a contextos subalternos; não
obstante, seu objeto não se restringe à questão.
Franz Boas (2004) e Bronislaw Malinowski (1970) serão, diretamente, os responsáveis pela
cientificização do campo antropológico. Os dois autores, mas sobretudo Malinowski,
imprimem uma profunda reforma metodológica da com o método da observação participante.
Isso torna canônico que a pesquisa antropológica seja fundada em pesquisa etnográfica, de
campo, com dados empíricos qualitativamente filtrados. E isso também será observado no
campo da antropologia jurídica, com os estudos de campo e etnográficos.
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Atualmente, temos a Resolução CNE nº 5 de 2018, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Graduação em Direito, que, em seu artigo terceiro prevê:
Art. 3º O curso de graduação em Direito deverá assegurar, no perfil do graduando, sólida formação
geral, humanística, capacidade de análise, domínio de conceitos e da terminologia jurídica, capacidade
de argumentação, interpretação e valorização dos fenômenos jurídicos e sociais, além do domínio das
formas consensuais de composição de conflitos, aliado a uma postura reflexiva e de visão crítica que
fomente a capacidade e a aptidão para a aprendizagem, autônoma e dinâmica, indispensável ao
exercício do Direito, à prestação da justiça e ao desenvolvimento da cidadania.
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Ainda, a Resolução prevê em seu art. 4º, que o curso de graduação em Direito deverá
possibilitar a formação profissional que revele, pelo menos, as competências cognitivas,
instrumentais e interpessoais, que capacitem o graduando a:
(Omissis) X - aceitar a diversidade e o pluralismo cultural;
XI - compreender o impacto das novas tecnologias na área jurídica;
XII - possuir o domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensão e
aplicação do Direito;
XIII - desenvolver a capacidade de trabalhar em grupos formados por profissionais do
Direito ou de caráter interdisciplinar; e
XIV - apreender conceitos deontológico-profissionais e desenvolver perspectivas
transversais sobre direitos humanos. (Omissis)
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