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Abordagem Sociológica do Sistema Júridico

Introdução
A Sociologia é considerada uma disciplina jovem, no entanto, só começa a versar
sobre o direito nos finais do século XIX, com análises profundas e sistemáticas sobre o
direito nas obras dos sociólogos europeus Émile Durkheim e Max Weber que se dedicaram
ao estudo de vários fenómenos sociais, pondo a economia, a moral, e a política ao lado do
direito. A Sociologia Jurídica nasce então como ciência no século XX quando os
fenómenos começam a ser analisados usando conceitos e métodos da Sociologia Geral.

1907, “Sociologia Jurídica” de Carlo Greco foi a primeira obra com título da futura
disciplina onde são apresentados sistemas jurídicos e analisadas as causas e funções sociais
do direito. Eugen Ehrlich vem ainda defender a existência de vários ordenamentos jurídicos
na mesma sociedade e traz os métodos a empregar para os analisar. Os sociólogos
consideram a “vontade do grupo social” como a única fonte do direito.

A Sociologia Jurídica deve pesquisar o que Ehrlich chama de “factos do direito”,


com manifestações que dependem da sociedade. Foram então desenvolvidas duas
abordagens da Sociologia Jurídica: A Sociologia do Direito e a Sociologia no Direito.

1- SOCIOLOGIA DO DIREITO ( uma abordagem positivista )

Esta abordagem faz um estudo sociológico colocando-se numa perspectiva externa


ao sistema jurídico. Considerando que a sociologia do direito faz parte das ciências sociais,
é um ramo da sociologia. O direito cria o carácter autónomo em relação a outras ciências
humanas devido ao uso do método tradicional.

Adeptos: Niklas Luhmann, Renato Greves, Vicenzo Ferrari e Ramon Soriano.

A origem desta abordagem tem como inspiração a obra de Max Weber. Estes
pesquisadores consideram que a Sociologia não deva ser activa dentro do direito, se o
direito é a lei e as relações entre as mesmas, tudo o que não for lei e as relações entre estas
fica fora das ciências jurídicas.

A tarefa da Sociologia Jurídica é de observar de forma neutra o sistema jurídico,


pode estudar estudar e criticar o direito mas não pode fazer parte deste.

Esta abordagem exclui as diversas ciências auxiliares do direito, entendendo que


estas não se dedicam ao estudo das normas e das relações e sua adição culminaria com um
risco de que as mesmas interferissem na aplicação do direito.
É necessário acrescentar que o positivista, baseando-se nas obras de Weber, acredita
na aplicação imparcial do direito e constitui uma garantia para os cidadãos. Neste sentido, o
juiz deve, como entidade máxima, aplicar a lei de forma neutra durante os processos. Para
um positivista o questionamento sociológico sobre o direito é interessante mas não pode
intervir na aplicação deste.

2- SOCIOLOGIA NO DIREITO ( uma abordagem evolucionista )

Esta segunda abordagem adopta uma perspectiva interna com relação sistema
jurídico. Seus adeptos afirmam que a Sociologia Jurídica deve interferir activamente na
elaboração, no estudo dogmático e na aplicação do direito. O direito também deve
empregar métodos próprios das ciências sociais.

É uma ruptura com o conceito Kelseniano de que o direito “é a norma e as relações


entre as normas”, aceita-se que os conceitos elaborados pela Sociologia Jurídica integrem a
ciência jurídica. O sociólogo-jurista pode influenciar no processo de elaboração das leis e
também a doutrina. Tons polémicos surgem quando o sociólogo do direito pretende
participar através da sua disciplina, na aplicação da lei. Quando se sustenta que o juiz deve
fazer interpretações no ponto de vista sociológico-jurídico.

A Sociologia Jurídica tem um método diverso do Positivismo Jurídico e quer que


este seja reconhecido como parte integrante da ciência jurídica. Desta forma, a Sociologia
Jurídica quer compartilhar o poder de “influência que a dogmática do direito detém sobre o
sistema jurídico”.

Entre os autores que defendem este tipo de posição, bem como alguns que não se
dedicam especificamente à sociologia do direito podemos observar Manfred Rehbinder (na
Alemanha), Giovanni Tarello (na Itália) e Roberto Bergalli (na Espanha).

3- OUTRAS CONCEPÇÕES DA SOCIOLOGIA JURÍDICA

As duas abordagens supracitadas parecem ser inconciliáveis, pois colocam o grande


problema da autonomia das ciências jurídicas e da neutralidade do legislador e do intérprete
do direito. Nas ultimas décadas desenvolveram-se tentativas de unificar a perspectiva
interna da sociologia jurídica com a externa ( sociologia no ou do direito ).

Outros autores insistem no facto de que a sociologia jurídica tem necessariamente


dois aspectos: o interno e o externo, devendo o pesquisador olhar para os dois, trabalhando
como jurista e sociólogo (Commaile e Perrin 1985).
Sociologia do ou no direito não é a única forma para indicar as divergências
metodológicas entre os juristas sociólogos. Tammelo, na Áustria e Papachristou, na Grécia,
entendem que é mais importante concentrarmo-nos na discussão sobre a sociologia jurídica
constituir um ramo do direito ou da sociologia, ou se existem duas formas diferentes de
trabalhar na sociologia do direito (a perspectiva do sociólogo e a do jurista).

O termo “sociologia do direito” indica o ramo da sociologia que tem como objecto
de estudo o direito. Sociologia jurídica são os juristas que estudam as dimensões
sociológicas das normas jurídicas. O certo é que a forma de analisar e os resultados da
pesquisa são diferentes em cada caso.

Segundo Rehbinder existem duas sociologias do direito: a pura e a aplicada. O


direito puro explica o sistema jurídico através de uma teoria sociológica e a sociologia do
direito aplicado dedica-se ao estudo do sistema jurídico, com a finalidade de ajuda o
legislador e os profissionais de direito a realizarem reformas e tomarem melhores decisões.

4- Definição de Sociologia Jurídica

Definida de uma forma simples e geral, a Sociologia Jurídica exprime a relação


”Interativa” entre o social e o jurídico.

A Sociologia Jurídica examina a influência dos factores sociais sobre o Direito e as


incidências deste último na sociedade. Podemos dizer que examina as causas e os efeitos
das normas jurídicas. E o seu objecto de estudo é a “Realidade Jurídica” que responde as
3 questões:

Þ Por que é que se cria uma norma ou um inteiro sistema jurídica ?


Þ Quais são as consequências do Direito na vida social ?
Þ Quais são as causas sociais da “Decadência” do Direito ?

Descarte, o jurista-sociológico examina as relações entre o Direito e a sociedade que são:

Þ A produção;
Þ A aplicação;
Þ A decadência da norma.
Desta definição, o Jurista-sociológico observa o Direito “de fora”, ou seja, de forma
externa, examinando as relações entre o Direito e a sociedade. O olhar “de fora” significa
que o pesquisador procura olhar para o Direito abandonando por um momento a ótica do
jurista, e colocando-se numa perspectiva política, económica e social.

Desta forma o jurista-sociológico desvincula-se da dogmática jurídica. O


pesquisador permanece dentro da sociedade. Assim, ele fica na posição de um juiz
literalmente independente e imparcial. A tarefa de examinar a relação entre o Direito e a
sociedade parece carecer de sentido, por isso Lehmann prefere estabelecer o Direito na
sociedade.

O Jurista-Sociológico analisa a interação entre o Direito e a sociedade, ele estuda o


modo de actuação do Direito na sociedade.

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