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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO, ECONOMIA E CONTABILIDADE
CURSO DE DIREITO BACHARELADO

LEONARDO CASTRO ALMEIDA


DANIELLA VIDAL ROCHA

Contribuições da Filosofia para o Direito

São Luís
2021
Etimologicamente, a palavra “direito” provém do latim directum – do
verbo dirigere, ou seja, “o dirigido” ou “o direito”. Isso significa “o que é reto”, “o
que está à direita”. Nesse sentido, Direito pode ser compreendido também
como uma técnica que visa possibilitar a coexistência humana por meio de leis
ou normas. Nessa lógica, é válido ressaltar que são quatro as principais
relações entre o direito e o pensamento filosófico, todas elas reconhecidas pelo
direito positivo, isto é, pela sociedade. São eles: direito natural, direito como
moral, direito como força e direito como técnica social. É importante deixar
claro que a filosofia adquire papel fundamental para o profissional do Direito,
cuja formação filosófica é a única capaz de habilitá-lo a compreender e
investigar a ciência jurídica a fundo.

Inicialmente, aborda-se o direito natural e o jusnaturalismo. A doutrina do


direito natural nasceu na Grécia Antiga e possui duas fases: uma na Filosofia
Antiga e outra na Moderna. Entre os primeiros a defender tal concepção está o
escritor Sófocles (494-406 a.C.) em sua famosa tragédia Antígona. Ele formula
pela primeira vez a questão central que envolve a doutrina do Direito Natural:
existe um direito superior à Legislação positiva estabelecida pela vontade do
soberano.

Na tragédia citada acima, Antígona, irmã de Polinice, negou-se a cumprir


as leis de Creonte, rei de Tebas, que prescreviam que o corpo de Polinice não
podia ser enterrado, uma vez que ao se levantar contra o poder de Creonte,
passou a ser considerado um traidor da pátria. Antígona, inconformada com a
proibição estabelecida pelo rei Creonte, decidiu sepultar o corpo de seu irmão
Polinice, sendo surpreendida durante o enterro e em sua defesa, Antígona
invocou as leis não escritas dos deuses, leis imutáveis que não são de ontem
ou de hoje e que lhe autorizariam a proceder de tal forma (direito das famílias
de sepultar seus mortos). Dessa forma, pode-se definir o direito natural como
uma doutrina que defende que o direito positivo somente terá valor se estiver
de acordo com uma lei superior, universal e imutável. No entanto, os
defensores modernos do direito natural não têm como referência o Universo ou
uma divindade, mas sim a própria razão.

Sob essa perspectiva, o filósofo inglês John Locke é um deles. Ele


defende que os homens possuem um conjunto de direitos naturais inativos
(vida, liberdade e propriedade) e que eles não são transferidos para o corpo
político quando do estabelecimento do contrato social que dá origem ao Estado
Moderno. Por esse motivo, defende que toda lei positiva que contrarie esses
direitos inatos é inválida, podendo ser desobedecida por todos os cidadãos que
exerceriam seu direito de resistência diante da lei injusta.

Ainda nesse contexto, Hobbes, por sua vez, traz a importante ideia de
que a lei é fruto da razão, mas que essa não é infalível. Consequentemente, as
leis humanas e sua compreensão podem não estar claras para os homens.
Desse modo, discussões e interpretações se mostram cada vez mais
necessárias. Nessa esteira, o filósofo David Hume irá avançar na temática em
discussão. Segundo ele, o direito natural não se origina na razão, mas sim em
uma capacidade humana que tem por objetivo organizar as relações humanas.

No que se refere ao direito como moral, caracteriza-se por ir além de


atribuir normas e leis, exprimindo também conceitos de certo e errado, bom e
mal. É o filósofo Leibniz quem irá separar a ideia de que moral é intrínseca ao
direito, pelo contrário, o direito nasce da esfera moral. Seguindo a mesma linha
de pensamento de Leibniz, Kant diz que uma ação moral é aquela que
obedece a noção de dever e não o direito propriamente dito. Por exemplo, não
roubar por medo das consequências da lei não constitui um ato moral,
diversamente, tal obediência é fruto do caráter coercitivo da lei.

Posteriormente, o direito enquanto força diferencia-se totalmente das


concepções anteriores. Aqui, não se possui uma referência transcendente ou
intelectual. Sendo assim, uma lei legítima é aquela que se impõe por meio da
força. Tal concepção surge na era moderna com o filósofo Hegel. A lei atua
enquanto força porque está fundamentada em uma convenção social, logo, o
que o povo decide deve ser obedecido. Para Hegel, o Estado seria uma
espécie de encarnação do espírito, da verdade de um povo, sua imposição
seria, nesse sentido, legítima.

Já o direito como pura técnica trata o direito como uma questão de


justiça. Não possui transcendência ou ligação com uma moral absoluta: ele é
útil e justo para o fim no qual este se realiza. Nesse aspecto, de acordo com o
filósofo Hans Kelsen, a norma deve ser tratada em seu estado puro, isto é, o
juízo de valor deve ser aplicado sempre em relação à conduta e nunca às
normas. Exemplificando, existem leis de proteção ao meio ambiente e estas
podem ser aplicadas de duas maneiras: premiando aquele que não polui ou
punindo quem polui. Seja qual for o caminho, o objetivo será alcançado.

Nesse cenário, as relações entre o direito e o pensamento filosófico não


devem ser estudadas na perspectiva da mera curiosidade sobre a história das
ideias jurídicas. Em cada uma delas há um método próprio de pensamento
acerca de uma visão de mundo. Ou seja, refletem um modo peculiar de se
compreender o indivíduo, a natureza das relações humanas, a sociedade, a
política e o direito, além de uma maneira de se posicionar perante tudo isso.

Aprofundando essa discussão, de acordo com o filósofo Jürgen


Habermas, o papel do Direito na sociedade deixa de ser visto como o eixo
central de todas as formas de interação social. Daí porque a contribuição da
Filosofia para o Direito diz respeito à definição dos próprios problemas que
devem ocupar o jurista. A alteração dessa realidade social demandou uma
profunda modificação das ciências sociais ao longo dos últimos séculos.

No pensamento jurídico, vislumbrou-se, por um lado, a influência das


teorias críticas, que remontam, com maior ou menor intensidade, ao
pensamento marxista. De outro lado, fizeram-se presentes as concepções
genericamente entendidas como funcionalistas, as quais iriam ao encontro do
pensamento de Durkheim ainda no final do século 19. Nessa ótica, pode-se
afirmar que, na esteira das ciências sociais, a ciência do Direito caminhou de
mãos dadas com a filosofia e a sociologia

Pode-se citar como contribuição da Filosofia para o Direito também o


surgimento do direito penal, que se assentou em princípios rígidos e conceitos
absolutos. As reações a essa metodologia rígida não demoraram a surgir como
uma contestação ao ideal iluminista predominante na época. Assim, o direito
penal surge insatisfeito e saturado com a utopia iluminista e recebe da filosofia
kantiana seus primeiros traços, de um racionalismo totalizador, estabelecendo
um conceito apriorístico e transcendental para o crime, por exemplo.

Por fim, é inegável a relação harmônica que há entre a Filosofia e o


Direito bem como a contribuição daquela para esta. Logo, a partir da influência
da teoria crítica na filosofia, é feita a passagem de uma narrativa alicerçada em
leis causais e imperativos categóricos para um discurso que se ampara nas
concepções de comunicação e argumentação. Portanto, quando não se
compreende isso, há dificuldade em desenvolver qualquer discussão mais
aprofundada sobre a ciência jurídica.

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