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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo tem por objetivo realizar uma análise do impacto da Teoria
Pura do Direito de Kelsen sobre o campo da ciência do direito, através de um estudo
dos fundamentos para a existência de uma ciência pura do direito livre de qualquer
vínculo com os demais campos do conhecimento, para que seja possível alcançar
seu objetivo principal, que é a paz social.
Em relação a Escola da Exegese, o artigo também trará referência sobre a
importância do Código Napoleônico e sua influência no estudo nas Faculdades de
Direito, e sua aplicação automática da lei pelos juízes. Um código que recusava a
história e na sua axiomática racionalidade bastaria a si próprio. O direito
estabelecido pelo legislador não podia ser questionado pelo juiz, a única coisa que o
jurista necessitaria era conhecer a própria lei.
cuja teoria estava voltada para a experiência, tendo como critério o útil acima do
justo (CLÈVE, 1998, p. 37).
Essa corrente metodológica retira do direito tudo aquilo de sentido
humanista, não o considerando mais como criação do homem, mas somente como
resultado de forças sociais, identificando-o com a sociedade, abordada sob um
determinado ângulo. O direito é asim visto como um fato social, de carater coativo,
e deve explicar-se por outros fatos sociais(NEVES, 2011, p. 70-75).
Nota-se nesse sociologismo jurídico que o direito vem tratado como puro
fenômeno social objetivo, sem nenhuma consideração humanista que inclua
qualquer referência subjetiva ao homem enquanto agente social. Essa doutrina
objetivista limita o Estado pelo direito, considerando a solidariedade como a grande
lei da vida social, à qual se sujeitam as normas econômicas, morais e jurídicas,
sendo que “o direito é produzido pela solidadriedade social”. E o Estado enquanto
organização da força coercitiva tem sentido na medida em que está a serviço do
direito e este por sua vez, tem por função garantir a solidariedade social nos moldes
organicistas. A própria legitimidade do Estado vem condicionada ao direito (NEVES,
2011, p. 80).
Surgido no fim do século XIX, o sociologismo jurídico constitui-sem discurso
apropriado para atenuar os conflitos de classe decorrentes da relação
capital/trabalho, que gradativamente foram aumentando e abalando a paz burguesa
presente no Estado liberal do século XIX. Para fazer frente a progressiva
organização e reinvidicações da classe operária bem como neutralizar a crescente
tomada de consciência a respeito da profunda divisão que afetava as relações
sociais da época, “a ideologia dominante cria uma nova ‘teoria’ capaz de dissimular
esta situação e dar novos argumentos à manutenção do modo de produção
capitalista”(NEVES, 2011, p. 90-91).
O decorrer do século XIX teve como marca da sociedade capitalista uma
crescente agudização dos conflitos de classe no sentido de que a hegemonia
sociopolítica do capital foi sendo paulatinamente abalada pela tomada de
consciência do proletariado e sua organização de classe em prol da derrubada do
sistema que o explorava. Na formulação teórico-política tanto dos cocialistas como
dos comunistas preconizava uma nova forma de assistencia e caridade, não de um
todo abstrato e harmônico de cidadãos, mas uma solidariedade específica da classe
trabalhadora organizada contra a classe burguessa dos representadores do capital.
Por conseguinte, uma solidariedade causadora de discondancias e conflitos, com
fundamento na luta de classes(CLÈVE, 1998, p. 39-41).
A teoria pura do Direito de Hans Kelsen (2003, p. 8), completada pela teoria
geral do direito, ou seja, uma teoria do direito positivo em geral, dedicada
exclusivamente a descrever o que é e como é o direito. Adota como princípio
metodológico fundamental a pureza: uma teoria jurídica “purificada de toda a
ideologia política e de todos os elementos de ciência natural”, uma ciência, portanto,
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Note-se que essa “realidade jurídica” a ser analisada pela ciência do direito é
uma “realidade” ideal, pois Kelsen estabelece como objeto de sua teoria geral a
norma que, como dever-ser, é o sentido de um ato de vontade dirigido à conduta de
outrem. O estudo da norma, por sua vez restringe-se ao estudo de sua validade,
conhecida esta tal como a existência exclusiva da norma, porém, fora do mundo do
ser (KELSEN, 2003, p. 9-10).
“Dever-ser” é o sentido subjetivo de todo ato de vontade através do qual um
indivíduo, intencionalmente, visa à conduta de outrem. Entretanto, quando este
“dever-ser” objetiva a satisfação de uma norma jurídica será o “dever-ser” uma
“norma válida”, pois, neste caso, está amparado pelo ordenamento positivo-jurídico
que lhe confere competência para tal (KELSEN, 2003, p. 9).
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efetuado entre pessoas “livres e iguais”, sem que seja necessário entrar no campo
do humano que se processam as frustrações, a fome, o desemprego ou qualquer
outro efeito das desigualdades do sistema (LUHMANN, 2010, p. 20).
Esse positivismo está na sociologia de Luhmann, metodologicamente
embasada na teoria de sistemas. Para Luhmann a sociedade é vista como um
sistema social, que tem no direito uma de suas estruturas fundamentais de redução
da complexidade (2010, p. 20-21).
Aliás, Luhmann percebeu na última fase do direito natural – como direito
racional – uma preparação da interpretação sociológica do direito através da
categoria do contrato, que substitui o homem concreto pela normatividade abstrata:
“O homem é abstraído como sujeito, e o contrato torna-se a categoria através da
qual a dimensão social da vida humana pode ser pensada como disponível e como
contingente em qualquer de suas configurações” (2010, p. 21), com o que qualquer
direito torna-se possível.
A conclusão feita a partir do traçado teórico de Kelsen encaminha-se no
sentido de que cabe ao jurista descrever e conhecer cientificamente os diversos
ramos do direito positivo como, por exemplo, o Direito Constitucional. Assim sendo,
e acompanhando a ordem purista Kelseniana, compete ao cientista do direito
descrever com isenção de valores o teor das normas constitucionais. Seguindo a
doutrina Kelseniana de que todas as normas, seja de sistematização seja de
conduta, produzidas pelo órgão competente e respaldadas pela norma fundamental
são válidas, não há preceito constitucional que não seja norma. Como a função do
jurista está em descrever as normas dadas e não em produzi-las (o jurista não cria
direito...), vai o constitucionalista conhecer objetivamente as normas constitucionais
(LUHMANN, 2010, p. 21-23)
Desta forma, começam a se delinear mais fortemente as dificuldades do
método positivista. Logo, o objeto de estudos do jurista se restringe, assim, às
normas visualizadas como a essência de um ato de vontade humano. As
prescrições constitucionais são todas elas normas positivas, de cunho estatal,
inclusive os direitos e garantias fundamentais, além dos princípios gerais e demais a
conservarem o texto constitucional. Em sendo normas positivas, deve o jurista
poder interpretá-las cognitiva e descritivamente sob a forma de proposições jurídicas
(LUHMANN, 2010, p. 23)
Utilizemos alguns dessas prerrogativas incluídas no texto da Carta Magna
Brasileira, o artigo 5º, parágrafo 1º, inciso LXXVIII, diz que “as normas definidoras
dos direitos e garantias fundamentais tem aplicação imediata”. Ou seja, defende a
Constituição princípios e objetivos fundamentais para o país tais como “a dignidade
da pessoa humana”, “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, reger-se pelo
princípio da “prevalência dos direitos humanos” nas relações internacionais
(BRASIL, 1988).
Note-se que ainda que, por serem normas constitucionais, estão no ápice da
hierarquia piramidal do ordenamento jurídico positivo e, portanto, fundamento de
validade das normas inferiores conformes com a criação jurídica do autor. Por que
não considerar tais direitos de cidadania como reflexos de um dever imposto a
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3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CLÈVE, Clèmerson Merlin. Estudos de Filosofia de Direito. São Paulo: RT, 1998.
KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
LUHMANN, Niklas. Introdução a Teoria dos Sistemas. Trad. Ana Cristina Arants
Nasser. 2ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
WARAT, Luiz Alberto. A ciência jurídica e seus dois maridos. Santa Cruz do
Sul: Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul, 1985.