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CATÓLICA DE SANTA CATARINA – JOINVILLE - SC

CURSO DE DIREITO
ANTROPOLOGIA JURÍDICA
PROF. JEISON GIOVANI HEILER
14 NOV. 2012

EVERSON DALL AGNOL

FICHA RESUMO/ANALÍTICA DE OBRA CIENTÍFICA

Santos, Boaventura de Sousa


A Crítica Da Razão Indolente: Contra o desperdício da experiência – Capítulo 2
Câmara Brasileira do Livro, SP – Brasil.

CAP 2 - PARA UMA CONCEPÇÃO PÓS-MODERNA DO DIREITO

Buscava-se em um primeiro momento, no Estado Pré-Estatal, um equilíbrio com o


intuito de manter a ordem da natureza e a ordem da sociedade. Ao direito foi atribuída a
tarefa de assegurar a ordem exigida pelo capitalismo, cujo desenvolvimento ocorrera em um
clima tenso, de caos social, que era, em parte, obra sua. O direito moderno passou, assim, a
constituir um racionalizador de segunda ordem da vida social, um substituto da cientifização
da sociedade, que só poderia ser fruto da própria ciência moderna. Para desempenhar essa
função, o direito moderno teve de se submeter à racionalidade cognitivo-instrumental da
ciência moderna e tornar-se ele próprio científico. A cientifização do direito moderno
envolveu também a sua estatização, já que a prevalência política da ordem sobre o caos foi
atribuída ao Estado moderno, pelo menos transitoriamente, enquanto a ciência e a tecnologia
não pudessem assegurar por si mesmas.
A análise das características originais da tensão entre regulação e emancipação no
direito moderno é realizada a partir de três momentos importantes: a recepção do direito
romano¹, o direito natural racionalista² e as teorias do contrato social³.
A recepção do direito romano
Tem origem histórica e foi determinante para a criação da tradição jurídica moderna
ocidental. A recepção do direito romano foi um extraordinário movimento intelectual que se
espalhou por toda a Europa a partir de Bolonha. O direito romano é o resultado de uma
convergência única de interesses econômicos e culturais. Essa convergência proporcionou o
aparecimento de um saber jurídico autônomo, humanista e laico que pôs a autoridade do
imperium romanum e o fascínio pelo ideal cultural romano ao serviço de um novo projeto
jurídico, político e social. O direito romano reuniu as duas formas de poder saber, e foi
provavelmente esse o segredo dos notáveis resultados que obteve. À medida que as
condições específicas da época se alteraram, as características do direito romano
responsáveis pela tensão entre regulação e emancipação também se transformaram,
tornando-se dispositivos através dos quais a emancipação foi absorvida pela regulação. O
direito romano foi transformado numa estrutura formal e hierarquizada de regras jurídicas,
que obedecia a um rígido sistema lógico. A combinação complexa de autoridade,
racionalidade e ética, característica do direito romano, foi assim alterada e reduzida a um
formalismo técnico-racional, supostamente neutro em relação à ética e apenas preocupado
com a perfeição técnica, a coerência lógica, a abrangência e previsibilidade totais.

O direito natural racionalista


É aquele que se compõe de princípios inerentes à própria essência humanas. É
constituído pelos princípios que servem de fundamento ao Direito Positivo. É constituído, não
por um conjunto de preceitos paralelos ao Direito positivo, mas pelos princípios fundamentais
do Direito Positivo. Os princípios que constituem o Direito Natural são entre outros: "o bem
deve ser feito", "não lesar a outrem", "dar a cada um o que é seu", "respeitar a personalidade
do próximo", "as leis da natureza", etc., revela ao legislador os princípios fundamentais de
proteção ao homem, que forçosamente deverão ser consagrados pela legislação, a fim de
que se tenha um ordenamento jurídico substancialmente justo o Direito Natural não é escrito,
não é criado pela sociedade, nem é formulado pelo Estado como o adjetivo natural indica, é
um direito espontâneo que se origina da própria natureza social do homem. Revela-se pela
conjugação da experiência e razão, é constituído por um conjunto de princípios, e não de
regras, seu caráter é universal, eterno e imutável e pertencem a todos os tempos, não são
elaborados pelos homens e emanam de uma vontade superior porque pertencem à própria
natureza humana; "o direito de reproduzir" "o direito de constituir família" "direito à vida e à
liberdade"... independe de ato de vontade por refletir exigências sociais de natureza humana,
comuns a todos os homens o direito natural não pode ser afetado por qualquer lei, pois, é um
conjunto de normas jurídicas promulgadas, isto é, oficializadas pela inteligência governante
de conformidade com o sistema ético de referência da coletividade em que vigora o Direito
Natural é o direito legítimo, que nasce, que tem raízes, que brota da própria vida, no seio do
povo.

As teorias do contrato social


Reconhece como origem uma convenção ou estipulação (contrato) entre seus
membros. O contratualismo, na modernidade, juntamente com o jusnaturalismo transforma-
se em poderoso instrumento de luta pela reivindicação dos direitos humanos. Assim, Hobbes
enunciava a fórmula básica do contrato: 'Transmito meu direito de governar-me a este
homem ou a esta assembleia, contanto que tu cedas o teu direito da mesma maneira'. Essa,
diz Hobbes, é a origem do grande Leviatã ou, com mais respeito, do Deus mortal a quem,
depois de Deus imortal, devemos nossa paz e defesa, pois por essa autoridade conferida
pelos indivíduos que o compõem, o Estado tem tanta força e poder que pode disciplinar à
vontade todos para a conquista da paz interna e para a ajuda mútua contra os inimigos
externos.

A modernidade político-jurídica e o capitalismo acontecem através do paradigma da


modernidade, que fica associado ao desenvolvimento do capitalismo que acontece em três
períodos. O primeiro, o período do capitalismo liberal; o segundo é o período do capitalismo
organizado e finalmente o terceiro, o do capitalismo desorganizado.
Reanalisar o direito é uma tarefa complexa porque implica uma desconstrução total e
uma reconstrução descontínua, mas não arbitrária. Além disso, o momento destrutivo do
processo tem de ser disciplinar, ao passo que o seu momento construtivo deve ser
indisciplinar: o processo equivale a uma nova síntese cultural. E nem todas as tarefas da
reavaliação podem ser levadas a um nível paradigmático da análise.
A obra, através da análise em três áreas, apresenta como o direito parece ser mais
importante e urgente: Estado nacional versus sistema mundial, Estado sociedade civil versus
sociedade política, e utopia jurídica versus pragmatismo utópico. Estes três tópicos foram
apresentados como dilemas porque foram percebidos como tal no início do século XIX. O
Estado constitucional considerava-se dotado pelo dualismo direito nacional/direito
internacional, o segundo dilema foi confrontado pelo dualismo direito privado/direito púbico, e
o terceiro dilema foi confrontado por um padrão de transformação normal baseado na infinita
disponibilidade ou manuseabilidade do direito.

Considerações finais:
O objetivo global da obra apresentada foi aprimorar o entendimento acerca da tensão
existente entre regulação e emancipação para o direito e para a política. A transformação da
ciência moderna na racionalidade hegemónica e na força produtiva fundamental, por um
lado, e a transformação do direito moderno num direito estatal científico, por outro, são as
duas faces do mesmo processo histórico, daí decorrendo as profundas equivalências entre a
ciência e o direito moderno. Tal como aconteceu com a ciência moderna, também o direito
perdeu de vista, neste processo, a tensão entre regulação e emancipação social,
originalmente inscrita no paradigma da modernidade. Há no texto uma proposta de
reavaliação radical do direito moderno, paralela à proposta de reavaliação radical da ciência
moderna.

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