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Introdução ao Estudo do direito

1º Semestre - 2022

Pedro Manuel Mezon Teles Couto

Uminho | Direito
I. ACEÇÕES DO TERMO DIREITO
Direito Objetivo: Conjunto de normas suscetíveis de serem aplicadas pela
força (coação) que regulam a vida da sociedade. Estas normas provêm de uma
autoridade que tem competência para as criar. É um direito corporizado em
normas jurídicas. Regula a ação individual.
Exemplo: “estudou direito em Coimbra.”

Direito Normativo: Referimo-nos às diferentes formas que o direito assume


enquanto realidade humana. É o direito enquanto imposição geral, sob forma
de uma norma ou um conjunto delas.
Exemplo: “o direito português é muito progressista.”

Direito Subjetivo: É o direito individual de cada um. Uma pessoa é titular do


direito e tem o poder de exigir ou pretender de outrem um certo comportamento
positivo (ação) ou negativo (omissão). No direito subjetivo existe sempre um
direito e um dever. O direito é o poder/faculdade de exigir/pretender, e o dever
é o comportamento positivo ou negativo.
Exemplo: “O direito do inquilino foi lesado”

Ciência do Direito: É a consideração do Direito como ciência (há́ quem diga


que o direito não é uma ciência, mas sim uma arte). É o estudo do Direito
enquanto área do saber nas suas múltiplas concretizações.
Exemplo: “estudo do direito”

O direito objetivo é aquele que impõem as normas criando assim um impacto


na vida dos cidadãos, impacto que pode ser medido através dos direitos
subjetivos. Podemos então dizer que o direito subjetivo vem do direito objetivo.
Assim sendo, vemos o direito objetivo como sendo o direito originário e o
subjetivo como sendo um direito metonímico. O direito objetivo cria uma
consequência jurídica que é “dar-me” um direito subjetivo. Para conseguirmos
exigir algo dos outros (exercer o nosso direito subjetivo) temos que invocar os
direitos objetivos. Normalmente, para fazer cumprir os nossos direitos
subjetivos temos que recorrer a um apoio de uma instância superior, no entanto

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existem direito subjetivos que são tão fortes que permitem que indivíduos
façam os seus direitos serem cumpridos sem necessidade de recorrer a algo
superior - são os direitos protestativos.

Exemplo: Eu tenho o direito à vida (direito objetivo),


logo se alguém me atacar eu posso ripostar.

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O LEGADO HISTÓRICO DO JUSPOSITIVISMO E
DO JUSNATURALISMO
Direito Positivo: Origina no homem, sendo um conjunto de leis e normas por
ele criado. Reconhece a existência fáctica do direito na sociedade em que
vivemos, produto da vontade humana, normas sociais de caráter obrigatório,
criado e aplicado por estruturas sociais de autoridade. O direito é positivado e
posto pelo homem.
“Dura led sed lex”

Direito Natural: A sua origem entra no domínio do divino, do mitológico e do


sociológico. Defende que existe um conjunto de valores/regras, não
voluntárias, que se aplicariam necessariamente à vida do homem em
sociedade. São as leis que se impõem de modo a organizar a sociedade, tendo
uma validade intrínseca. Não necessita este de concreta vigência ou
positivação, pois paira sobre as realidades jurídicas, inspirando-as, julgando-
as. É algo imanente ao Homem e às coisas da Natureza e não da razão.
“Lex iniustia non est lex”

Não se deve confundir Direito Natural com jusnaturalismo. O primeiro é


concebido pelos jusnaturalistas como uma realidade jurídica, por outro lado, o
jusnaturalismo é a interpretação ou a doutrina sobre o direito. O jusnaturalismo
foi a primeira corrente a surgir, aparecendo no século V a.C. Foi nesta filosofia
que o direito grego e romano se sustentou, cada um com a sua maneira de
interpretação. Independentemente da filosofia jusnaturalista a que nos
referimos, é sempre notória a presença de um direito ambivalente (direito
natural versus direito positivo) em que o direito positivo se positiva sempre no
direito natural. Deste modo, sabemos que para todos os jusnaturalistas
consideram que o direito tem uma componente da vontade humana, mas
também uma componente de direito natural. Assim sendo, o direito natural é de
caráter superpositivo, servindo de fundamento e de critica ao direito positivo. O
direito natural não tem origem voluntarista, mas impõe-se à vontade humana,
tendo validade intrínseca e não dependendo do efetivo cumprimento.

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Historicamente, existiram duas grandes correntes aglutinadoras do
pensamento jusnaturalista: o realismo clássico e o jusracionalismo.

Realismo Clássico: Ocorre a partir do século V a.C. e durante a Idade Média –


muito marcada pelas atitudes teocêntricas. Corresponde a um modo de
compreensão do direito em que não existe uma verdadeira separação entre
direito natural e direito positivo. Concebe-se o direito natural como direito
objetivo, com uma dimensão real. Procura o direito nas coisas e nas relações
axiologicamente corretas. O direito natural era visto como fundamente e
medida de uma ordem jurídica unitária que comporta essa dupla face. Ao
aplicar o direito, aplica-se de igual forma as duas conceções do direito, sendo
que os tribunais decidem aplicando o conjunto – sempre com o direito positivo
subjugado ao natural. Na corrente realista clássica, destacam-se Aristóteles, a
experiência jurídica romana e S. Tomás de Aquino.

Jusracionalismo: Ocorre na época do iluminismo, onde predominava uma


atitude antropocêntrica – acreditavam que era possível o homem encontrar a
racionalidade perfeita. O conceito de direito natural deixa de ser associado
aquilo que era defendido no realismo clássico e passa a ser visto como o
direito perfeito e ideal. Seríamos capazes de o imaginar, mas não era aplicado
nos tribunais. O jusracionalismo é um passo na direção de pensar de uma
outra forma – caminhava-se para o juspositivismo.

Juspositivismo: O jusracionalismo do século XVIII foi a porta de abertura à


rejeição do direito natural, e consequentemente, à aceitação do positivismo
jurídico. Apesar de já existir uma atitude jurídica, apenas no século XX a
expressão positivismo jurídico veio a ser vulgarizada. A origem da expressão
“positivismo” é bipartida:
 Aparece associada à identificação do estudo de direito estadual
 Aparece relacionada com o positivismo filosófico

Segundo o professor Castanheira Neves, uma característica comum a


todas as subcorrentes do juspositivismo é a sua atitude normativista perante o
direito. Uma outra característica dominante desta corrente é a rejeição do
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direito natural e da metafísica. As suas principais linhas de forca são: o
positivismo francês, o positivismo britânico e o positivismo alemão.

Positivismo Francês: Foi tributário das ideias jusracionalistas, de defesa de


um direito natural de caráter ideal. Nasce associado à revolução francesa de
1789 e à necessidade de legitimação do poder revolucionário. Para legitimar o
seu poder, os revolucionários recorreram a Rousseau, um autor francês do
iluminismo, que defendeu que o fundamento do direito é a vontade geral.

Os revolucionários queriam afirmar que o povo só́ obedece a si mesmo,


mas havia um problema: eles tinham que obedecer a leis. Para contornar a
situação apoiaram-se na teoria de Rousseau que defendia que as leis são o
resultado de uma vontade geral – distinguindo estas das vontades empíricas,
aquelas que dizem respeito a cada um. As leis são aprovadas pela assembleia,
constituída pelos representantes do povo. Ao ter a maioria da aprovação da
assembleia, as leis são perfeitas e expressam a verdadeira vontade do povo, a
vontade geral. Como a lei é a vontade geral, ao obedecer à lei, estão a
obedecer a si próprios. A vontade geral é assim um contrato social, que mais
do que a soma das vontades individuais, é uma vontade objetiva e racional.

Uma vez que as leis criadas eram consideradas perfeitas, acreditava-se


que estas iriam vigorar para sempre, olhando-se com desagrado para a
possível interpretação de uma lei. Estas eram tão perfeitas que eram quase
autoaplicáveis – “o juiz é a mera boca que pronuncia as palavras da lei”. Coma
revolução francesa aparece o primeiro código – código de Napoleão. O direito
positivo dos códigos era direito natural positivado e única fonte do direito.

Positivismo Britânico: É uma subcorrente com um pensamento diferente dos


outros, que é representada, principalmente, por Bentham e Austin. Reduziram
os princípios morais a uma ética utilitarista e estabeleceram uma rigorosa
separação entre moral (direito natural) e direito. Este não era vontade do povo,
mas sim a do soberano. Não exerciam as relações jurídicas como fruto de um
dever moral, exerciam-nas por medo da sanção.

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Positivismo Alemão: Para estes positivistas, o direito natural era visto pela
ótica do jusracionalismo. Savigny foi um autor com destaque nesta corrente,
tendo procurado olhar para o direito como algo que surge nas comunidades,
como algo que surge dos costumes de uma sociedade. O nascimento do direito
é explicado pela cultura de cada povo, em cada época histórica. O direito
positivo está ligado à cultura, vivências e experiências, sendo a expressão do
espírito de cada povo. É uma manifestação cultural da história de cada povo, e
por isso é limitado no tempo e no espaço.

Algo comum a todas as subcorrentes é o facto de direito ser igual a vontade.


 Positivismo Francês: vontade geral
 Positivismo Britânico: vontade do soberano
 Positivismo Alemão: vontade histórica

Mas se dizemos que o direito é a expressão da vontade de cada uma destas


entidades, estamos a “abrir a porta” das ciências jurídicas para outras áreas.

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O CONCEITO DE DIREITO NO SÉCULO XX
Kelsen e o Positivismo Formalista: No início do século XX, deu-se uma
renovação da filosofia jurídica, que procurou uma via de análise do direito
alternativa à oferecida por ciências várias, que procuravam explicar a realidade
jurídica sob prismas que implicavam a sua dissolução em objetos científicos
mais vastos.

Hans Kelsen foi uma figura de enorme destaque nesta renovação, e


recusou as teorias positivistas já́ existentes. Procurou, então, uma via de
análise do direito alternativa, pois considerou que este, enquanto ciência, devia
ter um objeto de estudo só́ seu. A “teoria pura” do Direito é, pois, uma real
démarche no sentido de purificar o Direito de todos os contaminantes externos,
isto é, todos os elementos sociológicos, morais, entre outros, que se colocavam
fora dos muros da juridicidade. O autor austríaco deseja manter fora da esfera
da ciência do Direito problema como o dos valores, por não serem a seu ver
redutíveis a uma explicação de logica formal, procurando deliberadamente
manter-se fiel às notas de abstração e historicidade.

A “teoria pura” do Direito só́ é possível graças a dois conceitos-base do


seu pensamento:
1. O de que a norma (qualquer norma) é sempre uma entidade lógico-
hipotética capaz de qualificar ou constituir juridicamente a experiência
social, não constituindo comandos ou imperativos, mas enunciados
lógicos que se situam no plano do dever ser;
2. O direito é, neste sentido, um sistema escalonado de normas, que se
apoiando umas nas outras, formam um todo coerente, em que cada uma
recebe a sua vigência/validade consoante a norma fundamental, que
suporta, em última instância, a integralidade do sistema

A ciência jurídica é uma ciência do dever ser na exata medida, em que


descreve normas que prevêem consequências, tendo por isso natureza
puramente normativa. Assim, a norma jurídica não traduz um comando ou
imperativo, mas é, antes, logicamente indicativa, no sentido de que liga a

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concorrência de um facto condicionante a uma consequência ou ação. De
forma distinta, a lei natural expressa uma relação de causa e efeito, que se
impõe inelutavelmente, enquanto a norma jurídica traduz um “dever ser”, que é
uma indicação de consequência. Lei natural é do domínio da causalidade. A
norma jurídica é do domínio da imputabilidade. Com efeito, a norma jurídica
atua determinado uma sanção para condutas que violem o juridicamente
devido.

Kelsen efetua uma distinção entre vigência (validade) e eficácia:


 A vigência diz respeito ao facto de a norma jurídica ser obrigatória
 A eficácia significa que os homens realmente acatam a norma

Só a vigência é uma qualidade do Direito, pois a eficácia relaciona-se


com o seu cumprimento social. A validade da norma jurídica não resulta da sua
correspondência aos factos sociais, nem ao valor do seu conteúdo, mas à sua
situação no interior do sistema, nem esquema gradativo que vai até à
Grundnorm. Ou seja, a validade da norma jurídica “age de conformidade com a
ordem de competências que decorre da Constituição vigente”. O normativismo
traduziu um esforço de recondução da esfera do Direito à razão teórica,
separando-o da realidade social.

A reação ao positivismo legalista resultou na formação de duas


correntes de pensamento empirista: Realismo americano e o Realismo
escandinavo. Em nada relacionados com o realismo clássico, são realismos
não porque acreditam em realidades metafisicas, mas porque partem dos
factos e da realidade social. Ambos partem da ideia da identificação entre facto
e norma, apenas admitindo regras de direito suscetíveis de verificação
empírica. A questão da validade do Direito é encarada na absoluta
dependência da sua eficácia. A norma válida é aquela que é efetivamente
aplicada pelas autoridades judiciais. Assume-se, por isso, uma posição critica
face ao pensamento de Kelsen, ao qual se censura a sua visão da ciência
jurídica como ciência normativa, já que toda a ciência deve construir-se como
meramente descritiva, deixando de ter sentido sequer equacionar o problema
da correlação entre ser e dever ser – exclusão do dever ser.
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No realismo escandinavo o objetivo da ciência do Direito é o de
determinar qual o Direito vigente. Para isso necessita-se de levar em conta
quais as normas que os tribunais provavelmente aplicarão. Assim, o realismo
escandinavo leva em consideração outras ciências como a sociologia e a
psicologia, revelando uma atitude de ceticismo face às normas jurídica. As
normas, utilizando a linguagem natural, estão sujeitas às mesmas
ambiguidades e deturpações próprias da linguagem comum. A importância das
normas será, pois, apenas ajudar a prever o que os juízes farão.

O realismo escandinavo carateriza-se pelo se empirismo extremo: entre


facto e norma existe uma continuidade. Só se reconhecem normas suscetíveis
de verificação empírica. A sua validade não é intrínseca, mas antes resulta
daquele mesmo juízo de probabilidade de aplicação pelos juízes, que a
sociedade realiza. Assim, a ciência do Direito deve limitar-se a estudar o Direito
que existe, deixando de lado o problema do dever ser.

Críticas: ciência das profecias; sociologia do Direito; necessidade de


reconhecimento de normas gerais

Hart é a figura mais importante na segunda metade do século XX, no


que diz respeito ao positivismo jurídico. É um autor com uma posição bastante
menos formal que Kelsen e, ao contrário deste, a sua teoria é construída de
baixo para cima – parte do modo como as pessoas agem. Hart ofereceu-nos
uma condensação do positivismo em três grandes teses, que viriam a ser
contestadas por Dworkin:
 O postulado da separação entre Direito e moral
 A defesa da existência de fontes sociais do Direito
 A existência de uma franja de discricionariedade judicial

As teorias positivistas criaram um modo alternativo (ao Jusnaturalismo e


à moral) de legitimação do Direito: a regra de reconhecimento. A regra de
reconhecimento trata-se de um expediente de legitimação meramente formal,
que assenta na ideia de que existe em cada sociedade uma regra que esta

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autoinstitui quanto às normas que devem considerar-se jurídicas e, enquanto
tais, vigentes. A questão da legitimação do direito, da sua criação, deixa de ser
assim um assunto que diga respeito ao seu conteúdo, para passar a residir
exclusivamente em aspetos formais e extrínsecos, como por exemplo a
proveniência da norma de certos órgãos ou a observância de certo
procedimento de criação. Rejeita-se a ideia jusnaturalista de que o Direito se
legitima pela correspondência do seu conteúdo a certos princípios morais em
vigor em cada sociedade. O reconhecimento de fontes sociais para o Direito é
a solução para a pergunta sobre a origem, sentido e conteúdo exato das
normas jurídicas vigentes em cada momento. Identifica-se o Direito com a
própria prática social que determinará quais as fontes válidas de produção do
Direito. Esta compreensão do Direito como conjunto de normas haveria de
conduzir à inevitável admissão da sua incapacidade para prever e regular todas
as situações jurídicas. Esta incompletude natural do sistema jurídico resolve-
se, nas teorias positivistas, pela adesão à tese da discricionariedade judicial.
Cabe ao juiz decidir, discricionariamente, o que fazer nos casos para os quais
não encontre norma aplicável.

A teoria tridimensional do Direito: No século XX, muitos tentaram


desenvolver uma visão do Direito que pudesse consistir numa separação da
dicotomia positivismo/Jusnaturalismo, recusando integrar-se em qualquer uma
destas correntes. Muitas destas novas propostas enquadraram-se na atitude
dita “funcionalista” perante o Direito. O funcionalismo jurídico reduz o Direito a
mero instrumento, no quadro de uma geral mudança de compreensão do ser,
que passa a ser apenas considerado numa perspetiva utilitária, instrumental e
consequencialista. Há três formas de funcionalismo:
 Funcionalismo social de tendência tecnológica restrita
 Funcionalismo económico
 Funcionalismo sistémico

De um modo geral, todos os funcionalismos propõem, sob diferentes


abordagens, a substituição do sentido do Direito pela eficácia e da validade
pela utilidade.

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A teoria tridimensional do Direito é uma proposta que teve acolhimento
em Portugal e teve como defensor Miguel Reale. Tendo a pessoa como valor
fonte, desenvolve-se uma conceção tridimensional do Direito como facto,
norma e valor:
 Hoje o Direito tem de ser percebido como facto ou fenómeno social,
como conjunto de hipóteses com consequências determinadas
 O Homem não deixa de sentir o Direito com a sua identificação à norma,
isto é, a um conjunto sistemático de regras obrigatórias
 O Homem possui ainda, em relação a estas normas, a expetativa da
realização através delas de certos padrões axiológicos

O Direito é tridimensional na medida em que se apresenta como elemento


normativo que disciplina comportamentos humanos, pressupondo uma situação
de facto e referido a valores determinados. Esta visão do Direito justifica
também que ela tenha de ser estudada numa tripla perspetiva:
 Como valor: mediante a filosofia do Direito (axiologia) e a política do
Direito
 Como norma: objeto das ciências jurídicas materiais e da filosofia do
Direito
 Como facto social: objeto da história do direito, da sociologia, da
antropologia jurídica e do Direito comparado

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II. O DIREITO E OUTRAS NORMATIVIDADES
SOCIAIS
Não é apenas o Direito que nos oferece uma experiência normativa.
Verificamos que também com o direito convivem na sociedade outras formas
de normatividade, tais como:
 Normas de trato social e cortesia – determinam a forma como nos
saudamos e resultam dos usos sociais em geral
 Normas religiosas – associadas a práticas religiosas concretas
adotadas por certos núcleos de cidadãos
 Normas de moral – instituem um conjunto de obrigações de conteúdo
ético aceites na sociedade, atendendo aos valores aí recebidos

A tentativa de compreensão do conceito de Direito tem sempre de contar


com a necessidade de explicitar as características específicas da norma
jurídica, em confronto com outras formas de normatividade social indicadas.

Nas sociedades ocidentais não existe uma combinação entre Direito e


religião. No entanto, é importante admitir que a mera presença social destas
restantes formas de vinculação dos cidadãos a um “dever ser”, não deixa de
representar um precioso auxílio para a eficácia do Direito, na medida em que
este faz uma indicação de conduta coincidente com a daquelas.

Num caso como o da criminalização do homicídio, este preceito jurídico


resulta reforçado na sua eficácia social, pela adesão espontânea dos membros
de uma sociedade que aceita simultaneamente como norma moral, e até
religiosa, a proibição de matar. O Direito necessita da moral para obter uma
mais perfeita adesão dos cidadãos às suas diretrizes, isto é, necessita ser
suportado pela consciência ética da comunidade. Também o inverso é
verdadeiro, ou seja, que a admissibilidade jurídica de certa prática social pode
ter um efeito sobre a sua aceitabilidade moral, jogando com uma perceção
social frequente, que pressupõe a existência de coincidência entre Direito e
moral. Nem tudo o que é lícito é honesto, mas isso não obsta à persistência de
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uma certa identificação social entre Direito e ética, em geral. Certos setores
sociais têm sido historicamente tentados a recorrer às normas jurídicas para
impor certos valores morais que não registavam suficiente acolhimento
espontâneo das populações (ex.: Lei seca nos EUA).

Práticas Sociais e Moralidade


Existe uma distinção clássica entre práticas sociais ditas normativas e
não normativas. Esta distinção assenta no facto de nem todos os usos sociais
serem percebidos como vinculativos pelos membros da sociedade. Todas as
sociedades assumem, com carácter de regularidade, certos usos sociais que,
fazendo parte da sua cultura, não são reconhecidos como tendo carácter
obrigatório, como, por exemplo, a forma de vestir, existência de hábitos sociais
relativos às rotinas diárias, entre outros.

Por outro lado, existem práticas sociais que têm um elevado destaque
por assumirem um carácter de obrigatoriedade social – de “dever ser” -,
existindo uma pressão social com vista ao seu cumprimento e, em
consequência, um juízo de reprovação em caso de violação: os usos sociais
vinculativos (regras de trato social; normas morais propriamente ditas).

O segundo grupo de normas sociais apresenta uma inegável


semelhança com as normas jurídicas, quer pela sua natureza impositiva, quer
pela existência de uma certa forma de coação, em que vem a consistir o juízo
de reprovação social. Os traços que permitem distinguir as práticas sociais
normativas e normas jurídicas são:
 Caráter institucional da coação própria da norma jurídica
 Segurança jurídica e certeza oferecidas pela sistematização das normas
jurídicas
 Aplicação judicial pelo recurso à figura do juiz no caso de violação da
norma jurídica

Mesmo no seio das normas morais, houve ainda quem identificasse três
tipos de regras éticas, de acordo com a sua fonte:

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 Moral individual: cada um forma para si próprio, a partir da ideia de bem
aceite, numa configuração pessoal
 Moral religiosa ou filosófica: assenta sobre uma crença partilhada por
um dado grupo social em certa religião, ou filosofia, e cujo código ético
se aceita voluntariamente
 Moral social ou positiva: corresponde às exigências éticas de certa
sociedade, num dado momento, traduzíveis pelos usos ou práticas
sociais aí aceites, com caráter vinculativo

Os autores destacam a existência de uma intercomunicação entres estes


distintos níveis de moralidade, sendo o mais significativo, em última instância, o
relativo à moral individual.

Aquando da distinção entre direito e moral, a análise levada a cabo pela Escola
do Direito Natural, sendo ela a primeira referência doutrinal, faz surgir a norma
com a sua génese assenta na ideia de contrato e na vontade individual.

A primeira doutrina sobre os critérios distintivos das normas jurídicas e morais


foi elaboradas por Thomasius. Este autor estabeleceu a distinção sobre o
critério da exterioridade vs. interioridade e também da coercibilidade vs.
incoercibilidade.

Exterioridade – esfera do Direito


A ação do homem desenrola-se no plano externo/social, de interação com os
outros. O homem está sujeito à sindicância dos seus comportamentos, perante
uma autoridade social externa

Interioridade – esfera da Moral


A ação do homem desenrola-se no plano interno, da consciência. Apenas o
homem pode atuar como juiz da bondade dos seus pensamentos

Coercibilidade
Sendo a esfera do Direito, o plano da exteriorização dos nossos
comportamentos é possível notar que as autoridades sociais competentes
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possam atuar para exigir a conformidade das nossas ações aos ditames da das
normas jurídica

Incoercibilidade
Sendo a esfera da moral o plano da interiorização, esta afigura-se incoercível,
já́ que atua na consciência, que é insondável. Se o cumprimento da norma
moral for extorquido pela força, deixa de poder ser visto como um ato moral

O contributo de Kant foi ter acrescentado uma outra característica que permite
realizar a distinção: autonomia da moral vs. heteronímia do Direito.

Autonomia da Moral: Pertence à moral no sentido em que exige a


conformação do individuo com a regra moral, por imperativo categórico,
autonomamente reconhecido e imposto

Heteronímia do Direito: O Direito é heterónomo, na medida em que a


adequação ao sentido da norma assenta, pura e formalmente, sobre a conduta
do individuo, independentemente de esta ser motivada por interesse

Crítica das noções de exterioridade e coatividade associadas ao direito


Na perspetiva de Kant, as noções de exterioridade e coatividade
associadas ao Direito são passiveis de critica, dado que nem sempre ao Direito
basta a conformidade extrínseca, tal como nem sempre o Direito apenas
atende aos problemas relativos à exteriorização de comportamento.

Exemplo: interpretação dos contratos; distinção entre dolo e erro na


formação de vontade; a questão da intenção do agente na prática do crime.

A proposta de Miguel Reale: a bilateralidade atributiva


Mais recentemente, a estas características distintivas de normas morais e
jurídicas, Miguel Reale adicionou a bilateralidade atributiva, que pressupõe a
alteridade e uma relação jurídica na qual se atribuem direitos e deveres, em
certa proporção, objetivamente estabelecida. Os seus elementos são:

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 A objetividade do valor que instaura
 A bilateralidade ou alteridade
 A atributividade
 A garantia de exigibilidade

“Há́ bilateralidade atributiva quando duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma
proporção objetiva que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente algo”

A teoria do mínimo ético. Intersecções entre normas jurídicas e normas


morais
Foram referidas as diferenças entre as normas jurídicas e morais. No
entanto, não deixam de existir semelhanças que são, para alguns, irrelevantes.
Porém, para os restantes, são necessárias na medida em que o Direito seria o
mínimo da moralidade necessário tornar obrigatório de modo a assegurar a
sobrevivência do homem em sociedade.

De acordo com a teoria do mínimo ético, defendida por José Dias


Ferreira no século XX, o Direito é o mínimo de moralidade que é necessário
tornar obrigatório para assegurar a sobrevivência do Homem em sociedade.
Assim, tudo aquilo que é jurídico é moral, mas nem tudo o que é moral é
jurídico: o Direito vinha, por esta via, a coincidir com um núcleo duro da moral e
um mínimo de exigência ética. Esta teoria não colhe, na exata medida em que
encontramos no Direito normas que são neutras do ponto de vista ético (ex.:
normas técnicas) e até normas contrárias às exigências éticas, em obediência
a outras finalidades que o Direito também visa. (exemplo: regimes de
prescrição, estabelecidos em homenagem à segurança e certeza jurídica).

De acordoMoral
com a teoria do mínimo ético, defendida por José Dias Ferreira, ao
invés da realidade:

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A ética no direito: a axiologia jurídica. Conceitos de valor, Princípio,
Norma e Fim
A axiologia jurídica corresponde ao estudo dos valores efetivamente
presentes no Direito. Permite-nos realizar uma mais correta interpretação das
normas e, consequentemente, uma mais perfeita aplicação do Direito. A
categoria princípio não se pode confundir com a de norma (que é determinada
face a este, e não o contrário), nem com a de valor.
Um princípio é um padrão que deverá ser observado, não porque
favoreça ou assegure uma situação económica, política ou social que se
considere desejável, mas porque é uma exigência da justiça, da equidade ou
de alguma outra dimensão da moralidade. Os princípios não são a justiça ou
equidade, mas algo que decorre destas entidades, da esfera ética. Os
princípios representam mandatos de otimização, enquanto as normas
representam mandatos de determinação. As normas distinguem-se dos
princípios porque contém uma instrução, preceito ou imposição imediatamente
vinculantes, enquanto os princípios não são imediatamente aplicáveis, sem a
mediação do legislador ou juiz. Os princípios precedem e determinam as
normas e é dos valores que derivam os princípios.
Resumindo, os princípios precedem e determinam as normas, e é dos
valores que derivam os princípios. O conceito de fim, suscetível de alguma
confusão, distingue-se por constituir um valor racionalmente reconhecido como
motivo de conduta.

Direito Direito Moral

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III. AS FINALIDADES DO DIREITO
Existe uma clara relação entres as diferentes conceções filosóficas sobre o
Direito e o reconhecimento, ou não, da sua vinculação a certas finalidades. O
jusnaturalismo mostrou-se, desde o início, mais recetivo a esta vinculação, pelo
espaço que concedeu ao conceito de valor no contexto jurídico, tendo por isso
adotado uma abordagem finalista ao Direito, com especial destaque para a
ideia da realização da Justiça. Por outro lado, o juspositivismo parece, nas
atuais reformulações, mais apto para criar as condições para um entendimento
do Direito alheio à ideia de finalidade e mais próximo da ideia de função.

Castanheira Neves adota uma conceção do Direito alinhada com a ideia de


que o Direito é uma ordem com sentido e que esse sentido do Direito lhe é
dado pelas “intenções axiológicas” a cumprir. Ou seja, uma ideia de que o
Direito resulta de uma escolha humana realizada tendo em vista que se
cumpram certas e determinadas expetativas.

O conjunto de características sobre as normas jurídicas, ainda que


explique a sua forma de atuação, não é um veículo adequado para proceder à
sua fundamentação, só acontecendo com uma conceção finalista do direito.
Um dos problemas mais levantados acerca das conceções finalistas tem a ver
com o caráter objetivo ou subjetivo das finalidades atribuídas ao Direito: os
céticos dirão que estas são sempre variáveis e de acordo com as
personalidades dos diferentes sujeitos do direito. A finalidade do Direito
pressupõe a ideia de que o Direito existe sempre em contexto social, logo é a
expetativa do todo social sobre o Direito aquela que importa e não a que
corresponde ao interesse de cada um.

Os fins associados ao Direito:


 Justiça

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 Ordem e paz social
 Segurança jurídica
 Bem comum
 A liberdade e a igualdade

Justiça
É a mais tradicional das finalidades associadas ao Direito, presente já na
filosofia grega, significando, segundo Ulpianus, a perpétua e constante vontade
de atribuir a cada um o que é seu. Um dos problemas gerais que pode suscitar-
se tem a ver com a coexistência destes valores, por exemplo, a segurança
jurídica pode parecer obrigar ao cumprimento da lei injusta. Prefere-se uma
noção de justiça em que esta pode entender-se como síntese das exigências
de igualdade, liberdade, segurança e legitimidade. Exige-se a necessidade de
que se pense a justiça em termos substanciais, em permanente esforço de
aperfeiçoamento, mas como objetivo constante e intrínseco à própria ideia de
Direito.

Ordem e paz social


O Direito institui uma ordem na nossa vida social e oferece critérios de
revolução de conflitos e recomposição da paz social. Até mesmo o Direito
injusto pode criar ordem e paz social. A existência de paz social encontra-se
associada à própria segurança jurídica que constitui uma sua condição.

Segurança Jurídica
Por segurança entende-se o desenvolvimento de uma vida normal
individual e coletiva. A segurança jurídica opera em dois planos: Externo e
Interno. O primeiro regula o exercício do poder. O segundo vem identificado
com o estabelecimento de regras e mecanismos que dentro do ordenamento
jurídico permitem conhecê-lo e ter certeza quanto à sua atuação

O simples facto de existir um ordenamento jurídico assegura aos


cidadãos a segurança externa, independentemente do seu conteúdo, mas um
sistema que se estabeleça à margem da justiça não se mostrará como ordem

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justa de convivência, mas antes como resultado da força. O valor da segurança
interna, por seu turno, depende não só da possibilidade de conhecer com
certeza o direito, mas também de certa confiança na maneira como ele irá ser
aplicado. Daqui derivam exigências relativas à publicidade das normas, à sua
clareza, à própria irretroatividade que mais tarde se analisarão.

Bem comum
As contínuas reformulações das exigências sociais impuseram a sua
substituição pelas expressões “interesse público”, interesse geral ou de
“consenso”. Mesmo aceitando que o justo é a realização do bem comum,
várias posições defendem coisas distintas. Reale afirma que estas posições
podem ser:
 Individualistas - identifica a ordem social justa com aquela que satisfaz o
interesse de cada indivíduo, tendendo estes a harmonizar-se
espontaneamente na sociedade
 Transpersonalistas - consideram o bem do todo uma condição
imprescindível para a felicidade individual, propugnando por isso a
preponderância dos valores coletivos
 Personalista - argumentando que existe uma permanente tensão entre
individual e social, de modo que um permanente esforço de
harmonização seja constantemente necessário

Liberdade e igualdade
A liberdade e a igualdade estão ligadas á própria ideia de justiça. A
liberdade justifica a existência de um conjunto de direito individuais básicos. A
igualdade trata do seu reconhecimento nos seus amplos termos. Existem dois
planos de igualdade:
 Igualdade formal: enquanto simples generalização, isto é, como
igualdade de todos perante a lei e os procedimentos
 Igualdade material: nascida dos obstáculos reais à concretização dos
objetivos da igualdade formal. Trata-se de uma existência de tratamento
desigual para corrigir as desigualdades substanciais, segundo um
princípio de proporcionalidade

20
Hoje há pelo menos, refletido nos diferentes Direitos ocidentais, um tríplice
entendimento da liberdade:
 Liberdade como autonomia na esfera jurídica para atuar sem
interferência alheia
 Liberdade como participação na vida política
 Liberdade como prestação a exigir do Estado

IV. O CONCEITO DE SISTEMA JURÍDICO E


OUTROS CONCEITOS AFINS
A ideia de sistema
O desenvolvimento de uma compreensão do Direito por meio de uma
ideia de sistema deve-se ao Iluminismo, uma vez que este tentou reduzir o
Direito a um sistema de leis (naturais e positivas), fechado e estático. Esta ideia
interiorizou-se de tal forma na mente dos juristas que hoje a expressão
“sistema jurídico” é sinonima de “direito positivo”. A teoria pura do assenta na
ideia de sistema. A ideia de sistema é incontornável já que se encontra
presente em múltiplas dimensões da problemática jurídica:
 Para orientar a interpretação
 Para resolver os problemas das “lacunas”
 Para explicar a relação em que o subsistema social do Direito se
encontra em relação com outros subsistemas sociais

A dogmática tem também focado a sua atenção no conceito de ordenamento


jurídico, enquanto “pluralidade normativa como unidade complexa”, tendo isto
trazido algumas distinções terminológicas:
 Ordenamento jurídico: conjunto de normas, como texto em bruto criado
pelo legislador
 Sistema jurídico: construção efetuada pela dogmática jurídica a partir
do ordenamento jurídico. Produto da atividade da dogmática jurídica que
mais do que descrever, reelabora o ordenamento jurídico. Tem um
caráter dinâmico, onde entram e saem normas.

21
A entrada e saída de normas do sistema jurídico, dá origem a uma outra
precisão terminológica, onde se prefere o termo sistema jurídico para designar
um certo conjunto de normas determinadas segundo certas coordenadas
espácio-temporais, e, reservando o termo ordem jurídica para identificar uma
sequência de sistemas jurídicos.

As características do direito como sistema na proposta positivista de


Nino
Santiago Nino procurou condensar os traços distintivos do sistema
jurídico. Seriam eles: a normatividade, a coatividade e a institucionalização.

Normatividade
Não é uma característica exclusiva do sistema jurídico, uma vez que
coexistem com este, outros sistemas normativos, como a moral e a ética. O
sistema compõe-se de um conjunto de enunciados (normas) de onde podemos
deduzir a existência de certas consequências normativas (permissão ou
proibição de certos comportamentos) associada à verificação de determinadas
ocorrências ou factos. As normas são os átomos do sistema jurídico, mas nem
só de normas se compõe os sistemas jurídicos, os quais também
compreendem enunciados com outro género de conteúdo, por exemplo,
definições de conceitos.

Coatividade
Nos sistemas jurídicos encontramos a possibilidade de estabelecer uma
garantia coativa de cumprimento de normas jurídicas, que assenta sobre um
conjunto de regras cujo propósito não é senão o de disciplinar o uso da força
de autoridade pública. A coação foi uma das notas distintivas da norma jurídica
face a outras normatividades sociais, designadamente a moral.

Institucionalização
Há quem entenda que ainda assim as características anteriores não são
suficientes para estabelecer uma linha clara de fronteira entre sistemas
jurídicos e sistemas de natureza religiosa ou moral. Esta linha só ficaria nítida
22
pela existência, no sistema, de um conjunto de normas que permitam não só
reconhecer quais as regras válidas que pertencem ao sistema, mas também as
entidades a quem se reconhece socialmente autoridade para criar, modificar e
extinguir as regras do sistema, e bem assim proceder à sua aplicação. A
existência destas normas dentro do sistema jurídico é o que o torna um sistema
institucionalizado.

Ordenamento Jurídico. Algumas notas caracterizadoras


Existem, dentro da doutrina do positivismo, algumas notas
caracterizadoras do ordenamento jurídico, tais como, a unidade, a coerência e
plenitude, a independência e a estabilidade.

Unidade
Muito embora os ordenamentos jurídicos sejam compostos por uma
multiplicidade de elementos, é necessário que esse conjunto se apresente
como uma unidade. Isto depende obviamente das relações entre as normas
jurídicas, devendo estas ser estruturadas segundo critérios que permitam a sua
plena articulação. O ordenamento jurídico identificar-se-á́ como um complexo
de normas uno, situado em certo momento histórico e com referência a
determinado território.

Coerência
A coerência é entendida como ausência de contradições entre normas
possuidoras do mesmo âmbito de validade. A probabilidade de encontrarmos
dentro do ordenamento jurídico normas cujo sentido seja contraditório é uma
realidade incontornável. As oportunidades para o surgimento de contradições
são demasiado frequentes, uma vez que são criadas por diferentes órgãos e
vários indivíduos – quando duas normas se anulam uma à outra, entramos
numa anomia.
A coerência do ordenamento jurídico terá de ser encontrada por
mecanismos próprios que permitam resolver as eventuais antinomias,
nomeadamente, a hierarquia, a cronologia e a especialidade.

23
A hierarquia trata-se de estabelecer uma hierarquia normativa entre
diferentes categorias de atos provenientes de distintos órgãos dotados de
poder normativo, implicando a imposição do respeito das normas de grau
hierárquico inferior face àquelas de grau superior. Uma eventual contradição se
resolve considerando inválido o ato normativo inferior.
Perante atos normativos do mesmo grau hierárquico com sentidos
contraditórios, o ordenamento jurídico estabelece a prevalência da norma nova
sobre a antiga, que se considera revogada (art.º 7 do Código Civil – tempo) –
cronologia.
Artigo 7º.
(Cessação da vigência da lei)
1. Quando se não destine a ter vigência temporária, a lei só deixa de
vigorar se for revogada por outra lei.
2. A revogação pode resultar de declaração expressa, da incompatibilidade
entre as novas disposições e as regras precedentes ou da circunstância
de a nova lei regular toda a matéria da lei anterior.
3. A lei geral não revoga a lei especial, exceto se outra for a intenção
inequívoca do legislador.
4. A revogação da lei revogatória não importa o renascimento da lei que
esta revogara.

Além disso, nem sempre a existência de contradições no disposto em


diferentes normas se traduz numa antinomia. Tais contradições são meramente
aparentes e resultam da necessidade de recorrer a normas que se coordenam
entre si segundo uma relação de especialidade. Tendo regulado em
determinado sentido certa matéria jurídica, o legislador sente imperioso
adequar o regime regra estabelecido naquelas normas gerais à feição e
particularidades que lhe são suscitadas por certo núcleo de situações aí
compreendidas. Neste sentido, surge uma norma especial que prevalece sobre
a norma geral na sua aplicação (art.º 7o/3. do Código Civil), em relação à qual
representa mais do que um simples desvio, uma verdadeira contradição –
especialidade.

Plenitude
24
A plenitude relaciona-se com a certeza e segurança jurídica que o
Direito deve garantir. Afirmar que o ordenamento jurídico pleno implica que
nele se contenham normas que se apliquem a qualquer caso concreto que
necessite de uma solução jurídica, excluindo qualquer hipótese de vazio ou
lacuna. Porém, é impossível o legislador criar normas aplicáveis a todo e
qualquer caso que justamente solicitasse o Direito. A plenitude do ordenamento
jurídico não haverá de ser fruto da inexistência de lacunas, mas antes assenta
sobre a existência de soluções que permitam encontrar uma resposta
normativa para aquelas, dentro e fora dos limites do ordenamento jurídico.
Essa solução vem sendo encontrada por diversas vias:
 Importa afastar tanto quanto possível as falsas lacunas, aplicando
corretando o Direito, através da confirmação da inexistência de normas
gerais que se apliquem na ausência de norma especial e do recurso à
interpretação extensiva, que permita ainda alargar o campo de aplicação
de uma determinada norma para poder subsumir-lhe o caso em questão
 No limite, se de todo for impossível encontrar uma norma que se
aplique, então recorre-se à analogia (este mecanismo de integração de
lacunas encontra-se regulado no artigo 10.o do Código Civil)

Artigo 10º.
(Integração das lacunas da lei)
1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma
aplicável aos casos análogos.
2. Há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões
justificativas da regulamentação do caso previsto na lei.
3. Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o
próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do
sistema.

A analogia assenta um raciocínio comparativo que permite ao intérprete,


num primeiro momento, aplicar uma norma do ordenamento jurídico que regule
matéria semelhante, e subsidiariamente, se tal não for possível, criar uma
norma ad hoc à luz dos princípios gerais do sistema jurídico.

25
Independência
A independência traduz a ideia de que o ordenamento jurídico não
poderá estar submetido a outros ordenamentos de nível superior, estando por
isso intrinsecamente ligado à noção de soberania. Cada ordenamento jurídico
vê-se confrontado com a necessidade de regular situações que possuem
conexões relevantes com distintos ordenamentos além de si próprio. Vê-se
também confrontado com a necessidade de encontrar soluções para problemas
cuja natureza e dimensão imponham uma disciplina regulada por acordo entre
os diversos ordenamentos jurídicos (ex.: Direito Internacional Público e o
Direito Internacional Privado).
Estabilidade
A estabilidade resulta da prossecução da segurança e certeza jurídicas
que se espera do Direito e, portanto, do assegurar de uma justiça efetiva. Tem-
se verificado uma tendência crescente para uma multiplicação imparável de leis
e regulamentos, cujos efeito tem sido avassalador. A lei de outrora era uma
tentativa de definição em abstrato de uma ordem de justiça e estabilidade,
onde possibilitava ao cidadão conformar a sua ação com liberdade e
responsabilidade, suportando o compromisso de conhecimento de Direito
(entre nós, estabelecido no artigo 6o do Código Civil), apesar de tudo assumido
como exigência razoável. A lei hoje é sobretudo lei-medida. É uma tentativa de
solução e reação face a problemas concretos, que por isso se multiplica e
muda a cada instante. O ónus de conhecimento da lei acaba convertendo-se
numa imposição cínica para o cidadão, em lugar de serem sinónimo de rede de
proteção. Impõe-se que se reafirme a estabilidade como característica
imprescindível dos ordenamentos jurídicos. Esta estabilidade terá de ser
assegurada através de uma estrutura sólida de princípios gerais de Direito,
com assento constitucional.

Artigo 6.º
(Ignorância ou má interpretação da lei)
A ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu cumprimento
nem isenta as pessoas das sanções nela estabelecidas.

26
V. PRINCÍPIOS E NORMAS. TEORIA DA NORMA
JURÍDICA

PRINCÍPIOS E NORMAS. TIPOS DE PRINCÍPIOS


Existem outras entidades no Direito para além das normas, como, os
princípios. Vários autores se têm referido à existência de princípios de Direito,
ainda que com algumas variações.

Castanheira Neves distingue três categorias de princípios:


 Princípios positivos - expressão historicamente determinada de
intenções políticas, sociais, éticas, dominantes na sociedade em certo
momento
 Princípios transpositivos - consistem nos princípios normativo-jurídicos
fundamentais que sobreviveriam às mudanças históricas, convertendo-
se em adquiridos irrenunciáveis da própria ideia de Direito (ex.: princípio
da legalidade; princípio do controlo jurisdicional; princípio do
contraditório)
 Princípios suprapositivos - princípios reconduzíveis à própria unidade e
sentido do Direito, que hoje tem a pessoa e a sua dignidade como valor
fonte

Paulo Ferreira da Cunha divide os princípios em quatro diferentes categorias:


27
 Princípios fundamentais ou primeiros princípios - derivados da ideia de
Direito em si mesma
 Princípios civilizacionais ou históricos – menos gerais do que os
anteriores, mas com elevado grau de generalidade, compreende os que
são estruturantes de cada família de Direito
 Princípios do ordenamento jurídico em geral – característicos de cada
Direito, traduzindo-se nos elementos estruturantes e modeladores
 Princípios jurídicos – próprios de instituições jurídicas, que
correspondem a vetores aglutinadores das ideias centrais que presidem
ao desenho dos distintos intuitos jurídicos

DO CONCEITO DE NORMA E SUA ESTRUTURA LÓGICA


A norma tem uma dimensão linguística, dado que toda a norma é uma
preposição normativa. De um modo geral, a norma transmite uma ordem para
adotarmos, ou nos abstermos de certa conduta. A norma realiza a função de
enunciar condutas devidas e enunciar interesses que devam prevalecer.

Estrutura lógica da norma


A estrutura lógica da norma é traduzível pelo seguinte esquema: “Se é
X, deve ser Y”. Cada norma faz depender da ocorrência de certo facto (X), a
produção de determinada consequência que prevê (Y). Em cada norma
encontramos uma condição ou pressuposto fáctico cuja verificação determina a
produção das consequências jurídicas previstas. Esta relação entre
pressuposto fático e consequência jurídica não é de causa e efeito – como as
leis naturais. A consequência prevista pelo Direito pode não chegar a verificar-
se em virtude de um conjunto de vicissitudes, naturais ou resultantes da própria
ação humana. Para a hipótese de a norma não ser cumprida, o Direito prevê a
existência de sanções: “Se é X, deve ser Y. Se não for Y, deve ser W”. O
mesmo é dizer que se não se produzir a consequência prevista, deve aplicar-se
a sanção que a norma estabelece. Seguindo esta perspetiva, a estrutura da
norma corresponde desta forma:

28
 Previsão, hipótese ou facti species: Constitui a descrição da situação
de facto carecida de regulamentação jurídica, formulada de modo
hipotético. Pode consistir num acontecimento puramente natural no qual
se pretende atribuir consequências jurídicas ou pode tratar-se de uma
ação/comportamento humano
 Estatuição: Conduta estabelecida a ser observada a seguir à previsão,
que pode ser de facere ou de non facere
 Sanção: Parte da norma na qual se estabelece a cominação que recai
sobre a prática violadora da estatuição. Ou seja, a consequência jurídica
que decorre da verificação da violação

O autor Bobbio sugeriu uma noção de sanção mais ampla que


englobaria as consequências agradáveis ou desagradáveis que o sistema
jurídico atribui à observância ou inobservância das suas normas.
 Sanções positivas: Situações de concessão de isenções ou benefícios
fiscais a quem adote certo tipo de comportamento (ex.: uso de energias
renováveis)

Outra distinção doutrinal importante é a que divide as sanções negativas em


retributivas e reparadoras.
 Sanções retributivas – consistem numa penalidade para quem viola uma
norma jurídica (exemplo: execução específica)
 Sanções reparadoras – abarcam todas as que visam compensar,
atenuar ou anular os efeitos da violação (exemplo: indemnização)

Não é pacifica a inclusão da sanção como elemento estrutural das normas


jurídicas. Por esta razão, a coação é um elemento essencial ao Direito.

CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA


Imperatividade
A norma é um comando de conduta, ou seja, é impositiva - impõe um certo
comportamento. Uma vez que se aplique a norma, a estatuição impõe-se
incondicionalmente, categoricamente.

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Violabilidade
A norma jurídica não enuncia uma regra com o mesmo caráter necessário das
leis da física. Num pressuposto de liberdade, podemos sempre violar a norma,
ficando sujeitos à sanção aí estipulada, sem que daí advenha a sua perda de
validade.

Coercibilidade
Enquanto possibilidade da norma se impor pela coação.

Generalidade
Não tem um específico destinatário, mas uma pluralidade de destinatários. As
normas jurídicas dirigem- se, indiscriminadamente, a todos os sujeitos que
possam encontrar-se na situação hipotética descrita.

Abstração
Não visa uma situação concreta, mas um número indeterminável de situações.
A norma jurídica não se refere a uma determinada e especifica ação ou
comportamento, mas a uma categoria ou tipo de ação e comportamento.
Podemos afirmar que o comando jurídico contido na sentença judicial é
individual e concreto, enquanto o da norma é geral e abstrato.

CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS


Na análise de normas jurídicas, Von Wright estabeleceu uma divisão em:
 Normas imperativas ou injuntivas – prescrevem condutas que os
destinatários não podem iludir, podendo ter conteúdo positivo
(percetivas) ou negativo (proibitivas) – exemplo: artigo 126o do Código
Civil
 Normas permissivas ou facultativas – normas dispositivas, de
autorização ou concessivas, que conferem faculdade ou poder; limitam
negativamente as nossas ações (estipulam proibições – non facere) mas
impõe-nos obrigações de caráter positivo (normas permissivas, que
facultam poderes de facere ou non facere)

30
 Normas supletivas – coordenam com a autonomia privada ou liberdade
negocial; suprem a falta de previsão ou manifestação de vontade das
partes sobre questões negociais carecidas de regulamentação jurídica.
Estas normas são particularmente importantes no domínio do Direito
Privado – ex.: artigo 1039o do Código Civil. Na elaboração de normas
supletivas, a fonte de inspiração do legislador é a vontade normalmente
revelada pelas parte nos negócios jurídicos, mas que correspondem a
um modelo jurídico de gestão prudente e de justiça presentes na
comunidade.

Normas interpretativas
São normas que visam explicitar o sentido de outras normas ou de expressões
usadas nos negócios jurídicos – exemplo de normas interpretativas da lei: art.º
1.o/2.; 349.o; 363.o; 874.o; 1022.o do Código Civil. Exemplo de normas
interpretativas de negócio jurídico: artigo 2262o e 2263o do Código Civil. Estas
normas, têm destinatários particulares, os interpretes do direito, e
desempenham uma função instrumental no ordenamento jurídico - dão-nos
ferramentas para melhor interpretarmos outras normas). Há quem defenda que
estar normas não são na realidade normas jurídicas pois não são
acompanhadas de uma sanção.

 Normas diretas – visam a revolução de problemas da vida social


 Normas indiretas – têm por destinatário os órgãos de aplicação do
direito, indicando-lhes os termos em que devem solucionar as questões
puramente jurídicas - exemplo: artigo 9o (interpretação); artigo 10o
(integração); artigo 14o (direito internacional privado).

 Normas autónomas – prescrevem por inteiro e de forma completa as


condutas devidas
 Normas não autónomas – dizem respeito às normas jurídicas que
fazem remissão/referência a outra norma, que a completa

31
 Normais universais – normas cujo campo de aplicação coincide com o
território nacional
 Normas regionais – normas que se aplicam no território de certa região
(Portugal Continental, Madeira ou Açores)
 Normais locais – normas cujo campo de aplicação se restringe a uma
parcela do território nacional – autarquias locais (exemplo: posturas
municipais)

 Normas gerais – normas que dentro de uma área do Direito fixam o


regime-regra, refletindo assim os princípios fundamentais que o
informam (exemplo: artigo 219o - liberdade contratual; artigo 405o -
princípio da liberdade contratual).
 Normas excecionais – normas que se aplicam a situações excecionais
que resultam em soluções que contrariam as que resultam do regime-
regra. A aplicação de uma norma excecional significa que o legislador a
aplicou perante uma situação específica. O uso desta norma não se
pode tornar frequente de modo a regular outras situações. Quando
estamos perante uma situação em que é possível a aplicação de uma
norma excecional e de uma norma especial, o legislador deve preferir a
aplicação da norma especial (exemplo: artigo 11o)

 Norma especial – normas que não contrariam o regime regra, mas


instituem particularidades em relação a ele. São situações que
necessitam de ser interpretadas de modo autónomo, no entanto estão
dentro do regime regra. (exemplo: artigo 874o - regime regra; artigo
877o - regras especiais)

Normas mais que perfeitas, perfeitas, menos que perfeitas e imperfeitas


 Normais mais que perfeitas (leges plus quam perfectae) - normas que
determinam a invalidade do ato violador e ainda aplicam uma pena ao
agente (exemplo: art.º 282o e 284o - negócio usurário)

32
 Normas perfeitas (leges perfectae) - normas que determinam apenas a
invalidade do ato violador (ex.: artigo 125o Código Civil – celebração de
negócio jurídico pelo incapaz)
 Normas menos que perfeitas (leges minus quam perfectae) – normas
que prevêem apenas uma sanção para o agente, deixando que o ato
violador permaneça válido no mundo jurídico (ex.: coima por manter o
estabelecimento a funcionar depois do horário de funcionamento)
 Normas imperfeitas (leges imperfectae) – normas que não tem por
consequência nem a invalidade do ato transgressor, nem a penalização
do seu agente, ou seja, são normas desacompanhadas de sanção

Normas substantivas e adjetivas


 Normas substantivas – normas dirigidas à regulação das relações e
situações jurídicas materiais
 Normas adjetivas – normas que dizem respeito à regulação dos
procedimentos de que dependem a efetivação dos direitos e obrigações
que as normas substantivas fazem nascer

AS TÉCNICAS LEGISLATIVAS. ALGUNS EXEMPLOS

Codificação
Um código constitui sempre um conjunto de textos de Direito
apresentados num conjunto coerente e sistemático. Os códigos são mais do
que uma simples compilação de disposições legais: são obras unas, motivadas
pelo desejo de renovar o tratamento de certa matéria, reunindo de forma
sistemática e coerente um conjunto de disposições normativas com certa
aspiração de perenidade. São um fator de unidade política e integração social e
favorece a coerência, a clareza e segurança na aplicação do Direito.

Vantagens da codificação: num ponto de vista político, trata-se de um fator de


unidade política e integração social, o que leva a um maior número de

33
vantagens do ponto de vista social. Num ponto de vista jurídico, permite
construir um direito mais coerente e claro, sendo que é sistematizado e mais
preciso, garantido a segurança e certeza jurídica

Desvantagens da codificação: um código estimula muito a atitude positivista-


legalista, na medida em que aquando da sua elaboração, este é feito com uma
ideia de estabilidade bem como com a pretensão da sua longevidade. Isto faz
com que se critique o facto de a codificação assentar numa espécie de teoria
cristalizada que não atende às alterações sociais – a solução do código nem
sempre atende à necessidade do ser humano

Partes Gerais
É frequente utilizarem-se partes gerais na elaboração sistemática dos Códigos.
Dizem respeito às questões que se colocam transversalmente ao longo de todo
o código. Trata-se de uma técnica que visa evitar desnecessárias repetições,
fixando desde logo os princípios gerais aplicáveis. Ou seja, reúnem-se aí
disposições que são comuns aos diferentes objetos de regulação.

Definições
Outra das técnicas frequentemente utilizadas é a de inserir definições
(exemplo: artigo 202o do Código Civil). Trata-se de normas não autónomas que
realizam um propósito do legislador.
 Alguns autores, como Bulygin, recusam-se a reconhecer às definições
legais caráter de enunciado normativo. Nesta perspetiva, as definições
legais não seriam realmente normas, embora em conexão com outras
normas do sistema jurídico pudessem ter relevância normativa.
 Outros autores, como Alexy, partilham da opinião contrária, afirmando
que as definições legais possuem um verdadeiro caráter normativo, sem
a necessidade de as articular com as outras

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Críticas às definições: há quem veja a utilização de definições como uma
intromissão do legislador nos campos da dogmática e da jurisprudência, para
além de se assinalar a infelicidade de muitas das definições concretamente
estabelecidas por via legal

Ficções legais e remissões


A remissão é um meio técnico-legal para evitar repetições incómodas. As
normas remissivas pertencem à categoria das normas indiretas ou não-
autónomas. São, portanto, normas em que o legislador, em vez de regular
diretamente e de modo autónomo o caso, prefere recorrer à aplicação de
normas que disciplinam questões diversas.

As normas remissivas podem ser:


 Materiais – se a remissão é feita tendo em conta o conteúdo da norma
para a qual se remete (exemplo: artigo 156o do Código Civil)
 Formais – se a remissão tem em atenção o facto de a norma para a qual
se remete ser aplicável em certo tempo ou lugar (exemplo: artigo 12o;
artigo 46o/1 do Código Civil)

As ficções legais funcionam como remissões implícitas, ou seja, o legislador ao


invés de remeter o intérprete diretamente para a aplicação de uma norma que
dispõe sobre o caso, fá-lo implicitamente dizendo que o caso que a norma se
destina a regular é igual a um outro. O efeito útil pretendido é o de remeter o
intérprete para a regulamentação daquela norma.

Presunções legais
As presunções legais traduzem uma operação lógica que permite, com base na
lei, retirar de um facto conhecido um facto desconhecido (ex.: artigo 349o do
Código Civil). As presunções legais podem ser de dois tipos:

 Absolutas (iuris et de iure): são inconstáveis por não admitirem prova


em contrário (exemplo: artigo 1260o/3 do Código Civil)

35
 Relativas (iuris tantum): ilidíveis, já que admitem prova em contrário,
limitando-se a inverter o encargo da prova. Significa isto que, recaindo o
ónus da prova sobre quem alega certo facto, neste caso, a benefício da
presunção relativa, tal ónus passará para a contraparte, a qual terá de
fazer prova em contrário para evitar que se dê por estabelecido o facto
objeto de presunção (exemplo: artigo 503o/3. do Código Civil)

Existem ainda outro tipo de presunções – as presunções judiciais. São


operações de lógica que permite ao julgador, na avaliação dos factos
submetidos a juízo, poder chegar a certa conclusão sobre a verificação ou não
de certo facto alegado a partir de uma inferência construída sobre outros
factos, com caráter acessório ou indiciário em relação aquele.

Conceitos indeterminados
O ordenamento jurídico compreende um conjunto de conceitos determinados,
cujo conteúdo está fixado solidamente e é a base da ciência do Direito e da
segurança jurídica que este oferece. O Direito procura conter, também, as
propriedades necessárias para permitir a sua flexibilização e ajustamento às
contingências sociais de tempo, lugar e modo. Em homenagem a esse objetivo
de flexibilização, o legislador utiliza também conceitos indeterminados, que
necessitam de um preenchimento valorativo, em sede de aplicação do Direito
(exemplo: conceitos de boa-fé, justa causa, ordem pública). Alguns desses
conceitos são mesmo gradativos, já que o aplicador do Direito tem, na sua
concretização, de proceder a um escalonamento (exemplo: culpa grave).
A utilização dos conceitos indeterminados é essencial para:
 Individualizar as soluções
 A adaptação de certas normas às particularidades dos casos
 À mudança do tempo
 Ao ajustamento do Direito aos princípios éticos determinantes

Cláusulas gerais
Podem definir-se como normas de campo de aplicação indefinido. Estão
diretamente ligadas à utilização dos conceitos indefinidos, uma vez que tornam
possível atuar de modo a adequar a norma à situação. Em vez de regularem
36
tipos casuísticos de situações determinadas, deixam a hipótese definida em
termos tão amplos que permite ao seu aplicador uma maior flexibilização na
operação silogística. O legislador opta por estabelecer clausulas gerais para se
opor à inadequação da regulamentação casuística – esta realidade implica
sempre o risco de gerar lacunas de regulamentação (prever de menos) ou
exceções (prever de mais)

VI. O DIREITO E OS FACTOS


DIREITO E FACTO. O DIREITO COMO FACTO
O Direito pode e deve ser estudado como fenómeno e como facto. Neste
contexto, surgem os contributos de diferentes ciências sobre o Direito, tais
como a sociologia jurídica. Esta visa o estudo das condições empíricas da
eficácia do Direito, procura levar a cabo o estudo da influência recíproca entre
Direito e sociedade e preocupa-se com o problema da atualização social dos
valores e respetivo reflexo nas mudanças dos ordenamentos jurídicos.

O Direito atua sobre a realidade apreendendo-a e tipificando-a num conjunto de


factos que a norma descreve na sua previsão e cuja verificação determina a
aplicação da sua indicação prescritiva. Eis, pois, o motivo pelo qual é
imprescindível a consideração, em cada processo judicial, da factualidade à
qual deverá aplicar-se a norma. Identificamos dois momentos processualmente
distintos, mas que se implicam mutuamente:

 Questão de facto
 Questão de Direito

OS FACTOS NO PROCESSO: CONHECIMENTO E PROVA


Em cada processo judicial, o juiz deverá começar por apreciar a
existência ou não de certos factos (os alegados na ação como determinantes
de aplicação do Direito) e a sua exata configuração, para logo depois
determinar qual a norma aplicável. Este momento inicial tem uma grande
importância para o desfecho da ação, pois determina em grande medida o
destino das pretensões que estão em causa.

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As pretensões em causa dependem diretamente da sua legitimidade
aferida face ao Direito e este se aplica apenas na presença de certa
factualidade: averiguação da questão de facto.

A produção de prova no processo incide sobre os factos e é regulada


por regras próprias que o Direito estabeleceu, em grande medida como veículo
de concretização do valor de verdade, mas também em certos casos
determinadas por outros valores, tais como a proteção da relação
cliente/advogado.

O próprio Direito pode ser objeto de prova. É o que acontece no nosso


ordenamento jurídico com o costume e com o Direito estrangeiro. Aqueles que
pretendam acolher-se a uma norma consuetudinária ou a uma norma jurídica
de um ordenamento jurídico que não seja o português veem recair sobre si o
ónus da prova.

A verdade a que se chega no contexto do processo judicial não tem o


mesmo caráter da verdade científica nem da verdade sagrada das religiões. É
o resultado da construção possível a partir do que se afigura mais verosímil,
dentro dos poderes de cognição delimitados pelas regras processuais do
Direito. Esta verdade, por vezes, não coincide com a realidade dos
acontecimentos aos quais se pretende adequar.
A quem cabe fazer a prova dos factos? A regra geral é a de que recai
sobre os litigantes a prova dos factos de cuja alegacão e verificação depende
da viabilidade da pretensão que querem fazer vingar na ação – Ónus da Prova.

O ónus da Prova entre processo civil e processo penal


 Processo civil: vigora o princípio do dispositivo, libertando o julgador de
tomar a iniciativa da investigação dos factos. Aqui os interesses são de
natureza eminentemente particular.
 Processo penal: vigora o princípio do inquisitório, o que se traduz no
entendimento de que aí cabe ao juiz dirigir a produção de prova e

38
inerente determinação dos factos. Aqui, os interesses são de natureza
predominantemente pública.

Invocação do Direito aplicável (princípio iuna nouit curia)


O tribunal tem obrigação de conhecer o Direito:
 Se um dos litigantes se esquece na ação de alegar a existência de certo
prejuízo que sofreu, tal facto pode determinar a perda do Direito à
respetiva indemnização
 Mas o mesmo não acontece se, invocado o prejuízo, aquele mesmo
litigante não mencionou as regras de Direito face às quais lhe assistiria
um Direito à indemnização

QUESTÃO DE FACTO E QUESTÃO DE DIREITO: PRIMEIRAS


APROXIMAÇÕES
A distinção entre matéria de facto e matéria de Direito nem sempre é
demasiado nítida. Os factos que interessam ao processo são apenas aqueles
que são juridicamente relevantes. Logo, a consideração jurídica dos factos não
pode deixar de estar implicada na sua própria certificação probatória, porque a
verificação de alguns factos jurídicos depende de estarem reunidos um
conjunto de requisitos fácticos que os litigantes têm de procurar estabelecer e o
julgador confirmar, e que as normas jurídicas pré-estabelecem.

VII. VALIDADE, VIGÊNCIA E EFICÁCIA


A QUESTÃO DA VALIDADE NO DIREITO. CONCEITOS DE VALIDADE,
VIGÊNCIA E EFICÁCIA
O problema dos valores no Direito está relacionado com a questão própria
da fundamentação desse mesmo Direito. Entendemos por fundamento o valor
ou complexo de valores que legitima uma ordem jurídica, dando a razão da sua
obrigatoriedade. A fundamentação de cada regra jurídica dependerá de a
mesma ter por ratio a realização de um valor que a comunidade tem por seu.
Este raciocínio pode aplicar-se às regras de tutela da propriedade privada ou

39
da liberdade individual, que se têm por legítimas no mundo ocidental, em
conexão com o seu reconhecimento como valores determinantes nas
estimativas ocidentais.

Cada regra jurídica assentará na realização de certos valores e o


ordenamento, como um todo, é obrigatório porque plasma os valores de uma
comunidade. Mesmo as leis que pareçam apenas puramente coercivas
realizam ainda assim a ordem como valor que é integrante do próprio conceito
de justiça. As normas jurídicas não são meras formas vazias de conteúdo, mas
antes devem justamente reconhecer-se-lhes validade atendendo ao seu
específico conteúdo normativo.

Percebe-se que se aceite uma conceção que alia a vigência à validade e


eficácia, sendo estas todas mutuamente dependentes. A vigência implica a
referência aos valores que estiveram na origem da norma e depende também
das condições fácticas capazes de assegurar a vigência social. Esta perspetiva
(em que a validade adquire uma conotação material) não é, no entanto,
coincidente com as respostas que o positivismo legalista e o realismo
escandinavo dirão ao problema da validade.

 Positivismo: A validade de uma norma depende da sua relação com as


outras normas do sistema jurídico em que se integra, em particular com
as de valor superior.
 Realismo escandinavo: O termo validade converte-se até certo modo
num sinónimo de eficácia.

Em suma, a vigência é um conceito que se refere, de modo diverso, à


força vinculante do Direito positivo, mas não se confunde com a sua
positividade (a sua criação por uma entidade investida de autoridade), nem
com a sua eficácia (efetiva aplicação). Há ainda que distinguir a eficácia das
normas segundo o móbil que, em cada caso, leva a acatar o comando nelas
contido:

40
 Temos situações em que o reconhecimento da validade moral da norma
leva o individuo a interiorizar a necessidade do seu cumprimento
 Temos outros casos, em que a eficácia se dá como resultado da
validade estético-social, ao verificar-se que a norma é socialmente
reconhecida e a sua violação leva à ostracização do infrator
 Verifica-se, também, a eficácia assente na validade como “direito
garantido”, em que o cumprimento surge do temor da aplicação das
sanções legalmente previstas como meios coativos de reação às
infrações

O POSITIVISMO E OS CONCEITOS DE VALIDADE E EFICÁCIA


Kelsen entendia a eficácia como o significado de cumprimento pelos
homens das indicações contidas nas normas jurídicas, pelo que a eficácia
predica a conduta humana, mas não o Direito. Enquanto a questão da validade
é eminentemente jurídica e pertence ao objeto da ciência jurídica, já a eficácia
é algo que pertenceria ao universo da sociologia. A eficácia funcionará, todavia,
como condição da validade, uma vez que uma norma só pode ser considerada
válida quando pertence a um sistema normativo que seja, no seu conjunto
eficaz.

O Realismo escandinavo apresenta uma visão distinta da relação entre


validade e eficácia. Olivecrona e Alf Ross foram muito críticos do conceito de
validade, julgando que este só pode significar um sentimento psicológico de
obrigatoriedade moral para o reconhecimento e cumprimento das normas
jurídicas. Consideram que o que se pode verificar empiricamente é que os
juízes o experimentam (a esse sentimento) e, em resultado disso, ficam
motivados para aplicar a norma. A norma só existe se é aplicada (se é eficaz),
sendo que a condição para que tal se verifique é a sua validade.

A INEFICÁCIA DO DIREITO
Uma das queixas constantes acerca do Direito diz respeito à sua falta de
cumprimento, ou seja, a que não é eficaz. Dir-se-á que o Direito é ineficaz por
sua culpa exclusiva, pelos seus defeitos de conceção, pelos seus excessos

41
regulativos, pelas suas múltiplas contradições e pela sua obscuridade. São
igualmente causas de que o Direito não se cumpra:
 O desamor e incompreensão da sociedade pelo seu próprio Direito
 Certa cultura de transgressão que vitoria os prevaricadores
 A indiferença e a cobardia que vira a cara à luta pelos direitos de cada
um e de todos

A QUESTÃO DA NORMA INJUSTA E A DESOBEDIÊNCIA


A grande questão está em saber o que fazer quando uma norma se nos revela
(ou ao juiz) absolutamente injusta. É evidente que devemos obediência à lei, e
o nosso Código Civil é particularmente explicito ao considerar que o juiz não
pode afastar a sua aplicação sob pretexto de ser a lei injusta. No século XIX,
em França, H.D Thoreau negou-se a pagar impostos argumentando que com
esse dinheiro o Estado compraria armamento. A justificação do seu ato, a que
se designou de “desobediência civil” fez doutrina. O direito de resistência é,
entre nós, um direito legal, mas sobre ele se pode argumentar que tem uma
existência suprapositiva, como direito natural. Poder-se-á dizer que, nestes
casos extremos, a obediência à norma é que constituiria uma desobediência ao
Direito.

VIII. DIREITO E CIÊNCIA. CIÊNCIAS DO DIREITO


O DIREITO COMO CIÊNCIA
Durante muitos séculos, ao estudo do Direito chamou-se jurisprudência,
expressão que viria a ser substituída pela de “ciência do direito” ou “ciência
jurídica”. Para aqueles autores que veem o conhecimento e estudo do Direito
como uma ciência, esta teria objeto direito, designadamente o Direito positivo.

42
Assim, a ciência do Direito tem por missão descrever e analisar objetivamente
como é e qual é o Direito vigente. A partir das normas jurídicas, ela desenvolve
uma tarefa de construção de instituições e conceitos jurídicos fundamentais e
de sistematização do ordenamento jurídico.

PODE O DIREITO SER UMA CIÊNCIA? AS CRÍTICAS DE KIRCHMANN E A


REVISÃO DO CONCEITO DE CIÊNCIA COM A FILOSOFIA DE POPPER
Será a ciência do Direito uma verdadeira ciência? A crítica mais célere à
cientificidade do Direito veio de Kirchmann: “A jurisprudência não é ciência”
(1847). No seu núcleo estava a questão, incontestável, de que o objeto de
estudo da jurisprudência é o Direito positivo, logo, um objeto variável e
inconstante. As ciências naturais reúnem as notas de universalidade,
estabilidade e até imutabilidade, a que o Direito não pode aspirar. Porém, no
século XX procedeu-se a uma revisão profunda do conceito de ciência, tendo
sido abandonados muitos destes dogmas. Na perspetiva de Karl Popper, a
ciência evolui por uma série de tentativas e erros sucessivos, desligando-se,
assim, da imagem sacralizada que detinha. Cada etapa vencida, cada teste
ultrapassado vitoriosamente, é-o apenas de modo provisório, até futura prova
contrária.

CIÊNCIAS DO DIREITO: CIÊNCIAS JURÍDICAS HUMANÍSTICAS E


CIÊNCIAS JURÍDICAS MATERIAIS
É usual que se divida a ciência do Direito em distintas ciências jurídicas
particulares. A identificação da autonomia de cada uma destas ciências
sectoriais faz-se facilmente pela correspondência com o ramo de Direito
específico que é seu objeto de estudo. Ao Direito penal corresponde a ciência
jurídica criminal. No campo do Direito há ciências jurídicas humanísticas que
vivem paredes meias com outras áreas científicas:
 Filosofia do Direito
 História do Direito
 Sociologia do Direito
 Direito Comparado
 Metodologia Jurídica

43
 Direito comparado
 Psicologia do Direito

DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO. PRINCÍPIOS DE DIREITO


PÚBLICO E PRINCÍPIOS DE DIREITO PRIVADO (PÁGINA 141)
É um facto conhecido que, nos sistemas jurídicos romano-germânicos, a
lei pública ou estatal tornou-se a fonte de Direito prevalecente, reduzindo-se
progressivamente o campo de autonomia próprio da lei privada.

A distinção entre os campos do Direito Privado e Público continuará a


fazer sentido enquanto a análise dos interesses sociais na base dos conflitos
que cabe ao Direito dirimir indicar que, em certos casos, se impõe a sua
regulação por meio de normas imperativas (Direito Público) e, paralelamente,
subsistir a necessidade de garantir certo grau de autonomia individual na
gestão da vida jurídica de cada um (Direito Privado).

No Direito Romano, a distinção operava-se de acordo com a fonte de


onde brotava a norma, sem consideração pelas matérias ou tipo de relações
reguladas. Apenas no Renascimento, o plano das substâncias das regras
jurídicas começará a ser atendido para justificar a classificação daquelas como
Direito Público e Direito Privado.

CRITÉRIOS DISTINTIVOS: TEORIA DOS INTERESSES, A POSIÇÃO DOS


SUJEITOS E A QUALIDADE DOS SUJEITOS
As teses que se têm utilizado para proceder à distinção são muitas e
variadas, sendo que apenas se irão abordar as mais significativas.

Critério do interesse:
 O Direito Público seria aquele dirigido a tutelar os interesses públicos
 O Direito Privado seria aquele que tutelaria os interesses privados ou
particulares

44
No entanto nem sempre é assim:
 Encontramos normas de Direito Público que cuidam da proteção dos
interesses dos particulares (escritura pública no Direito civil)
 Encontramos normas de Direito Privado que visam a tutela de interesses
de natureza pública (audição do interessado no Direito administrativo)

Critério da qualidade dos sujeitos


Também se pode proceder à distinção com base na qualidade dos sujeitos
envolvidos na relação jurídica:
 O Direito Público disciplinaria as relações que se estabelecem entre
entes de Direito Público
 O Direito Privado regularia aquelas em que os sujeitos fossem entes de
Direito Privado

Critério da posição dos sujeitos


Outro critério possível é o da posição dos sujeitos. Segundo este:
 O Direito Público regula, tipicamente, relação de supra-infra-ordenação
 O Direito Privado estabelece a disciplina jurídica de relações que se
caraterizam pela paridade

Novamente aqui, encontramos relações jurídicas que não correspondem a


estes modelos típicos. Que dizer das relações entre Estados ou das relações
que se estabelecem no âmbito do Direito do Trabalho? Uma aplicação
combinada com a atuação à qualidade dos sujeitos permite considerar como
relações de Direito Público todas aquelas em que participassem entes de
Direito Público no uso do seu ius imperii (relação de supra-infra-ordenação).
Paralelamente, seriam relações de Direito Privado todas aquelas em que o
ente de Direito Público atuasse despido do seu poder de autoridade, ou seja,
numa situação de paridade com a contraparte privada.

Persistem mesmo assim muitas situações em que uma classificação


inequívoca é difícil. Acresce que o contínuo movimento de desenvolvimento e
expansão do Direito tem originado o aparecimento de ramos de Direito híbrido.

45
Há, todavia, alguns ramos de Direito que são tradicionalmente compreendidos
no Direito Público e no Direito Privado.

 Direito público: Direito Constitucional; Direito Administrativo, Financeiro


e Fiscal; Direito Público da Economia; Direito Penal; Direito Processual;
Direito Internacional Público
 Direito privado: Direito das Obrigações; Direitos Reais; Direito da
Família e Sucessões; Direito Comercial; Direito Internacional Privado

Importa, contudo, referir que o Direito é uma unidade e esta divisão é artificial,
embora possa ter alguma relevância e alcance prático e teórico.

PRINCÍPIOS DE DIREITO PÚBLICO E PRINCÍPIOS DE DIREITO PRIVADO


É possível identificar, em cada sistema jurídico, um conjunto de princípios
estruturantes que permitem a existência de uma verdadeira coerência
normativa no seu seio. Quais são esses princípios? Haverá, pois, princípios de
Direito Público e de Direito Privado.

São referidos pela doutrina os seguintes princípios de Direito Público:


 Princípio do Estado de Direito Democrático
 Princípio da Separação de Poderes
 Princípio da Legalidade
 Princípio da Eficácia e da Oportunidade (atividade da Administração
Pública)
 Princípio da Imparcialidade e Princípio da Independência dos Tribunais

No domínio do Direito Privado (entre outros) encontramos:


 Princípio da autonomia privada
 Princípio da liberdade contratual
 Princípio da boa-fé contratual
 Princípio da igualdade entre as partes
 Princípio da proteção da parte mais fraca
 Princípio da responsabilidade

46
Requisitos de validade de um negócio jurídico: um ato é válido quando ele
produz todos os efeitos na ordem jurídica. Estamos, portanto, a falar daquilo
que e necessário para que o ato produza todos os efeitos na ordem juridica

Informações

1 trabalho de grupo (30%)


 2 – 5 elementos
 30 de outubro comunicar grupos
 Tema aleatório (31 outubro)
 31 de janeiro data de entrega
2 testes (35% 2x)
 13 de fevereiro

47
 15 de maio

Introdução
Origem da palavra Direito?

Segundo a mitologia grega, a figura de mulher que representa a Justiça é a


deusa Thémis, filha de Urano (Céu) e de Gaia (Terra), ela própria a deusa da
Justiça. Dotada de grande sapiência, além de esposa de Zeus, o deus
supremo, era sua conselheira. Criadora das leis, dos ritos e dos oráculos, era a
guardiã dos juramentos dos homens. As leis e os oráculos proferidos por
Thémis seriam obrigatoriamente acatados tanto por homens como por deuses.

Na Grécia, a Justiça teria sido representada pela deusa Diké (filha de Thémis)
que, de olhos abertos, segura uma espada e uma balança ou por Thémis
exibindo só uma balança, ou ainda uma balança e uma cornucópia.

Mais tardiamente, em Roma, é a figura da deusa romana Ivstitia que aparece


de olhos vendados, sustentando uma balança já com o fiel da balança ao meio.

Esta representação da Justiça, ao longo dos tempos, é sugestiva da sua


própria evolução.

Pensa-se que as deusas gregas da Justiça, Thémis ou Diké, armadas de


espada, sem o fiel da balança, representam uma realidade epistemológica e
normativa anterior e menos desenvolvida que a deusa romana Ivstitia com fiel
da balança. A atividade do executor simbolizada pela espada punitiva perde
importância, para os romanos, face à valorização do conhecimento, do intelecto
e do rigor, simbolizados pelo fiel da balança, alegórico ao pretor romano. (O fiel
tem de estar DIREITO)

Nas primeiras representações conhecidas, a deusa da Justiça surge de rosto


descoberto, sem venda, aparentemente aludindo à necessidade de ter os olhos

48
bem abertos e observar todos os pormenores relevantes para a justa aplicação
da Lei, só mais tardiamente a figura da deusa se revela de olhos vendados.
Não significa que a justiça seja cega, mas que trata a todos com igualdade.
Não vê, porque a lei é igual para todos.

Definir (fim): delimitar (limites)

O que é o Direito: realidade humana e cultural, de tal modo complexo, que


comporta em si a nossa complexidade humana. Aporia – questão à qual não é
possível responder. A cultura é tudo aquilo que nasce da atividade humana. O
Direito está presente no dia a dia (preço da água, etc.). O direito visa regular os
nossos comportamentos sociais. O direito manifesta-se quando as relações
que ele regula se tornam patológicas. O direito é uma ordem normativa que é
prescrição. Violabilidade (pode ser violado).

Leis da natureza: Causalidade


Leis do Direito: Imputabilidade

Direito subjetivo: direito na perspetiva do sujeito


Direito normativo: forma de aplicar o direito subjetivo
Direita experiência jurídica: Conformação do nosso comportamento à norma
jurídica.
Direito objetivo (sinónimo de direito normativo ou “o que lhes pertence”)

Justiça (definição clássica): Virtude (característica) que faz parte do ser do


indivíduo, de dar a cada um aquilo que lhe pertence (justo objetivo). Qual é o
critério da justiça? O homem virtuoso transforma-se numa regra objetiva. A
prática da virtude estabelece-se como norma do direito.

Direito como disciplina científica: Direito como área do saber

Uma decisão implica sempre uma diversidade de alternativas

O direito altera-se consoante o tempo e lugar


49
Filosofia do Direito é interrogativa, aporética…
O estudo da história do pensamento jurídico não é meramente história.

Questão ontológica – O que é o Direito?


Questão axiológica – Porque é que o direito vale? O que é que lhe confere
legitimidade? Porque devemos obedecer ao Direito?

Perspetivas
Direito Natural – Direito da antiguidade até ao Iluminismo entidade metafísica;
Dimensão do direito (não apenas da moral);
a. O Direito deve tender para a justiça – Justiça é o valor que está
para além dele.
b. Direito positivo associado a um valor
c. Natureza Axiológica
d. Parcela de juricidade que se impõe ao ser humano, de tal modo
que se o direito quer ser direito tem de respeitar aquilo que
decorre da natureza humana - não voluntarista
e. Não está na disponibilidade da natureza humana
f. Validade intrínseca
g. Corrente dualista
h. Entidade metafísica – suprapositivo

B) Jusnaturalismo: Procura o fundamento do valor do Direito em algo


(Referência Axiológica) que está para além dele.
a. Há um núcleo imutável, mas os outros valores são mutáveis

C) Juspositivismo: Considera que o Direito pelo simples facto de existir é


legítimo – encontra aí o seu valor está no próprio Direito - Direito
positivo: O direito que é vigente na nossa sociedade. Direito criado e
aplicado por estruturas sociais às quais compete a criação de normas
(de autoridade).
a. Conjunto de Normas que nos rodeia

50
b. Corrente monista
c. Rejeita Direito natural
d. Direito positivo

Jusnaturalismo e Juspositivismo: correntes de pensamento; Direito natural e


Direito positivo são realidade jurídicas.

Juricidade – é de Direito

Realismo Jurídico Clássico: DP e DN como uma realidade uma;


DN como fundamento do DP; DN com especial relevância para o legislador
porque legitima o DP

 Visão cosmológica – Antiguidade


o Antiguidade – cosmos ≠ caos
o Logos – princípio ordenador do mundo. Inscrito no universo e
confere-lhe ordem, não sendo um caos. Aplica-se a toda a
natureza incluindo o homem. O ser humano é um microcosmo,
faz parte do mundo.
o O ser humano como indivíduo é uma ideia moderna, portanto o
ser humano não se separa da sociedade – A polis – comunidade
política.
o As leis humanas devem corresponder ao logos – imanente ao
cosmos.
Visão teológica - Idade Média
 Cristianismo – tradição judaica e tradição greco-romana
 Tradição judaica – Vontade de deus na lei
 Paulo de Tarso – lei inerente ao ser humano
 Ser humano – criatura à imagem e semelhança de deus
o Lei Eterna – vontade divina
o Lei Natural – participação do ser humano na lei divina
o Lei Humana – Direito positivo
 Direito natural é um limite a quem faz as leis humanas
51
Visão Racionalista - Jusracionalismo
Disciplinas do saber na idade média
o Direito
o Filosofia/Teologia
o Medicina
 Razão teleológica – para quê?
o É serva da revelação

Alteração da conceção da razão: reforma protestante (teologia deixa de ser


campo de entendimento comum), centralização do poder e descobertas
cientificas que têm impacto comum (revisão científica) – dedutivo formal – ser
humano passa a ser visto como ser natural embora distinto por ser dotado de
razão. Direito natural perde o seu fundamento teológico.

Grócio – “O direito natural continuaria a existir, mesmo que admitíssemos que


Deus não existe

Juspositivismo (séc. XIX)


 Positivismo Britânico
 Positivismo Francês
 Positivismo Alemão

Ubi homo, ibi societas. Ubi societas, ibi ius.

Direito propriedade/vida/integridade física: Exigir dos outros que respeitem…

Art.º 18/3 – f)…

Direito consuetudinário – Costume: prática social reiterada acompanhada da


convicção da sua obrigatoriedade.

Jusracionalismo:

52
 Conceção Racionalista: hipervalorização da razão
 Abandono do fundamento teológico do Direito Natural – Grócio
 Contrato – estado de natureza – estado de sociedade
o Hobbes – todos os direitos são transferidos para o soberano
o Rousseau – nem todos os direitos são transferidos – direitos
inalienáveis
 Direitos naturais – já detinha no estado de natureza –
Declaração Universal dos Direitos do Homem – Separado
da existência de garantias do Estado
 Construção de sistemas completos de direito natural
o Axioma antropológico (verdade evidente sobre o ser humano),
ex.: sociabilidade
 A partir destes axiomas, a razão, exercida dedutivamente,
fará alcançar todas as regras que regulem de modo
perfeito e acabado toda e qualquer sociedade humana –
para poderem ser dotadas de coercibilidade devem ser
positivadas

Realismo Clássico vs. Jusracionalismo


DN é real vs. DN como modelo ideal
Relação de complementaridade DN – DP vs. DN e DP são sistemas separados
DN dirigido ao legislador (instância crítica do DP) vs. DN traduz-se em
concretos direitos dos membros da comunidade

Juspositivismo
 Só existe DP (recusa a existência de DN)
 Validade do DTO, encontra-se em si mesmo
 DTO é fenómeno exclusivamente cultural
1. Britânico
 Thomas Hobbes – Segurança jurídica – Direito – comando do soberano
– coação – crítica do direito jurisprudencial

53
 Bentham e Austin – princípios utilitaristas; visão imparitivistica – defesa
da codificação
2. Positivismo legalista francês (escola de Exegese)
 Direito é lei – direito identifica-se com a lei
 Desconfiança relativamente ao poder judicial – proibição de
interpretação
 Silogismo judiciário: forma de raciocino judiciário: Do geral para o
particular – Premissa maior (Norma) – premissa menor (Caso) –
conclusão (Sentença)
 Dogma da omnipotência do legislador – ausência de lacunas – direito =
sistema completo, acabado e fechado
 Incondicional fidelidade ao texto da lei
 Código Civil Francês (1804) – lei sistemática
3. Juspositivismo alemão (Escola histórica do direito – Savigny)
 Romantismo
 Idealismo
 Recuperação da noção de história
o O direito é fruto da história – direito como realidade cultural de
um povo historicamente situado (tal como a arte, a língua, a
música, etc.)
 Origem do direito – espirito do povo (volkgeist)
o Principal fonte do Direito – Costume
 Polémica entre Savigny e Thisant acerca da codificação
o Direito popular
o Direito científico
o Direito codificado
 Não escapa à tendência formalizadora e sistematizadora da época
Críticas no final do séc. XIX
 Excessiva teorização do Direito
 Lacunas são inevitáveis
 Tarefa judicial não é redutível à reprodução mecanicista da lei

54
Positivismo Sociológico – Realismo jurídico (escandinavo e norte-americano)
 Identificação entre direito e facto
 Atitude anti formalista e empírica – ciência descritiva
 Desvalorização da lei e das normas gerais
 Relativismo Axiológico
o Recusa ideia de justiça objetiva
o Justiça com experiência jurídica
 Validade = eficácia (validade decorre da efetiva aplicação do direito)

Kelsen – Teoria pura do Direito (purificar o direito dos seus elementos


contaminantes – sociológicos, psicológicos, axiológicos, etc.)
 Separação entre ser (mundo dos factos, realidade histórica e social) e
dever ser (mundo das normas)
 Objeto do direito = norma jurídica (enunciados lógico-hipotético – nexo
de interpretação)
 A função do direito é organizar a sociedade (técnica de organização
social) – recorre à coercibilidade
o A norma não vale pelo seu conteúdo
 Validade através de outro dever ser – estrutura escalonado da norma –
constituição
 Norma fundamental – Groundnorm
o Norma pressuposta – não pode ser posta por uma autoridade,
mas é pressuposta pela Ciência do Direito
o Assenta no facto de o ordenamento jurídico (O. J.) como em todo,
ser observado – aceitação global dos precedentes jurídicos

2.ª metade do séc. XX


 Renascimento do direito natural
o Ideia de Direito = ideia de Justiça (Valores – Princípios)
o Direitos humanos como nova linguagem do DN

55
 Debate Hart-Dworkin
o Separação entre Direito e Moral
o Existência de fontes sociais do Direito – regra de reconhecimento
o Margem de discricionariedade jurídica
 Crítica de Dworkin
o Direito é composto por regras e por princípios (referentes
axiológicos que escapam à regra do reconhecimento)
o São os princípios que orientam a decisão judicial nos casos
difíceis
Teorias Funcionalistas do Direito – Para que serve o Direito?

Teoria Tridimensional do Direito


Valor (Conteúdo de motivação) – Norma – Facto

O direito e outras normatividades sociais


Direito – fim – justiça
Moral – fim – bem / ética – vida boa
Trato social – fim – convivência agradável
Religião – fim – relação do crente com deus

Normatividades não jurídicas podem ser um auxilio para a eficácia do direito,


na medida em que o seu conteúdo seja coincidente – de contrário pode surgir o
inverno.

Como investigar?

Em que secções se divide um trabalho científico na área do Direito


Artigo científico
Comentário de jurisprudência

Normas de referenciação bibliográfica – NP 405

Quais as críticas que podemos apontar ao jusnaturalismo?

56
O condicionamento situacional do Direito
O Direito Natural como expediente para justificar o poder instituído
A incoerência entre a sua pressuposta universalidade e a diversidade de
resultados que apresenta
Ausência de eficácia
Conjunto de meras especulações

Quais as críticas que podemos apontar ao Juspositivismo


 Alegada neutralidade conduz, no limite, à aceitação de uma ordem que
nega o próprio direito e a justiça
 Inevitabilidade das lacunas
 Despersonalização do labor judicial (redução da tarefa judicial a aula
lógica mecânica)

Resposta Teste

“a espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada é a fraqueza


do direito”

Folha de rascunho:
Símbolos do Direito
Coercibilidade + direitos fundamentais/ideia de justiça
Segurança sem Justiça não garante o direito
Tensão segurança/justiça – importância do equilíbrio (limite de coercibilidade) +
ex.: artigo 6.º CC

Resposta / Comentário

57
A frase em análise refere-se às relações entre a segurança e a justiça,
enquanto finalidades do direito. Com efeito, o texto, ao mencionar a balança
remete para a ideia de justiça. Afigura-se relevante, a este propósito, relembrar
que as representações clássicas de Justiça, da deusa Justiça aparecem
associadas à imagem de uma figura feminina que segura uma espada e uma
balança, as quais remetem precisamente para a ideia de força imposta através
da espada e para a ideia de equilíbrio dos pratos da balança, ou seja, para a
ideia de equidade.

A associação frequente entre estas duas dimensões do direito nas


representações clássicas da Justiça sinaliza a relação intrínseca que entre elas
e se estabelece. De facto, a segurança jurídica está, desde logo, associada a
uma ideia de ordem, ou seja, o mero facto da existência de normas jurídicas já
contribui para o estabelecimento de um quadro de estabilidade e de ordem,
reforçado pela possibilidade de imposição dessas normas através do uso da
força, ou seja, pela sua coercibilidade. No entanto, se é certo que a ordem é o
valor fundamental (no sentido de ser o valor que está na base) de qualquer
ordenamento jurídico, não é menos verdade que a ordem, só por si, não
permite realizar a ideia de Direito. Isto mesmo é afirmado na frase analisada,
quando se refere que “ (a) espada sem balança é a força bruta” e, na verdade,
um olhar sobre a história revela que é possível a existência de ordenamentos
em que se verifica a manutenção de uma ordem sem que esses regimes se
possam qualificar como regimes de Direito, precisamente porque naquilo que
são os seus conteúdos não asseguram as demais finalidades do Direito. Isto é
patente, por exemplo, na violação sistemática dos direitos fundamentais por
parte dos regimes totalitários.

A ideia de sistema é mais corretamente aplicada no jusnaturalismo moderno,


influenciado pela dogmática alemã bem como teorias positivistas mais
recentes. Contudo, pode-se também falar dos filósofos gregos e do mos
gallicus, mas este conceito de sistema é didático ou de auxilio memotécnico,
enquanto que no jusnaturalismo moderno observamos uma redução das leis a
um systema legum, que oferece desenvolvimentos acabados do conceito de

58
sistema. É importante destacar os contributos de Savigny, Kelsen, Platão,
Aristóteles, Hart etc.

A imperatividade obriga a um certo tipo de conduta, está porém pode não ser
respeitada e daí surge a violabilidade que advém da nossa liberdade, contudo
a coercibilidade, ou seja a existência de uma sanção para a violação de uma
certa norma, estando assim as três interligadas.

Aula prática (2/01/2023)


Petição Inicial – alegação de factos + provar os factos
Facto – passados
– presentes: relatório social
– futuros
Princípio iura novit curia (do direito sabe o Tribunal)
Artigo 5º CPC

Pedido

Prova – 341º CC – Verdade Dialética

Facto assente – o contrato de seguro existe


Facto controvertido – Sujeitos à prova e conclui que o facto está provado /
provado em sentido contrário (falso) / facto não provado – Art.º 8º CC Ónus da
Prova

Ónus da Prova
 Por civil Art.º 342º CC
o Princípio do Dispositivo
 Por penal Art. 32º/2 CRD in dubio pro reo
o Princípio do inquisitório

Prova legal
Prova livre – sujeita à livre convicção do julgador

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Princípio do pedido Art. 609/1 CPC
Ónus da alegação e provados factos

Séc. XIX – século em que o Direito se torna uma ciência.

IED, agora é que é!

Matéria Absolutamente Nuclear – Início do ultimo bloco de Matérias primeiros


artigos do Código Civil – livro 1 – parte geral (definições conceptuais, grandes
princípios) Primeiros artigos do 1.º até ao artigo 13.º - aulinhas ate ao final

Matéria das fontes de Direito – Reguladas no CC artigo 1.º

Fontes do Direito – expressão políssemica – metáfora (nascimento do Direito)

Sentido filosófico – determinada regulação jurídica e as suas fontes (origem,


filosofia que originou)
Sentido Histórico: enquadramento histórico
Sentido Orgânico/Político: quem produziu este ato normativo? Fonte no sentido
orgânico
Sentido Sociológico: enquadramento social, opinião publica que afeta a norma
Sentido Instrumental: Publicação da norma, fonte como mero meio que deu a
conhecer a norma (Diário da República – Portugal)

Ponto de vista técnico-jurídico – Quais são os meios que o ordenamento


jurídico português reconhece como legítimo e adequado para criar/produzir
Direito.

Cada ordenamento jurídico é sempre “Work in Progress”, estão em perpétua e


constante alteração. Kelsen desenvolve que o ordenamento jurídico positivo é
dinâmico, estando sempre a criar Direito e, como consequente, História do
Direito.

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Olhar para as Fontes de Direito de uma forma mais ampla, todas aquelas que
vão sendo identificadas – costume, jurisprudência, doutrina, principios
fundamentais, usos e equidade.

O costume não foi so historicamente importante, como ainda é relevante para o


Direito, como fonte deste, sobretudo em grandes áreas do globo. Costume –
palavra Trivial, contudo a definição jurídica de costume, é uma pratica
constante e reiterada da convicção da sua obrigatoriedade jurídica.

Prática imemorial (já não há memoria de quando começou)

Corpus
Animus

Conceito de usos

Artigo 348.º capitulo sobre a prova – direito consuetudinário

Sem autor, Fonte de Direito involuntária, a lei é uma fonte de direito voluntária.

Como se relaciona o costume com a lei? O que resta é a doutrina, o estudo do


Direito. Costume que coincide com a lei, secundum lege, o costume pode
também incidir sobre matérias que o legislador não regulou, contudo isso não
constitui uma lacuna - Praeter Legem. Conter Legem contraria a lei. Hierarquia
do Código Civil – Lei fonte imediata que está no topo. Sentido amplo e plural, o
Direito não é so a lei. No nosso ordenamento jurídico o principio contra legem
pode prevalecer sobre uma lei ordinária. Professor Freitas do Amaral – visão
pluralista.

Estado Corporativo – Krausismo

Garantia – Independência dos Juízes – são estatuatariamente independente no


comprimento do seu monus.

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Face ao caso apresentado é fácil notar que se coloca a possibilidade de venda
de um raio de sol, no entanto

Revisões IED

2
a) Lei 74/98 – artigo 1.º, 2.º, 7.º e 9.º
b) CC – artigo 7.º. Caducacidade e Revogação. Quando a lei já tem em si
um prazo de validade, então a forma de cessação da sua vigência será
a caducidade, este pode ser uma data ou um evento incerto. Neste caso
a lei cessa por caducidade até 5 dias após a data de publicacao da
declaração.
c) A vacation legis é o tempo que decorre entre a data da publicacao do
documento e a data de entrada em vigor, essa data nunca é o mesmo
dia. Isto serve para garantir, a segurança jurídica, e o ónus do
conhecimento da lei, ou seja o desconhecimento da lei não se justifica
dai o destinatário da lei ter este tempo para conhecer a lei. Se o
legislador nada disser – artigo 2/2 da lei 74/98 e artigo 6 do CC.
3 Interpretar é fixar o sentido e o alcance de uma norma de determinado texto
normativo. Interpretação objetiva – fixa o sentido da lei em si. Interpretação
subjetivo – visa entender a vontade do legislador.
Resultado da interpretacao – o texto corresponde aquilo que a lei visa

Interpretação declarativa, extensiva, restritiva, enunciativa, ab rogante

Quando dizemos foi publicado referimo-nos a órgãos que emitem publicação


escrita, tendo em conta a finalidade daquilo que abrange a norma faz sentido a
interpretação extensiva, o legislador pode não ter expresso de forma especifica
aquilo que era a sua intenção.

4 A culpa pode ser com dolo ou sem dolo, assim o legislador exprimiu o que ele
quis exprimir, ao intérprete cabe apenas exprimir aquilo que é relativa ao
contexto, a interpretacao é declarativa.
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5 É possível compatibilizar o domicilio do credor ao tempo do cumprimento e o
domicilio do credor ao tempo da constituição da obrigação? Contradição
insanável num mesmo diploma. É uma interpretação ab rogante, as leis
anulam-se às duas, existindo uma lacuna por colisão.

6 Tanto a atividade de interpretacao e legislativa tem um cariz criativo, que


densifica o direito e acrescenta sempre algo. No entanto as duas estão
vinculada ao texto e ao sistema.
O legislador está porexemplo vinculado à linguagem e os seus princípios estão
vinculados por precedentes

Uma lei em sentido material – artigo 1.º CC – disposição genérica e abstrata


que provem dos orgaos competentes
Uma lei em sentido formal – lei da AR
A portaria é um regulamento e é emanado pelo poder executivo e esta
subordinado à lei a uma lei Habilitante.

Artigo 112/1

Ah rogação – revogação no todo


Derrogação – revogado em parte

Tópico de resposta 1.º caso


Identificação e justificação da situação como um caso de aplicação da lei no
tempo
Exclusão de uma situação de retroconexão quanto à hipótese
Necessidade de convocação de normativos constitucionais em matéria penal
Referencia, explicação e fundamentação (retroatividade in mitius)
Art. 29/4º in fine do CRP e art. 2/4º

a) Blackboard…
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Lei nova se abstrai: significa que a lei nova dá como relevante aquilo que
decorre do contrato, porque vai haver uma nova valoração desse facto, daquilo
que é o seu valor.

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