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Clara Simões
1º Semestre
1 - I N T R O D U Ç Ã O A O C O N C E I TO D E
CONSTITUIÇÃO
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- uma parte orgânica, que regula o modo de exercício do poder- separação de poderes (Frame of
Government)
2- PODER CONSTITUINTE
O Poder Constituinte é o poder de criar uma Constituição, que fixa como é que a comunidade
política deve viver e se impõe como lei suprema e fundamental. Manifesta-se em momentos de
profunda viragem histórica. Apesar de não ter normas prévias que o legitimem, o poder
constituinte é condicionado pelas circunstâncias, não sendo inteiramente livre, pois deve
corresponder à comunidade a que se destina.
Segundo John Locke, é um poder supremo. Na ótica de Sieyès, o poder constituinte é capaz de
reconstruir a realidade.
Poder Derivado
Introduz alterações a uma Constituição já existente. É, simultaneamente, poder constituinte (cria
normas constitucionais) e poder constituído, uma vez que está previsto na Constituição (Artigos
284º-289º) e subordina-se às suas normas.
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3- ESTADO
Maquiavel inaugura o termo Estado, que designa a forma das comunidades, podendo ser
repúblicas ou principados. Até então a palavra statos era utilizada para identificar bens fundiários e
a condição dos detentores do poder.
A palavra Estado ganha o seu sentido atual no Renascimento, enquanto a palavra Constituição só
se fixa no seu significado moderno a partir do Iluminismo. O Estado é, portanto, anterior à
Constituição, é um pressuposto da Constituição.
Os elementos constitutivos do Estado são: poder político de comando; que tem como destinatário
os cidadãos nacionais; reunidos num determinado território.
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- “A soberania reside no povo” – aceção que identifica o titular último do poder que se exerce no
seio do Estado.
4- INTRODUÇÃO AO CONSTITUCIONALISMO
Esta expressão, de origem anglo-saxónica, começou recentemente a surgir com mais frequência
no vocabulário jurista da Europa Ocidental. Isto deveu-se às transformações no processo de
integração europeia que levaram ao questionamento da necessidade (ou não) de uma Constituição
europeia. Por outro lado, deveu-se ao surgimento de novas Constituições na Europa de Leste.
Com este movimento, uniformizaram-se os textos constitucionais europeus, que passam a integrar
a mesma linguagem fundamental.
A conversão do texto em norma não é um processo simples. Este processo implica ver para além
dos textos constitucionais, alcançar a raiz. O constitucionalismo nomeia essa raiz, pois designa a
origem da linguagem comum que hoje é partilhada.
SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO
O sentido atribuído ao termo constitucionalismo nem sempre é uniforme.
Pode surgir conforme 2 sentidos:
- (1) certa tradição de pensamento: pertencendo ao domínio das ideias, surge enquanto ideal
constitucionalista, ideia do governo moderado. Fala-se no singular.
- (2) certos instrumentos de técnica e prática jurídica: pertence à linguagem do Direito. Fala-se no
plural, dada a existência de vários constitucionalismos, com diferentes tradições que vivem de
modo diferente o ideal do poder político moderado.
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Segundo esta teoria, numa comunidade política, ao existir diferentes grupos, interesses ou fações,
todos eles com visões conflituantes, as instituições desta comunidade deveriam ser desdenhadas e
organizadas de modo a que nelas pudessem participar e exprimir as pretensões os diversos grupos
da sociedade.
A melhor constituição era aquela que não fosse “pura” (onde se atendia apenas a um grupo), mas
sim que combinasse elementos das várias formas, ainda que o poder fosse mais débil ou ineficaz.
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CONSTITUCIONALISMO BRITÂNICO
A experiência integra um carácter historicista. O ideal de governo moderado e limitado pelo
Direito é concretizado por outros meios que não a soberania popular ou a constituição escrita. A
Constituição foi sendo revelada pela ação do costume e da sua interpretação pelos Tribunais. O
momento fundador britânico não se identifica com os atos, mas com um longo ciclo histórico.
CONSTITUCIONALISMO NORTE-AMERICANO
A revolução americana de 1776 visava obter a independência das 13 colónias face à “mãe-pátria”,
consagrada pela Constituição de 1787, que funda os EUA. Tal só foi possível após a vitória dos
federalistas, que defendiam a agregação dos diferentes estados, contra os antifederalistas, que
consideravam que a qualidade da república não poderia ser concretizada num espaço tão vasto.
A Constituição de 1787 podia considerar-se incompleta por apenas tratar da organização do
exercício dos poderes políticos. Não há declaração de direitos, apenas o Frame of Government.
Em 1791, são adicionados 10 aditamentos à Constituição. São os 10 direitos fundamentais criados
para limitar a ação federalista (Bill of Rights).
A eficácia da Constituição dependeu da atuação da Judicial Review of Law. Consiste na
existência de um poder que cada um dos juízes tem de verificar a constitucionalidade das leis e
um dever de recursar a aplicação de determinada norma se esta padecer de inconstitucionalidade.
CONSTITUCIONALISMO FRANCÊS
Após a Revolução Francesa de 1789, que oficializa a rutura com o Antigo Regime e todas as suas
instituições opostas à modernidade, o grande objetivo era atingir a liberdade e igualdade. Houve
uma inspiração no movimento iluminista, em nomes como Montesquieu e Rosseau e nos
constitucionalismos americano e britânico.
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A transformação exigia ação condutora do Estado, realizada por intermédio da lei e executada
pela administração pública. Exigia também a neutralização do poder judicial, reduzindo os juízes
à “mera boca da lei”. Assim, o constitucionalismo francês fez-se através do primado da lei, não da
Constituição- Legiscentrismo e Estadualismo.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, é o primeiro documento
constitucional formal, onde a condição de cidadão é inerente a todos e se estabelecem os direitos e
deveres face ao poder político. A partir de 1971, passou a ter eficácia normativa e os direitos
passam a possuir força jurídica que impede a entrada de leis que os limitem e afrontem.
5- O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO
CONSTITUCIONAL EM PORTUGAL
A Revolução de 1820, de cunho liberal, veio pôr fim ao absolutismo monárquico em Portugal,
com a implementação da primeira Constituição, de 1822.
O constitucionalismo português foi um processo que se pode dividir em 3 períodos fundamentais.
- Liberal-Monárquico (1822-1910)
- Republicano (1911-1974)
- Democrático (1974- atualmente)
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CONSTITUIÇÃO DE 1822
Inspirada nas Constituições francesas (1791 e 1795) e na Constituição de Cádis (1812), é
considerada bastante radical e progressista. Limita o poder régio, atribuindo soberania ao povo,
introduz o princípio da separação de poderes e consagra os direitos e deveres fundamentais do
cidadão.
CONSTITUIÇÃO DE 1838
De vigência efémera, a constituição setembrista foi uma tentativa de conciliar os interesses
vintistas e cartistas.
CONSTITUIÇÃO DE 1911
Marcou a implementação da República e a queda absoluta da monarquia em Portugal. Instituiu
um regime de base parlamentar e, pela primeira vez, surge um sistema de controlo constitucional.
Operou a laicização do Estado.
CONSTITUIÇÃO DE 1933
Surge na sequência do golpe militar de 1926 e é uma constituição meramente semântica.
Apagam-se as liberdades e o Presidente do Conselho domina a vida política. Filosofia
antiparlamentar, antiliberal, antidemocrática e corporativista.
CONSTITUIÇÃO DE 1976
Surge na sequencia da Revolução do 25 de abril de 1974 e é a mais longa e mais complexa
constituição portuguesa. Assenta na democracia representativa e na liberdade política e possuiu
um elenco de direitos fundamentais mais desenvolvidos.
A CRP é unitextual, já que o Direito constitucional formal está contido num único texto. Não há
leis de emenda fora do próprio texto constitucional, as alterações dão-se na própria constituição.
Não existem outros textos de valor constitucional formal ao lado da CRP. No entanto, a
Constituição está rodeada por outras normas com relevância constitucional material.
É também rígida, uma vez que há uma resistência à derrogação normativa. O objetivo é garantir
que há um pacto entre as forças políticas e as forças sociais.
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O Direito Constitucional pode ser aferido a partir da sua continuidade ou descontinuidade. O
Direito Constitucional é marcado pelos seus momentos de rutura entre textos constitucionais.
Esta análise pode ser feita do ponto de vista formal ou material.
Ponto de vista formal
Diz respeito aos processos de revisão constitucional, regras de concretização.
Existe continuidade quando uma ordem constitucional que sucede uma outra se reconduz jurídica
e politicamente à anterior.
Existe descontinuidade quando a nova ordem jurídico-constitucional entra em rutura com a que
lhe antecede.
Ponto de vista material
Diz respeito ao conteúdo: à legitimidade do poder constituinte e aos princípios políticos
constitucionalmente enformados.
- Quanto à legitimidade do poder:
Há continuidade se o novo poder constituinte se alicerça num título de legitimidade idêntico ao
anterior.
Há descontinuidade se a base de legitimidade for distinta da anterior.
Exemplo: 1822- base democrática; 1826- base monárquica ------- descontinuidade
- Quanto aos princípios políticos:
Existirá continuidade quando não há rutura com os princípios fundamentais estruturantes.
Existirá descontinuidade quando a rutura surgir.
Exemplo: Há descontinuidade, do ponto de vista material, da Constituição de 1976 em relação à
de 1933.
6- PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
FUNDAMENTAIS
Existe um corpo de princípios fundamentais que é, hoje, comum à maioria dos Estados. Na CRP,
estes princípios têm assento nos primeiros 11 artigos da Lei Fundamental e precedem a parte I
dedicada aos Direitos e Deveres Fundamentais. Não fazem parte dos capítulos, não são uma parte,
são a condensação do todo, a tradução do fundamental.
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Os dois primeiros artigos são particularmente ricos em fórmulas que nos remetem para grandes
princípios do constitucionalismo moderno: dignidade da pessoa humana, separação de poderes,
democracia, estado de direito, estado social, principio republicano.
CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO
Grau de Abstração- P>R
Grau de Determinabilidade- R>P
Carácter de Fundamentalidade- P>R
Natureza normogenética- P (dos princípios emergem normas)
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Viver num Estado de Direito significa que há primazia do Direito, aplicado a todos,
inclusivamente ao soberano (titular máximo do poder público), pondo assim um travão ao risco
de uso arbitrário do poder. Implica que o Estado se organize de modo a garantir que não haja, por
parte dos entes públicos, abusos no exercício dos seus poderes.
Num Estado de Direito quem exerce autoridade está obrigado a exercer o poder nos estritos
limites das normas jurídicas existentes e, não de acordo com preferências pessoais. Essas normas
jurídicas têm de ser definidas previamente de modo claro, de maneira a que os cidadãos possam
antever as consequências jurídicas das suas ações.
No domínio dos princípios e requisitos que devem constar num Estado de Direito, a doutrina
constitucional tem estabelecido uma distinção entre elementos formais e elementos materiais, nos
quais se pode analisar o Estado de Direito.
Elementos formais
Dizem respeito à organização do poder. (esqueleto do Estado)
- Separação (e interdependência) de poderes;
- Constitucionalidade das leis;
- Legalidade da administração;
- Independência do poder judicial.
Elementos materiais
Valores com os quais o Estado de Direito se compromete. (objetivos)
- Dignidade da pessoa humana;
- Liberdade;
- Justiça;
- Segurança.
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A separação de poderes é conditio sine qua non para que o poder seja efetivamente limitado e para
que haja controlo do respeito por esses limites no seu exercício. O Estado desempenha diferentes
funções e cada uma delas deve ser atribuída a um certo tipo de instituições ou órgãos estaduais.
Classicamente (Montesquieu), as funções do Estado dividem-se em: legislação, administração e
justiça.
Estas funções exigem órgãos com características funcionalmente adequadas. A tarefa legislativa
exige um órgão plural e aberto, sendo entre nós partilhado pelo Parlamento, Governo e
Assembleias Legislativas Regionais, de acordo com os artigos 112º/1 (atos normativos), 161º/c
(Assembleia da República), 198º (Governo) e 227º/1/a (Assembleias Legislativas Regionais). A tarefa
administrativa exige um órgão hierarquizado e coerente, cabendo ao Governo, às autarquias locais
e outras entidades definidas por lei (artigos 182º, 235º e 266º).
A tarefa judicial exige órgãos independentes, sendo reservada aos tribunais (artigo 202º).
Hoje, o modelo clássico sofre muitas exceções (de que é exemplo a função legislativa), mas o
sentido fundamental mantém-se.
Este princípio de distribuição, entendido como distribuição, integra o núcleo do Estado de Direito
porque este é um Estado de poder limitado e moderado - Se se permitisse a concentração, estar-se-
ia a permitir que ocorresse condições propícias ao mal-uso da força por parte de quem governa.
A CRP não fala apenas em separação, esta ideia é sempre acompanhada pela ideia de
interdependência, de controlo recíproco dos diferentes poderes estaduais. (“Freios e contrapesos”,
vigilância)
Expressões dessa interdependência são, por exemplo, o poder que o Presidente da República
detém, nos termos do artigo 136º, de vetar ou recusar a promulgação dos atos legislativos quer da
Assembleia quer do Governo; ou o poder que o Governo tem de referendar, nos termos do artigo
140º, os atos do Presidente; ou o poder próprio daa Assembleia da República de submeter os
decretos-lei do Governo a apreciação, de acordo com o artigo 169º; ou ainda o poder que a
mesma detém de provocar a demissão do Governo, através da aprovação de uma moção de
censura ou da rejeição de uma moção de confiança, de acordo com o artigo 195º/d)/e). Para além
disso, há uma sujeição a controlo judicial dos poderes públicos.
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A justiça constitucional é um dos mais relevantes instrumentos de controlo do cumprimento e
observância das normas e princípios constitucionais. Tendencialmente conduz à existência de um
tribunal ou órgão jurisdicional (fenómeno recente), distanciando-se de um controlo meramente
político, como acontecia no período do constitucionalismo monárquico, em que era confiado às
Cortes o papel de velar pela “guarda da Constituição).
Quem controla a Constituição?
Modelo norte-americano da judicial review: controlo jurisdicional difuso (aparecido com a
decisão do caso Marbury vs Madison, de Supremo Tribunal Federal- 1803), segundo o qual o
controlo é feito pelos diferentes tribunais.
Modelo austríaco da fiscalização concentrada (uma única instância especializada) da
constitucionalidade dos atos normativos do poder público. Hans
Hans Kelsen teve um papel decisivo nesta matéria, ao defender que confiar o controlo da
constitucionalidade das leis ao parlamento é uma ingenuidade política. Deve ser, portanto, um
órgão independente do Estado a cumprir com essa função.
Em Portugal (modelo híbrido)
Artigo 204º da CRP: todos os tribunais como órgãos de controlo da constitucionalidade.
Artigos 277º a 283º: o Tribunal Constitucional como órgão especificamente criado para garantir o
controlo da constitucionalidade.
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Supremo Tribunal de Justiça e os tribunais judiciais de primeira e segunda instância;
Supremo Tribunal Administrativo e os tribunais administrativos e fiscais;
Outros: Tribunal de Contos, Tribunais Marítimos, etc.
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Também no domínio do direito criminal, o princípio da dignidade da pessoa humana assume
grande importância. Este ramo do direito assenta na dignidade, uma vez que toda a sua construção
gera em torna de uma conceção do homem como ser digno e livre, que deve poder ser
responsabilizado pelas suas condutas (culpa).
O TC tem utilizado em algumas decisões a “fórmula do objeto” para densificar o conceito de
dignidade humana. No entanto, corre-se o risco de deixar nas mãos das entidades judiciais a tarefa
de determinar o núcleo material mínimo da dignidade que se pode sobrepor à conceção que a
pessoa faz da sua própria dignidade. Nesta medida, o consentimento do próprio deve ser um dos
fatores a ponderar.
Segundo Jorge Reis Novais, só haverá violação da dignidade quando a instrumentalização seja
particularmente gravosa, degradante ou humilhante (tortura, maus tratos).
Conclusão
É muito difícil definir o conceito de dignidade. A determinação do conteúdo deste princípio
poderá ser complementada com a consagração do direito ao desenvolvimento da personalidade
(artigo 26º). Há uma relação muito estreita entre a autonomia e a dignidade. Há também uma
ligação incindível entre o princípio da dignidade e da igualdade.
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O princípio da igualdade está intimamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana. É
no artigo 13º que este princípio está consagrado em termos mais abrangentes. É o princípio mais
constante e dos mais antigos nos textos constitucionais e tem experienciado uma evolução
multifacetada:
- Na conceção liberal, o tratamento igual implicaria uma igualdade na aplicação da lei. A lei era
igual para todos, e todos eram iguais perante a lei. No entanto, isto poderia causar tremendas
injustiças. (igualdade meramente formal)
- No Estado social, encontramos uma conceção de igualdade que reclama que situações iguais
devem ser tratadas de forma jurídica geral, ao passo que situações diferentes devem ser tratadas de
forma igualmente diferente, em justa medida. Há a necessidade de ter em consideração as
diferenças reais que existem entre as pessoas. (igualdade material)
A questão que se coloca é a de saber até onde se pode ir ao estabelecer regimes diferenciados, isto
é, como pode o julgador determinar se a diferenciação é legítima ou se se consubstancia numa
violação do princípio da igualdade. Para esta avaliação tem-se entendido que é útil o elenco de
fatores de discriminação presente no nº2 do artigo 13, que exigem um escrutino mais cuidadoso.
Estas são as consideradas “categorias suspeitas”, ou seja, os fatores que historicamente têm sido
motivadores de tratamentos discriminatórios.
Quando não esteja em causa uma diferenciação de tratamento que assenta numa categoria
suspeita, há autores, como Maria Lúcia Amaral, que entendem qua a margem a atribuir ao
legislador deve ser mais ampla, sendo apenas de avaliar se a discriminação em causa é arbitrária
(destituída de fundamento razoável). Por oposição, Jorge Reis Novais, defende que o controlo
levado a cabo pela TC deve ser mais exigente do que um mero controlo do arbítrio, devendo aferir
se o tratamento diferenciado respeita critérios de proporcionalidade ou justa medida.
7.2.4- SEGURANÇA
A atuação do Estado de Direito é uma atuação limitada.
Afirmar que a segurança constitui um fim do Estado significa dizer que a atuação dos poderes
públicos deve ser sempre uma atuação antevisível, calculável e mensurável. As pessoas devem
poder saber com o que contam, o comportamento dos poderes públicos deve ser fiável.
O princípio da segurança, assim entendido, decorre logicamente dos outros elementos materiais
que integram a categoria do Estado de Direito.
Este princípio desdobra-se numa série de outros princípios.
Segurança e Poder executivo
Proteção da estabilidade da vida das pessoas. Os poderes públicos abstêm-se em algumas ações e
há uma limitação tendencial da irrevogalidade dos atos constitutivos de direitos por parte da
Administração Pública.
Segurança e Poder judicial
Obrigatoriedade de formação de situação litigiosa: trânsito em julgado de sentenças- decisão
judicial já não é passível de recurso, torna-se definitiva. Caso julgado- estabilização da decisão na
ordem jurídica. Tendencial intangibilidade do caso julgado.
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- Estes 4 pressupostos que densificam o princípio da proteção da confiança legítima têm sido
também aplicados aos casos de retrospetividade.
8- O PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO
Há uma relação muito estreita entre o Estado de Direito e democracia. O que legitima, em Estado
de Direito, o exercício do poder é precisamente o facto de este resultar de uma escolha que é feita
pelo povo, titular do poder soberano. Diz o nº1 do artigo 3º da CRP que “a soberania, una e
indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituição”. Os direitos
fundamentais só se realizam cabalmente em democracia.
Os regimes democráticos funcionam segundo uma regra da maioria, mas as decisões maioritárias
não são completamente livres (estão limitadas pelo Estado de Direito e pelos os direitos
fundamentais). O princípio do Estado de Direito e os direitos fundamentais funcionam como
garantes das minorias (artigo 114º/2).
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Este princípio democrático manifesta-se na nossa Constituição através da consagração do direito
de sufrágio/ voto. Diz o nº1 do artigo 10º (e 113º) que “o povo exerce o poder político através do
sufrágio universal, igual, direito, secreto e periódico”.
Retiramos daqui que o nosso sistema é essencialmente de democracia representativa, na qual
escolhemos as pessoas que irão exercer a soberania em nosso nome. Apesar disso, a nossa
Constituição institui alguns mecanismos de democracia semi-direta, como é o caso do referendo,
previsto no artigo 115º, a iniciativa dos cidadãos para a convocação de referendos e ainda a
iniciativa legislativa popular, nos termos do artigo 167º. Cria-se, deste modo, uma maior
proximidade entre os cidadãos e os processos de tomada de decisões.
9- O PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE
Para além da democracia política, o artigo 2º da CRP faz ainda referência à realização de uma
democracia económica, social e cultural como objeto fundamental a prosseguir pelos poderes
públicos. Isto implica que o Estado deva procurar atenuar as diferenças reais entre as pessoas, não
deixando os cidadãos desprotegidos. (Justiça social)
Há uma estreita ligação desta dimensão social com o princípio da dignidade da pessoa humana
que é o fundamento constitucional de todos os direitos fundamentais. É também do princípio da
dignidade da pessoa humana que se tem feito derivar o direito a um mínimo para existência
condigna.
O princípio da socialidade está também intimamente relacionado com o princípio da igualdade,
que implica que não possam deixar de ser tidas em conta as diferenças reais entre as pessoas,
sendo exigível que se trate diferentemente.
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11 - E D A A B E RT U R A A O D I R E I T O
INTERNACIONAL
A abertura ao Direito Internacional está consagrada nos artigos 7º, 8º e 16º.
Nos últimos dias do seu mandato como 2º Presidente dos EUA, John Adams nomeou 42 juízes
para os tribunais distritais de Columbia. Contudo, devido ao atraso de confirmação da nomeação
dos juízes por parte do Senado, o processo de nomeação só ficaria concluído no início do mandato
do Presidente seguinte (Thomas Jefferson), que iria considerar tais nomeações inválidas.
Porém, Marbury, um dos juízes nomeados, não se resignou e requereu ao Supremo Tribunal que
emitisse uma intimação (Writ of Mandamus) para obrigar o secretário de Estado- Madison- a
concluir o processo.
Contudo, o Tribunal a declarar-se-ia incompetente com o fundamento em que a norma legal, que
o habilitava a decidir o caso em primeira instância, violava a distribuição de competências entre o
Supremo Tribunal e os tribunais inferiores. Esta interpretação da norma não iria vencer, mas, em
contrapartida, a argumentação acessória produzida por John Marshall, a favor do reconhecimento
da competência dos juízes para fiscalizar a constitucionalidade das leis iria prevalecer sempre.
Uma análise mais detalhada deste caso acaba por revelar que esta forma de controlo judicial da
constitucionalidade (judicial review) consegue evitar, em parte, a acusação de que o poder judicial
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estaria a usurpar as atribuições próprias do poder legislativo. De facto, o Supremo Tribunal
limitou-se a decidir o conflito que as partes lhe submeteram, sendo que não revogou nem criou
qualquer lei. O próprio tribunal não ficou impedido de interpretar a lei de forma diversa da
anterior, se as circunstâncias do novo caso justificassem a adoção de um outro entendimento.
Assim, o poder de controlo da constitucionalidade pelos juízes fica circunscrito quanto à sua
validade e aos seus efeitos, à resolução de um caso concreto que lhe seja submetido.
Não há, portanto, uma violação da separação de poderes, pelo que a “judicial review” passa a ser
exercida por qualquer tribunal e a decisão afeta exclusivamente as partes em litigio.
IMPACTO EUROPEU
Na Inglaterra, a inexistência de uma constituição escrita torna irrelevante o tema da fiscalização
judicial das leis. Desde a Revolução Gloriosa que o Parlamento detém a suprema autoridade em
matéria constitucional. Contudo, esta sujeição dos tribunais ao parlamento não impediu a
consagração do estatuto de independência dos juízes, em 1701.
Na Europa, reinava o primado da lei e não da constituição, rejeitando-se i papel dos tribunais na
fiscalização da constitucionalidade. Hans Kelsen (austríaco) confiava que o controlo da
constitucionalidade das leis feito pelo parlamento era uma ingenuidade política (século XX).
Carl Schmitt discordava de Kelsen, defendendo que era impossível realizar um Tribunal
Constitucional, na medida, em que este seria sempre um órgão político e não um tribunal.
De 1882 a 1911, a fiscalização esteve a cargo das Cortes, sendo puramente política.
A Constituição de 1911 foi a primeira Constituição portuguesa a prever a competência dos
tribunais para apreciar a constitucionalidade das normas jurídicas, segundo o modelo norte-
americano. Mais tarde, em 1976, o controlo da constitucionalidade é entregue a 3 órgãos
(tribunais, Conselho da Revolução e Comissão Constitucional).
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Só com a revisão constitucional de 1982 é que o sistema de controlo da constitucionalidade, tal
como nós o conhecemos hoje, se desenhou, tendo desaparecido o Conselho da Revolução e tendo
sido criado o Tribunal Constitucional que assume poder de decisão em matéria jurídico-
constitucional.
Há a junção dos dois modelos- sistema misto- difuso na base (artigo 204º) e concentrado no topo
(artigo 221º). Todos os juízes têm o poder-dever de fiscalizar a constitucionalidade das normas
jurídicas aplicáveis aos casos que tiverem de julgar e ao Tribunal Constitucional cabe a última
palavra em matéria de constitucionalidade.
•Fiscalização concreta
•Fiscalização Abstrata
Referimo-nos à fiscalização abstrata porque tem por base o controlo de uma norma,
independentemente da sua aplicação a um caso concreto.
No que se refere à fiscalização abstrata por ação, podemos distinguir dois tipos de controlo:
fiscalização abstrata preventiva e fiscalização abstrata sucessiva.
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O efeito retroativo não se reporta ao momento de entrada em vigor da norma, mas sim ao
momento de entrada em vigor do novo quadro constitucional.
Artigo 282º/3
Ressalva os casos julgados do efeito retroativo e invalidatório, exceto se nos casos de matéria
sancionatória a reapreciação seja favorável ao arguido. (Relacionado com a segurança jurídica)
Artigo 282º/4
Fixação de alcance mais restrito por parte do TC.
Pode ocorrer em situações de segurança jurídica, razões de equidade ou de interesse público sujo
relevo excecional o justificar.
Na inconstitucionalidade por omissão, o Tribunal Constitucional vai aferir se, perante uma
exigência constitucional concreta e determinada de legislar, o legislador incumpriu essa exigência
ao não o fazer. Tal controlo encontra-se previsto no artigo 283º da CRP.
2º Semestre
1- TIPOLOGIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
O PRINCÍPIO DA UNIDADE HIERÁRQUICO-NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO
O princípio da unidade hierárquico-normativa dita que todas as normas contidas numa constituição
formal têm igual dignidade constitucional. Além disso, dirige-se aos juízes e a todas as entidades/
autoridades encarregadas de aplicar regras no sentido de as lerem e compreenderem, na medida do
possível, como se fossem de um só autor, exprimindo uma conceção correta do direito e da justiça.
Desta forma, o princípio da unidade da constituição é uma exigência da coerência narrativa do
sistema jurídico.
Dentro da Constituição, todas as normas devem ter o mesmo valor hierárquico, deve ser tudo visto
como um bloco, não existindo artigos de primeira e artigos de segunda.
Convém, antes de mais, clarificar quais as matérias que devem fazer parte do acervo da
Constituição. Existem quatro núcleos essenciais que devem estar presentes:
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• Princípios Fundamentais
Princípio do Estado de Direito, Princípio da abertura ao Direito Internacional e da UE,
Princípio Democrático, Princípio Republicano, Princípio do Estado Unitário
• Direitos Fundamentais
Direitos, liberdades e garantias Direitos económicos, sociais e culturais
Uma Constituição normalmente contém estes quatro elementos fundamentais, porém, eles podem
estar espalhados no ordenamento jurídico. Estas matérias não são um elenco taxativo, uma vez que
está na mão do poder político democrático o poder de moldar a Constituição, e um catálogo
cristalizado seria a limitação do direito da geração futura pela ação da geração atual.
- (1) Requisito orgânico: Ora podem os poderes do Estado ser de 2 espécies: poder constituinte
(poder/aptidão de criar normas constitucionais; de criar uma Constituição e normas com dignidade
superior – normalmente, é este poder que vai fundar um determinado ordenamento jurídico; surge
em épocas de rutura) e os poderes constituídos (criados pelo poder constituinte: poder legislativo;
judicial e administrativo).
Quando falamos em normas formalmente constitucionais, as mesmas são criadas pelo poder
constituinte (não é o legislador ordinário que procede à sua criação); é antes o legislador
constituinte. O poder constituinte está nas mãos da Assembleia Constituinte, criada em 1974. O
poder legislativo ordinário está nas mãos da AR; Governo e da Assembleia Legislativa Regional.
Uma última nota prende-se com o facto do poder constituinte, a criação de normas constitucionais,
poder intervir de 2 modos: para fazer a Constituição originariamente (poder constituinte originário);
ou para introduzir alterações na Constituição (poder constituinte derivado).
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- (3): Todas estas normas devem possuir uma intenção normativa superior – vocação de
superioridade relativamente às outras normas.
Normas que não são formalmente constitucionais, mas que regulam estruturas fundamentais
da sociedade e do Estado - Normas que estando fora da Constituição se encontram a gravitar pelo
ordenamento jurídico, mas possuem dignidade constitucional porque disciplinam estruturas
fundamentais da sociedade e do Estado.
Autores como Kelsen, normativista, até referem uma pirâmide normativa em que estaria no topo a
Constituição, depois as leis e por fim os regulamentos. A partir da segunda guerra mundial, nos
julgamentos de Nuremberga os acusados defenderam-se dizendo que estavam a cumprir ordens
válidas no tempo e lugar, com base nas leis e Constituição do Estado, mas há autores que dizem que
acima da Constituição existem uma ordem de valores pré-constitucional e supraconstitucional,
como a dignidade humana, a vida, igualdade, etc., ou seja, valores que existem mesmo que a
Constituição não os consagre. Os jusnaturalistas distinguem a constituição formal e a constituição
material.
Assim, existem normas constitucionais inconstitucionais apenas por dois caminhos: dentro da
Constituição haver normas de primeira e segunda ou normas constitucionais escritas a violar a
ordem de valores. Contudo, é difícil definir que valores são estes.
- Normas positivadas
Estão reduzidas a escrito num texto normativo, ou na Constituição formal ou na Constituição
material.
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Clara Simões
Ex: art.o 13o - Princípio da Igualdade.
Ex: Princípio da Proibição do Retrocesso Social – Imagine-se que o salário mínimo nacional atinge
os 600€. Poderá o legislador emanar uma norma ordinária que o baixe? Em visão socializante, e
porque vivemos num Estado Social (art.o 63o), a partir do momento em que o Estado chega a um
valor em certas prestações sociais, não pode retroceder. Porém, em visão liberal, o Estado só
concede prestações se tiver capacidade para tal. É um assunto polémico visto que este princípio não
está positivado em lei.
Neste âmbito, a CRP expressa o caráter aberto às normas não positivadas, presente no art.o 277o/1,
sendo que o disposto na Constituição se refere à Constituição propriamente dita, positivada e
formal, e os princípios nela consagrados podem não estar escritos, mas retiram-se do texto
constitucional.
Ex: art.o 65o - Habitação e Urbanismo – É preciso que o legislador, a administração e tribunais
ajam para que esta norma seja concretizada. São necessárias leis para que as pessoas possam aceder
a este direito. É uma norma proclamatória que não basta por si só.
REGRAS E PRINCÍPIOS
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Clara Simões
normas;
- Critério da positivação: Positivar neste âmbito significa formalizar em escrito. Conforme este
critério, os princípios, como, por natureza se revelam mais abstratos, especulativos, não são normas
positivadas.
Pelo contrário, as regras, por lidarem com matérias mais concretas, tangíveis, são positivadas,
tendencialmente.
- Critério da proximidade à ideia de Direito: Qualquer ordenamento jurídico tem uma espécie
de código genético, valorativo, de valores fundamentais que o distinguem dos outros. O conjunto
desses mesmos valores fundamentais, designados de bens jurídicos (dignidade da pessoa
humana, democracia, igualdade, justiça social, etc.) traduz a chamada ideia de Direito. Certas
normas estão mais próximas da ideia de Direito do que outras – os princípios dizem respeito às
normas constitucionais mais próximas das dimensões essenciais valorativas do ordenamento.
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São princípios historicamente objetivados (resultam de uma longa evolução e sedimentação
histórica) e progressivamente introduzidos na consciência jurídica (aceites por todos) e que
encontram uma receção expressa ou implícita no texto constitucional.
Têm uma função negativa particularmente relevante nos “casos limites”. Têm também uma função
positiva, “informando” materialmente os atos dos poderes públicos.
Princípios que impõem, determinam, ordenam, fins e tarefas aos órgãos do Estado. Não existe um
destinatário individualizado e o conteúdo da ordem também é vago e genérico. Ex: art.o 9o CRP
Estes princípios designam-se, muitas vezes, por “preceitos definidores dos fins do Estado”,
“princípios diretivos fundamentais” ou “normas programáticas, definidoras de fins ou tarefas”.
PRINCÍPIOS GARANTIA
Traduzem-se no estabelecimento direto de garantias para os cidadãos e daí que os autores lhes
chamem “princípios em forma de norma jurídica”.
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- Regras de competência
São aquelas nas quais se reconhecem certas atribuições a determinados órgãos constitucionais ou
são estabelecidas esferas de competência entre os vários órgãos constitucionais. Normas deste tipo
encontram-se, sobretudo, na Parte III, relativa à organização do poder político. Ex. art.o 164o.
-Regras de procedimento
Determinam as etapas/fases para cumprir de determinados procedimentos e processos. Ex:
Procedimento Legislativo = art.o 167o | art.o 168o | art.o 136o | art.o 278o | art.o 119o
REGRAS JURÍDICO-MATERIAIS
São normas com conteúdo, que dizem respeito a determinados domínios substanciais/materiais.
- Direitos Fundamentais
A CRP prevê duas espécies de direitos fundamentais: Direitos, Liberdades e Garantias (art.24.o e
ss.), direitos tendencialmente negativos (não exigem do Estado nenhuma atuação); Direitos
Económicos, Sociais e Culturais (art.58.o e ss.), que são direitos tendencialmente positivos (exigem
a intervenção do Estado).
As regras de direitos fundamentais reconhecem posições jurídicas subjetivas protegidas pela
Constituição.
-Regras impositivas
São regras de natureza concreta e impõem fins e tarefas aos órgãos do Estado. Porém, ao contrário
dos princípios impositivos, há a individualização do destinatário e conteúdo concreto.
Pela natureza concreta das regras impositivas retira-se uma incumbência concreta com destinatário
específico. Assim, é possível a inconstitucionalidade por omissão. Ex: art.o 39o/2 da CRP – a lei é
direcionada à AR.
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poder político e a organização da sociedade segundo o Direito. Pressupõe a subordinação ao
mesmo, a normas jurídicas.
A ideia de ordenação através do direito implica a conexão de dimensões objetivas (direito objetivo)
com dimensões subjetivas (direitos subjetivos). As regras de direito estabelecem padrões de conduta
ou comportamentos (direito objetivo), mas garantem também uma distanciação e diferenciação do
indivíduo através do direito perante os poderes públicos, assegurando-lhes um estatuto subjetivo
essencialmente constituído pelo catálogo de direitos, liberdades e garantias pessoais.
4.1.1.1- Constitucionalidade
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• Inconstitucionalidade formal: quando não é observada a forma constitucionalmente prescrita
para a emanação de um certo ato.
Muitas vezes, há coincidência entre a orgânica e a formal, já que se um órgão não tem competência
a forma também não é a devida. Mas existem outros casos, em que há exigência de uma
determinada lei e essa exigência não é cumprida (inconstitucionalidade formal).
• Inconstitucionalidade material.
1- O princípio da divisão como forma e meio de limite do poder assegura uma medida jurídica ao
poder do Estado e serve igualmente para garantir e proteger a esfera jurídico-subjetiva dos
indivíduos e evitar a concentração de poder. Funciona como limite, barreira.
2- O princípio da separação como qualidade de princípio positivo assegura uma justa e adequada
ordenação das funções do Estado.
Ex: Os funcionários administrativos estão sujeitos à lei e à hierarquia administrativa, mas existe um
limite ao abrigo do art.o 271o/3.
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Poder Judicial
É o poder de resolução de litígios e de questões jurídicas, de natureza individual e concreta, estando
nas mãos dos tribunais.
Administração Pública ≠ Juiz, porque a CRP exige que um tribunal preencha 2 requisitos
cumulativos:
-A independência objetiva (art.o 203o): Os tribunais e juízes devem obediência apenas à lei, não
estando sujeitos a hierarquias ou orientações políticas.
-A independência subjetiva (art.o 216o): Os tribunais e juízes têm garantias de inamovibilidade
(insusceptibilidade de serem transferidos em consequência das suas decisões) e de
irresponsabilidade (não podem ser responsáveis pelas decisões).
Os tribunais têm de ter sempre a última palavra acerca da resolução de um litígio – princípio da
reserva da função jurisdicional (art.o 202o/2). Uma norma não pode impedir o acesso a tribunal.
O princípio de separação de poderes, no art.o 111o, não nos diz apenas que os poderes estão
separados, pois também devem ser interdependentes, isto é, nenhum deles pode ter uma grande
prevalência relativamente aos outros.
Num Estado de Direito equilibrado, os poderes devem estar interdependentes, devem controlar-se
uns aos outros e balancear-se, proporcionalizar-se uns aos outros = Checks and Balances.
Ex: art.o 136o - Quando o PR recebe um diploma da AR, este pode promulgá-lo, vetá-lo ou enviá-lo
para o TC. Se o sistema nada mais dissesse, caso veto do PR, este quase que teria um poder de
bloqueio. Mas se o diploma, ao voltar para a AR, for votado com maioria qualificada, este segue em
frente: art.o 279o | art.o 163o, e) | art.o 169o.
De uma forma genérica, este princípio aponta para a vinculação jurídico-constitucional do poder
executivo.
Esta ideia de que a AP tem o seu poder sempre limitado desdobra-se em 3 importantes exigências:
- Reserva de lei
Afirma que as restrições aos direitos, liberdades e garantias só podem ser feitas por lei ou mediante
autorização desta. Além disso, num Estado de Direito, as matérias fundamentais do ordenamento
jurídico são reservadas aos órgãos legislativos, principalmente à Assembleia da República, o órgão
legiferante primário e democraticamente eleito pelo povo.
O poder executivo só pode executar, densificar e concretizar estas matérias fundamentais, ligadas,
normalmente, aos crimes e impostos, por exemplo.
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- Reservadas ao Governo (art.o 198o/2)
- Todas as outras matérias concorrentes, em que tanto a Assembleia como o Governo podem
disciplinar livremente (Lei e Decreto-lei têm o mesmo valor nestas matérias.)
Este princípio aponta para duas ideias fundamentais: a exigência de clareza das normas legais, dado
que de uma lei obscura ou contraditória pode não ser possível obter um sentido inequívoco capaz de
alicerçar uma solução jurídica para o problema concreto; exigência de densidade suficiente na
regulamentação legal, dado que um ato normativo que não contenha uma disciplina suficientemente
concreta não oferece uma medida jurídica capaz de, nomeadamente, alicerçar posições
juridicamente protegidas dos cidadãos.
- Proibição da retroatividade
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No âmbito destes princípios da proteção e segurança jurídica, é rejeitada a retroatividade, no
entanto, na CRP não existe nenhuma norma genérica que proíba de modo direto e expresso a
eficácia retroativa das leis. Existem sim normas específicas sobre determinadas matérias pontuais,
que proíbem a retroatividade em certos casos – normas penais desfavoráveis para o arguido (art.o
29o/1/4); normas fiscais (art.o 103o/3); normas restritivas dos DLG (art.o 18o/3). Fora destas 3
situações, define-se que apenas uma retroatividade intolerável, que afete de forma inadmissível e
arbitrária os direitos e expetativas legitimamente fundadas dos cidadãos, viola o princípio da
proteção da confiança, ínsito na ideia de Estado de Direito Democrático. Conforme o Ac TC
287/90, este grau de inconstitucionalidade, intolerabilidade é aferido mediante 2 critérios: quando se
tratar de uma alteração da ordem jurídica com a qual, razoavelmente, os destinatários não possam
contar; havendo essa retroatividade, se a mesma não existir no sentido de salvaguardar direitos ou
interesses constitucionalmente protegidos superiores ou prevalecentes.
Os atos legislativos e outros atos normativos não podem produzir quaisquer efeitos jurídicos quando
não estejam ainda em vigor nos termos constitucional e legalmente prescritos.
A segurança jurídica no âmbito dos atos jurisdicionais aponta para o caso julgado.
O instituto do caso julgado assenta na estabilidade definitiva das decisões judiciais, quer porque
está excluída a possibilidade de recurso ou a reapreciação de questões já decididas e incidentes
sobre a relação processual dentro do mesmo processo; quer porque a relação material convertida é
decidida em termos definitivos e irretratáveis, impondo-se a todos os tribunais e a todas as
autoridades.
Embora este princípio da intangibilidade do caso julgado não esteja previsto expressamente na
Constituição, o mesmo decorre de vários preceitos (art.o 29o/4, 282o/3 da CRP).
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A igualdade, de forma a ser verdadeiramente concretizada desdobra-se em 2 subprincípios,
exigências, demandas: Igualdade em sentido Horizontal (formal), que se consubstancia em tratar
igual o que é igual, devendo o ordenamento jurídico regular de modo igual situações fácticas
essencialmente iguais, os indivíduos que se encontram na mesma situação de facto devem ter o
mesmo tratamento jurídico; Igualdade em sentido vertical (material), segundo a qual o ordenamento
jurídico deve dispensar tratamento desigual a situações fácticas essencialmente desiguais.
Compreende-se aqui que a verdadeira igualdade pressupõe sempre desigualdade.
Ora relativamente à segunda exigência, nem sempre se revela tarefa simples realizar determinadas
distinções de facto (nomeadamente através do art.o 13o/2). É no legislador que, ao conformar as leis
(dar conteúdo), reside a tarefa de atender a este princípio e estabelecer aquilo que deve ser igual e
aquilo que é objeto de diferenciações (liberdade de conformação das normas).
Assim, exige-se do legislador um dever positivo, já que tem de fornecer material bastante para
fundamentar a diferenciação de tratamento, mas também um dever negativo, mediante o qual fica
proibida a discriminação infundada, o arbítrio.
4.1.2.2- Proporcionalidade
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Num Estado de Direito, do ponto de vista material, há uma dimensão intransponível que é a
Dignidade da Pessoa Humana. Todos os atos jurídicos, políticos, económicos, sociais têm como
referente a pessoa humana.
Torna-se perigoso considerá-la um princípio porque isso implica que possa ser restringida face a
outros. É o princípio dos princípios.
O seu conteúdo essencial conduz à proibição da redução da pessoa a objeto e a degradação da
pessoa humana.
Para além disso, existem 3 condições cumulativas que um ordenamento jurídico tem de assegurar
para que haja a dignidade da pessoa humana:
• Autodeterminação do seu próprio destino – A pessoa poder decidir através da sua própria
vontade, livre, esclarecida e ponderada, o seu próprio destino.
• Direito à sua própria identidade e imagem – A pessoa deve ser vista pela sua identidade
própria, imagem e figura.
- Inata (originária) – Nasce iminentemente com a pessoa, sendo que a CRP se limita a reconhecer
essa dignidade, que permanece blindada.
Importa reforçar no âmbito deste princípio, que não há disponibilidade do poder legislativo
ordinário alterar as regras democráticas – o princípio democrático é um princípio impositivo (art.o
9o, b), c); 80o, a); 109o; art.o 114o/2 CRP).
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4.2.1- TIPOS DE DEMOCRACIA
Ora, a Democracia efetiva-se através de várias formas. Por normas são distinguidos três tipos:
Democracia Direta
No contexto de Democracia Direta, as decisões são tomadas diretamente pelos destinatários das
normas jurídicas, sem qualquer espécie de intermediação. / As decisões são tomadas pelos seus
próprios destinatários sem necessidade de representantes. É o próprio povo quem, ele próprio,
aprova diretamente as normas que sobre si vão incidir – não existem representantes. Ora nestes
termos, a Democracia Direta apenas é exequível em circunscrições geográficas reduzidas.
Em Portugal essa possibilidade existe apenas em teoria e em circunstâncias excecionais (art.o 245o/
2 da CRP).
Procedimento democrático que consiste em facultar ao povo a iniciativa de uma proposta tendente à
adoção de uma norma constitucional ou legislativa. É o povo que dá a propulsão ao processo
legislativo.
Através da iniciativa popular os cidadãos podem propor à assembleia legislativa a feitura de uma lei
sobre determinada matéria ou apresentar um projeto lei completamente redigido (art.o 167o, 115o/2,
240o/2 da CRP).
O referendo é um regime jurídico específico, tratando-se de uma consulta popular alargada sobre
uma determinada norma jurídica em sentido amplo. Não é uma mera consulta opinativa, pois não
pode haver referendo sobre qualquer questão.
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Podemos ter um sentido decisório positivo – Se o povo chamado em referendo votou sim
maioritariamente, a AR tem de aprovar o ato legislativo ou a convenção internacional com aquele
sentido de sim.
Mas também temos um sentido decisório negativo – Se o povo responder não, a AR não aprovará
aquela norma. Ao abrigo do disposto no art.o 115o/10, se a resposta for negativa, há uma espécie de
congelamento que leva a que o povo não seja sempre chamado ao referendo.
O veto é um instrumento político que permite aos cidadãos exigir que uma determinada lei seja
submetida a voto popular. Se esta votação conduzir à rejeição do ato legislativo este deverá ser
considerado como nunca tendo existido no ordenamento jurídico. Não está previsto na CRP
Democracia Representativa
Ora surge neste sentido, o voto – como direito estruturante do princípio democrático (art.49.o/1), e
como dever cívico (art.49.o/2).
Para que o mesmo seja constitucionalmente válido tem de preencher determinadas características,
previstas no art.o 10o:
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-Universal
Pressupõe o alargamento do direito de voto a todos os cidadãos – todos podem votar e todos podem
ser eleitos. A Constituição proíbe o sufrágio restrito, qualquer que seja o seu fundamento (sexo,
raça, rendimento, instrução), com exceção dos cidadãos sem capacidade eleitoral.
Este princípio da universalidade veda assim a exclusão injustificada dos cidadãos da participação
eleitoral, porém, comporta o mesmo restrições tendencialmente assentes: na idade (apenas votam os
indivíduos com mais de 18 anos de idade) e na nacionalidade (apenas votam indivíduos com
cidadania portuguesa).
- Livre
Deve ser garantido ao eleitor o exercício do direito de voto sem qualquer coação física ou
psicológica de entidades públicas ou de entidades privadas. A liberdade de voto abrange assim a
liberdade de votar ou não votar, e a liberdade no votar.
- Igual
Todos os votos têm de ter uma eficácia jurídica igual – o mesmo peso; o mesmo valor de resultado.
- Direto
O voto resulta imediatamente na manifestação da vontade do eleitor, sem intervenção de qualquer
vontade alheia. A imediaticidade do sufrágio garante ao cidadão ativo a primeira e última palavra.
No sufrágio indireto, os eleitores limitam-se a eleger um colégio de delegados eleitorais que por sua
vez escolherão os candidatos para os diversos órgãos do poder político.
-Secreto
O cidadão eleitor guarda para si a sua decisão de voto. O voto secreto pressupõe não só a
pessoalidade do voto; como a proibição de “sinalização” do mesmo. O princípio do voto secreto
pressupõe além disto a impossibilidade de reconstituir posteriormente o sentido do voto.
-Periódico
Deve o sufrágio ser periódico (art.113.o/1) e permitir a renovação igualmente periódica dos cargos
políticos (art.117.o). Impede-se com isto a vitaliciedade dos mandatos. A duração do período de
exercício dos cargos deve ser previamente fixada no texto constitucional; a renovação dos mesmos
traduz-se em eleições simultâneas ou sucessivas para os diferentes órgãos de soberania.
Modos de representatividade
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• Igualdade de todos perante a lei (art.o 13o/2): este princípio constitui igualmente uma
marca da República (abolição de privilégios; regalias; distinções; etc.). Um regime onde
existam privilégios, imunidades, distinções, regalias generalizadas não é visto com um
regime republicano.
• Laicidade (art.o 41o/4, 288o/c)): o Estado laico pressupõe a absoluta separação com as
Igrejas (opõe-se ao Estado confessional). Esta matéria constitui um dos limites da revisão
constitucional (não é passível de ser revista). Não proíbe discriminações, desde que
fundadas.
• Os cargos públicos num Estado Republicano estão sempre sujeitos a três características
fundamentais: eletividade (art.o 113o) – a designação dos titulares de cargos eletivos é
através de sufrágio; renovação (art.o 118o) – os cargos têm de ser renováveis – ninguém
pode exercer a título vitalício ou hereditário qualquer cargo político; responsabilidade –
política (117o), civil (117o), criminal (117o), disciplinar (271o), financeira (214o).
• Dimensão deôntica (deveres fundamentais – art.o 15o) – saúde (64o), ambiente (66o),
património (78o), impostos (103o), defesa (276o).
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Clara Simões
Estando previsto no art.6.o da CRP, o princípio da Unidade do Estado trata-se de um princípio
estruturante do Estado.
Podemos caracterizar como Estado Unitário aquele que, num determinado território e para a
população que nele vive, tem um único suporte para a estatalidade, constitui uma única ordem
constitucional. Isto pressupõe: um único nível de decisão soberana; um único sistema de órgãos
constitucionais; uma única nacionalidade.
Ora, este caráter unitário do Estado, não sendo absoluto, é compatível com a autonomia regional e a
descentralização territorial:
Conforme o art.2.o da CRP, a República Portuguesa diz respeito a um Estado Democrático baseado
na soberania popular e na organização política democrática.
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O exercício do poder é efetuado, não de modo absoluto por qualquer entidade, mas através de
órgãos de soberania (110o/1) – Presidente da República (120o e ss.), Assembleia da República
(147o e ss.), Governo (182o e ss.) e Tribunais (202o e ss.).
5.2- COMPETÊNCIAS
Por competência entender-se-á o poder de ação e de atuação atribuído aos vários órgãos e agentes
constitucionais com o fim de prosseguirem as tarefas de que são constitucional ou legalmente
incumbidos.
A competência envolve, por conseguinte, a atribuição de determinadas tarefas bem como os meios
de ação (poderes) necessários para a sua prossecução. Além disso, a competência delimita o quadro
jurídico de atuação de uma unidade organizatória relativamente a outra.
No último caso (competências decisórias), o órgão constitucional decide, aprova determinado ato,
matéria, formulando atos jurídicos vinculativos (Ex. art.o 198o, 161o, a), b), c)).
DC – Carolina Roriz
O Governo tem 2 tipos de competências – legislativas (art.o 198o) ao abrigo das quais faz decretos-
lei, e competências administrativas (art.o 199o, c)) ao abrigo das quais faz regulamentos (decretos-
regulamentares – art.o 112o/6).
Clara Simões
As competências concorrentes são atribuídas a título igual a vários órgãos (nas concorrentes quer o
Governo, quer a AR podem disciplinar e a lei e decreto-lei possuem igual valor, querendo isto dizer
que o ato posterior afasta o ato anterior).
5.4.1.1- Eleição
- Capacidade eleitoral
Capacidade eleitoral ativa (quem pode eleger) – Conforme o art.o 121o/1, o PR é eleito por sufrágio
direto, universal e secreto dos cidadãos portugueses eleitores recenseados no território nacional, ou
residentes no estrangeiro nos termos do n.o 2.
Capacidade eleitoral passiva (suscetibilidade de ser eleito) – Conforme o art.o 122o, são elegíveis
os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos.
Clara Simões
validamente expressos; se não for o caso, até 20 dias depois, deverá proceder-se a segundo sufrágio
(nesta segunda volta apenas concorrerão os dois candidatos mais votados).
Posse e Juramento (art.o 127o)
• Presidir ao Conselho de Estado (133o, a)). Ora o Conselho de Estado, conforme o art.141o e
ss. corresponde ao órgão político de consulta do PR;
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2- Veto Político (não com concorda com o conteúdo do diploma) – o Presidente tem o direito de
vetar sem estar dependente da pronúncia de qualquer outro órgão.
*No caso de o diploma ter sido emanado da AR (20 dias para promulgar/vetar) [136o/1]
*No caso de o diploma ter sido emanado do Governo (40 dias para promulgar/vetar) [136o/4]
3- Pode ainda o PR requerer ao TC a fiscalização preventiva de qualquer norma que lhe tenha sido
apresentada, no prazo de 8 dias a partir da data de receção do diploma (art.278.o/1/3).
*No caso do TC se pronunciar pela inconstitucionalidade, a Constituição impõe ao Presidente a
obrigação de veto – o diploma deve ser vetado pelo PR ou RR (veto por inconstitucionalidade), e
devolvido ao órgão que o tiver aprovado (279o/1).
Superação do veto:
Veto político superado por confirmação: Quando o PR veta politicamente ou por
inconstitucionalidade existe a possibilidade de o órgão que o aprovou superar o veto do Presidente.
Conforme o art.o 136o/2, se a AR confirmar o voto por maioria absoluta dos Deputados em
efetividade de funções (116), o PR deverá promulgar o diploma.
No n.o 3, a Constituição prevê que será exigida maioria qualificada (maioria de dois terços dos
Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efetividade de
funções) para a confirmação dos decretos que revistam a forma de lei orgânica, bem como dos que
respeitarem as matérias previstas no a), b) e c). Esta forma de superação é apenas válida para a
Assembleia da República.]
Veto por inconstitucionalidade superado por expurgação: O órgão do qual o diploma foi
emanado pode expurgar a norma julgada inconstitucional nos termos do art.o 279o/2. De acordo
com o n.o 3 o diploma pode ainda ser reformulado.
- Controlo da constitucionalidade
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pessoas, independentemente do conceito restrito de cidadãos.
5.4.2.1- Composição
A Assembleia da República tem o mínimo de 180 e máximo de 230 Deputados. Os mesmos
representam todo o país (art.o 152o/2).
-Capacidade Eleitoral
Capacidade Eleitoral Ativa (Cidadãos portugueses eleitores)
Capacidade Eleitoral Passiva (Cidadãos portugueses eleitores, tendo em conta as restrições que a lei
eleitoral estabelecer por virtude de incompatibilidades locais ou de exercício de certos cargos – art.o
150o)
São apresentadas pelos partidos políticos, isoladamente ou em coligação, podendo as listas integrar
cidadãos não inscritos nos respetivos partidos.
5.4.2.4- Competências
- Normativas
Competências da AR para emanar normas jurídicas. As normas jurídicas constituem prescrições
deônticas vinculativas – determinações, estipulações que contem deveres jurídicos vinculativos, aos
quais está associada uma sanção.
Ora dentro desta categoria é possível distinguir 4 tipos de competências:
• (1) Constituintes (161o, a)) – Competências para criar normas constitucionais. Conforme a
alínea a), a aprovação de alterações à Constituição cabe apenas à Assembleia, nos termos do
art.o 284o a 289o
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• (2) Convencionais (161o, i)) – Competências para aprovar convenções e tratados
internacionais.
• (4) Legislativas (161o, c) e g)) – A AR é o órgão legislativo por excelência, a ela cabe a
função de fazer leis. Hoje esta função não é um monopólio da Assembleia, dado que o
Governo e as Assembleias Regionais têm também competência legislativa (decretos-leis e
decretos legislativos regionais).
Competências legislativas concorrentes: Matérias passíveis de serem disciplinadas quer pela AR,
quer por um outro órgão legislativo, designadamente o Governo (nestes casos lei e decreto-lei têm
igual valor).
- Não Normativas
• (1) Função eletiva: A CRP atribuiu à Assembleia da República competência para a eleição
de membros de determinados órgãos constitucionais, nos termos do art.o 163o, g) e h).
• (2) Propositura referendária: Nos termos do 161o, j), a Assembleia tem competência para
propor referendos de questões de relevante interesse nacional ao Presidente da República.
Moções de Censura
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Governo, visa robustecer a legitimidade do mesmo), a AR põe em jogo a responsabilidade política
do Governo, implicando a aprovação da mesma a sua demissão; trata-se de um voto de reprovação
proposto à AR sob a atuação do Governo – 163.o, e).
A cessação de vigência, sendo aprovada pela AR, pode ter subjacentes motivos políticos; a
declaração de inconstitucionalidade, é aprovada pelo TC, sempre por motivos jurídicos.
A cessação de vigência apenas poderá surgir nos primeiros 30 dias decorrentes da publicação do
diploma; A declaração de inconstitucionalidade, poderá ser convocada em qualquer altura.
A cessação de vigência tem eficácia prospetiva (ex nunc); a declaração de inconstitucionalidade tem
eficácia retroativa (ex tunc).
• Lei: A Lei diz respeito ao ato normativo por excelência, emanado pela AR. Lei
Constitucional (Lei de revisão constitucional) (166o/1), Lei Orgânica (166o/2), Leis
ordinárias (166o/3), Leis estatutárias.
• Moção: Ato da AR sem caráter normativo, mas que contem antes uma apreciação, valoração
sobre determinada matéria – art.o 166o/4
• Resolução: Ato mediante o qual a AR resolve expressar a sua vontade sem caráter
legislativo; por norma dizem respeito a matérias com caráter meramente declaratório; não
tem efeitos vinculativos – 166o/5.
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5.4.3- Governo
O Governo constitui um órgão constitucional de soberania ao qual é confiada a “função
governativa” - função de conduzir a política geral do país e superintender na administração pública
(órgão superior da Administração Pública).
5.4.3.1- Composição
Art.o 183o.
Trata-se o Governo de um órgão colegial - formado por várias pessoas; e complexo - constituído por
vários órgãos.
• Primeiro-Ministro
• Ministros
• Secretário de Estado
• Sub-Secretário de Estado
PM e Ministros compõem o Conselho de Ministros (art.o 184o e 200o) – designado de “núcleo duro
do Governo”. Diz respeito ao órgão que reúne periodicamente para discutir a política geral do país.
5.4.3.3- Formação
Art.o 187o
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• Responsabilidade perante o Presidente da República e Assembleia da República (190o,
191o): É o Governo responsável tanto perante a Assembleia, como perante o Presidente da
República (depende o primeiro da aprovação dos segundos). Ora neste sentido, são 4 os
institutos que demonstram a subordinação, responsabilidade do Governo perante estes
órgãos de soberania:
(1) Programa do Governo (192o): Logo no decurso do início de funções do Governo, tem de ser
apresentado à AR para efeitos de apreciação o programa do Governo, no qual constarão as
principais orientações políticas.
(2) Moções de Censura (194o): Voto de reprovação da atuação do Governo por parte da Assembleia
da República (Deputados/Partidos da oposição).
(3) Moções de Confiança: Voto de aprovação da atuação do Governo (por iniciativa do mesmo e
com o objetivo de robustecer a sua legitimidade).
(4) Irregular funcionamento das instituições democráticas: Pode o PR fazer cessar as funções do
Governo ao constatar a existência de um irregular funcionamento das instituições democráticas.
• f)A aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta dos Deputados em efetividade
de funções(116 Deputados).
(no2) O PR só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular
funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado.
5.4.3.5- Competências
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(1) Referenda Ministerial (a); art.o 140o): A referenda ministerial constitui uma fase do processo
legislativo
(procedimento de feitura das leis). No decurso da promulgação, por parte do PR, do diploma, segue-
se a referenda ministerial (seguindo o diploma para o Governo, cabe ao órgão a assinatura do
mesmo – referendar significa assinar o diploma).
Este instituto assegura a passagem dos atos pelos 3 órgãos de soberania (AR – aprovação; PR –
promulgação; Governo – referenda ministerial; Publicação em Diário da República).
Dos 4 tipos de decreto-lei analisados, 3 dos mesmos podem ser sujeitos a apreciação parlamentar
para efeitos de cessação de vigência ou de alteração (169o).
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• (1) Dirigir a Administração Pública (d)
• (3) Fazer os regulamentos necessários à boa execução das leis (c): Conforme o art.o 112o/7,
um regulamento
deve sempre ser precedido de uma lei (precedência da lei)
(...)
*Diferença entre decreto-lei e decreto regulamentar remete para o facto: de o decreto-lei constituir
um ato emanado ao abrigo de competências legislativas (198o), enquanto o decreto regulamentar é
um ato emanado ao abrigo de competências administrativas (199o). O decreto-lei surge sempre
antes do regulamento (princípio da precedência da lei). Em caso de colisão o decreto-lei prevalece
sobre o regulamento (princípio da prevalência/primado da lei).
6.1-A Lei
Em sentido formal, temos a lei como um ato geral e abstrato, com valor de Lei, emanado pelo órgão
legiferante primário – a Assembleia da República.
Em sentido material, temos a lei em sentido amplo, como qualquer ato normativo.
A nossa CRP admite Leis com Valor Reforçado (LVR), que criam um novo degrau.
Ora para aferir sobre o mesmo, relativamente a determinada lei, é necessário atender a um conjunto
de critérios de identificação previstos no art.112o/2 e 3:
-Critério de procedimento agravado: Determinadas leis têm valor reforçado pois no âmbito do
seu procedimento legislativo, a Constituição exige certos requisitos agravados (mais fortes), não
exigidos às restantes leis (certas leis exigem a aprovação por maioria qualificada; votação pelo
plenário – art.o168o/6).
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- Critério do fundamento material: Certas leis constituem o fundamento de conteúdo, a base, o
pressuposto para outras leis que se lhe vão seguir – ex. leis de bases; leis de princípios.
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• A violação da CRP constitui uma inconstitucionalidade – a).
6.2- O Decreto-Lei
O Procedimento legislativo
A votação final é global e, normalmente, a aprovação é por maioria simples. Porém, há situações
que carecem de procedimento reforçado:
No4 – Certas matérias têm de ser votadas na especialidade e em plenário.
No5 – Lei Orgânica carece de aprovação por maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções.
No6 – Certas matérias carecem de aprovação por maioria de 2/3 de deputados em efetividade de
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funções.
Entrada em vigor
Depois da publicação, o diploma entra em vigor, podendo indicar a data da sua entrada no OJ.
Normalmente, há a existência de um certo período de tempo entre estes dois momentos, designado
vaccatio legis, fixado pelo legislador.
Caso contrário, há um prazo supletivo – A lei entra em vigor no 5o dia após a sua publicação.
Conta-se a partir do dia imediato à da sua disposição no diário eletrónico.
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