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Recurso DC - resumo da matéria

Direito Constitucional (Universidade do Minho)

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Clara Simões

1º Semestre

1 - I N T R O D U Ç Ã O A O C O N C E I TO D E
CONSTITUIÇÃO

Direito Constitucional ocupa-se do estudo da Constituição da República Portuguesa, aprovada


pela Assembleia Constituinte a 2 de abril de 1976 e alterada por 7 revisões (1982, 1989, 1992,
1997, 2004, 2005). É, por isso, importante clarificar o conceito de Constituição.
Há uma distinção entre os sentidos atribuídos à palavra ao longo do tempo. Antes do século
XVIII, constituição significava a ordem fundamental de uma comunidade política. Depois do
século XVIII, o termo passou a designar a lei fundamental de um Estado.

TERMO ANTIGO- sentido amplo


Neste sentido, a constituição é a ordem fundamental de uma comunidade política. Esta ordem era
relevada de forma sistemática, não havendo nenhum documento escrito. Resultava de práticas
reiteradas e de tradições sedimentares, transformando-se com o fluir da história e das novas
exigências da vida.
A comunidade política diz aqui respeito à associação de um conjunto de seres humanos que
permite a realização da totalidade de fins e de anseios vitais.

TERMO MODERNO- sentido restrito


A Constituição é a ordem jurídica fundamental do Estado que estabelece as regras basilares em
relação à organização do poder político, tendo um elenco amplo no que toca a direitos, liberdades
e garantias do cidadão. É um texto escrito com autor e data que sistematiza 3 questões vitais:
- Quem exerce o poder político?
- Quem pertence ou não à comunidade?
- Quais os valores fundamentais pelos quais a vida coletiva se deve guiar?
Este documento escrito com intenção prescritiva é decretado pela autoridade que arroga o mais
intenso dos poderes, o Poder Constituinte.
As primeiras constituições a surgir em sentido moderno foram a Constituição Americana (1787)
que uniu vários Estados; a Francesa (1791) para operar a rutura com o Antigo Regime; mais tarde
a Constituição Espanhola (1820) e Portuguesa (1822).

As constituições integram dois elementos estruturantes:


- uma parte subjetiva, que assegura a garantia dos direitos das pessoas (Bill of Rights)

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- uma parte orgânica, que regula o modo de exercício do poder- separação de poderes (Frame of
Government)

A Constituição tem duas acepções:


Formal: Constituição como a Lei Fundamental de um Estado, onde estão inseridas regras
formalmente constitucionais (escritas).
Material: Regras materialmente constitucionais, escritas ou não, dispersas por vários documentos.
Justificam a forma da Constituição. Há realidades que a Constituição não abarca, mas que são
parte integrante da realidade do Estado.
Objetivo final da Constituição Moderna- limitação do poder através do Direito.

2- PODER CONSTITUINTE
O Poder Constituinte é o poder de criar uma Constituição, que fixa como é que a comunidade
política deve viver e se impõe como lei suprema e fundamental. Manifesta-se em momentos de
profunda viragem histórica. Apesar de não ter normas prévias que o legitimem, o poder
constituinte é condicionado pelas circunstâncias, não sendo inteiramente livre, pois deve
corresponder à comunidade a que se destina.
Segundo John Locke, é um poder supremo. Na ótica de Sieyès, o poder constituinte é capaz de
reconstruir a realidade.

A MODERNIDADE DO PODER CONSTITUINTE


Até ao Renascimento, a tradição dominante n Europa assentava na crença de que o universo era
naturalmente ordenado. A crença nas capacidades do homem não era generalizada, algo que a
Idade Média veio alterar. A partir daqui o homem é colocado no centro do universo e a
Constituição fica à disposição da racionalidade e da vontade humana.

GÉNESE DA TEORIA DO PODER CONSTITUINTE


Poder originário
Ato de criação de uma Constituição.
Este poder não é regulado por uma revisão prévia.

Poder Derivado
Introduz alterações a uma Constituição já existente. É, simultaneamente, poder constituinte (cria
normas constitucionais) e poder constituído, uma vez que está previsto na Constituição (Artigos
284º-289º) e subordina-se às suas normas.

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3- ESTADO

Maquiavel inaugura o termo Estado, que designa a forma das comunidades, podendo ser
repúblicas ou principados. Até então a palavra statos era utilizada para identificar bens fundiários e
a condição dos detentores do poder.
A palavra Estado ganha o seu sentido atual no Renascimento, enquanto a palavra Constituição só
se fixa no seu significado moderno a partir do Iluminismo. O Estado é, portanto, anterior à
Constituição, é um pressuposto da Constituição.
Os elementos constitutivos do Estado são: poder político de comando; que tem como destinatário
os cidadãos nacionais; reunidos num determinado território.

3 ELEMENTOS INTEGRANTES DE UM ESTADO= POVO+TERRITÓRIO+PODER


POLÍTICO
A CRP define 3 elementos:
Artigo 4º- Cidadania portuguesa (lei da nacionalidade)
São cidadãos portugueses todos aqueles que como tal sejam considerados pela lei ou por
convenção internacional.
Artigo 5º- Território
Portugal abrange o território historicamente definido no continente europeu e os arquipélagos dos
Açores e da Madeira.
Artigo 3º- Soberania e legalidade
A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundos as formas previstas na
Constituição.

O conceito de soberania é indissociável do Estado. O conceito de soberania é algo recente que


surge para designar o fenómeno de independência do poder do rei face ao poder do Papa e a
concentração do poder régio face aos senhores feudais.
O termo é utilizado logo no Artigo 1º- República Portuguesa:
Portugal é uma República soberana, na dignidade da pessoa humana e na vontade popular (…).
A palavra tem dupla função:
- “Portugal é uma República soberana” - aceção que aparece como um qualificativo do Estado,
sendo este autodirigido, independente dos outros Estados e de poderes que lhe sejam exteriores.
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- “A soberania reside no povo” – aceção que identifica o titular último do poder que se exerce no
seio do Estado.

RELEVÂNCIA DO PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO DE PODERES NO


MONARCA
A primeira declinação do processo de formação do Estado moderno deu-se com a emergência do
Estado absoluto, em que a autoridade foi progressivamente centralizada nas mãos do rei. Surge
então o Estado Moderno como reação a esta concentração absolutista do poder. Com o
surgimento das constituições escritas, o Estado passa a ser limitado pelo Direito e a titularidade da
soberania é devolvida ao povo, à nação.

4- INTRODUÇÃO AO CONSTITUCIONALISMO

Esta expressão, de origem anglo-saxónica, começou recentemente a surgir com mais frequência
no vocabulário jurista da Europa Ocidental. Isto deveu-se às transformações no processo de
integração europeia que levaram ao questionamento da necessidade (ou não) de uma Constituição
europeia. Por outro lado, deveu-se ao surgimento de novas Constituições na Europa de Leste.
Com este movimento, uniformizaram-se os textos constitucionais europeus, que passam a integrar
a mesma linguagem fundamental.
A conversão do texto em norma não é um processo simples. Este processo implica ver para além
dos textos constitucionais, alcançar a raiz. O constitucionalismo nomeia essa raiz, pois designa a
origem da linguagem comum que hoje é partilhada.

SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO
O sentido atribuído ao termo constitucionalismo nem sempre é uniforme.
Pode surgir conforme 2 sentidos:
- (1) certa tradição de pensamento: pertencendo ao domínio das ideias, surge enquanto ideal
constitucionalista, ideia do governo moderado. Fala-se no singular.
- (2) certos instrumentos de técnica e prática jurídica: pertence à linguagem do Direito. Fala-se no
plural, dada a existência de vários constitucionalismos, com diferentes tradições que vivem de
modo diferente o ideal do poder político moderado.

A expressão anda sempre associada a um só objetivo: o de limitar, equilibrar ou moderar o


exercício do poder político, de forma a que este respeite a autonomia e a liberdade dos indivíduos.
Assim, o constitucionalismo é o ideal e a prática do governo limitado para fins de garantia.

TEORIA DA CONSTITUIÇÃO MISTA- Aristóteles (1)

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Segundo esta teoria, numa comunidade política, ao existir diferentes grupos, interesses ou fações,
todos eles com visões conflituantes, as instituições desta comunidade deveriam ser desdenhadas e
organizadas de modo a que nelas pudessem participar e exprimir as pretensões os diversos grupos
da sociedade.
A melhor constituição era aquela que não fosse “pura” (onde se atendia apenas a um grupo), mas
sim que combinasse elementos das várias formas, ainda que o poder fosse mais débil ou ineficaz.

O CONSTITUCIONALISMO MODERNO E OS NOVE POSTULADOS


A ideia de soberania é incompatível com a ideia clássica da Idade Média da Constituição mista.
Um poder político monopolizado e centralizado em órgãos do Estado é um poder puro, na aceção
aristotélica. Nesse sentido, o constitucionalismo moderno formou-se como um programa que
integrava postulados de cisão face à tradição clássica, devido às novas condições da estadualidade
moderna.
Os nove postulados:
- Primeiro postulado- Fundamento do poder
O poder político provém da vontade dos membros da comunidade e não de uma realidade divina.
- Segundo postulado- Forma da Constituição
A ordem fundamental da comunidade deve constar de uma Constituição escrita, traduzindo um
pacto entre os membros.
- Terceiro postulado- Legitimidade do exercício do poder
O exercício do poder tem de respeitar a Constituição, sendo legítimo se exercidos de acordo com
o título que esta lhes confere.
- Quarto postulado- Pertença à comunidade política
A condição de “cidadão” é igual para todos.
- Quinto postulado- Valores fundamentais
Os Direitos do Homem têm primado sobre qualquer outro valor e o poder político deve respeitá-
los.
- Sexto postulado- Separação entre o poder religioso e o poder político
O Estado e o Igreja devem estar separados.
- Sétimo postulado- Separação entre os poderes políticos
Os poderes não devem estar concentrados num único órgão.
- Oitavo postulado- Supremacia da lei
O mais importante dos poderes é o legislativo, a cargo do Parlamento que representa a vontade do
povo.
- Nono postulado- Princípio da maioria
As decisões políticas devem corresponder à vontade da maioria.
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Cada um destes postulados conviveu com postulados contrários, ambíguos e contraditórios.

TRADIÇÃO ANGLO-SAXÓNICA E O MUNDO EUROPEU CONTINENTAL (2)


Existe uma diferença que separa, quanto à prática constitucional, o mundo anglo-saxónico do
mundo europeu.
A Inglaterra tem vivido em constitucionalismo, desde 1688, sem nunca ter escrito uma
Constituição. A sua prática desenvolveu-se sem nenhum texto escrito pelo poder constituinte.
Os EUA vivem sobre um texto constitucional escrito em 1787 com 7 artigos e 27 aditamentos,
que se tem moldado conforme as exigências.
Na Europa, após as revoluções liberais sucedeu-se uma multiplicidade de textos. A partir da
segunda metade do século XX, as constituições são duradouras e as disparidades na linguagem
diminuem.

CONSTITUCIONALISMO BRITÂNICO
A experiência integra um carácter historicista. O ideal de governo moderado e limitado pelo
Direito é concretizado por outros meios que não a soberania popular ou a constituição escrita. A
Constituição foi sendo revelada pela ação do costume e da sua interpretação pelos Tribunais. O
momento fundador britânico não se identifica com os atos, mas com um longo ciclo histórico.

CONSTITUCIONALISMO NORTE-AMERICANO
A revolução americana de 1776 visava obter a independência das 13 colónias face à “mãe-pátria”,
consagrada pela Constituição de 1787, que funda os EUA. Tal só foi possível após a vitória dos
federalistas, que defendiam a agregação dos diferentes estados, contra os antifederalistas, que
consideravam que a qualidade da república não poderia ser concretizada num espaço tão vasto.
A Constituição de 1787 podia considerar-se incompleta por apenas tratar da organização do
exercício dos poderes políticos. Não há declaração de direitos, apenas o Frame of Government.
Em 1791, são adicionados 10 aditamentos à Constituição. São os 10 direitos fundamentais criados
para limitar a ação federalista (Bill of Rights).
A eficácia da Constituição dependeu da atuação da Judicial Review of Law. Consiste na
existência de um poder que cada um dos juízes tem de verificar a constitucionalidade das leis e
um dever de recursar a aplicação de determinada norma se esta padecer de inconstitucionalidade.

CONSTITUCIONALISMO FRANCÊS
Após a Revolução Francesa de 1789, que oficializa a rutura com o Antigo Regime e todas as suas
instituições opostas à modernidade, o grande objetivo era atingir a liberdade e igualdade. Houve
uma inspiração no movimento iluminista, em nomes como Montesquieu e Rosseau e nos
constitucionalismos americano e britânico.
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A transformação exigia ação condutora do Estado, realizada por intermédio da lei e executada
pela administração pública. Exigia também a neutralização do poder judicial, reduzindo os juízes
à “mera boca da lei”. Assim, o constitucionalismo francês fez-se através do primado da lei, não da
Constituição- Legiscentrismo e Estadualismo.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, é o primeiro documento
constitucional formal, onde a condição de cidadão é inerente a todos e se estabelecem os direitos e
deveres face ao poder político. A partir de 1971, passou a ter eficácia normativa e os direitos
passam a possuir força jurídica que impede a entrada de leis que os limitem e afrontem.

CONSTITUCIONALISMO PORTUGUÊS: DO ESTADO DE LEGALIDADE AO


ESTADO CONSTiTUCIONAL
O constitucionalismo português apresenta muitas afinidades com a matriz legiscêntrica e
estadualista francesa. Recebeu também influencias norte-americanas, como o sistema de
fiscalização da constitucionalidade das leis.
No Estado de Legalidade, a ordem jurídica é caracterizada pelo primado hierárquico-normativo da
lei ordinária (século XIX até segunda metade do século XX). Há uma irrelevância da cultura
constitucionalista (“constituições escritas não são mais do que folhas de papel” - Ferdinand
Lassalle), num quando de necessidade de uma política e de uma cultura de legalidade. As
sociedades eram monistas quanto às conceções do mundo, mas dualistas quanto à legitimidade do
poder político (soberania nacional e legitimidade monárquica). A cultura da legalidade foi
marcada pela codificação (lei ordinária).
No Estado Constitucional, no lugar cimeiro da hierarquia das normas está a Constituição (a partir
da segunda metade do século XX). A Constituição devia ser fonte de direito, conter e revelar
normas jurídico-positivas e vincular o resultado do exercício dos poderes menores. Este tipo de
Estado é pluralista no que toca às visões do mundo e monista quanto à legitimidade do poder
político que pertence ao demos (povo). Os direitos fundamentais têm valor supralegal. Cabe ao
poder judicial a fiscalização da constitucionalidade e a aplicação de sanções a atos que
desrespeitem tal valor (Tribunal Constitucional).

5- O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO
CONSTITUCIONAL EM PORTUGAL

A Revolução de 1820, de cunho liberal, veio pôr fim ao absolutismo monárquico em Portugal,
com a implementação da primeira Constituição, de 1822.
O constitucionalismo português foi um processo que se pode dividir em 3 períodos fundamentais.
- Liberal-Monárquico (1822-1910)
- Republicano (1911-1974)
- Democrático (1974- atualmente)

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CONSTITUIÇÃO DE 1822
Inspirada nas Constituições francesas (1791 e 1795) e na Constituição de Cádis (1812), é
considerada bastante radical e progressista. Limita o poder régio, atribuindo soberania ao povo,
introduz o princípio da separação de poderes e consagra os direitos e deveres fundamentais do
cidadão.

CARTA CONSTITUCIONAL DE 1826


Documento outorgado pelo rei D. Pedro IV, mais conservador, introduzindo o poder moderado,
que permite ao rei controlar os restantes.

CONSTITUIÇÃO DE 1838
De vigência efémera, a constituição setembrista foi uma tentativa de conciliar os interesses
vintistas e cartistas.

CONSTITUIÇÃO DE 1911
Marcou a implementação da República e a queda absoluta da monarquia em Portugal. Instituiu
um regime de base parlamentar e, pela primeira vez, surge um sistema de controlo constitucional.
Operou a laicização do Estado.

CONSTITUIÇÃO DE 1933
Surge na sequência do golpe militar de 1926 e é uma constituição meramente semântica.
Apagam-se as liberdades e o Presidente do Conselho domina a vida política. Filosofia
antiparlamentar, antiliberal, antidemocrática e corporativista.

CONSTITUIÇÃO DE 1976
Surge na sequencia da Revolução do 25 de abril de 1974 e é a mais longa e mais complexa
constituição portuguesa. Assenta na democracia representativa e na liberdade política e possuiu
um elenco de direitos fundamentais mais desenvolvidos.
A CRP é unitextual, já que o Direito constitucional formal está contido num único texto. Não há
leis de emenda fora do próprio texto constitucional, as alterações dão-se na própria constituição.
Não existem outros textos de valor constitucional formal ao lado da CRP. No entanto, a
Constituição está rodeada por outras normas com relevância constitucional material.
É também rígida, uma vez que há uma resistência à derrogação normativa. O objetivo é garantir
que há um pacto entre as forças políticas e as forças sociais.

CÓDIGO BINÁRIO DE CONTINUIDADE/ DESCONTINUIDADE

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O Direito Constitucional pode ser aferido a partir da sua continuidade ou descontinuidade. O
Direito Constitucional é marcado pelos seus momentos de rutura entre textos constitucionais.
Esta análise pode ser feita do ponto de vista formal ou material.
Ponto de vista formal
Diz respeito aos processos de revisão constitucional, regras de concretização.
Existe continuidade quando uma ordem constitucional que sucede uma outra se reconduz jurídica
e politicamente à anterior.
Existe descontinuidade quando a nova ordem jurídico-constitucional entra em rutura com a que
lhe antecede.
Ponto de vista material
Diz respeito ao conteúdo: à legitimidade do poder constituinte e aos princípios políticos
constitucionalmente enformados.
- Quanto à legitimidade do poder:
Há continuidade se o novo poder constituinte se alicerça num título de legitimidade idêntico ao
anterior.
Há descontinuidade se a base de legitimidade for distinta da anterior.
Exemplo: 1822- base democrática; 1826- base monárquica ------- descontinuidade
- Quanto aos princípios políticos:
Existirá continuidade quando não há rutura com os princípios fundamentais estruturantes.
Existirá descontinuidade quando a rutura surgir.
Exemplo: Há descontinuidade, do ponto de vista material, da Constituição de 1976 em relação à
de 1933.

CÍRCULO HERMENÊUTICO DE ILUMINAÇÃO RECÍPROCA


O texto constitucional português está assente neste círculo, uma vez que a forma como se
interpreta um artigo vai influenciar a interpretação daquele que lhe sucede e assim
sucessivamente.

6- PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
FUNDAMENTAIS

Existe um corpo de princípios fundamentais que é, hoje, comum à maioria dos Estados. Na CRP,
estes princípios têm assento nos primeiros 11 artigos da Lei Fundamental e precedem a parte I
dedicada aos Direitos e Deveres Fundamentais. Não fazem parte dos capítulos, não são uma parte,
são a condensação do todo, a tradução do fundamental.

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Os dois primeiros artigos são particularmente ricos em fórmulas que nos remetem para grandes
princípios do constitucionalismo moderno: dignidade da pessoa humana, separação de poderes,
democracia, estado de direito, estado social, principio republicano.

NORMAS- REGRAS E NORMAS- PRINCÍPIOS


Importa primeiro clarificar o que são princípios e o que os distingue das regras.
A Constituição é um corpo de normas, dotadas de especial força e com uma certa especificidade.
Regras
As regras são normas que se traduzem em comandos concretos, diretamente aplicáveis. Normas a
que os destinatários devem obediência.
Prescrevem uma exigência que é ou não cumprida. (tudo ou nada)
Exemplo: Artigos 133º, 164º, 165º
Princípios
Comando abstrato, que necessita de ser concretizado para se poder tornar atuante. Comando
dirigido aos poderes públicos, exigindo deles adesão a tal princípio para que o possam ir
otimizando na prática da vida cívica quotidiana.
São compatíveis com vários graus de concretização.

CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO
Grau de Abstração- P>R
Grau de Determinabilidade- R>P
Carácter de Fundamentalidade- P>R
Natureza normogenética- P (dos princípios emergem normas)

7- PRINCÍPIO DO ESTADO DE DIREITO

O Artigo 2º da CRP diz-nos que Portugal é um Estado de Direito.


“A República Portuguesa é um Estado de Direito Democrático, baseado na soberania popular, no
pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de
efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes,
visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da
democracia participativa.”

A fórmula “Estado de Direito” é de origem germânica- Rechsstaat. Na cultura anglo-saxónica a


fórmula pela qual se traduz designa-se por “rule of law”.

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Viver num Estado de Direito significa que há primazia do Direito, aplicado a todos,
inclusivamente ao soberano (titular máximo do poder público), pondo assim um travão ao risco
de uso arbitrário do poder. Implica que o Estado se organize de modo a garantir que não haja, por
parte dos entes públicos, abusos no exercício dos seus poderes.
Num Estado de Direito quem exerce autoridade está obrigado a exercer o poder nos estritos
limites das normas jurídicas existentes e, não de acordo com preferências pessoais. Essas normas
jurídicas têm de ser definidas previamente de modo claro, de maneira a que os cidadãos possam
antever as consequências jurídicas das suas ações.

No domínio dos princípios e requisitos que devem constar num Estado de Direito, a doutrina
constitucional tem estabelecido uma distinção entre elementos formais e elementos materiais, nos
quais se pode analisar o Estado de Direito.

Elementos formais
Dizem respeito à organização do poder. (esqueleto do Estado)
- Separação (e interdependência) de poderes;
- Constitucionalidade das leis;
- Legalidade da administração;
- Independência do poder judicial.
Elementos materiais
Valores com os quais o Estado de Direito se compromete. (objetivos)
- Dignidade da pessoa humana;
- Liberdade;
- Justiça;
- Segurança.

7.1 - ELEMENTOS FORMAIS

7.1.1- PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES


O estado de direito pressupõe o princípio da separação de poderes, pressuposição que decorre do
Artigo 2º da CRP: A República é um Estado de Direito “baseado no princípio da separação e
interdependência dos poderes”. O princípio é retomado no Artigo 111º, onde se diz que os “órgãos
de soberania devem observar a separação e interdependência estabelecida na Constituição”.

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A separação de poderes é conditio sine qua non para que o poder seja efetivamente limitado e para
que haja controlo do respeito por esses limites no seu exercício. O Estado desempenha diferentes
funções e cada uma delas deve ser atribuída a um certo tipo de instituições ou órgãos estaduais.
Classicamente (Montesquieu), as funções do Estado dividem-se em: legislação, administração e
justiça.
Estas funções exigem órgãos com características funcionalmente adequadas. A tarefa legislativa
exige um órgão plural e aberto, sendo entre nós partilhado pelo Parlamento, Governo e
Assembleias Legislativas Regionais, de acordo com os artigos 112º/1 (atos normativos), 161º/c
(Assembleia da República), 198º (Governo) e 227º/1/a (Assembleias Legislativas Regionais). A tarefa
administrativa exige um órgão hierarquizado e coerente, cabendo ao Governo, às autarquias locais
e outras entidades definidas por lei (artigos 182º, 235º e 266º).
A tarefa judicial exige órgãos independentes, sendo reservada aos tribunais (artigo 202º).

7.1.2- PRINCIPIO DA ADEQUAÇÃO FUNCIONAL

Hoje, o modelo clássico sofre muitas exceções (de que é exemplo a função legislativa), mas o
sentido fundamental mantém-se.
Este princípio de distribuição, entendido como distribuição, integra o núcleo do Estado de Direito
porque este é um Estado de poder limitado e moderado - Se se permitisse a concentração, estar-se-
ia a permitir que ocorresse condições propícias ao mal-uso da força por parte de quem governa.
A CRP não fala apenas em separação, esta ideia é sempre acompanhada pela ideia de
interdependência, de controlo recíproco dos diferentes poderes estaduais. (“Freios e contrapesos”,
vigilância)
Expressões dessa interdependência são, por exemplo, o poder que o Presidente da República
detém, nos termos do artigo 136º, de vetar ou recusar a promulgação dos atos legislativos quer da
Assembleia quer do Governo; ou o poder que o Governo tem de referendar, nos termos do artigo
140º, os atos do Presidente; ou o poder próprio daa Assembleia da República de submeter os
decretos-lei do Governo a apreciação, de acordo com o artigo 169º; ou ainda o poder que a
mesma detém de provocar a demissão do Governo, através da aprovação de uma moção de
censura ou da rejeição de uma moção de confiança, de acordo com o artigo 195º/d)/e). Para além
disso, há uma sujeição a controlo judicial dos poderes públicos.

7.1.3- PRINCÍPIO DA CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS


De acordo com o artigo 3º, nº3 da CRP, o poder legislativo é hoje em Portugal limitado pela
Constituição.
“A validade das leis e dos demais atos do Estado, das regiões autónomas, poder local e de
quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a Constituição.”
O poder legislativo, apesar de livre, tem de se conformar com a Constituição. As leis têm de
respeitar a CRP sob pena de serem consideradas inconstitucionais e, consequentemente perderem
efeito.

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A justiça constitucional é um dos mais relevantes instrumentos de controlo do cumprimento e
observância das normas e princípios constitucionais. Tendencialmente conduz à existência de um
tribunal ou órgão jurisdicional (fenómeno recente), distanciando-se de um controlo meramente
político, como acontecia no período do constitucionalismo monárquico, em que era confiado às
Cortes o papel de velar pela “guarda da Constituição).
Quem controla a Constituição?
Modelo norte-americano da judicial review: controlo jurisdicional difuso (aparecido com a
decisão do caso Marbury vs Madison, de Supremo Tribunal Federal- 1803), segundo o qual o
controlo é feito pelos diferentes tribunais.
Modelo austríaco da fiscalização concentrada (uma única instância especializada) da
constitucionalidade dos atos normativos do poder público. Hans
Hans Kelsen teve um papel decisivo nesta matéria, ao defender que confiar o controlo da
constitucionalidade das leis ao parlamento é uma ingenuidade política. Deve ser, portanto, um
órgão independente do Estado a cumprir com essa função.
Em Portugal (modelo híbrido)
Artigo 204º da CRP: todos os tribunais como órgãos de controlo da constitucionalidade.
Artigos 277º a 283º: o Tribunal Constitucional como órgão especificamente criado para garantir o
controlo da constitucionalidade.

7.1.4- PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA ADMINISTRAÇÃO


O poder administrativo (executivo) está subordinado ao poder legislativo. Há uma supremacia ou
prevalência da lei (conforme à Constituição) - atos da administração não podem valer contra a lei
(artigo 266º).
Reserva da lei - a atuação da administração deve estar prevista em lei que a antecede (artigos 164º
e 165º).

7.1.5- PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA DOS TRIBUNAIS


A Constituição qualifica-os como órgãos de soberania (artigos 110º e 202º), competindo-lhes
administrar a justiça e nome do povo.
São um poder separado e independente, sujeito apenas às normas do ordenamento jurídico
português (artigo 203º).
“Os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei.”
Os tribunais não criam direito, interpretam o Direito que é feito por quem tem competência e
legitimidade.
Considera-se então a função jurisdicional como uma função apolítica ou neutra.
Categorias:
Tribunal Constitucional;

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Supremo Tribunal de Justiça e os tribunais judiciais de primeira e segunda instância;
Supremo Tribunal Administrativo e os tribunais administrativos e fiscais;
Outros: Tribunal de Contos, Tribunais Marítimos, etc.

7.2- ELEMENTOS MATERIAIS

7.2.1- PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


O princípio da dignidade da pessoa humana reúne em si a síntese daquilo a que se pode chamar a
“antropologia constitucional” do Estado de Direito: a imagem da pessoa cuja dignidade tem que
ser protegida pela Constituição.
Artigo 1º: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na
vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.” (Pessoa
enquanto fundamento e fim do Estado)
A expressão “dignidade da pessoa humana” não consta apenas deste artigo. A difusão do seu uso
leva a crer ser este “o eixo em torno da qual roda toda a conceção atual do Direito e dos direitos”.
A ideia incluída neste princípio é uma ideia filosófica com uma longa história, o que levanta
dificuldades na sua apreensão exata. Que entendimento comum podemos fazer hoje do que seja
imagem do homem, que vale agora não como mera filosofia, mas como direito positivo?
Remontando ao Renascimento, já nessa altura a imagem do homem se começa a desdenhar como
um ser digno, capaz de conformar o seu próprio futuro.
Na filosofia kantiana, a pessoa humana surge como um fim de si mesma, e nunca como um meio
para a prossecução de um fim. Mais tarde, Günter Dürig define a chamada “fórmula do objeto”,
segundo a qual se deveria considerar atingida a dignidade humana sempre que, por ação do
Estado, “o homem concreto fosse degradado à condição de objeto, de mero meio”. (núcleo
material mínimo, proibição da instrumentalização)
Este princípio consagra-se após a II Guerra Mundial, através da Declaração Universal dos Direito
Humanos, em que aparece como valor central. Aparece também positivado na Constituição alemã
e, mais tarde, na CRP.
Contributos do Tribunal Constitucional
O princípio da dignidade da pessoa humana é dotado de uma multifuncionalidade. Na sua
jurisprudência, o Tribunal tem entendido que este princípio é fundamento de outras regras (função
normogenética), sobretudo em matérias de direitos fundamentais (Ex: direito geral de
personalidade, direito a um mínimo para existência condigna). Por outro lado, também tem
servido como ferramenta auxiliar na densificação do âmbito de proteção das normas de direitos
fundamentais. É ainda utilizado como fonte diretamente aplicável.

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Também no domínio do direito criminal, o princípio da dignidade da pessoa humana assume
grande importância. Este ramo do direito assenta na dignidade, uma vez que toda a sua construção
gera em torna de uma conceção do homem como ser digno e livre, que deve poder ser
responsabilizado pelas suas condutas (culpa).
O TC tem utilizado em algumas decisões a “fórmula do objeto” para densificar o conceito de
dignidade humana. No entanto, corre-se o risco de deixar nas mãos das entidades judiciais a tarefa
de determinar o núcleo material mínimo da dignidade que se pode sobrepor à conceção que a
pessoa faz da sua própria dignidade. Nesta medida, o consentimento do próprio deve ser um dos
fatores a ponderar.
Segundo Jorge Reis Novais, só haverá violação da dignidade quando a instrumentalização seja
particularmente gravosa, degradante ou humilhante (tortura, maus tratos).

Conclusão
É muito difícil definir o conceito de dignidade. A determinação do conteúdo deste princípio
poderá ser complementada com a consagração do direito ao desenvolvimento da personalidade
(artigo 26º). Há uma relação muito estreita entre a autonomia e a dignidade. Há também uma
ligação incindível entre o princípio da dignidade e da igualdade.

7.2.2- PRINCÍPIO DA LIBERDADE


Decretar que a “dignidade humana” deve ser reconhecida e protegida significa impor ao Estado e
à sociedade o respeito pelo exercício de um núcleo de autonomia individual e, portanto, de
responsabilidade individual.
É necessário que a liberdade se torne possível através da consagração de certos direitos
fundamentais, como o direito à vida (artigo 24º), o direito à integridade pessoal (artigo 25º) e o
direito à liberdade e segurança (artigo 27º). Os poderes do Estado devem estar vinculados à
observância dos direitos fundamentais, como faz o artigo 18º/1. Não há Estado de Direito aí onde
não estiver garantida a possibilidade de exercício da liberdade individual, e tal liberdade não pode
existir onde o Estado não assegurar uma eficaz proteção dos bens individuais fundamentais: a
vida, a integridade do espírito e o direito a não ser arbitrariamente detido.
Por outro lado, um Estado como este deve também respeitar e assegurar que se respeite as
chamadas “liberdades de espírito”, como a liberdade de consciência, de religião e de culto (artigo
41º) e a liberdade de expressão (artigo 37º). Assim sendo, a garantia constitucional do pluralismo
das conceções da vida integra o conceito material do Estado de Direito.

7.2.3- JUSTIÇA- PRINCÍPIO DA IGUALDADE


Um Estado de Direito é também um Estado de Justiça. Mas é evidentemente difícil determinar
com rigor em que pode consistir esta exigência, já que as conceções históricas foram sendo
sempre no mínimo díspares.
O que o recurso à filosofia e à história nos ensina é que o conceito de “justo” andou sempre
associado ao conceito de “igual”. “Todo o justo é algo igual”, dizia Aristóteles.

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O princípio da igualdade está intimamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana. É
no artigo 13º que este princípio está consagrado em termos mais abrangentes. É o princípio mais
constante e dos mais antigos nos textos constitucionais e tem experienciado uma evolução
multifacetada:
- Na conceção liberal, o tratamento igual implicaria uma igualdade na aplicação da lei. A lei era
igual para todos, e todos eram iguais perante a lei. No entanto, isto poderia causar tremendas
injustiças. (igualdade meramente formal)
- No Estado social, encontramos uma conceção de igualdade que reclama que situações iguais
devem ser tratadas de forma jurídica geral, ao passo que situações diferentes devem ser tratadas de
forma igualmente diferente, em justa medida. Há a necessidade de ter em consideração as
diferenças reais que existem entre as pessoas. (igualdade material)
A questão que se coloca é a de saber até onde se pode ir ao estabelecer regimes diferenciados, isto
é, como pode o julgador determinar se a diferenciação é legítima ou se se consubstancia numa
violação do princípio da igualdade. Para esta avaliação tem-se entendido que é útil o elenco de
fatores de discriminação presente no nº2 do artigo 13, que exigem um escrutino mais cuidadoso.
Estas são as consideradas “categorias suspeitas”, ou seja, os fatores que historicamente têm sido
motivadores de tratamentos discriminatórios.
Quando não esteja em causa uma diferenciação de tratamento que assenta numa categoria
suspeita, há autores, como Maria Lúcia Amaral, que entendem qua a margem a atribuir ao
legislador deve ser mais ampla, sendo apenas de avaliar se a discriminação em causa é arbitrária
(destituída de fundamento razoável). Por oposição, Jorge Reis Novais, defende que o controlo
levado a cabo pela TC deve ser mais exigente do que um mero controlo do arbítrio, devendo aferir
se o tratamento diferenciado respeita critérios de proporcionalidade ou justa medida.

7.2.4- SEGURANÇA
A atuação do Estado de Direito é uma atuação limitada.
Afirmar que a segurança constitui um fim do Estado significa dizer que a atuação dos poderes
públicos deve ser sempre uma atuação antevisível, calculável e mensurável. As pessoas devem
poder saber com o que contam, o comportamento dos poderes públicos deve ser fiável.
O princípio da segurança, assim entendido, decorre logicamente dos outros elementos materiais
que integram a categoria do Estado de Direito.
Este princípio desdobra-se numa série de outros princípios.
Segurança e Poder executivo
Proteção da estabilidade da vida das pessoas. Os poderes públicos abstêm-se em algumas ações e
há uma limitação tendencial da irrevogalidade dos atos constitutivos de direitos por parte da
Administração Pública.
Segurança e Poder judicial
Obrigatoriedade de formação de situação litigiosa: trânsito em julgado de sentenças- decisão
judicial já não é passível de recurso, torna-se definitiva. Caso julgado- estabilização da decisão na
ordem jurídica. Tendencial intangibilidade do caso julgado.

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Segurança e Poder legislativo


Obediência de critérios na criação das normas jurídicas.
- Publicidade dos atos estaduais (artigo 119º): devem ser públicos, já que se a atuação do Estado
não for conhecida não poderá, por certo, ser confiável.
- Determinabilidade do conteúdo dos atos estaduais: as leis, os atos da administração, as sentenças
dos tribunais têm que ser cognoscíveis e compreensíveis.
- Proibição de pré-efeitos dos atos normativos: só depois de estarem publicados e em vigor é que
podem surtir efeitos. O tempo entre a publicação e a entrada em vigor (vacatio legis) permite que
os destinatários conheçam as normas.
- Proibição de eficácia retroativa: as normas devem vigorar para o futuro.

7.2.5- PROTEÇÃO DE CONFIANÇA LEGITIMA


Para que as pessoas possam saber com o que contam, as normas jurídicas não devem por
princípio ter eficácia retroativa. Diz-se que a norma produz efeitos retroativos quando a atuação
do legislador projeta a sua eficácia no passado.
Pode haver duas formas de retroatividade: a retroatividade pura ou autêntica, em que a norma
afeta situações jurídicas verificadas no passado; ou a retroatividade impura ou inautêntica,
também designada por retrospetividade, em que a norma se aplica para o futuro, mas no quadro
de situações jurídicas duradouras, constituídas no passado, mas que continuam no presente e
continuarão no futuro (Ex: lei de arrendamento, lei de contrato de trabalho).
Na Constituição há três situações expressamente proibidas de carácter retroativo: as leis penais
(artigo 29º), as leis restritivas de direitos, liberdades e garantias (artigo 18º) e as leis fiscais (artigo
103º/3). Não há uma proibição geral de retroatividade. A riqueza e a imprevisibilidade da vida
podem obrigar o legislador a atribuir efeitos retroativos às suas decisões, de forma á prossecução
do interesse público, mas também para proteger os interesses concretos das pessoas. Para que tais
normas possam ainda ser consideradas conformes às exigências é necessário que se cumpram
determinados requisitos, desenvolvidos pela jurisprudência do TC.
Para que haja lesão do princípio da confiança é necessário que se perfaçam 4 pressupostos
essenciais:
- Que o Estado tenha efetivamente tomado decisões, ou encetado comportamentos suscetíveis
de gerar nos cidadãos expetativas de continuidade;
- Que os cidadãos tenham eles próprios tomado decisões, ou feito planos de vida, com
fundamentos nessas mesmas expetativas;
- Que tais expetativas na continuidade da política estadual sejam legítimas, porque fundadas, ou
justificadas, por boas razões;
- Que a mudança do comportamento dos poderes públicos não seja exigida por um interesse
público que, pela sua importância e valor, sobreleve o valor da tutela das expetativas privadas.

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- Estes 4 pressupostos que densificam o princípio da proteção da confiança legítima têm sido
também aplicados aos casos de retrospetividade.

7.2.6- PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE


Este princípio diz respeito à mensurabilidade dos atos estaduais. É um princípio que se estende
evidentemente a toda a atuação do Estado.
Tem de haver um equilíbrio entre as vantagens obtidas por todos através de determinada medida e
as desvantagens que essa mesma medida cause a todos ou a alguns membros da comunidade –
“justa medida” (equilíbrio meios-fins). Num Estado de Direito, “não se utiliza canhões para atirar
a pardais”.
A CRP faz referência a este princípio a propósito das leis restritivas de direitos, liberdades e
garantias (artigo 18º/2), no artigo 19º/4, ao prever a possibilidade de suspensão do exercício de
direitos através da declaração do estado de sítio ou estado de emergência, no nº2 do artigo 266º,
onde se enunciam os princípios que orientam a atuação dos órgãos e agentes administrativos, e no
artigo 212º/2, que limita as medidas de polícia.
Para aferir eventuais violações ao princípio da proporcionalidade, a doutrina tem vindo a
estruturá-lo em 3 vertentes: a idoneidade, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito.
1.Em primeiro lugar, torna-se necessário averiguar se a medida é idónea ou apta para
prosseguir o objetivo proposto- princípio da idoneidade, aptidão ou adequação.
2.A segunda condição diz respeito à necessidade da medida: trata-se de apreciar se não existe
outra menos gravosa capaz de assegurar o objetivo com o mesmo grau de eficácia- princípio
da necessidade ou indispensabilidade.
3.Em terceiro lugar, no teste da proporcionalidade em sentido estrito deve aferir-se se a
medida adotada é equilibrada no sentido de as desvantagens (para os cidadãos) dela
advenientes não serem superiores aos benefícios (para o interesse público) que se visam
alcançar.
Para que não haja violação do princípio da proporcionalidade, a medida em causa tem de ter
passado pelo crivo destes três “testes”.

8- O PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO

Há uma relação muito estreita entre o Estado de Direito e democracia. O que legitima, em Estado
de Direito, o exercício do poder é precisamente o facto de este resultar de uma escolha que é feita
pelo povo, titular do poder soberano. Diz o nº1 do artigo 3º da CRP que “a soberania, una e
indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituição”. Os direitos
fundamentais só se realizam cabalmente em democracia.
Os regimes democráticos funcionam segundo uma regra da maioria, mas as decisões maioritárias
não são completamente livres (estão limitadas pelo Estado de Direito e pelos os direitos
fundamentais). O princípio do Estado de Direito e os direitos fundamentais funcionam como
garantes das minorias (artigo 114º/2).
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Este princípio democrático manifesta-se na nossa Constituição através da consagração do direito
de sufrágio/ voto. Diz o nº1 do artigo 10º (e 113º) que “o povo exerce o poder político através do
sufrágio universal, igual, direito, secreto e periódico”.
Retiramos daqui que o nosso sistema é essencialmente de democracia representativa, na qual
escolhemos as pessoas que irão exercer a soberania em nosso nome. Apesar disso, a nossa
Constituição institui alguns mecanismos de democracia semi-direta, como é o caso do referendo,
previsto no artigo 115º, a iniciativa dos cidadãos para a convocação de referendos e ainda a
iniciativa legislativa popular, nos termos do artigo 167º. Cria-se, deste modo, uma maior
proximidade entre os cidadãos e os processos de tomada de decisões.

9- O PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE
Para além da democracia política, o artigo 2º da CRP faz ainda referência à realização de uma
democracia económica, social e cultural como objeto fundamental a prosseguir pelos poderes
públicos. Isto implica que o Estado deva procurar atenuar as diferenças reais entre as pessoas, não
deixando os cidadãos desprotegidos. (Justiça social)
Há uma estreita ligação desta dimensão social com o princípio da dignidade da pessoa humana
que é o fundamento constitucional de todos os direitos fundamentais. É também do princípio da
dignidade da pessoa humana que se tem feito derivar o direito a um mínimo para existência
condigna.
O princípio da socialidade está também intimamente relacionado com o princípio da igualdade,
que implica que não possam deixar de ser tidas em conta as diferenças reais entre as pessoas,
sendo exigível que se trate diferentemente.

10- PRINCÍPIO DA INTEGRAÇÃO EUROPEIA


Este é um princípio estruturante da Constituição portuguesa, mesmo não tendo sido originário.
Está presente no artigo 7º/5/6, no que concerne à questão política e no artigo 8º/4, no que diz
respeito ao ordenamento jurídico.
Em consequência da transferência de competências do Estado para as instituições europeias
algumas das nossas normas produzidas pela União Europeia vigoram em Portugal sem
necessidade de um ato específico de aceitação por parte do Estado Português. Os regulamentos
definem meios e fins, são obrigatórios em toda a sua extensão e não carecem de ser transpostos
para o ordenamento jurídico interno para que possam vigorar. As diretivas limitam-se a definir os
fins, sendo deixada margem aos estados membros para definir os meios e, por regra, precisam de
ser transpostas através da lei, decreto-lei ou decreto legislativo regional.
O primado do Direito da EU não é absoluto, estando balizado pela não colisão com princípios
fundamentais do Estado de Direito.

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11 - E D A A B E RT U R A A O D I R E I T O
INTERNACIONAL
A abertura ao Direito Internacional está consagrada nos artigos 7º, 8º e 16º.

12- CONTROLO DA CONSTITUIÇÃO

A Constituição é a Lei Fundamental. Reconfigura o passado, descreve o destino comum,


conforma o futuro. Mas, acima de tudo, impõe limites rigorosos aos que governam, determina as
regras do jogo político, limita a acumulação de mandatos, regula o exercício da representação
democrática. É a Constituição que regula os procedimentos a seguir para a aprovação de todas as
outras leis, determina a forma que devem tomar consoante as matérias, identifica s órgãos para as
fazer e aprovar, para assegurar o seu cumprimento e punir a sua violação.
As primeiras constituições eram vistas com documentos simbólicos, sem força normativa.
Fernidan Lassale diz, no século XIX, que as constituições são simples folhas de papel.
Hoje reconhecemos que a Constituição tem uma força normativa específica, fundamentalmente
no artigo 3º número 3, onde se afirma o seu lugar cimeiro.
A Justiça Constitucional é um dos mais relevantes instrumentos de controlo do cumprimento e
observância das normas e princípios constitucionais. Condiz à existência de um tribunal ou órgão
jurisdicional, distanciando-se de um controlo meramente político. Poderão os juízes, cuja missão é
justamente assegurar o cumprimento das leis, recusar a aplicação de uma norma legal se
entenderem que ela não respeita a Lei Fundamental?

13- MARBURY VS MADISON (1803)

Nos últimos dias do seu mandato como 2º Presidente dos EUA, John Adams nomeou 42 juízes
para os tribunais distritais de Columbia. Contudo, devido ao atraso de confirmação da nomeação
dos juízes por parte do Senado, o processo de nomeação só ficaria concluído no início do mandato
do Presidente seguinte (Thomas Jefferson), que iria considerar tais nomeações inválidas.
Porém, Marbury, um dos juízes nomeados, não se resignou e requereu ao Supremo Tribunal que
emitisse uma intimação (Writ of Mandamus) para obrigar o secretário de Estado- Madison- a
concluir o processo.
Contudo, o Tribunal a declarar-se-ia incompetente com o fundamento em que a norma legal, que
o habilitava a decidir o caso em primeira instância, violava a distribuição de competências entre o
Supremo Tribunal e os tribunais inferiores. Esta interpretação da norma não iria vencer, mas, em
contrapartida, a argumentação acessória produzida por John Marshall, a favor do reconhecimento
da competência dos juízes para fiscalizar a constitucionalidade das leis iria prevalecer sempre.
Uma análise mais detalhada deste caso acaba por revelar que esta forma de controlo judicial da
constitucionalidade (judicial review) consegue evitar, em parte, a acusação de que o poder judicial

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estaria a usurpar as atribuições próprias do poder legislativo. De facto, o Supremo Tribunal
limitou-se a decidir o conflito que as partes lhe submeteram, sendo que não revogou nem criou
qualquer lei. O próprio tribunal não ficou impedido de interpretar a lei de forma diversa da
anterior, se as circunstâncias do novo caso justificassem a adoção de um outro entendimento.
Assim, o poder de controlo da constitucionalidade pelos juízes fica circunscrito quanto à sua
validade e aos seus efeitos, à resolução de um caso concreto que lhe seja submetido.
Não há, portanto, uma violação da separação de poderes, pelo que a “judicial review” passa a ser
exercida por qualquer tribunal e a decisão afeta exclusivamente as partes em litigio.

IMPACTO EUROPEU
Na Inglaterra, a inexistência de uma constituição escrita torna irrelevante o tema da fiscalização
judicial das leis. Desde a Revolução Gloriosa que o Parlamento detém a suprema autoridade em
matéria constitucional. Contudo, esta sujeição dos tribunais ao parlamento não impediu a
consagração do estatuto de independência dos juízes, em 1701.
Na Europa, reinava o primado da lei e não da constituição, rejeitando-se i papel dos tribunais na
fiscalização da constitucionalidade. Hans Kelsen (austríaco) confiava que o controlo da
constitucionalidade das leis feito pelo parlamento era uma ingenuidade política (século XX).
Carl Schmitt discordava de Kelsen, defendendo que era impossível realizar um Tribunal
Constitucional, na medida, em que este seria sempre um órgão político e não um tribunal.

MODELOS DE JUSTIÇA CONSTITUCIONAL


Modelo difuso de fiscalização
Corresponde ao sistema americano, em que a competência para fiscalizar a constitucionalidade
das leis é reconhecida a qualquer juiz chamado a fazer a aplicação de uma determinada lei a um
caso concreto submetido a apreciação judicial.
Modelo concentrado de fiscalização
A fiscalização judicial da constitucionalidade das leis fica reservada a um único órgão.
Corresponde ao sistema de inspiração austríaca que marca as constituições do pós Segunda
Guerra Mundial.

14- JUSTIÇA CONSTITUCIONAL EM


PORTUGAL

De 1882 a 1911, a fiscalização esteve a cargo das Cortes, sendo puramente política.
A Constituição de 1911 foi a primeira Constituição portuguesa a prever a competência dos
tribunais para apreciar a constitucionalidade das normas jurídicas, segundo o modelo norte-
americano. Mais tarde, em 1976, o controlo da constitucionalidade é entregue a 3 órgãos
(tribunais, Conselho da Revolução e Comissão Constitucional).

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Só com a revisão constitucional de 1982 é que o sistema de controlo da constitucionalidade, tal
como nós o conhecemos hoje, se desenhou, tendo desaparecido o Conselho da Revolução e tendo
sido criado o Tribunal Constitucional que assume poder de decisão em matéria jurídico-
constitucional.
Há a junção dos dois modelos- sistema misto- difuso na base (artigo 204º) e concentrado no topo
(artigo 221º). Todos os juízes têm o poder-dever de fiscalizar a constitucionalidade das normas
jurídicas aplicáveis aos casos que tiverem de julgar e ao Tribunal Constitucional cabe a última
palavra em matéria de constitucionalidade.

MECANISMOS DE CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE


A Justiça Constitucional portuguesa dispõe de diferentes mecanismos de controlo da constituição:
- Fiscalização concreta (difusa ou concentrada)
- Fiscalização abstrata (preventiva ou sucessiva)
- Fiscalização da inconstitucionalidade por omissão

•Fiscalização concreta

Artigo 280º- Fiscalização concreta da constitucionalidade e da legalidade


Na fiscalização concreta ajuíza-se a constitucionalidade de uma norma da qual se duvida num
caso concreto. Há uma combinação do modelo difuso com o modelo concentrado. Começa
sempre por ser uma fiscalização difusa, na medida em que está em causa a fiscalização de uma
norma em consequência de um caso concreto que está a ser discutido em tribunal, e que suscitou
suspeitas de inconstitucionalidade. O juiz tem obrigação de levantar o incidente de
inconstitucionalidade de que tenha suspeitas.
Esta pode ser concreta sucessiva difusa já que qualquer tribunal pode conhecer da questão da
constitucionalidade e uma vez verificado o incidente o tribunal está obrigado a resolvê-lo, se
constatar que o problema é essencial para a decisão da questão de fundo. (Questão incidental)
Pode ser também concreta sucessiva concentrada já que a decisão sobre a questão de
inconstitucionalidade está sujeita a recurso para o TC.
Efeitos da Fiscalização
Na fiscalização concreta, as decisões só têm validade para o caso considerado, não tendo carácter
de força geral, apenas se deixa de aplicar a norma àquele caso concreto. O TC julga (não declara)
a norma inconstitucional.

•Fiscalização Abstrata

Referimo-nos à fiscalização abstrata porque tem por base o controlo de uma norma,
independentemente da sua aplicação a um caso concreto.
No que se refere à fiscalização abstrata por ação, podemos distinguir dois tipos de controlo:
fiscalização abstrata preventiva e fiscalização abstrata sucessiva.
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Fiscalização abstrata preventiva


Tem lugar antes da entrada em vigor do diploma.
Artigo 278º- Fiscalização preventiva da constitucionalidade.
É um exclusivo do Tribunal Constitucional, previne a inconstitucionalidade, fazendo um juízo
antecipado à entrada da norma em vigor. Atua num âmbito mais restrito que o do controlo abstrato
sucessivo.
Efeito da Fiscalização
Pronúncia de não inconstitucionalidade (efeito negativo): o resultado é o diploma voltar ao
Presidente da República, que pode promulgar ou vetar politicamente.
Efeito positivo de inconstitucionalidade: o diploma é devolvido à procedência, sendo o Presidente
da República obrigado a vetar o diploma por inconstitucionalidade. Após o veto, o diploma é
devolvido ao órgão que o aprovou. Artigo 279º.

Fiscalização abstrata sucessiva


Tem lugar após a entrada em vigor do diploma (norma perfeita).
Artigo 281º- Fiscalização abstrata da constitucionalidade e da legalidade.
Qualquer norma pode ser objeto desta fiscalização, ao contrário da preventiva.
O TC adota um conceito formal-funcional da norma que inclui atos normativos, mas exclui atos
políticos, administrativos, jurídico-privados e decisões judiciais.
Podem requere a declaração de inconstitucionalidade, com força obrigatória geral as entidades
elencadas no artigo 281º, nº2.
Efeito da Fiscalização
Artigo 282º
Se o Tribunal Constitucional declarar a norma inconstitucional, esta é retirada do ordenamento
jurídico. A declaração de inconstitucionalidade tem força obrigatória geral.
Artigo 282º/1- Inconstitucionalidade originária
Efeito anulatório/ invalidatório
Efeito retroativo: a norma é inválida desde o momento da sua entrada em vigor. Há uma
destruição de todos os efeitos que a norma eventualmente já tenha produzido desde o dia da sua
entrada em vigor. (vazio jurídico)
Efeito repristinatório: normas que tenham sido revogadas pela norma agora declarada
inconstitucional voltam a vigorar.
Artigo 282º/2- Inconstitucionalidade superveniente
A inconstitucionalidade não é originária, decorre de alterações constitucionais.

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O efeito retroativo não se reporta ao momento de entrada em vigor da norma, mas sim ao
momento de entrada em vigor do novo quadro constitucional.
Artigo 282º/3
Ressalva os casos julgados do efeito retroativo e invalidatório, exceto se nos casos de matéria
sancionatória a reapreciação seja favorável ao arguido. (Relacionado com a segurança jurídica)
Artigo 282º/4
Fixação de alcance mais restrito por parte do TC.
Pode ocorrer em situações de segurança jurídica, razões de equidade ou de interesse público sujo
relevo excecional o justificar.

•Fiscalização por omissão

Na inconstitucionalidade por omissão, o Tribunal Constitucional vai aferir se, perante uma
exigência constitucional concreta e determinada de legislar, o legislador incumpriu essa exigência
ao não o fazer. Tal controlo encontra-se previsto no artigo 283º da CRP.

2º Semestre
1- TIPOLOGIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
O PRINCÍPIO DA UNIDADE HIERÁRQUICO-NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO

O princípio da unidade hierárquico-normativa dita que todas as normas contidas numa constituição
formal têm igual dignidade constitucional. Além disso, dirige-se aos juízes e a todas as entidades/
autoridades encarregadas de aplicar regras no sentido de as lerem e compreenderem, na medida do
possível, como se fossem de um só autor, exprimindo uma conceção correta do direito e da justiça.
Desta forma, o princípio da unidade da constituição é uma exigência da coerência narrativa do
sistema jurídico.

Dentro da Constituição, todas as normas devem ter o mesmo valor hierárquico, deve ser tudo visto
como um bloco, não existindo artigos de primeira e artigos de segunda.

ESPÉCIES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS

Convém, antes de mais, clarificar quais as matérias que devem fazer parte do acervo da
Constituição. Existem quatro núcleos essenciais que devem estar presentes:

• Estruturas fundamentais do ordenamento jurídico: Aqui incluem-se o Estado, o


Mercado e a Família

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• Princípios Fundamentais
Princípio do Estado de Direito, Princípio da abertura ao Direito Internacional e da UE,
Princípio Democrático, Princípio Republicano, Princípio do Estado Unitário

• Organização do poder político

• Direitos Fundamentais
Direitos, liberdades e garantias Direitos económicos, sociais e culturais

Uma Constituição normalmente contém estes quatro elementos fundamentais, porém, eles podem
estar espalhados no ordenamento jurídico. Estas matérias não são um elenco taxativo, uma vez que
está na mão do poder político democrático o poder de moldar a Constituição, e um catálogo
cristalizado seria a limitação do direito da geração futura pela ação da geração atual.

NORMAS FORMAL E MATERIALMENTE CONSTITUCIONAIS

- Normas formalmente constitucionais


Designam as normas formalmente positivadas na CRP. Encontram-se compreendidas entre o
art.o 1o e 296o. Para a classificação deste tipo de normas é necessário atender a determinados
critérios: (1) norma emanada do poder constituinte de acordo com um (2) procedimento
específico e com uma (3) intenção normativa superior.

- (1) Requisito orgânico: Ora podem os poderes do Estado ser de 2 espécies: poder constituinte
(poder/aptidão de criar normas constitucionais; de criar uma Constituição e normas com dignidade
superior – normalmente, é este poder que vai fundar um determinado ordenamento jurídico; surge
em épocas de rutura) e os poderes constituídos (criados pelo poder constituinte: poder legislativo;
judicial e administrativo).

Quando falamos em normas formalmente constitucionais, as mesmas são criadas pelo poder
constituinte (não é o legislador ordinário que procede à sua criação); é antes o legislador
constituinte. O poder constituinte está nas mãos da Assembleia Constituinte, criada em 1974. O
poder legislativo ordinário está nas mãos da AR; Governo e da Assembleia Legislativa Regional.

Uma última nota prende-se com o facto do poder constituinte, a criação de normas constitucionais,
poder intervir de 2 modos: para fazer a Constituição originariamente (poder constituinte originário);
ou para introduzir alterações na Constituição (poder constituinte derivado).

- (2) Requisito procedimental: O procedimento específico está previsto no artigo 284.o e


seguintes. O procedimento de feitura das leis ordinárias não é o mesmo que as normas
constitucionais – as segundas são introduzidas no ordenamento jurídico através de um
procedimento específico – o procedimento constituinte.

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- (3): Todas estas normas devem possuir uma intenção normativa superior – vocação de
superioridade relativamente às outras normas.

- Normas materialmente constitucionais


Dizem respeito a matérias com dignidade constitucional, mas que podem não estar positivadas na
Constituição. Podem estar expressas em legislação avulsa como o Código Civil, Código Penal,
DUDH, sendo emanadas pelo poder constituído. Neste seguimento, será relevante referir o artigo
16.o da CRP, que pressupõe a existência de direitos que não se encontram na Lei Fundamental e,
portanto, são classificados como materialmente constitucionais.

- Estes 2 sinais (formal e material) dão origem a 3 tipos de normas:


Normas formal e materialmente constitucionais (com dignidade constitucional) – Normas
emanadas pelo poder constituinte e que disciplinam estruturas fundamentais da sociedade e do
Estado. [exs. Art.24.o; Art.198.o da CRP]

Normas formalmente constitucionais, mas sem dignidade constitucional – hipótese meramente


abstrata que não se deve admitir.

Normas que não são formalmente constitucionais, mas que regulam estruturas fundamentais
da sociedade e do Estado - Normas que estando fora da Constituição se encontram a gravitar pelo
ordenamento jurídico, mas possuem dignidade constitucional porque disciplinam estruturas
fundamentais da sociedade e do Estado.

Problema das normas constitucionais inconstitucionais

Autores como Kelsen, normativista, até referem uma pirâmide normativa em que estaria no topo a
Constituição, depois as leis e por fim os regulamentos. A partir da segunda guerra mundial, nos
julgamentos de Nuremberga os acusados defenderam-se dizendo que estavam a cumprir ordens
válidas no tempo e lugar, com base nas leis e Constituição do Estado, mas há autores que dizem que
acima da Constituição existem uma ordem de valores pré-constitucional e supraconstitucional,
como a dignidade humana, a vida, igualdade, etc., ou seja, valores que existem mesmo que a
Constituição não os consagre. Os jusnaturalistas distinguem a constituição formal e a constituição
material.

Assim, existem normas constitucionais inconstitucionais apenas por dois caminhos: dentro da
Constituição haver normas de primeira e segunda ou normas constitucionais escritas a violar a
ordem de valores. Contudo, é difícil definir que valores são estes.

NORMAS POSITIVADAS E NÃO POSITIVADAS

- Normas positivadas
Estão reduzidas a escrito num texto normativo, ou na Constituição formal ou na Constituição
material.

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Ex: art.o 13o - Princípio da Igualdade.

- Normas não positivadas

Apesar de terem dignidade constitucional, não estão vertidas em letra de lei.

Ex: Princípio da Proibição do Retrocesso Social – Imagine-se que o salário mínimo nacional atinge
os 600€. Poderá o legislador emanar uma norma ordinária que o baixe? Em visão socializante, e
porque vivemos num Estado Social (art.o 63o), a partir do momento em que o Estado chega a um
valor em certas prestações sociais, não pode retroceder. Porém, em visão liberal, o Estado só
concede prestações se tiver capacidade para tal. É um assunto polémico visto que este princípio não
está positivado em lei.

Neste âmbito, a CRP expressa o caráter aberto às normas não positivadas, presente no art.o 277o/1,
sendo que o disposto na Constituição se refere à Constituição propriamente dita, positivada e
formal, e os princípios nela consagrados podem não estar escritos, mas retiram-se do texto
constitucional.

NORMAS DE EDICÁCIA PLENA E DE EFICÁCIA LIMITADA

- Normas de eficácia plena:auto-exequíveis


Potencialidade de produzir efeitos jurídicos imediatos, bastando a sua mera presença na
Constituição, sem necessitarem de densificação posterior para que sejam eficazes.

Ex: art.o 24o/2 – Direito à vida | art.o 32o/2 – Presunção da Inocência

- Normas de eficácia limitada:hetero-exequíveis


A consagração constituinte não basta, sendo necessária a atuação dos poderes públicos para a
realização da eficácia destas normas, que precisam de densificação infraconstitucional.

Ex: art.o 65o - Habitação e Urbanismo – É preciso que o legislador, a administração e tribunais
ajam para que esta norma seja concretizada. São necessárias leis para que as pessoas possam aceder
a este direito. É uma norma proclamatória que não basta por si só.

REGRAS E PRINCÍPIOS

Ponto de partida: sistema aberto de regras e princípios – J.J. Gomes Canotilho

O Estado de Direito Democrático português é um sistema jurídico normativo aberto de regras e


princípios, segundo Canotilho.

• (1) É um sistema jurídico porque é um sistema dinâmico de normas;

• (2) É aberto porque as normas têm a capacidade de captarem a mudança da realidade e


estarem abertas às
conceções cambiantes da verdade e da justiça.

• (3) É um sistema normativo porque a estruturação das expectativas referentes a valores é


feita através de

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normas;

• (4) É um sistema de Regras e Princípios, pois as normas constitucionais podem revelar-se


sob a forma de
regras como sob a forma de princípios.

Critérios para a distinção entre regras e princípios:

- Critério da positivação: Positivar neste âmbito significa formalizar em escrito. Conforme este
critério, os princípios, como, por natureza se revelam mais abstratos, especulativos, não são normas
positivadas.

Pelo contrário, as regras, por lidarem com matérias mais concretas, tangíveis, são positivadas,
tendencialmente.

- Critério da abstração/mediação concretizadora: Possibilidade de determinada norma ser


imediatamente aplicável. Existem normas que são diretamente aplicáveis; e outras que, pelo seu
caráter mais abstrato, especulativo, distanciado, necessitam de mediação concretizadora, seja
pelo legislador, seja pela administração. Tendencialmente, uma norma é uma norma auto
exequível – sendo diretamente aplicáveis, não necessitam de interposição normativa ou
legislativa. Contrariamente, os princípios, tendo maior grau de abstração, carecem de
interposição normativa e mediação concretizadora.

- Critério da compatibilização/possibilidade de harmonização: Em situação de conflito,


determinadas normas auto excluem-se, porque não podem conviver no ordenamento jurídico.
Pelo contrário, no caso de conflito, outras normas podem compatibilizar-se e harmonizar-se,
permanecendo ambas no ordenamento jurídico. Ora na primeira situação enquadram-se as regras;
na segunda, inserem- se os princípios.

- Critério da proximidade à ideia de Direito: Qualquer ordenamento jurídico tem uma espécie
de código genético, valorativo, de valores fundamentais que o distinguem dos outros. O conjunto
desses mesmos valores fundamentais, designados de bens jurídicos (dignidade da pessoa
humana, democracia, igualdade, justiça social, etc.) traduz a chamada ideia de Direito. Certas
normas estão mais próximas da ideia de Direito do que outras – os princípios dizem respeito às
normas constitucionais mais próximas das dimensões essenciais valorativas do ordenamento.

2- TIPOLOGIA DOS PRINCÍPIOS


CONSTITUCIONAIS

PRINCÍPIOS JURÍDICOS FUNDAMENTAIS

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São princípios historicamente objetivados (resultam de uma longa evolução e sedimentação
histórica) e progressivamente introduzidos na consciência jurídica (aceites por todos) e que
encontram uma receção expressa ou implícita no texto constitucional.

Têm uma função negativa particularmente relevante nos “casos limites”. Têm também uma função
positiva, “informando” materialmente os atos dos poderes públicos.

Ex: Princípio do Estado de Direito; Princípio Democrático; Princípio da Igualdade

PRINCÍPIOS POLÍTICOS CONSTITUCIONALMENTE CONFORMADORES

Princípios que refletem as opções político-valorativas do legislador constituinte. Os mesmos surgem


em épocas de rutura. Certos princípios começam por nascer como opções valorativas, sendo por
isso político conformadores, e numa fase posterior tornam-se fundamentais, pela evolução histórica
e aceitação generalizada.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS IMPOSITIVOS

Princípios que impõem, determinam, ordenam, fins e tarefas aos órgãos do Estado. Não existe um
destinatário individualizado e o conteúdo da ordem também é vago e genérico. Ex: art.o 9o CRP
Estes princípios designam-se, muitas vezes, por “preceitos definidores dos fins do Estado”,
“princípios diretivos fundamentais” ou “normas programáticas, definidoras de fins ou tarefas”.

PRINCÍPIOS GARANTIA

Princípios que visam proteger, garantir, defender determinadas instituições e estatutos


constitucionalmente relevantes. Ex. art.o 36o, 67o, 69o, 70o, 72o da CRP.

Traduzem-se no estabelecimento direto de garantias para os cidadãos e daí que os autores lhes
chamem “princípios em forma de norma jurídica”.

3- TIPOLOGIA DAS REGRAS


REGRAS JURÍDICO-ORGANIZATÓRIAS

São regras respeitantes à organização do poder político e ordem do Estado.

- Regras de criação de órgãos


Através destas regras são introduzidas no ordenamento no ordenamento jurídico-constitucional
certos órgãos que até ao momento não existiam. Ex. art.o 120o, 147o, 182o, 221o, 23o

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- Regras de competência
São aquelas nas quais se reconhecem certas atribuições a determinados órgãos constitucionais ou
são estabelecidas esferas de competência entre os vários órgãos constitucionais. Normas deste tipo
encontram-se, sobretudo, na Parte III, relativa à organização do poder político. Ex. art.o 164o.

-Regras de procedimento
Determinam as etapas/fases para cumprir de determinados procedimentos e processos. Ex:
Procedimento Legislativo = art.o 167o | art.o 168o | art.o 136o | art.o 278o | art.o 119o

REGRAS JURÍDICO-MATERIAIS

São normas com conteúdo, que dizem respeito a determinados domínios substanciais/materiais.

- Direitos Fundamentais
A CRP prevê duas espécies de direitos fundamentais: Direitos, Liberdades e Garantias (art.24.o e
ss.), direitos tendencialmente negativos (não exigem do Estado nenhuma atuação); Direitos
Económicos, Sociais e Culturais (art.58.o e ss.), que são direitos tendencialmente positivos (exigem
a intervenção do Estado).
As regras de direitos fundamentais reconhecem posições jurídicas subjetivas protegidas pela
Constituição.

-Regras impositivas
São regras de natureza concreta e impõem fins e tarefas aos órgãos do Estado. Porém, ao contrário
dos princípios impositivos, há a individualização do destinatário e conteúdo concreto.

Pela natureza concreta das regras impositivas retira-se uma incumbência concreta com destinatário
específico. Assim, é possível a inconstitucionalidade por omissão. Ex: art.o 39o/2 da CRP – a lei é
direcionada à AR.

Há ainda que distinguir dois subgrupos:


As imposições legiferantes – as verdadeiras imposições constitucionais- vinculam
constitucionalmente os órgãos do Estado (sobretudo ao legislador), de uma forma permanente e
concreta, ao cumprimento de determinadas tarefas, fixando, inclusive, diretivas materiais. Ex: art.o
64o (imposição da criação do SNS)

As ordens de legislar reconduzem-se a imposições constitucionais únicas que impõem ao legislador


a emanação de uma ou várias leis, destinadas, em geral, a possibilitar a instituição e funcionamento
dos órgãos constitucionais. Ex: art.o 39o/5, impositivo da regulamentação legal da Alta Autoridade
para a Comunicação Social

4- PRINCÍPIOS JURÍDICOS FUNDAMENTAIS


4.1- PRINCÍPIO DO ESTADO DE DIREITO

É este fundamentalmente um princípio constitutivo, de natureza material, procedimental e formal


que visa dar resposta ao problema de conteúdo, extensão e modo de proceder da atividade do
Estado. Ao decidir-se por um “Estado de Direito”, a Constituição visa conformar as estruturas do

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poder político e a organização da sociedade segundo o Direito. Pressupõe a subordinação ao
mesmo, a normas jurídicas.

A ideia de ordenação através do direito implica a conexão de dimensões objetivas (direito objetivo)
com dimensões subjetivas (direitos subjetivos). As regras de direito estabelecem padrões de conduta
ou comportamentos (direito objetivo), mas garantem também uma distanciação e diferenciação do
indivíduo através do direito perante os poderes públicos, assegurando-lhes um estatuto subjetivo
essencialmente constituído pelo catálogo de direitos, liberdades e garantias pessoais.

4.1.1- DIMENSÕES FORMAIS

4.1.1.1- Constitucionalidade

O Estado de Direito é um Estado Constitucional. Pressupõe a existência de uma Constituição


normativa estruturante de uma ordem jurídico-normativa fundamental vinculativa de todos os
poderes públicos. A Constituição confere à ordem estadual e aos atos dos poderes públicos medida e
forma. Por este motivo, a lei constitucional trata-se de uma verdadeira ordenação normativa
fundamental dotada de supremacia – supremacia da constituição.

• Vinculação do legislador à Constituição: Sob o ponto de vista orgânico, formal e


procedimental, não podem as leis contrariar o princípio da constitucionalidade. A
Constituição é um parâmetro material intrínseco dos atos legislativos motivo pelo qual
apenas são válidas as leis materialmente conformes com a mesma.

• Vinculação de todos os atos do Estado à Constituição: É exigida a conformidade


intrínseca e formal de todos os atos dos poderes públicos com a Constituição – art.o 3o/3.

• Princípio da reserva da Constituição: Em termos gerais, o mesmo significa que


determinadas questões respeitantes ao estatuto jurídico do político não devem ser reguladas
por leis ordinárias, mas sim pela constituição.
Este princípio da reserva da Constituição, concretiza-se através de 2 princípios: princípio da
tipicidade constitucional de competências (todas as funções e competências dos órgãos
constitucionais do poder político devem ter fundamento na constituição e reconduzir-se às
normas constitucionais de competência – art.o 111o/2); e o princípio da constitucionalidade
de restrições a direitos, liberdades e garantias (devem as restrições destes direitos ser feitas
diretamente pela constituição, ou através da lei, mediante autorização constitucional
expressa e nos casos previstos pela constituição – art.o 18o/2).

• Força normativa da Constituição: Força normativa da Constituição contra a dissolução


político-jurídica.

Assim, devido à primazia da Constituição (superioridade hierárquico-normativa), a norma


infraconstitucional que infringe a norma constitucional cai na inconstitucionalidade.
• Inconstitucionalidade orgânica: ligada ao órgão que tem competência para legislar em cada
matéria

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• Inconstitucionalidade formal: quando não é observada a forma constitucionalmente prescrita
para a emanação de um certo ato.

Muitas vezes, há coincidência entre a orgânica e a formal, já que se um órgão não tem competência
a forma também não é a devida. Mas existem outros casos, em que há exigência de uma
determinada lei e essa exigência não é cumprida (inconstitucionalidade formal).

• Inconstitucionalidade procedimental: ocorre quando uma das fases do procedimento é


preterida.

• Inconstitucionalidade material.

4.1.1.2- Separação de poderes

O princípio da separação de poderes transporta 2 dimensões complementares: separação como


divisão, controlo e limite do poder (1- dimensão negativa); separação como constitucionalização,
ordenação e organização do poder do Estado (2- dimensão positiva).

1- O princípio da divisão como forma e meio de limite do poder assegura uma medida jurídica ao
poder do Estado e serve igualmente para garantir e proteger a esfera jurídico-subjetiva dos
indivíduos e evitar a concentração de poder. Funciona como limite, barreira.

2- O princípio da separação como qualidade de princípio positivo assegura uma justa e adequada
ordenação das funções do Estado.

A separação de poderes distingue-nos três espécies de poderes públicos:

Poder legislativo ou Normador


É o poder de criação de normas jurídicas gerais e abstratas, de dimensão erga omnes.
O poder deve-se chamar Normador, porque as normas jurídicas não são emanadas apenas por
órgãos legislativos. Por exemplo, uma autarquia local pode emanar normas gerais e abstratas
(regulamentos).

Poder administrativo ou executivo


É o poder de aplicação das normas jurídicas a um caso concreto, de dimensão individual e concreta.
Está concentrado nas mãos de órgãos administrativos.
O poder legislativo está sempre acima e antes do poder administrativo. Não há administração sem
lei.
O Governo pode desempenhar dupla função, a legislativa e administrativa, ao abrigo dos art.o 198o
e 199o/c.

Ex: Os funcionários administrativos estão sujeitos à lei e à hierarquia administrativa, mas existe um
limite ao abrigo do art.o 271o/3.

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Poder Judicial
É o poder de resolução de litígios e de questões jurídicas, de natureza individual e concreta, estando
nas mãos dos tribunais.

Administração Pública ≠ Juiz, porque a CRP exige que um tribunal preencha 2 requisitos
cumulativos:
-A independência objetiva (art.o 203o): Os tribunais e juízes devem obediência apenas à lei, não
estando sujeitos a hierarquias ou orientações políticas.
-A independência subjetiva (art.o 216o): Os tribunais e juízes têm garantias de inamovibilidade
(insusceptibilidade de serem transferidos em consequência das suas decisões) e de
irresponsabilidade (não podem ser responsáveis pelas decisões).

Os tribunais têm de ter sempre a última palavra acerca da resolução de um litígio – princípio da
reserva da função jurisdicional (art.o 202o/2). Uma norma não pode impedir o acesso a tribunal.

4.1.1.3- Interdependência dos poderes

O princípio de separação de poderes, no art.o 111o, não nos diz apenas que os poderes estão
separados, pois também devem ser interdependentes, isto é, nenhum deles pode ter uma grande
prevalência relativamente aos outros.
Num Estado de Direito equilibrado, os poderes devem estar interdependentes, devem controlar-se
uns aos outros e balancear-se, proporcionalizar-se uns aos outros = Checks and Balances.

Ex: art.o 136o - Quando o PR recebe um diploma da AR, este pode promulgá-lo, vetá-lo ou enviá-lo
para o TC. Se o sistema nada mais dissesse, caso veto do PR, este quase que teria um poder de
bloqueio. Mas se o diploma, ao voltar para a AR, for votado com maioria qualificada, este segue em
frente: art.o 279o | art.o 163o, e) | art.o 169o.

4.1.1.4- Legalidade da atuação administrativa

De uma forma genérica, este princípio aponta para a vinculação jurídico-constitucional do poder
executivo.

Esta ideia de que a AP tem o seu poder sempre limitado desdobra-se em 3 importantes exigências:

- Reserva de lei
Afirma que as restrições aos direitos, liberdades e garantias só podem ser feitas por lei ou mediante
autorização desta. Além disso, num Estado de Direito, as matérias fundamentais do ordenamento
jurídico são reservadas aos órgãos legislativos, principalmente à Assembleia da República, o órgão
legiferante primário e democraticamente eleito pelo povo.

O poder executivo só pode executar, densificar e concretizar estas matérias fundamentais, ligadas,
normalmente, aos crimes e impostos, por exemplo.

Em termos de assuntos, temos 4 espécies de matérias:


- Reservadas à AR (art.o 164o);
- Reservadas ao Governo, com autorização da AR (art.o 165o).
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- Reservadas ao Governo (art.o 198o/2)
- Todas as outras matérias concorrentes, em que tanto a Assembleia como o Governo podem
disciplinar livremente (Lei e Decreto-lei têm o mesmo valor nestas matérias.)

- Prevalência de lei (art.o 266o/2)


Havendo conflito entre o poder legislativo e o administrativo, prevalece sempre o primeiro. Se
houver conflito entre a lei e o regulamento, prevalece sempre a lei, sob pena de ilegalidade.
Atuação num plano de verticalidade (lei sempre acima do ato regulamentar).

- Precedência de lei (art.o. 112o/7)


Do ponto de vista cronológico, antes de qualquer ato da administração, tem de haver uma lei.
Não há poder administrativo sem disciplina legal prévia. A precedência de lei afere-se num plano de
horizontalidade.

4.1.1.5-Segurança jurídica e proteção da confiança

O homem necessita de segurança para conduzir, planificar e conformar autónoma e


responsavelmente a sua vida. Por isso, desde cedo se consideraram os princípios da segurança
jurídica e da proteção da confiança como elementos constitutivos do Estado de Direito.
Estes dois princípios andam estreitamente associados, aponto de alguns autores considerarem o
princípio da proteção de confiança como um subprincípio ou como uma dimensão específica da
segurança jurídica. Considera-se que a segurança jurídica está conexionada com elementos
objetivos da ordem jurídica – garantia de estabilidade jurídica, segurança de orientação e realização
do direito. A proteção da confiança prende-se mais com as componentes subjetivas da segurança – a
calculabilidade e previsibilidade dos indivíduos em relação aos efeitos jurídicos dos atos dos
poderes públicos.

Ora neste sentido estes princípios comportam 5 exigências:

- Clareza e determinabilidade das normas jurídicas

Este princípio aponta para duas ideias fundamentais: a exigência de clareza das normas legais, dado
que de uma lei obscura ou contraditória pode não ser possível obter um sentido inequívoco capaz de
alicerçar uma solução jurídica para o problema concreto; exigência de densidade suficiente na
regulamentação legal, dado que um ato normativo que não contenha uma disciplina suficientemente
concreta não oferece uma medida jurídica capaz de, nomeadamente, alicerçar posições
juridicamente protegidas dos cidadãos.

- Proibição da retroatividade

Importa em primeiro lugar, esclarecer o conceito de retroatividade – perante o problema da


aplicação de normas no tempo é possível encontrar 1 de 2 tipos de leis: lei prospetiva, em que a
norma jurídica apenas produz efeitos para o futuro, abrange somente factos e situações ocorridos
após a sua entrada em vigor (efeitos prospetivos – eficácia ex nunc); lei retroativa, em que a norma
vai abranger na sua previsão normativa factos ocorridos antes da sua entrada em vigor, antes da sua
publicação em Diário da República (art.o 119o) (eficácia ex tunc).

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No âmbito destes princípios da proteção e segurança jurídica, é rejeitada a retroatividade, no
entanto, na CRP não existe nenhuma norma genérica que proíba de modo direto e expresso a
eficácia retroativa das leis. Existem sim normas específicas sobre determinadas matérias pontuais,
que proíbem a retroatividade em certos casos – normas penais desfavoráveis para o arguido (art.o
29o/1/4); normas fiscais (art.o 103o/3); normas restritivas dos DLG (art.o 18o/3). Fora destas 3
situações, define-se que apenas uma retroatividade intolerável, que afete de forma inadmissível e
arbitrária os direitos e expetativas legitimamente fundadas dos cidadãos, viola o princípio da
proteção da confiança, ínsito na ideia de Estado de Direito Democrático. Conforme o Ac TC
287/90, este grau de inconstitucionalidade, intolerabilidade é aferido mediante 2 critérios: quando se
tratar de uma alteração da ordem jurídica com a qual, razoavelmente, os destinatários não possam
contar; havendo essa retroatividade, se a mesma não existir no sentido de salvaguardar direitos ou
interesses constitucionalmente protegidos superiores ou prevalecentes.

- Proibição dos pré-efeitos

Os atos legislativos e outros atos normativos não podem produzir quaisquer efeitos jurídicos quando
não estejam ainda em vigor nos termos constitucional e legalmente prescritos.

- Irrevogabilidade dos atos administrativos constitutivos de direitos

Atos provenientes de um órgão administrativo com incidência individual e concreta na esfera


jurídica de determinada pessoa podem ser favoráveis ou desfavoráveis.

De acordo com o princípio da segurança jurídica e no contexto de um Estado de Direito, os atos


administrativos constitutivos de direitos – benéficos, favoráveis aos cidadãos – são tendencialmente
irrevogáveis. Apenas excecionalmente podem ser revogados, quando um interesse público se
sobreponha ao interesse privado, segundo o art.o 167o/2 do Código do Procedimento
Administrativo.

- Intangibilidade do caso julgado

A segurança jurídica no âmbito dos atos jurisdicionais aponta para o caso julgado.

O instituto do caso julgado assenta na estabilidade definitiva das decisões judiciais, quer porque
está excluída a possibilidade de recurso ou a reapreciação de questões já decididas e incidentes
sobre a relação processual dentro do mesmo processo; quer porque a relação material convertida é
decidida em termos definitivos e irretratáveis, impondo-se a todos os tribunais e a todas as
autoridades.

Embora este princípio da intangibilidade do caso julgado não esteja previsto expressamente na
Constituição, o mesmo decorre de vários preceitos (art.o 29o/4, 282o/3 da CRP).

4.1.2- DIMENSÕES MATERIAIS

4.1.2.1- Igualdade (art.o 13o)

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A igualdade, de forma a ser verdadeiramente concretizada desdobra-se em 2 subprincípios,
exigências, demandas: Igualdade em sentido Horizontal (formal), que se consubstancia em tratar
igual o que é igual, devendo o ordenamento jurídico regular de modo igual situações fácticas
essencialmente iguais, os indivíduos que se encontram na mesma situação de facto devem ter o
mesmo tratamento jurídico; Igualdade em sentido vertical (material), segundo a qual o ordenamento
jurídico deve dispensar tratamento desigual a situações fácticas essencialmente desiguais.
Compreende-se aqui que a verdadeira igualdade pressupõe sempre desigualdade.

Ora relativamente à segunda exigência, nem sempre se revela tarefa simples realizar determinadas
distinções de facto (nomeadamente através do art.o 13o/2). É no legislador que, ao conformar as leis
(dar conteúdo), reside a tarefa de atender a este princípio e estabelecer aquilo que deve ser igual e
aquilo que é objeto de diferenciações (liberdade de conformação das normas).

Conforme o Tribunal Constitucional (Ac 563/96), deve o legislador realizar diferenciações de


tratamento razoável, racional e objetivamente fundadas – só assim são as mesmas legítimas e
juridicamente toleráveis. Pelo contrário, neste mesmo âmbito, proíbe-se o arbítrio e a discriminação
infundada.

Assim, exige-se do legislador um dever positivo, já que tem de fornecer material bastante para
fundamentar a diferenciação de tratamento, mas também um dever negativo, mediante o qual fica
proibida a discriminação infundada, o arbítrio.

4.1.2.2- Proporcionalidade

Também designado por princípio da proibição do excesso, ou da justa medida, o princípio da


proporcionalidade traduz-se no juízo de ponderação entre meios e fins com o objetivo de aferir se o
meio utilizado foi, ou não, adequado ao fim que se pretende atingir. Ora do mesmo decorrem 3
requisitos cumulativos ou subprincípios constitutivos:

• Adequação [Ponderação Qualitativa]: O princípio da conformidade ou da adequação impõe


que a medida adotada para a realização do interesse público deve ser apropriada à
prossecução do fim, ou fins, a ele subjacentes. Exige-se a prova de que o ato do poder
público é apto e conforme os fins justificativos da sua adoção.

• Necessidade: Também designado de princípio da exigibilidade, pressupõe a prova de que a


medida adotada era absolutamente necessária, que para a obtenção de determinados fins, não
seria possível adotar outro meio menos oneroso, gravoso para o cidadão.

• Proporcionalidade em sentido estrito [Ponderação Quantitativa]: Sendo ponderados os


meios e os fins, pretende avaliar-se se o meio utilizado é ou não quantitativo, proporcionado
em relação ao fim que pretende atingir. São pesadas as desvantagens dos meios
relativamente às vantagens do fim.

4.1.2.3- Dignidade da Pessoa Humana

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Num Estado de Direito, do ponto de vista material, há uma dimensão intransponível que é a
Dignidade da Pessoa Humana. Todos os atos jurídicos, políticos, económicos, sociais têm como
referente a pessoa humana.
Torna-se perigoso considerá-la um princípio porque isso implica que possa ser restringida face a
outros. É o princípio dos princípios.
O seu conteúdo essencial conduz à proibição da redução da pessoa a objeto e a degradação da
pessoa humana.
Para além disso, existem 3 condições cumulativas que um ordenamento jurídico tem de assegurar
para que haja a dignidade da pessoa humana:

• Autodeterminação do seu próprio destino – A pessoa poder decidir através da sua própria
vontade, livre, esclarecida e ponderada, o seu próprio destino.

• Direito à sua própria identidade e imagem – A pessoa deve ser vista pela sua identidade
própria, imagem e figura.

• Bem-estar mínimo social e económico – Permite às pessoas viverem em condições


condignas e sem dependerem de caridade, tendo as condições materiais essenciais
(alimentação, saúde, habitação, etc.).

A dignidade humana tem determinadas características:

- Inata (originária) – Nasce iminentemente com a pessoa, sendo que a CRP se limita a reconhecer
essa dignidade, que permanece blindada.

- Incondicional – Toda a gente tem dignidade humana, independentemente de condições e


especificidades. - Inalienável – Não se pode alienar ou renunciar da pessoa.
- Imprescritível – Não tem prazo de término, dura enquanto a pessoa vive.

4.2- PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO

A Democracia constitui um pilar essencial do Estado Constitucional.

Trata-se o princípio democrático de um princípio de densificação da vontade popular, já que o


mesmo pressupõe a subordinação do poder à vontade popular, da maioria. A legitimação do
domínio político só pode derivar do povo (povo como conjunto de todas as pessoas, em condições
livres e iguais) e não de qualquer outra instância. Este mesmo povo surge como titular da soberania
e do poder (princípio da soberania popular) [art.o 1o, 2o, 3o, 10o, 48o ss. da CRP].

Importa reforçar no âmbito deste princípio, que não há disponibilidade do poder legislativo
ordinário alterar as regras democráticas – o princípio democrático é um princípio impositivo (art.o
9o, b), c); 80o, a); 109o; art.o 114o/2 CRP).
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4.2.1- TIPOS DE DEMOCRACIA

Ora, a Democracia efetiva-se através de várias formas. Por normas são distinguidos três tipos:

Democracia Direta

No contexto de Democracia Direta, as decisões são tomadas diretamente pelos destinatários das
normas jurídicas, sem qualquer espécie de intermediação. / As decisões são tomadas pelos seus
próprios destinatários sem necessidade de representantes. É o próprio povo quem, ele próprio,
aprova diretamente as normas que sobre si vão incidir – não existem representantes. Ora nestes
termos, a Democracia Direta apenas é exequível em circunscrições geográficas reduzidas.

Em Portugal essa possibilidade existe apenas em teoria e em circunstâncias excecionais (art.o 245o/
2 da CRP).

Democracia Semidireta (participativa)

No contexto da democracia semidirecta o povo intervém numa das fases do procedimento


legislativo (numa das fases conducentes à aprovação de uma lei pela Assembleia da República).
Neste sentido, existem 3 instrumentos através dos quais pode o povo participar em momentos
diversos:
Pode intervir no início (1- iniciativa popular), meio (2- referendo) ou fim (3- veto).

(1) Iniciativa Popular

Procedimento democrático que consiste em facultar ao povo a iniciativa de uma proposta tendente à
adoção de uma norma constitucional ou legislativa. É o povo que dá a propulsão ao processo
legislativo.
Através da iniciativa popular os cidadãos podem propor à assembleia legislativa a feitura de uma lei
sobre determinada matéria ou apresentar um projeto lei completamente redigido (art.o 167o, 115o/2,
240o/2 da CRP).

(2) Referendo (art.o 115o da CRP, Lei 15-A/98)

O referendo é um regime jurídico específico, tratando-se de uma consulta popular alargada sobre
uma determinada norma jurídica em sentido amplo. Não é uma mera consulta opinativa, pois não
pode haver referendo sobre qualquer questão.

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Podemos ter um sentido decisório positivo – Se o povo chamado em referendo votou sim
maioritariamente, a AR tem de aprovar o ato legislativo ou a convenção internacional com aquele
sentido de sim.

Mas também temos um sentido decisório negativo – Se o povo responder não, a AR não aprovará
aquela norma. Ao abrigo do disposto no art.o 115o/10, se a resposta for negativa, há uma espécie de
congelamento que leva a que o povo não seja sempre chamado ao referendo.

(3) Veto Popular (75 Costituzione italiana)

O veto é um instrumento político que permite aos cidadãos exigir que uma determinada lei seja
submetida a voto popular. Se esta votação conduzir à rejeição do ato legislativo este deverá ser
considerado como nunca tendo existido no ordenamento jurídico. Não está previsto na CRP

Democracia Representativa

Não intervindo em nenhum momento do processo legislativo, o povo dá autorização a um órgão


soberano, institucionalmente legitimado pela Constituição, para agir autonomamente em nome do
mesmo e para o mesmo. Há uma delegação da vontade (autorização e legitimação jurídico-formal
concedida a um órgão governante).

Ora surge neste sentido, o voto – como direito estruturante do princípio democrático (art.49.o/1), e
como dever cívico (art.49.o/2).

Para que o mesmo seja constitucionalmente válido tem de preencher determinadas características,
previstas no art.o 10o:

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-Universal
Pressupõe o alargamento do direito de voto a todos os cidadãos – todos podem votar e todos podem
ser eleitos. A Constituição proíbe o sufrágio restrito, qualquer que seja o seu fundamento (sexo,
raça, rendimento, instrução), com exceção dos cidadãos sem capacidade eleitoral.
Este princípio da universalidade veda assim a exclusão injustificada dos cidadãos da participação
eleitoral, porém, comporta o mesmo restrições tendencialmente assentes: na idade (apenas votam os
indivíduos com mais de 18 anos de idade) e na nacionalidade (apenas votam indivíduos com
cidadania portuguesa).

- Livre
Deve ser garantido ao eleitor o exercício do direito de voto sem qualquer coação física ou
psicológica de entidades públicas ou de entidades privadas. A liberdade de voto abrange assim a
liberdade de votar ou não votar, e a liberdade no votar.

- Igual
Todos os votos têm de ter uma eficácia jurídica igual – o mesmo peso; o mesmo valor de resultado.

- Direto
O voto resulta imediatamente na manifestação da vontade do eleitor, sem intervenção de qualquer
vontade alheia. A imediaticidade do sufrágio garante ao cidadão ativo a primeira e última palavra.
No sufrágio indireto, os eleitores limitam-se a eleger um colégio de delegados eleitorais que por sua
vez escolherão os candidatos para os diversos órgãos do poder político.

-Secreto
O cidadão eleitor guarda para si a sua decisão de voto. O voto secreto pressupõe não só a
pessoalidade do voto; como a proibição de “sinalização” do mesmo. O princípio do voto secreto
pressupõe além disto a impossibilidade de reconstituir posteriormente o sentido do voto.

-Periódico
Deve o sufrágio ser periódico (art.113.o/1) e permitir a renovação igualmente periódica dos cargos
políticos (art.117.o). Impede-se com isto a vitaliciedade dos mandatos. A duração do período de
exercício dos cargos deve ser previamente fixada no texto constitucional; a renovação dos mesmos
traduz-se em eleições simultâneas ou sucessivas para os diferentes órgãos de soberania.

Modos de representatividade

A CRP, ao abrigo do art.o 149o/1, abre a possibilidade de círculos uninominais e plurinominais.


Contudo, a legislação ordinária, designadamente a Lei Eleitoral para a Assembleia da República,
Lei no14/79, art.o 14o, adota os círculos plurinominais.

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4.3- PRINCÍPIO REPUBLICANO

O mesmo pressupõe a subordinação do poder público ao interesse público e bem comum.


Materializa-se em diversas prerrogativas:

• Igualdade de todos perante a lei (art.o 13o/2): este princípio constitui igualmente uma
marca da República (abolição de privilégios; regalias; distinções; etc.). Um regime onde
existam privilégios, imunidades, distinções, regalias generalizadas não é visto com um
regime republicano.

• Laicidade (art.o 41o/4, 288o/c)): o Estado laico pressupõe a absoluta separação com as
Igrejas (opõe-se ao Estado confessional). Esta matéria constitui um dos limites da revisão
constitucional (não é passível de ser revista). Não proíbe discriminações, desde que
fundadas.

• Os cargos públicos num Estado Republicano estão sempre sujeitos a três características
fundamentais: eletividade (art.o 113o) – a designação dos titulares de cargos eletivos é
através de sufrágio; renovação (art.o 118o) – os cargos têm de ser renováveis – ninguém
pode exercer a título vitalício ou hereditário qualquer cargo político; responsabilidade –
política (117o), civil (117o), criminal (117o), disciplinar (271o), financeira (214o).

• Dimensão deôntica (deveres fundamentais – art.o 15o) – saúde (64o), ambiente (66o),
património (78o), impostos (103o), defesa (276o).

4.4- PRINCÍPIO DA UNIDADE DO ESTADO

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Estando previsto no art.6.o da CRP, o princípio da Unidade do Estado trata-se de um princípio
estruturante do Estado.

Podemos caracterizar como Estado Unitário aquele que, num determinado território e para a
população que nele vive, tem um único suporte para a estatalidade, constitui uma única ordem
constitucional. Isto pressupõe: um único nível de decisão soberana; um único sistema de órgãos
constitucionais; uma única nacionalidade.

Ora, este caráter unitário do Estado, não sendo absoluto, é compatível com a autonomia regional e a
descentralização territorial:

-Autonomia Insular (art.o 225o e ss.)


O respeito pelo regime autonómico insular é uma obrigação constitucional do Estado (art.o 6o/1),
estando este regime garantido contra as próprias leis de revisão.
Ora, este regime engloba várias “autonomias”, previstas pelos estatutos das Regiões Autónomas
(art.o 6o/2): autonomia política e existência de órgãos de governo próprios das RA; autonomia
normativa, materializada na competência legislativa e regulamentar; autonomia administrativa;
autonomia económica e financeira; autonomia como liberdade de decisão.

- Autonomia autárquica (art.o 235o e ss.)


A Constituição refere-se à existência de autarquias locais como componente da organização
democrática do Estado. Referimo-nos aqui aos municípios e às freguesias.

5- ESTADO E ORGANIZAÇÃO DO PODER


POLÍTICO
Estruturas jurídico-organizatórias: Entende-se por direito constitucional organizatório o conjunto de
regras e princípios constitucionais que regulam a formação dos órgãos constitucionais de soberania
e respetivas competências e funções, bem como a forma de procedimento da sua atividade.

5.1- ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO

Conforme o art.2.o da CRP, a República Portuguesa diz respeito a um Estado Democrático baseado
na soberania popular e na organização política democrática.

Ora a organização do poder político no ordenamento jurídico-constitucional português convoca


desde logo a questão do exercício do poder. Neste sentido, deve o mesmo ser exercido conforme o
princípio da separação de poderes e interdependência dos órgãos de soberania (art.o 111o da CRP).
O exercício do poder é balizado principalmente pelo princípio da separação de poderes, incito no
princípio do Estado de Direito. Tratando-se este do princípio organizatório estrutural, o mesmo é
efetivado de modo tripartido: poderes normadores/legislativos; aplicadores/administrativos;
judiciais/judicativos.

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O exercício do poder é efetuado, não de modo absoluto por qualquer entidade, mas através de
órgãos de soberania (110o/1) – Presidente da República (120o e ss.), Assembleia da República
(147o e ss.), Governo (182o e ss.) e Tribunais (202o e ss.).

5.2- COMPETÊNCIAS

Por competência entender-se-á o poder de ação e de atuação atribuído aos vários órgãos e agentes
constitucionais com o fim de prosseguirem as tarefas de que são constitucional ou legalmente
incumbidos.

A competência envolve, por conseguinte, a atribuição de determinadas tarefas bem como os meios
de ação (poderes) necessários para a sua prossecução. Além disso, a competência delimita o quadro
jurídico de atuação de uma unidade organizatória relativamente a outra.

-Competências constitucionais e Competências legais


As competências podem ter um fundamento constitucional – competências constitucionais (Ex.
art.o 133o e ss. da CRP, que prevê as competências do PR), ou ser atribuídas por via da lei –
competências legais.

-Competências explícitas ou implícitas


Sendo as competências previstas constitucionalmente, ou legalmente, podem as mesmas ser
explícitas/expressas - aquelas que resultam diretamente do texto normativo; ou implícitas – não
estão expressamente previstas, mas deduzem-se do texto escrito (constitucional ou legal).

-Competências de iniciativa, parecerísticas e decisórias


No primeiro caso (competências de iniciativa), o órgão de soberania ou o órgão constitucional
propõe algo, desencadeia algum procedimento (Ex. art.o 130o/2, 167o).

O segundo tipo (competências parecerísticas), traduz-se na competência para a emanação de


pareceres, auxiliando na decisão final (Ex. art.o 146o, 214o/1, a), b))

No último caso (competências decisórias), o órgão constitucional decide, aprova determinado ato,
matéria, formulando atos jurídicos vinculativos (Ex. art.o 198o, 161o, a), b), c)).

-Competências legislativas, administrativas e judiciais


Trata-se da classificação associada ao princípio da separação de poderes.
Competências Legislativas - competência para criar atos legislativos, leis (art.o 164o, 165o, 198o).
Competências Administrativas - competências para aplicar ao caso em concreto, atos normativos
(art.o 199o, 227o, g), 235o e ss.).
Competências Judiciais - competências para julgar, resolver litígios em última palavra (art.o 202o e
ss.).

DC – Carolina Roriz

O Governo tem 2 tipos de competências – legislativas (art.o 198o) ao abrigo das quais faz decretos-
lei, e competências administrativas (art.o 199o, c)) ao abrigo das quais faz regulamentos (decretos-
regulamentares – art.o 112o/6).

-Competências exclusivas e competências correntes


Ora a competência exclusiva é atribuída a um só órgão (art.o 164o e 165o - matérias reservadas à
AR; 198o/2 - matérias reservadas ao Governo).
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As competências concorrentes são atribuídas a título igual a vários órgãos (nas concorrentes quer o
Governo, quer a AR podem disciplinar e a lei e decreto-lei possuem igual valor, querendo isto dizer
que o ato posterior afasta o ato anterior).

5.3- FORMAS DE ESTADO, REGIMES POLÍTICOS E SISTEMAS DE GOVERNO

5.4- ESTRUTURA E FUNÇÃO DOS ORGÃOS DE SOBERANIA PORTUGUESES

5.4.1- Presidente da República


O Presidente da República constitui um dos órgãos de soberania considerados pelo art.o 110o. O
mesmo corresponde ao Chefe de Estado. Conforme o art.o 120o, garante a independência nacional,
a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e representa
juridicamente o Estado no plano internacional.

5.4.1.1- Eleição

- Capacidade eleitoral
Capacidade eleitoral ativa (quem pode eleger) – Conforme o art.o 121o/1, o PR é eleito por sufrágio
direto, universal e secreto dos cidadãos portugueses eleitores recenseados no território nacional, ou
residentes no estrangeiro nos termos do n.o 2.

Capacidade eleitoral passiva (suscetibilidade de ser eleito) – Conforme o art.o 122o, são elegíveis
os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos.

- Procedimento Eleitoral (art.o 124o-127o)


Candidatura (art.o 124o) – é proposta mediante um mínimo de 7500 e máximo de 15000 cidadãos
eleitores e apresentada ao TC até 30 dias antes da data marcada para a eleição.
Data de Eleição (art.o 125o) – normalmente 60 dias antes do termo de mandato do seu antecessor.
Sistema Eleitoral (art.o 126o) – É eleito o candidato que obtiver mais de metade dos votos
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validamente expressos; se não for o caso, até 20 dias depois, deverá proceder-se a segundo sufrágio
(nesta segunda volta apenas concorrerão os dois candidatos mais votados).
Posse e Juramento (art.o 127o)

- Mandato (art.o 128o)


O mandato do PR tem a duração de 5 anos e termina com a posse do novo Presidente eleito.

-Reelegibilidade (art.o 123o)


Não pode o PR ser eleito para um terceiro mandato consecutivo, nem nos 5 anos decorrentes ao fim
do segundo mandato.

5.4.1.2- Competências relativamente a outros órgãos do estado

• Presidir ao Conselho de Estado (133o, a)). Ora o Conselho de Estado, conforme o art.141o e
ss. corresponde ao órgão político de consulta do PR;

• Marcar eleições (133o, b)) – constitui uma competência meramente organizatória.

• Dissolver a Assembleia da República (133.o, e)) e as Assembleias Legislativas Regionais


(art.133o, j)), ao
entender que não estão asseguradas as condições de estabilidade democrática.

• Nomear e exonerar o Primeiro Ministro e os membros do Governo; demitir o Governo


(133o, f), g), h)). *Alínea f) e h) – competências constitutivas
*Alínea h) e g) – competências destitutivas

• Nomear e exonerar os Representantes da República para as regiões autónomas (230o).

• Nomear e exonerar o Presidente do Tribunal de Contas (214o).

• Nomear e exonerar o Procurador Geral da República (220o).

5.4.1.3- Competências relativamente a atos próprios

-Promulgação e veto (art.o 136o)


Quando o PR recebe um diploma da AR ou do Governo, existem 3 hipóteses:

1- Promulgação (concorda com o conteúdo do seu texto)

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2- Veto Político (não com concorda com o conteúdo do diploma) – o Presidente tem o direito de
vetar sem estar dependente da pronúncia de qualquer outro órgão.
*No caso de o diploma ter sido emanado da AR (20 dias para promulgar/vetar) [136o/1]
*No caso de o diploma ter sido emanado do Governo (40 dias para promulgar/vetar) [136o/4]

3- Pode ainda o PR requerer ao TC a fiscalização preventiva de qualquer norma que lhe tenha sido
apresentada, no prazo de 8 dias a partir da data de receção do diploma (art.278.o/1/3).
*No caso do TC se pronunciar pela inconstitucionalidade, a Constituição impõe ao Presidente a
obrigação de veto – o diploma deve ser vetado pelo PR ou RR (veto por inconstitucionalidade), e
devolvido ao órgão que o tiver aprovado (279o/1).

Superação do veto:
Veto político superado por confirmação: Quando o PR veta politicamente ou por
inconstitucionalidade existe a possibilidade de o órgão que o aprovou superar o veto do Presidente.
Conforme o art.o 136o/2, se a AR confirmar o voto por maioria absoluta dos Deputados em
efetividade de funções (116), o PR deverá promulgar o diploma.

No n.o 3, a Constituição prevê que será exigida maioria qualificada (maioria de dois terços dos
Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efetividade de
funções) para a confirmação dos decretos que revistam a forma de lei orgânica, bem como dos que
respeitarem as matérias previstas no a), b) e c). Esta forma de superação é apenas válida para a
Assembleia da República.]

Veto por inconstitucionalidade superado por expurgação: O órgão do qual o diploma foi
emanado pode expurgar a norma julgada inconstitucional nos termos do art.o 279o/2. De acordo
com o n.o 3 o diploma pode ainda ser reformulado.

- Controlo da constitucionalidade

Preventivo (278o, 289o) Sucessivo abstrato (281o) Por omissão (283o)

• Submeter a referendo questões de relevante interesse nacional

• Declarar estado de sítio ou estado de emergência

• Ratificar Tratados internacionais

5.4.2- Assembleia da República

A Assembleia da República, tratando-se de um órgão constitucional de soberania, é uma


“assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses (art.o 147o) – constitui o parlamento
da República Portuguesa. Importa destacar que deve a AR, órgão colegial, representar todas as

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pessoas, independentemente do conceito restrito de cidadãos.

5.4.2.1- Composição
A Assembleia da República tem o mínimo de 180 e máximo de 230 Deputados. Os mesmos
representam todo o país (art.o 152o/2).

5.4.2.2- Eleição (art.o 150o e Lei eleitoral)

-Capacidade Eleitoral
Capacidade Eleitoral Ativa (Cidadãos portugueses eleitores)
Capacidade Eleitoral Passiva (Cidadãos portugueses eleitores, tendo em conta as restrições que a lei
eleitoral estabelecer por virtude de incompatibilidades locais ou de exercício de certos cargos – art.o
150o)

-Candidatura (art.o 151o).

São apresentadas pelos partidos políticos, isoladamente ou em coligação, podendo as listas integrar
cidadãos não inscritos nos respetivos partidos.

5.4.2.3- Organização e Funcionamento

A AR funciona por um mandato de 4 anos (Legislatura), que se reparte em 4 sessões legislativas


(171o/1), com a duração de 1 ano (174o/1), de 15 de setembro a 15 de junho (174o/2). Fora do
funcionamento efetivo e durante os períodos em que a mesma se encontrar dissolvida funciona a
Comissão Permanente (179o). A mesma diz respeito a uma comissão restrita composta apenas por
alguns elementos da AR (179o/2).

A AR pode funcionar em Plenário (estão presentes todos os Deputados em efetividade de funções)


ou em Comissões especializadas (formadas por Deputados que se vão agrupar em pequenos núcleos
especializados em determinadas matérias, assuntos) [178o]; em Grupos parlamentares [180o]
(conjunto de Deputados afetos ao mesmo partido ou à mesma coligação).

5.4.2.4- Competências

- Normativas
Competências da AR para emanar normas jurídicas. As normas jurídicas constituem prescrições
deônticas vinculativas – determinações, estipulações que contem deveres jurídicos vinculativos, aos
quais está associada uma sanção.
Ora dentro desta categoria é possível distinguir 4 tipos de competências:

• (1) Constituintes (161o, a)) – Competências para criar normas constitucionais. Conforme a
alínea a), a aprovação de alterações à Constituição cabe apenas à Assembleia, nos termos do
art.o 284o a 289o

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• (2) Convencionais (161o, i)) – Competências para aprovar convenções e tratados
internacionais.

• (3) Estatutárias (161o, b)) – Competências para aprovar estatutos político-administrativos


das Regiões
Autónomas.

• (4) Legislativas (161o, c) e g)) – A AR é o órgão legislativo por excelência, a ela cabe a
função de fazer leis. Hoje esta função não é um monopólio da Assembleia, dado que o
Governo e as Assembleias Regionais têm também competência legislativa (decretos-leis e
decretos legislativos regionais).

Competências legislativas reservadas: É atribuída ao parlamento uma reserva de competência


legislativa absoluta para certas matérias (164o), ao lado de uma reserva relativa de competências
para outros domínios materiais (165o) (mediante uma lei de autorização legislativa, pode o Governo
disciplinar estas matérias emanando um decreto-lei autorizado – competências legislativas
reservadas.)

Competências legislativas concorrentes: Matérias passíveis de serem disciplinadas quer pela AR,
quer por um outro órgão legislativo, designadamente o Governo (nestes casos lei e decreto-lei têm
igual valor).

- Não Normativas

• (1) Função eletiva: A CRP atribuiu à Assembleia da República competência para a eleição
de membros de determinados órgãos constitucionais, nos termos do art.o 163o, g) e h).

• (2) Propositura referendária: Nos termos do 161o, j), a Assembleia tem competência para
propor referendos de questões de relevante interesse nacional ao Presidente da República.

• (3) Competências Financeiras (161o, g), h))

• (4) Competências relativas a estados de exceção constitucional (161o/ l)

• (5) Competências de controlo e fiscalização: A Assembleia da República desenvolve uma


vasta função de fiscalização e de controlo em especial sobre as atividades do Governo, mas
igualmente sobre outras esferas de atividade. São considerados atos típicos de controlo:

Moções de Censura

Considerado o instrumento mais radical no sentido da sujeição do Governo ao controlo político do


parlamento, através da moção de censura, de iniciativa parlamentar (diferente da moção de
confiança, de iniciativa governamental, que tratando-se de um voto de aprovação da atuação do
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Governo, visa robustecer a legitimidade do mesmo), a AR põe em jogo a responsabilidade política
do Governo, implicando a aprovação da mesma a sua demissão; trata-se de um voto de reprovação
proposto à AR sob a atuação do Governo – 163.o, e).

Apreciação parlamentar dos decretos-lei

No contexto da vigência dos diplomas, existem 2 formas de os mesmo saírem do ordenamento


jurídico, podendo os mesmos ser revogados ou declarados inconstitucionais pelo TC. Ora no que
concretamente diz respeito aos decretos-lei, existe ainda uma outra forma de cessação de vigência: a
designada apreciação parlamentar (art.o 169o). Os decretos-lei, salvo os da exclusiva competência
do Governo, podem ser submetidos a apreciação da AR para efeitos de cessação de vigência ou de
alteração, a requerimento de 10 Deputados após 30 dias subsequentes à publicação do diploma. No
decurso da apreciação do decreto-lei em questão é emanada uma resolução:

a) A proposta de cessação de vigência é rejeitada (o decreto-lei mantém-se em vigor).


b) A proposta de cessação de vigência é aprovada (o decreto-lei deixa de vigorar com eficácia
prospetiva, nos termos do art.o 169o/4).

Distinções entre a cessação de vigência e a declaração de inconstitucionalidade (169o≠282o).

A cessação de vigência, sendo aprovada pela AR, pode ter subjacentes motivos políticos; a
declaração de inconstitucionalidade, é aprovada pelo TC, sempre por motivos jurídicos.

A cessação de vigência apenas poderá surgir nos primeiros 30 dias decorrentes da publicação do
diploma; A declaração de inconstitucionalidade, poderá ser convocada em qualquer altura.

A cessação de vigência é requerida apenas por 10 Deputados; a declaração de inconstitucionalidade,


por qualquer entidade elencada no art.o 281o.

A cessação de vigência tem eficácia prospetiva (ex nunc); a declaração de inconstitucionalidade tem
eficácia retroativa (ex tunc).

5.4.2.5- Tipos de atos

Modo como a AR exterioriza a sua vontade, querer jurídico

• Lei: A Lei diz respeito ao ato normativo por excelência, emanado pela AR. Lei
Constitucional (Lei de revisão constitucional) (166o/1), Lei Orgânica (166o/2), Leis
ordinárias (166o/3), Leis estatutárias.

• Moção: Ato da AR sem caráter normativo, mas que contem antes uma apreciação, valoração
sobre determinada matéria – art.o 166o/4

• Resolução: Ato mediante o qual a AR resolve expressar a sua vontade sem caráter
legislativo; por norma dizem respeito a matérias com caráter meramente declaratório; não
tem efeitos vinculativos – 166o/5.

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5.4.3- Governo
O Governo constitui um órgão constitucional de soberania ao qual é confiada a “função
governativa” - função de conduzir a política geral do país e superintender na administração pública
(órgão superior da Administração Pública).

5.4.3.1- Composição
Art.o 183o.
Trata-se o Governo de um órgão colegial - formado por várias pessoas; e complexo - constituído por
vários órgãos.

• Primeiro-Ministro

• Ministros

• Secretário de Estado

• Sub-Secretário de Estado

PM e Ministros compõem o Conselho de Ministros (art.o 184o e 200o) – designado de “núcleo duro
do Governo”. Diz respeito ao órgão que reúne periodicamente para discutir a política geral do país.

5.4.3.2- Início e cessação de funções


Art.o 186o.
Todos os membros do Governo iniciam funções com o ato de tomada de posse e cessam com o ato
de exoneração.

5.4.3.3- Formação
Art.o 187o

O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos todos os partidos


representantes na Assembleia e tendo em conta os resultados eleitorais (187o/1). Os restantes
membros são nomeados pelo PR, sob proposta do Primeiro-Ministro (187o/2).

5.4.3.4- Princípios que regem a atuação do Governo

• Solidariedade intergovernamental (189o): Se um ministro é individualmente responsável


pelos seus atos, também o é enquanto membro do Governo, pela política geral deste. O
princípio da solidariedade pressupõe a vinculação de todos os ministros ao programa do
Governo e às deliberações tomadas em Conselho de Ministros. (Todos os membros do
Governo estão obrigatoriamente solidários uns com os outros).

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• Responsabilidade perante o Presidente da República e Assembleia da República (190o,
191o): É o Governo responsável tanto perante a Assembleia, como perante o Presidente da
República (depende o primeiro da aprovação dos segundos). Ora neste sentido, são 4 os
institutos que demonstram a subordinação, responsabilidade do Governo perante estes
órgãos de soberania:

(1) Programa do Governo (192o): Logo no decurso do início de funções do Governo, tem de ser
apresentado à AR para efeitos de apreciação o programa do Governo, no qual constarão as
principais orientações políticas.

(2) Moções de Censura (194o): Voto de reprovação da atuação do Governo por parte da Assembleia
da República (Deputados/Partidos da oposição).

(3) Moções de Confiança: Voto de aprovação da atuação do Governo (por iniciativa do mesmo e
com o objetivo de robustecer a sua legitimidade).

(4) Irregular funcionamento das instituições democráticas: Pode o PR fazer cessar as funções do
Governo ao constatar a existência de um irregular funcionamento das instituições democráticas.

Demissão do Governo (195o)

Implicam a demissão do Governo (no1):

• a) O início da nova legislatura.

• b) A aceitação pelo PR de pedido de demissão apresentado pelo PM.

• c) A morte ou impossibilidade física duradoura do PM.

• d) Rejeição do programa de Governo.

• e) A não aprovação de uma moção de confiança.

• f)A aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta dos Deputados em efetividade
de funções(116 Deputados).

(no2) O PR só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular
funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado.

5.4.3.5- Competências

- Políticas (art.o 197o)

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(1) Referenda Ministerial (a); art.o 140o): A referenda ministerial constitui uma fase do processo
legislativo

(procedimento de feitura das leis). No decurso da promulgação, por parte do PR, do diploma, segue-
se a referenda ministerial (seguindo o diploma para o Governo, cabe ao órgão a assinatura do
mesmo – referendar significa assinar o diploma).
Este instituto assegura a passagem dos atos pelos 3 órgãos de soberania (AR – aprovação; PR –
promulgação; Governo – referenda ministerial; Publicação em Diário da República).

(2) Competências Convencionais (b), c)): Competências no domínio do direito internacional –


negociar e ajustar convenções internacionais; aprovar acordos internacionais cuja aprovação não
seja da competência da AR.

(3) Competências de Propositura ou de Iniciativa (d), e), g))

(4) Consultivas (f): Pronuncia-se sobre uma matéria

- Legislativas (art.o 198o)

• (1) Decretos-lei simples/concorrentes (a): Decretos-lei em matérias concorrentes com a lei,


ou seja,
matérias não reservadas nem ao Governo nem à AR e por esse motivo, ambos podem
disciplinar de modo alternativo ou concorrente (lei e decreto-lei têm igual valor – vigora a
regra da paridade).

• (2) Decretos-lei autorizados (b): Situações em que a AR concede uma autorização


legislativa, e o Governo, no seguimento dessa mesma autorização, disciplina sobre
determinada matéria (elencada no art.o 165o). O Governo dá cumprimento à lei de
autorização, concedida pela AR, através de um decreto-lei autorizado (o decreto-lei
autorizado não tem o mesmo valor que uma lei de autorização legislativa – o primeiro está
subordinado à segunda).

• (3) Decretos-lei de desenvolvimento (c): Em determinadas matérias a AR emana uma lei de


bases (lei que fixa apenas a disciplina jurídica essencial de certa matéria), passível de ser
desenvolvida. Os decretos-lei que desenvolvem as leis de bases dizem respeito aos decretos-
lei de desenvolvimento.

• (4) Decretos-lei exclusivos (no2): Decretos-lei de competência exclusiva do Governo (não


se coloca a questão da lei uma vez que dizem estas respeito a matérias reservadas ao
Governo. Qualquer lei que se destine a disciplinar estas matérias será inconstitucional).

Dos 4 tipos de decreto-lei analisados, 3 dos mesmos podem ser sujeitos a apreciação parlamentar
para efeitos de cessação de vigência ou de alteração (169o).

-Administrativas (art.o 199o)


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• (1) Dirigir a Administração Pública (d)

• (2) Executar o Orçamento de Estado (b)

• (3) Fazer os regulamentos necessários à boa execução das leis (c): Conforme o art.o 112o/7,
um regulamento
deve sempre ser precedido de uma lei (precedência da lei)

(...)

*Diferença entre decreto-lei e decreto regulamentar remete para o facto: de o decreto-lei constituir
um ato emanado ao abrigo de competências legislativas (198o), enquanto o decreto regulamentar é
um ato emanado ao abrigo de competências administrativas (199o). O decreto-lei surge sempre
antes do regulamento (princípio da precedência da lei). Em caso de colisão o decreto-lei prevalece
sobre o regulamento (princípio da prevalência/primado da lei).

6- O SISTEMA CONSTITUCIONAL DAS FONTES


DE DIREITO
ATOS LEGISLATIVOS

6.1-A Lei

A lei é um termo polissémico, tendo um sentido formal e um sentido material.

Em sentido formal, temos a lei como um ato geral e abstrato, com valor de Lei, emanado pelo órgão
legiferante primário – a Assembleia da República.

Em sentido material, temos a lei em sentido amplo, como qualquer ato normativo.

As leis com valor reforçado

A nossa CRP admite Leis com Valor Reforçado (LVR), que criam um novo degrau.

Ora para aferir sobre o mesmo, relativamente a determinada lei, é necessário atender a um conjunto
de critérios de identificação previstos no art.112o/2 e 3:

-Critério de procedimento agravado: Determinadas leis têm valor reforçado pois no âmbito do
seu procedimento legislativo, a Constituição exige certos requisitos agravados (mais fortes), não
exigidos às restantes leis (certas leis exigem a aprovação por maioria qualificada; votação pelo
plenário – art.o168o/6).

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- Critério do fundamento material: Certas leis constituem o fundamento de conteúdo, a base, o
pressuposto para outras leis que se lhe vão seguir – ex. leis de bases; leis de princípios.

- Critério da produção normativa: Leis de valor reforçado que constituem fundamento de


produção normativa; certas leis disciplinam o modo de produção de outras leis – ex. lei de
enquadramento.

Tipos de Leis com valor reforçado

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Inconstitucionalidade e Ilegalidade – art.o 281o


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• A violação da CRP constitui uma inconstitucionalidade – a).

• A violação de uma Lei de Valor Reforçado constitui uma ilegalidade


por violação da LVR – b).

• A violação de uma Lei Estatuária constitui uma ilegalidade por


violação do Estatuto das RA – c).

As leis sem valor reforçado (leis ordinárias)


Lei Ordinária como ato legislativo mais corrente e comum, sem valor reforçado.
Lei Ordinária está duplamente vinculada e parametrizada: à CRP e às leis com valor reforçado.

6.2- O Decreto-Lei

O Decreto legislativo regional


Emanado pela assembleia legislativa regional.

O Procedimento legislativo

1-Iniciativa – art.o 167o


Materializada em projetos ou propostas de lei:
Projeto como iniciativa dos deputados/grupos parlamentares/cidadãos eleitores. Proposta como
iniciativa do Governo.
A questão da lei travão, disposta no art.o 167o/2, verifica-se em ocasiões em que não podem existir
propostas ou projetos de lei, como em matéria de finanças públicas.

2- Discussão e votação – art.o 168o


Generalidade – Discussão e votação do diploma nas suas opções essenciais. Especialidade –
Discussão e votação artigo a artigo, número a número, alínea a alínea.

Do ponto de vista orgânico:


Em plenário – Discussão e votação com todos os deputados reunidos. E depois em comissões
especializadas.

A votação final é global e, normalmente, a aprovação é por maioria simples. Porém, há situações
que carecem de procedimento reforçado:
No4 – Certas matérias têm de ser votadas na especialidade e em plenário.
No5 – Lei Orgânica carece de aprovação por maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções.
No6 – Certas matérias carecem de aprovação por maioria de 2/3 de deputados em efetividade de

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funções.

3- Promulgação/Veto – art.o 136o


Envio do diploma para o PR, que tem 20 dias (AR) ou 40 dias (Gov) para promulgar ou vetar. Pode
enviar ainda para o TC para um controlo preventivo da constitucionalidade (art.o 278o).

4-Referenda Ministerial – art.o 140o Ato levado à prática pelo Governo.

5- Publicação – art.o 119o Publicação no Diário da República.

Entrada em vigor

Depois da publicação, o diploma entra em vigor, podendo indicar a data da sua entrada no OJ.
Normalmente, há a existência de um certo período de tempo entre estes dois momentos, designado
vaccatio legis, fixado pelo legislador.
Caso contrário, há um prazo supletivo – A lei entra em vigor no 5o dia após a sua publicação.
Conta-se a partir do dia imediato à da sua disposição no diário eletrónico.

Na falta de Cumprimento de Uma das Fases, estaremos perante uma Inconstitucionalidade


Procedimental!

• Falta de Promulgação – Inexistência Jurídica (art.o 137o).

• Falta de Referenda Ministerial – Inexistência Jurídica (art.o 140o/2).

• Falta de Publicidade – Ineficácia Jurídica (art.o 119o/2).

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