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DIREITO CONSTITUCIONAL I

PROF. ANTÔNIO FLÁVIO DE OLIVEIRA

DO DIREITO CONSTITUCIONAL
Natureza e Conceito do Direito Constitucional – Objeto – O Direito
Constitucional e as Disciplinas Correlatas – Hermenêutica Constitucional

I – Natureza do Direito Constitucional

Para os que admitem a dicotomia entre Direito Público e Privado, trata-se de


Direito Público por excelência.

Enquanto que todas as disciplinas conhecidas como ramos do Direito Público


assim são chamadas porque tratam de interesses públicos, o Direito
Constitucional cuida da própria criação do Estado, ou seja, inicia a própria idéia
de público.

Conceitos:

Afonso Arinos – “... o Direito Constitucional é o estudo metódico da


Constituição do Estado, da sua estrutura institucional político-jurídica.”

Paulino Jacques – “... é o ramo do Direito Político que estuda os princípios e


normas estruturadoras do Estado e garantidoras dos direitos e liberdades
individuais.”

Manoel Gonçalves Ferreira Filho – “... é o conhecimento sistematizado das


regras jurídicas relativas à forma do Estado, à forma do governo, ao modo de
aquisição e exercício do poder, ao estabelecimento de seus órgãos e aos
limites de sua ação.”

Pinto Ferreira – “Ciência positiva das constituições.”

José Afonso da Silva – “... o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e
sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado.”

Rosah Russomano – “... o sistema de princípios e normas positivas que


estruturam o Estado de Direito.”
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DO PODER CONSTITUINTE
Origens das Teorias do Poder Constituinte. Conceito. Titularidade e Exercício.
Espécies. Reforma Constitucional.

I – Origens das Teorias do Poder Constituinte

Não obstante a existência de estudos e correntes que defendam a


existência de constituições e, portanto, poder constituinte mesmo nos
primórdios da civilização, partindo da assertiva segundo a qual se existe ou
existiu Estado existe, ou existiu, também constituição, o moderno
constitucionalismo encontra fundamento principalmente no iluminismo europeu,
que resultou na irradiação de influência para a elaboração dos textos
constitucionais das províncias inglesas da América do Norte (Virgínia, Maryland
e Pensilvânia) e da Constituição Francesa oriunda da revolução.

Foram de fato as iniciativas iluministas de teorizarem as relações de


poder e os direitos humanos que conduziram ao constitucionalismo moderno.
Embora seja possível identificar em filósofos como Sócrates, Cícero e outros
do período clássico manifestações de constitucionalismo, o constitucionalismo
moderno ocidental encontra maior proximidade com as idéias do abade Joseph
Emmanuel Sieyès, de Babeuf, de Robert Owen etc.

II – Conceito

Trata-se do poder de instituir, criar o Estado, e toda a estrutura


jurídica e política que permitirá a sua existência, com o objetivo de busca
constante e permanente de realização do bem comum. Esse poder de criar ou
dissolver e recriar o Estado tanto poderá vir de um movimento revolucionário,
de um golpe de estado, como poderá ter como ponto de surgimento a alteração
da consciência nacional fazendo-a perceber a inadequação do ordenamento
atual e a necessidade, portanto, de estabelecimento de novos pilares político-
jurídicos sobre os quais fundamentar o Estado.

Portanto, energia inicial que institui uma determinada ordem jurídica,


criando ou reconstruindo o Estado através de uma Constituição, que é a
primeira expressão do direito positivo.

III – Titularidade e Exercício do Poder Constituinte

A titularidade do Poder Constituinte pertence ao povo, conforme a


teoria da soberania popular, que é aquela adotada na formulação das
constituições democráticas. No entanto, outras origens podem ser afirmadas
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para o poder de criar ou recriar o Estado, dependendo de qual se afirme como


sendo a origem do Poder de criação ou recriação.

Tradicionalmente a doutrina tem expressado que o poder originário


pertence ao indivíduo ou ao grupo social no qual se polariza num dado
momento a idéia de Direito. Sendo assim, o titular do poder constituinte é o
povo, uma vez que ele é o instrumento direto dessa idéia de Direito.

Como já se disse nas Democracias Clássicas o titular da soberania é


o povo, sendo o conceito a respeito de povo o ponto no qual deverão se
centralizar as discussões para a solução de eventuais problemas quanto a
legitimação no exercício do Poder Constituinte. A definição dessa titularidade,
em se tratando de Estado Democrático, reside no primeiro dos elementos que
compõem o Estado – a Nação, constituindo a soberania atributo inerente à este
elemento do Estado e que passará ser exercido por este mesmo Estado em
razão de possuir aquele elemento em sua composição, juntamente com os
demais: Território e Governo 1.

Porém, mesmo definido que a titularidade da soberania pertence à


Nação, surge o problema de esclarecer-se quem é a Nação. Os mesmos
doutrinadores que definem a trindade de elementos integrantes do Estado, têm
expressado que a Nação é formada pelo Povo organizado.

Desse modo, estabelece-se um outro nível de entendimento deste


elemento do Estado, mas ainda não se chega à percepção sobre o que
representa esse elemento, pois, conforme a obra de Friedrich Müller: “Quem é
o Povo?” constitui “A Questão Fundamental da Democracia”2.

O problema da participação popular nos desígnios do Estado não é


novo. Foi ele o principal combustível de que se abasteceu a Revolução
Francesa, com amparo na obra de Joseph Sieyés: “Qu’est-ce que le tiers
État?”3.

No trabalho de Ferdinand Lassale: “O Que é uma Constituição?”, o


povo aparece divido entre cada um dos “fatores reais de poder”4, uma vez que
o povo não é composto apenas pelas camadas de baixa renda da população,

1
Adota-se no presente trabalho a visão majoritária da doutrina, inclusive por concordar com ela, que o
Estado possui três elementos: Nação, Território e Governo, enquanto que a soberania é, como a força o é
da pessoa forte, atributo ou qualidade.
2
MÜLLER, Friedrich. Quem é o Povo? A Questão Fundamental da Democracia, tradução de Peter
Naumann, revisão de Paulo Bonavides, 2 ed., São Paulo: Ed. Max Limonad.
3
“Quem é o terceiro Estado?” (tradução livre).
4
“Os fatores reais de poder que regem cada sociedade são essa força ativa e eficaz que informa todas as
leis e instituições políticas da sociedade em questão, fazendo com que não possam ser, em substância,
mais do que tal e como são.” (LASSALLE, Ferdianand. O Que é uma Constituição?, tradução:
Hiltomar Martins de Oliveira, Belo Horizonte: Cultura Jurídica – Ed. Líder, 2001, p. 42). Mais adiante o
autor relaciona como sendo esses fatores reais de poder a Monarquia, a Aristocracia, a Grande Burguesia,
os Banqueiros e, por fim, a Pequena Burguesia e a Classe Trabalhadora.
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mas, ao revés constituído por tantas classes quantas possui aquela, com todas
as suas nuanças econômicas, sociais e culturais.

Portanto, visto que o povo não é integrado por uma massa humana
homogênea, mas, ao revés, por uma miríade de características peculiares e
que se espraiam por todos os espectros da natureza e costumes humanos,
fazendo-os iguais e diferentes ao mesmo tempo, resulta que o exercício da
soberania caracteriza-se, antes de tudo, como a administração da
complexidade que marca um povo.

Conforme varia a idéia de titularidade do poder constituinte varia


também a forma de governo no Estado:

- Democracias – O povo.
- Teocracia – Deus.
- Aristocracias – Aristocratas, nobres ou castas mais elevadas.
- Autocracias – Indica o próprio Estado como ponto de origem do poder
constituinte.
- No antigo regime soviético – os operários.
- No Direito constitucional moderno atribui-se a titularidade do poder
constituinte ao individuo ou grupo social no qual se polariza num dado
momento a idéia de Direito. Sendo assim, o titular do poder constituinte é o
povo, uma vez que ele é o instrumento direto dessa idéia de Direito.

PODER CONSTITUINTE – CARACTERÍSTICAS:

- Supremo – não reclama autorização de nenhum poder precedente.


- Ilimitado – por não se vincular ou limitar por nenhuma norma anterior ou
posterior.
- Extraordinário – se formaliza em ocasiões excepcionais.
- Ordinário – funciona contínua e materialmente por meio da interpretação
constitucional, da elaboração de emendas e pelas mutações
constitucionais que atualizam sua efetividade.
- Único e Indivisível – porque materializa a soberania do Estado.
- Indelegável – quando um órgão o exerce, o faz por competência própria e
não por delegação. Daí considerar-se equivocada a afirmação contida no
preâmbulo da Constituição de 1988, ao afirmar: “Nós, os representantes do
povo brasileiro...”, uma vez que não pode haver representante exercendo
poder indelegável.

MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL – fenômeno resultante da modificação da


percepção do alcance da norma constitucional, promovendo a sua aplicação
consentânea com a realidade social vigente, sem que, no entanto, tenha
ocorrido a alteração material do texto da constituição.

IV – Espécies
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Em que pese a doutrina se valer de designações que façam parecer


que existem diversos tipos de poder constituinte, intitulando-os de originário,
derivado e decorrente, a verdade é que Poder Constituinte, a bem da lógica, é
um só. Aquele que se convencionou chamar de originário, porquanto este é o
único poder inicial, aquele que de fato permite ou surgimento ou ressurgimento
da realidade político-jurídica chamada Estado.

Porém, com o objetivo de adequação aos ensinamentos


doutrinários, e mesmo pelas facilidades que tais designações oferecem utilizar-
se-á aqui das designações doutrinárias que estabelecem a existência das três
conceituações de poder constituinte.

IV.1 – Poder Constituinte Originário

Este que se denomina poder constituinte originário é o que precede a


todos os demais, de fato o único que pode ser cientificamente assim
designado, porquanto os demais serão, na verdade, poderes constituídos,
porque precedidos por este. É o Poder Constituinte originário que de fato
marca a instituição ou criação de um novo Estado.

IV.2 – Poder Constituinte Derivado

Poder constituinte derivado é aquele que autoriza ao Poder


Legislativo, ou órgão especialmente criado com essa finalidade, a elaboração
de emendas constitucionais, adequando o texto da constituição surgida do
Poder Constituinte Originário às modificações decorrentes da dinâmica social.

Este poder, no entanto, somente atua em se tratando de alterações


materiais no texto constitucional. Em se tratando de alterações mediante a
atuação do fenômeno da mutação constitucional não há que se falar em
atuação do poder constituinte derivado, mas do próprio poder constituinte
originário, pois o que terá sido alterado será a percepção da própria soberania,
a visão do ‘povo’ quanto a forma de compreender e fazer incidir a norma
constitucional.

No aspecto, portanto, de referencial poder constituinte derivado é


poder constituído, porque depende da sua autorização pelo Poder Constituinte
originário – o poder criador.

IV.3 – Poder Constituinte Decorrente

Tudo o quanto foi dito a respeito de poder constituinte derivado é


aplicável ao Poder Constituinte Decorrente, a diferença está em que este
advém da determinação/autorização da Constituição, portanto do Poder
Constituinte Originário, para que as unidades federadas, Estados, Distrito
Federal e Municípios, se organizem nos planos regionais e locais
estabelecendo as suas próprias constituições (ordens parciais), que deverão
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estar conformadas com a Constituição Federal (ordem geral) – em razão do


princípio da simetria constitucional.

Existem países, como o E.U.A., p. ex., que possuem estrutura


federal assimétrica, significando que as ordens estaduais podem diferir, em
alguns pontos, da ordem constitucional federal.

No Brasil as constituições estaduais e as leis orgânicas distrital e


municipais devem guardar correspondência estrutural e principiológica com a
ordem constitucional federal, sob pena de serem declaradas inconstitucionais
naquilo que contrariarem a Constituição Federal.

V – Reforma Constitucional

Designa-se por reforma constitucional as alterações feitas ao texto


fundamental após a manifestação instituidora do Poder Constituinte Originário.
Portanto, reforma constitucional é ação do chamado Poder Constituinte
Derivado e se dará com a aprovação de emendas constitucionais que poderão
ser emendas constitucionais comuns ou de revisão.

V.1 – Emenda Constitucional

Emenda constitucional é espécie legislativa que relativamente ao


texto originário da Constituição se posiciona em plano inferior, mas uma vez
que se faça a sua análise tendo como referencial outras normas, derivadas da
atuação de poder constituído (Executivo, Legislativo ou Judiciário), deverá ser
tida à conta de norma constitucional.

Portanto, emenda constitucional poderá ser declarada


inconstitucional se conflitante com o texto constitucional originário, exceto
aquele que pretendeu modificar. Existem partes da Constituição, no entanto,
que não poderão ser objeto de alteração mesmo por atuação de emendas
constitucionais, porque subtraídas da esfera de atuação do Poder Constituído,
ou poder constituinte derivado, estas são as chamadas cláusulas pétreas –
porque constituem o cerne imutável da Constituição, conquanto seja esta
imutabilidade relativa, pois a atuação do Poder Constituinte Originário,
destruindo a ordem constitucional vigente para construir uma nova, não
encontra limite mesmo nas cláusulas pétreas.

V.2 – Revisão Constitucional

Enquanto as emendas constitucionais comuns estão sujeitas ao


processo legislativo previsto no art. 60 da Constituição de 1988, as emendas
constitucionais de revisão sujeitam-se a regras estabelecidas em disposições
de cunho transitório, situadas no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.
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Assim, pode-se afirmar que a primeira diferença entre processo


legislativo de emendas de revisão e processo legislativo de emendas comuns
encontra-se exatamente na característica transitória da regra constitucional que
define os primeiros, ao passo que os segundos são estabelecidos em regras
permanentemente presentes e atuantes no texto constitucional.

Some-se a esta primeira diferença o fato de que as emendas de


revisão, porque situadas no ato das disposições constitucionais transitórias,
serão elaboradas em determinada data ou ocasião, após o que a regra que a
previu terá se exaurido.

Pode ocorrer, ainda, de o texto constitucional transitório – que


estabeleceu a ocasião e o processo legislativo de emendas de revisão – fixar
limites materiais para a utilização dessa forma de atualização da Constituição,
enquanto em se tratando de emendas comuns o limite será apenas aquele
estabelecido pelas cláusulas pétreas.

Deve-se, todavia, incluir dentre as cláusulas pétreas explícitas no


art. 60, § 4º, o próprio processo legislativo descrito no art. 60, pois se assim
não fosse ter-se-ia a possibilidade de alterando o processo legislativo ali
descrito suprimir a própria idéia de cláusulas pétreas.

V.3 – Limitações do Poder de Reforma

Conforme já foi salientado o poder de reforma da constituição tem


limites nas cláusulas pétreas, que determinam que não será objeto de
deliberação emendas tendentes a abolir a forma federativa de Estado, o voto
direto secreto universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e
garantias individuais.

Além dessas limitações a constituição não poderá ser emendada na


constância de Estado de Defesa, de Estado de Sítio, de Intervenção Federal.

O poder de reforma da Constituição encontra-se condicionado ao


preenchimento de certos requisitos. Se se trata de poder de reforma comum –
aquele de que se dispõe para a elaboração de emendas constitucionais
comuns, deverão ser preenchidos os requisitos constantes no art. 60, que fixa
regras para o processo legislativo da espécie – estabelecendo limites
conjunturais para a deflagração do processo, ou seja, inexistência de
intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio; limite subjetivo –
reserva de iniciativa às figuras relacionadas no art. 60, incisos I, II e III; limites
objetivos – apreciação em dois turnos em cada uma das Casas do Congresso
Nacional e a obtenção de votação igual ou maior de 3/5 em cada um dos
turnos de votação em ambas as Casas.

Acrescente-se, ainda, a essas limitações a impossibilidade de que a


matéria que tenha sido prejudicada (porque embora obtendo maioria dos votos
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não atingisse 3/5) ou rejeitada seja votada na mesma novamente proposta na


mesma sessão legislativa.

São, portanto, evidenciáveis três espécies de limitações ao poder de


reformar a constituição:

• Limitações Materiais – significando que determinadas


matérias não poderão ser objeto de modificação pela atuação
do poder constituinte derivado, mas apenas do Poder
Constituinte Originário, sendo o que ocorre com as chamadas
cláusulas pétreas, cuja indicação encontra-se prevista no art.
60, § 4º, em seus incisos I a IV.

• Limitações Conjunturais – decorrentes de impedimento à


realização de modificação do texto constitucional fundada na
constatação de situação de anormalidade, ou de
excepcionalidade relacionadas com a suspensão temporária
do exercício de algum dos direitos materializados pelas
cláusulas pétreas, como ocorre, p. ex., com a suspensão de
liberdades durante o estado de defesa e o estado de sítio, ou
pela suspensão temporária da autonomia de alguma das
unidades federadas estaduais, em vista de intervenção
federal.

• Limitações Procedimentais – presentes na exigência de


diversos requisitos para a propositura de emenda
constitucional, variando estas limitações desde a reserva de
iniciativa até a exigência de quorum qualificado, ou, ainda,
votação em dois turnos.

• Limitações Temporais – O texto constitucional poderá


estabelecer limite temporal, para que se realize a revisão ou
reforma do texto constitucional, normalmente o fazendo no ato
das disposições constitucionais transitórias, dado ser desta
natureza o obstáculo em questão.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO


CONSTITUCIONAL NO BRASIL
Brasil – Colônia e as Ordenações. Brasil – Império, a Constituição de 1824 e os
Atos Adicionais. As Constituições Republicanas de 1891 e o Início da
República. A Constituição de 1934 e o Fim da República Velha. A Constituição
de 1937 e o Estado Novo. A Constituição de 1946 e o Processo de
Redemocratização. Os Atos Institucionais, a Constituição de 1967 e a Emenda
n.º 01/69. A Constituição de 1988. O Processo de Reforma Constitucional de
1993. As Emendas Constitucionais.

I – Brasil – Colônia e as Ordenações

Durante o período colonial não se pode dizer que possuímos uma constituição,
tal como esse termo é atualmente compreendido, mas sem dúvida tivemos
regras jurídicas que se destinavam a, de alguma forma, ordenar as relações
entre os particulares e sua obediência ao rei, sendo chamadas de Ordenações,
o que por si só já dá bem a noção de não se tratar de ato emanado da vontade
popular.

No Brasil foram aplicadas, em virtude de sua ligação com a metrópole


portuguesa, inicialmente as ordenações Afonsinas (D. Afonso V), porquanto
publicadas em 1446 ou 1447, tiveram vigência até a publicação das
ordenações Manuelinas (D. Manuel I), em 1521 e que ficou em vigência até
1603, quando foram substituídas pelas Ordenações Filipinas ou Ordenações do
Reino, em contraposição às duas primeiras que eram ordenações do Senhor
Rei.

As Ordenações Filipinas foram publicadas em 1603, quando Portugal estava


sob o domínio espanhol.

Essas ordenações estiveram em vigor no Brasil até 1º de janeiro de 1917,


quando entrou em vigor o Código Civil Brasileiro

II – Brasil – Império, a Constituição de 1824 e os Atos Adicionais

“A primeira Constituição brasileira data de 1824 e nela trabalharam


sucessivamente uma Assembléia Constituinte e um Conselho de Estado, sob o
directo e pessoal impulso do Imperador D. Pedro I.” (Jorge Miranda, Tomo I, 4ª
edição, Coimbra, 1990, p. 231).

“À semelhança das demais Constituições do século XIX, assentava na


separação dos poderes, embora desequilibrada pela forte posição do
Imperador, simultaneamente titular do poder moderador, chefe do poder
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executivo e participante, através da sanção, no poder legislativo.


Representantes da Nação eram o Imperador e o Parlamento, chamado
Assembleia Geral.” (Jorge Miranda, Tomo I, 4ª edição, Coimbra, 1990, p. 231).

Poderes:
- Executivo – exercido pelo Imperador;
- Moderador – também atribuído ao imperador, com a atribuição
de velar pelo equilíbrio e harmonia entre os demais poderes
(atribuições: nomear senadores; convocação da Assembléia
Geral extraordinariamente nos intervalos entre as sessões;
sanção de decretos e resoluções da Ass. Ger., para que
tenham força de Lei; aprovação e suspensão de resoluções
dos Conselhos Provinciais; prorrogação ou adiamento da Ass.
Ger., ou dissolução da Câmara dos Deputados, convocando
outra que a substitua; nomeação e demissão de ministros de
Estado; suspensão de magistrados; perdão e moderação de
penas; concessão de anistia;
- Legislativo – exercido pela Assembléia Geral, com a sanção
do Imperador;
- Judicial – Jurados e Juizes, os primeiros pronunciam sobre o
fato e os segundos aplicam a lei, tanto nas matérias criminais
quanto cíveis. (juizes eram considerados perpétuos, mas não
possuíam a inamovibilidade).

- A formulação quadripartita do Estado Imperial Brasileiro é devida à Benjamim


Constant (de Bedaque).

- Esta, a de 1824, foi a única constituição semi-rígida que o Brasil possuiu,


tendo sido outorgada.

- Durante a vigência da Constituição do Império, competia ao Imperador a


nomeação de bispos e o provimento de benefícios eclesiásticos, bem como a
nomeação de magistrados.

ATOS ADICIONAIS – Na Constituição de 1824, as emendas recebiam o nome


de atos adicionais e estavam tratados nos artigos 174 a 178, sendo inseridos
na forma de leis. Apenas dois atos adicionais forma acrescidos à Constituição
do Império, o primeiro através da Lei n.º 16/1834 e o segundo com a Lei n.º
105/1840.

III – As Constituições Republicanas. 1891 e o Início da República

Primeira constituição republicana, consagrando o ideal federalista,


tendo sido influenciada pelo pensamento francês acrescido do ideal federalista
norte-americano, decorrente da participação de Rui Barbosa na sua
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elaboração. Segundo Afonso Arinos, “assim como reinara, na Constituinte


imperial, o pensamento francês, prevaleceu, na Constituinte republicana, o
pensamento norte-americano. O federalismo era velha reivindicação nacional.
O presidencialismo não o era. Mas, dentro da Assembléia, o sistema
parlamentar teve poucos e fracos defensores. O presidencialismo e o
federalismo prevaleceram no texto da Constituição, que foi o do projeto do
Governo Provisório, modificado em apenas 14 artigos.” (Afonso Arinos de Melo
Franco, Direito Constitucional, p. 123).

Jorge Miranda, constitucionalista português, afirma que “Fundamentalmente, a


Constituição de 1891 adaptou ao Brasil o sistema constitucional de modelo
norte-americano, à semelhança do que já tinham feito o México e a Argentina.”
(Manual de Direito Constitucional, Coimbra, Tomo I, 1990, p. 233).

Tratava-se de uma constituição classificada como rígida,


porquanto o processo para a sua alteração era diferenciado daquele utilizado
para a aprovação de leis ordinárias.

A Constituição de 1891 continha apenas 91 artigos na parte


permanente e 8 artigos nas disposições transitórias, constituindo, assim, o
menor texto constitucional de nossa história.

Adotou a forma federal de Estado, com a distribuição dos Poderes


entre a União e Estados, consagrando a autonomia dos Municípios naquilo que
fosse atinente ao seu peculiar interesse (art. 68).

Previu a possibilidade de intervenção federal, o que foi inspirado


no modelo argentino de 1853.

REVISÃO: 1926, no governo de Arthur Bernardes.

IV – A Constituição de 1934 e o Fim da República Velha

Influenciada pela Revolução de 1930 e pela Revolução


Constitucionalista de 1932.

Modelo: Constituições Mexicana de 1917 e de Weimar de 1919.

Manteve a divisão dos Poderes do federalismo, mas promoveu


uma centralização legislativa em favor da União, deslocando matérias antes
reservadas aos Estados. Inaugurou-se o federalismo cooperativo, afastando o
federalismo isolacionista anterior.

Abrandou o sistema bicameral, reduzindo o Senado a órgão de


colaboração dos Poderes.
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Introduziu na Constituição o Título da “Ordem Econômica e


Social”, prevendo direitos econômicos e sociais e ampliação do
intervencionismo estatal.

Eliminou a figura do vice-presidente da república e criou a Justiça


Eleitoral e a Justiça Militar, além do mandado de segurança, ampliando-se a
proteção dos direitos individuais.

“A Constituição de 1934, influenciada pela Constituição de Weimar, de 1919, e


pelo corporativismo, continha inovações e virtudes. Dedicou um título à Ordem
Econômica e Social, iniciando a era da intervenção estatal. Criou a Justiça do
Trabalho e o salário mínimo, instituiu o mandado de segurança, acolheu
expressamente a ação popular e manteve a Justiça Eleitoral, criada em 1932.
Em uma fórmula de compromisso entre o capital e o trabalho, delineou o
arcabouço formal de uma democracia social, que não se consumou.”
(BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de Suas
Normas, 5ª edição, Rio de Janeiro: RENOVAR, 2001, p. 20).

V – A Constituição de 1937 e o Estado Novo

Influenciada pelo fascismo.

O País passou a se chamar Estados Unidos do Brasil.

Outorgada por Getúlio Vargas.

Criou o Estado Novo, que tinha como principais características:


• a supressão do Congresso Nacional, dos partidos políticos e
das Assembléias Estaduais;
• a convergência de todo poder para o Executivo
(personalização do poder);
• representação classista;
• restrições ao Poder Judiciário (em alguns casos o presidente
poderia ir de encontro ao Judiciário, fazendo valer leis que
este reputasse inconstitucionais);
• ampliação do mandato de presidente da república;
• criou a técnica do estado de emergência (art. 186
• o Senado passou a se chamar Conselho Federal;
• limitação da autonomia dos Estados-Membros; e
• restauração da pena de morte.

Malgrado as características negativas predominantes nesta


constituição outorgada em 1937, ela possui a virtude, ainda que não
intencional, de ter unificado o processo no Brasil, que até então passava pela
vexatória situação de que em cada um dos Estados da Federação poder-se-ia
ter um processo diferente dos demais. Assim, esta constituição ao mesmo
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tempo em que extingue a Justiça Federal, passando suas atribuições para a


Justiça Comum Estadual, unifica o processo.

Durante a vigência dessa carta houve a aplicação pura e simples


do regime ditatorial, com todo o poder Executivo e Legislativo concentrado nas
mãos do Presidente da República, que legislava por via de decretos-lei.

A Constituição de 1937 sofreu 21 emendas, através de leis


constitucionais, que a alteravam de acordo com as necessidades,
conveniências e caprichos do chefe do governo.

“Tantas vezes se disse que a Constituição brasileira de 10 de dezembro de


1937 teve como parâmetro a Constituição polonesa, promulgada em 23 de abril
de 1935, que , à nossa Carta, se juntou sempre o apodo de “Polaca”. (PORTO,
Walter Costa. A Constituição de 1937, Brasília: Ministério da Ciência e
Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001, p. 24).

VI – A Constituição de 1946 e o Processo de Redemocratização

“Literalmente tão bem redigida quanto a Constituição de 1891, a Constituição


de 1946 possuía 218 artigos, além de um “Ato das Disposições Transitórias”
com mais 36 artigos. Dividia-se em nove títulos, que se subdividiam em
capítulos e estes em secções.
A estrutura e as linhas gerais assemelham-se às da Constituição de 1891, mas
sem a rigidez presidencialista desta, pois foram conservados os dispositivos
que permitiam a convocação ou o comparecimento espontâneo dos Ministros
ao Pleno; as Comissões de Inquérito parlamentar por iniciativa de 1/5 dos
membros de cada Câmara; a possibilidade de o congressista aceitar o
ministério sem perder o mandato etc.
O Senado voltou à posição de 1891 no Poder Legislativo e desapareceram a
representação classista, os órgãos de cooperação governamental etc. O
Tribunal de Contas passou a ser regulado pelo Poder Legislativo, como órgão
de fiscalização orçamentária deste.” (BALEEIRO, Aliomar. A Constituição de
1946, Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos
Estratégicos, 2001, p. 16).

Para Jorge Miranda, “A Constituição de 1946 retomou o rumo da de 1934,


conjugando a democracia liberal e a institucionalização dos partidos com
aquisições sociais (direito à greve e à participação dos trabalhadores nos
lucros das empresas). Como tentativa de resolver a crise de 1961, pôs-se em
prática, durante algum tempo (pelo Acto Adicional de 1961) um sistema
parlamentar, ou, talvez melhor, semipresidencial.” (ob. cit., p. 236/237).

O processo de redemocratização iniciado 1946, embora fosse promissor,


sofreu um duro golpe em 1964, com a Revolução, ou Golpe Militar, de 1964 e
que somente teria termo com o movimento das Diretas Já, deflagrado em 1984.
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VII – Os Atos Institucionais, a Constituição de 1967 e a Emenda n.º 01/69

“Após a revolução de 1964, a Constituição de 1946 ficou subordinada a quatro


Actos Institucionais, publicados entre esse ano e 1966 e todos dirigidos à
concentração do poder no Presidente da República. Mas a breve trecho,
sentiu-se a necessidade de Integrar tais Actos Institucionais e os seus Atos
Complementares: assim surgiu a Constituição de 1967. Essa não iria durar na
sua forma primitiva senão dois anos, pois, entretanto, os chefes militares
publicaram novos e numerosos Actos Institucionais e Complementares e, para
lhes dar forma coerente, surgiu em Outubro de 1969 a emenda constitucional
n.º 1 (entenda-se como Constituição nova ou como a Constituição de 1967
alterada).
Aspectos a salientar num e noutro texto são o sentido centralizador, o aumento
dos poderes financeiros da União, o reforço do Poder Executivo, a eleição do
Presidente por sufrágio indirecto (colégio composto pelos membros do
Congresso e por representantes dos Estados), o cuidado posto no processo de
elaboração das leis, a extensão da justiça militar a noção de segurança
nacional e a prefixação do sistema partidário.” (ob. cit., p. 237).

ATO INSTITUCIONAL – Ato pelo qual um poder de fato estabelece novas


instituições políticas, sociais, econômicas, administrativas. Ato que
regulamenta novas situações criadas por um golpe-de-estado ou revolução.
(SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. Rio de Janeiro: Tex Editores,
1996, p. 41).

Em janeiro de 1985 seria eleito, pelo Colégio Eleitoral, o candidato


oposicionista à Presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, que,
todavia, não chegou a tomar posse.

Em seguida foram suprimidos da Constituição de 1969, pela Emenda


Constitucional n.º 25, de 15 de maio de 1985, as normas constitucionais de
exceção, sendo convocada pela Emenda Constitucional n.º 26, de novembro
de 1985, uma Assembléia Nacional Constituinte, que seria eleita em 15 de
novembro de 1986.

VIII – A Constituição de 1988

A nossa atual constituição coroou o processo de redemocratização do País,


elevando o Brasil à condição de Estado Democrático de Direito, inaugurando
um novo regime político: a democracia participativa ou semidireta; ampliou de
modo significativo o rol de direitos fundamentais, dedicando-lhes um título
inteiro do atual ordenamento constitucional; reduziu a competência o Poder
Executivo, aumentando, em contrapartida, a do Legislativo e do Judiciário;
promoveu uma valorização sem precedentes da autonomia dos Estados e
Municípios; reorganizou o Sistema Tributário Nacional; disciplinou os princípios
norteadores da Administração Pública e unificou o regime de vinculação dos
servidores públicos civis, além de outras.
DIREITO CONSTITUCIONAL I
PROF. ANTÔNIO FLÁVIO DE OLIVEIRA

Pode, a CF/88, ser dividida em duas partes, uma orgânica e estável, composta
por 246 artigos (atualmente 256); e outra constituída pelas Disposições
Constitucionais Transitórias, originalmente com 73 artigos, hoje com 94.

PROMULGADA

RÍGIDA

FEDERALISTA (em triplo grau: União, Estados, Distrito Federal e


Municípios – Jorge Miranda entende que seria apenas de duplo grau: Estados
e Municípios).

IX – O Processo de Reforma Constitucional de 1993

“Após largos debates, o legislador constituinte rejeitou o parlamentarismo e tão-


pouco (tampouco) adoptou um “presidencialismo congressual”. Entretanto,
ainda à luz de uma fórmula conciliatória, determinou a realização, em 7 de
Setembro de 1993, de um plebiscito para a escolha da forma (república ou
monarquia constitucional) e do sistema de governo (presidencial ou
parlamentar) que deverão vigorar no País. Sob este aspecto a Constituição
ficará até lá como que provisória.” (MIRANDA, Jorge. Manual de Direito
Constitucional, Tomo I, Coimbra, 1990, p. 241).

X – As Emendas Constitucionais

EMENDAS DE REVISÃO

A Constituição de 1988, previu no art. 3º, do ADCT, que passados cinco anos
da promulgação da Constituição deveria se realizar uma revisão do seu texto.

Três correntes entendiam de maneira diversa qual deveria ser a extensão


dessa revisão:

A primeira corrente entendia que a revisão estava limitada ao resultado do


plebiscito de 07 de setembro de 1993, antecipado para 21 de abril.

Já a segunda corrente, entendia que a revisão independeria do resultado do


plebiscito, mas estava limitada pelo cerne imutável da Constituição, as
chamadas cláusulas pétreas do art. 60, § 4º.

Enquanto a terceira, manifestava entendimento de que na revisão seria


possível a alteração de toda a Constituição, porquanto prevista no ADCT,
estaria desvinculada da própria Constituição.
DIREITO CONSTITUCIONAL I
PROF. ANTÔNIO FLÁVIO DE OLIVEIRA

Contudo, prevaleceu a tese defendida pela segunda corrente, vedando o


Regimento da Assembléia Revisora emendas que incidissem na proibição do
art. 60, § 4º, da CF/88.

Principais Alterações das Emendas de Revisão:

• redução do mandato de Presidente da República de cinco para


quatro anos;
• regras de nacionalidade, inelegibilidade, perda do mandato de
congressista e extensão da relação de autoridades que
deverão prestar informações à Câmara dos Deputados e ao
Senado Federal ou a alguma de suas comissões.

EMENDAS CONSTITUCIONAIS (ordinárias)

“Com a posse do Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, retomou-


se o processo de alterações do texto constitucional, para adaptá-lo ao
chamado neoliberalismo que, como sistema político, filosófico e econômico,
propõe-se a inserir o Brasil no quadro da economia mundial de mercado, a
chamada globalização, e esvaziar o Estado dos pesados ônus que, segundo os
defensores daquele sistema, vem suportando por força de alguns institutos da
Constituição de 1988.
Nessa perspectiva, o Congresso Nacional aprovou várias emendas
constitucionais, dentre as quais se destacam as que tratam da ruptura do
monopólio estatal relativo aos serviços de telecomunicações, à pesquisa e
lavra de jazida de petróleo e gás natural e outros carbonetos fluidos, a
refinação de petróleo nacional ou estrangeiro, importação e exportação dos
produtos e derivados básicos resultantes dessas atividades, bem como a
eliminação da figura da empresa brasileira. Promulgou-se ainda a Emenda
Constitucional n.º 16, de 4 de julho de 1997, pela qual se introduziu em nosso
país a reeleição do Presidente da República, dos Governadores de Estado e do
Distrito Federal, e de Prefeitos Municipais, para um único período subseqüente
ao do término de seus mandatos.” (Kildare Gonçalves de Carvalho, pp.
164/165).

Essa tendência neoliberalizante, todavia, é alvo de críticas de peso, como a de


Paulo Bonavides, que assim se expressou “O Direito Constitucional liberta, e se
lhe destruirmos as bases, minando os seus princípios, como é da índole e
natureza do processo globalizador e das categorias axiológicas do
neoliberalismo, já não haverá povo, nem cidadania, nem nação; haverá, sim,
legiões de súditos, coortes de homens resignados debaixo da regência de um
estatuto do poder, que será tudo, menos uma Constituição.” (BONAVIDES,
Paulo. Teoria Constitucional da Democracia Participativa, São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 17).
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PROF. ANTÔNIO FLÁVIO DE OLIVEIRA

DA CONSTITUIÇÃO
Conceito e Concepções de Constituição – Objeto e Conteúdo das
Constituições – Classificação das Constituições – Supremacia do Ordenamento
Constitucional.

I – Conceito e Concepções de Constituição

Conceito – “A constituição do Estado, considerada a sua lei fundamental, seria,


então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas
jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de
seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento
de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e
as respectivas garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas
que organiza os elementos constitutivos do Estado.” (J.A.S., pp. 39/40).

“Constituição é o conjunto das normas convencionais ou jurídicas que,


repousando na estrutura econômico-social e ideológica da sociedade,
determina, de maneira fundamental e permanente, o ordenamento estrutural do
Estado, circunscrevendo e fixando a competência do poder público,
assegurando, ainda, a plena proteção dos direitos individuais.”

Concepções de Constituição:

- No sentido Sociológico – (Ferdinand Lassale) – a constituição de um país é,


em essência, a soma dos fatores reais do poder que regem nesse país,
sendo esta uma constituição real e efetiva, não passando a constituição
escrita de uma folha de papel.

- No sentido Político – (Carl Schmitt) – tem sentido político, considerando-as


como decisão política fundamental, decisão concreta de conjunto sobre o
modo e forma de existência da unidade política, fazendo distinção entre
constituição e leis constitucionais; aquela só se refere à decisão política
fundamental (estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais, vida
democrática etc.); as leis constitucionais são os demais dispositivos
inscritos no texto do documento constitucional, que não contenham matéria
de decisão política fundamental.

- No sentido Jurídico (Hans Kelsen) – a constituição é considerada norma


pura, puro dever-ser, sem qualquer pretensão a fundamentação sociológica,
política ou filosófica. Para Kelsen o fundamento da norma é a sua própria
cogência, ou ela é válida ou não o é.

Depois de descrever estas três concepções de constituição José Afonso da


Silva, afirma que todas elas pecam pela unilateralidade, o que tem levado
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vários autores a tentar formular um conceito unitário de constituição, em


sentido que revele conexão de suas normas com a totalidade da vida coletiva;
constituição total, “mediante a qual se processa a integração dialética dos
vários conteúdos da vida coletiva na unidade de uma ordenação fundamental
suprema”.

Constituição Total (Pinto Ferreira), integra de modo dialético:


a) conceito econômico;
b) conceito sociológico;
c) conceito jurídico;
d) conceito filosófico ou ideal.

Kildare Gonçalves de Carvalho, apresenta os conceitos de José Korzeniak, que


divide as concepções de constituição entre aquelas que possuem os seguintes
conceitos:
a) valorativo – tem base ideológica ou política. Só há constituição nos estados
de consagram determinados valores políticos, ideológicos ou institucionais
(Tripartição dos Poderes, garantia aos direitos do indivíduo).
b) Sociológico ou realista – é a soma dos fatores reais de poder (Ferdinand
Lassale).
c) Jurídico – conjunto de normas atinentes à organização do Estado.

II – Objeto e Conteúdo das Constituições

“As constituições têm por objeto estabelecer a estrutura do Estado, a


organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma de seu
exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias dos
indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins sócio-econômicos do
Estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos, sociais e
culturais.” (J.A.S., p. 45).

Portanto, a Constituição é que estabelece o limite e a forma do Estado.

III – Classificação das Constituições

a) materiais
1. Quanto ao Conteúdo
b) formais

a) escritas
2. Quanto à Forma
b) não escritas
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a) dogmáticas
3. Quanto ao Modo de Elaboração
b) históricas

a) populares
(democráticas)
4. Quanto à Origem
b) outorgadas

a) rígidas – processo legislativo mais complexo

5. Quanto à Estabilidade b) flexíveis – processo leg. Igual aos de lei ord.

c) semi-rígidas – misto de rígida e flexível

Outras Classificações e Designações:

- Constituição Balanço (ou Garantia) – diz-se constituição balanço aquele que


faz em seu teor uma espécie de relatório das conquistas incorporadas ao
desenvolvimento do Estado.

- Constituição Programa (ou Dirigente) – a constituição programa ou dirigente


(no dizer de Canotilho), é aquela que estabelece um projeto de edificação
da realidade estatal, a ser desenvolvido com o esforço conjunto de todos.
Segundo o autor português, embora as normas programáticas não possam
ser objeto de exigência do seu cumprimento por meio de ação de mandado
de segurança, por ex., devem ser vistas como determinações diretivas das
quais as políticas e ações governamentais não podem e não devem
destoar.

- Constituição Sintética – o texto constitucional que não contenha assuntos


além daqueles que tratam da estrutura do Estado e de Direitos e Garantias
fundamentais do indivíduo é tratado como constituição sintética, nesse
aspecto, pode-se afirmar que constituição sintética tem característica
comum com as chamadas constituições materiais. Entretanto, costuma-se
designar, também, como sintéticas as constituições cujos textos não sejam
demasiado extensos, se restringindo ao cuidado com assuntos relevantes
ao conjunto dos interesses nacionais.

- Constituição Analítica – esta designação corresponde ao tipo de


constituição que é o antípoda da constituição sintética, porquanto busca
discorrer sobre todos os assuntos possíveis, que possuam alguma
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relevância nacional e, além disso, dando-lhes o máximo de contornos,


quase que dispensando o uso da legislatura ordinária.

- Constituição Elástica – expressão sinônima de constituição flexível.

- Constituição Inelástica – sinônimo de constituição rígida ou inflexível.

- Constituição Orgânica – aquela que se apresenta reunida em um único


documento, que materializa a sua organicidade, uma vez que
correspondente a um sistema.

- Constituição Inorgânica – têm as suas normas dispersas por diversas


legislações, sendo possível diferenciar o que é constituição do que não é
apenas após fazer a exegese de cada um dos dispositivos normativos, a fim
de aferir se está tratando da estrutura do Estado ou de Direitos e Garantias
fundamentais.

- Constituição Expansiva – são as constituições cujos textos tanto vêm


sofrendo acréscimo em razão da edição de emendas, que lhes acrescentam
novos assuntos, como também aquelas constituições que passaram a tratar
de mais assuntos e mais detalhamento destes em relação àquelas que lhes
antecederam.

- Constituição Plástica – trata-se da constituição que tem a característica de


se moldar de acordo com as necessidades da sociedade existente no
Estado que estrutura, seja por meio de emendas constitucionais que a
atualizam, seja pela via da regulamentação dos seus dispositivos – dando-
lhes atualidade, ou com a manifestação do fenômeno da mutação
constitucional.

Kildare Gonçalves de Carvalho apresenta-nos duas classificações:

Quanto à Dogmática:
a) Ortodoxas – aquelas constituições que primam pela adoção de apenas
uma ideologia – são exemplos de constituições dessa ordem aquelas
dos países comunistas.
b) Ecléticas ou Heterodoxas – são chamadas ecléticas ou heterodoxas as
constituições que procuram conciliar duas ou mais ideologias.

Quanto ao Sistema:
a) Principiológicas – denominam-se principiológicas as constituições que
estabelecem fundamentalmente os princípios que irão reger a ordem
jurídica do Estado que estão criando. Embora possam conter regras o
que tem preponderância nestes ordenamentos constitucionais são os
princípios que eles estabelecem buscando nortear o Direito daquele
Estado.
b) Preceituais – tais constituições não têm a pretensão de estabelecerem
princípios, limitando-se a fixação de simples regras. Normalmente os
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princípios são tratados apenas como fundamento não escrito do Direito


daqueles Estados.

IV – Supremacia do Ordenamento Constitucional

– Rigidez e Supremacia constitucional

É a característica de rigidez de uma constituição percebida pelo


estabelecimento de regras especiais para a sua alteração através de emendas,
exigindo-se processo legislativo diferente e mais rigoroso do que aquele
estabelecido para a elaboração de leis ordinárias ou complementares.

Assim, diz-se rígida a constituição que não possa sofrer alteração no seu texto
pela simples manifestação comum do poder legislativo, mas requeira para o
mister quorum especial tanto para a iniciativa da proposta, ou que esta seja de
iniciativa reservada do chefe do Poder Executivo e, ainda, quorum especial
para a sua aprovação, no caso da CF/88, 1/3 dos membros da Câmara dos
Deputados ou dos membros do Senado, de mais da metade das Assembléias
Legislativas, pela maioria relativa de seus membros, para a deflagração e, para
aprovação por 3/5 dos votos em dois turnos, em cada uma das Casas. (art. 60).

– Supremacia Material e Supremacia Formal

A supremacia formal das constituições somente pode ser aferida em se


tratando de constituição rígida, posto que nesse caso ter-se-á norma
constitucional material e formalmente superior à regra infraconstitucional. A
constituição somente pode ser alterada, quando superior formal e
materialmente, com a observância das regras do processo legislativo
pertinentes ao mister.

Por outro lado, em se tratando de superioridade formal, esta ocorre nos países
de constituição dogmática ou escrita, significando que o que faz a constituição
ser superior à lei ordinária é o simples fato de posicionar-se geograficamente
dentro do corpo da codificação política das regras fundamentais do Estado – a
Constituição.

Já a supremacia material decorre do conteúdo da norma. Trata-se de direitos


fundamentais ou da estrutura do Estado, estar-se-á diante de norma
materialmente constitucional.

Em países de constituição costumeira ou não escrita esta é a única forma de


superioridade que será possível de ser aferida. O mesmo não ocorre nos
países que possuem constituição escrita, uma vez que ali estarão contidas
tanto normas constitucionais apenas em sentido formal, dando-lhes supremacia
sobre as demais normas jurídicas simplesmente em razão de sua localização,
quanto normas constitucionais que possuam, simultaneamente, as
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características de serem formais e materiais – formais porque situadas no texto


constitucional e, ao mesmo tempo, materiais porque dirigidas à estruturação do
estado ou ao estabelecimento de direitos fundamentais.
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HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL. NORMAS


CONSTITUCIONAIS. INTERPRETAÇÃO.
INTEGRAÇÃO. APLICAÇÃO
Conceito de Norma. Espécies de Normas. Interpretação. Integração. Aplicação.
Hermenêutica Constitucional.

I – Conceito de Norma –

Preceito legal no qual se fundamenta determinada conduta, ou que


prevê um acontecimento ou estado de coisas, fixando, ao mesmo tempo, as
conseqüências decorrentes da concretização da previsão ali contida. 5

As normas representam determinados valores que o Estado elegeu


para proteger, inclusive, se necessário, com a aplicação de sua força. Nos
casos em que o Estado determina o uso da força para fazer valer determinada
norma diz-se que esta possui cogência.

Convém advertir que a transgressão à norma, antes de ser uma


transgressão ao valor que aquela norma consagra constitui violação à própria
idéia de valor que toda norma representa.

II – Espécies de Normas

Constitucionais – o texto originário da Constituição.

Emendas Constitucionais – texto constitucional resultante de emendas.

Leis Complementares – norma infraconstitucional de caráter complementar,


em razão da exigência constitucional de uso dessa espécie normativa, cujo
quorum de aprovação é qualificado, ao contrário do que ocorre com leis
ordinárias.

Leis Ordinárias – espécie normativa cujo uso constitui regra para a


regulamentação de situações jurídicas, apenas são excepcionados do seu uso
aqueles assuntos ressalvados pelo texto constitucional.

Leis Delegadas – trata-se de espécie normativa idêntica às leis ordinárias,


como o mesmo grau de validade destas, porém advém de uma delegação do
Poder Legislativo ao Poder Executivo para a elaboração da norma.

5
Cf. SIDOU, J. M. Othon (organizador). Dicionário Jurídico. Academia Brasileira de Letras
Jurídicas, 7 ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 579.
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Medidas Provisórias – também idêntica em grau de validade com as leis


ordinárias, tratando-se apenas de forma liminar de iniciativa de lei, que deverá
ser utilizada nos casos previstos no art. 62, da CF/88, presentes os requisitos
de relevância e urgência.

Decretos Legislativos – espécie normativa de validade similar a das leis


ordinárias, mas utilizada pelo Poder Legislativo para o disciplinamento de
assuntos de seu interesse interno.

Resoluções – espécie legislativa controversa que ora se apresenta como ato


político, quando referenda nomeações; ora como ato deliberativo – quando fixa
alíquotas; como ato de co-participação na função judicial – quando instrumento
de suspensão da execução de lei declarada inconstitucional por decisão
definitiva do STF; e ato-condição – quando formaliza delegação do Poder
Legislativo para elaboração de Lei Delegada. 6

III – Interpretação

Enquanto hermenêutica implica na apreensão do significado da


norma, interpretar representa o momento posterior – aquele no qual o exegeta
após conhecer, saber, conhecer em essência a consistência da própria norma,
compreendendo o que ela quer dizer, afirma o seu significado, as suas
finalidades, objetivos, as razões do seu surgimento 7. Portanto, interpretação
não se confunde com hermenêutica, porquanto trata de momento posterior à
realização daquela.

Espécies de Interpretação:

• Autêntica – aquela que tem origem na mesma fonte que


produziu a norma interpretada, não significa, pois, que
somente o Poder Legislativo possa fazê-lo, porquanto o
fenômeno da mutação constitucional caracteriza
interpretação autêntica, uma vez que trata-se da aplicação
da percepção da norma constitucional tida pela própria
Soberania, manifesta na visão da sociedade.

• Doutrinária – esta é interpretação da norma resultante da


atuação dos juristas, que após realizarem a sua exegese
do texto normativo apresentam a sua interpretação, de
forma elucidativa quanto ao seu alcance.

• Judicial – enquanto que a interpretação autêntica ou a


doutrinária tem caráter geral, a interpretação judicial

6
Cf. Anna Cândida da Cunha Ferraz, apud: Natália de Miranda Freire, Técnica do Processo Legislativo,
Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 115.
7
Cf. FRIED, Reis. Ciência do Direito, Norma, Interpretação e Hermenêutica Jurídica, 5 ed., rev.,
atualizada e ampliada, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p. 157.
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caracteriza-se por ser tópica, ou seja, aplicável a uma


determinada situação específica. É uma espécie de
interpretação doutrinária individualizada.

• Quanto aos Meios:

1. Gramatical – trata-se do primeiro método a ser


empregado na busca do verdadeiro significado da
norma jurídica, busca entender a literalidade da norma
através de rigorosa análise das específicas regras
gramaticais vigentes à época em que o dispositivo veio
a lume. 8

2. Racional – o passo seguinte à realização da


interpretação literal, ou gramatical, mesmo que
aparentemente já se tenha obtido o resultado esperado.
Com o uso desse instrumento valer-se-á o exegeta da
lógica para apurar o mens legislatoris (o que o
legislador queria dizer, independentemente do que
acabou por ficar registrado no texto legal), o mens legis
(o que realmente o legislador disse, independentemente
de suas intenções), o argumento a contrario sensu (a
interpretação lógica que leva à conclusão pela
exclusão, em razão da regra de hermenêutica segundo
a qual a exceções devem vir expressas) e o argumento
a fortiori (resumida na máxima – quem pode o mais
pode o menos)9.

3. Sistemática – o uso da interpretação sistemática


consiste na compreensão da estrutura na qual se
encontra encaixada a norma examinada e, a partir
dessa compreensão, harmonizá-la nesse contexto,
resolvendo eventuais conflitos, inclusive, se necessário
adotando a interpretação que permita a sua
coexistência com as demais.

4. Histórica – leva em consideração a evolução do


conhecimento, inclusive as modificações de linguagem
ocorridas no período que intermedia a elaboração e a
interpretação da norma.

5. Teleológica – também conhecida como interpretação


sociológica. Busca a aplicação da norma da forma que
melhor atender à sociedade para a qual foi elaborada.
Sua origem, em se tratando de norma

8
Cf. FRIED, Reis. Ciência do Direito, Norma, Interpretação e Hermenêutica Jurídica, 5 ed., rev.,
atualizada e ampliada, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p. 161.
9
Idem, p. 162.
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infraconstitucional encontra-se no art. 5º da Lei de


Introdução ao Código Civil, segundo o qual o juiz ao
aplicar a lei deverá atender aos fins sociais aos quais
ela se destina. No plano constitucional a interpretação
teleológica encontra amparo na finalidade primordial do
Estado – a realização do bem comum.

• Quanto ao Resultado:

1. Declarativa – aquela na qual o legislador disse


exatamente o que está escrito, ou aquela na qual o
mens legis e o verba legis são coincidentes.

2. Extensiva – a interpretação na qual se constata que o


legislador acabou por dizer menos do era desejado.

3. Restritiva – a dicção da lei (verba legis) é mais ampla


do que o mens legis.

IV - Integração

A integração de normas tem por objetivo o suprimento de eventuais


lacunas deixadas pelo legislador. No caso da norma constitucional, no entanto,
a utilização desse recurso não tem cabimento em relação às regras
fundamentais, pois vigora em Direito Constitucional, especialmente na
Hermenêutica Constitucional, o princípio da Taxatividade das Normas
Constitucionais, segundo o qual o alcance da regra contida do ordenamento
constitucional não poderá ser ampliado com o uso de interpretação ou
analogia.

Em razão dessa restrição, expressa no princípio da Taxatividade, a


integração possível da incidência da norma constitucional se limita àqueles
casos em que seja possível realizar-se a integração valendo-se de princípios
constitucionais, jamais de simples regras.

V – Aplicação

A aplicação das normas constitucionais exige algum conhecimento


quanto à sua eficácia, por isso a classificação destas tendo em vista a sua
eficácia é importante para o estudo de sua aplicação. Com esse intuito foram
classificadas as normas constitucionais da seguinte forma:

- Normas de Eficácia Absoluta – cláusulas pétreas – trata-se de


regras constitucionais que além de aplicáveis imediatamente, não necessitando
de complemento ou regulamentação, situam-se no plano da intangibilidade no
que diz respeito aos poderes constituídos.
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- Normas de Eficácia Plena – são assim chamadas aquelas normas


que desde o surgimento da Constituição ou desde sua inserção no texto
constitucional, mediante o uso de emendas, estão prontas para a sua
aplicação, não necessitando de nenhum complemento ou regulamento que
lhes dêem aplicabilidade.

- Normas de Eficácia Contida (contível ou restringível) – recebem


esta denominação aquelas normas constitucionais que tem aplicabilidade
imediata de forma ampla, mas que podem sofrer restrições uma vez
regulamentadas por lei ordinária ou complementar, conforme a exigência
constitucional.
Em se tratando de normas de eficácia contida (ou contível, ou
restringível), o direito que ela enuncia até que sofra limitação tem eficácia
plena, somente vindo a sofrer restrição após a sua regulamentação. Foi o caso,
por exemplo, do direito ao sigilo das comunicações telefônicas, até que fosse
editada a norma disciplinadora das escutas telefônicas não havia limitação,
existindo o direito ao sigilo das comunicações telefônicas de forma plena e
irrestrita.

- Normas de Eficácia Limitada:


Nesta qualificação estão situadas aquelas normas que não podem
ser aplicadas de imediato, porque carecem de regulamentação ou da
implementação de determinadas condições, ou ainda da realização de um
programa para que se tornem efetivas. Subdividem-se em dois grupos,
conforme sua carência para serem completadas, assim são limitadas:
• Quanto ao Princípio Programático – presentes no texto
constitucional dirigem a política e as ações de governo, nos
planos legislativos, executivos e judiciais, mas não existem meios
de exigir o seu cumprimento senão enquanto regra dirigente das
ações e programas governamentais.
• Quanto ao Princípio Institutivo – são que presentes na
Constituição são carentes de regulamentação para que possam
se tornar efetivas. Até que venha a regulamentação reclamada
pelo próprio texto constitucional o direito ali previsto não poderá
ser efetivado. O teor do dispositivo constitucional que denota a
presença de regra dessa ordem conclui, geralmente, com a
fórmula: ‘previstos em lei’, ou ‘na forma da lei’, ‘em lei
complementar’ etc.

VI – Hermenêutica Constitucional – Conceito –

Hermenêutica é a ciência que fornece a técnica e os princípios


segundo os quais o operador do Direito poderá apreender o sentido social e
jurídico da norma constitucional em exame, ao passo que interpretação
consiste em desvendar o real significado da norma.
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Enquanto o momento da hermenêutica corresponde à busca da


compreensão da norma constitucional, a interpretação corresponde ao
momento seguinte, aquele em que o pesquisador, já de posse do
conhecimento (compreensão), passa a traduzir em palavras, mediante
explicações, aquilo que extraiu por meio de seus estudos acerca de
determinado tema.

HERMENÊUTICA INTERPRETAÇÃO

Vale-se a hermenêutica dos seguintes princípios:

• Princípio da Supremacia Constitucional – a Constituição se


coloca, na escala hierárquica das normas jurídicas, acima de todas as demais
regras, de forma que nenhuma delas pode contrariá-la, seja material ou
formalmente, porquanto, caso isso ocorra, a norma inferior será considerada
inconstitucional e, portanto, inválida.
Trata o princípio de indicar a posição inigualável, em escala
hierárquica superior, das normas constitucionais, independentemente de serem
ou não materialmente constitucionais. Basta, para que sejam superiores, a
simples localização da norma no texto constitucional.
Há inclusive que se considerar o fato de ser a norma constitucional
parametrizadora originariamente constitucional ou resultado de emenda
constitucional, pois enquanto que a primeira (originária) é suprema de modo
absoluto; a segunda tem uma espécie de supremacia relativa, pois, em se
tratando de norma derivada, caso venha a ser verificada em relação a uma
norma originária deverá ser considerada subordinada e não suprema,
característica que, neste caso é reservada apenas às regras resultantes do
Poder Constituinte Originário.

• Princípio da Imperatividade da Norma Constitucional – significa que


a interpretação da constituição deve obedecer apenas ao que emana da
vontade popular, jamais a qualquer regra de natureza inferior.
Portanto, ao buscar a compreensão do texto constitucional, o
exegeta deve valer-se apenas das próprias normas e princípios contidos
DIREITO CONSTITUCIONAL I
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expressa ou implicitamente na Constituição, sem poder valer-se, em momento


algum, de conteúdo jurídico alheio e, desse modo, inferior aquele ali contido.
Assim, não se admite que a norma constitucional tenha a sua
compreensão realizada mediante o uso de norma inferior. O sistema
constitucional, a esse respeito é hermético, ou seja, não recebe influências de
normas externas ao seu próprio universo, no entanto influencia de modo
generoso a todos os outros sistemas jurídicos. É doador universal, mas não se
contamina, na compreensão de seu significado com as impressões advindas
de sistemas cujas fontes não são idênticas à sua própria, isso implica, portanto,
que somente irá ocasionar impacto na hermenêutica e interpretação da norma
constitucional aquelas normas que provenham da mesma fonte que ela – o
Poder Constituinte Originário, a soberania popular.

• Princípio da Taxatividade da Norma Constitucional – a


interpretação da norma constitucional não admite extensão ou analogia.
Portanto, o alcance da norma constitucional deve ser apenas aquele que se
encontra explicito no seu texto, sem a possibilidade de que venha, mediante
processo de hermenêutica e interpretação, açambarcar situações que não
estão concretamente previstas no corpo da regra constitucional, ou vice-versa,
pois também não se admite que com a hermenêutica ou com a interpretação se
reduza o alcance de determinada norma contida na Constituição.

• Princípio da Simetria Constitucional – as ordens constitucionais


parciais devem ter relação com a ordem constitucional geral. Ou seja, em
atenção ao princípio federativo, é necessário que as Constituições dos
Estados-membros tenham suas normas estabelecidas em relação simétrica
com a Constituição Federal (Ex.: art. 125, § 2º, da CF).
Diferentemente do que acontece com o constitucionalismo norte-
americano, que é assimétrico, pois permite diferenças significativas entre a
organização dos Estados-membros e a organização federal, a federação
brasileira adotou o critério da simetria.
Assim, Estados, o Distrito Federal e os Municípios, ao organizarem-
se, cumprimento a determinação constitucional dos arts. 25 a 30, devem
obervar de modo simétrico o que estabelece a Constituição Federal.

• Princípio da Presunção da Constitucionalidade das Normas


Infraconstitucionais
De acordo com este princípio há uma presunção “juris tantum”
(admite prova em contrário), de que toda lei é constitucional, até que seja
demonstrada, mediante a produção de prova, perante o Poder Judiciário, no
exercício do controle típico de constitucionalidade, que a norma afronta a
Constituição e, por isso, seja declarada inconstitucional – inválida.
DIREITO CONSTITUCIONAL I
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DO PREÂMBULO E DOS PRINCÍPIOS


FUNDAMENTAIS
Conceito de Preâmbulo. Conceito e Conteúdo dos Princípios Fundamentais. O
Estado Brasileiro enquanto Federação. O Brasil enquanto Estado de Direito:
pressupostos. O Estado Brasileiro perante a Sociedade Internacional: a
Globalização.

I – Conceito de Preâmbulo

É um enunciado solene do espírito de uma Constituição, do seu


conteúdo ideológico e do pensamento que orientou os trabalhos da Assembléia
Constituinte. Trata-se do pórtico da Constituição, sendo conhecido também por
introdução ou prólogo.

CONTEÚDO DO PREÂMBULO

Está contida no preâmbulo, geralmente, a declaração da origem do


poder constituinte: Deus – nas teocracias; o povo – nas democracias clássicas;
o Estado – nos regimes totalitários e autocráticos; a nobreza – nos regimes
aristocráticos; os operários – no Estado no antigo estado comunista soviético
etc.

IMPORTÂNCIA DOS PREÂMBULOS

Os preâmbulos possuem grande importância para o estudo das


Constituições, consistindo em síntese inseparável da interpretação sistemática
dos textos. Consideram alguns, o preâmbulo, como verdadeira chave do
pensamento das constituintes, segundo Story “é uma máxima admitida no
curso ordinário da Justiça que o preâmbulo de um estatuto revela a intenção do
legislador, faz conhecer os males que quis remediar e o fim que quer alcançar.
Encontramos essa máxima recomendada e posta em prática pelas nossas
mais antigas autoridades em direito comum”.

Preâmbulo da Constituição Brasileira:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia


Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade,
a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
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II – Conceito e Conteúdo dos Princípios Fundamentais

CONCEITO – Princípios fundamentais são regras informadoras de todo um


sistema de normas, as diretrizes básicas do ordenamento constitucional
brasileiro. Sobre essas proposições foi elaborada a Constituição brasileira.

CONTEÚDO – São regras que contém os mais importantes valores que


informam a elaboração da Constituição da República Federativa do Brasil.

FINALIDADE DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS – Consoante o ensinamento


de Paulo Bonavides são três as funções dos princípios fundamentais dentro da
ordem jurídica:

a) Fundamentadora – estabelecer as regras básicas, as diretrizes de


todo um sistema de normas constitucionais. Possuem assim eficácia
derrogatória e diretiva.

b) Interpretativa – permite o estabelecimento da verdadeira finalidade


da lei no momento de sua aplicação.

c) Supletiva – realiza a tarefa de integração do ordenamento jurídico.


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LOCALIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Situam-se na atual Constituição brasileira, os chamados princípios


fundamentais, nos artigos 1º a 4º, reunidos no Título I, do texto constitucional.

Título I
Dos Princípios Fundamentais

Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado democrático de direito e tem como
fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.
Art. 2.º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 4.º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I – independência nacional;
II – prevalência dos direitos humanos;
III – autodeterminação dos povos;
IV – não-intervenção;
V – igualdade entre os Estados;
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III – O Estado Brasileiro enquanto Federação

Ao declarar, no art. 1º, que “A República Federativa do Brasil, formada


pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito”, a Constituição de 1988
mantém a forma federal do Estado brasileiro, nela incluindo, pela primeira vez,
os Municípios como entidades federativas e, coerentemente excluindo os
territórios.

Por envolver técnica de descentralização do poder político, o Estado


Federal revela dois princípios que o distinguem de outras formas de Estado: o
princípio da autonomia e o princípio da participação. Pelo primeiro as
coletividades territoriais distintas do poder central (Estados federados na
Constituição brasileira) têm sua própria estrutura governamental e
competências peculiares; pelo segundo, os Estados federados participam da
formação da vontade ou das leis nacionais (Constituição, art. 46, que atribui ao
Senado a função de órgão legislativo de representação dos Estados).

IV – O Brasil enquanto Estado Democrático de Direito: pressupostos

Conforme a declaração contida no art. 1º, da Constituição de 1988, o


Brasil constitui um estado democrático de Direito.

Para Dalmo de Abreu Dallari o Estado Democrático se constrói com três


pilastras fundamentais: a) supremacia da vontade popular; b) preservação da
liberdade; c) igualdade de direitos.

Para Pablo Lucas Verdú, o Estado de Direito para ser reconhecido como
tal deverá estar amparado nos seguintes alicerces:
a) primazia da lei, que regula toda a atividade do Estado;
b) sistema hierárquico de normas, que realiza a segurança jurídica que
se concretiza numa categoria distinta de normas com diferentes
graus de validade;
c) legalidade da Administração, com um sistema de recursos em favor
dos interessados;
d) separação de Poderes como garantia da liberdade e freio de
possíveis abusos;
e) reconhecimento de direitos e liberdades fundamentais, incorporados
à ordem constitucional;
f) sistema de controle da constitucionalidade das leis, como garantia
contra eventuais abusos do Poder Legislativo.

Na lição de Gustavo Binembojm: “O equilíbrio e a harmonização dos


ideais do Estado democrático de direito se buscam através da complexa
estrutura de funcionamento do sistema de divisão de poderes entre órgãos
políticos e jurisdicionais, adredemente delineada na Constituição. Nos países
que adotam o sistema de controle judicial da constitucionalidade das leis, os
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eventuais conflitos políticos de índole constitucional não se resolvem, em


caráter definitivo, pela decisão da maioria, mas, ao contrário, por uma decisão
do Tribunal Constitucional. Realmente, como intérprete último da Constituição,
compete-lhe ditar aos demais poderes os limites de sua autoridade, velando
por que atuem pautados pelos procedimentos e dentro dos limites substanciais
constitucionalmente previstos. Evita-se, com isso, que o poder da maioria se
tiranize, suprimindo os direitos das minorias e pondo em risco o próprio
funcionamento do regime democrático.” 10

V – O País e o Estado Brasileiro

O Brasil existe como Estado independente desde 07 de setembro de


1822, ou seja, há quase duzentos anos.

Embora a independência do Brasil da Coroa Portuguesa tenha


ocorrido sem maiores sobressaltos, esta não ocorreu sem resistência por parte
de Portugal, que resistiu militar e diplomaticamente. A resistência diplomática,
no entanto, foi a que produziu efeitos mais longos na economia e na política
brasileira, porque exigiu do País pesados esforços para o pagamento das
compensações econômicas exigidas por Portugal.

Porém, dentre os territórios colonizados na América do Sul, o Brasil


foi o único que manteve a sua integridade, não tendo perdido nenhuma parcela
de seu espaço territorial original, e até agregado mais alguns em seguida à sua
independência.

Enquanto a América Espanhola se dividiu em tantas ou mais


divisões quanto as províncias que existiam sob o domínio da Espanha, o Brasil
– a América Portuguesa, manteve-se coeso.

Talvez em razão dessa integridade territorial mantida mesmo depois


da independência foi que a Proclamação da República, ao estabelecer que a
forma do Estado Brasileiro seria federativa, também se preocupou em afirmar
que essa união é indissolúvel, sendo que atualmente a Constituição fixa esta
regra como cláusula pétrea.

VI – Território e Forma de Estado

A forma federativa do Estado Brasileiro partiu de uma inicial


segregação das antigas províncias imperiais em Estados, fazendo com que o
antes Estado unitário passasse a ser constituído por Estados portadores de
autonomia administrativa e financeira e, em muitos momentos da história, com
a possibilidade de participar da formação da vontade nacional.

10
A Nova Jurisdição Constitucional Brasileira, Rio de Janeiro: Renovar, 2001, pp. 48/49.
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VII – Forma de Governo

A forma de governo adotada foi, na atual Constituição, a


republicana, assim tendo ocorrido em todas as demais constituições brasileiras,
a exceção apenas da Constituição de 1824, que estabeleceu um regime
monárquico.

Diferentemente do que ocorreu com a forma de Estado, a forma de


governo não constitui cláusula pétrea, podendo ser objeto de alteração. Aliás,
foi realizado plebiscito em 21 de abril de 1993 também com esta finalidade,
além daquela de permitir à população escolher entre o sistema parlamentarista
ou presidencialista de governo.

VIII – Princípios em Relações Internacionais do Estado Brasileiro

Nas relações que o Brasil mantém no plano internacional deverá


nortear suas ações pelos princípios elencados no art. 4º:

• independência nacional;
• prevalência dos direitos humanos;
• autodeterminação dos povos;
• não-intervenção;
• igualdade entre os Estados;
• defesa da paz;
• solução pacífica dos conflitos;
• repúdio ao terrorismo e ao racismo;
• cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
• concessão de asilo político;
• busca de integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.

IX – O Estado Brasileiro perante a Sociedade Internacional: a Globalização

Conforme o comentário de José Eduardo Faria: “No âmbito


específico do Estado-nação, suas instituições jurídicas acabaram sendo
progressivamente reduzidas, no que se refere ao número de normas e
diplomas legais, e tornadas mais ágeis e flexíveis, em termos processuais.
Evidentemente, o Estado continuou legislando, inclusive em matéria
econômica, financeira, monetária, tributária, previdenciária, trabalhista, civil e
comercial. Mas passou a fazê-lo agora, e esse é o fato novo digno de nota,
diminuído em seu poder de intervenção e, muitas vezes, constrangido a
compartilhar a titularidade de iniciativa legislativa com diferentes forças que
transcendem o nível nacional. Ou seja: limitado em suas políticas fiscais, em
seus instrumentos de direção e em suas estratégias de planejamento; obrigado
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a levar em conta antes o contexto econômico-financeiro internacional do que as


próprias pressões, anseios, expectativas e reivindicações nacionais; e restrito
ao papel de articulador e controlador da “auto-regulação”, tendo por função (a)
preservar a complexidade das diferentes racionalidades dos setores e agentes
produtivos e (b) induzir processos de mútuo entendimento entre eles. O que
tende a levar o direito positivo desse Estado a disciplinar não tanto os
comportamentos, mas, isto sim, os procedimentos.”

Com o Brasil a situação não difere desse padrão identificado por


José Eduardo Faria, pois a necessidade de inserir-se no contexto mundial,
decorrente da necessidade constante de capitais externos para financiar o
déficit público e o desenvolvimento econômico, torna o País dependente de
organismos internacionais e, portanto, em razão dessa dependência sujeito às
suas injunções. Assim temos interferências no campo da privatização, da
redução dos gastos públicos, ditadas pelos compromissos feitos perante o
Fundo Monetário Internacional; como também temos a flexibilização das leis
trabalhistas sendo realizadas em consonância com os interesses dos capitais
internacionais, cujo aporte necessitamos.

Insere-se, portanto, o Brasil no contexto mundial da economia


globalizada, tanto pela abertura do mercado aos produtos estrangeiros, quanto
pela necessidade de captação de recursos externos, implementando as
exigências formuladas pela ordem mundial globalizante, que em muitos casos,
agride a própria soberania, porque, como visto no texto de José Eduardo Faria,
as limitações e restrições impostas são resultantes não de pressões populares,
legítima manifestação da soberania, mas conseqüência do atendimento do
interesse externo.
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DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.


DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E
COLETIVOS
Precedentes Históricos – as Declarações de Direitos. Conceito de Direitos
Fundamentais. Garantias Constitucionais dos Direitos Fundamentais. Direitos e
Deveres Individuais e Coletivos. Conceitos. Direitos de 1ª geração. Direitos de
2ª geração. Direitos de 3ª geração. Direitos de 4ª geração.

I – Precedentes Históricos

O conceito de direitos individuais vincula-se à imposição de limites ao poder do


governante, bem como de seus agentes, para resguardar direitos dos seres
humanos isoladamente considerados.

As primeiras limitações surgiram no final da Idade Média. Sendo o antecedente


mais importante a Carta Magna, Inglaterra 1215, reconhecendo direitos dos
barões, com restrições ao poder absoluto do monarca.

Carta dos Bons Cidadãos da Virgínia (além das de Pensilvânia e Maryland –


todas de 1776) – estabeleceu, entre outros, os seguintes direitos fundamentais:
igualdade de direitos, divisão de poderes, eleição de representantes, direito de
defesa, liberdade de imprensa e liberdade religiosa.

Declaração dos Direitos do Homem – França – 1789: Art. 16 – “Toda


sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos fundamentais
nem estabelecida a conexão entre os direitos fundamentais e o princípio da
separação dos Poderes, não tem Constituição,” lembrando que o seu artigo
primeiro dispôs: “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos
outros com espírito de fraternidade.”

Revolução Russa de 1917 – Rússia 1917 – Pela primeira vez na história


operários e camponeses tomaram o poder para si.

A universalização dos direitos fundamentais ocorre no período posterior ao final


da Segunda Guerra Mundial, culminando com a assinatura em Paris, no dia 10
de dezembro de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Em 1966 são votados os pactos internacionais de Direitos Econômicos, Sociais


e Culturais e de Direitos Cívicos e Políticos.

Já em 1969, os Estados americanos assinam em San José, na Costa Rica,


país da América Central, a convenção americana dos Direitos do Homem, que
passam, no Brasil, a ter força de lei depois de ratificada, conforme dispõe o art.
5º, § 2º, c/c os arts. 84, VIII e 49, I, da CF/88.
DIREITO CONSTITUCIONAL I
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II – Conceito de Direito Fundamentais

São os considerados indispensáveis à pessoa humana, necessários


para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual. Não basta ao
Estado reconhecê-los formalmente; deve buscar concretizá-los, incorporá-los
no dia-a-dia dos cidadãos e de seus agentes.

III – Garantias Constitucionais dos Direitos Fundamentais

Todas as constituições brasileiras contiveram enunciado dos direitos


individuais:
1824 – art. 179;
1891 – art. 72;
1934 – continha um título denominado “Das Declarações de Direitos” e outro
dispondo sobre a ordem econômica e social;
1937 – consagrava direitos, mas o art. 186, declarava todo o País em estado
de emergência;
1946 – Título IV – Declaração de Direitos;
1967 e emenda n.º 01/1969 – mantiveram um título destinado à Declaração de
Direitos, como na Constituição de 1946.

Na Constituição de 1988:

O tema concernente aos direitos fundamentais é tratado antes mesmo de


discorrer sobre a organização do Estado, significando a importância que se
atribui ao assunto.

TÍTULO II – DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (VIDE


CONSTITUIÇÃO).

Garantias na atual Constituição:

- Mandado de Segurança (art. 5º, LXIX e LXX);


- Habeas Corpus (art. 5º, LXVIII e LXXVII);
- Habeas Data (art. 5º, LXXII e LXXVII);
- Mandado de Injunção (art. 5º, LXXI);
- Ação Popular (art. 5º, LXXIII);
- Ação Civil Pública (art. 129, III);
- Controle de Constitucionalidade (art. 102, 103 e 125, § 2º [concentrado];
exegese do art. 102, III [difuso].
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DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E


COLETIVOS
Conceitos. Direitos de 1ª Geração. Direitos de 2ª Geração. Direitos de 3ª
Geração. Direitos de 4ª Geração.

IV – Conceitos

Segundo Hesse – direitos e deveres fundamentais resultam em criar e manter


os pressupostos elementares de uma vida na liberdade e na dignidade
humana, podendo ser designados por direitos fundamentais todos os direitos
ou garantias nomeados e especificados no instrumento constitucional. Para
Carl Schimitt – direitos fundamentais são aqueles direitos que receberam da
Constituição um grau mais elevado de garantia ou de segurança; ou são
imutáveis ou pelo menos de uma mudança dificultada, a saber, direitos
unicamente alteráveis mediante lei de emenda à Constituição.

V – Direitos de 1ª Geração – são os direitos de liberdade, os primeiros a


constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e
políticos, que em grande parte correspondem, sob um prisma histórico, àquela
fase inaugural do constitucionalismo do Ocidente. Têm por titular o indivíduo e
são oponíveis ao Estado – são os direitos de resistência ou de oposição
perante o Estado.

VI – Direitos de 2ª Geração – são os direitos sociais, culturais e econômicos


bem como os direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no
constitucionalismo das distintas formas de Estado social, depois que
germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal deste século.
Nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual não se podem separar.

VII – Direitos de 3ª Geração – têm por destinatário o gênero humano. São os


direitos de fraternidade (para M’baya – solidariedade), sendo cinco já
identificados por Karel Vasak: o direito ao desenvolvimento, o direito à paz, o
direito ao meio ambiente, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum
da humanidade e o direito de comunicação.

VIII – Direitos de 4ª Geração – a globalização política na esfera da


normatividade jurídica introduz os direitos de quarta geração, que, aliás,
correspondem à derradeira fase da institucionalização do Estado social. São
direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o
direito ao pluralismo. Deles depende a concretização de uma sociedade aberta
para o futuro, em sua dimensão máxima de universalidade.
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DAS GARANTIAS E DOS REMÉDIOS


CONSTITUCIONAIS
Habeas Corpus. Habeas Data. Mandado de Segurança Individual. Mandado de
Segurança Coletivo. Mandado de Injunção. Direito de Petição. Ação Popular.

A existência de direitos fundamentais sem a correspondência de


garantias que os assegurem aos cidadãos não faria sentido, seria, aliás, inócua
como ficou demonstrado em diversos períodos da história em que assim
ocorria.

O que torna efetivo direito atribuído ao cidadão é a existência de


instrumentos voltados à sua proteção. Por isso é que a Constituição de 1988 foi
intitulada ‘Cidadã’, pois além de ampliar a lista de direitos fundamentais
estabeleceu garantias específicas para cada modalidade desses direitos.

I – Habeas Corpus

- Conceito – instrumento constitucional de garantia da liberdade


individual, para o qual independentemente do pagamento de custas ou da
intermediação de advogado, poderá o paciente livrar da constrição ilegal ou
abusiva ao seu direito de ir e vir (liberdade física).

- Legitimidade – Ativa – o titular do direito de ir e vir lesado ou


ameaçado, ou alguém por ele (CPP art. 654). Passiva – a autoridade
responsável pela edição do ato coator, constritor da liberdade de locomoção do
paciente.

- Competência – Definida pela categoria da autoridade coatora e pela


sua sede funcional.

- Natureza processual – ação de conhecimento que objetiva a


expedição de provimento mandamental.

- Espécies:
• Liberatório – destinado a socorrer o indivíduo cujo
direito de ir e vir encontra-se restringido por ato ilegal e abusivo de autoridade.
• Preventivo – tem por objetivo a prevenção do direito
de ir e vir contra ato iminente que o restringirá e que possua caráter de
ilegalidade ou abusividade.

- Provas – Em vista do seu caráter sumário a ação de habeas corpus


não comporta uma fase de instrução probatória, o que não implica que não
possam ser produzidas provas em ação de habeas corpus, que em regra irão
acompanhar à inicial. No entanto poderão ser produzidas até mesmo provas
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testemunhais, que deverão ser arroladas pelo impetrante (ver TJSP, RJTSP
74/299), com a ressalva que tal medida é de cunho excepcional.

II – Habeas Data

- Conceito – Meio constitucional posto à disposição de pessoa física


ou jurídica para lhe assegurar o reconhecimento de registros concernentes ao
postulante e constantes de repartições públicas ou particulares acessíveis ao
público, com o objetivo de que sejam conhecidos pelo interessado e retificados
quando incorretos 11. Encontra-se regulado pela Lei n.º 9.507, de 12 de
novembro de 1997.

- Legitimidade – Ativa – a pessoa física ou jurídica diretamente


interessada nos registros que deverão ser conhecidos ou retificados. Passiva –
a autoridade detentora de autoridade para determinar a informação dos
registros solicitados.

- Competência – A competência para processar e julgar a ação de


habeas data encontra-se prevista no art. 20 da Lei 9.507/97.

- Prazo – Enquanto durar a constrição ilegal ou abusiva.

III – Mandado de Segurança Individual

- Conceito – A ação de mandado de segurança individual destina-se


à proteção de direito individual líquido e certo lesado ou ameaçado de lesão
por ato de autoridade, independentemente de sua categoria ou funções que
exerça.

- Legitimidade – Ativa – o titular do direito líquido e certo lesado ou


ameaçado. Passiva – a autoridade coatora, cujo ato resultou na lesão ou
ameaça ao direito.

- Competência – Definida pela categoria da autoridade coatora e pela


sua sede funcional.

- Natureza processual – ação de rito sumário especial, destinada a


afastar a ofensa a direito subjetivo individual ou coletivo, privado ou público,
através de ordem corretiva ou impeditiva da ilegalidade, ordem que deverá ser

11
Cf. MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública,
Mandado de Injunção, “Habeas-Data”, 12 ed, ampliada e atualizada pela Constituição da República de
1988, São Paulo: RT, 1989, pg. 143.
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cumprida especificamente pela autoridade coatora, em atendimento à


notificação judicial. 12

- Ato de autoridade – manifestação de titular do poder estatal que


resultou em ameaça ou lesão ao direito. É necessário para que se caracterize
como autoridade que a pessoa esteja investida de poder de decisão e que ao
praticar o ato esteja exercendo suas funções ou, ao menos, tenha usado esse
poder de decisão como pretexto para a transgressão ao direito do impetrante.

- Direito líquido e certo – na célebre lição de Hely Lopes Meirelles “é


o que se encontra manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e
apto a ser exercitado no momento da impetração. Por outras palavras, o direito
invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso
em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação
ao impetrante.” 13

- Objeto – correção da lesão resultante de ato ou omissão da


autoridade coatora.

- Cabimento – contra qualquer ato administrativo de qualquer dos


poderes ou mesmo de concessionário, que tenha resultado em lesão ou
ameaça a direito líquido e certo.

- Prazo para a impetração – até 120 dias a contar da data da lesão


ou ameaça, ou da data que esta tenha se tornado conhecida oficialmente pelo
titular do direito lesado ou ameaçado.

- Partes – Impetrante e Impetrado, respectivamente titular do direito


lesado ou ameaçado e a autoridade acoimada de coatora.

IV – Mandado de Segurança Coletivo

Mesmos requisitos da ação de mandado de segurança individual,


acrescentando-se apenas que este será proposto por partido político com
representação no Congresso Nacional, organização sindical, entidade de
classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano, em defesa dos seus interesses ou dos seus associados.

Quando atuando em defesa de interesses de associados ou


membros a entidade impetrante da ação de mandado de segurança coletivo

12
Cf. MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública,
Mandado de Injunção, “Habeas-Data”, 12 ed, ampliada e atualizada pela Constituição da Répública de
1988, São Paulo: RT, 1989, pg. 7.
13
MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado
de Injunção, “Habeas-Data”, 12 ed, ampliada e atualizada pela Constituição da Répública de 1988, São
Paulo: RT, 1989, p. 12.
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deverá fazer prova da representação, apresentando o rol de associados,


filiados, enfim, daqueles a favor de quem está propondo a ação.

V – Ação Popular

- Conceito – Instrumento constitucional posto à disposição de


qualquer cidadão para a proteção do interesse público, objetivando a anulação
de ato lesivo ao patrimônio ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural.

- Requisitos da ação:
• Cidadania brasileira do proponente da ação;
• Ilegalidade ou ilegitimidade do ato a ser invalidado;
• Lesividade ao patrimônio público.

- Finalidade da ação:
• Preventiva – como meio de impedir a lesão ao patrimônio;
• Repressiva – forma de interromper a lesão causada ao
interesse público.

- Objeto da Ação – ato ilegal e lesivo ao patrimônio público.

- Partes – Pólo Ativo – cidadão. Pólo Passivo – “pessoas jurídicas,


públicas ou privadas, em nome das quais foi praticado o ato a ser anulado e
mais as autoridades, funcionários ou administradores que houverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado pessoalmente o ato ou firmado o
contrato impugnado.”14

VI – Ação Civil Pública

- Conceito – Trata-se de instrumento constitucional e processual


destinado à repressão ou estabelecimento de obstáculo a que sejam causados
danos ao meio ambiente, ao patrimônio público e social e de outros interesses
difusos e coletivos.

- Legitimidade – Ativa – Ministério Público (art. 129, III, da CF/88) e


pessoas jurídicas estatais, autárquicas e paraestatais, assim como associações
de proteção ao meio ambiente ou defesa do consumidor (Lei 7.347/85).
Passiva – os responsáveis por danos ao meio ambiente, ao patrimônio público
e social e outros interesses difusos e coletivos.

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MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado
de Injunção, “Habeas Data”, 12 ed., ampliada e atualizada pela Constituição da República de 1988, São
Paulo: RT, 1989, p. 98.
DIREITO CONSTITUCIONAL I
PROF. ANTÔNIO FLÁVIO DE OLIVEIRA

- Competência – foro da comarca onde ocorreu o dano.

- Sentença – poderá condenar o réu a obrigação de fazer ou não


fazer ou ao pagamento de indenização e fará coisa julgada erga omnes, salvo
no caso de ser julgada improcedente por falta de provas.

VII – Mandado de Injunção

- Conceito – garantia constitucional de que dispõem os interessados


que se sintam prejudicados pela omissão em editar norma regulamentadora,
tornando, assim, inviável o exercício de direitos e liberdades constitucionais.

- Competência – STF – quando a elaboração da norma for de


responsabilidade do Presidente da República, do Congresso Nacional, do
Senado Federal, da Câmara dos Deputados, ou de uma das mesas dessas
Casas. STJ – quando a elaboração da norma for atribuição de órgão ou
entidade federal, que não aquelas elencadas na competência do STF.

- Efeito da decisão – inter partes e não poderá resultar em


substituição à atividade legislativa pelo Poder Judiciário, apenas se ordenará à
autoridade impetrada que tome as providências cabíveis.

VIII – Direito de Petição

Possibilidade de que dispõe o cidadão para pleitear nos órgãos


públicos em defesa dos seus direitos, evitando-lhes lesão ou ameaça por
ilegalidade ou abuso de poder.

O direito de petição acarreta no desencadeamento, pelo interessado,


do processo administrativo, atualmente tratado no âmbito federal pela Lei n.º
9.784/99 e no plano estadual pela Lei n.º 13.800/2001.

Direito de petição na verdade não é direito material, mas instrumental


para a proteção de outros direitos através da busca que este possibilita de uma
resposta formal da Administração.
DIREITO CONSTITUCIONAL I
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DOS DIREITOS SOCIAIS


Conceito. Direitos Sociais Relativos aos Trabalhadores. Direitos de Seguridade.
Direitos Relativos à Educação, Cultura e Esporte. Direitos Sociais Relativos à
Família, à Criança, ao Adolescente, ao Idoso e às Pessoas Portadoras de
Deficiência. Direitos Relativos ao Meio Ambiente.

I – Conceito

Direitos sociais são direitos de conteúdo econômico-social que visam melhorar


as condições de vida e de trabalho para todos. São prestações positivas do
Estado em prol dos menos favorecidos e dos setores economicamente mais
fracos da sociedade.
As primeiras Constituições a inserir em seus textos direitos sociais foram a
mexicana de 1917 e a da República Alemã de Weimar em 1919. Já em nosso
caso, a primeira Constituição brasileira a incorporar direitos sociais em seu
texto foi a de 1934, sendo que até 1988, eles estavam inseridos em um
capítulo dedicado à ordem econômica e social.

II – Direitos Sociais Relativos aos Trabalhadores

Direitos de segunda geração – são direitos que buscam a concretização da


igualdade entre as pessoas que desempenham qualquer tarefa laboral.
Artigos 7º a 11.

III – Direitos de Seguridade

Direitos de segunda geração – estabelecem, como derivação do direito à


igualdade, o direito a uma existência digna mesmo depois de ter a pessoa
atingido um idade provecta.
Artigos 193 a 204, incluindo-se aí os direitos à saúde, à previdência social e à
assistência social.

IV – Direitos Relativos à Educação, Cultura e ao Esporte

Direitos de segunda geração – procura estabelecer a igualdade entre os


indivíduos valorizando a cultura, educação e o esporte próprios de cada grupo,
independentemente de sua origem, cor etc.
Artigos 205 a 217.

V – Direitos Sociais Relativos à Família, à Criança, ao Adolescente, ao Idoso e


às Pessoas Portadoras de Deficiências
DIREITO CONSTITUCIONAL I
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Direitos de segunda geração – trata de fixar direitos às pessoas


independentemente de suas idades ou das limitações físicas de que são
portadoras, bem como a proteção à família, vista aqui como fator de
equalização social.
Artigos 226 a 230.

VI – Direitos Sociais Relativos ao Meio Ambiente

Direitos de terceira geração – objetiva a proteção do habitat global para as


gerações presentes e futuras.
Artigo 225.

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