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II.

Introdução à Ciência Política


Síntese

Definição e objeto
Existem variadas definições de Ciência Política, devido à diversidade de perspetivas de investigação que é
possível utilizar no seu estudo, sendo a definição do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa geralmente aceite:

 É o estudo científico de uma modalidade de factos sociais: os factos políticos, que são aqueles que
se relacionam, direta ou indiretamente, com o acesso (ex: eleições), a titularidade (ex: primeiro-
ministro), o exercício (ex: legislar) e o controlo do poder político (ex: tribunal constitucional)”.

 A Ciência Política é autónoma, mas aberta à interdisciplinaridade.

Poder
O Poder divide-se em 2 partes:

 O poder do homem sobre a natureza;

 O poder do homem sobre o homem.

Este último considera que o Homem vive em sociedade e, consequentemente, desenvolve diferentes
relações de poder e vários níveis de relações pessoais (progressivamente mais complexas e abrangentes), e
por isso pressupõe a potencialidade de alguém impor aos outros um determinado comportamento.

Modalidades do poder do homem sobre o homem:

 Aristóteles

o Poder paterno (o pai exerce poder sobre os filhos);

o Poder despótico (poder do senhor sobre os seus súbditos, privilegiando o seu interesse);

o Poder político (poder exercido pelos governantes aos governados).

 Locke – fundamento do poder que é exercido, com base na mesma distinção de poderes. Está
associado à ideia de aplicação de sanções e é um poder limitado pelos direitos das pessoas. A sua
grande preocupação era a defesa do indivíduo perante o Estado.

Poder Político
Segundo o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa o poder político corresponde ao “poder de injunção dotado de
coercibilidade material”.

 Fundamento para a existência e exercício do poder político: necessidade de encontrar


mecanismos destinados à resolução dos conflitos de interesses resultantes do acesso aos bens
finitos.

 Função: resolver os conflitos de interesses que podem surgir entre aqueles que concorrem na
utilização de bens finitos.

 O poder político exerce-se através da força e da autoridade, ou seja, da legitimidade dos seus
detentores, para atingir os seus objetivos.

Poder Político e Legitimidade


É fundamental a existência de legitimidade no exercício do poder político.

Max Weber apresenta e distingue três formas de legitimidade:

 Legitimidade tradicional: associada a sistemas onde se possui a crença de que se o poder for
exercido de acordo com as tradições está a ser bem executado e considerado legítimo;

 Legitimidade carismática: associada à admiração por alguém, que possui características excecionais
e que o destacam em relação aos restantes;

 Legitimidade racional: escolhemos os meios com o objetivo de atingir fins pré-determinados.

Tipos de Legitimidade:

 Legitimidade de título – resulta do modo de designação dos titulares do poder político;

 Legitimidade de exercício – resulta do modo como é exercido o poder político pelos governantes.

Legitimidade e Legalidade:

 Legitimidade – forma como os governantes ascendem ao poder político e como se comportam no


seu exercício;

 Legalidade – analisa as mesmas formas, mas de acordo com as regras jurídicas em vigor.

Assim, é possível uma ação política ser legal e ilegítima ao mesmo tempo.
O Poder Político e o Estado
O Estado é a manifestação por excelência do poder político.

O Estado é uma sociedade política de fins gerais, que deve prover todos os fins relativamente às
necessidades coletivas. O Estado é regido por uma Constituição. Este é abalado e/ou condicionado por
realidades de âmbito infra e supraestadual.

1- Enquanto comunidade: como sociedade, de que fazemos parte e em que se exerce um poder para
a realização de fins comuns;

2- Enquanto poder, enquanto forma de regulação das relações entre as várias entidades e o poder
supremo estadual: poder político manifestado através de órgãos, serviços e relações de autoridade.

A realidade estadual e a palavra “Estado” surgem em épocas diferentes:

 O “Estado” tal como o conhecemos começou a ser usado principalmente depois do século XVIII
(revoluções liberais).

 A palavra “Estado” é utilizada pela primeira vez no século XVI, numa obra de Nicolai Maquiavel – O
Príncipe de Maquiavel.

 É originária do verbo latino “sto, stas… statum” (estar/permanecer) e aponta para o facto de este
permanecer no tempo, já que podem mudar os governantes e os titulares e o Estado é uma
realidade política que permanece. É uma realidade atemporal, que corresponde a uma necessidade
social coletiva sentida sempre ao longo dos tempos.

Características do Estado

 Institucionalização: Duração, permanência do poder, independentemente da mudança de titulares.


Corresponde a uma ideia de fixação e enraizamento do Estado como realidade intemporal, com fins
gerais aos quais se propõe, quer na ordem externa, quer na ordem interna. O que garante que o
Estado permaneça é a Constituição.

 Territorialidade/Sedentariedade: corresponde à necessidade de um espaço físico para que o


Estado exerça o seu poder (Há sociedades políticas nómadas. Não há Estados nómadas, estando
sempre associados a um elemento físico).

 Autonomia: a esfera do Estado (poder político) é completamente independente perante a esfera


social (sociedade civil).
 Complexidade: O Estado constitui uma entidade de fins gerais (satisfação de toda e qualquer
necessidade coletiva), contrariando, assim, o princípio da especialidade. Com efeito, este está
associado a uma enorme complexidade, sendo esta visível quer na organização, quer de funções.

 Coercibilidade: suscetibilidade ou possibilidade de o direito estadual ser imposto pela força, isto é,
caso as normas não sejam cumpridas, há instrumentos que permitem a sua aplicação.

Elementos dos Estado

Os três elementos que nos permitem caracterizar o Estado enquanto Estado, partindo do princípio de que
são cumpridas todas as características já enunciadas, são os seguintes:

1. Elemento humano: povo


3. Elemento institucional: poder político
2. Elemento físico: território

Evolução histórica do Estado

O Poder Político e o
Direito
Existe uma nítida relação entre o poder político e o Direito: a organização do grupo humano é o resultado
do poder político. Paralelamente, para a organização do grupo humano são necessárias normas que o
regulem, produzidas através de mecanismos do Direito, que são, por sua vez, exercidos pelo poder político.

Breve evolução da Ciência Política


 Aristóteles – identificava e analisava fenómenos políticos, era um realista (pois descrevia a
realidade), mas também idealista (procurava o melhor regime político);
 Maquiavel – autonomizou o estudo da política, através da identificação de regularidades, despida
de conceções morais, iniciando assim o estudo da política de forma amoral/neutral;

 Montesquieu – autor da separação de poderes e procurou estabelecer leis sobre os fenómenos


políticos.

 O século XIX e a afirmação das ciências sociais – Alexis de Tocqueville e Karl Marx.

 A Ciência Política nos séculos XX e XXI – perspetiva empírica inicia-se nos Estados Unidos já no
século XIX. Com a eclosão da II Guerra Mundial, a Europa começa a adotar esta perspetiva.

 Em Portugal, desenvolveu-se, principalmente, nos dois últimos séculos.

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