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Direito Administrativo
Aulas Teóricas
Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Nota introdutória:
Bom estudo!
§ Em segundo lugar, são decisões que têm de ser tomadas no exercício de poderes
jurídico-administrativos. Podem ser praticados por órgãos administrativos, mas
também por entidades concessionárias (pessoas jurídicas privadas) no exercício
de poderes públicos ou por órgãos públicos que não integram a administração em
sentido orgânico ou subjetivo (ex: o PR propor um processo disciplinar ou
promover uma mudança de categoria de funcionário; os tribunais judiciais
praticam muitas vezes atos que são administrativos – a expropriação). Quando
uma entidade concessionária pratica esse ato, o Professor considera que não goza
da mesma discricionariedade que um órgão da administração – ele atua apenas em
substituição deste. Nestes casos, os tribunais deviam gozar de um poder de
condição e decisão mais intenso que lhes permitisse controlar judicialmente e de
forma mais intensa o exercício do poder discricionário dos atos administrativos –
artigo 4º nº1 d) ETAF.
ü Quanto aos atos coletivos, incidem sobre um caso concreto mas são vários os
seus destinatários, embora sejam individualizados e individualizáveis, mas o ato
administrativo não tem como objeto apenas uma pessoa (ex: quando o Governo
toma a decisão de dissolver um órgão de uma pessoa coletiva pública sujeito a
superintendência ou tutela, o objeto do ato coletivo não é o órgão, mas sim os
membros do mesmo).
ü Quanto aos atos plurais, a administração adota uma decisão que se aplica por
igual a várias pessoas diferentes (despacho ministerial que nomeia 10 funcionários
para 10 vagas diferentes num serviço).
ü O ato administrativo geral afasta-se da definição inicial do ato que tem como
destinatários uma ou várias pessoas, e esse grupo de pessoas não é inteiramente
determinado. Há uma aproximação aos regulamentos administrativos, mas
distinguem-se destes, porque os regulamentos são normas jurídicas gerais e
abstratas, dadas pela administração no exercício de poderes administrativos. A
norma regulamentar aplica-se a um número indefinido de pessoas, e por aqui
distinguem-se os atos dos regulamentos, principalmente no caso dos atos
administrativos gerais.
Na versão originária da CRP – no art. 268º nº3 e 25º nº1 da Lei do Processo dos
Tribunais Administrativos, que antecedeu o CPTA, consagrava-se também os dois
requisitos: definitividade (para efeitos contenciosos, apenas era relevante do
ponto de vista judicial o ato final do procedimento, o definitivo, porque só esse
ato era suscetível de produzir efeitos jurídicos lesivos na esfera dos destinatários)
e executoriedade (eficácia do ato, mas de facto isto não era a mesma coisa,
porque a eficácia é um requisito da executoriedade: um ato só pode ser executado
depois de ser eficaz na ordem jurídica). Estas duas noções acabavam por ser um
pouco contraditórias. A executoriedade é a capacidade que a Administração tem
de executar por meios próprios os seus atos, que normalmente impõem deveres.
Críticas: Doutrina de José Soares: Quanto à noção ampla, os autores dizem que
a noção substantiva é demasiado abrangente, englobando formas de atuação muito
diferentes na mesma categoria de ato administrativo. A noção adjetiva era também
demasiado confusa e não apontava os requisitos para a sua impugnabilidade
contenciosa; abrangia muitas realidades distintas, desde realidades materiais,
competenciais e procedimentais.
ato final ou um ato procedimental. Para esta doutrina, o ato apresentava três
definitividades:
Neste sentido, importa ter em conta a competência comum, que é relevante para
este problema: quando um ou mais órgãos tem competência para praticar um ato
administrativo. Pode dividir-se em:
ü Competência conjunta (pratica um ato por acordo);
ü Competência simultânea (qualquer dos órgãos pode praticar o ato).
Por sua vez, a competência própria existe quando a lei atribui competência
para praticar o ato administrativo ao órgão subalterno. Pode ser:
ü Exclusiva (ato verticalmente definitivo);
ü Concorrente (tem de haver, antes de proposta ação no tribunal, recurso
hierárquico necessário para o supremo hierárquico - não é verticalmente
definitivo, porque o superior hierárquico pode anular, revogar, modificar ou
extinguir o ato).
ü Que o órgão administrativo tenha o dever legal de decidir, seja competente e não
tenha decidido há menos de 2 anos o mesmo pedido formulado pelo mesmo autor
com os mesmos fundamentos (artigo 13º CPA). O termo inicial do prazo conta-se
a partir da notificação do ano anterior; o termo do prazo é a data da apresentação
do requerimento.
ü Que o órgão competente não tenha praticado o ato no prazo legalmente
estabelecido.
Por último, podemos ter atos que reduzem encargos dos particulares:
porque é o único lugar em que o particular pode intervir junto da administração antes de
ser praticado o ato. Isto não acontece no processo administrativo – é uma fase patológica
– o ato já foi praticado e as consequências já foram sofridas. Há atos instrumentais e
alguns atos preparatórios que podem ser diretamente impugnáveis, permitindo uma tutela
judicial adequada. Na concessão processual, o procedimento aparece como uma categoria
geral.
Apesar de haver alguma sintonia quanto aos princípios que orientam o
procedimento e o processo administrativo (direito de audiência prévia, dever de
fundamentação), prosseguem finalidades diferentes: o procedimento é muito menos
solene e formal do que o processo e normalmente desenvolve-se muito mais rapidamente
do que o processo; o procedimento permite decisões legítimas do ponto de vista jurídico,
mas também materialmente justas, e no processo o que está em causa é dirimir o litígio
entre a administração e os particulares. A complementaridade está desde logo no facto de
o tribunal administrativo apreciar todo o procedimento e não apenas o ato final. O
procedimento administrativo é uma antecâmara do processo administrativo, porque se o
procedimento for bem feito impede que o processo chegue ao tribunal.
Conceções doutrinárias do procedimento administrativo:
• Conceção de Adolf Merkl: Parte dos pressupostos de Kelsen, que tinha uma visão
piramidal do ordenamento jurídico. Afirma que o procedimento administrativo é
o modo como são os atos administrativos. No entanto, isto pode aplicar-se quer
aos regulamentos, quer aos contratos. Via o procedimento como uma categoria
geral.
• Teoria do ato procedimento: O que importa para esta doutrina é o ato final – é
relevante, na medida em que os atos instrumentais não têm qualquer relevância
jurídica autónoma, são apenas auxiliares da decisão jurídica final. É uma tese
substancialista – reduz muito o campo da tutela jurisdicional - é verdade que existe
uma instrumentalidade, mas não se pode, como fazia esta doutrina, descredibilizar
a relevância e autonomia jurídica de alguns atos procedimentais.
doutrina recorria-se do art. 58º. A administração não pode contar apenas com os
dados que lhe são conhecidos, tem de fazer tudo o que seja possível para recolher,
principalmente na fase instrutória, todos os factos e pareceres relevantes para uma
boa decisão final.
Procedimento administrativo:
§ Forma clássica: Existe uma fase preparatória (onde se incluem todos os
trâmites necessários à tomada da decisão final); fase constitutiva (fase da tomada
de decisão) e fase integrativa de eficácia (o ato administrativo já foi praticado,
não há nada a acrescentar ao conteúdo do ato, mas ele ainda não está em condições
de produzir efeitos jurídicos externos).
v Fase preparatória:
e nº3 CPA, o órgão responsável pela direção do procedimento deve tentar chegar
a acordo com o interessado sobre a nova data da audiência.
O que se apresenta aos interessados é apenas um projeto de decisão e nunca a
decisão final, sendo que este vai ser complementado com um parecer dos
interessados.
Quanto à dispensa dos interessados: artigo 124º CPA - o responsável pela
direção do procedimento administrativo tem uma margem de discricionariedade.
Pode dispensar a audiência dos interessados e tem margem de apreciação para
decidir quando o deve ou não fazer, mediante fundamentação completa e clara,
sob pena de poder afetar a validade do ato final – a discricionariedade é concedida
pelos pressupostos objetivos plasmados nas diversas alíneas do artigo 124º CPA.
produção de efeitos jurídicos externos. Esta fase é sempre uma fase posterior à
fase constitutiva e decisória, e tem como objetivo desencadear a eficácia de
qualquer ato administrativo em sentido próprio. Só a partir destes atos integrativos
de eficácia é que se começam a contar os prazos para a impugnação administrativa
ou oficiosa.
Os atos integrativos da eficácia não acrescentam nada ao conteúdo e validade do
ato, a sua função é permitir que o ato final produza os seus efeitos jurídicos
externos, momento a partir do qual se inicia a relação jurídica.
Numa interpretação literal do artigo 160º CPA, estes atos impositivos de deveres
não precisariam de ser comunicados aos respetivos interessados para terem
eficácia jurídica externa.
O Professor entende que todos os atos negativos, que impõem deveres, devem ser
comunicados ao interessado, sendo um requisito da eficácia do ato. Quanto aos
atos que estabelecem uma vantagem, não necessitam de comunicação ao
interessado; não é requisito de eficácia, mas sim de oponibilidade ao destinatário.
Quanto à notificação, no nº1 do artigo 114º enumeram-se exemplificativamente
os atos que devem ser notificados. O nº2 afirma que da notificação do ato devem
constar determinados elementos.
tutela jurisdicional limitada, nos termos do artigo 3º nº1 CPTA, mas os vícios de mérito
podem ser apreciados pelo superior hierárquico.
Um ato que seja desconforme com a ordem jurídica tem um vício: Quanto a estes,
são essencialmente de elaboração doutrinal e jurisprudencial, o legislador não define os
vícios, apenas os tipos de invalidade. Os vícios não têm todos a mesma relevância
jurídica. Pode acontecer que o legislador desvalorize certas conformidades da atuação da
administração com o ordenamento jurídico. A invalidade seria a inaptidão intrínseca do
ato para produzir os efeitos jurídicos correspondentes ao tipo legal em que se insere, em
virtude da sua desconformidade com a ordem jurídica.
Os vícios podem distinguir-se em:
• Vícios invalidantes: Há vícios mais graves, que abalam a própria estrutura do ato
e outros vícios menores, que causam a anulabilidade do ato, embora invalidantes.
• Vícios não invalidantes: ocorrem quando a ordem jurídica considera que o
incumprimento das normas que deviam ser praticadas é desprovida de valor
jurídico. Nestes casos existe uma mera irregularidade.
Tipos de invalidade:
• Nulidade: Apresenta-se como a exceção. Está prevista no artigo 161º nº1 CPA,
onde temos uma enumeração simplesmente exemplificativa, o que significa que
podemos ter mais nulidades do que as previstas no artigo mencionado. Há uma
gravidade do vício e uma evidência.
No código de 1991 distinguiam-se nulidades por determinação legal e nulidades
por natureza (quando faltava ao ato um dos seus elementos essenciais, que
dissesse respeito a algo significativo da determinação desse ato – por exemplo,
verificação constitutiva em que os factos indicados são falsos; situação de
carência de poder).
Atualmente, só temos nulidades por determinação legal. O ato nulo não produz
efeitos jurídicos, independentemente da declaração de nulidade (artigo 162º nº1
CPA) – o que se quer dizer é que o ato nulo não produz efeitos jurídicos externos.
O Professor considera que há alguns efeitos jurídicos externos que o ato nulo
produz, por exemplo os que sejam necessários para abrir a possibilidade da
impugnação contenciosa. O ato nulo produz resultados juridicamente
relevantes para o ordenamento jurídico administrativo. Se assim não fosse, a
que propósito se faria um pedido de formulação de eficácia de um ato nulo? O
professor considera que um ato nulo nunca produz eficácia interna, que é a
obrigatoriedade jurídica do conteúdo regulador do ato – no momento em que é
praticado, o conteúdo do ato torna-se juridicamente vinculativo para os
destinatários. A eficácia jurídica corresponde à eficácia externa, em que é preciso
a prática de um ato instrumental que o torne operativo.
No artigo 162º, afirma-se que a nulidade pode ser invocada a todo o tempo e o
Professor considera que isto é claramente excessivo.
De acordo com o artigo 162º, para conhecer a nulidade de um ato, qualquer
autoridade administrativa é competente. No entanto, para declarar a nulidade só
são competentes ou um tribunal administrativo ou um órgão com poderes de
controlo sobre o ato praticado.
Um ato nulo é diferente de um ato inexistente, porque este último não produz
efeitos jurídicos nem resultados juridicamente relevantes.
§ Elementos objetivos: há um objeto, isto é, uma realidade sobre o que vai incidir
os efeitos do ato, que pode ser uma pessoa, uma coisa ou um ato administrativo
real; bem como um conteúdo, ou seja, transformações que o ato administrativo
vai produzir no ordenamento jurídico e nas situações jurídicas dos particulares;
• Quanto aos elementos objetivos: Relaciona-se com o objeto, que tem de ser
fisicamente possível e tem de existir suscetibilidade desse facto ser capaz de
realizar uma determinada disposição legal. Existe ainda o requisito da sua
determinação – tem de estar delimitado e identificado.
Quanto ao conteúdo, depende se o ato administrativo é essencialmente vinculado
ou discricionário. Se for vinculado, o conteúdo do ato deve responder ao que a lei
prevê para a prática desse ato. Se for discricionário, o conteúdo tem de ser o
mínimo certo, legal e possível.
expressa dos atos recai sobre quase todos os atos administrativos. Os atos
desfavoráveis, no entanto, devem ser sempre fundamentados, principalmente
os atos impositivos e os que tenham uma natureza discricionária.
No artigo 163º nº5 afirmam-se as ocasiões em que não se produz efeito anulatório,
sendo designado princípio do aproveitamento do ato. Este princípio significa que,
por vezes, existem formalidades essenciais que caem em formalidades não essenciais,
ao mesmo tempo que determinados vícios seriam invalidantes quando podem ser vícios
não invalidantes. Embora haja vício, não vai existir anulação quando o conteúdo do ato
não puder ter sido realizado de forma diferente. Nestes casos é exigido um juízo de
prognose, visto que terá de se imaginar como é que o ato seria se tivesse sido cumprida
a formalidade essencial. Apenas se aplica aos atos anuláveis e nunca a atos nulos.
ü Falta de legitimação - Quando o órgão que atua, embora o faça dentro das
atribuições da pessoa coletiva pública a que pertence e no âmbito da sua
competência, não está legitimado na situação concreta para exercer as suas
competências. Há falta de legitimação nos casos de impedimento (artigos 69º
e seguintes CPA) – a consequência é a anulabilidade; no caso da falta de
Sanação dos atos inválidos: Não consiste na sanação dos atos anuláveis, porque no
código atual de 2015 a sanação abrange os atos anuláveis e atos nulos. Converte-se um
ato inválido num ato válido. O decurso do tempo não sana os vícios dos atos anuláveis.
Um ato anulável, se não for impugnado pelo lesado ou não anulado pela administração,
não se convalida mas consolida-se na ordem jurídica, torna-se inatacável do ponto de
vista contencioso diretamente. No entanto, está sempre sujeito a fiscalização contenciosa
a nível incidental - se o interessado não atacar o ato, não pode pretender através da
fiscalização acidental obter o mesmo benefício jurídico que teria obtido se o tivesse
impugnado.
A sanação dos atos consiste na ratificação (ato administrativo pelo qual o órgão
administrativo competente decide sanar um ato inválido anterior, eliminando a
ilegalidade que o vicia – repete-se a mesma decisão, mas sem o vicio que o afetava –
exemplo: um ato não fundamentado adquire uma fundamentação); reforma (ato
administrativo pelo qual a administração conserva um ato administrativo anterior na parte
não afetada pela ilegalidade – aproveita a parte sana e elimina a outra) e conversão (ato
administrativo através do qual se aproveitam os elementos válidos de um ato ilegal, para
com eles compor um outro ato válido). Estão previstas no artigo 164º CPA.
Eficácia do ato: Enquanto os requisitos de validade do ato têm a ver com os seus
elementos intrínsecos, a eficácia tem a ver com as circunstâncias extrínsecas do ato – a
prática de atos, em regra, instrumentais e após a fase constitutiva do procedimento, em
que o ato administrativo já está pronto e não há nada a acrescentar quanto ao seu conteúdo
ou validade, mas ainda não está suficientemente operativo para produzir efeitos jurídicos
externos, o que significa que não se pode dizer que um ato é ineficaz querendo dizer que
o ato é inválido.
Há pelo menos um tipo de invalidade em que esta e as consequências jurídicas se
assemelham que é o caso do ato nulo ou inexistente – não é válido e também não
produz efeitos jurídicos. No entanto, os requisitos de validade e a eficácia do ato são
coisas diferentes. Os requisitos de eficácia do ato são a aprovação (atos de controlo
preventivo a cargo da administração), o visto, a notificação e a publicação. Mesmo
quando o ato exige publicação terá obrigatoriamente de ser notificado, é uma forma de
publicidade formal e pessoal. No caso em que os atos são não recetícios não se exige
que o conteúdo do ato seja levado ao conhecimento do seu destinatário. No entanto, a
notificação é um requisito de oponibilidade no caso dos atos desfavoráveis, porque o
prazo para impugnação administrativa ou contenciosa só começa a contar a partir daí.
Podem existir atos válidos, mas ineficazes (é um ato que está perfeito, mas ainda não está
em condições de produzir efeitos jurídicos; ato que está sujeito à aprovação de outro
órgão; ato que está sujeito a condição ou termo suspensivo – artigo 157º CPA); e atos
inválidos, mas eficazes – são os atos anuláveis - se tiver decorrido o prazo para a sua
impugnação ou se a administração não tiver precedido à sua impugnação, considera-se
consolidado na ordem jurídica, mas não se convalida porque continuam a existir vícios,
e é por isso que pode existir impugnação acidental (artigo 38º CPTA).
Há dois aspetos importantes: suspensão da eficácia do ato e cessação da eficácia do
ato. Há suspensão de eficácia de um ato quando esse ato é objeto de um ato administrativo
que faz cessar provisoriamente o ato anterior; quando o ato é sujeito a um recurso
hierárquico necessário (artigo 189º nº1 CPA) – uma das caraterísticas da impugnação
administrativa necessária é a suspensão da eficácia do ato - as impugnações
administrativas facultativas não suspendem a eficácia do ato, apenas o prazo processual,
nos termos do artigo 190º CPA; ou, por exemplo quando se é objeto de uma ordem de
demolição e se impugna a mesma para impedir a execução do ato - tem de se propor uma
providência cautelar, nos termos dos artigo 102º e seguintes CPA.
Quanto à cessação de eficácia do ato, pode ocorrer por intermédio da prática de um ato
administrativo (revogação ou anulação); pode ocorrer por uma sentença administrativa
Revogação (artigo 167º CPA) e anulação (artigo 168º CPA) dos atos administrativos:
No Código de 1991, havia um tratamento unitário destas duas figuras distintas. O novo
código consagrou uma nítida separação entre estas duas figuras. Quer se trate da
revogação, quer da anulação, consistem em atos que têm por objetos atos anteriormente
praticados (atos de segundo grau), fazendo com que esses atos deixem de produzir os
respetivos efeitos jurídicos. O nosso legislador oferece no artigo 165º CPA a definição
destas figuras.
Ø Distinção quanto aos motivos: A revogação incide sobre atos válidos, enquanto
que a anulação incide sobre atos inválidos. Enquanto na revogação, o motivo que
a determina são razões de inconveniência ou inoportunidade (o ato anterior não é
conveniente para satisfazer o interesse público atual), na anulação, o que a
determina é o facto desse ato ser ilícito. Há atos que são insuscetíveis de revogação
ou anulação (artigo 166º CPA) – os atos nulos; atos anulados contenciosamente;
os atos julgados com eficácia retroativa.
Ø Distinção quanto aos efeitos: A revogação, em regra, apenas produz efeitos para
o futuro, tem uma eficácia ex nunc (artigo 171º nº1). A anulação produz efeitos ex
tunc – elimina os efeitos do ato desde o momento em que ele foi praticado,
retroativamente.
No código anterior, um ato constitutivo de direitos não podia ser alvo de revogação.
Atualmente, isto não se verifica, e podem ser revogados nos termos do artigo 167º CPA.
No artigo 168º CPA estão previstos os prazos para a anulação e estes variam consoante o
ato seja constitutivo de direitos ou não.
Os atos contrários são uma figura próxima da anulação e da revogação. No entanto, nos
atos contrários temos um caso concreto distinto. Por exemplo, um ato que nomeia um
funcionário para uma vaga; passado algum tempo, esse funcionário é alvo de um
procedimento disciplinar – este segundo ato é um ato contrário ao anterior, mas não é
uma anulação nem uma revogação. Os atos contrários são sempre atos de primeiro grau.
concretizada – nomeadamente o artigo 176º nº1 CPA, que consagra a teoria protagonizada
pela doutrina. No entanto, ainda não entrou em vigor o diploma que legitima o artigo 176º
nº1, dado que o diploma a que se refere nunca chegou a ser aprovado, e enquanto não for
publicado continua em vigor o artigo 149º nº2 do CPA anterior, nos termos do artigo 6º
do DL nº 4/2015.
O legislador estabelece algumas definições de cautela do procedimento de execução dos
atos administrativos, no artigo 177º e artigo 178º CPA. No artigo 183º CPA, está previsto
o pagamento de sanções pecuniárias, em que a administração não tem qualquer
executoriedade - quando se trata do pagamento de quantia certa a administração não pode
agir sem recorrer aos tribunais.
No artigo 182º CPA, há a referência a uma série de garantias de tipo jurisdicional. Os
destinatários do ato podem impugnar o ato exequente, que é o ato que vai ser executado
e é diferente do ato de execução; também podem impugnar a decisão de proceder à
abertura de execução ou outros atos administrativos praticados no âmbito do
procedimento de execução.
• Art. 112º nº7 e art. 136º nº1 CPA: abordam os regulamentos independentes e
autónomos. Há uma exigência constitucional da lei definir a autoridade que pode
praticar o ato e a matéria a disciplinar pelo regulamento (competência subjetiva e
objetiva, respetivamente). Nos regulamentos independentes alguma parte da
doutrina não exige habilitação legal, ainda que fixassem dois limites: teriam de
assumir a forma de decreto regulamentar e o seu conteúdo não poderia incidir
sobre matéria de reserva absoluta. O art. 136º nº2 CPA demonstra a necessidade
de uma lei habilitante.
§ Recursos administrativos especiais (art. 199º CPA): são recursos ditados por
motivos especiais. Antes de existirem estes recursos, existiam dois tipos de
recurso: recurso impróprios (quando não há uma relação de hierarquia) e tutelares
(quando não há uma relação de superintendência ou tutela). Estes recursos
administrativos especiais vêm designar os antigos recursos hierárquicos. O
Professor considera que se devia manter a possibilidade dos atos praticados pelo
delegado ou subdelegado serem alvo de recurso administrativo.
• Culpa: art. 10º Lei 67/2007: antes, não havendo presunção de culpa, competia ao
lesado o ónus de prova; o critério era o critério do pater famílias (critério civilista).
Atualmente, o critério da lei aponta para o funcionário médio, zeloso e cumpridor. O
Professor considera que, embora não decorra imediatamente da lei, pode-se presumir
que o ónus da prova não é do lesado, deslocou-se para o interior da administração e
compete à mesma no âmbito do direito de regresso. Podemos configurar numa
interpretação sistemática e atualista da lei, situações em que haja uma presunção
de culpa? Isto não se confunde com a responsabilidade objetiva. O Professor acredita
que algumas situações são suscetíveis de presunção de culpa:
ü Casos em que se ofendam DLG dos particulares;
ü Quando a ação ou omissão se traduz na prática de um crime;
ü Quando o funcionário pratica um ato nulo, porque são atos que padecem de
vícios graves;
ü Quando o lesado chama à atenção na audiência prévia dos interessados que
aquele ato é ilegal e, apesar disso, o funcionário intencionalmente mantém a
sua decisão e pratica o ato, independentemente das advertências do lesado.
§ Culpa grave ou culpa leve: art. 7º Lei 67/2007. Nos casos de culpa leve, responde
exclusivamente o Estado e demais pessoas coletivas de Direito público.
§ Culpa anónima: art. 7º nº3 e nº4 Lei 67/2007. Não é suscetível de ser individualizada, o
Estado responde e não há lugar a direito de regresso.
§ Culpa do lesado: art. 4º Lei 67/2007 e art. 37º CPTA: tutela jurisdicional e ações de
responsabilidade. Antes da Lei 67/2007, existia um conceito doutrinal ilegal. Por exemplo,
alguém é destinatário de um ato desfavorável, mas não se impugna o ato. No regime anterior,
entendia-se que o lesado que não tivesse impugnado o ato não devia ter a possibilidade de
propor uma ação de responsabilidade civil, porque se entendia que a impugnação do ato era
um pressuposto da ação de responsabilidade. Por força da evolução da doutrina, entendeu-se
que devia decair a relação entre a impugnação contenciosa ato e a ação de responsabilidade,
pelo que se pode propor autonomamente a ação de responsabilidade civil, sem ter impugnado
administrativa e contenciosamente o ato. Todavia, o legislador estabelece no art. 4º uma
relação de equilíbrio: se o tribunal entender que há uma duplicidade de culpa, pode entender
que certos danos não se teriam verificado com a impugnação contenciosa e limitar ou excluir
a indemnização. As ações de responsabilidade civil, em princípio, não estão sujeitas a prazo,
mas é necessário ter em conta o art. 4º Lei 67/2007, o art. 498º CC e o art. 5º CPTA.
Responsabilidade civil por danos decorrentes da função jurisdicional
Encontra-se previsto nos arts. 12º a 14º da Lei 67/2007. Há que distinguir duas
situações: a do art. 12º, que prevê os danos provocados por deficiente funcionamento da
justiça, onde é aplicado o regime da responsabilidade por factos ilícitos da atividade
administrativa (responsabilidade subjetiva ou individual com base na culpa e factos
ilícitos); e a dos arts. 13º e 14º, que prevê a responsabilidade que ocorre por erro
judiciário. O erro judiciário tem tendência a ser subordinado a uma apreciação por parte
de Tribunais de instância superior e, dessa forma, justifica-se este regime especial.
O art. 13º fixa que o Estado só é civilmente responsável por danos decorrentes de
situações manifestamente ilegais, inconstitucionais ou injustificadas por erro grosseiro.
O nº2 fixa a necessidade de uma sentença que venha revogar essa decisão para que dessa
forma dê origem a uma indemnização. O art. 14º define a responsabilidade dos
magistrados podendo existir o direito de regresso do Estado quando os tribunais tiverem
atuado com dolo ou culpa grave
Responsabilidade civil por danos decorrentes da função político-legislativa
Antes da consagração do art. 15º, existiam dois entendimentos doutrinários:
Maria Glória Dias Garcia entendia que o art. 22º da CRP, na medida em que faz uso de
expressões muito vagas e amplas, legitimava a ideia de responsabilização da função
jurisdicional e do exercício da função político-legislativa. Freitas do Amaral entendia
que este art. 22º configurava um direito fundamental de natureza análoga aos DLG. O
TJUE entendia também que havia responsabilidade em matéria civil e legislativa.
Lúcia Amaral opõe-se a esta visão. Por um lado, afirma que é um contrassenso
falar de responsabilidade civil de atos lícitos. Por outro lado, só haveria lugar a
responsabilidade civil por ato legislativo se este criasse danos graves e especiais sobre
determinadas pessoas. Sendo assim, um problema que consubstanciava uma
responsabilidade civil extracontratual, corolava-se numa forma atípica de controlo da
constitucionalidade. Sobrava a responsabilidade por atos ilícitos. Segundo a autora, só se
admitiria esta responsabilidade a título subsidiário: a Lei teria de ser previamente
declarada inconstitucional e apenas se a retroatividade desta decisão do TC não fosse
suficiente para eliminar os danos provocados no período em que esteve vigente.
O Professor afirma que, para o legislador, a responsabilidade civil por ato
legislativo ou por omissão, nos termos do art. 15º, parece consubstanciar um direito
subjetivo público no sentido da inconstitucionalidade da Lei. Em segundo lugar, nos nº 2
e 5 do art. 15º parece desenhar-se que o direito à reparação depende de duas condições: a
anormalidade do dano e a prévia emissão de um juízo de inconstitucionalidade da lei ou
omissão legislativa. A responsabilidade civil por ato legislativo ou omissão parece
consubstanciar um comportamento ilícito subjetivável pelo menos quando são fonte de
causação de danos anormais a certas pessoas. Por último, no nº4 desse mesmo artigo são
fixados alguns requisitos de que faz depender a existência e extensão da responsabilidade
civil.
Responsabilidade objetiva (artigo 11º Lei 67/2007): Não tem um caráter excecional,
ao contrário do direito civil. É um instrumento de repartição de encargos, uma vez que se
alguém adquire vantagens no exercício da sua atividade causando com essa mesma
atividade danos a terceiros, deve responder por esses mesmos danos. Não há uma censura
ética ao comportamento da administração como na responsabilidade civil de natureza
subjetiva/delitual, há apenas que reconhecer que é necessário compensar os terceiros por
essa atividade. Aplica-se aqui o princípio da igualdade perante os encargos públicos.
Existe ainda a ideia de concorrência de culpas (art. 11º nº2), onde pode o Tribunal,
tendo em conta as circunstâncias, reduzir ou excluir a culpa. O Professor considera que
há situações de responsabilidade subjetiva que não cabem nestes parâmetros um pouco
limitados. Não é possível estabelecer um nexo de causalidade e temos de alargar bastante
a noção de responsabilidade subjetiva. Atendendo ao facto de que a RJA tem um caráter
Averigua-se pela negativa e, dessa forma, podemos afirmar que os contratos que
se encontram fora do âmbito de aplicação da Parte II são os previstos nos art. 5º, art. 5º-
A, art. 5º-B e art. 6º-A do CCP.
Síntese e distinção entre Contratos Públicos e Contratos Administrativos
5ª fase: Celebração do contrato (arts 81º ss CCP): art. 94º CCP (regra quanto à forma
do contrato, que será o contrato escrito); exceções – art. 95º CCP; art. 97º - preço do
contrato.
O efeito suspensivo automático previsto no art. 101º CCP diz respeito apenas ao
ato principal do procedimento: o ato de adjudicação.
Conformação da relação contratual e respetiva execução do contrato: arts. 302º ss
CCP. Os contratos administrativos não são contratos idênticos aos contratos celebrados
no âmbito do direito privado – existem algumas assimetrias e discriminações razoáveis.
O objeto de um contrato administrativo é a prossecução de um interesse público, que goza
de uma certa mobilidade (diferem ao longo do tempo), e isso confere ao poder
administrativo um conjunto de poderes:
• Poder que o contraente público tem de modificar unilateralmente as cláusulas
respeitantes ao conteúdo e modo de execução das restrições previstas no contrato
por razões de interesse público (alínea c);
• Resolver unilateralmente o contrato (alínea e), desde que devidamente
fundamentado (razões de interesse público);
• Poder de fiscalizar a execução das prestações contratuais (arts. 303º ss CCP).
Natureza jurídica das declarações do contraente público (art. 307º): a declaração do
contraente público assume em regra a natureza jurídica de uma declaração negocial. No
entanto, o nº2 estabelece exceções que se prendem com as declarações mais importantes
do contraente público que assumem a natureza de ato administrativo. Quando
pretendemos questionar a validade de uma declaração do contraente que tenha a natureza
de ato administrativo a via processual correta é a impugnação do ato administrativo,
solicitando a declaração de anulação; se a declaração do contraente tiver natureza de
declaração negocial, o pedido é de declaração de invalidade da cláusula contratual.
No contratante privado, temos um direito de receber proteção do contraente público
(art. 291º CCP) e um dever de o contratante executar pessoalmente as prestações
contratuais (art. 288º CCP).
Invalidade do contrato (arts. 283º a 285º CCP): existem 2 tipos de invalidades:
invalidades próprias do contrato e as invalidades resultantes de atos procedimentais. Pode
também existir uma invalidade comum aos atos procedimentais e à própria formação do
contrato.
Contratos administrativos:
• Contratos de empreitada de obras públicas;
• Contratos de concessão de obras públicas e serviços públicos (arts. 407º ss CCP);
Contencioso contratual (os contratos administrativos são contratos públicos, pelo que
precisam de estar sujeitos a um procedimento pré-contratual):
Engloba duas modalidades:
ü Ações relativas à interpretação, validade e execução dos contratos (arts. 77º-A ss
CPTA) – são utilizadas para resolver litígios.
ü Contencioso pré-contratual (arts. 100º a 103º-B CPTA) – é um dos processos de
caráter urgente e principal. Os processos urgentes principais dividem-se em
intimações para consulta de processo e passagem de certidões; e intimação para
proteção de direitos, liberdades e garantias (arts. 104º e 109º).