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2018/2019
1.Ação administrativa.
De forma muito simples, a ação administrativa apresenta-se como o conjunto das ações
executadas por sujeitos da Administração Pública. Ao contrário do que acontece com as
outras funções públicas, que tem uma tendência para a homogeneidade das formas ou
instrumentos de ação [leis (função legislativa), sentenças (função jurisdicional)], a ação
administrativa revela-se multiforme.
Assim, podemos afirmar que a variedade constitui uma palavra adequada para
caracterizar o modo de desenvolvimento e de revelação da ação administrativa, que se deteta,
pelo menos, ao nível:
• Dos fins;
• Do conteúdo;
• Da forma;
• Da natureza jurídica:
• Dos efeitos;
• Do âmbito de incidência.
Mas é necessária uma concretização desta prossecução do interesse público, concretização que
se realiza mediante o estabelecimento de missões da AP.
Esta distinção é pouco operativa no domínio do DA, o que explica a que se aluda apenas
a atos jurídicos da AP, o que agrega todos os atos (declarativos) da AP a cuja prática se
associam efeitos jurídicos predeterminados na lei.
Os vícios que afetem o processo psicológico poderão relevar não por si mesmos, mas na
medida em que conduzam a uma ilegalidade (não conformidade da declaração com a lei), o
que não quer dizer que os atos jurídicos da AP não tenham de ser “voluntários”, no sentido
em que devem ser praticados voluntariamente pelos seus autores e não sob o uso ou a
ameaça do uso da força ou de outras formas de constrangimento (161º/2/f) CPA).
2. As ações de facto (ou atos reais): ações administrativas que determinam a produção de meros
efeitos de facto, que não envolvem, diretamente, uma transformação da ordem jurídica
(processamento de um texto no computador ou a vistoria de um estabelecimento, por
exemplo).
Nota: O facto de as ações de facto não produzirem efeitos jurídicos não implica que não
possam determinar consequências jurídicas (a remoção de um automóvel pode envolver para
a AP um dever de indemnização quando a operação de remoção provoque danos.
Para a realização das suas missões, a AP lança mão das formas que o DA disponibiliza,
mas também das formas de atuação acessíveis a qualquer pessoa que, por isso, pertencem à
esfera do direito privado.
Neste último âmbito, da utilização das formas de direito privado, ocupa posição de relevo
o contrato, que é o principal instrumento de produção de efeitos jurídicos no comércio jurídico
privado. Hoje, com o CCP, um número muito significativo de contratos das pessoas coletivas de
direito público são contratos administrativos.
ii. Por outro lado, impõe-se uma distinção entre “vários tipos de ações formais”,
entre os vários tipos de formas juridicamente reguladas (por exemplo, entre ato
administrativo e contrato administrativo).
Ora, isto não significa que a ação administrativa se esgota nas três formas
reguladas. A AP desenvolve muitas outras ações que não se encontram reguladas como
formas ou modelos abstratos (178º CPA).
i. O procedimento de formação;
ii. Os requisitos de validade e eficácia, o regime de invalidade e o regime de
execução;
iii. O regime do contencioso, mediante a definição de regras específicas quanto aos
meios jurisdicionais de proteção dos interessados.
Exemplo: A lei que aprova os estatutos da ANACOM estabelece que esta pode
“recomendar” aos operadores de comunicações as providências necessárias à
reparação das queixas dos utentes.
Vista por alguns autores como uma questão de “boa administração”, a regra da
“livre escolha” entre as formas pressupõe a escolha do regime jurídico aplicável.
Do exposto não se deve inferir que a lei se revela indiferente quanto à escolha
da forma da ação administrativa, remetendo esta escolha em todos os casos para os
critérios não estritamente jurídicos de “boa administração”. Há casos em que os efeitos
jurídicos a constituir implicam o uso de uma determinada forma (por exemplo, a avaliação
de um aluno não pode deixar de repousar num ato declarativo e unilateral do júri de
exame).
Nota: O art.13º CPA tem, como epígrafe, “princípio da decisão”, mas, pelo menos no seu nº1,
o que se regula é um “princípio de pronúncia”. Ali se estabelece que os órgãos da AP “têm o
dever de se pronunciar sobre todos os assuntos da sua competência que lhes sejam
apresentados e sobre os assuntos que aos interessados digam diretamente respeito, bem
como sobre quaisquer petições, representações, reclamações ou queixas formuladas em
defesa da CRP, das lei ou do interesse público”. Dependendo das circunstâncias (acima de
tudo, do pedido e da legitimidade do requerente), o dever de pronúncia pode consistir num
dever de decisão, mediante a tomada de uma decisão formal sobre o pedido apresentado (ato
administrativo: 128º/1 CPA) ou a emissão de um regulamento administrativo (137º/2).
Em alguns casos, a lei poderá atribuir à inação administrativa o valor e o efeito jurídico
próprio de uma ação positiva: uma ficção jurídica com esse recorte remete para a figura do
“ato administrativo tácito” (130º CPA).
Neste caso, a lei não associa qualquer efeito jurídico à omissão do parecer obrigatório e
não vinculativo, considerando, ainda assim que não existe ilegalidade procedimental pelo facto de
o parecer não ser emitido pelo órgão consultivo. O nº6 acrescenta que, “no caso de o parecer
obrigatório ser vinculativo, a decisão final só pode ser proferida sem a prévia emissão daquele
desde que o responsável pela direção do procedimento tenha interpelado, no prazo de 10 dias, o
órgão competente para o emitir, sem que o tenha feito no prazo de 20 dias a contar dessa
interpelação”.
i. Quanto à identificação dos sujeitos que podem exigir o cumprimento do dever administrativo;
ii. Quanto à latitude da intervenção do tribunal, sobretudo em face do poder, que deve
reconhecer-se à AP, de decidir sobre a utilização dos seus recursos.
Os vários números do art.14º CPA não acolhem, em todos os casos, princípios jurídicos,
procedendo à indicação de objetivos, finalidades e linhas de orientação quanto à utilização de
meios eletrónicos na ação administrativa.
i. Eficiência.
ii. Transparência.
É ainda neste âmbito que a se explica, por exemplo, a determinação legal no sentido de
que as “empresas locais” (do setor público) tenham um sítio na Internet e nele publiquem
informações de vária natureza, entre as quais se incluem os documentos de prestação de
contas. Também as associações públicas profissionais devem disponibilizar ao público um
amplo conjunto de informações através do seu sítio eletrónico.
Os meios eletrónicos podem constituir um meio para dar uma efetividade prática ao
princípio constitucional e legal da aproximação dos serviços às populações (267º/1 CRP e
5º/2 CPA). Os balcões eletrónicos ou a prestação de serviços públicos por via digital são um
exemplo disto.
O art.14º/2 CPA formula requisitos gerais, associados a valores jurídicos, que os meios
eletrónicos utilizados pela AP devem garantir: disponibilidade, acesso, integridade, autenticidade,
confidencialidade, conservação e segurança da informação.
A lei preocupa-se com o risco da utilização de meios eletrónicos ter efeitos indesejáveis e
opostos àqueles que são pretendidos.
Assim, o art.14º/5 CPA estabelece que os interessados têm direito à igualdade no acesso aos
serviços da AP, não podendo o uso de meios eletrónicos implicar restrições ou discriminações não
previstas para os que se relacionem com a AP por meios não eletrónicos, estando aqui em causa
a instituição de um cânone de igualdade jurídica de tratamento, que não elimina a desigualdade
de facto que existe entre os cidadãos que dispõem de um computador e os que não disfrutam
desta possibilidade ou que não sabem utilizar os meios informáticos.
O art.14º/3 CPA acolhe a formulação segundo a qual a utilização de meios eletrónicos, dentro
dos limites estabelecidos na CRP e na lei, está sujeita às garantias previstas no CPA e aos
princípios gerais da atividade administrativa.
É um enunciado que aponta, por um lado, para uma evidência (a utilização de meios
eletrónicos tem de se processar dentro dos limites estabelecidos na CRP e na lei) e, por outro,
para um enigma, visto que não se alcança o significado da referência à sujeição da utilização de
meios eletrónicos às garantias previstas no CPA e aos princípios gerais da atividade
administrativa, sendo que, segundo Costa Gonçalves, a lei tem a pretensão de estabelecer que a
utilização de meios eletrónicos não pode envolver uma diminuição das garantias previstas no CPA,
O DL nº74/2014 estabeleceu que os serviços públicos devem, sempre que a sua natureza
a isso não se oponha, para além do atendimento presencial, ser também prestados de forma
digital. Trata-se da consagração da regra de que a AP deve disponibilizar, por via digital, os
serviços que a tal se afeiçoam (por exemplo, a emissão de certidões ou a passagem de guias).
O objetivo é a simplificação da vida dos cidadãos.
Outro préstimo fundamental dos meios eletrónicos ocorre no domínio da facilitação dos
contactos entre os sujeitos da AP e entre estes e os cidadãos (por exemplo, através de
requerimentos eletrónicos, notificações eletrónicas, entre outros).
Apesar da abertura da lei, a utilização de meios eletrónicos não tem de se estender a tod
a tramitação do procedimento, havendo diligências do procedimento que não podem ser
realizadas por meios eletrónicos (por exemplo, a inspeção a um local). Note-se que não se
revela inteiramente claro o sentido da indicação legal da permissão de utilização de meios
eletrónicos, “salvo disposição legal em contrário”. Segundo Costa Gonçalves, por “disposição
legal em contrário” devemos entender qualquer disposição que exclua expressamente a
utilização de meios eletrónicos, mas também a disposição legal que se refira a um ato,
A lei acrescenta ainda que os balcões eletrónicos devem poder intermediar nos
procedimentos a serem desenvolvidos entre os interessados e as autoridades
administrativas competentes, recebendo atos uns e outros, mediante a entrega do
correspondente recibo e transmitindo-o imediatamente.
Assim, se a lei estabelece que uma autorização será concedida quando se verifiquem
requisitos objetivamente verificáveis, a automatização afigura-se possível, visto que, no
caso concreto, exige-se apenas atestar, de forma objetiva e vinculada, se os requisitos
estão, ou não, verificados. Se a lei acrescentar que a autorização será concedida “desde
que não perturbe o equilíbrio do mercado”, a automatização estará excluída.
Porém, surge um preceito que formula que “à decisão final proferida através de meios
eletrónicos deve ser aposta assinatura eletrónica ou outro meio idóneo de autenticação
do titular do órgão competente (…)” (94º/2 CPA), o que parece ser uma referência ao ato
administrativo eletrónico. Nesse preceito, resolve-se o problema da imputação da decisão
ao titular de um órgão administrativo, mediante a aposição da assinatura eletrónica ou
outro meio idóneo de autenticação do “titular do órgão competente”, o qual deve ser
devidamente identificado.
A dicotomia entre ação administrativa e ação privada apresenta-se em termos simples (âmbito
público vs âmbito privado), mas é conveniente sublinhar que os particulares podem desenvolver ações
administrativas (por exemplo, nos casos em que, por delegação ou concessão públicas, são investidos de
funções administrativas).
Outra hipótese ocorre com o fenómeno dos “particulares na Administração”, onde os particulares,
nesta qualidade, são incorporados em órgãos da AP (por exemplo, cidadãos chamados a compor as mesas
eleitorais).
Mas a ação dos particulares surge relacionada com a ação dos particulares noutras situações,
como sucede no âmbito de procedimentos administrativos, quando são os particulares que, para a
realização dos seus interesses pessoais, promovem ou desencadeiam a ação da AP (82º e 102º CPA, por
exemplo). Temos a apresentação prévia de uma operação de concentração de empresas (Lei da
Concorrência), a apresentação de comunicação prévia (para realizar uma operação urbanística, por
exemplo) e a apresentação de uma proposta num procedimento de adjudicação de um contrato (56º CCP).
Ora, a atuação de particulares pode ser, com particular intensidade, conformada e orientada pela
AP, como sucede nas atividades privadas submetidas a regulação pública (por exemplo, atividades do setor
financeiro).
Por fim, a ação dos particulares, quando ilícita, pode conhecer uma relevância na esfera do direito
administrativo sancionador: ilícito de mera ordenação social, ilícito disciplinar e ilícito contratual.
O estudo da ação administrativa remete para uma visão unidirecional, polarizada na AP, que
pretende captar os modos como esta atua. Em vez de uma compreensão relacional, a exposição focada
na ação propõe uma abordagem do DA a partir dos modos ou “processos de agir” da AP. O conceito de
relação jurídica pode surgir, mas como um efeito da ação.
Importa observar que, ao agir, a AP “entra em relação”: as formas de ação administrativa (por
exemplo, ato administrativo, contrato administrativo, operações materiais) constituem fontes ou meios de
constituição de relações jurídicas administrativas com os destinatários ou com os terceiros que sejam
afetados pela ação administrativa.
Também não se discute o valor pontual que o conceito de relação jurídica administrativa pode ter
para uma compreensão fixada num quadro relacional, bipolar (AP e cidadão) ou multipolar, que suscita
Importa ainda recordar que o conceito de relação jurídica administrativa tem acolhimento
constitucional (212º/3 CRP).
Porque se trata de um conceito de direito positivo (279º CCP) que apresenta potencial para
enquadrar juridicamente certos “contactos” que envolvam sujeitos da AP, pode revelar-se útil conhecer os
contornos do conceito, que, segundo Costa Gonçalves, se define assim: “relação jurídica entre dois ou mais
sujeitos de direito (ou entre dois órgãos do mesmo sujeito) em que pelo menos um deles intervém como
sujeito da AP e que é disciplinada por normas jurídicas que a esse sujeito se dirigem enquanto responsável
pelo exercício da função administrativa”.
A fonte da relação jurídica administrativa pode ser qualquer forma de ação administrativa ou o ato
de um particular (por exemplo, o requerimento que inicia um procedimento administrativo). Simples factos
jurídicos, como o decurso do tempo, de certos efeitos jurídicos a situações de facto decorrentes de atos
nulos (134º/3 CPA). Caducidade pelo não exercício de um direito ou de um poder administrativo num
determinado período de tempo.
O capítulo II da parte III do CPA tem por título “relação jurídica procedimental” (65º a 73º),
procurando a lei enquadrar num contexto relacional e jurídico os contactos que se processam entre os
sujeitos do procedimento administrativo. Assim, os sujeitos do procedimento surgem como titulares de
posições jurídicas ativas e passivas, com uma incidência procedimental (por exemplo, direito à decisão do
procedimento).
Todas estas formas de ação (regulamento, ato e contrato administrativo) emergem no contexto de
um procedimento e constituem o momento de um procedimento. Devemos encarar o procedimento como
um fenómeno de aplicação geral da ação administrativa.
O ato final (“ato principal”) da série procedimental pode ser um regulamento, um ato
administrativo ou um contrato administrativo, mas também um outro jurídico de DA (por exemplo,
um parecer) ou até uma operação material (por exemplo, a apreensão de um equipamento).
Nota: A referência ao caráter final do ato ou medida principal do procedimento não pretende
sugerir que esteja em causa um ato com efeitos finais externos. Pode tratar-se de um ato intercalar
e instrumental, sem efeitos externos, mas que surge como ato principal do seu próprio
procedimento. Por exemplo, o parecer (91º CPA), emitido no âmbito do procedimento de
concessão de uma licença, é o ato principal e final do seu procedimento (emissão do parecer),
mas não é um ato final, com efeitos externos.
Por outro lado, o procedimento traduz a “identidade de fim mediato” da série de atos e
medidas que o integram: cada ato e cada medida que se sucede e se articula com os outros atos
e medidas no desenvolvimento do procedimento persegue um fim imediato próprio, mas também
um fim mediato, comum a todos os outros, visto que se destina a criar as condições para a
produção do mesmo resultado.
1. Formação: atos e formalidades que põem o procedimento em marcha e que visam preparar
a prática do ato principal (atos de iniciativa e atos de instrução);
O procedimento administrativo não se coloca como uma forma de ação, a par do ato
administrativo e do contrato administrativo. O procedimento não se confunde com o resultado ou
o “ato isolado” em que se consubstancia.
Ainda que seja um instrumento de abertura à participação ativa dos cidadãos, devemos
tomar atenção os riscos que o excesso de procedimentalismo (“formalismo”) pode produzir
ineficiências, conduzindo a um peso excessivo das “conversações” e dos “diálogos” e á criação de
um ambiente menos propício à tomada de decisões efetivas.
Por outro lado, não devemos excluir uma eventual instrumentalização do procedimento e
dos direitos procedimentais, que podem ser exercidos de forma estratégica no sentido de adiar ou
eliminar a capacidade de decisão administrativa. Aliás, uma das grandes dificuldades do DA está
Ora, uma certa atenuação do formalismo exacerbado e inconsequente poderá passar por
opções legislativas e jurisprudenciais de desvalorização de certas ilegalidades de caráter
procedimental (“irrelevância dos vícios de forma e procedimento”). O CPA estabelece que não se
produz o efeito anulatório do ato administrativo quando o fim visado pela exigência procedimental
ou formal preterida tenha sido alcançado por outra via (163º/5/b)).
Nota: Devendo prosseguir um interesse específico, a AP é uma parte mesmo nos procedimentos
(triangulares) de resolução de um litígio, em que surge incumbida de resolver, imparcialmente, um
litígio (procedimentos contenciosos). O mesmo acontece nos procedimentos de seleção
concorrencial, em que a AP é portadora do interesse de selecionar a melhor oferta.
Ora, ao lado de uma função instrumental (que decorre do procedimento “servir” a produção de um
ato final ou principal) o procedimento realiza funções que lhe conferem autonomia, enquanto fenómeno
jurídico-administrativo (multifuncionalidade do procedimento administrativo).
Por exemplo, o procedimento iniciado com o requerimento da autorização para a instalação de uma
indústria integra ou agrega a série, mais ou menos extensa, de atos e diligências necessários à tomada de
uma decisão (sobre o pedido de autorização).
Quer dizer, o procedimento tem um valor instrumental, organizando a tarefa de recolha de informação
e de aquisição de conhecimento que coloque a AP em posição de decidir. A função instrumental associa-
se à conceção do procedimento como um “meio” que serve os objetivos da realização, da concretização e
da correta aplicação do DA material.
Rejeitando a ideia de que o procedimento se deva conceber como um “fim em si mesmo”, diz-se que
o mesmo tem um valor próprio. Não está em causa a contraposição deste valor próprio do procedimento à
sua função instrumental, mas sim a ideia de articular esta função com uma de valor não apenas
instrumental.
d) Garantia e proteção de direitos fundamentais dos cidadãos: pode consistir numa proteção de
direitos “através” de procedimentos de um certo tipo (por exemplo, direito à igualdade de
acesso a recursos escassos, através da adoção de procedimentos de seleção concorrencial,
como os procedimentos de adjudicação de contratos públicos);
Alguma doutrina mais recente tem chamado a atenção para a necessidade de reforçar a tendência
procedimental do DA, visto que este induz transparência, envolvendo os cidadãos na formação das normas
e das decisões administrativas e criando condições especiais de legitimação da ação administrativa.
A. Princípio da participação
Por outro lado, a lei onera a AP com deveres de incentivar a participação dos interessados (por
exemplo, 7º/1 CPA), sendo que há exemplos:
A participação dos interessados no procedimento assume uma dimensão de especial relevo nos
procedimentos administrativos consensuais, que incluem fases de “diálogo” ou “conversações” (por
exemplo, procedimentos de transação na Lei da Concorrência), mas, mesmo em procedimentos que
desconhecem (formalmente) estas fases, revela-se este princípio [por exemplo, o acolhimento de soluções
negociais e negociadas, que serão vertidas em “acordos endoprocedimentais” (57º e 98º/2 CPA)].
O princípio da participação será aquele com uma mais clara “incidência simultânea” no
procedimento do regulamento e no do ato administrativo (97º e segs. e 121º e segs. CPA).
Em relação aos interessados, a lei indica que devem concorrer para a economia de meios na realização
das diligências instrutórias e para a tomada de decisão num prazo razoável, abstendo-se de requerer
diligências inúteis e de recorrer a expedientes dilatórios (60º/2 CPA). É igualmente atribuído o ónus da
prova dos factos que tenham alegado (116º/1 CPA), assim como o dever de apresentação de provas,
quando para tal forem solicitados (117º CPA).
C. Princípio do inquisitório.
O princípio do inquisitório (ou da oficialidade externa) encontra explicação no facto de ser sobre a AP
que impende o ónus de cumprir a lei e de realizar as diligências que considere convenientes para se colocar
em posição de decidir bem e em conformidade com a lei.
Por isso, é o responsável pela direção do procedimento que deve procurar averiguar todos os factos
cujo conhecimento seja adequado e necessário à tomada de uma decisão legal e justa dentro de prazo
razoável, podendo recorrer a todos os meios de prova admitidos em direito (115º/1 CPA).
Note-se ainda que o dever de averiguação dos factos relevantes para a decisão não deixa de pertencer
à AP, mesmo nos casos em que esta solicitou a apresentação de provas aos interessados e estes não
cumpriram o seu dever de cooperação. Por exemplo, a falta de cumprimento da notificação é livremente
apreciada para efeitos de prova, consoante as circunstâncias do caso , “não dispensando o órgão
administrativo de procurar averiguar os factos, nem de proferir a decisão” (119º/2 CPA).
A adequação procedimental desenvolve-se na medida em que não haja normas injuntivas: por
exemplo, o responsável do procedimento não pode estruturar discricionariamente a tramitação de modo a
eliminar a exigência de solicitação de um parecer obrigatório ou a audiência dos interessados, sendo que
o exercício da discricionariedade procedimental pressupõe o respeito pelos princípios gerais da atividade
administrativa.
Tais acordos têm efeito vinculativo e o seu objeto pode consistir na organização de audiências orais
para o exercício do contraditório entre os interessados que pretendam uma certa decisão e aqueles que se
lhe oponham.
O art.59º CPA destaca o dever de celeridade, incumbindo o responsável pela direção do procedimento
e os outros órgãos intervenientes na respetiva tramitação de providenciar “por um andamento rápido e
eficaz, quer recusando e evitando tudo o que for impertinente e dilatório, quer ordenando e promovendo
tudo o que seja necessário a um seguimento diligente e à tomada de uma decisão dentro de prazo
razoável”. A celeridade tem várias expressões na lei (61º/1/c) CPA).
Em muitos casos, existem trâmites procedimentais obrigatórios (impostos por normas injuntivas):
• Podem ser prazos que têm de ser respeitados ou de diligências que a lei impõe (por exemplo,
parecer obrigatório ou audiência dos interessados);
• Podem ser diligências que, não tendo de ocorrer, se ocorrerem, têm de se conformar com certas
regras legais.
Nestes casos, a AP tem de cumprir determinações que a lei estabelece, no âmbito de um princípio de
legalidade procedimental. Tais exigências só se podem dispensar em casos de estado de necessidade
administrativa (3º/2 CPA). A urgência também pode permitir a dispensa do cumprimento de exigências
legais.
O grau de formalização é variável, mas costuma ser elevado nos procedimentos sancionatórios, nos
procedimentos de seleção que envolvem a participação de particulares com interesses concorrentes, nos
procedimentos de resolução de litígios e nos procedimentos que servem a formação de atos especialmente
agressivos para os direitos dos particulares (por exemplo, expropriação por utilidade pública).
Em todos os casos, a formalização legislativa do procedimento, que introduz rigidez e tem o resultado
de condicionar o trabalho procedimental (vinculação procedimental da AP), visa definir condições para a
consideração obrigatória, completa e imparcial dos fatores ou dimensões relevantes para a decisão a
adotar.
G. Princípio da imparcialidade.
A AP deve tratar de forma imparcial aqueles que com ela entrem em relação, designadamente
considerando com objetividade todos e apenas os interesses relevantes no contexto decisório e adotando
as soluções organizatórias e procedimentais indispensáveis à preservação da isenção administrativa e à
confiança nessa isenção (9º CPA).
Ainda que não se limite ao procedimento, este constitui um momento fundamental de vinculação da
AP ao princípio da imparcialidade, que exige:
H. Princípio da igualdade.
A doutrina alude também a um sentido vertical deste princípio, para referenciar a exigência de um
tratamento paritário entre a AP e os particulares intervenientes no procedimento, principalmente no acesso
à informação relevante no âmbito do concreto procedimento, mas também na imposição de deveres à AP
de considerar factos alegados pelos particulares ou realizar diligências por eles requeridas ou ainda de lhes
proporcionar o contraditório.
I. Princípio da decisão.
Os órgãos da AP têm o dever de se pronunciar sobre todos os assuntos da sua competência que lhes
sejam apresentados e, principalmente, sobre todos os assuntos que aos interessados digam diretamente
respeito, assim como sobre quaisquer petições, representações, reclamações ou queixas formuladas em
defesa da CRP, das leis ou do interesse público (13º/1 CPA).
Ainda assim, o que aqui se enuncia é mais um princípio de pronúncia. Assim, os órgãos da AP têm o
dever de se pronunciar sobre todos os assuntos da sua competência que lhes sejam apresentados. Assim,
uma “petição”, uma “exposição” ou uma “queixa” apresentada exige sempre uma pronúncia, isto é, uma
resposta da AP, originando-se, assim, um dever de proceder para a AP, mas não se exige um dever de
decisão, visto que o teor da petição ou queixa pode não convocar qualquer poder de decisão do órgão a
quem se dirige.
Nota: O princípio da pronúncia opera no âmbito de procedimentos que podem dar lugar à prática de atos
administrativos (por exemplo, a queixa que dá origem a um procedimento disciplinar), mas também no
procedimento do regulamento (97º, sobre petições, por exemplo): após estabelecer que os interessados
podem apresentar aos órgãos competentes petições em que solicitem a elaboração, modificação ou
revogação de regulamentos (nº1), o órgão com competência regulamentar deve informar os interessados
do destino dado às petições formuladas ao abrigo do nº1 (nº2), bem como dos fundamentos da posição
que tome em relação a elas.
Além disto, a AP tem, algumas vezes, um específico dever de decisão, como sucede quando um
interessado (com legitimidade procedimental), titular de uma posição jurídica substantiva, solicita, através
de um requerimento, à instância competente a produção de um efeito jurídico que envolve o exercício de
um poder de decisão, isto é, a prática de um ato administrativo (128º CPA).
Os órgãos da AP podem decidir sobre coisa diferente ou mais ampla do que a pedida, quando o
interesse público assim o exija (13º/2 CPA).
Ou seja, é um princípio aplicável aos procedimentos de iniciativa heterónoma, devendo ser tomadas
algumas cautelas quanto à sua interpretação, especialmente na parte que se refere ao “decidir sobre coisa
diferente”. A AP poderá decidir coisa diferente do que lhe foi pedido se:
Quanto à decisão sobre coisa mais ampla, é também necessário que a AP disponha de competência
própria para, num procedimento iniciado por impulso externo, decidir esse “algo mais” do que lhe foi pedido
(149º CPA).
Assim, mesmo com a reserva do caráter tendencial, estamos não tanto perante um princípio jurídico,
mas perante uma proclamação sem conteúdo normativo útil (161º/2/k) CPA).
Com relevo normativo, surgem os arts. 15º/2/3 CPA: em caso de insuficiência económica, a AP isenta,
total ou parcialmente, o interessado do pagamento das taxas ou das despesas referidas no número anterior.
A insuficiência económica deve ser provada nos termos da lei sobre apoio judiciário, com as devidas
adaptações.
O atos que integram o procedimento são realizados por diversos sujeitos: aos sujeitos ou órgãos
públicos responsáveis pelo ato principal do procedimento (por exemplo, ato do presidente da câmara
municipal a ordenar o despejo de um prédio) juntam-se outros órgãos da mesma ou de outra pessoa
coletiva pública (por exemplo, parecer de um órgão), assim como, possivelmente, entidades privadas
contratadas para a realização de certas diligências (por exemplo, empresa contratada para apresentar um
estudo de apoio à decisão).
No outro polo da relação procedimental, intervêm entidades com vários estatutos, mas titulares de
um interesse relacionado com a matéria a que o procedimento se refere.
Vale dizer, o procedimento aparece como o momento de organização da intervenção dos vários
sujeitos envolvidos e a envolver na ação administrativa tendente à produção de um certo resultado.
a) Os órgãos de quaisquer entidades, cuja conduta seja adotada no exercício de poderes públicos ou
regulada de modo específico por disposições de DA, quando competentes para a tomada de decisões
ou prática de atos preparatórios;
b) Os particulares (cidadãos e pessoas coletivas) (68º/1 CPA): têm legitimidade para iniciar o
procedimento ou para nele se constituírem como interessados os titulares de direitos, interesses
legalmente protegidos, deveres, encargos, ónus ou sujeições no âmbito das decisões que nele forem
ou possam ser tomadas, assim como as associações, para defender interesses coletivos ou proceder
à defesa coletiva de interesses individuais dos seus associados que caibam no âmbito dos respetivos
fins;
c) Pessoas singulares (cidadãos) e pessoas coletivas de direito privado, em defesa de interesses difusos
(68º/2/3 CPA): têm legitimidade para a proteção de interesses difusos perante ações ou omissões da
AP passíveis de causa prejuízos relevantes não individualizados em bens fundamentais como a saúde
pública, a habitação ou a educação, por exemplo:
i. Os cidadãos no gozo dos seus direitos civis e políticos e os demais eleitores recenseados no
território português;
ii. As associações e fundações representativas de tais interesses.
d) Os órgãos que exerçam funções administrativas, quando se verifiquem algumas condições (68º/4
CPA): têm legitimidade procedimental os órgãos que exerçam funções administrativas quando as
pessoas coletivas nas quais eles se integram sejam titulares de direitos ou interesses legalmente
protegidos, poderes, deveres ou sujeições que possam ser conformados pelas decisões que nesse
âmbito forem (ou possam ser) tomadas, ou quando lhes caiba defender interesses difusos que possam
ser beneficiados ou afetados por tais decisões.
e) As autarquias locais, em relação à proteção de interesses difusos nas áreas das respetivas
circunscrições (68º/3 CPA);
f) Cidadãos “residentes na circunscrição em que se localize ou tenha localizado o bem defendido”, tendo
em vista assegurar a defesa de bens do Estado, das regiões autónomas e de autarquias locais
afetados por ação ou omissão da AP (68º/4 CPA).
• Por um lado, os sujeitos ou entidades em que se integram os órgãos competentes para a prática
dos atos jurídico-públicos do procedimento;
• Por outro lado, os interessados.
O art.62º/1/a) CPA inclui no elenco dos sujeitos da relação jurídica procedimental “os órgãos das
entidades referidas no nº1 do art.2º”, quando competentes para a tomada de decisões ou para a prática
de atos preparatórios”.
Esta remissão pretende indicar que são sujeitos do procedimento os órgãos de quaisquer
entidades que atuem investidas de poderes públicos.
Em cada procedimento, sujeito da relação jurídica procedimental não é apenas o órgão com
competência para a decisão final do procedimento, sendo tal condição partilhada pelos órgãos
competentes para a prática de atos preparatórios (por exemplo, pareceres ou exames). Veja-se o
art.69º/3 CPA que se refere ao responsável pela direção do procedimento e a quaisquer sujeitos
públicos da relação jurídica procedimental.
É indiscutível a posição singular do órgão competente para a decisão final. Além da competência
para a decisão final, esse órgão dispõe da incumbência de conduzir e dirigir o procedimento (55º/1
CPA).
Ainda assim, o órgão competente para a decisão final deve delegar para inferior hierárquico seu o
poder de direção do procedimento (55º/2 CPA). Esta delegação é, em princípio, obrigatória, só não
existindo se houver disposição legal, regulamentar ou estatutária em contrário ou quando a isso
obviarem as condições de serviço ou outras, invocadas no procedimento concreto ou em diretiva
interna.
Por ocasião desta delegação, cada procedimento tem um agente a que pertence o órgão
competente para a decisão final com a incumbência específica de conduzir o procedimento, sendo que
este agente assume a titularidade de um órgão administrativo, que é o órgão responsável pela direção
do procedimento (64º/3, 110º/3, 118º/2, 122º/1 CPA). Esta figura é operativa no procedimento do ato
administrativo, mas também no procedimento do regulamento administrativo (100º/1 CPA).
10.3.Interessados.
• Aos cidadãos no gozo dos seus direitos civis e políticos e os demais eleitores
recenseados no território português;
• Às associações e fundações representativas de tais interesses;
• Às autarquias locais, em relação à proteção de tais interesses nas áreas das
respetivas circunscrições.
Nuns casos, os deveres da AP são impostos diretamente pela lei e são, portanto, de cumprimento
oficioso (por exemplo, o dever de audiência), sendo que, noutros, os deveres emergem na sequencia do
exercício de direitos pelos interessados (por exemplo, o dever de prestar informações).
Ou seja, o CPA acolhe normas que disciplinam aspetos substantivos ou materiais do DA.
O triplo bloco de disposições não esgota a regulamentação do CPA: de fora fica a Parte
II, sobre os órgãos da AP (20º a 52º), a qual é aplicável (tendencialmente) “aos órgãos da AP”
(2º/2).
O mesmo critério orgânico surge ainda no art.2º/3, estabelecendo-se que “os princípios
gerais da atividade administrativa e as disposições do presente Código que concretizem preceitos
constitucionais são aplicáveis a toda e qualquer atuação da AP, ainda que meramente técnica ou
de gestão privada”.
Embora não prevaleça sobre outras formas de ação administrativa (principalmente sobre o
contrato), e se sublinhe a vigência de um princípio de alternidade entre ato e contrato, é indiscutível que o
ato unilateral é dominante na prática da AP.
O AA assenta num comportamento declarativo ou ação declarativa, sendo uma declaração que
produz efeitos jurídicos: como ato jurídico, o AA “afeta o ordenamento jurídico” e constitui, modifica ou
extingue uma relação jurídica administrativa.
Na medida em que não correspondem a uma declaração, não são AA’s as ações ou operações
materiais (por exemplo, a entrega de um documento).
Por outro lado, não produzindo efeitos jurídicos, mas apenas efeitos de facto, não são atos
administrativos os atos de prestação de esclarecimentos ou de informações, os avisos, entre outros.
A declaração em que o AA consiste pode ser exteriorizada de forma escrita, oral ou eletrónica
(150º CPA).
Algumas vezes, considera-se praticado um AA, embora não exista uma declaração da AP, visando
a produção do efeito jurídico, surgindo algumas figuras entendidas segundo a ideia de ato administrativo
ficcionado:
1. O agente que procede à operação material tem de ser o titular do órgão competente
para a prática do ato administrativo ou atuar, no caso concreto, sob o comando
daquele;
2. A ausência do procedimento declarativo e a emissão do ato administrativo tem de
encontrar justificação numa situação de estado de necessidade (3º/2 CPA).
Nota: Aparentemente, não é esse o cenário previsto no art.177º/2 CPA. Em termos literais,
invoca-se o estado de necessidade para legitimar situações em que se inicia o procedimento
de execução (por exemplo, demolição de um muro) sem uma emissão de uma decisão de
proceder à execução (decisão de realizar a operação de demolição do muro), mas não sem
a emissão do ato administrativo exequendo (decisão a impor a demolição do muro). Ainda
assim, uma vez que a decisão de proceder à execução pode ser notificada conjuntamente
com a notificação do ato administrativo exequendo, revela-se legítimo concluir que o estado
de necessidade pode justificar a execução sem a emissão do ato exequendo e da decisão de
proceder à execução.
iii. Ato administrativo tácito: situação de inércia, em concreto de ausência de uma decisão que,
na sequência de um requerimento dirigido ao órgão competente, este deveria adotar dentro
do prazo legal para decidir (90 dias, 128º/1 CPA).
Mas pode suceder que a lei determine que essa ausência de decisão no prazo legal tem
o valor jurídico de uma decisão, de deferimento ou de indeferimento do pedido formulado no
requerimento, o que nos coloca perante um ato tácito de deferimento ou de indeferimento
(130º/1/2/3 CPA).
Normalmente, o facto de a AP não proferir qualquer decisão sobre os requerimentos que
lhe são dirigidos no prazo legal de que dispõe para o efeito não tem qualquer valor jurídico de
ato administrativo tácito, correspondendo a falta de decisão ao incumprimento de um dever
(dever de decisão), que pode originar responsabilidade disciplinar (128º/5 CPA), assim como
responsabilidade civil. Isto confere ao interessado a possibilidade de utilizar os meios de tutela
administrativa e jurisdicional adequados (129º, 192º/3 e 198º/4 CPA).
Ainda assim, em alguns casos, a lei ou o regulamento podem estabelecer que a falta de
decisão no prazo legal tem o valor de deferimento ou de indeferimento (ato administrativo
tácito). Ou seja, apesar de não ter tomado qualquer decisão, o órgão competente suporta a
imputação dos efeitos jurídicos da decisão.
Por exemplo, nos termos do regime jurídico de acesso e de exercício de diversas
atividades de comércio, serviços e restauração (DL nº10/2015), o decurso do prazo legal sem
que o município emita a autorização para a exploração de certos estabelecimentos dá lugar
a deferimento tácito.
Tenha-se atenção o regime da contagem de prazos (130º/2/3 CPA). Considera-se que há
deferimento tácito se a notificação do ato não for expedida até ao primeiro dia útil seguinte ao
termo do prazo da decisão (130º/2 CPA).
Suponhamos que um requerimento a solicitar uma autorização dá entrada no dia 5 e que
a AP tem 10 dias para decidir. De acordo com as regras de contagem dos prazos (87º CPA),
vamos admitir que o prazo para decidir terminaria no dia 20 e ainda que o órgão competente
tomou a decisão nesse mesmo dia 20. Isto é, a AP decidiu dentro do prazo legal de que
dispunha para o efeito, daí que se poderia dizer que não há ato tácito, mas não é bem assim.
Se a notificação da decisão for expedida no dia 21, não há ato tácito, mas se a notificação
não for expedida nesse dia 21, mas depois desta data, o particular poderá invocar a formação
de um ato de indeferimento tácito. Neste caso, o ato de deferimento tácito não resulta de a
AP não ter decidido no prazo legal, mas de não ter notificado no primeiro dia útil seguinte ao
termo desse prazo.
Nota: Isto pretende impedir que a AP, depois de decidir dentro do prazo legal, se desleixe no
cumprimento do dever de notificar o particular e venha a invocar que, apesar da falta de
notificação, já tomou uma certa decisão há 10 ou 15 dias [é certo que os atos administrativos
devem ser notificados no prazo de 8 dias (114º/5 CPA), mas noa se prevê qualquer
consequência para o incumprimento deste prazo].
Nos casos em que a lei estabeleça que a falta de decisão no prazo legal tem o valor
jurídico de deferimento, o particular pode sempre invocar o deferimento tácito quando seja
seguro que a decisão não foi objeto de notificação no dia seguinte ao termo do prazo (130º/2
Mas não estamos perante a figura do ato tácito. Tem-se em vista uma situação de inércia
no âmbito de procedimentos interadministrativos, relacionados com pedidos de autorização
prévia ou aprovação posterior apresentados por um órgão da AP (“órgão ativo”) a um outro
órgão da AP (“órgão de controlo”). A lei regula a situação que decorre do facto de o órgão de
controlo, instado a autorizar ou aprovar, não tomar qualquer decisão no prazo legal,
prescindindo-se da autorização ou da aprovação, desde que o órgão ativo interpele o órgão
de controlo, competente para autorizar ou aprovar.
A interpelação deve ser efetuada decorridos 10 dias, a contar do termo do prazo para a
autorização ou aprovação, devendo o órgão competente, nesse caso, emiti-las no prazo de
20 dias (130º/5 CPA).
Vale dizer, se o órgão de controlo deveria ter autorizado ou aprovado até ao dia 5, o órgão
ativo tem 10 dias, a partir do dia 5, para interpelar o primeiro. O órgão de controlo tem agora
um novo prazo de 20 dias para decidir sobre o pedido de autorização ou de aprovação. Se o
não fizer, prescinde-se da exigência de autorização ou de aprovação, ficando o órgão ativo
em condições de praticar o ato dependente de autorização ou em considerar eficaz o ato que
dependia de aprovação. Note-se que não existe qualquer ficção de deferimento da
autorização ou da aprovação (regime semelhante: 92º/6 CPA).
O AA é uma declaração que incorpora uma decisão, uma medida decisória, podendo envolver, por
exemplo, a determinação da produção de um efeito, a prescrição de uma conduta ou a resolução de uma
situação.
A declaração de uma autoridade administrativa é uma condição necessária do ato administrativo, mas não
é necessário que essa autoridade detenha competência para a emissão da declaração, visto que o facto
de não dispor competência para proferir a declaração não coloca em causa a existência, mas apenas a
validade do ato administrativo.
Também não é necessário que a lei confira àquela autoridade a capacidade para a prática de atos
administrativos. O valor jurídico autónomo do conceito de ato administrativo revela-se no facto de este,
como declaração, convocar, de imediato, um regime jurídico que contribui para reforçar a supremacia que
a AP já detém na relação jurídica que o ato disciplina. É o que decorre do ato administrativo constituir um
título executivo, muitas vezes dotado de força executória, assim como de instituir um ónus de impugnação
para o interessado (não havendo impugnação no prazo legal, o AA torna-se inatacável e acabará por se
consolidar na ordem jurídica). A autonomia do tema da capacidade para a prática de atos administrativos
nota-se na diferença entre, por um lado, a autorização ou a ordem que um órgão pode conceder ou impor,
enquanto meras declarações revestidas de autoridade e emitidas em situação de supremacia jurídica e,
por outro lado, no facto de essas autorizações ou ordens envolvidas na forma de “ato administrativo”. A
forma “ato administrativo” acrescenta à autoridade material intrínseca das declarações o caráter executivo,
a força executória, assim como o ónus de impugnação.
No passado, o tema da capacidade para a prática de atos administrativos foi discutido a propósito da
natureza das declarações, emitidas no exercício de “poderes “ legais, por contraentes públicos no
desenvolvimento de relações contratuais. Hoje, com o CCP, a dúvida está resolvida: por um lado, o elenco
dos poderes do contraente público (302º CCP) e, por outro, a indicação explícita de que essas declarações
revestem a natureza de ato administrativo (307º/2 CCP), atribuindo esta norma aos contraentes públicos a
capacidade para a prática de atos administrativos.
Geralmente, a dúvida sobre se a AP está autorizada a agir por via do AA pode esclarecer-se com base na
determinação da natureza do poder conferido pela norma de competência. Quer dizer, haverá de ser a
interpretação da norma de competência material a conduzir o julgador à conclusão de que uma certa
instância administrativa se encontra investida de um poder próprio para a tomada de uma decisão de
autoridade aplicável a uma dada situação. Se a lei entregar à AP um “poder próprio de decisão”, então as
pronúncias emitidas no exercício desse poder qualificam-se como AA’s, desde que preencham os restantes
elementos do conceito. Vale dizer, a capacidade formal para a prática de atos administrativos afere-se em
função da interpretação das normas de competência material.
A categoria dos atos administrativos sob a forma de lei tem cobertura constitucional, estando
consagrada a possibilidade de impugnação de quaisquer atos administrativos independentemente da sua
forma, fórmula que abrange igualmente os atos administrativos sob forma regulamentar (268º/4 CRP).
Apesar da forma legislativa, estando em causa um ato administrativo, este pode ser submetido à
apreciação dos tribunais administrativos (52º/2 CPA).
O AA vale para uma situação individual e concreta (148º CPA), o que nos permite distinguir o AA
do regulamento administrativo, que se caracteriza por ser geral e abstrato, próprio de atos normativos (135º
CPA).
A referência à situação concreta e individual evidencia o sentido ou recorte não normativo do ato
administrativo. Este não constitui uma norma ou uma regra para uma situação, aplicável sempre que essa
situação ocorra, traduzindo antes a decisão para uma situação única que atinge destinatários determinados,
pelo que o AA é representativo da forma específica do agir da AP, enquanto atuação concreta e em relação
com o cidadão, com cada cidadão.
Por caráter individual, deve entender-se a exigência de o ato administrativo se referir à situação
jurídica de uma pessoa determinada ou de várias pessoas determinadas, isto é, o caráter individual não
reclama que o AA se dirija a uma única pessoa, mas que os seus destinatários se encontrem determinados.
O caráter individual não deve afastar os designados atos administrativos gerais: atos
administrativos (concretos), mas que não atingem um círculo de destinatários individualizados. Alude-se a
estes atos quando se estabelece que o não exercício do direito de impugnar um ato que não individualize
os seus destinatários não obsta à impugnação dos seus atos de execução ou aplicação cujos destinatários
sejam individualmente identificados (52º/3 CPTA).
Devemos ainda reconduzir ao conceitos os atos administrativos intransitivos, que não têm
destinatário [por exemplo, o ato de afetação de um bem ao domínio público (16º e 17º DL nº280/2007)].
A situação a que o ato se reporta deve ser concreta, ou seja, o AA aplica-se a uma situação e
resolve-se nessa mesma aplicação. O propósito do ato esgota-se na sua aplicação no caso concreto, não
tendo a pretensão de valer para o futuro. O AA não assenta numa hipótese, mas sim numa resposta. Em
paralelo à figura dos AA’s gerais, aceita-se a existência de atos administrativos abstratos (que terão de ser
individuais): por exemplo, a determinação que uma autoridade administrativa dirige a uma empresa
específica no sentido de impor a esta uma conduta determinada sempre que a mesma proceda à emissão
de gases perigosos.
Pode haver atos que produzem uma lesão na esfera de um cidadão, apesar de não serem
praticados em relação a esse cidadão: o critério da lesividade (por exemplo, uma medida de organização
que atenta contra o direito de alguém); os efeitos externos são laterais; há aqui uma questão de “dupla
natureza” (interna e externa).
Ainda assim, não é apenas o AA que produz efeitos jurídicos positivos. Reconduzem-se ainda ao
conceito as decisões administrativas que produzem efeitos jurídicos negativos, ou seja, efeitos que se
traduzem na recusa da alteração do ordenamento jurídico concretamente pretendida pelo interessado. Ou
seja, efeitos negativos são os efeitos dos atos de indeferimento dos pedidos constantes de requerimentos
de particulares.
Efeitos negativos não significam ausência de efeitos jurídicos: o ato administrativo negativo
constitui uma decisão da AP, que resolve uma situação jurídica. A reação contra um ato desta natureza
não segue a via da impugnação, mas a da condenação à prática do ato administrativo devido (51º/4 CPTA).
O AA produz efeitos jurídicos externos, operando numa relação intersubjetiva, que ocorre entre
sujeitos diferentes: a entidade pública (ou privada) a que pertence o autor do ato e o destinatário, que pode
ser um particular ou uma entidade pública.
Os efeitos jurídicos do ato administrativo projetam-se num objeto, que pode ser uma pessoa (atos
administrativos pessoais), uma coisa (atos administrativos reais), um outro ato administrativo (atos
administrativos secundários), um contrato da AP ou um contrato entre particulares.
Note-se que muitos atos têm a pretensão de provocar a produção de efeitos práticos ou de facto:
por exemplo, a ordem de demolição de uma casa produz o efeito jurídico de constituir o destinatário na
obrigação de proceder à demolição e tem ainda a pretensão de produzir o efeito de facto consistente na
demolição.
O AA no direito da UE
O AA é também uma categoria do direito da UE. Os Tratados não definem expressamente a figura. Mas, a
partir de vários preceitos e da jurisprudência, é possível definir o ato administrativo da UE como o ato de
exercício de um poder administrativo da UE, como o ato de exercício de um poder administrativo praticado
por uma instituição ou órgão da UE numa situação concreta e dirigido a particulares (indivíduos ou
empresas) ou aos EM’s [por exemplo, autorização (105º/2 TFUE) ou decisão de supressão ou modificação
de auxílios (108º/2 TFUE)].
A figura do ato administrativo tem acolhimento na CRP (268º/3), que define aspetos do regime jurídico do
AA (notificação e fundamentação dos AA’s que afetem direitos ou interesses legalmente protegidos); o
art.268º/4 regula aspetos relacionados com a garantia da tutela jurisdicional efetiva dos particulares em
face de AA’s lesivos (impugnação) e devidos (condenação). A referência à figura neste plano traduz,
indiretamente, o reconhecimento constitucional de um “sistema de administração de ato administrativo”,
tendo o efeito de legitimar o regime jurídico do ato administrativo, com as notas que classicamente o
distinguem.
B. Estabilização de situações jurídicas: o AA tem uma propensão para a estabilidade e para pôr em
marcha efeitos jurídicos “definitivos”, que manifestam uma especial “capacidade de resistência”. Esta
força de estabilização tem implicações no plano da eficácia jurídica vinculativa, a qual opera
independentemente da confirmação da legalidade (autotutela declarativa da AP), remetendo para os
interessados o “ónus de impugnação” do ato em prazo relativamente curto (normalmente, 3 meses
após a notificação);
Ou seja, uma vez praticado e eficaz, o ato está em condições de ser executado, no âmbito de um
processo (executivo) movido contra o destinatário [execução coerciva, que se processa pela via
jurisdicional (176º/1 e 183º CPA) ou conta a AP (157º/3 CPA).
E. Processual: o AA constitui também uma categoria processual, que releva no plano do direito do
processo administrativo. Aqui, desempenha a função de circunscrever o âmbito de aplicação de certas
formas de processo, como a “ação administrativa”, que acolhe pedidos de impugnação e de
condenação à prática de atos administrativos.
Deste modo o AA condiciona ou delimita o campo de utilização de mecanismos específicos de
tutela jurisdicional em face da AP.
Por exemplo: as ordens da polícia, adotadas pelas autoridades competentes em reação direta e
imediata à verificação das circunstâncias concretas que as exigem (175º/2 CPA).
Existe uma regra de relação biunívoca entre procedimento de formação de AA e AA: cada AA tem
o “seu procedimento” e cada procedimento conta com o “seu” AA. Isto sucede mesmo quando um resultado
jurídico que se pretende alcançar se produz no âmbito de dois ou mais procedimentos administrativos que
se interligam: por exemplo, para a abertura de certas instalações industriais, é necessária uma autorização
industrial, uma licença ambiental e uma licença urbanística.
Nota: por vezes, esbate-se a diferença entre o fenómeno do encadeamento de procedimentos de formação
de vários AA’s (por exemplo, o procedimento de autorização a um particular encadeado com um
procedimento de aprovação (de outro órgão) e o do relacionamento entre órgãos no âmbito do
procedimento de formação de um AA (por exemplo, o procedimento de autorização a um particular que
inclui o parecer de um órgão consultivo). Neste último caso, o parecer não constitui uma “decisão”, um AA,
não está presente a figura do procedimento complexo: trata-se de um procedimento administrativo simples,
limitado à prática de um AA, mas isto não exclui que se possa referenciar a existência de um
“subprocedimento” na relação que intercorre entre o órgão que solicita o parecer e o órgão que o emana.
23.1.Iniciativa.
O particular que promove o procedimento procura obter uma vantagem para a sua esfera
jurídica, mas pode suceder que que a produção da situação de vantagem se associe à produção
de um efeito desfavorável para um terceiro (por exemplo, uma empresa que requer a aplicação de
sanções a uma empresa concorrente).
A apresentação do requerimento implica sempre, para o órgão que o recebe, uma obrigação
de proceder, estando o requerimento na génese de uma relação jurídica procedimental. Esta
obrigação de proceder decorrer de o órgão que recebe o procedimento estar adstrito a desenvolver
uma atividade procedimental, de verificação do preenchimento dos pressupostos procedimentais
[podem ser de caráter subjetivo (competência do órgão) ou objetivo (existência e inteligibilidade
do requerimento)].
Se estes pressupostos não estão preenchidos, diz-se que existem “questões que prejudicam
o desenvolvimento normal do procedimento” (109º CPA). O órgão deve, então, tomar uma decisão,
que consistirá, normalmente, em pôr termo ao procedimento por falta de pressupostos
procedimentais (decisão de arquivamento do procedimento). Outro caso diz respeito ao
“indeferimento limitar do requerimento” não identificado ou cujo pedido seja ininteligível (108º/3
CPA).
Ou seja, existe um associação entre requerimento e AA, surgindo o requerimento como o ato
jurídico em que o autor requer a produção de um efeito que a AP irá, ou não, produzir mediante a
prática de um AA (por exemplo, o requerimento de uma bolsa de estudo).
Por falta de legitimidade procedimental do autor, não é requerimento o ato pelo qual um
cidadão apresenta uma “participação” ou uma “queixa”, tendo o objetivo de levar a AP a exercer
uma competência. Estes são atos pré-procedimentais que levam à AP o conhecimento de factos
e situações que podem conduzi-la a iniciar um procedimento (iniciativa oficiosa).
Devemos notar também que existem atos de iniciativa procedimental dos particulares a que
a lei não atribui a designação de requerimento:
Apesar de a lei lhe atribuir outro nome, é um ato de iniciativa procedimental, que constitui a
AP na obrigação de proferir uma decisão.
Finalmente, o requerimento é o nome que o CPA atribui aos atos de iniciativa particular nos
procedimentos administrativos de 1º grau.
b) Iniciativa oficiosa.
Embora a descoincidência entre “órgão de iniciativa” e “órgão decisor” aponte para um caso
de hétero-iniciativa, deve reconduzir-se ao tipo de iniciativa oficiosa o procedimento em que um
órgão com competência de iniciativa coloca em marcha um procedimento que vai ser concluído e
“decidido” por outro órgão (hierarquicamente superior), mas numa “lógica de continuidade” e não
de “alteridade”: os dois órgãos envolvidos não estão “face a face”, mas numa relação sequencial.
Por exemplo, o procedimento disciplinar dos trabalhadores em funções públicas.
Ao contrário do que acontece nos casos de hétero-iniciativa, aqui não existe sempre um
explícito ato de iniciativa, ou seja, este não se revela sempre como um ato formalmente autónomo.
Quando é assim, o ato de iniciativa há de revelar-se através de um ato posterior, como o ato de
comunicação do início oficioso do procedimento a que se refere o art.110º/1 CPA, onde se
estabelece que o “início do procedimento é notificado às pessoas cujos direitos ou interesses
legalmente protegidos possam ser lesados pelos atos a praticar e que possam ser logo
nominalmente identificadas”.
Nota: “Ainda que não ponham termo a um procedimento, são impugnáveis todas as decisões que,
no exercício de poderes jurídico-administrativo, visem produzir efeitos jurídicos externos numa
situação individual e concreta” (51º/1 CPTA). A eficácia externa de um ato que inicia um
procedimento afere-se em função do facto de se tratar de um ato lesivo para uma pessoa
determinada e logo identificada (por exemplo, o início de um procedimento disciplinar). Pode ainda
tratar-se de um ato geral, com capacidade de lesão de sujeitos não individualizados (o anúncio
público de um procedimento para atribuição de novas licenças de táxi, que os titulares de licença
considerem ilegal).
Primeiramente, a AP pode não dispõe de uma liberdade para decidir entre iniciar ou não
um procedimento. Há procedimentos cuja iniciativa repousa numa decisão livre da AP: por
exemplo, instauração de um procedimento para a atribuição de uma condecoração a um cidadão
ilustre.
Relativamente aos procedimentos cujo início oficioso foi comunicado, parece de exigir a
tomada de uma decisão de conclusão do procedimento, mesmo que se trate de uma decisão de
desistência ou de arquivamento do procedimento.
Noutros casos, o início do procedimento pode suscitar nos particulares uma “expectativa
legítima” no sentido da conclusão do mesmo através de uma decisão substantiva ou de fundo: em
geral, não é fácil obter a condenação da AP a adotar a decisão favorável a que o procedimento
poderia conduzir, mas pode acontecer que a lei imponha esse resultado ou que a tomada de uma
decisão com um certo conteúdo decorra de uma exigência de proteção dos direitos de um
particular (por exemplo, o direito do arguido num procedimento disciplinar a uma decisão que
esclareça que não subsistem factos que possam conduzir a uma condenação).
Esta é uma categoria própria dos procedimentos que se desenrolam nas relações
interadministrativas (entre entidades públicas ou entre órgãos administrativos). Consoante os
casos, os atos públicos de iniciativa procedimental designam-se pedidos ou propostas.
• Pedidos: meros atos de iniciativa, que manifestam um interesse do órgão solicitante em que
outro órgão pratique um ato administrativo (por exemplo, pedido de uma autorização).
A apresentação de um pedido implica uma obrigação de decidir (130º/4 CPA).;
• Propostas: são atos de iniciativa em que o órgão proponente se pronuncia sobre o conteúdo
do AA a praticar. As propostas dizem-se facultativas, quando a existência das mesmas não é
necessária para que o órgão decisor exerça a competência em questão e adote a decisão
proposta.
Propostas obrigatórias são as que se apresentam necessárias para que o órgão decisor
exerça a competência em questão e adote a decisão proposta, como sucede quando a lei
estabelece que uma certa competência de um órgão (por exemplo, competência da
assembleia municipal para autorizar empréstimos ou a conceder serviços públicos) se exerce
sob proposta de outro órgão (câmara municipal).
Estas propostas são vinculantes, quando o órgão decisor, não podendo decidir sem
proposta, também não pode decidir com alterações ao conteúdo da mesma (pode decidir em
conformidade ou rejeitar a proposta).
Se a lei nada estabelece, podemos dizer que as propostas obrigatórias não são
vinculantes, pelo que o órgão decidir em conformidade, rejeitar a proposta ou decidir com um
conteúdo diferente da proposta.
Geralmente, as propostas são atos finais de um procedimento que se desenvolve no
interior do órgão administrativo com poderes de impulso. A proposta pressupõe um trabalho
efetuado em vista da determinação do conteúdo do ato administrativo que o órgão proponente
pretende ver praticado.
23.2.Instrução.
• Diligências probatórias;
• Diligências consultivas.
A AP tem o domínio do procedimento, sendo esta uma formulação com uma repercussão
direta na fase de instrução, que exprime um princípio de oficialidade ou de inquisitório quanto ao
desenvolvimento da tramitação procedimental nesta fase.
Ainda assim, a discricionariedade não constitui um poder livre do direito. O órgão competente
“deve” averiguar “todos os factos cujo conhecimento seja conveniente para a justa decisão do
procedimento (115º/1 CPA).
A decisão final pode ver-se inquinada por défice de instrução sempre que a AP não cuida de
realizar todas as diligências que se tornam necessárias para verificar a exatidão de factos a aplicar
corretamente o direito.
i. Diligências probatórias.
A instrução do procedimento conta com uma faz de consulta e diálogo entre vários
organismos da AP. Por exemplo, a instalação de uma indústria pode exigir uma pronúncia
sobre o impacto ambiental, outra sobre o risco de acidente graves, entre outros. Em
O parecer tem grande importância na fase da instrução. Este pode definir-se como
o ato jurídico pelo qual um órgão administrativo com funções consultivas se pronuncia,
num plano técnico, jurídico ou de boa administração, sobre uma decisão em preparação.
Os pareceres têm subjacente um juízo crítico, não conhecendo um caráter decisório.
Mesmo que o parecer seja facultativo, o órgão decisor tem o dever específico de
fundamentar a decisão na parte em que a mesma venha eventualmente a contrariar o
parecer. Aqui, não há diferenças entre o parecer facultativo e obrigatório.
Os pareceres (totalmente) vinculativos são raros. Mas é frequente que a lei exija uma
decisão que “só pode ser” adotada se tiver apoio num parecer: o parecer é vinculativo,
se for negativo ou desfavorável à autorização. Estes pareceres dizem-se confomes.
Resulta implícito da lei que o direito de audiência incide sobre um projeto de decisão, que
não se apresenta vinculativo para a AP, que pode vir a alterar, tendo, para isso, de repetir o trâmite
da audiência.
Quando o responsável pela direção da instrução não for o órgão competente para a decisão
final, elaborará um relatório no qual indica o pedido do interessado, resume o conteúdo do
procedimento e formula uma proposta de decisão, sintetizando as razões de facto e de direito que
a justificam (126º CPA).
Quando a instrução é dirigida pelo órgão competente para a decisão final, não há elaboração
do relatório final.
23.4.Decisão.
O AA considera-se praticado quando seja emitida uma decisão que identifique o autor e
indique o destinatário, se for o caso e o objeto a que se refere o seu conteúdo.
Em alguns casos, a lei cria uma ficção jurídica e faz corresponder a inércia da AP à
emissão de um ato positivo, de deferimento do requerimento, surgindo o ato de deferimento tácito
(130º CPA).
Na maior parte das situações, a AP pratica o AA, toma a decisão final do procedimento
de forma expressa. Quando praticado de forma escrita, o ato tem de conter as menções do art.151º
CPA.
Na hipótese da prática do ato por órgão singular, não existe nenhuma disciplina
procedimental a seguir. Porém, estando em causa um órgão colegial, o AA será um ato colegial,
tornando-se necessário observar as regras procedimentais que regulam a formação desta
categoria de atos (21º a 35º CPA).
Nota: Apesar de haver uma convergência de vontades, a decisão em coautoria constitui uma
decisão unilateral e não um contrato. No contrato, as partes produzem um acordo para produzir
direitos e obrigações para elas mesmas (caráter reflexivo). No AA em coautoria, os coautores
acordam em adotar uma decisão com o objetivo de produzir efeitos na esfera jurídica de terceiros
(os destinatários).
O procedimento pode extinguir-se por um contrato, que substitui o AA: é um contrato com
objeto passível de AA (127º CPA).
23.5.Integração de eficácia.
O procedimento extingue-se pela tomada da decisão final ou por qualquer outro dos
factos previstos no CPA (93º CPA).
Contudo, o facto de o ato existir no mundo jurídico não significa que esteja em condições
de produzir imediatamente os seus efeitos jurídicos.
Quando o AA começa a produzir os seus efeitos desde a data em que é praticado, diz-se
que se trata de um AA de eficácia imediata (155º/1 CPA). Quando assim seja, o procedimento
administrativo termina com a tomada da decisão final, com a prática do AA.
Porém, em muitos casos, o AA conhece uma eficácia diferida, ou seja, o ato é praticado,
mas não fica logo apto a produzir os seus efeitos jurídicos (157º CPA). Nestes casos, o
procedimento produz o ato, mas não produz um ato eficaz.
Para formar um ato com eficácia jurídica, o procedimento tem de prosseguir com o
objetivo de reunir os requisitos procedimentais de produção da eficácia do AA, surgindo a fase
integrativa de eficácia.
Nota: Não existe uma associação completa entre as categorias do AA de eficácia diferida e
existência de uma fase procedimental de integração de eficácia. Casos há em que a eficácia
diferida do AA não resulta da existência de uma fase procedimental de integração de eficácia [por
exemplo, AA’s com condição suspensiva ou termo inicial, falando-se de atos com eficácia
condicionada (157º/1/b) CPA)]
Integram também esta fase atos de complemento executivo (por exemplo, a emissão de
um diploma que titula a decisão e que lhe confere eficácia). Normalmente, a prática destes atos
deve ocorrer num determinado prazo, sob pena de caducidade da decisão e de extinção do
procedimento (133º/1 CPA).
Uma função de integração de eficácia têm também as atas relativas a reuniões de órgãos
colegiais. Os órgãos colegiais só adquirem eficácia depois de consignados em ata aprovada (34º/6
e 150º/2).
27.1.1.Reclamações e recursos.
27.2.Reclamação.
27.2.3.Tempestividade.
1. Contra AA’s: 15 dias (191º/3 CPA), contado nos termos dos arts.188º/1/2 CPA;
2. Contra a omissão ilegal de AA’s: prazo de 1 ano (187º CPA), contado nos termos do
art.188º/3 CPA.
27.2.4.Procedimento.
27.2.4.1.Apresentação da reclamação.
27.2.4.2.Rejeição da reclamação.
27.2.4.4.Decisão.
27.3.3.Tempestividade.
27.3.4.Procedimento.
27.3.4.4.Decisão do recurso.
ii) Para o órgão colegial, de atos ou omissões de qualquer dos seus membros, comissões
ou secções;
iii) Para órgão de outra pessoa coletiva que exerça poderes de tutela ou superintendência.