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ATO ADMINISTRATIVO

Para o direito, ato é sinônimo de manifestação de vontade com aptidão para produzir efeitos
jurídicos. Em razão disso, Hely Lopes Meirelles dizia que o “o conceito de ato administrativo é
fundamentalmente o mesmo do ato jurídico, do qual se diferencia como uma categoria
informada pela finalidade pública”.

Seguindo essa linha de raciocínio, para o saudoso professor, o ato administrativo nada mais é
do que um ato jurídico stricto sensu por meio do qual a Administração Pública manifesta sua
VONTADE produzindo os efeitos jurídicos desejados para a satisfação do INTERESSE
PÚBLICO.

Para identificar o ato administrativo, devemos nos ater às seguintes características:

a) é uma manifestação unilateral de vontade;


b) da Administração Pública ou de seus delegatários no exercício da função delegada;
c) sujeita ao regime de direito público;
d) com o objetivo de satisfazer o interesse público.

Portanto, nem sempre os atos emanados da Administração Pública são atos administrativos.
De fato, em regra, a Administração atua por intermédio dos atos administrativos, mas existem
casos em que ela pratica atos regidos pelo regime eminentemente de direito privado. Assim, a
doutrina afirma que ato administrativo é uma espécie de atos da administração, os quais
englobam atos privados (ex: celebração de um contrato de locação) e atos administrativos.

ATOS DA
ADMINISTRAÇÃO

Atos Privados da Atos


Administração Administrativos

A doutrina também distingue o ato administrativo do fato administrativo. Enquanto aquele é


uma manifestação unilateral da vontade da Administração Pública, o fato administrativo é uma
atividade material da Administração que pode ou não decorrer de um ato administrativo.
Como exemplo, cite-se a apreensão de mercadorias pela Administração alfandegária, ou a
dispersão de manifestantes por órgãos de segurança pública.

Dito de outra forma, o fato administrativo é um acontecimento, voluntário ou natural, que


repercute na esfera administrativa. Sobre o tema, colhem-se as lições de Carvalho Filho:

“A noção de fato administrativo não guarda relação com a de fato jurídico, encontrada
no direito privado. Fato jurídico significa o fato capaz de produzir efeitos na ordem
jurídica, de modo que dele se originem e se extingam direitos (ex facto oriturius).

A ideia de fato administrativo não tem correlação com tal conceito, pois que não leva
em consideração a produção de efeitos jurídicos, mas, ao revés, tem o sentido de
atividade material no exercício da função administrativa, que visa a efeitos de ordem
prática para a Administração. Exemplos de fatos administrativos são a apreensão de
mercadorias, a dispersão de manifestantes, a desapropriação de bens privados, a
requisição de serviços ou bens privados etc. Enfim, a noção indica tudo aquilo que
retrata alteração dinâmica na Administração, um movimento na ação administrativa.
Significa dizer que a noção de fato administrativo é mais ampla que a de fato jurídico,
uma vez que, além deste, engloba também os fatos simples, ou seja, aqueles que não
repercutem na esfera de direitos, mas estampam evento material ocorrido no seio da
Administração.

(...)

Em síntese, podemos constatar que os fatos administrativos podem ser voluntários e


naturais. Os fatos administrativos voluntários se materializam de duas maneiras: (1ª)
por atos administrativos, que formalizam a providência desejada pelo administrador
através da manifestação da vontade; (2ª) por condutas administrativas, que refletem
os comportamentos e as ações administrativas, sejam ou não precedidas de ato
administrativo formal. Já os fatos administrativos naturais são aqueles que se originam
de fenômenos da natureza, cujos efeitos se refletem na órbita administrativa.”
(CARVALHO FILHO)

Elementos do Ato Administrativo

Ainda com apoio nas lições do professor Hely Lopes Mereilles, o ato administrativo é composto
por cinco elementos, sem os quais ele inexiste. Para ele, esses elementos constituem a
“infraestrutura” do ato administrativo, de modo que sem a convergência deles, o ato não se
aperfeiçoa e, por consequência, não produz efeitos válidos.

Uma dica para lembrar dos elementos é ler o art. 2º da Lei 4717/65, que rege a ação popular.
Nela, os elementos do ato administrativos são arrolados e conceituados no parágrafo único do
art. 2º. Esses elementos são:

a) competência;
b) finalidade;
c) forma;
d) motivo;
e) objeto.

Vamos analisar cada um deles separadamente.

a. COMPETÊNCIA

É a atribuição legal para a prática do ato, ou seja, é o poder atribuído ao agente da


Administração para o desempenho específico de suas funções. Decorre do princípio da
legalidade e é um elemento vinculado do ato. Embora se diga que é um poder, a competência
é um verdadeiro poder-dever, uma vez que o agente não pode deixar de cumprir com as suas
atribuições legais. Portanto, a competência é irrenunciável. Além disso, ela é intransferível e
improrrogável, isto é, não pode ser transferida por ato de vontade, salvo quando a lei permitir.
Existem dois casos que permitem a transferência de competência, que são a delegação e a
avocação. No âmbito federal, a Lei 9784/99 autoriza a delegação e a avocação de competência
em seu art. 11 e seguintes.

A delegação de competência é o ato por meio do qual um agente transfere a outro funções
que originariamente lhe são atribuídas. Pode envolver agentes da mesma ou diferente
hierarquia. A delegação é sempre parcial, pois se fosse total configuraria renúncia da
competência. Além disso, não existe delegação entre os Poderes orgânicos do Estado, nem de
atos políticos ou de competência exclusiva. Registre-se ainda que a delegação é revogável a
qualquer tempo e é ato formal, devendo ser publicado.

É importante ressaltar que, para o STF, a prática de ato pelo agente ou órgão no exercício da
função delegada os torna partes legítimas para figurar em eventual ação para impugná-lo.
Nesse sentido é a Súmula 510 do STF:

Súmula 510. Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o
mandado de segurança ou a medida judicial.

Importante observar que a Lei 9.784/99 veda, expressamente, a possibilidade de delegação da


competência nas seguintes situações:
• Casos de edição de atos de caráter normativo;
• Decisão de recursos; e
• Matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

A avocação de competência, por sua vez, consiste no ato mediante o qual uma autoridade
hierarquicamente superior atrai para sua esfera decisória a prática de ato de competência
natural de agente de menor hierarquia. Só existe entre agentes de hierarquia diferentes (o
superior avoca a atribuição do subordinado). É medida excepcional e sempre temporária, que
deve ser justificada.

O ato praticado em desconformidade com a competência legal dá origem ao abuso de poder,


ou vício por falta de competência (ex: agente sem competência indefere um requerimento
administrativo).

O abuso de poder é o gênero do qual são espécies:


➢ Excesso de poder
➢ Desvio de poder

No excesso de poder o agente público extrapola a competência que lhe foi conferida mediante
lei. Já no desvio de poder, o agente público apesar de competente, pratica o ato em
desconformidade com o interesse público.
b. FINALIDADE

A finalidade do ato administrativo é sempre o interesse público. Assim como a competência,


também é um elemento vinculado do ato, uma vez que a lei sempre define qual é o interesse
público a ser perseguido, implícita ou explicitamente. O ato praticado em desacordo com a
finalidade prevista em lei contém o chamado vício do desvio de finalidade, também conhecido
de vício ideológico ou subjetivo (ex: superior hierárquico remove um servidor para uma
lotação distante só porque não gosta dele).

c. FORMA

É o meio pelo qual se exterioriza a vontade. É o revestimento exteriorizador do ato. Todo ato
administrativo é, em princípio, formal. No direito privado a liberdade da forma do ato jurídico
é a regra, já no direito público é a exceção, pelo princípio da solenidade das formas. Toda
forma do ato é substancial. No ato administrativo, prevalece a forma escrita, de modo a
conferir maior controle na gestão do interesse público. Pode, no entanto, em situações
excepcionais, quando a lei autorizar, ser verbal ou gesticular. A forma é elemento vinculado
do ato. Enfim, se a lei estabelece determinada forma como revestimento do ato, não pode o
administrador deixar de observá-la, sob pena de invalidação por vício de ilegalidade.

d. MOTIVO

É a situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a realização do ato


administrativo. Pode vir expresso em lei, como também ser deixado ao critério do
administrador público. Em outras palavras, pode ser vinculado ou discricionário, a depender
do legislador.

A doutrina distingue o motivo e a motivação. O motivo é a situação de fato ou de direito que


justifica a edição do ato. Já a motivação é a exteriorização do motivo, ou seja, é a justificativa
apresentada pelo administrador para a prática do ato administrativo.

IMPORTANTE: por força da teoria dos motivos determinantes, quando o agente público
apresentar a motivação do ato, ficará a ela vinculado, ainda que se trate de ato discricionário.
Portanto, essa teoria limita a discricionariedade da Administração nos casos em que o agente,
ainda que sem obrigação de motivar o ato, o faça.

Ressalta-se que a Lei 9.7844/99 admite a chamada motivação aliunde, que ocorre quando
utiliza-se a motivação de outro ato para embasar o seu, conforme disposto no artigo 50:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em


declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações,
decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

e. OBJETO

É a criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas concernentes a pessoas,


coisas ou atividades sujeitas à ação do Poder Público. É o conteúdo do ato, através do qual a
Administração manifesta a sua vontade. É elemento que pode ser vinculado ou discricionário.

DICA: Mnemônico dos elementos do Ato Administrativo → COFIFOMOB

COmpetência

FInalidade VINCULADOS
ELEMENTOS DO ATO
ADMINISTRATIVO FOrma

Motivo
DISCRICIONÁRIOS
OBjeto
MÉRITO ADMINISTRATIVO:

De todos os elementos do ato administrativo, apenas o motivo e o objeto podem ser


discricionários.

De acordo com Alexandre Aragão, “discricionariedade administrativa seria, assim, a margem


de escolha deixada pela lei ao juízo do administrador público para que, na busca da
realização dos objetivos legais, opte, entre as opções juridicamente legítimas, pela medida
que, naquela realidade concreta, entender mais conveniente”.

Quando o administrador atua dentro da esfera de liberdade que a lei lhe confere, as suas
decisões são chamadas de mérito administrativo, que nada mais é do que a valoração da
oportunidade e conveniência de praticar o ato. Como se pode ver, o mérito administrativo só
existe nos atos discricionários.

Esse poder decisório é a prerrogativa que o administrador tem de representar o povo fazendo
as escolhas necessárias para bem atender o interesse público. Portanto, ele é protegido até
mesmo do Poder Judiciário, que não pode imiscuir-se no mérito administrativo, isto é, não
pode se substituir às escolhas do administrador público.

Essa construção consubstancia o chamado princípio da insindicabilidade do mérito


administrativo, por meio do qual é defeso ao Poder Judiciário imiscuir-se na esfera de
liberdade do administrador público, sob pena de violar a separação de poderes.

Mas, é importante observar que a insindicabilidade é apenas do mérito administrativo. Em


relação aos demais elementos (competência, finalidade e forma), qualquer ato, seja ele
vinculado ou discricionário, está sujeito ao controle de legalidade pelo Poder Judiciário.

Atributos do Ato Administrativo

Os atributos do ato administrativos são as suas características próprias, oriundas do regime


jurídico de direito público que os rege. Estão baseados na supremacia do interesse público e
sua indisponibilidade. Com base nisso, a doutrina aponta como atributos do ato
administrativo:

a. Presunção de legitimidade

Todo ato administrativo, quando nasce, presume-se praticado de acordo com a ordem jurídica.
Isso porque a Administração Pública está jungida ao princípio da legalidade, devendo agir
sempre nos estritos termos e limites fixados pela lei e pela Constituição. Trata-se, porém, de
uma presunção relativa, que pode ser ilidida por prova em contrário. Até que venha a ser
suspenso ou invalidado, o ato produz todos os seus efeitos validamente.

Com base nisso, Hely Lopes Meirelles identifica dois principais efeitos que decorrem da
presunção de legitimidade do ato administrativo:

1. A imediata produção de efeitos dos atos administrativos


2. Inversão do ônus da prova para o particular

Para Alexandre Aragão, essa presunção deve passar por uma releitura no atual estágio do
Estado Democrático de Direito. Segundo afirma, a presunção relativa de legitimidade dos atos
administrativos se decompõe em presunção de veracidade, ligada à certeza dos fatos
subjacentes ao ato, e a presunção de legalidade, concernente às razões jurídicas que
amparam o ato.

b. Imperatividade

É o atributo do ato que impõe a coercibilidade para o seu cumprimento. Ele não é aplicável a
todos os atos, mas apenas àqueles cujo conteúdo seja uma ordem administrativa, com força
impositiva. Decorre da própria existência do ato, em virtude da sua presunção de legitimidade.

c. Autoexecutoriedade

Consiste na possibilidade de certos atos serem executados imediata e diretamente pela


Administração, sem a necessidade de um provimento jurisdicional.

Em regra, a Administração Pública não precisa de um respaldo do Poder Judiciário para atuar;
ela edita o ato e o executa. Mas como toda boa regra, há exceções: multas e penalidades
pecuniárias não são autoexecutáveis. Elas devem ser executadas em processo judicial. Assim,
os atos que atingem o patrimônio não são autoexecutáveis.

Na autoexecutoriedade, a Administração emprega meios diretos de coerção, podendo se


socorrer inclusive de força física para tornar efetivas suas decisões. Assim, multas e
penalidades pecuniárias são, em verdade, meios indiretos de coerção.

A autoexecutoriedade não está presente em todos os atos, ela decorre de lei ou de situações
de urgência. A autoexecutoriedade afasta o controle jurisdicional prévio do ato administrativo
(isso é chamado de contraditório diferido ou postergado). Não há afastamento do controle
jurisdicional, pois o judiciário é inafastável, existe o afastamento prévio. Se a pessoa se sentir
prejudicada ela pode ir ao Judiciário.

IMPORTANTE: Existe uma exceção da exceção → as penalidades pecuniárias que podem ser
descontadas do contracheque são autoexecutáveis. É o caso de estatutos funcionais que
preveem hipóteses de ressarcimento pelos danos causados pelo agente público. Neste caso, é
possível o desconto em folha, se ordem judicial.

Classificações dos Atos Administrativos

• Quanto aos destinatários

a) ato geral: ato abstrato, impessoal, aplicável à coletividade como um todo. Não há
destinatário determinado.

b) ato individual: tem destinatário determinado. Se o ato só tem um destinatário (ex:


nomeação de servidor), será ato individual singular. Se o ato se dirige a mais de um cidadão
determinado (ex: que atinja todos os donos de bar), será individual plúrimo.
Observação: Uma portaria com a nomeação de 300 candidatos é considerado ato individual,
pois há a individualização das pessoas atingidas pelo ato. O ato individual se refere a indivíduos
específicos.

• Quanto ao alcance

a) atos internos: produz efeitos dentro da própria administração. (ex: determinação do horário
de lanche dos servidores da repartição X)

b) atos externos: produz efeitos fora da administração. Estes atos produzem efeitos dentro e
fora da administração (ex: determinação de que um órgão funcionará de 08 às 14h)

• Quanto ao grau de liberdade

a) ato vinculado: preenchidos os requisitos legais, o administrador é obrigado a praticar o ato.


Gera direito subjetivo ao administrado. Não há valoração de conveniência e oportunidade.

b) ato discricionário: há juízo de valor sobre o motivo e o objeto. Analisa a conveniência e


oportunidade. Apesar de ser discricionário, deve observar os limites da lei. O ato discricionário
pode aparecer das seguintes formas:

b.1) a lei apresenta alternativas ao administrador

b.2) a lei estabelece uma competência e não diz como exercer (ex: compete ao
prefeito zelar pelo paisagismo do município)

b.3) a lei utiliza conceitos vagos ou indeterminados que exigem que o conteúdo seja
preenchido.

IMPORTANTE: No que tange ao controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, este
controle é possível no que toca à legalidade dos atos. De outro lado, não se admite a análise
de conveniência e oportunidade dos atos administrativos, ou seja, não se pode apreciar o
mérito dos atos discricionários.

• Quanto ao objeto

a) atos de império: aqueles que a administração pratica valendo-se de sua supremacia em face
do particular. Ex: desapropriação.

b) atos de gestão: aqueles que a administração pratica em patamar de igualdade com o


particular.

A doutrina tem criticado essa classificação porque quando a administração pratica atos
em pé de igualdade com o particular, o regime jurídico será o privado, dessa forma, não será
ato administrativo e sim ato da administração.

c) atos de mero expediente: não possui qualquer conteúdo decisório.


• Quanto à formação

a) ato simples: aquele que se torna perfeito e acabado com uma simples manifestação de
vontade.

A manifestação de vontade que depende de um único agente será simples singular. Se


a manifestação da vontade depender de mais de um agente será simples colegiado (ex:
votação no senado).

b) ato composto: depende de mais de uma manifestação da vontade, que acontece dentro de
um mesmo órgão. A primeira manifestação é a principal, a segunda é secundária. Ex: ato
praticado pelo subordinado que depende de visto do superior (efeito prodrômico do ato
administrativo).

c) ato complexo: depende de mais de uma manifestação da vontade, que acontece em órgãos
diferentes, em patamar de igualdade. Ex: nomeação de dirigente de agência reguladora,
senado aprova e presidente nomeia (efeito prodrômico do ato administrativo).

Esse efeito que o primeiro ato causa é chamado de EFEITO PRODRÔMICO, é


exatamente o poder que o primeiro tem de exigir a prática do segundo; é a quebra da inércia.

• Quanto aos efeitos

a) atos constitutivos: Aqueles cuja manifestação jurídica de vontade da Administração faz


nascer um direito para o administrado. Exemplo: autorização de uso e permissão de uso.

b) Atos declaratórios: Aqueles que se limitam a afirmar a existência de um direito.

c) Atos ablatórios ou ablativos: São aqueles atos que restringem os direitos do administrado.
Exemplo: cassação de licença.

IMPORTANTE: Para que o ato administrativo esteja regularmente produzindo efeitos ele
precisa passar por três planos de análise: PERFEIÇÃO, VALIDADE E EFICÁCIA.

1. Ato Perfeito: É aquele que completou as etapas necessárias para sua existência
2. Ato válido: É aquele que está de acordo com a lei
3. Ato eficaz: É aquele que está apto a produzir os seus efeitos

Há ainda os que mencionam o ATO EXEQUÍVEL, que seria aquele apto a produzir os seus
efeitos IMEDIATAMENTE.

Modalidades de Ato Administrativo

a) ATO NORMATIVO: é aquele que vai disciplinar/normatizar, sendo complementar à lei,


buscando sua fiel execução. Trata-se do exercício do poder regulamentar.

b) ATO ORDINATÓRIO: é aquele que vai organizar, que vai escalonar os quadros da
administração. É o exercício do poder hierárquico.
c) ATO ENUNCIATIVO: é aquele que apenas atesta, que certifica uma situação (Ex: parecer).
Não tem conteúdo decisório.

d) ATO NEGOCIAL: é aquele em que há uma coincidência da vontade do poder público com a
vontade do particular (Ex: permissão, autorização, licença).

e) ATO PUNITIVO: aquele que tem no seu conteúdo uma punição. Trata-se do exercício do
poder disciplinar ou do poder de polícia.

Convalidação dos Atos Administrativos

Durante um longo período o direito administrativo se utilizou da teoria monista (Hely Lopes
Meirelles e Diógenes Gasparini) para explicar as situações de vícios e invalidades em um
determinado ato administrativo. De acordo com essa teoria, diante de uma ilegalidade na
Administração Pública, só caberia uma conduta: a anulação do ato. Não se admitiam institutos
como a decadência e a convalidação, em respeito ao princípio da legalidade.

O problema é que essa teoria monista colocava em risco o princípio da segurança jurídica, ao
permitir a extinção de todos os efeitos produzidos por um ato administrativo, após o decurso
de um longo período.

Nessa esteira, surge a chamada teoria dualista, que, prestigiando o princípio da segurança
jurídica, passa a admitir institutos como a decadência e a convalidação no Direito
Administrativo.

Assim, a teoria dualista passa a admitir as chamadas “sanatórias” do ato administrativo,


entendidas como instrumentos que poderiam ser utilizados para a preservação dos efeitos de
um ato ilegal. Diogo de Figueiredo classifica essas “sanatórias” em duas espécies:

1) Sanatória involuntária: pressupõe o decurso de certo prazo, independente da vontade da


administração (relaciona-se ao instituto da decadência, encontrada, por exemplo, no art. 54 da
Lei 9784).

L9784, Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram
efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.

Exemplo: ato administrativo praticado por um servidor incompetente, o qual a Administração


pretende anular 10 anos depois. Tal vício já estaria sanado por decurso do tempo.

2) Sanatória voluntária: depende da vontade da Administração Pública. Relaciona-se com o


instituto da convalidação, mencionado no art. 55 da Lei 9784.

L9784, Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem
prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela
própria Administração.

Assim, existem alguns vícios que são sanáveis, permitindo a convalidação do ato. Segundo José
dos Santos Carvalho Filho, são três as formas de convalidação do ato administrativo:
➢ Ratificação
➢ Reforma
➢ Conversão

Os vícios relacionados à competência admitem convalidação, nesse caso chamada de


RATIFICAÇÃO, desde que não se trate de matéria de competência exclusiva, quando a
irregularidade será considerada insanável.
Ex: Ratificação pela autoridade competente, quando o ato é praticado por um agente
incompetente.
No tocante aos vícios relacionados à forma, a convalidação é possível desde que a mesma não
seja considerada essencial à validade do ato.
Ex: Ratificação por escrito de um ato verbal que não observou a formalidade exigida.
Já o objeto admite-se a CONVERSÃO, que é a transformação de um ato inválido em ato de
outra categoria, com efeitos retroativos à data do ato original.
Outra opção no caso do objeto seria a REFORMA, quando se tem um ato administrativo com
dois ou mais objetos, retira-se o objeto viciado e mantém os demais, que são válidos. A
reforma, portanto, só seria cabível para atos administrativos com objetos plúrimos.
CUIDADO! O instituto da conversão é muito parecido com o da reforma. Naquele, o poder
público inicialmente opera uma reforma, retirando a parte viciada e, posteriormente,
acrescenta outro objeto para o ato, que não era inicialmente previsto.
Ex: é concedido a um servidor férias e licença. Só que o servidor não tinha preenchido os
requisitos para as férias. Nesse caso, o poder público pode fazer uma reforma: edita um novo
ato administrativo, mantendo a parte válida (a licença) e retirando a parte inválida (as férias);

Ex: ato administrativo que promove 2 servidores distintos: X, por merecimento e Y, por
antiguidade no cargo. Posteriormente, a administração viu que Y não era o mais antigo na
carreira. Assim, primeiro faz uma reforma, mantendo a parte valida (promoção do servidor X
por merecimento) e retirando a parte inválida (promoção do servidor Y por antiguidade). Mas
também inclui no ato um novo objeto, que é a promoção do servidor Z, que de fato era o mais
antigo.

Sobre o tema, convém transcrever as claras lições de José dos Santos Carvalho Filho:
“Há três formas de convalidação. A primeira é a ratificação. Na definição de MARCELO
CAETANO, “é o acto administrativo pelo qual o órgão competente decide sanar um
acto inválido anteriormente praticado, suprindo a ilegalidade que o vicia”. A
autoridade que deve ratificar pode ser a mesma que praticou o ato anterior ou um
superior hierárquico, mas o importante é que a lei lhe haja conferido essa competência
específica. Exemplo: um ato com vício de forma pode ser posteriormente ratificado
com a adoção da forma legal. O mesmo se dá em alguns casos de vício de
competência. Segundo a maioria dos autores, a ratificação é apropriada para
convalidar atos inquinados de vícios extrínsecos, como a competência e a forma, não
se aplicando, contudo, ao motivo, ao objeto e à finalidade.

A segunda é a reforma. Esta forma de aproveitamento admite que novo ato suprima a
parte inválida do ato anterior, mantendo sua parte válida. Exemplo: ato anterior
concedia licença e férias a um servidor; se se verifica depois que não tinha direito à
licença, pratica-se novo ato retirando essa parte do ato anterior e se ratifica a parte
relativa às férias.

A última é a conversão, que se assemelha à reforma. Por meio dela a Administração,


depois de retirar a parte inválida do ato anterior, processa a sua substituição por
uma nova parte, de modo que o novo ato passa a conter a parte válida anterior e uma
nova parte, nascida esta com o ato de aproveitamento. Exemplo: um ato promoveu A e
B por merecimento e antiguidade, respectivamente; verificando após que não deveria
ser B mas C o promovido por antiguidade, pratica novo ato mantendo a promoção de A
(que não teve vício) e insere a de C, retirando a de B, por ser esta inválida.”

De acordo com a doutrina majoritária, NÃO podem ser convalidados vícios nos elementos
motivo e finalidade, tidos como insanáveis. Assim, somente admitiriam sanatória os vícios
nos elementos competência, forma e objeto.

Extinção do Ato Administrativo

Segundo José dos Santos, existem cinco formas de extinção dos atos administrativos:

a) extinção natural: é a que decorre do cumprimento normal dos efeitos do ato, findo o qual o
ato deixa de existir.

b) extinção subjetiva: é a que decorre do desaparecimento do sujeito que se beneficiou do ato.

c) extinção objetiva: é a que decorre do desaparecimento do objeto do ato.

d) caducidade: é a extinção que decorre do advento de nova legislação que impede a


permanência do ato.

e) contraposição: consiste na extinção de um ato administrativo válido, em decorrência da


edição de um outro ato posterior cujos efeitos são opostos ao seu (Ex: a exoneração de um
servidor derruba os efeitos de sua nomeação).

f) extinção volitiva: é a que decorre de uma manifestação de vontade. Pode ser de três
espécies

f.1) anulação: é a extinção do ato em virtude de um vício de legalidade. Para Hely


Lopes, ela é sempre obrigatória por força do princípio da legalidade. Já Seabra
Fagundes entende ser possível a sua manutenção, a despeito do vício, quando houver
prevalência do interesse público, o que seria aferido em juízo discricionário. José dos
Santos, a seu turno, possui posição intermediária, segundo a qual a regra é a
invalidação do ato, sendo excepcionalmente possível a sua manutenção, não por uma
discricionariedade, mas porque a única conduta juridicamente viável seria a
manutenção do ato. Haveria, assim, limites à invalidação do ato: 1) decurso do tempo;
e 2) consolidação dos efeitos produzidos, o que alguns autores denominam de teoria
do fato consumado. A anulação decorre, portanto, do controle de legalidade do ato,
podendo ser levada a efeito pelo Poder Judiciário e também pela própria
Administração Pública, por força do princípio da autotutela administrativa. Nesse
sentido,as Súmulas 356 e 473 do STF.

Súmula 356: "A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos”

Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
casos, a apreciação judicial”

f.2) revogação: é a extinção em razão do juízo de conveniência e oportunidade do


administrador. Não pode ser feita pelo Poder Judiciário, salvo nos casos em que o ato
decorra dele próprio, no exercício da função atípica administrativa. Seu fundamento é
sempre o interesse público.

Para José dos Santos, são insuscetíveis de revogação:

1. os atos que exauriram os seus efeitos;


2. os atos vinculados, porque em relação a estes o administrador não tem
liberdade de atuação;
3. os atos que geram direitos adquiridos, garantidos por preceito
constitucional (art. 5º, XXXVI, CF);
4. os atos integrativos de um procedimento administrativo, pela simples razão
de que se opera a preclusão do ato anterior pela prática do ato sucessivo;
5. os denominados meros atos administrativos, como os pareceres, certidões
e atestados.

f.3) cassação: é a extinção que decorre do descumprimento das condições


estabelecidas no ato pelo beneficiário. Trata-se de um ato vinculado, já que a cassação
só pode ocorrer nas hipóteses previstas em lei. Tal ato é ainda um ato sancionatório,
que pune aquele que descumpriu as condições para a subsistência do ato.

→ Quais os efeitos operados pela anulação e pela revogação?

A anulação opera efeitos ex tunc, retroagindo à data em que o ato foi praticado. Em
outras palavras, é como se o ato nunca tivesse existido, não produzindo efeitos.
A convalidação também opera efeitos ex tunc, retroagindo à data da prática do ato.
Desse modo, convalidado o ato (Ex: ratificação promovida pela autoridade
competente). É como se o vício também nunca tivesse existido.
Já na revogação, como o ato era válido, produzirá seus regulares efeitos até a data em
que foi revogado pela autoridade competente. Diz, então, que a revogação possui
efeitos “ex nunc” (dali para frente).

ANULAÇÃO REVOGAÇÃO
Vício de Legalidade Análise de conveniência e oportunidade
Efeitos “ex tunc” (retroativos) Efeitos “ex nunc” (dali para frente)
Questões Objetivas

(1) (FGV - TJ BA - Conciliador - 2023)


Guilherme, agente público, compareceu à sede da Administração Pública, postulando a
emissão de uma certidão versando sobre a sua situação funcional, sendo imediatamente
atendido.

Nesse cenário, a certidão é uma espécie de ato administrativo:

A) enunciativo;
B) ordinatório;
C) de controle;
D) negocial;
E) punitivo.

GABARITO: A
Conforme estudamos, ato enunciativo é aquele em que a Administração certifica, atesta uma
situação ou profere opinião quando for consultada como, por exemplo, o atestado, a certidão
e o parecer. Portanto, como a questão trata da emissão de certidão, estamos diante de um ato
enunciativo. Lembrando o que foi visto em nosso material:

a) ATO NORMATIVO: é aquele que vai disciplinar/normatizar, sendo complementar à lei,


buscando sua fiel execução. Trata-se do exercício do poder regulamentar.

b) ATO ORDINATÓRIO: é aquele que vai organizar, que vai escalonar os quadros da
administração. É o exercício do poder hierárquico.

c) ATO ENUNCIATIVO: é aquele que apenas atesta, que certifica uma situação (Ex: parecer,
certidão, etc.). Não tem conteúdo decisório.

d) ATO NEGOCIAL: é aquele em que há uma coincidência da vontade do poder público com a
vontade do particular (Ex: permissão, autorização, licença).

e) ATO PUNITIVO: aquele que tem no seu conteúdo uma punição. Trata-se do exercício do poder
disciplinar ou do poder de polícia.

(2) (FGV - TJ RN - Oficial de Justiça - Área Direito - 2023)


Em razão de notória inimizade com Marleci, Cleverson, autoridade administrativa
competente para conceder determinado ato administrativo vinculado, ficou muito feliz em
indeferir pedido por ela realizado. A respectiva negativa foi textualmente motivada de forma
clara, explícita e congruente, com a indicação dos documentos que Marleci deixou de juntar
para lograr o deferimento do ato, que realmente eram necessários e não foram
apresentados, mas ela está convicta de que Cleverson praticou o ato motivado por vingança.

Acerca dessa situação hipotética, é correto afirmar que o indeferimento do ato em questão:
A) está eivado de desvio de finalidade, que resulta da contaminação do móvel,
correspondente à satisfação de Cleverson pela negativa;
B) está eivado de excesso de poder, na medida em que Cleverson possui notória
inimizade com Marleci;
C) está eivado de vício insanável quanto ao motivo, que se confunde com o móvel na
situação descrita;
D) não possui vício, na medida em que não há necessidade de motivar o indeferimento
de ato vinculado;
E) não possui vício, considerando que o móvel não interferiu no motivo nem na
motivação necessária e adequada para tal negativa.

GABARITO: E
Selecionamos essa questão para o nosso material, pois o cerne da questão reside na distinção
entre móvel e motivo e, por vezes, a FGV se vale dessa distinção. Portanto, ela será
apresentada nesse momento:

O móvel do ato administrativo está presente nos atos discricionários e é a própria intenção do
agente, o elemento subjetivo do ato. O motivo, por sua vez, é pressuposto de fato e de direito
que exige a atuação administrativa, o elemento objetivo do ato administrativo.

Dito isso, perceba que, independentemente do ato ser praticado por Cleverson ou por
qualquer outra autoridade administrativa, ele seria indeferido da mesma forma, eis que não
foram apresentados por Marleci os documentos necessários para a prática do ato. A satisfação
pessoal de Cleverson (móvel do ato), não é suficiente para considerá-lo viciado, pois o ato foi
praticado de forma correta e dentro do que exige a lei. Diferente seria a situação se Cleverson,
a fim de se vingar da requerente, indeferisse o pedido de forma ilegal, tão somente com a
finalidade de satisfazer seu interesse privado, agindo em desconformidade com a lei. Aqui, o
ato seria ilegal e passível de recurso e responsabilização do agente público.

Dessa forma, podemos afirmar que o indeferimento do ato em questão não possui vício,
considerando que o móvel não interferiu no motivo nem na motivação necessária e
adequada para tal negativa.

(3) (FGV - DPE MS - Defensor Público Substituto - 2022)


João, observadas as formalidades legais, firmou ato de permissão de uso de bem público
com o Estado Alfa, para instalação e funcionamento de um restaurante em hospital
estadual, pelo prazo de 24 meses. Passados seis meses, o Estado alegou que iria instalar uma
nova sala de UTI no local onde o restaurante está localizado, razão pela qual revogou
unilateralmente a permissão de uso. Três meses depois, João logrou obter provas
irrefutáveis no sentido de que o Estado não instalou nem irá instalar a UTI no local.
Inconformado, João buscou assistência jurídica na Defensoria Pública, pretendendo
reassumir o restaurante.
Ao elaborar a petição judicial, o defensor público informou a João que pleitear judicialmente
a invalidação da revogação do ato de permissão é:
A) inviável, por se tratar de ato precário, mas cabe o ajuizamento de ação indenizatória
diante da extinção da permissão antes do prazo previsto;
B) inviável, por se tratar de ato discricionário, mas cabe o ajuizamento de ação
indenizatória diante da extinção da permissão antes do prazo previsto;
C) viável, eis que, com base no princípio da continuidade dos serviços públicos, João
tem direito de explorar o restaurante no prazo acordado, ainda que, de fato, o
Estado Alfa fosse instalar a UTI no local;
D) viável, eis que, apesar de ser um ato discricionário, aplica-se a teoria dos motivos
determinantes, de maneira que o Estado está vinculado à veracidade do motivo
fático que utilizou para a revogação.

GABARITO: D
Pela Teoria dos Motivos Determinantes, a validade do ato administrativo está vinculada à
existência e à veracidade dos motivos apontados como fundamentos para a sua adoção, a
sujeitar o ente público aos seus termos. Ou seja, conforme estudado neste material, por força
da teoria dos motivos determinantes, quando o agente público apresentar a motivação do ato,
ficará a ela vinculado, ainda que se trate de ato discricionário. Estando correta a alternativa D.

(4) (FGV - TJ MG - Juiz de Direito Substituto - 2022)


A Administração Pública pode
A) anular os próprios atos, se estiverem eivados de nulidade, desde que isso não atinja
a segurança jurídica.
B) anular os próprios atos, se estiverem eivados de nulidade, a qualquer tempo.
C) revogar os próprios atos, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
os direitos adquiridos.
D) revogar os próprios atos, por motivo de conveniência ou oportunidade, sem que isso
possa gerar quaisquer direitos.

GABARITO: C
Conforme estudado no material, a anulação do ato administrativo decorre do controle de
legalidade do ato, podendo ser levada a efeito pelo Poder Judiciário e também pela própria
Administração Pública, por força do princípio da autotutela administrativa. Vejamos o teor
dos artigos 53 e 54 da Lei nº 9.784/1999 e a Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal (STF),
que cuidam do instituto da AUTOTUTELA:

Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de
vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos,
contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.

Portanto, após a leitura dos artigos supraexpostos fala-se em ANULAÇÃO dos próprios atos,
quando há vício de legalidade, e fala-se em REVOGAÇÃO por motivo de conveniência ou
oportunidade. Logo, gabarito é letra C.

(5) (FGV - SEMSA - Especialista em Saúde - Área: Advogado - 2022)


O Município Ômega, após estudos estratégicos realizados pela Secretaria Municipal de
Saúde, usando critérios de oportunidade e conveniência, decidiu iniciar obras de construção
de dois novos postos de saúde no bairro A. Inconformada, a associação de moradores do
bairro B ajuizou ação civil pública, pleiteando que os postos de saúde sejam construídos no
bairro B, que conta com maior incidência de algumas doenças, como a dengue, mas não
considerou os estudos feitos pelo Município.

No caso em tela, em matéria de produção de efeitos jurídicos dos atos administrativos, a


pretensão da associação de moradores deve ser julgada
A) procedente, porque, em se tratando da escolha dos locais onde serão sediados os
postos de saúde de ato discricionário, o Poder Judiciário, em regra, deve analisar
tanto o mérito, como a legalidade do ato administrativo.
B) procedente, porque, em se tratando da escolha dos locais onde serão sediados os
postos de saúde de ato vinculado, o Poder Judiciário, em regra, deve adentrar à
análise somente do mérito administrativo e não de aspectos pertinentes à
legalidade do ato.
C) procedente, porque, em se tratando da escolha dos locais onde serão sediados os
postos de saúde de ato vinculado, ao Poder Judiciário cabe prestigiar o direito
fundamental à saúde.
D) improcedente, porque, em se tratando da escolha dos locais onde serão sediados os
postos de saúde de ato vinculado, o Poder Judiciário, em regra, não pode adentrar à
análise da legalidade formal do ato administrativo, se restringido ao controle do
mérito administrativo, pelo princípio da separação dos poderes.
E) improcedente, porque, em se tratando da escolha dos locais onde serão sediados os
postos de saúde de ato discricionário, o Poder Judiciário, em regra, não pode
analisar o mérito administrativo, mas apenas deve proceder ao controle da
legalidade do ato.

GABARITO: E
O enunciado da questão demonstra que a construção de dois novos postos de saúde por parte
do Município Ômega foi feita, após estudos estratégicos realizados pela Secretaria Municipal
de Saúde, com base em critérios de oportunidade e conveniência. Consequentemente, a ação
civil pública apresentada pela associação de moradores deve ser julgada improcedente, uma
vez que, em nosso ordenamento jurídico, o Poder Judiciário não pode analisar o mérito
administrativo, mas apenas deve proceder ao controle da legalidade do ato. E a decisão do
Município Ômega, que foi tomada com base em critérios de oportunidade e conveniência, é
um típico exemplo de ato discricionário, cujo mérito, conforme mencionado, não poder ser
analisado pelo Poder Judiciário.

(6) (FGV - SEMSA - Especialista em Saúde - Área: Advogado - 2022)


João, proprietário de imóvel situado ao lado de um Hospital Municipal, realizou construção
irregular em sua propriedade, ocupando parte de área pública em frente ao hospital, com
risco iminente de desabamento, sem obter qualquer licença para tal e ao arrepio dos
ditames legais sobre a matéria. O Município, observadas as cautelas e as formalidades
legais, diante da manifesta situação de urgência, promoveu a imediata demolição da
construção.

O atributo do ato administrativo que fez valer a decisão de demolição, sem necessidade de
prévia intervenção do Poder judiciário, é a
A) imperatividade, como meio direto de execução do ato administrativo, não devendo
ser oportunizado a João o contraditório diferido.
B) exigibilidade, como meio direto de execução do ato administrativo, devendo ser
oportunizado a João o prévio contraditório.
C) autoexecutoriedade, como meio direto de execução do ato administrativo, devendo
ser oportunizado a João o contraditório diferido.
D) tipicidade, como meio indireto de execução do ato administrativo, devendo ser
oportunizado a João o prévio contraditório.
E) coercibilidade, como meio indireto de execução do ato administrativo, devendo ser
oportunizado a João o contraditório diferido.

GABARITO: C
Estudamos em nosso material os atributos do ato administrativo, cerne da questão em tela.
Como o município promoveu a demolição sem quaisquer intervenções, fala-se aqui em
autoexecutoriedade, isto é, a execução direta do ato administrativo pela própria
Administração, independentemente de ordem judicial. São exemplos desse atributo as
interdições de atividades ilegais e obras clandestinas e a inutilização de gêneros impróprios
para o consumo.

(7) (FGV - TCE AM - Auditor - Área: Ministério Público de Contas - 2021)


O servidor público estadual do Amazonas João, insatisfeito com a decisão do Diretor do
Departamento de Recursos Humanos que lhe negou um benefício a que entendia ter direito,
ingressou com recurso administrativo. O servidor Antônio, autoridade competente para
julgamento do recurso, não deu provimento ao recurso interposto por João, mas não
motivou seu ato, deixando de indicar os fatos e os fundamentos jurídicos de sua decisão.

Levando em consideração que, à luz das normas de regência e da situação fática, João
realmente não tinha direito subjetivo ao benefício pleiteado, o ato administrativo de
desprovimento do recurso praticado por Antônio:
A) está viciado, por ilegalidade no elemento motivo;
B) está viciado, por ilegalidade no elemento forma;
C) está viciado, por ilegalidade no elemento finalidade;
D) não está viciado, pela teoria dos motivos determinantes;
E) não está viciado, pois o motivo do ato existe e é válido.

GABARITO: B
Estudamos os elementos do Ato Administrativo (lembrar do mnemônico COFIFOMOB)

COmpetência

FInalidade
ELEMENTOS DO ATO
ADMINISTRATIVO FOrma

Motivo

OBjeto

O Art. 50 da Lei 9784/99 afirma que “os atos administrativos deverão ser motivados, com
indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: V - decidam recursos
administrativos;”

Logo, o vício por ausência de motivação é vício na forma, e não no motivo. O motivo -
REQUISITO DO ATO - representa os pressupostos de fato (demonstração da situação fática e
jurídica que justificam a prática do ato), enquanto a MOTIVAÇÃO é a justificativa por escrito da
existência de tais pressupostos (exteriorização do motivo). Sendo, portanto, o gabarito a letra
B.

(8) (FGV - Câmara de Aracaju - Analista Legislativo - 2021)


O presidente da Câmara Municipal de Aracaju delegou, nos termos e limites da lei, a prática
de determinado ato administrativo para Ricardo, servidor público ocupante do cargo efetivo
de analista legislativo.
A citada delegação é um ato administrativo:
A) discricionário, pode ser revogada a qualquer tempo e não implica renúncia de
competência;
B) vinculado, pode ser revogada a qualquer tempo e implica renúncia de competência;
C) enunciativo, e não pode ser revogada a qualquer tempo, devendo aguardar o
transcurso do prazo de delegação;
D) de gestão, pode ser revogada a qualquer tempo e importa renúncia de competência;
E) de império, e não pode ser revogada a qualquer tempo, devendo aguardar o
transcurso do prazo de delegação.
GABARITO: A
Conforme estudado, a delegação é um ato administrativo discricionário (ou seja, baseado na
conveniência e oportunidade do poder público) que pode ser revogado a qualquer tempo e
não implicará renúncia de competência, visto que a competência é irrenunciável. Nessa linha,
a alternativa correta é a letra A.

Ainda, importante conhecer o texto da Lei nº 9.784/99:

“Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos


administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
delegação e avocação legalmente admitidos.

Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver


impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou
titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados,
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica,
social, econômica, jurídica ou territorial.

Art. 14 (...) § 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela


autoridade delegante.”

Diante disso, as demais alternativas apresentadas encontram-se incorretas, já que afirmam


que a delegação importa renúncia da competência e/ou não poderá ser revogada a qualquer
tempo. Ademais, trazem classificações nas quais não se enquadra o ato administrativo da
delegação. Relembremos as demais classificações dos atos administrativos:

“Os atos vinculados são aqueles em que a Administração não tem


liberdade de escolha. Uma vez comprovados os requisitos legais, a
edição do ato é obrigatória, nos exatos termos previstos na lei, como
ocorre com a licença para o funcionamento de estabelecimento
comercial ou para a construção de imóvel.”

“Os atos administrativos enunciativos são aqueles que enunciam


uma situação existente ou exprimem uma opinião. São atos
administrativos apenas do ponto de vista formal, uma vez que não
contêm manifestação da vontade administrativa.”

“Já os atos de gestão são aqueles em que a Administração atua


despida das prerrogativas decorrentes do regime jurídico
administrativo, a exemplo dos atos de administração dos bens e
serviços públicos e dos atos negociais com os particulares. Em outras
palavras, nos atos de gestão não há coerção sobre os destinatários,
de modo que estes atos se submetem a regime jurídico
predominantemente de direito privado.

Os atos de gestão, quando regularmente praticados, possuem


caráter vinculante e geram direitos subjetivos, o que se verifica, por
exemplo, quando uma autarquia aluga um imóvel que lhe pertence,
de forma a vincular a administração e o locatário aos termos do
contrato, gerando direitos para ambos.”
“Os atos de império são aqueles que a Administração pratica no uso
das prerrogativas tipicamente estatais (poder de império) para impô-
los de maneira unilateral e coercitiva aos seus servidores ou aos
administrados, tal como ocorre na desapropriação, na interdição de
estabelecimentos comerciais, na apreensão de alimentos
deteriorados etc.” (ALEXANDRE, Ricardo; DEUS, João de. Direito
Administrativo Esquematizado.1ª ed. São Paulo: Método, 2015.E-
book. Pgs. 385-400)

(9) (FGV - DPE RJ - Defensor Público - 2021)


Após constatar ilegalidades envolvendo a concessão pelo Estado do Rio de Janeiro do
benefício da gratuidade no transporte intermunicipal (ônibus intermunicipal, barcas, metrô
e trem) concedido há cerca de quatro anos aos estudantes do ensino fundamental e médio
das redes municipal e federal no deslocamento casa-escola-casa, o Estado do Rio de Janeiro
decidiu, em 04/05/2017, quinta-feira, interromper a concessão do benefício a partir da
segunda-feira, 08/05/2017. O(A) Defensor(a) Público(a) do Núcleo Especializado e Tutela
Coletiva de Fazenda Pública da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro é
procurado(a), na sexta-feira, 05/05/2017, por um coletivo de alunos que se viram impedidos
de exercer o seu direito fundamental à educação.

À luz do caso concreto e da teoria do ato administrativo, é correto afirmar que o Estado do
Rio de Janeiro:
A) poderia ter interrompido a concessão do benefício, uma vez que não decorreu o
prazo decadencial para a Administração Pública Estadual anular os seus atos, houve
tempo hábil para o exercício prévio da ampla defesa e do contraditório e os alunos
podiam ainda exercer o contraditório diferido. Ademais, a teor dos princípios da
legalidade, da autotutela administrativa e da supremacia do interesse público,
consideradas, ainda, as graves consequências econômicas que adviriam da
manutenção do benefício, era dever do Estado restaurar o status de legalidade;
B) não poderia, em atenção aos princípios constitucionais do devido processo legal,
segurança jurídica e proteção à confiança, ter cassado o benefício de forma abrupta,
pois que ele é fruído há anos pelos alunos e, como o transporte viabilizava o acesso
ao direito fundamental à educação, a cassação do benefício importaria em odioso
retrocesso no âmbito da implementação de relevante política pública social;
C) poderia ter anulado o benefício de tal forma, desde que o ato fosse devidamente
motivado, com a indicação expressa de suas consequências jurídicas e
administrativas e, ainda, as condições para que a regularização ocorresse de modo
proporcional e equânime, sem prejuízo aos interesses gerais;
D) não poderia ter anulado o benefício pois que, em função das peculiaridades do caso,
relacionado com a garantia do direito fundamental à educação, a interrupção do
benefício imporia aos alunos ônus ou perdas excessivos;
E) não poderia ter anulado o benefício porque a sua interrupção inviabiliza o acesso ao
direito fundamental à educação. Ademais, compete aos Municípios (e não ao
Estado) atuar prioritariamente no ensino fundamental.

GABARITO: D
Trata-se de uma questão extensa, que envolve diversos atributos do ato administrativo,
portanto, passemos a alisar cada alternativa:

A assertiva A está incorreta, pois, apesar de estar dentro do prazo decadencial e de se tratar
de ato envolvendo ilegalidade que caberia anulação, deve haver ponderação para a solução do
problema. Se anulação gerar mais prejuízos do que a manutenção, é melhor fazer a
estabilização dos efeitos do ato. Sem falar que os alunos não tiveram tempo para o exercício
prévio da ampla defesa, o que torna a afirmativa errada.

A assertiva B está incorreta, pois não é o caso de extinção do ato administrativo por cassação.
Esta ocorre quando a retirada do ato pelo poder público se dá em razão do descumprimento
das condições inicialmente impostas.

Por sua vez, a alternativa C também está incorreta porque não seria aconselhável a anulação já
que a interrupção do benefício geraria aos alunos perda maior do que se o ato fosse mantido.

Na mesma esteira, a assertiva E está incorreta e exigiria um conhecimento além da teoria do


ato administrativo - de acordo com o artigo 30, VI da CF: "Compete aos Municípios: VI -
manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação
infantil e de ensino fundamental". Ainda nesse sentido, o artigo 211,§3º da CF determina: "Os
Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio".

Portanto, nesse caso, como já explicado nas alternativas anteriores, a anulação do ato ilegal
geraria mais prejuízos que a sua manutenção, por isso seria melhor se os efeitos do ato fossem
estabilizados. A segurança jurídica não pode servir como escudo para validar situações
teratológicas que afrontem diretamente a ordem constitucional, mas deve amenizar as
circunstâncias que possam causar transtorno maiores, principalmente em casos como esse,
em que se discute direitos fundamentais. Assertiva correta, letra D.

(10) (FGV - FUNSAÚDE - Advogado - 2021)


João estacionou seu veículo em local proibido, qual seja, na calçada em frente à entrada de
veículos do Hospital estadual Alfa. Avalie as duas providências distintas que podem ser
adotadas pelo poder público, observadas as cautelas e procedimentos legais cabíveis:

1ª - Agentes públicos competentes aplicam multa a João, como meio indireto de coação.
2ª - Agentes públicos competentes guincham o carro de João, como meio direto de
execução do ato administrativo.

De acordo com a doutrina de Direito Administrativo, assinale a opção que apresenta os


atributos ou características do ato administrativo que diretamente ensejaram as duas
providências.
A) Imperatividade e exigibilidade.
B) Tipicidade e executoriedade.
C) Autoexecutoriedade e presunção de legitimidade.
D) Exigibilidade e autoexecutoriedade.
E) Presunção de veracidade e imperatividade.

GABARITO: D
Conforme estudamos, os atributos são qualidades ou características dos atos administrativos,
sendo certo que os atributos dos atos administrativos, conforme estudados, são:

I) presunção de legitimidade: é um atributo presente em todos os atos administrativos, quer


imponham obrigações, quer reconheçam ou confiram direitos aos administrados. Esse atributo
deflui da própria natureza do ato administrativo, está presente desde o nascimento do ato e
independe de norma legal que o preveja. Por meio desse atributo, presume-se que o ato está
em conformidade com a lei.

II) imperatividade: traduz a possibilidade de a administração pública, unilateralmente, criar


obrigações para os administrados, ou impor-lhes restrições.

III) autoexecutoriedade: aqueles que podem ser materialmente implementados pela


administração, diretamente, inclusive mediante o uso da força, se necessária, sem que a
administração precise obter autorização judicial previa.

IV) tipicidade: Segundo a Prof. Maria Sylvia Di Pietro, tipicidade "é o atributo pelo qual o ato
administrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela lei como aptas a
produzir determinados resultados".

Portanto, diante as classificações apresentadas, temos que a 1º situação demonstra a


exigibilidade e a 2ª, a autoexecutiriedade dos atos administrativos.

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