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DIREITO
PENAL III
PRÁTICA
FRANCISCA SÁ - COM COLABORAÇÃO DE
SOFIA RODRIGUES
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
2022/2023
Faculdade de Direito da Universidade do Porto 2022/23
NOTA INTRODUTÓRIA
Esta sebenta de Direito Penal III, disponibilizada pela Comissão de Curso dos
estudantes do 3º Ano da licenciatura em Direito da Faculdade de Direito da Universidade
do Porto no ano letivo 2022/2023, foi elaborada pela estudante Francisca Sá, com o apoio
e colaboração de Sofia Rodrigues, que elaborou os apontamentos semanais da Unidade
Curricular.
Esta sebenta contém a compilação das aulas práticas, lecionadas pela Dra. Tatiana
Santos e pelo Sr. Professor André Lamas Leite, relativas à matéria lecionada pelo mesmo
em sede de aulas teóricas. Além de se tratar de uma compilação das aulas práticas, este
documento possui ainda enquadramentos teóricos para ajudar os estudantes no processo
de estudo e enquadramento da matéria.
Bom estudo!
Índice
1. Introdução ............................................................................................................ 1
4. Penas Acessórias................................................................................................. 43
1. Introdução
O Ordenamento Jurídico Português contempla duas grandes reações criminais:
• Penas;
• Medidas de Segurança.
A pena baseia-se no princípio de culpa (não há pena sem culpa, mas pode haver culpa
sem pena, como disposto no artigo 74.º CP) ao passo que as medidas de segurança se
baseiam num pressuposto de perigosidade.
Reações Criminais
Penas Substitutivas
2. Penas Principais
Penas Principais
Com o Código de 1982, passamos a ter um único regime da pena de prisão à Toda
a pena de prisão é uma pena única e simples e de duração limitada e definida. A pena
de prisão é única por não haver formas diversificadas de prisão (antes existia uma
diferenciação entre pena de prisão maior e pena de prisão correcional) e simples porque
à condenação em pena de prisão não se ligam, por força da sua natureza, efeitos jurídicos
automáticos que vão além da sua execução à Proibição da automaticidade das penas
à Artigo 30.º CRP e 65.º CP.
Estes limites encontram exceções. Por vezes, a pena de prisão pode ser inferior a 1
mês, como pode acontecer por via da aplicação do artigo 49.º CP, bem como ser superior
a 20 anos, com o limite inultrapassável dos 25 anos à Artigo 41.º/2 e 3 CP. Tal limite
verifica-se nos casos em que a lei excecionalmente o prevê (Exemplo: Artigo 132.º CP)
ou nos casos de concurso de crimes, previstos no artigo 30.º e 77.º CP.
Âmbito de Aplicação
Enquanto pena principal, a pena de multa aparece na veste de multa autónoma, isto
é, encontra-se expressamente prevista para o sancionamento dos tipos de crime como
única espécie de pena e na veste de multa alternativa, aquela que se encontra
expressamente prevista para o sancionamento dos tipos de crime em alternativa à pena de
prisão.
Limites
Sistema da Multa Global à É fixado um valor exato que o condenado tem que
liquidar pela prática daquele tipo legal de crime. É um sistema de afastar porque não
permite adequar a pena de multa ao caso concreto. Exemplo: Quem praticar o crime x, é
condenado ao pagamento de 10.000€.
Sistema de Multa com Limite Mínimo e Máximo à Neste caso, apesar de haver
uma adaptação, é ainda de afastar este sistema, porque mistura dois conceitos, razões de
culpa e prevenção e a situação económica do condenado. Exemplo: Quem praticar o crime
x, é condenado entre 10.000€ e 100.000€.
Sistema dos Dias de Multa à Sistema que é usado em Portugal. Parte da ideia de
que a aplicação da pena de multa se faz em dois momentos diferentes, porque qualquer
pena, seja principal, acessória ou de substituição responde às 2 questões do artigo 71.º/1
CP à Culpa e Exigências de Prevenção. Portanto, temos a determinação do número de
dias de multa e a determinação da taxa diária, do quantitativo diário à Artigo 47.º/1 e 2
CP.
Determinação do Determinação da
número de dias taxa diária
Artigo 47.º/3 CP à Uma vez notificado para liquidar a pena de multa, o condenado
pode:
Para saber como é feita a conversão de dias de multa para horas de trabalho, por via
da remissão do artigo 48.º para o artigo 58.º CP, no nº 3 tem-se que “cada dia de prisão
fixado na sentença é substituído por uma hora de trabalho, no máximo de 480 horas”.
No caso do condenado não ter nem capacidade económica, nem capacidade para
trabalhar, é de lhe aplicar o artigo 49.º/3 CP à Conversão da pena de multa não paga em
prisão subsidiária. No entanto, a pena fica suspensa até ao limite máximo de 3 anos, não
sendo esta uma suspensão simples. O tribunal deve impor deveres ou regras de conduta
de conteúdo não económico ou financeiro. Nesta hipótese, a conversão dá-se pela redução
a 2/3 do tempo correspondente à pena de multa.
nos termos do artigo 47.º/2 CP, uma vez que o agente tem uma condição socioeconómica
muito desfavorável (vamos considerar que se trata de um sem-abrigo, numa condição
económica extrema).
O tribunal decide aplicar a pena de multa em detrimento da pena de prisão, pois esta
bastaria para realizar de forma adequada as finalidades da punição, de acordo com o artigo
70.º CP.
Contudo, mesmo o juiz estipulando a taxa diária mais baixa, nenhum sem abrigo tem
condições para pagar 500€ de multa. Por isso, é muito frequente que os juízes façam
aquilo que é uma entorse ao sistema. Provavelmente, a pena mais adequada a aplicar ao
caso concreto até seria os 100 dias, mas como o pagamento de 500€ é impossível para um
sem-abrigo, muitas vezes os juízes baixam a medida de pena mesmo que não seja a mais
adequada. Vamos considerar que no nosso caso o juiz em vez da aplicação da pena de
multa de 100 dias prevê uma pena de multa de 50 dias, portanto 250€ (mesmo assim
continua a ser um número elevado, para um sem-abrigo).
Esta decisão que o juiz toma já é executória? Depois de estipular a medida da pena,
o juiz procede ao depósito da decisão. Por via do artigo 411.º CPP, após o depósito da
decisão, as partes dispõem de 30 dias para interpor recurso. Assim sendo, a decisão
não é executória. Temos de esperar que transite em julgado.
Consideremos que a decisão foi depositada pelo juiz, no dia 02/03/2023. Temos de
contar trinta dias, para que ela transite em julgado. E como se contam esses trinta dias?
Nos termos do artigo 279.º/b) CC “Na contagem de qualquer prazo não se inclui o
dia, nem a hora, se o prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo
começa a correr”, pelo que o prazo começaria a contar-se a partir do dia 03/03/2023.
Para além disso, o prazo é contínuo, não se suspende nem nos feriados nem nos fim-
de-semanas, suspendendo-se apenas nas férias judiciais, se o processo não tiver natureza
urgente. Esta matéria está regulada no artigo 103.º e seguintes CPP. As férias judiciais
decorrem, de acordo com o artigo 28.º da Lei da Organização do Sistema Judiciário
Posto isto, os nossos 30 dias terminariam no dia 1 de abril, que calha a um sábado,
num dia não útil, e por isso, como decorre da regra de contagem de prazos em processo
penal, teríamos de esperar pelo próximo dia útil, que seria 3 de abril. Contudo, o Domingo
de Ramos é no dia 2 de abril, e, por isso, as férias judiciais este ano decorrem entre 3 de
abril e 10 de abril de 2023. Assim sendo, o último dia para interpor recurso seria o dia 11
de abril, que é a terça-feira subsequente à Páscoa.
Assim, o advogado ainda teria, para interpor recurso, a quarta-feira, dia 12 de abril,
em que pagava meia unidade de conta (51€), tinha também quinta-feira, dia 13 de abril
em que pagava uma unidade de conta (102€) e ainda tinha a sexta-feira, dia 14 de abril
em que pagava duas unidades de conta (204€). Logo, já com a benesse do artigo 107.º
CPP, esta decisão transita em julgado no dia 14 de abril. A partir daqui só se houvesse
um justo impedimento, um internamento hospitalar, por exemplo.
Consideremos agora que ninguém interpôs recurso. Então o que se segue? Segue-se
aquilo que se chama abrir vista ao Ministério Público (MP) à Traduz o ato pelo qual a
secretaria apresenta os autos ao MP para ele proferir despacho. Esta entidade, o MP, tem
uma série de funções que estudamos no processo penal, que estão previstas no artigo 53.º
CPP. Uma das suas funções é promover a execução das penas e medidas de segurança,
nos termos do artigo 53.º/2/e) CPP.
Nota: Quando os autos vão ser apresentados ao juiz chamamos conclusão, o processo
vai concluso ao juiz.
Assim, o procurador do MP verificava que não tinha sido interposto recurso, vai dizer
que nada tem a requerer, a secretaria tira a conta de custas (não vamos estudar agora à
Mas por curiosidade existe o Regulamento das Custas Processuais). É na própria conta
de custas que aparece a pena de multa, vamos imaginar que tinha sido 100 dias à taxa
diária mínima de 5€, a multa total é de 500€. A conta vai acompanhada da referência,
entidade e valor para se fazer o pagamento. Vão ser emitidas as vias de pagamento da
pena de multa e da unidade de conta em termos de custas.
Esta conta de custas tem de ser notificada ao arguido e ao seu defensor. Imaginemos
que o arguido foi notificado no dia 2 de maio de 2023 e o defensor só no dia 5 de maio.
De acordo com o artigo 113.º/1 CPP à Quando há datas diversas, o arguido beneficia do
prazo que termina mais tarde, neste caso, o do defensor. Será a partir daí que se começa
a contar o prazo para que o condenado faça alguma coisa. Que prazo é que a lei concede
e para quê?
Artigo 489.º CPP à “A multa é paga após o trânsito em julgado da decisão que a
impôs e pelo quantitativo nesta fixado, não podendo ser acrescida de quaisquer
adicionais”. O nº 2 diz que o prazo é de 15 dias para liquidar a pena de multa a contar da
notificação.
Sendo notificado no dia 5 de maio, então o condenado tem 15 dias para liquidar a
pena de multa, mas é importante ter em atenção que o pagamento não é a única forma de
liquidação. Outra questão a ter em conta é o facto de algumas vezes a conta de custas
poder apresentar erros à O Regulamento das Custas Processuais estabelece o prazo de
10 dias para reclamar da conta de custas. Por isso, no caso de a conta de custas apresentar
erros o condenado teria até 15 de maio, para reclamar à Mais uma vez se não for um dia
útil passa-se para o dia útil seguinte. Só aqui é que se começa a contar o prazo de 15 dias
do artigo 489º/2 CPP.
Dentro deste prazo ou se paga de uma só vez, ou o artigo 47.º/3 CP prevê que o
condenado caso se encontre numa situação desfavorável possa requerer:
É preciso, para ambas as situações, que o condenado alegue a sua situação económica
financeira desfavorável, ele tem de provar que não conseguiria pagar de uma só vez.
Mas ainda existe uma terceira hipótese à Ele pode liquidar a multa por trabalho,
nos termos do artigo 48.º CP (que remete para o artigo 58.º CP, esse sim uma verdadeira
pena de substituição), e, para isto não precisa de alegar a sua situação económica
financeira desfavorável. Uma pessoa pode ser muito rica e querer liquidar através da
prestação de trabalho. Nos termos do mesmo artigo um dia de multa corresponde a uma
hora de trabalho, com o limite de 480 horas. Serão então 100 horas de trabalho que o
nosso condenado vai ter de prestar. Pode trabalhar em qualquer altura, desde que não
ultrapasse as 8 horas por dia.
Vamos agora supor que este condenado não está a trabalhar porque não tem condições
de saúde para o fazer. O que pode acontecer? Durante estes 15 dias, não vai requerer
nenhuma das hipóteses do artigo 47.º/3 CP, uma vez que ele não consegue pagar nada.
Ele não vai fazer nada e passam os quinze dias. O que acontece? A Secretaria Judicial
verifica que findo os 15 dias, o condenado não pagou a pena de multa nem requereu nada.
Assim sendo, vai abrir vista ao MP. Muito provavelmente aquilo que o MP vai fazer é
requerer a aplicação do artigo 49.º/1 CP, a conversão da pena de multa em prisão
subsidiária reduzida a 2/3. Mas atenção à O MP vai promover, uma vez que ele não
decide nada.
Assim, o MP vai primeiro averiguar se existem bens suficientes para responder por
aquela multa, é o que resulta do artigo 491.º/1 CPP. Na penhora pode haver nomeação de
bens à penhora pelo executado. Em vez do agente de execução chegar à casa da pessoa e
penhorar os bens que entenda necessários, o executado pode dizer que prefere que lhe
penhorem o carro, por exemplo.
Claro que pode acontecer que o MP entenda, depois das averiguações necessárias,
não haver bens suscetíveis de penhora, logo não faz sentido promover a ação executiva
de bens. Consultada a base de dados, o condenado não desconta para a SS, não tem
inscrições no registo predial, automóvel, não é proprietário de nada, neste caso nem tem
sequer residência e, portanto, o MP diz que não há bens suficientes para a penhora.
Consequentemente o Procurador do MP vai promover nos termos do artigo 49.º/1 CP, a
conversão da pena de multa em prisão subsidiária reduzida a 2/3. Nas questões de penas,
o arredondamento é feito por defeito e não por excesso, pelo que seriam então 66 dias de
prisão subsidiária (2/3 de 100 dias).
Mas agora não acontecendo nada disto, e não sendo possível a execução patrimonial,
é convertida a pena de multa em prisão subsidiária. Anteriormente, os órgãos de polícia
criminal (OPC) tinham ordens para conduzir a pessoa ao estabelecimento prisional, que
seria imediatamente presa, tendo de cumprir os 66 dias de prisão subsidiária. Contudo, o
procedimento assim era inconstitucional. Numa situação como esta tem sempre de ser
ouvido o condenado. Ele pode ter algum motivo válido para não ter procedido ao
pagamento, por exemplo. E, por isso, não se pode já converter a multa em prisão
subsidiária. É um imperativo que resulta do artigo 32.º/1 CRP.
O nosso arguido vem dizer que é sem abrigo e não tem nada, junta outros colegas,
declaração da junta de freguesia e o juiz não tem dúvidas e, portanto, o defensor oficioso
pode lançar mão do artigo 49.º/3 CP à Mostra que o nosso sistema da multa como pena
principal permite que o condenado quando há a conversão da pena de multa em prisão
subsidiária peça a suspensão da prisão subsidiária, pelo prazo máximo de 3 anos mediante
injunções não económico-financeiras (mas tem que aguardar pelo despacho que
determina a conversão). Finda a suspensão, a pena de multa é declarada liquidada por via
desta forma.
Mas imaginemos que o condenado não justifica, mas o que faz é quando notificado
requer a liquidação por trabalho (Artigo 48.º CP). Portanto, começou por pedir o
pagamento em prestações, não cumpre e agora pede a aplicação do artigo 48.º CP. Os
tribunais admitem que isto possa ser deferido pelo tribunal que o condenou. O Sr.
Professor não concorda, parece que o condenado anda a brincar com o sistema, mas
entende-se que há que evitar a pena de prisão subsidiária, deve funcionar em ultima ratio.
Imaginemos que a pena fixada foi então os 100 dias à taxa diária de 5€. O condenado
pede o pagamento em 5 prestações, portanto de 100€ cada uma. Se pagou 1 prestação, os
100€, já cumpriu uma parte. Faltam 400€. Há que fazer uma regra de 3 simples:
x ------------------ 400€
x = 80 horas de trabalho
No Juízo Local Criminal do Porto, J3, A foi julgado e condenado pelo crime p. e
p. pelo artigo 143.º, n.º 1, em concurso efetivo com o delito do artigo 181.º, n.º 1,
ambos do CP, tendo o tribunal determinado a aplicação de uma pena única de 300 dias
à taxa diária de 5 €. A leitura e o depósito da sentença ocorreram em 4 de Setembro de
2019.
Vimos que na contagem de qualquer prazo, nos termos do artigo 279.º/b) CC, não se
inclui o dia, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo se começa a contar. Desta
forma, o dia 04/09/2019, não entra para a contagem do prazo. Dia 5 de setembro será o
primeiro dia para a contagem do prazo.
Depois disto, o que o Procurador da República fez foi, no dia 11 de outubro (aqui a
decisão já tinha transitado em julgado) por ordem verbal e não por escrito, requerer a
execução patrimonial dos bens do condenado. Já vimos que nos termos do artigo 53.º/2/e)
CPP, incumbe ao MP promover a execução das penas, mas quem decide é o Juiz do
Tribunal da Condenação. Portanto, o Procurador, sabendo que o condenado não tinha
liquidado a pena de multa, requer a execução patrimonial dos bens do condenado. Aquilo
que se segue é que o Escrivão de Direito (que é um funcionário judicial) abre conclusão
à Dra. Juíza para responder aquela promoção.
pronuncia-se dia 11 de outubro. Tinham passado apenas 4 dias. Ainda está a decorrer o
prazo para ele reclamar, ou para requerer outra forma de liquidação. Assim, o conteúdo
da decisão da Juíza deveria ser o indeferimento do requerido pelo Procurador uma vez
que o requerimento é extemporâneo. O que significa um requerimento extemporâneo?
Significa que foi apresentado fora do prazo.
Nota: Fora do prazo não quer dizer apenas para além do prazo, mas também antes do
prazo.
A partir de 22 de novembro é que passa a contar o prazo para ele liquidar a pena de
multa, nos termos do artigo 489.º/2 CPP, que são 15 dias. No dia 6/12/2019 teria
terminado este prazo, que calhou a uma sexta-feira. Ele tinha até este dia para liquidar a
pena de multa ou requerer outra forma de liquidação.
Contudo, o enunciado diz-nos que só no dia 12 de dezembro é que ele veio requerer
a substituição da multa por trabalho. Quando se diz que o Tribunal indeferiu o requerido
por ser extemporâneo, está correto. Não podemos esquecer que há uma possibilidade de
prática extemporânea de atos, nos termos do artigo 107.º-A CPP. O condenado tem os 3
dias úteis seguintes posteriores ao termo do prazo, para praticar o ato, mediante o
pagamento de uma multa. Assim, no nosso caso o condenado podia praticar este ato:
Não obstante, antes de se partir para esta forma de ultima ratio, ainda tem de se
verificar previamente, se existem bens suscetíveis de penhora, na esfera do condenado. O
Ministério Público tem de verificar se existem bens suficientes para serem penhorados à
Artigo 491.º/1 CPP. Se sim, com esse valor, o Estado vai acabar de liquidar a pena de
multa. Desta forma, a Sra. Juíza passou à frente uma fase que não deveria ter passado.
Se a Sra. Juíza tivesse procedido desta forma, o processo iria com vista ao Ministério
Público, e este iria promover a execução patrimonial, podendo chegar a 2 situações:
Mas voltando ao caso à O que o nosso condenado vem dizer é que ele terá direito a
uma determinada parte da herança da mãe, e por isso, com essa parte, irá usá-la para
liquidação da pena de multa. Isto pode acontecer? Não. Os bens em favor da herança não
podem ser usados para liquidação da pena de multa. A herança é um negócio unilateral,
onde há apenas uma prestação, onde não há sacrifício nenhum por parte do herdeiro.
Assim sendo, este pedido deveria ser também indeferido pelo tribunal. Ambos os
requerimentos foram apresentados dentro do prazo, mas ambos teriam de ser julgados
improcedentes.
Há algo que temos de dizer mais uma vez à Se diz no enunciado que o prazo para
liquidar a multa acabou no dia 6 de outubro, então, no dia 14, o condenado não podia
requerer nada. A partir daí tudo o que fosse requerido era extemporâneo. O que é certo é
que o juiz não se apercebeu e deferiu.
O que aconteceu é que foi aberta vista ao Ministério Público e este promoveu a
emissão de um mandado de detenção e o juiz deferiu o requerido. Mas antes disto, o
condenado poderia ainda ter requerido a aplicação do artigo 48.º CP à A substituição da
multa por trabalho. E depois disto, ainda havia a possibilidade da execução patrimonial
de bens.
Se olharmos para o artigo 489.º e seguintes CPP, em nenhum momento se diz que
existe uma obrigação de notificar o condenado. Mas o artigo 495.º CPP tem sido estendido
de uma forma unânime a todas as hipóteses em que há incumprimento do condenado. Ele
obriga a uma coisa simples à Cumprir o Princípio do Contraditório à É necessário
notificar o arguido para este vir justificar o porquê de não ter liquidado a pena de multa.
Também o artigo 61.º/1/b) CPP, assim o impõe à O arguido tem direito a ser ouvido pelo
Tribunal.
Mas é importante ter em atenção que o Ministério Público não pode emitir logo o
mandado de detenção, tem de promover a aplicação do artigo 49.º/1 CP. Mediante a
conversão para 2/3 dos 300 dias de multa, o condenado teria de cumprir 200 dias de prisão
subsidiária. Mas primeiro o Ministério Público, vai mandar notificar este despacho ao
condenado, e ele pode querer recorrer dele. Só depois de o despacho transitar em julgado,
depois de 30 dias, é que o Ministério Público pode emitir um mandado judicial.
x = 1275€
Este seria o valor que faltava liquidar à 325€ foi quanto ele conseguiu pagar com
um mês de prisão. Portanto, respondendo à questão à Primeiro ele não tinha de pagar os
1500€, mas sim 1275€.
E a cônjuge pode ser mandatada para pagar essa quantia? Sim, desde que não haja
dúvidas quanto à titularidade do dinheiro. Nestes casos, a Secretaria teria de aceitar.
Mas, a partir do momento em que paga com cheque bancário, a Secretaria podia, a
qualquer momento, pedir para visar o cheque. Com este mecanismo, o banco está a
garantir que na naquela conta existe aquela quantia, que fica logo cativa. Por isso, muitas
vezes neste tipo de negócios pede-se um cheque visado.
Concluindo, aquilo que acontece no nosso caso prático é que não era esse o valor a
liquidar, e o meio a pagar não pode suscitar duvidas. Além do mais, é claro que o Tribunal
competente para receber a quantia é o Tribunal da Condenação. Não há nenhuma
competência dos Tribunais de Execução das Penas. Os juízos de execução das penas são
juízos especializados.
Caso Prático nº 2
Proprietário do prédio urbano à Deve ser tido em conta? Sim, foi algo que foi
discutido no seio da comissão revisora do CP e houve duas grandes correntes:
• O Dr. Gomes da Silva defendia que não se podia ter em conta a riqueza de
natureza patrimonial, porque tal na prática seria um confisco, confisco esse
proibido pela CRP;
• Por outro lado, o Dr. Eduardo Correia defendia que mesmo sendo riqueza de
natureza imobiliária, poderia responder pela pena de multa, porque se não
haveria o contrassenso de alguém que não tem liquidez, não tem dinheiro, mas
tem uma série de bens no seu património, ser beneficiado com uma taxa diária
fixada no seu mínimo. Às vezes, quando o seu património estaria avaliado em
milhões de euros. É exigível a um condenado que não tenha liquidez que
venda ou arrende prédios, por exemplo, dos quais é proprietário.
Qual é o fundamento legal para o condenado ter pedido o pagamento diferido? Artigo
47.º/3 CP à Esta disposição permite que se peça um pagamento diferido, num prazo que
não pode exceder 1 ano. Para este pagamento diferido ser deferido exige-se que o
condenado alegue e prove que não tem capacidade para liquidar a pena de multa de uma
só vez.
Mas o condenado vem pedir a liquidação através do artigo 48.º CP. Quanto a isto
também vimos que os tribunais são permissivos em admitir que se transite de uma forma
de liquidação para outra. O prazo de 15 dias está respeitado para requerimento de outra
forma de liquidação. Respeitado esse prazo, é possível esta alternativa, que não funciona
como pena de substituição como sabemos.
Quanto à aplicação do artigo 48.º CP à Há que determinar quantas horas é que este
agente iria trabalhar. O agente foi condenado a pena de multa de 120 dias à taxa diária de
7,5€. Portanto 120 x 7,5 = 900€ (valor da pena de multa).
900 – 150 = 750€ à Liquidou 150€, portanto, faltam liquidar 750€. Como é que
convertemos? Trabalhamos não com o valor, mas sim com o número de dias.
x ------------------ 750€
x = 100 dias
Não cumpriria as 120h, mas sim as 100h que corresponderiam aos 100 dias de multa,
pelo que a resposta à segunda parte da questão seria que sim, há motivo para recorrer,
visto que o juiz se esqueceu de fazer o desconto do valor das prestações liquidadas que
se traduz num determinado número de horas. O tribunal não procedeu ao desconto das 2
prestações que o condenado tinha liquidado. Isto seria motivo para recurso, são menos
20h que o condenado teria de trabalhar.
Este caso tem por base uma situação real à Tínhamos uma senhora a cumprir pena
de prisão de 6 anos à ordem do processo X, que cometeu um crime dentro do
Estabelecimento Prisional (EP), a posse de arma dentro do EP, portanto, o mesmo crime
e foi condenada a uma pena de multa.
A reclusa nada requereu, mas juntou prova da sua situação económica precária. O
tribunal lançou mão do artigo 49.º/3 CP. Qual foi o pensamento do tribunal? Foi o
seguinte à Esta senhora não requereu nada, porque não podia liquidar por qualquer
forma, e então lanço mão do artigo 49.º/3 CP.
Para além disso, o tribunal suspende a execução da prisão subsidiária, mas o facto de
ser por 6 meses está incorreto, porque a lei diz que o período de suspensão tem de ser no
mínimo de 1 ano e no máximo de 3 anos à Artigo 49.º/3 CP à 2º erro do tribunal.
Por fim, diz o tribunal que não é uma suspensão simples, mas subordinada ao
cumprimento de regras de conduta de caráter não económico ou financeiro. Contudo, o
tribunal considera que a reclusa não pode ser sujeita a nenhuma regra de conduta por estar
no EP. Nunca poderia ser suspensão simples, porque a lei não o permite, é quase uma
questão de ser criativo, nem tinha de ser o tribunal, podia ser a Direção-Geral de
Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP). Não faz sentido esta decisão, isto introduziria
um fator de discriminação (Violação do artigo 13.º CRP) à Dar-se-ia um tratamento mais
favorável a quem estava preso do que às pessoas condenadas em liberdade à 3º erro do
tribunal.
Por isso, concluindo à Não são 120 dias de trabalho, mas sim 80 dias. O período de
suspensão não podia ser de 6 meses. E, ainda, não poderia ser uma suspensão simples,
uma vez que é possível aplicar regras de conduta mesmo a quem se encontra a cumprir
pena num estabelecimento prisional.
3. Penas de Substituição
São penas de substituição aquelas que são aplicadas em vez de uma pena principal.
Estas penas têm um lastro histórico que radica na segunda metade do século XIX.
Reconduzem-se ao tempo de descrença na pena de prisão como instrumento de
ressocialização do condenado à Chegou-se à conclusão de que as penas curtas de
prisão teriam efeitos criminógenos. A criação deste instituto tinha por base a ideia de
que haveria casos em que a mera ameaça do cumprimento de pena seria suficiente para o
condenado voltar a criar um sentimento de fidelidade ao direito.
• Ao agente tem de ser aplicada pena de multa em medida não superior a 240
dias à Artigo 60.º/1 CP;
• O dano tem de estar efetivamente reparado (reparado na medida em que é
possível) à Artigo 60.º/2 CP;
• O tribunal tem de concluir que as finalidades do artigo 40.º CP se cumprem
igualmente por via da admoestação à Artigo 60.º/2 CP.
Para além destes três requisitos, o artigo 60.º/3 CP diz-nos ainda que “Em regra, a
admoestação não é aplicada se o agente, nos 3 anos anteriores ao facto, tiver sido
condenado em qualquer pena, incluída a admoestação” à Neste caso, não havendo mais
nenhuma pena de substituição aplicável à pena de multa, terá de ser efetivamente aplicada
a pena principal.
Portanto, a primeira nota que cumpre fazer é que em Portugal a pena de multa pode
revestir uma de 2 formas à Pode ser uma pena principal ou uma pena de substituição da
pena de prisão.
De acordo com o artigo 45.º CP, existe no nosso ordenamento jurídico, uma
preferência em relação às penas de substituição, isto é, se a medida concreta da pena não
for superior a 1 ano, entende-se que deve ser substituída por outra, a não ser que tal não
seja possível à “exceto se a execução da prisão for exigida pela necessidade de prevenir
o consentimento de futuros crimes” à Princípio geral de substituição da pena de
prisão por pena não detentiva da liberdade.
A segunda nota que importa reforçar é que apesar das penas de substituição não serem
iguais às penas principais, elas devem representar uma igualdade normativa em relação
às penas principais. Se a pena principal tem um determinado quantum de perigosidade
para o agente, as penas de substituição não podem ser sentidas pela comunidade e pelo
concreto agente como uma espécie de descriminalização encapotada.
Por fim, fica a nota de que apesar de haver jurisprudência contrária, não há nenhuma
hierarquia das penas de substituição, não encontramos nenhuma preferência por uma
pena de substituição em detrimento de outra.
Para além disso, uma vez que a remissão para o artigo 47.º CP é total, as hipóteses
que o condenado tem de pedir o pagamento da pena de multa em prestações ou através
de pagamento diferido também se aplicam a esta pena de multa de substituição.
O artigo 45.º/2 CP prevê que no caso da multa não ser liquidada, a pena de
substituição é revogada e tem de se aplicar a pena principal. As penas de substituição
são penas sob a condição resolutiva de se cumprir a pena de prisão.
Por fim, há ainda a questão de saber se no caso desta pena de multa enquanto pena
de substituição, pode haver lugar à substituição por trabalho (Artigo 48.º CP). O STJ veio
dizer que apesar do artigo 45.º CP não remeter para o artigo 48.º CP, uma vez que a
revogação da pena de substituição e consequente cumprimento da pena principal deve
acontecer em ultima ratio, deve admitir-se também a possibilidade do artigo 48.º CP
como forma de liquidar a pena de multa de substituição. O Sr. Professor não concorda,
pois considera que o legislador acaba por diminuir a eficácia, certeza e efetivação das
penas de substituição.
Requisitos:
• Ao agente tem de ser aplicada uma pena de prisão não superior a 3 anos;
• O crime tem de ter sido cometido no exercício de profissão, função ou
atividade;
• Têm de estar cumpridas as finalidades da punição.
substituição é ainda revogada quando o agente cometer outro crime. Contudo, é preciso
que o tribunal chegue à conclusão de que as finalidades da pena não foram cumpridas,
isto é, não é pelo simples facto de o agente ser condenado por outro crime, que há
revogação automática da pena de substituição. A lei não nos dá nenhum critério, mas tem
se entendido que tem que ver com a natureza do crime ser próxima ou não da do crime
pelo qual o agente foi condenado em 1º lugar e que levou à aplicação da proibição do
exercício de profissão, função ou atividade.
Ademais, a alínea b) do nº 3 do artigo 46.º CP refere “cometer crime pelo qual venha
a ser condenado”, pelo que não basta a notícia da prática do crime, tem de haver
condenação com trânsito em julgado.
Requisitos:
Nos termos do artigo 50.º/5 CP, o tempo da suspensão não tem de ser
concretamente o tempo de medida da pena. Alguém que é condenado a 1 ano de pena
de prisão, pode precisar de estar mais tempo “à prova”. Os critérios que estão na base da
determinação do tempo de suspensão são diversos daqueles que determinam o tempo da
pena.
Nos termos do artigo 54.º/3 CP, o tribunal pode aplicar o regime de prova e
cumulativamente deveres e regras de conduta. Este regime é o instituto mais maleável.
Nota: O plano de reinserção social e o regime de prova são uma forma clara que
mostra que o nosso ordenamento jurídico se baseia na reinserção do agente na
comunidade.
Agora vamos imaginar que determinado condenado vê a sua pena suspensa com a
obrigação de frequentar uma série de programas ligados à prevenção do uso de drogas. O
condenado aparece numa sessão e não aparece mais. Nos termos do artigo 495.º CP, o
tribunal tem de notificar o condenado para vir prestar esclarecimentos que entenda
convenientes.
O trabalho como forma de cumprir uma pena é uma ideia muito antiga de recompensa
que o condenado presta para com a sociedade que feriu.
Esta pena de substituição tem uma particularidade à O trabalho não pode ser imposto
de forma alguma, pelo que é necessário o consentimento do condenado. Não podemos ter
ao nível da execução das penas trabalho obrigatório. Ele existe, mas é facultativo. É
aplicado de 2 formas:
Artigo 59.º/6 CP à Se o agente não conseguir prestar trabalho por causa que não lhe
seja imputável, o tribunal pode fazer uma de duas coisas:
No Juízo Local Criminal da Maia, J1, E foi condenado a 3 meses de prisão pela
prática de um crime p. e p. pelo art. 348.º, n.º 1, al. b), do CP.
Como é que se faz esta substituição de pena de prisão para uma pena de multa de
substituição? A juíza não fez à razão de 1 para 1, porque nesse caso, seriam 90 dias de
multa, baixou para 60 dias.
O artigo 45.º remete para o 47.º/1 que remete para o 71.º/1 CP à Remissão
sistemática.
Não há nenhuma regra de que a conversão tenha de ser à razão de 1 para 1, ainda que
durante um tempo tenha havido essa prática generalizada pelos tribunais e às vezes ainda
hoje. O que diz o Acórdão de Uniformização de Jurisprudência do STJ é que não há
nenhuma razão de conversão estabelecida na lei, mas aplica-se a que o tribunal considera
adequada tendo em conta os critérios de prevenção e culpa.
Não é normal reduzir, isto é o tribunal considerar que 90 dias de prisão equivaleriam
a 60 dias de multa, porque 1 dia de multa custa menos do que custa 1 dia de prisão, mas
não é ilegal, não há nada que impeça. Mas de facto, pode ser recorrível, não é uma questão
de legalidade, mas sim o facto de o juiz não ter tido uma correta determinação da medida
da pena.
Nota: No artigo 348.º CP, há lugar a pena de prisão ou pena de multa alternativa. O
juiz pode decidir logo pela multa ou escolher a pena de prisão e depois substituí-la. Parece
contrassenso, mas o juiz tem uma garantia, se ele não liquidar a pena de multa, vai preso.
O ordenamento fica mais protegido.
O condenado terá pago 2 prestações, não pagou mais e depois requer a substituição
por trabalho à Artigo 45.º/2 CP à A própria substituição da substituição.
Para os tribunais, que no fundo são quem decide, é possível a aplicação do artigo 48.º
CP, mas de facto em lado nenhum do artigo 45.º CP se diz que se pode aplicar o artigo
48.º CP. Contudo, existe um Acórdão de Uniformização de Jurisprudência (Relatora:
Helena Moniz) que afirma mais ou menos o seguinte à O princípio geral é de que a pena
de prisão deve ser a reação de ultima ratio (cuidado que agora já não falamos da pena de
multa como pena principal, mas sim como de substituição) e, por isso, apesar de na
verdade não haver no artigo 45.º nenhuma remissão para o artigo 48.º CP devemos
entender que pode também ser aplicável. Existe este Acórdão, mas não temos de
concordar com ele, não se trata de um assento, não tem força obrigatória geral.
Para o Sr. Professor não é uma interpretação aceitável, é contra legem, desrespeita
completamente o juiz que determinou a pena de substituição, porque o juiz aplicou a pena
de prisão, substituiu pela pena de multa e não pela pena de substituição do trabalho a
favor da comunidade, desrespeitamos o juiz da 1ª instância. Por outro lado, estamos a ir
contra a ideia da efetividade das penas de substituição, já são pouco respeitadas, desta
forma ainda menos.
Caso Prático nº 4
No dia 12/5/2016, F cometeu o crime p. e p. pelo art. 372.º, n.º 1, do CP. Julgado,
foi condenado a 4 anos de prisão suspensa na sua execução por 5 anos, por sentença
lida e depositada na secretaria no dia 18/11/2021.
Crime com medida concreta não superior a 5 anos à Artigo 50.º/1 CP à Verificado
Não há nada que censurar com os elementos que temos, não há fundamento para
recurso.
b) Suponha, agora, que a sentença é lida no dia 25/3/2022. A sua resposta seria
diferente?
Isto tem que ver com a sucessão de leis no tempo. Hoje não é importante. Com a
antiga redação do artigo 50.º/5 CP, poderia colocar-se esta questão, mas com alteração de
2021 regressámos ao sistema inicial.
c) Imagine que, tendo em conta as disposições conjugadas dos artigos 372.º, n.º 1,
e 374.º-B, n.º 1, al. b), ambos do CP, F era condenado a 2 anos de prisão, sendo a
mesma dispensada.
Z foi condenado a 3 anos de prisão suspensa na sua execução por 4 anos, pela
prática de um crime p. e p. pelo art. 152.º, n.º 2, al. a), do CP, mediante «o dever de
não se aproximar da vítima, pagar-lhe uma indemnização de 5.000 €, frequentar um
programa de prevenção de violência doméstica, tudo isto no âmbito de um plano de
reinserção social a elaborar por um técnico da DGRSP».
O que temos no presente caso prático é a aplicação de uma pena que caraterizamos
como uma pena de substituição, aplicada à pena principal de prisão à Suspensão da
execução da pena de prisão. O facto de a duração da pena de prisão ser de 3 anos e a
sua suspensão ser de 4 é admissível? Sim, nos termos do artigo 50.º/5 CP.
Podem conciliar-se deveres com regras de conduta? Sim à Artigo 50.º/3 CP. Tudo
pode ser conjugado, regime de prova, regras de conduta e deveres à Artigo 54.º/3 CP.
Tudo isto no âmbito de um plano de reinserção social à Não temos nada a censurar,
esta questão seria apenas para classificar o conteúdo da pena.
O agente foi condenado a 3 anos de prisão suspensa na sua execução por 4 anos e
como tinha passado metade do tempo, portanto, o condenado tinha cumprido metade da
pena principal, o tribunal procedeu ao desconto. Porém, não há qualquer tipo de
desconto quando há incumprimento da pena suspensa à Artigo 56.º/2 CP à O
condenado tem de cumprir a pena fixada na sentença final.
Não há qualquer desconto, o tribunal teria de cumprir os requisitos todos para poder
proceder à revogação e transitando, o despacho, em julgado, mandava emitir os mandados
de detenção e condução a EP para cumprimento total da pena.
Caso Prático nº 20
AA foi condenado a 1 ano de prisão pela prática do crime p. e p. pelo art. 270.º,
n.º 1, al. a), do CP. Durante o prazo para o recurso ordinário, o condenado requereu
que a pena fosse substituída por trabalho. O tribunal despachou favoravelmente,
constando o seguinte da fundamentação: «AA tem fracas condições económico-
financeiras, bem como baixa escolaridade, o que depõe no sentido de que o pretendido
pela prisão pode ser conseguido através de trabalho, o qual será de 390 horas, atenta a
elevada prevenção geral que o caso reclama».
O agente foi condenado a 1 ano de prisão e requereu que a pena fosse substituída por
trabalho, requereu a aplicação da PTFC. O requisito formal encontra-se preenchido (pena
de prisão não superior a 2 anos). Para além disso, à luz do artigo 58.º/5 CP, só há aplicação
desta pena com o consentimento do condenado. Caso contrário, seria uma violação à CRP
que impõe que ninguém pode ser obrigado a trabalhar.
O tribunal conclui que é possível aplicar à Não deveria ser com base nestes
fundamentos, mas sim como base nas finalidades do artigo 41.º CP.
O cálculo faz-se com base na razão de 1 para 1, com o limite máximo de 480 horas
à Artigo 58.º/3 CP, pelo que deveriam ser 365h e não 390h. Há um tratamento muito
benéfico quanto à pena de substituição do trabalho a favor da comunidade à O trabalho
tem muitas externalidades positivas para a sociedade e pode ter uma forte componente de
prevenção especial. É uma excelente pena de substituição, mas também por ser tão boa,
não devemos exagerar nos benefícios.
Sim à Artigo 59.º/5 CP. Podia ou não o tribunal concordar com a promoção, trata-
se de uma faculdade. A promoção é sustentada na lei, mas tal não significa que tenha de
ser seguida pelo juiz.
4. Penas Acessórias
As penas acessórias são aquelas que se aplicam cumuladas com uma pena principal,
seja ela de prisão ou de multa, isto porque as penas acessórias não cumprem por si só as
finalidades punitivas. São apenas um complemento.
No entanto, são verdadeiras penas, regem-se pelo artigo 71.º/1 CP, no sentido que se
aplicam em função das exigências de culpa e prevenção.
Artigo 65.º/2 CP à Quanto aos efeitos dos crimes à “A lei pode fazer corresponder
a certos crimes a proibição do exercício de determinados direitos ou profissões.”
Requisitos:
Para além destes requisitos, o facto tem de ter sido praticado com flagrante e grave
abuso da função ou dos deveres que lhe são inerentes e o agente tem de revelar
indignidade no exercício do cargo, de tal forma que a comunidade no seu conjunto já não
possa confiar naquele funcionário.
Para além deste caso, com a entrada em vigor da Lei 94/2021, que transpôs para a
nossa legislação a estratégia nacional anticorrupção 22-25, pode ainda ser aplicada esta
pena acessória quando o agente cometer crime de recebimento ou oferta indevidos de
vantagem ou corrupção cuja pena de prisão seja superior a 3 anos, mas o agente seja
dispensado de pena.
O nº 2 do artigo 66.º CP estende a aplicação desta pena acessória aqueles que não
sendo funcionários, exerçam funções reguladas pelo Estado (“profissões ou atividades
cujo exercício depender de título público ou de autorização ou homologação da
autoridade pública”).
O cumprimento de uma pena implica o não exercer da função que até então o
condenado exercia. As atividades ficam suspensas. O Dr. Figueiredo Dias defende que
tal é um efeito evidente da pena e não uma verdadeira pena acessória.
b) Por crime cometido com utilização de veículo e cuja execução tiver sido por
este facilitada de forma relevante; ou
Até 2013 existia uma lacuna na nossa lei, no sentido em que esta pena acessória era
apenas aplicada aos crimes previstos nos artigos 291.º e 292.º CP, deixando de fora os
crimes de homicídio ou ofensa à integridade física cometidos no exercício da condução
de veículo com motor. Quanto a esses só tinha lugar a aplicação da pena principal.
Nos termos do artigo 467.º CPP, as penas podem começar a ser executadas a partir
do momento em que transitam em julgado, em que se tornam firmes no ordenamento
jurídico. Mas, se a um agente for aplicada a proibição de condução de um veículo pelo
período de 2 anos, a partir de que momento é que se começam a contar esses 2 anos?
Parte da doutrina entende que esse momento será o momento do depósito da decisão
final na secretaria à Artigo 411.º/1/b) CPP.
Por fim, cumpre ainda notar que este artigo tem sido alvo de muita polémica, no que
toca à obrigatoriedade, ou não, do tribunal aplicar esta pena quando se verifiquem os seus
requisitos. O STJ fixou jurisprudência no sentido de ser obrigatório, sustentando a sua
tese na ideia de que alguém que pratica estes crimes revela potencial risco para ameaçar
a segurança rodoviária e, por isso, deve ser-lhe aplicada esta pena acessória.
O agente pode ser proibido de exercer a sua profissão, quando praticar crimes
previstos nos artigos 163.º a 176º-A e cujo exercício envolva contacto regular com
menores, por um período entre 2 e 20 anos, quando a vítima não seja menor e, um período
entre 5 e 20 anos quando a vítima seja menor.
A medida abstrata desta pena é muito ampla, é muito larga a distância entre o mínimo
e o máximo, pelo que pode colocar-se em causa a proporcionalidade desta norma.
d) Suponha agora que F era biólogo e que cometeu, no exercício da sua profissão,
um crime p. e p. pelo art. 205.º, n.º 1, do CP contra o cliente G. Julgado, foi condenado
a 1 ano de prisão efetiva. Vislumbra algum fundamento para o recurso?
Foi aplicada a F uma pena de prisão efetiva de 1 ano, que tecnicamente qualificamos
como uma pena principal. Dando por correta a decisão de juiz, há um poder dever do juiz
no caso das penas de prisão não superiores a 5 anos, verificar se há alguma pena de
substituição que possa ao caso ser aplicada à Artigo 379.º/1/c) CPP.
Acreditando que o juiz fez essa prévia avaliação e que ao caso concreto não poderia
ser aplicada nenhuma pena de substituição, será que poderia ser ainda aplicada outra
pena? A questão é esta à Temos F que comete, no exercício da sua profissão, um crime
de abuso de confiança, do artigo 205.º CP e é um biólogo. Existe a possibilidade de se
aplicar a pena acessória de interdição do exercício de uma profissão, do artigo 66.º CP?
Portanto não estamos em sede de penas de substituição, mas sim em sede de penas
acessórias.
Este artigo aplica-se a quem é funcionário, nos termos do nº 1 do artigo 66.º CP. A
verdade é que um biólogo não é funcionário, se considerarmos a noção do artigo 386.º
CP, não temos referência de que este agente tivesse algum tipo de relação contratual com
o Estado. Não obstante, o artigo 66.º/2 CP, ressalva que não tem apenas como
destinatários os funcionários, mas também aqueles que exerçam profissões
regulamentadas, profissões que exijam um título público (advogados, médicos,
engenheiros, arquitetos, biólogos). As ordens profissionais atuam por delegação de
competências do Estado.
O que devíamos dizer é que o juiz teria de equacionar esta possibilidade de aplicação
da pena do artigo 66.º CP, apesar de não haver uma obrigatoriedade de a aplicar, uma vez
que nenhuma pena pode de forma automática privar o condenado dos seus direitos civis,
profissionais ou políticos, de acordo com o artigo 65.º CP. O tribunal deveria ter
equacionado então se se justificava a aplicação do artigo 65.º/2 CP que remete para o nº
1.
No entanto, para aplicação deste preceito, era necessário que o agente fosse
condenado a uma pena de prisão superior a 3 anos, e neste caso F só foi condenado a uma
pena de prisão de 1 ano, portanto, esta hipótese devia ser colocada, mas depois devíamos
afastá-la, porque falta, desde logo, o requisito formal. Para além dos outros requisitos,
como a dispensa trazida pela lei 94/2021 à Mesmo que seja aplicada dispensa de pena
pode ser aplicada esta pena acessória do artigo 66.º CP.
Não havia, pois, nenhum fundamento para o recurso. Quando muito, como não se diz
nada na sentença, teríamos de ver se o tribunal teria ponderado a aplicação de penas de
substituição, a mais adequada seria a do artigo 46.º CP, que se trata de afastar alguém do
exercício de uma profissão porque praticou um crime no seu exercício.
O que é que está aqui em causa? O tribunal diz que F, biólogo, já tinha sido condenado
4 vezes pelo mesmo crime de abuso de confiança. E daí pressupõe a sua maior
perigosidade. O facto de ele ter inscrições no Registo Criminal poderia relevar do ponto
de vista da reincidência, mas não temos dados suficientes no enunciado para saber se há
ou não reincidência, pelo que não podíamos falar deste aspeto.
CP. Tal facto novo introduzido não tem qualquer implicação, continua a não ser aplicado
o artigo 66.º CP. Era absolutamente ilegal esta decisão.
O tribunal quer ainda cumular a aplicação do artigo 66.º CP com o artigo 100.º CP,
mas tal não é possível de acordo com o artigo 66.º/5 CP. Este artigo 100.º é uma medida
de segurança não detentiva que se aplica a imputáveis e inimputáveis. O que não se pode
é cumular as duas sanções, porque o artigo 66.º configura uma pena baseada na culpa e o
artigo 100.º, uma medida de segurança baseada na perigosidade do agente. Uma vez que
o artigo 66.º não se podia aplicar, o que poderia ser aplicado era o artigo 100.º CP, não
temos elementos que permitam mostrar o contrário. F demonstrou que continua a exercer
funções com violação dos deveres a que está vinculado e isso é indício que poderá estar
na base de aplicação do artigo 100.º CP.
Concluindo, não poderia haver cumulação das duas sanções, sob pena de violação
do princípio ne bis in idem (Artigo 29.º/5 CRP). Na prática, estaríamos a punir com duas
sanções a mesma realidade de facto.
Caso Prático nº 5
Sabendo isto, e sendo a sentença proferida no dia 01.03.2013, a Lei 19/2013 ainda
não estava em vigor. Se não estava em vigor, há, desde logo, algo que devemos censurar
à A decisão que aplicou a obrigação de não conduzir durante 1 mês. Não estava previsto
na lei e, por isso, violar-se-ia o princípio da legalidade.
O que foi aqui aplicado foi pena de prisão de 1 ano substituída por pena suspensa
(Artigo 50.º e seguintes CP). Esta substituição seria classificada como? A pena suspensa
por ter 4 modalidades:
• Suspensão simples;
• Com imposição de deveres à O que carateriza os deveres é o facto de eles
serem voltados para o passado à Artigo 51.º CP;
• Com imposição de regras de conduta à Visam a reintegração do condenado
na sociedade à Artigo 52.º CP;
• Com regime de prova.
O tribunal não aplicou diretamente o artigo 69.º CP, mas sim o 52.º CP. Isto não é
permitido, seria uma fraude à lei, se a lei não queria associar a estes crimes uma inibição
de conduzir, não podemos por via da pena de substituição e aplicando uma regra de
conduta, acabar por fazê-lo. Temos de ver o sistema como um todo e aqui o sistema não
previa esta possibilidade. A decisão é nula, poderíamos recorrer.
Deste modo, a lei que é aplicável neste caso ao agente é a do momento da prática do
facto e nesse momento, o artigo 69.º CP ainda não tinha a redação atual. Não é pelo facto
de a sentença ser proferida já com a redação atual do artigo 69.º CP em vigor, que todos
os crimes que consubstanciam homicídios por negligência na condução automóvel
julgados a partir de 24.03.2013 passavam a ser punidos com esta pena acessória. Não
obstante, como refere o artigo 2.º/4 CP é possível a retroatividade in bonam partem. Não
é o nosso caso, visto que a redação atual do artigo seria desfavorável ao arguido. O
tribunal estava impedido de aplicar a pena acessória do artigo 69.º CP.
Caso Prático nº 6
Quanto à primeira parte da questão à Quando isto acontece, o agente pode ser punido
por um crime de desobediência à Artigo 348.º/1 CP. Se assim não fosse, todas as pessoas
se recusavam a fazer o teste de alcoolemia. Para além disso, o artigo 69.º/1/c) CP diz
expressamente que quem recusar submeter-se às “provas legalmente estabelecidas para
deteção de condução de veículo sob efeito de álcool, estupefacientes, substâncias
psicotrópicas ou produtos com efeito análogo”, para além da pena de prisão ou de multa
aplicável do artigo 348.º/1 CP, fica impedido de conduzir veículos a motor, por um
período entre 3 meses e 3 anos.
Não se pode dizer que há uma lacuna, porque se assim fosse, a aplicação analógica
seria favorável ao arguido, só se pode aplicar analogia se for in bonam partem. Parece
que a questão é saber se o artigo abrange apenas a recusa direta ou se abrange também o
aumento da velocidade e fuga à Estamos dentro da interpretação. Trata-se de uma
interpretação declarativa. Caso contrário, seria uma forma fácil de contornar a lei, fugindo
à sanção de ficar sem carta.
A Procuradora pediu a aplicação do artigo 69.º CP e a juíza não aplicou, com base
em duas justificações à O indivíduo era fiel ao direito e pelo facto de ele ser motorista
profissional, considerava a pena desproporcionada, mas isto não faz qualquer sentido à
Quando o motorista é profissional, ainda há uma obrigação acrescida de a pessoa não se
comportar dessa forma, há uma obrigação da pessoa não ter esse tipo de comportamento.
Mas mesmo que a pessoa não seja motorista profissional, esta argumentação de que a
pessoa precisa da carta não é atendível pelos tribunais.
Mas há ainda que saber se a juíza pode aplicar o artigo 69.º CP. Isto tem que ver com
o modo como os nossos tribunais têm interpretado o artigo 69.º/1 CP. O que diz o STJ é
que os tribunais são obrigados a aplicar a pena acessória do artigo 69.º CP, desde que
se verifique um dos seus requisitos.
Isto já foi apreciado várias vezes pelo TC e este não encontra nenhum problema de
constitucionalidade, uma vez que o artigo 65.º/2 CP permite que a determinados crimes
se possa associar a proibição do exercício de determinados direitos ou profissões.
Hoje não há uma divisão talhante entre ambas, mas sim uma cooperação funcional,
isto é, cooperam entre si na determinação da medida concreta da pena. Cabe ao legislador
definir qual a moldura penal abstrata, fixar as circunstâncias modificativas e pode fixar
qual o sentido da aplicação das reações criminais. Ao juiz, compete determinar, dentro
da moldura penal abstrata, a moldura penal concreta e dentro dessa a medida concreta da
pena.
O Sr. Professor André Lamas Leite não concorda com esta definição. Entende que
não se pode dizer que os fatores não contendem diretamente com o ilícito, culpa ou
punibilidade, porque a tentativa e comparticipação são problemas de ilicitude, desde logo.
Diz o Sr. Professor que as circunstâncias têm a ver com o tipo de crime e que o
seu grande efeito atua ao nível da MPA à É um instituto que tem tanta importância que
o legislador sentiu necessidade de o ligar a um aumento ou diminuição da pena.
Classificação
legislador é utilizar uma técnica que fica a meio termo entre as circunstâncias
modificativas nominadas e inominadas à Técnica dos exemplos-padrão.
Há um desvalor da ação, mas não do resultado. O agente é punido pela pena do crime
consumado, a qual é especialmente atenuada à Artigo 73.º CP:
d) Se o limite máximo da pena de prisão não for superior a 3 anos pode a mesma ser
substituída por multa, dentro dos limites gerais.”
O Sr. Professor André Lamas Leite sustenta uma teoria mista, portanto, entende que
ambos os fundamentos justificam a reincidência.
Requisitos da Reincidência
Requisitos Formais:
• O crime pelo qual o agente vai ser condenado e o crime pelo qual seja julgado
reincidente têm de ser punidos com, pelo menos, 6 meses de prisão efetiva;
• Todos os crimes têm de ser dolosos;
• Entre a data da prática do crime pelo qual o agente é julgado reincidente e
aquele pelo qual está agora a ser julgado não podem ter decorrido mais de 5
anos.
Nota: Uma pena que é objeto de uma medida de clemência releva para efeitos de
reincidência, isto porque, para todos os efeitos, quando o tribunal aplicou a pena era uma
pena efetiva superior a 6 meses.
Existem várias teorias que tentam conciliar as exigências de culpa e prevenção que
relevam nesta fase para a determinação da moldura penal concreta:
Diz-nos esta teoria que se deve só ter em conta considerações de culpa, uma vez que
as considerações de prevenção devem fazer-se notar quando muito ao nível da aplicação
das penas de substituição. É de rejeitar esta teoria porque seria ilegal.
O que nos diz esta teoria, defendida pelo Dr. Eduardo Correia é que a MPC é nos
dada por exigências de culpa, portanto, a baixo do limite mínimo significaria que a pena
já não responderia a exigências de culpa e a pena não pode em caso algum ultrapassar a
medida da culpa.
Sob pena de ser ilegal, o espaço conferido por esta teoria às exigências de prevenção
prende-se com o limite mínimo da MPC à Há um ponto que é o ponto de defesa do
ordenamento jurídico, um limiar mínimo abaixo do qual as exigências de prevenção não
estão acauteladas.
Quanto à prevenção especial, essa faz se sentir ao nível da medida concreta da pena
à Em último lugar, determinam a MCP, as exigências de prevenção especial.
Uma vez que as duas primeiras teorias são ilegais, só poderemos ter em conta as duas
últimas. Quer numa quer na outra, é preciso determinar o quantum exato de pena que vai
ser aplicada. Para isso, há que atender aos fatores de medida da pena à No artigo 71.º/2
CP temos um elenco exemplificativo. São factos da vida social que podem depor a favor
ou contra o agente e auxiliam o juiz na sua função. São dotados de grande ambivalência
essencialmente por 2 razões:
Em concreto:
J cometeu um crime contra propriedade na sua forma tentada. Este crime prossupõe
uma subtração podendo ser simples ou qualificada. Aplicamos o artigo 204.º/1/e) CP na
precisa medida em que há qualificação. Existe qualificação quando há aumento da
ilicitude ou da culpa ou de ambas.
Posto isto trabalhamos com MPA que prevê uma pena de prisão de 2 a 8 anos. Não
se prevê pena de multa pela gravidade do crime. Na opinião de Faria Costa estamos
perante uma hiperqualificação.
Quanto à idade de K seria aplicável o DL 401/82 na medida em que o seu artigo 1.º
prevê que é considerado jovem quem tenha entre 16 e 21 anos. K tinha 20 anos, logo
cumpria este requisito. Aplica-se assim, o artigo 4.º do respetivo regime que prevê a
possibilidade de atenuação especial da pena (Artigo 73.º CP). Na circunstância do agente
ter esta idade o legislador julga que a sua personalidade ainda não está desenvolvida e
como tal é possível a ressocialização.
Quanto à tentativa (Artigo 22.º e 23.º CP) à Existe tentativa quando não há
consumação do crime. Alguém tenta lesar um bem jurídico, mas por motivo estranho à
sua vontade não consegue consumar. Há um desvalor de ação a que não se segue desvalor
de resultado. Não há punição da tentativa a título de negligência. A tentativa só funciona
em crimes dolosos.
Quanto à comparticipação (Artigo 26.º CP) importa referir que há duas categorias à
A autoria e a participação.
Autoria:
pena de prisão efetiva, (não acontece com pena de substituição) e que tenha sido superior
a 6 meses (multa não releva), ter transitado em julgado por condenação anterior e essa
condenação anterior tem de ter sido em pena de prisão superior a 6 meses por outro crime
doloso.
Quanto ao requisito material do artigo 75.º/1, parte final CP, se for de censurar a
condenação ou condenações anteriores não lhe terem servido de suficiente advertência
contra o crime.
Diz-se que nosso sistema é de politropia, mas o Sr. Professor Lamas Leite não
concorda, defendendo a homotropia mitigada, pois para averiguar este requisito da
suficiente advertência convoca-se a natureza do bem jurídico, então estamos perante
homotropia, mas também não é homotropia pura (que exige a violação do mesmo tipo
legal), porque se exige uma proximidade entre os bens jurídicos em causa.
Desta forma, em termos de MPA, tínhamos pena de prisão que tinha como limite
mínimo 2 anos e como limite máximo 8 anos. Vamos proceder à atenuação especial da
pena, prevista no artigo 73.º do CP
Com a cumplicidade, aplica-se o artigo 27.º/2 e o artigo 73.º CP. O mínimo continua
em 1 mês (porque não se pode atenuar mais) e o limite máximo vamos reduzir em 1/3
ficando em 3,56.
Com a tentativa, o artigo 23.º/2 opera uma remissão para o artigo 73.º do CP à Assim
mantém-se o limite mínimo em 1 mês e o limite máximo será reduzido novamente em
1/3, ficando em 2,38 anos.
Arredonda-se à 2,4 anos. Agora, vamos ter de calcular quanto equivale os 0,4 à 0,4
em termos mensais (0,4x12), perfaz 4,8.
Por fim, determinar quanto são os 0,8 à Os 0,8 são 24 dias tendo em conta os dias
(0,8x30). Assim a MPA seria de 1 mês a 2 anos, 4 meses e 24 dias.
Contudo, temos de fazer um exercício de comparação entre aquilo que foi a MCP
aplicável sem a reincidência e a MCP com a reincidência, isto porque o artigo 76.º/1 in
fine do CP prevê que a agravação não pode exceder a medida da pena mais grave aplicada
nas condenações anteriores.
MCP à 1 ano
Com a reincidência:
MCP à 2 anos
Assim, a diferença entre as MCP (MCP de 2 anos – MCP de 1 ano) é de 1 ano. Poder-
se-ia agravar em 1 ano, aplicando-se assim a MCP de 2 anos, desde que a mais elevada
das condenações anteriores não fosse superior a 1 ano. O caso prático não nos dá dados
quanto a este aspeto.
Ou seja, suponhamos que a mais elevada das condenações fora de 7 meses. Não se
poderia agravar em 1 ano, só se poderia agravar em 7 meses. Ou seja, em vez de se aplicar
a MCP de 2 anos, só poderíamos aplicar uma MCP de 1 ano e 7 meses. O intuito é limitar
a medida da agravação.
Caso Prático nº 9
No presente caso, temos um crime ao qual foi aplicado uma pena de prisão de 12 anos
e temos Certificado do Registo Criminal (CRC). A questão que se coloca é à Há ou não
há reincidência?
• Inscrição i
Vejamos os requisitos do artigo 75.º CP:
Quantos dias de prisão subsidiária cumpriu o agente? Portanto, a 300 dias de multa,
convertidos em prisão subsidiária, reduzida a 2/3, correspondem 200 dias à Artigo 49.º/1
CP.
Mas basta que haja reincidência em relação a 1 condenação, temos de as ver todas.
• Inscrição ii
Crime de abuso de confiança à Crime contra a propriedade.
Já vimos que não há uma regra geral para fazer a equiparação, o artigo 45.º CP manda
aplicar o artigo 47.º CP e, por sua vez, o artigo 47.º remete para o 71.º CP. Embora haja
a tendência de fazer a correspondência de 1 para 1, há um Acórdão Uniformizador de
Jurisprudência que determina que não tem de ser assim.
• Inscrição iii
Crime do artigo 276.º CP à Crime de instrumentos de escuta telefónica
(quantas pessoas são ouvidas?) à Nada tem de ver com a propriedade. Logo, mesmo que
os requisitos formais estivessem preenchidos, não há reincidência porque, desde logo,
falha o requisito material.
6. Concurso de Crimes
Artigo 30.º/1 e 77.º CP à Como é que se pune um agente que cometeu vários crimes?
O sistema português é um sistema de pena conjunta, na sub-modalidade de cúmulo
jurídico. Pena conjunta no sentido em que ao agente é aplicada uma pena única. No
entanto, previamente o tribunal tem de determinar cada uma das penas do respetivo crime
que está em concurso, pelo que cada uma das penas não perde a sua autonomia própria.
crimes, são aplicáveis as regras do artigo anterior, sendo a pena que já tiver sido
cumprida descontada no cumprimento da pena única aplicada ao concurso de crimes.”
à O artigo 78.º CP remete para o artigo 77.º CP.
Requisitos:
7. Crime Continuado
Artigo 30.º/2 CP à “Constitui um só crime continuado a realização plúrima do
mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crime que fundamentalmente protejam o
mesmo bem jurídico, executada por forma essencialmente homogénea e no quadro da
solicitação de uma mesma situação exterior que diminua consideravelmente a culpa do
agente.” à Trata-se da ficção legal de um único crime, mediante a verificação de
determinados pressupostos:
Assim, em relação ao primeiro furto, estamos perante um furto simples, nos termos
do artigo 203.º CP, cuja MPA é de 1 mês a 3 anos. O segundo furto consiste num furto
qualificado nos termos do artigo 204.º/2/e) CP, cuja MPA é de 2 a 8 anos e um terceiro
furto, também um furto qualificado ao abrigo do artigo 204.º/1/a) e 202.º/1/a) CP, cuja
MPA é de 1 mês até 5 anos.
Daqui constatamos que a MPA mais grave é a de 2 a 8 anos e é essa essa que vai
servir para a determinação da MCP. A nossa moldura penal concreta será fixada segundo
a teoria da moldura da prevenção, pela qual se vai atender às exigências de prevenção
e a culpa dará o limite máximo (5 a 7 anos) e a MCP será de 5 anos, atendendo aos fatores
da medida da pena.
Esta nova conduta dizia respeito a mais um furto e poderia ser subsumida ao furto
simples, nos termos do artigo 203.º CP ou não se entendendo como tal, seria furto
qualificado de acordo com o artigo 204.º/1/f) CP.
Na precisa medida em que a MPA subjacente não é a mais grave do que a aplicada,
o julgador não tem de refazer a medida, só teria de o fazer no caso de existir uma MPA
mais grave. Portanto, manter-se-ia a medida fixada em 5 anos.
Contudo, há uma posição na doutrina que tem vindo a ser defendida que é a de dizer
que esta nova conduta, apesar de a MPA ser a mesma, pode ser tida em conta como fator
da medida da pena, agravando-se a responsabilidade criminal, portanto, em vez de se
aplicar 5 anos, fixaríamos em 5 anos e 6 meses, por exemplo, tendo esta conduta agravado
a responsabilidade. No entanto, é preciso ter cuidado porque esta posição não consta no
seu direito constituído, apenas é uma posição no direito a constituir, não existe nem tem
base legal.
P foi condenado pela prática de um crime p. e p. pelo art. 372.º, n.º 1, do CP.
Na sentença lia-se: «a pena que o tribunal considera justa, adequada e proporcional é
de 3 anos de prisão, que entende dever ser efetiva, atentas as fortíssimas exigências
preventivas-gerais e especiais no caso sentidas. É exatamente tendo em conta este
aspeto que se não aplica o disposto no art. 374.º-B, n.º 5, do CP».
«1. O tribunal violou o art. 72.º do CP, na medida em que em momento algum
lhe fez referência e o instituto a que este inciso alude só se pode aplicar quando todos
os seus requisitos estão preenchidos.
2. Ora, no caso sub judice, a ilicitude e a culpa do arguido são apenas medianas,
pelo que deveria ter sido aplicado o art. 72.º do CP, tanto mais que este prevalece sobre
o art. 374.º-B, n.º 5, do mesmo diploma.».
Exemplo: No artigo 22.º CP está prevista a tentativa, sendo que no nº 2 do artigo 23.º
CP dispõe-se à “A tentativa é punível com a pena aplicável ao crime consumado,
especialmente atenuada”. Portanto, estamos perante um caso de atenuação obrigatória,
pelo que nos direcionamos logo para o artigo 73.º CP à O legislador di-lo expressamente.
Pode haver situações em que diz “pode ser especialmente atenuada” e nesse caso temos
uma atenuação facultativa do artigo 72.º CP.
Artigo 73.º CP à O mínimo da pena de prisão é reduzido a 1/5 se for igual ou superior
a 3 anos e ao mínimo legal se for inferior. O limite máximo é reduzido a 1/3.