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AUTARQUIA DO ENSINO SUPERIOR DE GARANHUNS (AESGA)

FACULDADES INTEGRADAS DE GARANHUNS (FACIGA)


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

MARIANNE SOUTO OLIVEIRA SILVA

MEDIDA DE SEGURANÇA PROVISÓRIA: ANÁLISE CRÍTICA DO CONFLITO


ENTRE A SÚMULA 527 DO STJ E O CÓDIGO PENAL

GARANHUNS
2023
MARIANNE SOUTO OLIVEIRA SILVA

MEDIDA DE SEGURANÇA PROVISÓRIA: ANÁLISE CRÍTICA DO CONFLITO


ENTRE A SÚMULA 527 DO STJ E O CÓDIGO PENAL

Monografia entregue à Autarquia do


Ensino Superior de Garanhuns (AESGA),
como pré-requisito para conclusão do
Curso de Direito, das Faculdades
Integradas de Garanhuns (FACIGA).

Orientador: Prof. Esp. Marinalva S. de


Almeida.

GARANHUNS
2023
MARIANNE SOUTO OLIVEIRA SILVA

MEDIDA DE SEGURANÇA PROVISÓRIA: ANÁLISE CRÍTICA DO CONFLITO


ENTRE A SÚMULA 527 DO STJ E O CÓDIGO PENAL

BANCA EXAMINADORA

Monografia entregue à Autarquia do Ensino Superior de Garanhuns (AESGA),


como pré-requisito para conclusão do Curso de Direito, das Faculdades Integradas
de Garanhuns (FACIGA).

Aluno(a) aprovado(a) em ______ de novembro de 2023.

___________________________________________

Prof.(a) Orientador(a). Esp. Marinalva S. de Almeida

___________________________________________

Prof.(a) Examinador 1

___________________________________________

Prof.(a) Examinador 2
EM CONSTRUÇÃO...
Dedico este trabalho, primordialmente a
Deus e também a todos que não me
deixaram desistir, contribuíram e me
acolheram no decurso dessa longa
jornada de estudo.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que me concedeu e proporcionou as condições


necessárias para não desistir dessa jornada de estudos. Tudo o que na, minha
curta visão, seria apenas um grande e dubitável sonho, foi convertido em
realidade.
Agradeço a minha família, por estar sempre ao meu lado em todas as
circunstâncias. Em especial a minha avó materna, Luzia Souto de Oliveira,
agradeço por ter visto em mim potencial, por ter investido na minha educação,
por ter sonhado comigo desde muito antes da conclusão desta graduação. Vovó,
conseguimos juntas!
Estendo meus agradecimentos a todos que contribuíram durante esses
anos, minha família da vida, obrigada por cada atitude, palavra recíproca e
agraciada de verdades. Meu agradecimento especial à minha orientadora e
professora, Marinalva S. de Almeida, a qual é um exemplo de profissional a ser
seguido, por me acolher de maneira tão fraterna e carinhosa, por seus conselhos
dos quais levarei para minha vida, direcionamentos e ensinamentos que me
incentivaram a não desistir, que tanto me marcou e ao longo deste trabalho e
durante o curso. Foram essenciais para a construção desta pesquisa.
RESUMO

EM CONSTRUÇÃO...
LISTA DE SIGLAS

EM CONSTRUÇÃO...
SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.................................................................................. 09
2 DA PENA E DA MEDIDA DE SEGURANÇA.......................................................... 11
2.1. Conceito e espécies de pena ........................................................................... 11
2.2. Conceito, elementos e causas de exclusão da culpabilidade ......................
13
2.3. Conceito de inimputabilidade e semi-imputabilidade ……............................ 14
2.4 Diferenças entre pena e medida de segurança …………...............................
2.5 Conceito, requisitos e espécies de medida de segurança…………………..
19
3 DA MEDIDA DE SEGURANÇA …………………....................................................
20
3.1 Antecedentes históricos …………….................................................................
22
3.2 Conceito e espécies de periculosidade ……………………………...................
25
3.3 Princípios gerais da medida de segurança ……..............................................
3.4 Da medida de segurança provisória …………………………….........................
27
3.5 Regras da medida de segurança ......................................................................
4 MEDIDA DE SEGURANÇA PROVISÓRIA: A SÚMULA 527 DE 18/05/2015 DO
29
STJ E SEUS RISCOS PARA A SOCIEDADE …………………………......................
4.1 Do incidente de insanidade mental e do exame de cessação de 29
periculosidade ..........................................................................................................
4.2 Da medida de segurança de segurança de tratamento ambulatorial ........... 32
4.3 Da medida de segurança de internação ..........................................................
33
4.4 Prazo de execução da medida de segurança no Código Penal: posições
doutrinárias e jurisprudenciais …….......................................................................
34
4.5 A Súmula 527 do STJ: pontos positivos e negativos 39
………………………….
5 METODOLOGIA .....................................................................................................
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 40
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 42
9

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

No Direito Penal Brasileiro o princípio da fragmentariedade ou intervenção


mínima, como também é conhecido, subsidiariedade ou última ratio preconiza que o
Direito Penal é o ramo do direito utilizado para resolver os conflitos sociais, quando
outros ramos do Direito não conseguem a pacificação, dada a gravidade da conduta,
já pelo princípio da proporcionalidade entende-se que a sanção penal deve ser
proporcional à gravidade do delito praticado pelo agente.

No ordenamento brasileiro, a aplicação da pena ou medida de segurança, que


constituem as sanções penais, tem pressupostos diferentes, enquanto a imposição
da pena tem a culpabilidade como requisito básico para a sua aplicação, o
pressuposto para aplicação da medida de segurança é a periculosidade. Entende-se
como periculosidade a possibilidade de um agente tido como inimputável ou semi-
imputável voltar a delinquir. O que significa dizer que, tendo em vista as condições
do indivíduo, no momento do fato criminoso (ação ou omissão) apresentar doenças
ou quadros de desenvolvimento mental incompleto ou retardado devidamente
comprovadas por uma perícia médica, após o cumprimento das regras processuais,
será o mesmo submetido à medida de segurança cabível.

A Súmula 527, de 18/05/2015 do STJ, determina que a execução das


medidas de segurança, não pode ultrapassar a pena máxima cominada para o crime
praticado ao inimputável ou semi-imputável, divergindo do disposto no § 1º do art. 97
do Código Penal que determina que o cumprimento da internação ou tratamento
ambulatorial, que são espécies de medida de segurança será por tempo
indeterminado, ou seja, só será extinta após a plena recuperação do inimputável ou
semi-imputável.

Diante do exposto, surge a seguinte pergunta: Tendo em vista a medida de


segurança de internação, em decorrência de grave doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, quais medidas devem ser
tomadas para proteger a família e a sociedade, diante dos efeitos da Súmula 527 do
STJ?

Este trabalho justifica-se pela suma importância em questionar se a Súmula


527 do STJ deve continuar sendo aplicada no caso concreto, para determinar o
10

período em que o agente inimputável ou semi-imputável deve permanecer internado,


tendo em vista que a extinção obrigatória da medida de segurança que obedecerá a
pena máxima cominada ao crime praticado pelo agente, poderá prejudicar o próprio
autor da infração penal, submetido à medida de segurança de internação, além dos
seus familiares e da própria sociedade.

Desta forma, o presente estudo tem como objetivo geral analisar a eficácia da
Súmula 527 do STJ, que contraria o Código Penal ao determinar o tempo máximo
de execução da medida de segurança de internação.

E como objetivos específicos expor os antecedentes históricos de aplicação


da medida de segurança; discorrer sobre as penas e as medidas de segurança;
abordar conceito, pressupostos e espécies da medida de segurança; estabelecer a
diferença entre internação e tratamento ambulatorial; especificar as etapas do
Incidente de Insanidade Mental; identificar as estruturas básicas de saúde que o
Estado oferece aos agentes inimputáveis e semi-imputáveis; definir os pontos
positivos e negativos da Súmula 527 e comparar com o Código Penal e demonstrar
o alcance jurídico e social da Súmula 527 de 18/05/2015 do STJ.

A metodologia adotada para a elaboração do trabalho foi a de pesquisa


descritiva e bibliográfica, com dados advindos da doutrina, legislação, jurisprudência,
artigos científicos e sites seguros e confiáveis.

O segundo capítulo traz o conceito e espécies de pena, o conceito dos


elementos e causas de exclusão da culpabilidade, conceito inimputabilidade e semi-
imputabilidade, o conceito, requisitos e espécies de medida de segurança e, além do
conceito, as espécies de periculosidade.

No terceiro capítulo, serão expostos os antecedentes históricos, conceito e


espécies de periculosidade, bem como, os princípios gerais e pressupostos da
medida de segurança, a medida de segurança provisória e, as regras da medida de
segurança.

No quarto capítulo, será feita uma abordagem acerca da a aplicação da


súmula 527 do STJ, do Incidente de Insanidade Mental e do exame de cessação de
periculosidade, da medida de segurança de tratamento ambulatorial, da medida de
segurança de internação, o prazo de execução da medida de segurança no Código
11

Penal; posições doutrinárias e jurisprudenciais e, os pontos positivos e negativos da


Súmula 527 do STJ.

No quinto capítulo, encontra-se qual a metodologia aplicada neste trabalho,


tendo como base a pesquisa bibliográfica; seguindo-se o sexto capítulo, com as
considerações finais e, por fim, as referências bibliográficas.
12

2 DA PENA E DA MEDIDA DE SEGURANÇA

O presente capítulo tem como principal objetivo analisar o conceito da pena e


suas espécies, elementos e causas da exclusão da culpabilidade e a caracterização
da periculosidade e suas espécies. No percurso do capítulo será feita uma
investigação a respeito da pena e da medida de segurança de acordo com alguns
doutrinadores e juristas.

É indispensável o destaque, ainda que conciso, dos conceitos, espécies e


elementos da medida de segurança para a distinção da aplicação da pena.

2.1 Conceito e espécies de pena

De acordo com o princípio nulla poena sine, a definição da pena está


expressamente prevista em dicionários formais, informais e jurídicos como uma
correção penal usada para repreender ou recompor uma ação considerada
reprovável.
No Direito Penal, a pena poderá ser aplicada quando o agente pratica alguma
infração penal, ou seja, constitui uma consequência jurídica, que, no devido
processo legal, será imposta pelo Estado, único detentor do jus puniendi em razão
da conduta delituosa praticada pelo infrator.
Nas palavras de Cléber Masson (2023, p.86) ‘’a sanção penal é a resposta
estatal no exercício do jus puniendi e após o devido processo legal, ao responsável
pela prática de um crime ou de uma contravenção penal’’.
Para Jesus (2012, p. 563) pena “é a sanção aflitiva imposta pelo Estado,
mediante ação penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição de seu ato
ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico”.
Importante acrescentar que a pena tem como principal finalidade evitar novos
delitos:

Na prevenção geral o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os


destinatários da norma penal, visando impedir que os membros da
sociedade pratiquem crimes. Na prevenção especial a pena visa o autor do
delito, retirando-o do meio social, impedindo-o de delinqüir e procurando
corrigi-lo (JESUS, 2013, p.563).
13

Capez (2023) adiciona ao conceito da pena o termo “reacomodação social”


do infrator, assim expondo:

Sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma sentença,
ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na restrição ou privação
de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao delinquente,
promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação
dirigida à coletividade. (CAPEZ, 2023 p. 165).

Sendo assim, a pena é uma espécie de sanção penal que se compõe na


privação de alguns bens jurídicos, consoante a existência do pressuposto da
culpabilidade do agente.
Tendo como pilar a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e
o Código Penal brasileiro, em seu artigo 32, dispõe que as penas podem ser,
inicialmente, privativas de liberdade, que se subdivide em três espécies previstas na
legislação: a pena de reclusão, de detenção e de prisão simples.
Sobre as penas privativas de liberdade, preleciona Masson (2023, p. 799): “é
a modalidade de sanção que retira do condenado o seu direito de locomoção, em
razão da prisão por tempo determinado.” A classificação doutrinária subdivide a
pena privativa de liberdade em pena de reclusão, detenção e prisão simples. Sobre
o conceito e as diferenças entre elas, Guilherme de Souza Nucci (2020, p. 351)
esclarece:

A pena de prisão simples é a destinada às contravenções penais,


significando que não pode ser cumprida em regime fechado, comportando
apenas os regimes semiaberto e aberto. Além disso, não se pode inserir o
contraventor condenado no mesmo lugar onde se encontrem os criminosos.
Quanto às diferenças entre as penas de reclusão e detenção, destinadas ao
crime, temos basicamente cinco: a) a reclusão é cumprida inicialmente nos
regimes fechado, semiaberto ou aberto; a detenção somente pode ter início
no regime semiaberto ou aberto (art. 33, caput, CP); b) a reclusão pode
acarretar como efeito da condenação a incapacidade para o exercício do
pátrio poder (atualmente, denominado, pelo Código Civil, poder familiar),
tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos a esse tipo de pena,
cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, filho,
filha ou outro descendente ou tutelado ou curatelado (art. 92, II, CP); c) a
reclusão propicia a internação nos casos de medida de segurança; a
detenção permite a aplicação do regime de tratamento ambulatorial (art. 97,
CP); d) a reclusão é cumprida em primeiro lugar (art. 69, caput, CP); e) a
reclusão é prevista para crimes mais graves; a detenção é reservada para
os mais leves, motivo pelo qual, no instante de criação do tipo penal
incriminador, o legislador sinaliza à sociedade a gravidade do delito.
14

As penas restritivas de direito são também chamadas de penas alternativas


por alguns autores, pois limitam o direito do agente sem encarcerá-lo. Geralmente,
após o preenchimento dos requisitos legais, são aplicadas nas sentenças
condenatórias referentes aos delitos de menor e médio potencial ofensivo, além das
contravenções penais.
No ordenamento jurídico a possibilidade de aplicação da pena restritiva de
direito está prevista no artigo 44 do Código Penal, in verbis:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as


privativas de liberdade, quando: I - aplicada pena privativa de liberdade não
superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for
culposo; II - o réu não for reincidente em crime doloso; III - a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem
como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja
suficiente. § 1 o (VETADO) § 2 o Na condenação igual ou inferior a um ano,
a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos;
se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por
uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. § 3
o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente
recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática
do mesmo crime. § 4 o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa
de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição
imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido
o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo
de trinta dias de detenção ou reclusão. § 5 o Sobrevindo condenação a
pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal
decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao
condenado cumprir a pena substitutiva anterior. (BRASIL,1940)

De acordo com o diploma legal as penas restritivas de direitos, detêm


natureza jurídica de sanções penais autônomas e substitutivas. A doutrina as
considera substitutivas sendo analisados o quantum da pena aplica e as
circunstâncias do crime.
O conceito de pena restritiva de direito é expresso por Nucci (2020, p. 540)
como:

Penas alternativas expressamente previstas em lei, tendo por fim evitar o


encarceramento de determinados criminosos, autores de infrações penais
consideradas mais leves, promovendo-lhes a recuperação através de
restrições a certos direitos. É o que Nilo Batista define como um movimento
denominado “fuga da pena”, iniciado a partir dos anos 1970, quando se
verificou, com maior evidência, o fracasso do tradicional sistema punitivo no
Brasil (Alternativas à prisão no Brasil, p. 76).
15

No mesmo sentido, ensina Masson (2023, p. 810):

As penas restritivas de direitos são também chamadas de “penas


alternativas”, pois têm o propósito de evitar a desnecessária imposição da
pena privativa de liberdade nas situações expressamente indicadas em lei,
relativas a indivíduos dotados de condições pessoais favoráveis e
envolvidos na prática de infrações penais de reduzida gravidade. Busca-se
a fuga da pena privativa de liberdade, reservada exclusivamente para 22
situações excepcionais, aplicando-se em seu lugar a restrição de um ou
mais direitos do condenado (grifos no original).

Em suma, a pena alternativa é uma pena menos gravosa, tendo em vista a


infração penal cometida e o período em que o condenado levará para refletir sobre a
sua conduta ilícita, dispensando-se a privação de sua liberdade, com aplicação de
uma pena que irá lhe impor uma restrição de direitos, capaz de promover a sua
ressocialização.
Consoante o artigo 43 do Código Penal, as penas restritivas de direito são
prestação pecuniária; perda de bens e valores; prestação de serviços à comunidade
ou a entidades públicas; interdição temporária de direitos e limitação de final de
semana.
É importante destacar que é possível converter a pena restritiva de direitos
aplicada, em caso de descumprimento das condições fixadas pelo juiz, de acordo
com o § 4º do art. 44 do Código Penal.
Além disso, a pena de multa também é classificada pela doutrina e pela
jurisprudência como pena alternativa, na hipótese em que substituir uma pena
privativa de liberdade, conforme disposição do § 2º do artigo 44 do Código Penal, e
dessa, é também incluída, como pena alternativa, substitutiva ou vicariante. A pena
de multa é forma de sanção, que incide sobre o patrimônio do apenado. Ou seja,
será feito um pagamento definido e fixado previamente por lei com seus critérios
para a realização do provento. Existe assim, distinção entre a multa e as penas
restritivas de direitos de prestação pecuniária e perda de valores, mencionadas no
diploma legal acima citado, pois a pena de multa não possui natureza de pena
restritiva de direitos.
Segundo Dotti (2013):

A multa, comparativamente com as demais penas, guarda as seguintes


características: a) não implica perda da liberdade e não tem o caráter
infamante como ocorre com a prisão; b) não restringe direitos como ocorre
com a prestação de serviços gratuitos e outras sanções restritivas de
direitos; c) deve ser proporcional às condições econômicas do condenado
(DOTTI, 2013, p. 601).
16

De acordo com Mirabete (2009) o valor do dia multa é fixado pelo juiz, não
podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mensal vigente à época do fato,
nem superior a cinco vezes esse salário.

O valor do dia multa é fixado pelo juiz, não podendo ser inferior a um
trigésimo do maior salário-mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem
superior a cinco vezes esse salário (art. 49, §1º). Isso significa que um dia
multa nunca poderá ser inferior à remuneração devida por um dia de
trabalho de acordo como o maior salário vigente ao tempo do fato, nem
superior ao quíntuplo da remuneração por um mês de trabalho (MIRABETE,
2009,p.275).

A execução da pena de multa, consoante a decisão do STF na apelação ( AP


470 QO-décima segunda / MG - MINAS GERAIS), deve ser executada pelo Ministério
Público:

Ementa: Execução da pena de multa. Legitimidade prioritária do Ministério


Público. Pedido de reconsideração apreciado em sede de Questão de
Ordem. 1. A Lei nº 9.268/1996, ao considerar a multa penal como dívida de
valor, não retirou dela o caráter de sanção criminal, que lhe é inerente por
força do art. 5º, XLVI, c, da Constituição Federal. 2. Como consequência, a
legitimação prioritária para a execução da multa penal é do Ministério
Público perante a Vara de Execuções Penais. 3. Por ser também dívida de
valor em face do Poder Público, a multa pode ser 23% subsidiariamente
cobrada pela Fazenda Pública, na Vara de Execução Fiscal, se o Ministério
Público não houver atuado em prazo razoável (90 dias). 4. Questão de
ordem que se resolve no sentido de manter a decisão impugnada por seus
próprios fundamentos. (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,13 de dezembro
de 2018, s/p).

É interessante ressaltar que a pena de multa pode ser aplicada


cumulativamente tanto com a pena privativa de liberdade quanto com as penas
restritivas de direitos.
Em síntese, o texto legal determina os limites máximos e mínimos da multa,
deixando à disposição do juiz a função de individualizá-la. Portanto, será levado em
consideração, no momento de determinar a soma total da pena, além das
circunstâncias judiciais, também as atenuantes e agravantes, o grau de culpa e
principalmente a situação econômica do condenado.
2.2 Conceito, elementos e causas de exclusão da culpabilidade
A culpabilidade é composta por um conceito social e jurídico, sendo este
consistente em um juízo exercido sobre reprovabilidade da conduta do agente,
considerando suas circunstâncias pessoais.
17

Com isso, preconiza Rogério Greco (2016, p. 379) que a “culpabilidade é o


juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada
pelo agente”.
Ou seja, não basta o juízo de censurabilidade e reprovação exercido sobre
alguém que praticou um fato típico e ilícito, também deve-se analisar a
reprovabilidade relacionada ao seu comportamento, item usado como critério
dosador de pena.
Esse entendimento está expresso no art. 59 do Código Penal ao discorrer
sobre a culpabilidade como um dos fundamentos para se estabelecer o quantum da
pena. Em conformidade com a doutrina majoritária, a culpabilidade é elemento do
conceito analítico de crime, ou seja, crime é fato típico, ilícito e culpável.
Portanto, a essência da culpabilidade está vinculada à causa da pena, ao
fundamento da pena e à medida em que essa pena poderá ser aplicada.
Isto posto, a Teoria Limitada da Culpabilidade, escolhida pelo Código Penal
brasileiro, traz a culpabilidade sendo composta por 3 elementos, sendo eles:
imputabilidade, o potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta
diversa.
Neste seguimento, a imputabilidade é a capacidade de entender o caráter
ilícito da conduta praticada. É necessário entender que o agente, no momento de
sua conduta, deve ter pleno controle sobre sua vontade.
Como bem profere Guilherme Nucci:

Se o agente não possui aptidão para entender a diferença entre o certo e o


errado, não poderá pautar-se por tal compreensão e terminará, vez ou
outra, praticando um fato típico e antijurídico sem que possa por isso ser
censurado, isto é, sem que possa sofrer juízo de culpabilidade (NUCCI,
2020, p. 241).

O Código Penal não conceitua imputabilidade objetivamente, mas de maneira


dedutiva e subjetiva pode-se captar seu conceito. Isso porque, o caput do artigo 26
manifesta a seguinte redação:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.(BRASIL,1940)
18

Consoante a redação do artigo supracitado, o dispositivo legal conclui que a


imputabilidade apresenta um aspecto intelectivo, que consiste na capacidade de
entendimento e outro aspecto volitivo, que é a faculdade de controlar e comandar a
própria vontade. Faltando um desses elementos, o agente não será considerado
responsável pelos seus atos, passando a ser considerado inimputável.
Apesar de não ter taxativamente uma previsão legal, o art. 21 do Código
Penal cita este elemento da culpabilidade:

Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do


fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminui-la de um
sexto a um terço. Parágrafo único – Considera-se evitável o erro se o
agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe
era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência (BRASIL,
1940).

Diante o exposto, potencial consciência da ilicitude refere-se à consciência


do agente de praticar uma conduta ilícita, ou seja, o indivíduo de acordo com suas
condições pessoais, entende a reprovabilidade da sua conduta ou o caráter ilícito do
fato.
Portanto, caso o agente pratique tal ato confiante que sua conduta é lícita
comete o erro de proibição.
Ademais, a exigibilidade da conduta diversa penal é um conceito jurídico que
se relaciona com a culpabilidade no direito penal. Em termos simples, a exigibilidade
da conduta diversa penal refere-se à capacidade do indivíduo de agir de forma
diferente, evitando cometer um crime. Esse conceito está relacionado com a
capacidade do agente de compreender o caráter ilícito de sua conduta e de agir de
acordo com essa compreensão.
Nucci sintetiza:
Ora, se não se pode reprovar a conduta desses agentes, porque ausente a
culpabilidade (seja por inimputabilidade, seja por falta de consciência
potencial de ilicitude, seja ainda por ausência de exigibilidade de conduta
conforme o Direito), é incabível dizer que são “criminosos”, mas deixam
apenas de receber pena. Se não há reprovação – censura – ao que fizeram,
não há crime, mas somente um injusto, que pode ou não dar margem a uma
sanção. A importância da culpabilidade se alarga no direito penal moderno,
e não diminui, de forma que é inconsistente deixá-la fora do conceito de
crime. Não fosse assim e poderíamos trivializar totalmente o conceito de
delito, lembrando-se que, levado ao extremo esse processo de
esvaziamento, até mesmo tipicidade e antijuridicidade – incluam-se nisso as
condições objetivas de punibilidade – não deixam de ser pressupostos de
19

aplicação da pena, pois, sem tais elementos não há delito, nem tampouco
punição.
Em síntese, para existir a culpabilidade além da conduta ser típica e ilícita, é
imprescindível que o agente tenha meios ou opções para agir de forma
distinta, e não criminosa. Caso não existam opções para tal situação o
agente está acobertado por uma causa de exclusão da culpabilidade.
(NUCCI, 2020 p.148)

Conforme o dispositivo legal expressa:

‘’Art. 22 do CP – Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita


obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só
é punível o autor da coação ou da ordem. ‘’(BRASIL,1940)
Dessa forma, as causas de exclusão da culpabilidade tornam-se possíveis
para uma justificação que determina a conduta do agente a fim de afastar o juízo de
reprovação do comportamento injusto.
As situações que fazem com que o indivíduo após ter cometido um delito
possa ser afastado da sua punição penal são: doença mental; desenvolvimento
mental incompleto; desenvolvimento mental retardado; embriaguez acidental
completa proveniente de caso fortuito ou força maior (CP, art. 28).
É evidente que as doenças mentais não possuem nenhum rol especificando
quais doenças são ou não consideradas como excludentes da culpabilidade, assim,
realiza-se uma perícia médica para averiguar o caso concreto, para saber se no
momento do delito o indivíduo apresentava capacidade de entender o caráter
criminoso do fato ou de comandar a sua vontade de acordo com esse entendimento.
O artigo 26 do CP assim dispõe, especialmente na parte final do caput:

“Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único - A pena
pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento.” (BRASIL,1940)
Em seguida, o desenvolvimento mental incompleto ou retardado remete-se a
uma condição em que o desenvolvimento cognitivo é desenvolvido de forma mais
lenta ou em um nível inferior ao esperado para a sua idade.
André Luís Callegari (2014, p. 182 e 183) esclarece em seu livro o
desenvolvimento mental incompleto como:
20

Desenvolvimento mental incompleto. Como o próprio nome diz, trata -se de


ausência completa de maturidade em face do desenvolvimento do agente
que, segundo alguns critérios, ainda não está completo e, diante disso, falta-
lhe a capacidade perfeita de entendimento do caráter ilícito do fato. Aqui se
enquadram os menores de 18 anos, de acordo com o art. 27 do Código
Penal. (CALLEGARI, 2014)

Além disso, são vistos como tendo o desenvolvimento mental incompleto os


menores de 18 (dezoito) anos e os índios por não estarem adequados com a
civilização urbana. Dispondo no Código Penal em seu art. 26:

“Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.” (BRASIL,1940)

A embriaguez, quando causada de forma involuntária, acarreta a isenção da


pena, pois o agente, no momento da ação ou omissão, era inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou não tinha condições de se determinar de acordo
com esse entendimento, conforme expressa o parágrafo 1º do artigo 28 do Código
Penal:

“Art 28, § 1º – É isento de pena o agente que, por embriaguez completa,


proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento”. (BRASIL,1940)

Portanto, a culpabilidade é um elemento essencial no Direito Penal que se


refere à reprovação do agente por cometer um crime. No entanto, existem
excludentes, que podem isentar o agente de culpa ou diminuir sua responsabilidade
penal, quando as circunstâncias específicas justificam tais ações, visando a justiça e
proporcionalidade na aplicação das leis penais.
2.3 Conceito de inimputabilidade e semi-imputabilidade
O conceito de inimputabilidade está previsto no art.26 do Código Penal deste
modo:
‘’Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
21

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo


com esse entendimento.
Redução de pena
Parágrafo único - A pena [é] reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.’’
(BRASIL,1940)

O sujeito psíquico considerado é aquele que apresenta um desenvolvimento


mental incompleto ou retardado. Se essas circunstâncias forem comprovadas,
podem servir como um elemento de defesa para o acusado, e, sem a penalidade,
não será possível realizar qualquer modificação ou alteração na punição. É
importante observar que a verificação dessas circunstâncias deve ser realizada por
meio de uma avaliação conduzida por um psiquiatra especializado, e o sujeito
acusado é obrigado a iniciar um tratamento adequado em um local apropriado com
base no laudo psiquiátrico.
Na esfera da doutrina, a inimputabilidade refere-se à ausência da capacidade
de um sujeito compreender a ilegalidade de um ato, ou seja, ele não consegue
perceber que cometeu uma infração. Portanto, não existe arrependimento por ter
cometido algo prejudicial para si mesmo ou para outra pessoa, uma vez que a
pessoa não consegue internalizar essa noção. Qualquer indivíduo considerado
normal é capaz de compreender as situações e eventos que ocorrem ao seu redor.
Se essa capacidade de compreensão estiver ausente, pode-se concluir que a
constituição psíquica desse indivíduo é deficiente, o que resulta na "incapacidade de
discernir, avaliar seus próprios atos e compará-los com as normas estabelecidas."
Mirabete (2008, p. 210-211) explica que:
Excluída a imputabilidade por incapacidade total de entendimento da
ilicitude do fato ou de autodeterminação, o autor do fato é absolvido e
aplicar-se-á obrigatoriamente a medida de segurança de internação em
hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado. Tratando-se, porém, da prática de crime
apenado com detenção, o juiz poderá submeter o agente a tratamento
ambulatorial (art. 97). A comprovada inimputabilidade do agente não
dispensa o juiz de analisar na sentença a existência ou não do delito
apontado na denúncia e os argumentos do acusado quanto à inexistência
de tipicidade ou de antijuridicidade.3 Inexistindo tipicidade ou
antijuridicidade, o réu, embora inimputável, deve ser absolvido pela
excludente do dolo ou da ilicitude, não se impondo, portanto, medida de
segurança. 5.4.3 Culpabilidade diminuída Prevê o art. 26, parágrafo único:
"A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
22

Assim, faz-se mister salientar que é pelos laudos periciais que os juízes
podem basear sua decisão sobre os casos de imputabilidade, inimputabilidade e
semi-imputabilidade.
A semi-imputabilidade é um conceito que determina se o sujeito acusado
pode ser considerado totalmente responsável pelo ato que cometeu ou se essa
responsabilidade pode ser reduzida devido à comprovação de uma limitação em seu
entendimento intelectual. Nesse contexto, a responsabilidade atribuída ao sujeito
não é plena, o que significa que a pessoa que cometeu o crime tinha algum
entendimento sobre o ato, embora esse entendimento fosse limitado ao momento da
ação, devido a uma afetação de sua capacidade intelectual e de assimilação.
Além disso, a semi-imputabilidade está relacionada à diminuição da
capacidade do indivíduo em preservar valores e tomar decisões autônomas. Isso
implica que a pessoa em questão não possui discernimento completo para fazer
escolhas independentes, não consegue exercer um bom senso pleno e pode ser
volitiva, ou seja, ter dificuldade em exercer sua vontade de forma livre, ou ser muito
vulnerável e manipulável devido à falta das faculdades necessárias para controlar
suas ações de forma autônoma.
Segundo André Callegari:
De acordo com Roxin, a imputabilidade ou capacidade de
culpabilidade diminuída não é uma forma autônoma de “semi-
imputabilidade” que se en- contra entre a imputabilidade e a
inimputabilidade, mas um caso de impu- tabilidade, pois o
sujeito é (ainda) capaz de compreender o injusto do fato e de
atuar conforme essa compreensão.21 Não obstante, a
capacidade de con- trole é um conceito graduável: à pessoa lhe
pode custar mais ou menos poder motivar-se pela norma. Em
consequência, quando ainda existe capacidade de controle,
mas está substancialmente reduzida, por regra geral diminui a
culpabilidade. (CALLEGARI, 2014 p.183)

Podemos observar que o semi-imputável dispõe de um certo grau de


entendimento sobre o que fez e, pelo fato, é-lhe atribuída certo tipo de pena,
expressa no artigo 26 do dispositivo legal antes citado em seu parágrafo sobre as
condições para a possível redução da pena.
Caso o juiz determine que o indivíduo semi-imputável necessita de tratamento
psiquiátrico, ele poderá substituir a pena por uma medida de segurança.
O próximo capítulo abordará a medida de segurança.
23

2.4 Diferenças entre pena e medida de segurança


As penas possuem natureza retributiva e preventiva, já as medidas de
segurança são preventivas; as penas são adequadas à gravidade da infração:

‘’Quanto ao objeto, a pena tem a finalidade de reafirmação do ordenamento


jurídico, e possui um caráter de prevenção geral e prevenção especial, e a
medida de segurança possui um caráter unicamente de prevenção especial.
E por fim, quanto a seu fundamento, a pena tem por base a culpabilidade do
indivíduo, já a medida de segurança, exclusivamente a periculosidade do
agente’’ (COSTA, 2013, pág. 62).

Por analogia, a proporcionalidade das medidas de segurança deriva e fundamenta-


se na periculosidade do agente;

Quanto ao limite temporal, a pena é limitada pela gravidade do delito e a


culpabilidade do agente. De acordo com o artigo 75 do código penal, é
previsto que o tempo máximo de prisão no Brasil é de 40 anos, portando é
imposta por tempo determinado. A medida de segurança é balizada pelo
grau de periculosidade e a sua permanência. A medida de segurança só se
extingue com a cessação da periculosidade do agente, conforme o artigo 97
do código penal, a medida de segurança será por tempo indeterminado
(COSTA, 2013, pág. 61).

As penas estão relacionadas à culpabilidade do sujeito e sua reprovabilidade


social, enquanto as medidas de segurança estão relacionadas à periculosidade do
sujeito e visam proteger a sociedade contra possíveis danos que ele possa causar
no futuro. Bem como as penas têm um prazo fixado diante a sentença do agente,
entretanto, as medidas de segurança, em virtude da Súmula 527, de 18 de maio de
2015 do Superior Tribunal de Justiça, atualmente não podem exceder o limite da
pena máxima prevista para o delito cometido pelo inimputável ou semi-inimputável.

Quanto ao limite temporal, a pena é limitada pela gravidade do delito e a


culpabilidade do agente. De acordo com o artigo 75 do código penal, é
previsto que o tempo máximo de prisão no Brasil é de 40 anos, portanto é
imposta por tempo determinado. A medida de segurança é balizada pelo
grau de periculosidade e a sua permanência. A medida de segurança só se
24

extingue com a cessação da periculosidade do agente, conforme o artigo 97


do código penal, a medida de segurança será por tempo indeterminado
(COSTA, 2013, pág. 61).

Adicionalmente, as penas são aplicadas aos sujeitos imputáveis e aos semi-


imputáveis, ou seja, não podem ser imputadas aos indivíduos absolutamente
inimputáveis ou juridicamente capazes.

Por tanto, em outras palavras, as penas são utilizadas tanto para retribuir a
conduta criminosa do indivíduo quanto para prevenir futuros crimes, enquanto as
medidas de segurança são predominantemente preventivas sendo aplicadas em
casos de inimputabilidade ou semi-imputabilidade do sujeito, destinadas a proteger a
sociedade contra a periculosidade do sujeito.

2.5 Conceito, requisitos e espécies de medida de segurança


A inimputabilidade é a exclusão de culpabilidade, e por isso, a pessoa que
praticar um crime com doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardada, deve ser absolvido, como determina o artigo 26, caput, do Código Penal.
Essa absolvição, porém, leva à aplicação de uma sanção penal, denominada
medida de segurança.
A finalidade da Medida de Segurança consiste em interromper a
periculosidade do agente, garantindo que ele não volte a cometer crimes. A
aplicação desta medida requer a análise da periculosidade potencial do indivíduo, do
ato cometido e das circunstâncias pessoais do agente.
Antes da Reforma Penal de 1984, o sistema "duplo binário" estava em vigor,
no qual a aplicação da medida de segurança ocorria somente após o cumprimento
da pena privativa de liberdade. Somente após esse período é que a medida de
segurança passou a ser considerada e aplicada de forma independente das outras
penas. O sistema vicariante, adotado pelo Código Penal brasileiro, implica na
imposição de apenas uma pena nos casos de semi-imputabilidade, sem a
possibilidade de aplicar conjuntamente a pena e a medida de segurança.
Em consonância com o princípio "bis in idem", é vedado que uma pessoa seja
processada, julgada e condenada repetidamente pela prática do mesmo delito,
mesmo que os fundamentos e os objetivos de uma ação e outra sejam diferentes; no
25

final, resultam em duas consequências pelo mesmo ato. Nesse contexto, a pena tem
como base exclusiva a culpabilidade do indivíduo, enquanto a medida de segurança
encontra justificação na periculosidade associada à incapacidade penal do agente
no momento dos fatos cometidos.
A partir de 1974, indivíduos classificados como imputáveis que cometam atos
puníveis estão sujeitos apenas à pena correspondente. No caso dos inimputáveis, a
medida de segurança é aplicada. Quanto aos semi-imputáveis, também chamados
de "fronteiriços", eles podem estar sujeitos à aplicação da pena ou da medida de
segurança, dependendo das circunstâncias, mas nunca sujeitos a uma dupla
aplicação de pena, como ocorria no sistema binário.
Portanto, é importante esclarecer que sempre será imposta a pena
correspondente à infração penal cometida pelo agente. De acordo com o artigo 26,
caput, do Código Penal, a medida de segurança será aplicada àqueles que, devido a
doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, eram, no momento dos
fatos, totalmente incapazes de compreender o caráter ilícito do ato ou de agir de
acordo com esse entendimento.
A aplicação da medida de segurança requer a observância dos seguintes
requisitos: a ocorrência de um ato que constitua um crime punível, a existência de
periculosidade do agente e a ausência de imputabilidade completa. Embora não
explicitados de forma direta, esses critérios podem ser inferidos a partir dos artigos
97 e 98 do Código Penal.
Conforme a corrente majoritária na doutrina, a aplicação da medida de
segurança envolve dois requisitos fundamentais: a prática de uma infração penal
que seja caracterizada como crime ou contravenção penal e a demonstração da
periculosidade do agente. Cometer uma infração penal tipificada significa realizar
uma ação ou omissão que está explicitamente definida como crime no Código Penal
ou na Lei das Contrações Penais, portanto, sujeita a punição. Por outro lado, a
periculosidade se refere à capacidade do indivíduo de cometer infrações penais, ou
seja, está baseada na possibilidade de o sujeito voltar a cometer crimes.
A aplicação da medida de segurança pressupõe a existência de um crime
contravenção penal; Assim, se o réu for absolvido por falta de provas, não é viável
impor qualquer tipo de medida de segurança. Quando a prática de um crime não é
comprovada, a aplicação da medida de segurança torna-se inviável.
26

Portanto, para que um réu seja absolvido com base na inimputabilidade e,


consequentemente, seja sujeito à imposição de uma medida de segurança, não é
suficiente contar apenas com um laudo que ateste o transtorno mental; é
fundamental que o agente tenha cometido uma infração penal. Assim, antes de
avaliar a culpabilidade ou a periculosidade, o juiz deve verificar a existência de um
ato que se enquadre como típico e antijurídico.
A periculosidade é um dos pilares fundamentais para a aplicação da medida
de segurança, podendo ocorrer independentemente da prática de uma infração
penal. Um indivíduo com uma anomalia psíquica pode apresentar traços de
periculosidade e uma inclinação para o crime, mesmo que não tenha efetivamente
cometido nenhum delito. No entanto, é importante destacar que um portador de
transtorno mental sujeito a uma medida de segurança e um portador de transtorno
mental que não cometeu nenhum crime não são equivalentes, uma vez que a
aplicação da medida de segurança requer a comprovação da prática de uma
infração penal, ou seja, a existência de um ato típico e ilícito.
A unanimidade na doutrina estabelece a necessidade de atender a dois
critérios simultaneamente para aplicar uma medida de segurança: a prática de um
ato que constitua uma infração penal tipificada e a presença de periculosidade por
parte do agente. Dessa forma, quando um inimputável comete um delito e sua
periculosidade é identificada, o juiz pode impor a medida de segurança. Após o
início da medida de segurança, que, de acordo com a legislação nacional, pode ter
uma duração indeterminada, é de extrema relevância examinar a questão do prazo
da medida de segurança, a qual é alvo de controvérsias significativas.
Seguindo o art. 96 do Código Penal, as medidas de segurança podem se
dividir em duas espécies: detentiva ou restritiva.

Art. 96. As medidas de segurança são I - Internação em


hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em
outro estabelecimento adequado II - sujeição a tratamento
ambulatorial Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se
impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha sido
imposta. (BRASIL, 1940)

Quando ocorre a internação em um hospital de custódia e tratamento


psiquiátrico, isso caracteriza a modalidade detentiva da medida de segurança, que
implica que o indivíduo permaneça internado em um hospital de custódia ou em
27

hospitais gerais, onde recebe tratamento médico interno e, em alguns casos, é


mantido em regime fechado. Por outro lado, a modalidade restritiva corresponde ao
tratamento ambulatorial e, em regra, é aplicada quando o delito em questão é
punível com detenção. A exceção a essa regra ocorre quando o agente demonstra a
necessidade de internação devido à sua periculosidade, nesse caso, o tratamento é
realizado externamente por um médico. Isso significa que o agente não precisa ser
hospitalizado, mas é obrigado a se submeter a avaliações médicas periódicas,
geralmente realizadas por um perito médico oficial, que avalia anualmente sua
periculosidade.
É importante destacar que a distinção entre essas duas modalidades de
tratamento, internação ou ambulatorial, depende da natureza do delito e do critério
do juiz. Em casos em que a pena prevista é a reclusão, a modalidade detentiva da
medida de segurança é obrigatória, ou seja, a internação se faz necessária. No
entanto, quando o crime é punível com detenção, cabe ao juiz determinar se o
tratamento será em regime de internação ou ambulatorial. Além disso, é relevante
mencionar que o exame para avaliar a cessação da periculosidade pode ser
solicitado a qualquer momento pelo juiz.
Nesse âmbito, os juízes têm a prerrogativa de escolher entre o tratamento
hospitalar e o ambulatorial, levando em consideração o grau de periculosidade do
indivíduo e a natureza do crime, com base nas disposições do artigo 97 do Código
Penal, que estabelecem que quando o crime é punível com reclusão, o juiz pode
optar pelo tratamento ambulatorial.
Portanto, se houver uma necessidade terapêutica, o juiz pode decidir internar
o agente, mesmo que o crime seja punível com detenção. Tanto na internação
quanto no tratamento ambulatorial, é garantida a liberdade de escolher um médico
de confiança pelo próprio internado ou pela pessoa submetida ao tratamento,
geralmente familiares ou dependentes, para a orientação e acompanhamento do
tratamento, conforme o artigo 43 da Lei de Execução Penal:

‘’Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de


confiança pessoal do internado ou do submetido a tratamento
ambulatorial, por seus familiares ou dependentes, a fim de
orientar e acompanhar o tratamento.

Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o


particular serão resolvidas pelo Juiz da execução. (BRASIL. Lei
de execução Penal. Lei nº 7210 de 11 de julho de 1984.
BRASIL.)
28

O parágrafo único do artigo citado expressa que na hipótese de surgir


divergências entre o médico particular e o médico oficial, o juiz da execução terá a
responsabilidade de resolver essas questões.
O período mínimo para cumprimento da medida de segurança é de um a três
anos e será determinado com base no grau de periculosidade do agente e o tempo
necessário para sua reabilitação e recuperação. Esse prazo mínimo está
relacionado diretamente ao período em que deverá ser feita uma nova perícia, ou
seja, um exame de cessação de periculosidade. As medidas de segurança
continuarão em vigor até que uma perícia médica constate que a periculosidade foi
extinta. A perícia médica ocorrerá ao final do período mínimo estipulado na sentença
e deverá ser repetida anualmente, ou em qualquer momento, se assim determinado
pelo juiz da execução, seja por sua própria iniciativa ou a pedido do Ministério
Público ou do condenado (de acordo com os artigos 97, §§ 1º e 2,º do Código
Penal).
O processo de avaliação da cessação da periculosidade segue as normas
estabelecidas nos artigos 175 a 179 da Lei de Execução Penal. É importante notar
que a medida de segurança possui um prazo mínimo e, a partir da publicação da
Súmula 527/2015 do Superior Tribunal de Justiça, o seu tempo de vigência não é
mais indeterminado. A mencionada súmula determina que a duração da medida de
segurança não deve exceder o limite máximo da pena abstratamente estabelecida
para o delito.
O Supremo Tribunal Federal (STF), mesmo antes da publicação da Súmula
527/2015, entendia que a indefinição do prazo da medida de segurança violava a
Constituição Federal, visto como uma pena perpétua, e, portanto, deve ser limitada
ao prazo máximo de 30 anos, estipulado como o limite de cumprimento da pena no
artigo 75 do Código Penal.
Hoje, com o advento da Lei 13.964 de 2019 (Lei do Pacote Anticrime), esse
prazo máximo de execução de pena subiu para quarenta anos.

3 DA MEDIDA DE SEGURANÇA
No universo complexo do direito penal, a preocupação com a justiça e a
proteção da sociedade contra indivíduos que tenham cometido delitos é uma
29

constante. Contudo, a busca pela harmonização dos princípios fundamentais da


punição e da proteção dos direitos humanos desafia a teoria e a prática jurídica em
todo o mundo. Nesse contexto, a medida de segurança emerge como um
instrumento peculiar e crucial, projetado para atender a um duplo propósito: a
reabilitação do indivíduo infrator e a proteção da sociedade.
Este presente capítulo busca explorar a medida de segurança dentro do
contexto do direito penal, acompanhando sua evolução histórica e sua incorporação
nas legislações nacionais. Em seguida, analisaremos as justificativas filosóficas por
trás da medida de segurança, questionando como ela se encaixa nos princípios de
justiça e humanidade que norteiam o sistema penal, conceituando e analisando suas
espécies de periculosidade presentes.
À medida que avançamos, este capítulo investigará as questões práticas
relacionadas à aplicação da medida de segurança, destacando seus princípios
gerais e as regras aplicadas pelo ordenamento legal brasileiro em seus sistemas. No
cerne deste capítulo, está a busca por uma compreensão abrangente e crítica da
medida de segurança no direito penal, contribuindo para o enriquecimento do debate
jurídico e a reflexão sobre como melhor conciliar os interesses da justiça, da
segurança e da humanidade na administração da justiça criminal.

3.1 Antecedentes históricos


Inicialmente, a medida de segurança representava um instrumento de
proteção social contra condutas anti sociais, sem nenhuma distinção, ou seja, não
era feita nenhuma análise ou estudo sobre a peculiaridade do comportamento em
relação aos indivíduos na sociedade, indiferentemente se fossem imputáveis ou
inimputáveis, e se fossem infratores ou não. Essa decisão era baseada nos
interesses sociais, preconizando proteger por meio da separação de indivíduos
perigosos da sociedade como um todo, não demandava a prática de atos
criminosos. Bastava que o sujeito fosse percebido como uma ameaça à ordem
pública.
Durante a Idade Média, sob a influência ideológica das igrejas, o doente
mental era frequentemente interpretado como uma manifestação demoníaca. Esses
indivíduos eram submetidos a torturas e, até mesmo queimados com vida durante a
Inquisição, como uma forma de expiação de seus pecados.
30

Os precursores históricos das medidas de segurança, que aplicavam medidas


cautelares e de prevenção, têm suas raízes na jurisprudência antiga. Não há um
consenso exato que ratifique, uma data exata na história em que esse conceito
passou a ser empregado ou quando foi formalmente legislado.
No contexto do Direito Romano, algumas dessas medidas preventivas eram
aplicadas a menores e a indivíduos com distúrbios mentais.
Durante o Período moderno, aproximadamente no século XVIII, sob a
influência do Iluminismo, emerge o conceito de medida de segurança, com
fundamento na condição de indivíduos com enfermidade mental. No ano de 1860, na
Inglaterra, surge a primeira instituição com o propósito de custodiar indivíduos com
doença mental que cometeram alguma infração penal.
Nesse estágio, pairava incerteza acerca da eficácia da sanção penal,
questionando-se a necessidade de uma nova modalidade com respostas
respaldadas no Direito Jurídico Penal. Conforme o cenário exposto, em virtude da
crise do sistema penal, bem como da demanda por defesa social, se desenvolve um
novo modelo de sanção que foi fortemente influenciado pela escola positiva italiana.
A medida de segurança era prevista de maneira fragmentada nas legislações
europeias, sendo sistematizada pela primeira vez em 1893, no anteprojeto do
Código Penal Suíço, concebido por Karl Stooss. Isso representou um marco
significativo na história do Direito Penal, concretizando a ideia de "pena final" de Von
Listz. A medida de segurança passou a substituir a pena em situações nas quais o
delinquente voltava a cometer novos delitos, sendo uma forma de proteger a
sociedade e, simultaneamente, reabilitar o sujeito considerado perigoso.
Na Alemanha, a medida de segurança foi incorporada à legislação por meio
da Lei de Delinquentes Comuns de 24 de novembro de 1933. Já na Espanha, essa
medida apareceu na legislação com o Código Penal de 1928. Além disso, diversos
outros institutos, como a "Ley de vagos y maleantes" de 04/08/33 e a "Ley de
peligrosidad y rehabilitación social" de 04/08/70, foram sendo desenvolvidos.
É necessário entender que o positivismo criminológico argumentava que, em
alguns casos, as pessoas agiam de maneira criminosa devido a fatores que estavam
além de seu controle, como problemas de saúde mental, falta de discernimento ou
circunstâncias sociais desfavoráveis. Em vez de simplesmente impor a esses
indivíduos uma pena de prisão, que muitas vezes não abordava as causas
subjacentes de seu comportamento criminoso, o positivismo criminológico defendia
31

que eles deveriam receber um tratamento adequado para resolver essas questões
subjacentes.
De acordo com as ideias do positivismo criminológico, quando uma pessoa
tivesse cometido um crime sem o devido discernimento ou devido a circunstâncias
que não fossem completamente sob seu controle, em vez de serem condenadas à
prisão, deveriam ser sujeitas a uma medida que visasse proporcionar o tratamento
necessário para abordar suas questões subjacentes. Essa abordagem buscava uma
solução mais justa e humanitária para lidar com a criminalidade, ao considerar as
circunstâncias individuais dos infratores.
No Brasil, o Código do Império, em 1830, menciona sobre a doença mental,
estabelecendo que os loucos deveriam ser recolhidos em estabelecimentos
apropriados ou ser entregues à sua família, de maneira que ao prevê o recolhimento
em instituição apropriada, já anunciava uma espécie de medida de segurança.
A medida de segurança só foi instituída no Brasil com a reforma do Código
Penal de 1940, instaurada a lei 7.209/84, estabelecendo uma regra clara, já
mencionada: imputáveis recebem pena, inimputáveis recebem medida de
segurança, e semi-imputáveis podem receber uma pena ou uma medida de
segurança, mas não ambas simultaneamente.
Isso reflete o princípio de proporcionalidade e individualização da pena,
levando em consideração a capacidade mental do infrator ao cometer um ato
criminoso.
Diante disso, foi adotado o sistema duplo binário, de maneira que a medida
de segurança passa a ser normatizada ao lado da pena, ora com o fim de
complementá-la quando relacionada aos responsáveis, ora de substituí-la quando
relacionada aos irresponsáveis. Poderia ser imputada tanto ao imputável quanto ao
inimputável e só cessaria quando o indivíduo estivesse totalmente curado.
O sistema duplo binário (derivado do italiano) predominou até antes da
Reforma Penal de 1984. Nesse modelo de sistema, também chamado de duplo trilho
ou dupla via, o semi-imputável perigoso, cumulava as sanções detentivas, de forma
que inicialmente cumpria a pena privativa de liberdade e subsistindo a
periculosidade, era submetido a medida de segurança.
Com a reforma da Parte Geral do Código Penal, adota-se o sistema
vicariante, de forma que eliminou a cumulatividade entre as sanções detentivas. O
julgador teria de considerar a imputabilidade ou inimputabilidade, sendo inimputável,
32

o indivíduo seria submetido exclusivamente à medida de segurança, não mais


permitindo a cumulatividade da pena.
3.2 Conceito e espécies de periculosidade
O conceito de periculosidade é visto como um parâmetro feito para examinar
a viabilidade daquele agente delinquir, ou se já tiver praticado alguma infração, de
voltar a delinquir.
Para Nucci, a periculosidade pode ser real ou presumida:

É real quando há de ser reconhecida pelo juiz, como acontece nos casos de
semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo único, CP). Para aplicar uma medida
de segurança ao semi-imputável, o magistrado precisa verificar, no caso
concreto, a existência de periculosidade. É presumida quando a própria lei a
afirma, como ocorre nos casos de inimputabilidade (art. 26, caput, CP).
Nesse caso, o juiz não necessita demonstrá-la, bastando concluir que o
inimputável praticou 8 um injusto (fato típico e antijurídico) para aplicar-lhe a
medida de segurança (2017, p. 535).

Com isso, a periculosidade presumida deve ser entendida como, a presunção


é inquestionável, desvinculada de dilação probatória no contexto fático, porquanto a
legislação estabelece uma presunção categórica, situada no cenário da
inimputabilidade decorrente de patologias mentais, nos termos do artigo 26,
primacial, do Código Penal. Assim, a periculosidade é consagrada ex lege, no
contexto dos inimputáveis, quando da perpetrância de atos ou omissões, em
decorrência de enfermidade mental ou do desenvolvimento mental incompleto ou
retardado (deficiência mental).
A primeira espécie de periculosidade, classificada como presumida,
independe de comprovação no caso concreto, pois a lei presume de forma absoluta
(ocorre na hipótese do inimputável por doença mental– art. 26, caput, do CP). Dessa
forma, a periculosidade é afirmada pela própria lei, no caso do inimputável, por
ocasião da ação ou omissão, em virtude de doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado (deficiência mental).

3.3 Princípios gerais da medida de segurança


As sanções penais se caracterizam como uma forma de monitoramento social
e devem ser regulamentadas com cuidado devido ao impacto que têm na liberdade
das pessoas,ou seja, o Estado, ao impor uma pena ou medida de segurança, está
33

limitando a liberdade do indivíduo, e isso deve ser feito com base em regras claras e
justas. Sendo assim, importante destacar que os mesmos princípios utilizados para
fundamentar a pena, também são aplicados para nortear a medida de segurança.
Essa abordagem visa garantir que essas medidas sejam aplicadas de maneira justa
e respeitosa aos direitos dos indivíduos.
Dentro do contexto da medida de segurança destaca-se o princípio da legalidade,
conforme dispõe o art. 5º, inciso XXXIX da Carta Magna, ‘’Não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;’’ (BRASIL,1998)
Seguindo a mesma interpretação o Código Penal expressa:

Art. 1º – Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal. (BRASIL,1940)

Portanto, o princípio da legalidade é uma garantia para os direitos individuais


sociais, disciplinando o Estado impondo limites ao aplicar o seu poder punitivo
prevenindo a desigualdade, sendo fundamental para fundar uma justiça mais clara e
previsível.
Conforme o fundamento do princípio, a imposição de medidas de segurança
deve ser adequadamente prevista e regulamentada pela legislação vigente. Antes
de proceder à aplicação de qualquer medida de segurança a um indivíduo, em regra
precisa se enquadrar a uma lei que contenha os requisitos e disposições para a sua
execução, um importante critério utilizado é a existência da periculosidade do agente
ou sua incapacidade de discernimento em decorrência de distúrbios mentais.
O princípio da anterioridade, assegura que o indivíduo só responderá por sua
conduta se no período do ato praticado já estava vigente a lei que definia seu ato
criminoso. Então, a medida de segurança só será aceita quando na época da prática
já estava em vigor, definindo seu ato como delito.
Diante do que foi mencionado, segue o princípio da não retroatividade, o qual
é de suma importância, podendo ser inferido do dispositivo constitucional constante
no artigo 5º, inciso XL da Carta Magna, que ao adentrar em vigência a legislação
penal mais severa em relação às medidas de segurança, não se permite a
retroatividade para abranger atos pretéritos. Em contrapartida, se a norma penal
subsequente for mais favorável ao réu, haverá retroatividade e sua aplicação será
imediata.
34

Bem como, o princípio da jurisdicionalidade expressa que somente o Estado


poderá aplicar a medida de segurança, devendo ser respeitado o observado o
devido processo legal.
Além disso, o princípio da proporcionalidade, que se aplica à medida de
segurança, manifesta-se de maneira análoga, centrando-se na inescapável
necessidade e pertinência da mencionada medida no que tange à proteção da
comunidade e à reabilitação do indivíduo. A medida de segurança deve manter
congruência com o estado psicológico do sujeito e o risco por ele representado,
evitando, portanto, um excesso de rigidez. Dentro desse contexto, torna-se
imperativo atingir um equilíbrio justo entre a salvaguarda da sociedade e a
reintegração do sujeito à vida em comunidade. A proporcionalidade se erige como
um elemento de suma importância tanto no âmbito conceitual, onde o legislador
determina as sanções, quanto na esfera prática, na qual o magistrado procederá à
imposição das penas.
Igualmente designado como o princípio da proibição do excesso, Beccaria
afirma:
Um dos maiores freios aos delitos não é a crueldade das
penas, mas sua infalibilidade e, em consequência, a vigilância
dos magistrados e a severidade de um juiz inexorável, a qual,
para ser uma virtude útil, deve vir acompanhada de uma
legislação suave. A certeza de um castigo, mesmo moderado,
causará sempre a impressão mais intensa que o temor de outro
mais severo, aliado à esperança de impunidade. (BECCARIA,
Cesare. 2002, pp. 91-92. )

A proporcionalidade se erige como um elemento de suma importância tanto


no âmbito conceitual, onde o legislador determina as sanções, quanto na esfera
prática, na qual o magistrado procederá à imposição das penas.
3.4 Medida de segurança provisória
A providência de segurança temporária ou detenção temporária emerge como
uma das opções no contexto das medidas de cautela, encontrando-se
adequadamente estipulada no artigo 319, inciso VII, do Código de Processo Penal,
em virtude das determinações constantes na Lei nº 12.403/2011.

‘’Art 319, §VII - internação provisória do acusado, nas hipóteses de crimes


praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem
ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reiteração. (BRASIL,
1941)
35

A Lei n. 7.209/84, que emendou o Código Penal, não reiterou a disposição do


artigo 80 do Código de 1940, e tal modificação resultou na revogação dos artigos
378 e 380 do Código de Processo Penal, que versam sobre a aplicação temporária
da medida de segurança. Contudo, o artigo 319 do Código de Processo Penal
introduziu um extenso elenco de medidas provisórias substitutivas da prisão,
incluindo a possibilidade de internação provisória do acusado nos casos de crimes
cometidos com violência ou ameaça grave, quando os peritos concluírem que o
acusado é inimputável ou semi-imputável (conforme o artigo 26 do Código Penal) e
existir risco de reincidência (inciso VII).
3.5 Regras da medida de segurança
Primordialmente o Código Penal expõe no seu texto legal o artigo 97, inciso
1º:
Art 97, § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia
médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1
(um) a 3 (três) anos. (BRASIL,1940)

Conforme o diploma legal citado, o parâmetro que delimita o término da


intervenção é a periculosidade, um critério subjetivo devido à incerteza quanto à
possibilidade de reincidência do agente, tornando evidente que a medida de
segurança é de caráter indeterminado. Ou seja, as medidas de segurança não
possuem um prazo de expedição definido e podem ser mantidas enquanto existir
ameaça para a sociedade.
Todavia, a Súmula 527 do Superior Tribunal de Justiça de 18 de maio de
2015 alterou a abordagem do dispositivo legal indicando que o período máximo para
a aplicação da medida de segurança deve respeitar o limite máximo da pena
prevista por lei para o crime específico.
Por certo, a constatação da cessação da periculosidade, que culmina no
término de uma medida de segurança, requer a condução de uma perícia médica
efetuada por profissionais especializados em saúde mental e não admite ser
suprimida por um mero parecer clínico.
Ademais, o exame para averiguar o término de periculosidade só deverá ser
realizado conforme o prazo mínimo que o Código Penal dispõe, em seu artigo 97:
36

Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art.


26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção,
poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984) Prazo § 1º - A internação, ou tratamento
ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for
averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O
prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei
nº 7.09, de 11.7.1984) Perícia médica. (BRASIL, 1940)

Conforme o artigo 97, §3º do Código Penal, a desinternação ou liberação é


condicional, porém, se o indivíduo, no período de um ano, apresentar um
comportamento indicativo de periculosidade a medida de segurança será novamente
aplicada, visando o bem comum tanto para o agente quanto para o meio social.
37

5 METODOLOGIA

O presente trabalho seguiu pelo tipo de pesquisa descritiva, pelo método


bibliográfico, tendo como base a utilização de artigos, livros, jurisprudências,
arquivos, documentos em geral.
Por conseguinte, o trabalho apresentado se utilizou dos dados fornecidos
pela bibliografia acerca da eficácia da Súmula 527 do STJ, que contraria o
Código Penal ao determinar o tempo máximo de execução da medida de
segurança de internação. Segundo Severino (2016, p. 131), a pesquisa
bibliográfica se define como:
A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro
disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos
impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de
categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e
devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a
serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições
dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos

A pesquisa também fez uso de múltiplos livros, artigos científicos,


monografias, revistas, etc., para elaborar uma pesquisa com base concreta e
respeitável, para que se pudesse chegar a um resultado correto baseado em
fontes consideráveis.
Complementando, para Gil (2019, p. 44) as pesquisas descritivas têm
como objetivo primordial a descrição das características de determinada
38

população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre


variáveis".
Os objetivos apresentados puderam ser atingidos com os tipos de
pesquisa apresentados, onde foi possível estudar e descrever sobre os
antecedentes históricos de aplicação da medida de segurança; discorrer sobre
as penas e as medidas de segurança; abordar conceito, pressupostos e
espécies da medida de segurança; estabelecer a diferença entre internação e
tratamento ambulatorial; especificar as etapas do Incidente de Insanidade
Mental; identificar as estruturas básicas de saúde que o Estado oferece aos
agentes inimputáveis e semi-imputáveis; definir os pontos positivos e negativos
da Súmula 527 e comparar com o Código Penal e demonstrar o alcance jurídico
e social da Súmula 527 de 18/05/2015 do STJ.
Por conseguinte, a metodologia se fez essencial para o desenvolvimento e
conclusão deste trabalho de conclusão de curso, de modo a facilitar o estudo e
mostrar diversas opções para a melhor elaboração do mesmo.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

EM CONSTRUÇÃO...

REFERÊNCIAS

ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. São Paulo, Saraiva


Jur, 15ª edição, 2021.

BARROS, Francisco Dirceu. Tratado Doutrinário de Direito Penal – Vol. 1:


Parte Geral, 2ª. edição, Editora JH Mizuno, 2021.
39

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas (em italiano Dei Delitti e dele
pene). Originalmente publicado em 1764.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral- Vol. 1.


São Paulo, Saraiva Jur, 29ª. edição, 2023.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 1. São Paulo. Saraiva Jur, 27ª
edição, 2023.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – Parte Geral. Volume


único. Salvador. Bahia, Editora JusPodivm, 12ª edição, 2023.

CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal para concursos. Salvador. Bahia,


Editora JusPodivm, 16ª edição, 2023.

ESTEFAM, André. Direito penal: Parte Geral – Vol. 1. São Paulo, Saraiva Jur,
12ª edição, 2023.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. 1. Rio de Janeiro. Editora


Gen/Atlas, 25ª, Edição, 2023.

GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro. Editora Atlas, 16ª.
edição, 2023.

JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1 – atualizador: André
Estefam. São Paulo: Saraiva Jur, 37ª Edição, 2021.

MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. São Paulo, Editora Método, 11ª.
edição, 2023.

MASSON, Cleber. Direito Penal; parte geral; esquematizado. Vol. 1, São Paulo,
Método, 17ª edição, 2023.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. 1. Gen/Atlas, 35ª


edição, 2021.
24

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro. Editora


Thoth, 23ª edição, 2023.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. Gen/Forense, 19ª.


Edição, Rio de Janeiro, 2023.
40

PRADO, LUIZ REGIS. Curso de Direito Penal Brasileiro – 21ª. Edição ––


Editora Thoth, Londrina-PR, 2023.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AP 470 QO-décima segunda / MG - MINAS


GERAIS. Relator: Min. Roberto Barroso. Julgamento em 13 de dezembro de 2018.
Diário de Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 06 de agosto de 2019. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/jurisprudencia. Acesso em: 08 nov. 2023.

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