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Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Segurança Privada

Estudo Dirigido
ELEMENTOS DO DIREITO PENAL

Conteúdo da disciplina

GARCIA, Flúvio Cardinelle. Inquérito policial: uma visão panorâmica. Curitiba:


InterSaberes, 2017.

Neste breve resumo, destacamos a importância para seus estudos de alguns temas diretamente
relacionados ao contexto trabalhado nesta disciplina. Os temas sugeridos abrangem o conteúdo
programático da sua disciplina nesta fase e lhe proporcionarão maior fixação de tais assuntos,
consequentemente, melhor preparo para o sistema avaliativo adotado pelo Grupo Uninter. Esse é
apenas um material complementar, que juntamente com a Rota de Aprendizagem completa (livro-
base, videoaulas e material vinculado) das aulas compõem o referencial teórico que irá embasar o
seu aprendizado. Utilize-os da melhor maneira possível.

Bons estudos!

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Sumário
1. PERSECUTIO CRIMINIS ......................................................................................................... 2
2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL..................................................................... 3
3. A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ........................................................ 5
4. INQUÉRITO POLICIAL ........................................................................................................... 7
5. INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS E A PRESERVAÇÃO DO LOCAL DO CRIME ............................... 9
6. PRISÃO EM FLAGRANTE .................................................................................................... 10
7. PRISÃO PREVENTIVA ......................................................................................................... 12
8. INTERROGATÓRIO E CONFISSÃO ...................................................................................... 14
9. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS ....................................................................... 14
10. ACAREAÇÃO ................................................................................................................... 15
11. AVERIGUAÇÃO DA VIDA PREGRESSA DO INDICIADO .................................................... 15
12. FOLHA DE ANTECEDENTES ............................................................................................ 16
13. TERMO CIRCUNSTANCIADO .......................................................................................... 16
14. CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA ............................................................................... 18
15. CRIME DE FALSIDADE MATERIAL DE ATESTADO OU CERTIDÃO ................................... 18

1. PERSECUTIO CRIMINIS
As provas ou os elementos de convicção, inocência ou responsabilização do
infrator são colhidos durante o que se chama persecutio criminis (“persecução
penal” em latim), que se inicia no momento da prática do crime.
A investigação tem duas fases. A fase inquisitiva ou pré-processual tem
início com o inquérito policial, instrumento utilizado pelo Estado para preparar,
investigar e reunir elementos que porventura responsabilizem o suspeito em
relação aos atos praticados ou que conduzam à ausência de elementos de
responsabilização. A fase acusatória ou processual, por sua vez, ocorre perante o
Poder Judiciário, quando se tem prova cabal de que ocorreu o delito e indícios
suficientes de que o suspeito é o responsável pela prática do crime.
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2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

2.1 Princípio da presunção da inocência


O princípio da presunção da inocência declara que o estado de inocência de
qualquer pessoa é indisponível e irrenunciável, devendo ser respeitado, até porque
mantém relação direta com o princípio da dignidade da pessoa humana. Portanto,
pelo princípio da presunção de inocência, o ser humano é por natureza inocente
(perante o Estado) e não pode ser punido. O ser humano é inocente até que seja
condenado criminalmente e, mais particularmente, com trânsito em julgado (sem
mais direito a recurso), e o processo penal é o único instrumento que legitima a
imposição de uma pena criminal.

2.2 Princípio da ampla defesa


O princípio da ampla defesa deriva da garantia do contraditório e tem como
objetivo dar ciência da acusação imposta ao indivíduo, bem como a oportunidade
de preparar a defesa. Por este princípio, o acusado tem o direito de presença, que
assegura o acompanhamento dos atos de instrução. Sendo assim, o acusado,
embora preso, tem o direito de presenciar os atos processuais, sob pena de
nulidade absoluta. Esse princípio divide-se em autodefesa e defesa técnica.
A autodefesa é exercida pelo próprio acusado (por exemplo, direito de
comparecer aos atos processuais e se pronunciar no interrogatório). É um direito
renunciável e facultativo. Já a defesa técnica é a exercida por um advogado ou
defensor público. Ela é obrigatória (pois sem ela não há ampla defesa).
Não basta que um defensor esteja nomeado no processo para ser garantida
a defesa técnica. É necessário que ele atua efetivamente, e para isso cabe ao juiz
conduzir o processo e zelar pela preservação dos direitos e das garantias
constitucionais assegurados aos sujeitos processuais.

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2.3 Princípio do contraditório
Esse princípio está fundamentado no art.5º, inciso LV da CF/1988,
constituindo uma garantia que não pode ser ignorada em nenhum sistema. O
princípio do contraditório está associado com o princípio da ampla defesa,
preservando o equilíbrio, a igualdade de oportunidades e a isenção estatal na
condução do processo.
O princípio do audiatur et altera pars, preceito incluído no princípio do
contraditório, estabelece que a outra parte seja também ouvida (ou seja, ambas as
partes sejam ouvidas, acusação e defesa, nesta ordem); e, para haver
imparcialidade no julgamento, deve-se ouvir a defesa somente depois da acusação,
para que aquela possa se defender especificamente do que lhe é imputado pela
acusação.

2.4 Princípio da verdade real


O princípio da verdade real impõe que o juiz deve averiguar os fatos além
dos limites artificiais da verdade formal, ou seja, além daquilo que os sujeitos
processuais levam ao processo criminal. Caso não fique convencido pelo que é
trazido nos autos, o juiz pode, de vontade própria, determinar novas diligências por
parte da parte que acusa.1 Portanto, como busca da verdade real tem-se a intenção
de trazer à tona no processo o que mais se aproxima da realidade dos fatos.

2.5 Princípio da obrigatoriedade


Esse princípio se refere ao início do persecutio criminis. De acordo com esse
princípio, diante da prática de um delito a ser apurado via ação penal pública
incondicionada, é dever da autoridade policial instaurar o Inquérito Policial (IP),
cabendo ao Ministério Público (MP) promover a ação penal. Cabe ressaltar que esse
princípio não é absoluto, pois as ações penais privadas e as ações penais públicas
1
No processo penal, o polo acusatório é assumido pelo Estado, na pessoa do promotor de justiça (membro
do Ministério Público) ou pelo ofendido, a depender de a quem cabe a iniciativa da ação penal. É de
fundamental importância saber se a infração penal praticada é pública ou privada. Ao se tomar conhecimento
do delito que será investigado, é possível determinar o rito procedimental a ser adotado, bem como a
competência criminal e a espécie de ação penal.
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condicionadas a representação dependem da vontade do ofendido ou de seu
representante legal.

2.6 Princípio da indisponibilidade


O princípio da indisponibilidade traduz-se em que a autoridade policial não
pode desistir de suas investigações e o Ministério Público não pode desistir da ação
penal. Esse princípio se refere ao trâmite da persecutio criminis.
Ele não é absoluto, pois há exceções nas ações penais privadas — caso haja
perdão, renúncia, ou perempção —, bem como nas ações penais públicas
condicionadas a representação, com a retratação da representação antes de ser
oferecida a denúncia, conforme disposto no art. 25 do Código de Processo Penal
(CPP).

2.7 Princípio da publicidade


Esse é um princípio fundamentado pelo art. 5º, incisos LX e XXXIII, e art. 93,
inciso IX, da Constituição de 1988 (CF/1988). O princípio da publicidade estabelece
que os atos processuais devem ser realizados publicamente, a fim de viabilizar o
efetivo controle social dos atos e decisões do Poder Judiciário. Todos têm o direito
de receber dos órgãos públicos informações de interesse particular ou coletivo,
exceto sobre aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado.

3. A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


A palavra segurança pode significar garantia, proteção e estabilidade de
situação ou pessoa. O art. 144 da CF/1988 dispõe que a segurança pública é dever
do Estado, direito e responsabilidade de todos.
Os objetivos fundamentais da segurança pública são: proteger a
incolumidade física e patrimonial das pessoas, mantendo-as ilesas, intactas e longe

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de perigo; preservar a ordem pública, impedindo o cometimento de crimes; e
garantir a paz social e a lei.
O Estado estruturou a segurança no Brasil em dois níveis: federal e estadual.
A esfera federal tem seus órgãos subordinados à presidência da República, e a
esfera estadual tem seus órgãos subordinados aos respectivos governadores.
São órgãos federais da Segurança Pública brasileira apenas a Polícia Federal,
a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Ferroviária Federal.
São órgãos estaduais da Segurança Pública brasileira apenas a Polícia Civil, a
Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar.

3.1 Atividade de polícia


Pode-se conceituar polícia como a atividade administrativa tendente a
assegurar a ordem, a paz interna, a harmonia e, mais tarde, o órgão que zela pela
segurança dos cidadãos. O poder de polícia, então, pode ser conceituado como a
faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso
e gozo de bens, atividades e direitos individuais em benefício da coletividade ou do
próprio Estado.
As atividades de polícia podem ser classificadas em três espécies:
administrativa, judiciária e ostensiva.

 A polícia administrativa refere-se ao controle que a Administração


Pública deve exercer sobre todas as atividades e bens de interesse público.

 A polícia judiciária tem caráter repressivo, visando auxiliar a Justiça. A


atuação ocorre após a prática de uma infração penal, com o intuito de colher
elementos que esclareçam a prática do fato delituoso para a possível
instauração de ação penal contra os responsáveis. Trata-se de uma atividade
investigativa cuja função é colher provas para o órgão acusatório, a fim de
que o Judiciário as avalie no futuro.

 A polícia ostensiva tem atuação antes de ocorrer a infração penal,


pois tem o objetivo de evitá-la. É caracterizado pela adoção de uniforme e
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viaturas de fácil identificação, uma vez que sua efetividade é alcançada
quando consegue inibir a prática de condutas ilícitas e proporcionar sensação
de segurança à sociedade.

4. INQUÉRITO POLICIAL
O Inquérito Policial (IP) no Brasil remonta a 1871. O IP estava previsto no
Decreto imperial nº 4.824/1871, com basicamente a mesma função dos dias atuais.
Na redação original da época, o ato legal assim previa:

“Art. 38. Os Chefes, Delegados e Subdelegados de Policia, logo que por


qualquer meio lhes chegue a notícia de se ter praticado algum crime
commum, procederão em seus districtos ás diligencias necessarias para
verificação da existencia do mesmo crime, descobrimento de todas as
suas circumstancias e dos delinquentes.”

Dá-se o nome de Inquérito Policial ao conjunto de diligências realizadas pela


autoridade policial para obtenção de elementos que apontem a autoria e
comprovem a materialidade das infrações penais investigadas, permitindo, assim,
ao Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) e ao ofendido (nos crimes
de ação penal privada) o oferecimento da denúncia e da queixa-crime. Nele se
coletam elementos informativos, provas de materialidade e indícios de autoria do
ato apurado. Não há limite de pessoas e crimes investigados em um único IP, até
porque o procedimento do inquérito policial é livre, de caráter inquisitivo e não
sujeito a nulidades.
Atualmente, o Inquérito Policial pode ser iniciado: (i) de ofício; (ii) por
provocação do ofendido; (iii) via delação de terceiro; (iv) mediante requisição da
autoridade competente; ou (v) por meio de lavratura de ato de prisão em flagrante.
O inquérito policial não é um processo, mas uma peça informativa. Por isso,
não se presta à condenação de quem quer que seja, mas fornece elementos para
eventual ação penal futura. Por isso, o IP é dispensável para a propositura de ação

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penal. Se o MP constatar que já há elementos que o habilitem a promover a ação
penal, deverá dispensar o IP e oferecer denúncia no prazo de 15 dias.
Acerca dos prazos no inquérito policial em âmbito estadual, quando o
investigado estiver em liberdade, o prazo para conclusão é de 30 dias, podendo ser
prorrogado por prazo estipulado pelo juiz. Mas, se o investigado estiver preso, o
prazo para conclusão é de apenas 10 dias, improrrogáveis.

Em caso de existência de IP, uma vez encerradas as investigações policiais, o


relatório final do inquérito é enviado ao MP, que poderá: (i) oferecer a denúncia; (ii)
requerer a extinção da punibilidade; (iii) requerer o retorno dos autos à polícia
judiciária para continuidade da investigação, informando as diligências a serem
realizadas; ou (iv) requerer o arquivamento.
O arquivamento pode se dar, por exemplo, em um caso de morte no qual a
autoridade policial que chega ao local pode ter dúvidas se houve homicídio (que
deve ser investigado) ou suicídio (que não constitui crime). Assim, caso um inquérito
policial tenha sido instaurado sob suspeita de homicídio e, ao final, concluir-se ter
havido suicídio, não deverá ser instaurado um processo penal. Porém, se for
necessário arquivar o IP, somente o juiz pode arquivá-lo, mediante promoção
(pronunciamento favorável nesse sentido) do MP (arts. 17, 18 e 28 do CPP).
No relatório final, o delegado pode apenas opinar pelo arquivamento, o que
não vincula o MP. A opinião do MP também não determina o arquivamento, pois
essa decisão cabe ao juiz, e o pedido de arquivamento do IP por parte do MP, seja
parcial (de apenas algumas pessoas ou condutas), seja total, deve ser justificado.
Quando o MP deixa de incluir na denúncia um ou outro fato investigado no
IP, sem, contudo, qualquer justificativa, ocorre o arquivamento implícito, que não
tem previsão legal e caracteriza omissão injustificada do MP. A decisão de
arquivamento do IP pode gerar coisa julgada formal e, assim, pode o IP ser
desarquivado mediante novas evidências para novas investigação ou instauração de
ação penal.

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Como vimos acima, o IP pode ser iniciado por meios diversos, dependendo
da espécie de ação penal relativa ao crime (pública ou privada).
Na ação penal pública incondicionada, o autor da ação penal pública
incondicionada é o MP, não o ofendido. O ofendido não tem poder em tal ação para
determinar o futuro do acusado, mas nada o impede de se manifestar. Já na ação
penal privada, o inquérito policial terá início mediante requerimento de quem tenha
qualidade para intentá-la, ou seja, o inquérito policial inicia-se mediante
requerimento do ofendido, de seu representante legal ou de quaisquer dos
legitimados indicados no CPP.
Sabemos que não é possível que uma investigação policial perdure
indefinidamente no tempo, tampouco que acabe sem a apresentação de um
relatório circunstanciado sobre os principais atos investigativos e elementos de
convicção coletados. Via de regra, há prazos estipulados em lei para o término das
investigações, os quais podem variar conforme o delito investigado. Outrossim,
exige-se a apresentação de um relatório final, elaborado pela autoridade policial, no
qual devem estar registrados os fatos investigados, as principais diligências
realizadas, os elementos informativos colhidos e, ao final, as conclusões do
delegado de polícia quanto à materialidade do delito e aos indícios de autoria.

5. INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS E A PRESERVAÇÃO DO LOCAL DO


CRIME
Não há dispositivo legal que obrigue a autoridade policial à prática de uma
série de atos preordenados e sequenciais. As diligências são realizadas conforme a
discricionariedade da autoridade policial, pois há liberdade na coleta de evidências,
orientada precipuamente pela lei, visando à finalidade de melhor elucidar o fato
criminoso.

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Fonte: Universidade Federal do Espírito Santo, em http://www.ufes.br/conteudo/pesquisadores-demonstram-novas-
tecnologias-que-podem-auxiliar-trabalho-policial, acesso em 27 mar. 2018.

A autoridade policial tem o dever legal de ir ao local logo que tiver


conhecimento da prática da infração penal, a fim de preservá-lo, nos termos do art.
6º, inc. I do Código de Processo Penal. Além disso, há a necessidade da perícia que
orienta a investigação e o julgamento da ação penal.2 Se a polícia é notificada de
infração penal e, sem qualquer justificativa, demora a comparecer ao local, talvez
apenas no dia seguinte, o local do crime certamente estará contaminado,
acarretando a destruição de provas, além de dificultar ou mesmo impedir a
investigação.

6. PRISÃO EM FLAGRANTE
Quando ocorre uma prisão em flagrante, segue-se um procedimento para a
lavratura do auto de prisão. O procedimento ocorre da seguinte forma: primeiro,
ouve-se o condutor (aquele que deu a voz de prisão ao agente criminoso). Depois,
são ouvidas as testemunhas da conduta delituosa, e logo depois ocorrerá a oitiva da

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O perito é a pessoa dotada de conhecimentos técnicos sobre determinado assunto, chamada a prestar
esclarecimentos sobre sua especialidade, com o objetivo de orientar a investigação e o julgamento da
infração penal. Pode ser oficial ou não oficial, mas deve ser nomeado para a função. Entretanto, a regra geral
é que seja perito oficial.
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vítima, quando possível. Essa prisão é a modalidade de prisão cautelar, de natureza
administrativa, realizada no instante em que se desenvolve ou termina de se
concluir a infração penal, ou seja, quando o flagrado é surpreendido no decorrer da
prática da infração ou momentos depois. Sua autorização está expressa na CF/1988,
em seu art. 5º, inciso XI.
É um ato administrativo que dispensa autorização judicial e se converte em
ato judicial no momento em que ocorre sua comunicação ao Poder Judiciário, a fim
de se analisar a legalidade da detenção e adotar as providências legais de acordo
com o art. 310 do CPP. A prisão em flagrante é uma exceção à regra da necessidade
de existência de ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária para a
detenção de alguém, motivo pelo qual é necessário o cumprimento dos requisitos
formais para a lavratura do auto, pois ele substitui o mandado de prisão expedido
pelo juiz.
Conforme previsto no art. 307 do CPP, o auto de prisão em flagrante deverá
ser lavrado pela autoridade policial, porém excepcionalmente a autoridade judicial
(o juiz) poderá lavrar o auto de prisão em flagrante, quando o delito for praticado
em sua presença e durante o exercício de suas funções.
Vejamos os tipos de flagrante:

 Flagrante provocado: é aquele que o agente é instigado a praticar o


crime, não sabendo que está sendo vigiado pela autoridade ou por
terceiros, que só aguardam o início dos atos de execução para
realizar o flagrante. Por exemplo, o policial Alberino se passa por
comprador de armas e adquire uma arma do traficante; o traficante
de armas ilegais com o qual está negociando não será poderá ser
preso por vender a arma ao policial disfarçado (pois estava sob
vigilância direta e constante, caracterizando um crime impossível),
mas poderá ser detido por ter consigo objeto de uso proibido e,
posteriormente. Portanto, o flagrante provocado, quando utilizado

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de forma legal, visa a flagrar um crime praticado pelo agente, mas
autuá-lo por outro crime.

 Flagrante forjado: é um flagrante artificial, pois é integralmente


composto por terceiros. É um fato atípico (não criminoso), tendo em
vista que a pessoa “flagrada” jamais pensou ou agiu para compor
qualquer trecho da infração penal. Por exemplo, Amanda, amante de
Nicholas, coloca no carro deste uma quantia considerável de
entorpecentes, para depois abordá-lo ao lado de Carlos, policial, a
fim de darem voz de prisão em flagrante pelo transporte de drogas.
Acaba por caracterizar a absoluta ilegalidade e sujeita o responsável
a responder penalmente por abuso de autoridade ou denunciação
caluniosa.

 Flagrante retardado: também chamado de flagrante diferido, o


flagrante retardado consiste na faculdade conferida à polícia no
sentido de retardar a prisão em flagrante, visando obter mais
informações a respeito da ação dos criminosos. Permite-se à polícia
postergar a prisão em flagrante para um momento mais oportuno
desde que a atividade ilícita seja mantida sob observação, vigilância
ou acompanhamento.

7. PRISÃO PREVENTIVA
É uma modalidade de
segregação provisória,
decretada judicialmente.
Trata-se de uma medida
cautelar de constrição à
liberdade do indiciado ou
réu, por razões de
necessidade, respeitados os
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Fonte: Pacific Standard Magazine, em https://psmag.com/economics/since-
the-19th-century, acesso em 27 mar. 2018.
pressupostos que a autorizam.
A prisão preventiva é admitida nas seguintes hipóteses: (a) nos casos de crimes
dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos; (b) aos
réus reincidentes em crimes dolosos e com sentença transitada em julgado (desde
que entre a condenação anterior e o crime atual não tenham decorrido 5 anos,
conforme art. 64, inciso I, do Código Penal); (c) diante de violência doméstica e
familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, se o intuito for garantir a execução das medidas protetivas de urgência.
Outra hipótese dessa modalidade de prisão está prevista no parágrafo único
do art. 313 do CPP, e ocorre se presente dúvida quanto à identidade civil do
suspeito ou quando não houver elementos suficientes que a esclareçam. Este
dispositivo prevê que, depois de identificada, a pessoa deverá ser colocada em
liberdade se não houver outro motivo para manter a prisão.
Há pelo menos três requisitos que devem estar conjuntamente presentes
para decretação da prisão preventiva:

1. Prova da 2. Indício suficiente de 3. Uma das situações do art. 312


existência de crime autoria: é a suspeita do CPP: garantia da ordem pública,
(materialidade): é a fundada de que, o garantia da ordem econômica,
certeza que ocorreu indiciado ou o réu seja, conveniência da instrução criminal
uma infração penal o autor da infração ou garantia da aplicação da lei
penal; penal.

A garantia da ordem pública é a hipótese de interpretação mais ampla e


flexível na avaliação da necessidade da prisão preventiva. Pode ser identificada por
meio da incidência de vários fatores, entre eles a gravidade concreta da infração, a
repercussão social e a periculosidade do agente.
Lembramos que a prisão preventiva é, por lei, exceção! A regra, portanto, é
a liberdade. As medidas cautelares diversas da prisão devem preferidas em relação
à prisão, que é o meio mais gravoso. Apenas quando estas não foram cabíveis, a
prisão preventiva poderá então ser decretada.

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8. INTERROGATÓRIO E CONFISSÃO
O interrogatório do acusado é oral e, quando houver mais de um indiciado,
deverá ser realizado separadamente, como determina o art. 191 do CPP. Ele é
constituído, didaticamente, de duas partes: interrogatório de qualificação e
interrogatório de mérito.3
No interrogatório de qualificação, o conduzido é indagado sobre seu nome,
filiação, estado civil, naturalidade. No interrogatório de mérito, pergunta-se ao
conduzido se é verdadeira a imputação e demais perguntas sobre o fato ou fatos
imputados.
No interrogatório pode haver confissão, e deve-se saber que a confissão
pelo acusado não tem, sozinho, valor probatório. Seja no IP, seja no processo, a
confissão precisa ser reforçada com outros meios de prova; em outras palavras, não
se pode condenar uma pessoa somente por sua confissão, por mais clara e
inequívoca que seja.

9. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS


No âmbito da investigação, reconhecer significa estabelecer a identidade da
pessoa ou da coisa que se vê com a pessoa ou coisa que já se viu.
Se mais de uma pessoa for realizar o reconhecimento, deve-se evitar
qualquer comunicação entre elas anterior ao reconhecimento.
O ato de reconhecimento de pessoa segue algumas etapas:

 A pessoa que fará o reconhecimento deverá descrever características


do indivíduo a ser reconhecido.

 Coloca-se a pessoa que se pretende reconhecer ao lado de outras


semelhantes a ela, se possível.

 O reconhecedor, vendo o suspeito entre outras pessoas, deverá


apontar para a pessoa que reconhecer.

3
Não significa que haja dois momentos, mas apenas para efeito de entendimento do interrogatório, isto é,
para fins didáticos, divide-se-o dessa forma.
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Trocando em miúdos: como primeiro passo do reconhecimento, a pessoa
que fará o reconhecimento deverá descrever o indivíduo a ser reconhecido. Depois,
se possível, coloca-se a pessoa que se pretende reconhecer ao lado de outras
semelhantes a ela, para que o reconhecedor a aponte. Se houver risco de
atemorização do reconhecedor pela mera presença do indivíduo, pode-se
providenciar uma barreira visual para que o reconhecedor veja o suspeito, mas o
suspeito não possa vê-la.
O processo de reconhecimento também pode ser realizado por fotografia.
Esse ato, se positivo por reconhecer o acusado como real praticante do crime, pode
legitimar o convencimento do juiz para a condenação, e o contrário também é
verdadeiro — a certeza do reconhecedor de dizer que não é aquela pessoa pode
fundamentar a absolvição.

10.ACAREAÇÃO
A acareação refere-se à diligência que permite à autoridade colocar, frente
a frente, duas ou mais pessoas que, no curso da investigação ou do processo,
tenham apresentado versões conflitantes sobre fatos ou circunstâncias relevantes.
Ela pode ser realizada entre os acusados; entre acusados e testemunhas; entre
acusados ou testemunhas e a pessoa ofendida; entre as vítimas ou, ainda, entre as
testemunhas. As pessoas acareadas são colocadas uma em frente da outra,
permanecendo a autoridade perto delas. A finalidade da acareação é explicar os
pontos em desarmonia sobre os fatos.

11.AVERIGUAÇÃO DA VIDA PREGRESSA DO INDICIADO


Vida pregressa significa aquilo que aconteceu antes. É tornar a vida de um
indivíduo conhecida até o momento em que é investigada, saber como era a vida da
pessoa antes da infração penal.
A investigação da vida pregressa no inquérito policial pode ser classificada
em três campos:
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 Campo individual: Investiga-se nome, prenome, filiação, se é filho
biológico ou adotivo, se já foi tutelado ou curatelado, se tem algum
tipo de vício ou apresenta alguma enfermidade mental.

 Campo familiar: Verifica-se se o suspeito é casado ou vive em união


estável, se tem filhos, se os membros da família já passaram por
alguma tragédia, qual o grau de instrução deles.

 Campo social: Avalia-se a aceitação do indiciado no meio em que


sempre viveu, procurando apurar os problemas por quais já passou,
sua condição econômica etc.

12.FOLHA DE ANTECEDENTES
Quando a notitia criminis chega ao conhecimento do delegado, ele deve
ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e
juntar aos autos sua folha de antecedentes.
A folha de antecedentes não se apaga. Se por engano a pessoa é indiciada,
sua folha de antecedentes receberá a informação do indiciamento, ainda que o
inquérito policial venha a ser arquivado ao se constatar o erro de indiciar a pessoa
errada. Entretanto, essa informação que constará em sua folha de antecedentes
não poderá desaboná-la caso venha a ter de ser exposta, por exemplo, por ocasião
de aprovação em concurso público, mas ficará registrada.

13.TERMO CIRCUNSTANCIADO
Quando a autoridade policial tomar conhecimento de um fato criminoso
cuja pena estabelecida em lei seja de até, no máximo, 2 (dois) anos, deverá
encaminhar o autor do fato e o ofendido ao juizado para a lavratura do termo
circunstanciado (art. 69 da Lei nº 9.099/1995). Nesse contexto, não há a
necessidade de inquérito policial.

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O termo circunstanciado é uma peça semelhante a um boletim de
ocorrência policial, devendo conter a qualificação dos envolvidos na prática do fato
criminoso e um relatório sumário, com todos os dados considerados fundamentais
para a individualização dos fatos e a indicação do rol de testemunhas. Portanto, o
termo circunstanciado tem por objeto a descrição da infração e suas circunstâncias,
a qualificação das testemunhas e a indicação das requisições de exames necessários
à prova da materialidade da infração.
A autoridade policial competente para a lavratura será aquela que for
comunicada sobre a ocorrência da infração. O termo circunstanciado é um ato
administrativo e deve, para ser válido, apresentar cinco elementos essenciais:
objeto lícito; forma legal; competência da autoridade; motivo, e finalidade.
O motivo refere-se à existência suficientemente caracterizada de uma
infração penal qualificada como de pequeno potencial ofensivo. Já a finalidade é de
propor elementos, somados à prova técnica requisitada, a fim de elucidar a
formação da opinio delicti do MP para a propositura da ação penal ou de outra ação
descrita em lei especial. Assim como no IP para as demais infrações penais, o termo
circunstanciado deve conter os elementos suficientes para sustentar a acusação e as
providências penais, na proporção exigida pela natureza da infração, sendo
indispensável para estabelecer a justa causa da persecução penal.
Se a ação penal indevida e sem justa causa é uma coação ilegal que pode ser
trancada por meio de habeas corpus, assim também o inquérito policial e o termo
circunstanciado que não tenham justa causa podem ser trancados por meio de
habeas corpus. Com a lavratura do flagrante ou do termo circunstanciado, a
autoridade assume a coação processual, tornando-se coatora responsável por ser a
impetrada do habeas corpus. Conforme disposto no art. 144, § 4º da CF/1988, a
única autoridade que pode lavrar o auto circunstanciado é o delegado de polícia de
carreira da Polícia Civil.

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14.CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA
A falsidade ideológica é um crime tipificado no art. 299 do Código Penal:
“Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que
dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e
reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.”

A falsidade ideológica (falso ideal, moral ou intelectual) caracteriza-se


quando alguém mente ou omite a verdade em relação ao conteúdo de um
documento verdadeiro, sendo falsa a ideia exposta no documento. A falsidade
ideológica é a mentira registrada em documento físico ou eletrônico. Portanto,
existe um documento verdadeiro, mas seu conteúdo é falso. Essa falsidade não
requer perícia, sendo cometida por autor ostensivo ou por documento declarado e
resume-se à mentira narrada ou à verdade relevante omitida.

15.CRIME DE FALSIDADE MATERIAL DE ATESTADO OU CERTIDÃO


A falsidade material de atestado ou certidão é crime previsto no art. 301, §
1º do Código Penal, com pena de até dois anos.
Diz o referido dispositivo legal:
“§ 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o
teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou
circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus
ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos. ”

Refere-se, o crime, a objeto destinado a provar fato ou circunstância que


habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter
público, ou qualquer outra vantagem, como a falta justificada a determinada
atividade letiva ou profissional.

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Os tipos penais são a previsão legal de crimes e sua punição. Teoricamente,
todos os tipos penais existem para proteger algum valor individual ou social, o que
significa dizer que o legislador cria leis penais para proteger valores. Dessa maneira,
o valor protegido pela punição legal do crime de certidão ou atestado
ideologicamente falso conforme previsto no art. 301, caput, do Código Penal é a
crença na veracidade e na autenticidade dos atestados ou certidões emitidas por
órgãos públicos, destinados a habilitar pessoas a obterem cargos públicos, a isentá-
las de ônus ou serviço público, ou qualquer outra vantagem. Nesse tipo de crime há
violação à administração pública.
Percebemos portanto que, na falsidade material, a própria forma do
documento, no todo ou em parte, é alterada ou, ainda, o agente pode forjar um
documento, criando um documento novo. Já na falsidade ideológica, a forma do
documento é verdadeira, mas seu conteúdo é falso: a ideia ou declaração que o
documento contém não corresponde à verdade.

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