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Fundamentos e Aspectos Essenciais – Resumax

Conceito
Direito Processual Penal é o conjunto de atos cronologicamente concatenados (procedimentos),
submetido a princípios e regras jurídicas destinadas a compor as lides de caráter penal. Sua finalidade é,
assim, a aplicação do direito penal objetivo.
- O Direito Processual Penal é dividido em duas finalidades:
* Imediata ou direta: Aplicação, em concreto, da Lei penal. Estado faz valer o Jus Puniendi.

* Mediata ou indireta: Restauração da ordem violada pela prática do delito, por meio da aplicação da lei
penal.
Fontes
Material Formais
É o órgão, ente, entidade ou instituição responsável Forma que a norma é lançada no mundo jurídico.
pela produção da norma processual penal. Podem ser imediatas ou diretas (CF/88, Leis,
Tratados e convenções internacionais) e mediatas
ou indiretas (Costumes e princípios gerais do
Direito).

Princípio do Devido Processo Legal


CF/88. Art. 5. LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Corolários do Devido Processo Legal: Contraditório e Ampla defesa.
CF/88. Art. 5. LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Princípio do Contraditório
Estabelece que os litigantes e os acusados possam apresentar contradições aos argumentos expostos
pela parte contrária e as provas apresentadas.
O princípio pode ser limitado quando a decisão do Juiz for essencial para o andamento do caso e não
possa esperar a manifestação da parte.

Princípio da Ampla Defesa


Estabelece que o acusado possua o direito à produção de provas, a recursos em face das decisões
judiciais, assistência integral e gratuita, dentre outros instrumentos.
O réu pode se recusar a exercer a autodefesa, pois tem o direito de permanecer em silêncio, já a defesa
técnica é indispensável ao processo criminal.
Caso o réu não possua defesa técnica, o Juiz encaminhará os autos à Defensoria Pública, para que atue
como curador do acusado, ou não existindo Defensoria no local, nomeará defensor dativo.

Princípio do Duplo Grau de Jurisdição


Estabelece que as decisões judiciais estejam sujeitas à revisão por outro órgão do Judiciário.
Não está previsto expressamente na CF/88, porém tem previsão no Pacto de San José da Costa Rica.
Não é um princípio absoluto, pois existem casos que não é possível Duplo Grau de Jurisdição.

Princípio da Isonomia Processual


Estabelece que as pessoas sejam iguais perante a lei, sendo vedadas práticas discriminatórias.
No campo processual os prazos recursais devem ser os mesmos para acusação e defesa.

Princípio do Juiz Natural


CF/88. Art. 5. LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
É vedada a formação de Tribunal ou Juízo de exceção.

Princípio da Publicidade
Estabelece que, em regra, os atos processuais e as decisões judiciais serão públicos, sendo acessível
a qualquer pessoa. Porém, a publicidade é relativa, podendo ser limitada no caso de intimidade das
partes ou quando for de interesse público.
CF/88. Art. 5. LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
Os procuradores (Advogado, membro do MP) não podem ser limitados em relação aos atos processuais, sob
pena de nulidade, pois têm como finalidade a defesa técnica do acusado.

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Princípio da Vedação às Provas Ilícitas


CF/88. Art.5. LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
A doutrina divide as provas ilegais em provas:
* Ilícitas: Violam normas de direito material;
* Ilegítimas: Violam normas de direito processual.
A doutrina majoritária admite a utilização de provas ilícitas quando esta for a única forma de se obter a
absolvição do réu.
As provas lícitas obtidas a partir de outras provas ilícitas, são consideradas provas ilícitas por
derivação.

Princípio da Inércia
O Juiz não pode dar início ao processo penal, pois estaria sendo imparcial.
A promoção da ação penal pública compete privativamente ao MP, sendo este o titular da ação penal
pública.
O Sistema Acusatório é aquele em que existe a figura que acusa e a outra figura que julga. (BR.
ADOTA)
O Sistema Inquisitivo é aquele em que o acusador e julgador se confundem na mesma pessoa,
gerando a parcialidade do julgador.
O princípio da Inércia impede o Juiz, de ofício, iniciar o processo penal, porém não impede que o mesmo
realize diligências a fim de apurar provas que sejam relevantes para o andamento do processo, pois o CPP
segue o princípio da Busca pela Verdade Real ou Material.
O princípio da inércia (indiretamente) não permite também que o Juiz julgue um fato não contido na
denúncia.

Princípio do In dúbio pro reo


Conforme o Princípio do In dúbio pro reo, caso existam dúvidas sobre a culpa ou não do acusado, o juiz
deverá decidir em favor do réu, pois sua culpa não foi cabalmente comprovada.

Princípio do In dúbio pro societate


Quando se tratar do princípio In dúbio pro Societate, o Juiz, embora tenha dúvida da culpa do réu, decide
contrariamente a este com fundamento apenas em indícios de autoria e prova de materialidade em prol
da sociedade. Porém essa decisão não ocasiona consequências ao réu, mas dá início apenas ao
processo para a elucidação dos fatos.

Princípio da Presunção de não culpabilidade (ou Presunção de inocência)


Estabelece que nenhuma pessoa pode ser considerada culpada antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória.
CF/88. Art. 5. LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
O ônus da prova cabe ao acusador (MP ou Ofendido), sendo o réu inocente, até que se prove o
contrário.
Conforme o Princípio do In dúbio pro reo, caso existam dúvidas sobre a culpa ou não do acusado, o juiz
deverá decidir em favor do réu, pois sua culpa não foi cabalmente comprovada. Porém, existem casos
em que mesmo pairando dúvidas se o réu cometeu ou não o crime, o Juiz decidirá contrariamente àquele,
como no caso do Processo de competência do Júri, que prevalece o in dúbio pro societate.
Tal princípio pode ser considerado:
* Uma regra de julgamento ou probatória: O ônus (obrigação) da prova cabe ao acusador. Com isso, o réu
é considerado inocente até que se prove culpado.

* Uma regra de Tratamento: O réu é tratado como inocente.

Ocorrem duas dimensões:


- Interna: O réu deve ser tratado como inocente dentro do processo.

- Externa: O réu não pode sofrer reflexos negativos na sua vida durante o processo.
O princípio da presunção de inocência possui ordem constitucional devendo as normas infraconstitucionais
respeitá-lo.
A prisão provisória (prisão decretada no curso do processo) não ofende a presunção de inocência,
sendo tratada como uma prisão cautelar e não como cumprimento de pena.
Súmula 9/STJ - A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da
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presunção de inocência.
A prisão cautelar como antecipação da pena é inadmissível, sendo utilizada apenas quando
devidamente fundamentada.
Processos criminais em curso e inquéritos policiais em face do acusado não podem ser considerados
como maus antecedentes. (STF E STJ)
Súmula 444/STJ - É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a
pena-base.
Não existe necessidade de condenação penal transitada em julgado para que o preso tenha a pena
aumentada. Ocorrendo um novo crime ou falta grave, durante a pena do crime antigo, ocorrerá a
regressão, não existindo necessidade de condenação criminal ou administrativa.
LEP/84, Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a
transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
O acusado que cometer crime durante o beneficiamento da suspensão do processo, terá este benefício
revogado por não ter cumprido as condições, não precisando ocorrer o trânsito em julgado da sentença
condenatória do crime novo.
STF/ADCs 43, 44 e 54
O STF decidiu em sua maioria (6x5) que o cumprimento da pena apenas terá começo após o
esgotamento de todos os recursos (trânsito em julgado), não sendo mais possível a prisão em
condenação após segunda instância.

Princípio da Vedação à Autoincriminação


- Estabelece que o acusado não é obrigado a praticar qualquer ato que possa ser prejudicial à sua
defesa.
- O silêncio não pode ser considerado como confissão e nem pode ser interpretado em prejuízo da
defesa.
- Fazem parte do princípio da Vedação à Autoincriminação:
* Direito ao Silêncio;

* Inexigibilidade de dizer a verdade: O réu pode mentir em juízo, não sendo criminalizado o perjúrio,
que é a mentira realizada pelo réu em juízo.

* Direito de não ser compelido a praticar comportamento ativo: O réu pode se recursar a participar da
produção de provas quando perceber que irá se prejudicar;

* Direito de não se submeter a procedimento probatório invasivo: Exame de sangue, endoscopia,


colonoscopia.

Princípios Constitucionais do Processo Penal


Princípio da Presunção da inocência ou não culpabilidade
CF/88. Art. 5. LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
Princípio do Devido processo legal
CF/88. Art. 5. LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Princípio do Contraditório e ampla defesa
CF/88. Art.5. LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Princípio da Não obtenção de provas por meio ilícito
CF/88. Art.5. LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
Princípio da Publicidade
CF/88. Art.5. LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
Princípio da não Autoincriminação
CF/88. Art.5. LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-
lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
Princípio da Razoável duração do processo
CF/88. Art.5. LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Princípio do Juiz Natural
CF/88. Art.5. LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
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Princípio da Soberania dos Veredictos


CF/88. Art.5. XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

STF/Súmula 523
No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se
houver prova de prejuízo para o réu.

STF/Súmula 704
Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.

STF/HC 73.522/MG
Por ser a pronúncia mero juízo de admissibilidade da acusação, não é necessária prova incontroversa
do crime, para que o réu seja pronunciado. As dúvidas quanto à certeza do crime e da autoria deverão ser
dirimidas durante o julgamento pelo Tribunal do Júri.

STF/H.C 116.301 MG
A busca da verdade real não se subordina, aprioristicamente, a formas rígidas, por isso que a afirmação
da reincidência independe de certidão na qual atestado cabalmente o trânsito em julgado de anterior
condenação, sobretudo quando é possível provar, por outros meios, que o paciente está submetido a
execução penal por crime praticado anteriormente à sentença condenatória que o teve por reincidente.

STF/H.C 116.029 MG
A razoável duração do processo não pode ser considerada de maneira isolada e descontextualizada
das peculiaridades do caso concreto. Na espécie, não configurado o alegado excesso de prazo, até
porque a melhor compreensão do princípio constitucional aponta para o processo sem dilações
indevidas, em que a demora na tramitação do feito há de guardar proporcionalidade com a
complexidade do delito nele veiculado e as diligências e os meios de prova indispensáveis a seu
deslinde.

STF/R.E 122.011 MS
A valorização da prova diz respeito ao valor jurídico desta, para admiti-la ou não em face da lei que a
disciplina, razão por que é questão estritamente de direito. Já o reexame da prova é diverso: implica a
reapreciação dos elementos probatórios para concluir-se se eles foram, ou não, bem interpretados -
e, portanto, questão que se circunscreve ao terreno dos fatos.

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Código Processual Penal


Competência Legislativa
- Não é admissível a existência de Códigos Processuais Estaduais, pois compete privativamente a
União legislar sobre o direito processual.
CF/88. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

LIVRO I
DO PROCESSO EM GERAL

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:

I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes


conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de
responsabilidade (Constituição, arts. 50. § 2º; 52. I, parágrafo único; 85, 86, § 1º, II; e 102, II, b); (Jurisdição
Política)

III - os processos da competência da Justiça Militar (e também eleitoral);

IV - os processos da competência do tribunal especial; (Inciso não possui mais validade)

V - os processos por crimes de imprensa. (Inciso não possui mais validade)

Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis
especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a
vigência da lei anterior. (Princípio do Tempus Regit Actum ou Efeito imediato ou Aplicação Imediata da lei
processual)

Aplicação da Lei Processual


Lei Processual Penal no Espaço
- A lei processual vigora em determinado lugar e em determinado momento.
- O CPP adotou, como regra, o princípio da territorialidade, que estabelece que a Lei produzirá seus
efeitos dentro do território nacional. Desta forma, o CPP aplica-se apenas aos atos processuais que
estejam em território nacional.
Lei Processual Penal no Tempo
Existem três teorias que explicam a aplicabilidade da lei processual penal no tempo:
* Teoria da Unidade Processual;
* Teoria das Fases Processuais;
* Teoria do Isolamento dos Atos Processuais. (CPP ADOTA)
Teoria da Unidade Processual
- O processo criminal só pode ser regido apenas por uma única lei.
- Uma Lei processual nova não pode ser aplicada a processos criminais em andamento, sendo aplicável
apenas aos novos processos.
Teoria das Fases Processuais
- É possível a aplicação de diversas leis em um processo, porém cada fase do processo deve seguir
apenas uma lei.
- É possível a aplicação de uma nova lei dentro de um processo em andamento, no entanto, não será
aplicada na fase atual, e sim na futura.
Teoria do Isolamento dos Atos Processuais
- É possível a aplicação de diversas leis no processo dentro de uma mesma fase processual.

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- A nova lei processual é aplicável de forma imediata aos processos em curso, no entanto irá afetar
apenas os atos processuais futuros, não acarretando mudanças nos atos já realizados.
- O CPP adota. Art. 2º.
- Fenômeno da Heterotopia: Trata-se de normas de natureza material (que fazem parte do Direito Penal)
que se encontram inseridas em uma lei processual.
- O STF e o STJ entendem que as normas relativas à execução penal são de direito material.

I Jornada de Direito Processual Penal – Enunciado 01


A norma puramente processual tem eficácia a partir da data de sua vigência, conservando-se os efeitos
dos atos já praticados. Entende-se por norma puramente processual aquela que regulamente
procedimento sem interferir na pretensão punitiva do Estado. A norma procedimental que modifica a
pretensão punitiva do Estado deve ser considerada norma de direito material, que pode retroagir se for
mais benéfica ao acusado.

STJ/REsp 1.046.429-SP
O fato de a lei nova ter suprimido o recurso de protesto por novo júri não afasta o direito à recorribilidade
subsistente pela lei anterior, quando o julgamento ocorreu antes da entrada em vigor da Lei n.º
11.689/2008 que, em seu art. 4.º, revogou expressamente o Capítulo IV do Título II do Livro III, do Código de
Processo Penal, extinguindo o protesto por novo júri. Incidência do princípio tempus regit actum.

Art. 3º. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito.

Interpretação e Integração da Lei Processual


- Interpretação Extensiva: é a extensão do alcance do que diz a lei, sem violar o princípio da
legalidade.
- Aplicação Analógica: É o mesmo que comparação. É uma forma de integração da lei penal que será
utilizada quando não existir norma disciplinando determinado caso. Utiliza-se uma norma aplicável a outro
caso.
- É possível utilizar o instituto da analogia quando os casos apresentarem:
* Igual valoração jurídica;

* Circunstâncias semelhantes.
OBS: A analogia in malam partem pode ser aplicada, caso não existam lesões a conteúdos de natureza
material (penal).
OBS: Os princípios gerais do Direito têm como uma de suas finalidades integrarem a lei, complementando
as lacunas existentes.

STJ/REsp 1.420.960-MG
É possível a aplicação analógica dos arts. 61 e 62 da Lei 11.343/2006 para admitir a utilização pelos órgãos
públicos de aeronave apreendida no curso da persecução penal de crime não previsto na Lei de Drogas,
sobretudo se presente o interesse público de evitar a deterioração do bem. Isso porque, em primeiro lugar,
de acordo com o art. 3º do CPP, a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Assim, é possível, sobretudo porque permitido pelo próprio CPP, o uso da analogia, que consiste em
processo de integração por meio do qual se aplica a uma determinada situação para a qual inexiste
hipótese normativa própria um preceito que regula hipótese semelhante.

Ressalte-se, ainda, que, para o uso da analogia, não importam a natureza da situação concreta e a
natureza do diploma de onde se deve extrair a norma reguladora. Em segundo lugar, porque a exigência
contida no art. 61 da Lei 11.343/2006, referente à existência de interesse público ou social, encontra se
cumprida no presente caso, qual seja, evitar a deterioração do bem apreendido.

Por fim, em terceiro lugar, porque a preocupação em se prevenir que a demora nos processos judiciais
venha a propiciar a degeneração do bem apreendido é atual, existindo, inclusive, no projeto do novo Código
de Processo Penal (PL 8.045/2010), seção específica a tratar do tema, sob o título Da utilização dos bens
por órgãos públicos, o que demonstra a efetiva ocorrência de lacuna no Código atualmente em vigor, bem
como a clara intenção de supri-la.
Juiz das Garantias – Suspensão da Nova Redação

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Entenda o Caso
Dia 24/12/19 Sancionado Pacote Anticrime, passando a valer a partir do dia 23/01/20.
O Presidente do STF, Ministro Dias Toffoli, suspende, liminarmente, os Arts. 3º-B, 3º-C,
3º-D, caput, 3º-E e 3º-F do CPP pelo prazo de 180 dias e os arts. 3º-D, parágrafo único, e
Dia 15/01/20 157, § 5º, do CPP por tempo indeterminado. Conforme o Ministro, “o novo instituto
demanda uma organização que deve ser implementada de maneira consciente em todo o
território nacional, respeitando-se a autonomia e as especificidades de cada tribunal”.¹
O Vice-Presidente do STF, Ministro Luiz Fux, decide por meio de outra liminar revogar,
monocraticamente, a liminar do Ministro Dias Toffoli. Na sua liminar, o Ministro Luiz Fux
decidiu suspender a eficácia por tempo INDETERMINADO dos Arts. 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-
D, 3ª-E, 3º-F, do CPP (Juiz das Garantias); os Art. 28, caput, do CPP; Art. 157, §5º, do
Dia 22/01/20 CPP; Art. 310, §4°, do CPP. Conforme o Ministro, “Em suma, concorde-se ou não com a
adequação do juiz das garantias ao sistema processual brasileiro, o fato é que a criação de
novos direitos e de novas políticas públicas gera custos ao Estado, os quais devem ser
discutidos e sopesados pelo Poder Legislativo, considerados outros interesses e prioridades
também salvaguardados pela Constituição”.²
Nesse sentido, a liminar de suspensão, por tempo indeterminado, apresentada pelo Vice-Presidente do
STF, Luiz Fux, na ADI 6.299, torna, atualmente, o Art. 3º-A inaplicável.
Fonte¹: https://www.conjur.com.br/dl/liminar-suspende-implantacao-juiz.pdf
Fonte²: https://www.conjur.com.br/dl/fux-liminar-juiz-garantias-atereferendo.pdf

Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a
substituição da atuação probatória do órgão de acusação.

Sistemas Processuais
Inquisitivo Acusatório (BR Adota)
O julgador acumula funções de Juiz e acusador. Existe a separação entre as figuras do acusador e
Existe carência do contraditório e da ampla defesa e do julgador, existindo o contraditório, a ampla
a confissão é considerada a prova fundamental. defesa e a isonomia entre as partes.
Guilherme de Souza Nucci – Sistema Inquisitivo¹
É caracterizado pela concentração de poder nas mãos do julgador, que exerce, também, a função de
acusador; a confissão do réu é considerada a rainha das provas; não há debates orais, predominando
procedimentos exclusivamente escritos; os julgadores não estão sujeitos à recusa; o procedimento é
sigiloso; há ausência de contraditório e a defesa é meramente decorativa.
Com a aprovação do pacote anticrime, o CPP/41 passou a prevê, de forma expressa, a estrutura
acusatória.
Fonte¹: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 6. ed. rev. atual. ampl. 2010. Editora Revista dos
Tribunais Ltda, São Paulo - SP.

Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela
salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder
Judiciário, competindo-lhe especialmente:

I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do inciso LXII do caput do art. 5º da Constituição
Federal;

II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da legalidade da prisão, observado o disposto no art.
310 deste Código;

III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo determinar que este seja conduzido à sua presença,
a qualquer tempo;

IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal;

V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar, observado o disposto no § 1º
deste artigo;

VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las,
assegurado, no primeiro caso, o exercício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do disposto neste
Código ou em legislação especial pertinente;

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VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não repetíveis,
assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral;

Direito ao Contraditório e à Ampla Defesa


Antes da Lei 13.964/2019 Após a Lei 13.964/2019
- Não existe o direito ao contraditório e a ampla CPP/41. Art. 3º-B. O juiz das garantias é
defesa no inquérito policial, uma vez que ocorre responsável pelo controle da legalidade da
apenas a investigação para descobrir se houve investigação criminal e pela salvaguarda dos
crime por meio do papel inquisitivo da autoridade direitos individuais cuja franquia tenha sido
policial, que é um papel de natureza pré- reservada à autorização prévia do Poder Judiciário,
processual; (Procedimento Inqusitorial) competindo-lhe especialmente:

VII - decidir sobre o requerimento de produção


antecipada de provas consideradas urgentes e não
repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla
defesa em audiência pública e oral;
Vale ressaltar que o Art. 156, I do CPP está tacitamente revogado, após a inserção do Art. 3ª- A dado pela
Lei 13.964/19, pois aquele estabelece uma forma inquisitiva por parte do juiz, sendo considerada uma
substituição da atuação probatória do acusador.
Apresenta-se, também, divergente em relação ao Art. 3ª- A dado pela Lei 13.964/19, a regra do artigo 385,
do CPP, porque se não há pedido de condenação ou de condenação parcial, descabe ao Juiz decretar a
condenação. Condenar sem pedido é abuso de autoridade.

VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso, em vista das razões
apresentadas pela autoridade policial e observado o disposto no § 2º deste artigo;

IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não houver fundamento razoável para sua
instauração ou prosseguimento;

X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o andamento da investigação;

XI - decidir sobre os requerimentos de:

a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática ou de outras


formas de comunicação;

b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico;

c) busca e apreensão domiciliar;

d) acesso a informações sigilosas;

e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fundamentais do investigado;

XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia;

XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental;

XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código;

XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor
de acesso a todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo
no que concerne, estritamente, às diligências em andamento;

XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia;

XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de colaboração premiada,
quando formalizados durante a investigação;

XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas no caput deste artigo.

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§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e
ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15 dias, após o que, se
ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.

Prorrogação do Inquérito Policial


Antes da Lei 13.964/2019 Após a Lei 13.964/2019
CPP/41. Art. 10. O inquérito deverá terminar no CPP/41. Art. 3º-B. § 2º Se o investigado estiver
prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em preso, o juiz das garantias poderá, mediante
flagrante, ou estiver preso preventivamente, representação da autoridade policial e ouvido o
contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a
que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de duração do inquérito por até 15 dias, após o que, se
30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou ainda assim a investigação não for concluída, a
sem ela. prisão será imediatamente relaxada.
Não havia prorrogação. Prorrogação de 15 dias, se estiver preso.
Indiciado Preso: 10 Dias Indiciado Preso: 10 + 15 dias.
OBS: A eficácia da nova redação do Art. 3º-B § 2º do CPP está suspensa por liminar do STF na ADI
6.299. Sendo assim, aplica-se ainda os prazos do Art. 10.

Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor
potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código.

§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e
julgamento.

§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução e julgamento, que, após
o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso,
no prazo máximo de 10 (dez) dias.

§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na
secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do
processo enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas
irrepetíveis, medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para
apensamento em apartado.

§ 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do juízo das garantias.

Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências dos arts. 4º e
5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo.

Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um sistema de rodízio de
magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo.

Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as normas de organização judiciária da União, dos
Estados e do Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem periodicamente divulgados pelo respectivo
tribunal.

Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o tratamento dos presos,
impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para explorar a imagem da
pessoa submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e penal.

Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deverão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias, o
modo pelo qual as informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso serão, de modo padronizado
e respeitada a programação normativa aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa, assegurados a
efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa submetida à prisão.

@Quebrandoquestões

10/10

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