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Universidade Católica de Mocambique

Faculdade de Engenharia

Direito, 4o Ano, Laboral

Direito Processual Penal

Tema: Princípios Relativos á Prossecução Processual

Princípio da Investigação, Princípio da Contrariedade e Audiência

Princípio da Suficiência e Questões Prejudicais, Princípio da Concentração

Princípio da Celeridade Processual e Princípio da Economia Processual

Discentes: Docente:
Aissa Ismail Adam Dr. Rui Molande

Astra António Ofesse Mafunga

Fahar Mário

Katia Maria Salomão Draiva

Maria Sasma António Chissuro


Michela Joaquim Raposo

Chimoio, Abril, 2022


Introdução
Neste presente trabalho da cadeira de Direito Processual Penal iremos abordar
sobre “os princípios relativos à prossecução processual ” falaremos relativamente dos
princípios: da investigação, da contrariedade e audiência, da suficiência e questões
prejudiciais, da concentração, da celeridade processual e da economia processual, com o
objectivo de abordar sobre todos os aspectos juridicamente relevantes sobre o tema em
questão

Estes princípios aplicam-se a todos o processo penal, mas em matizes particulares, em


algumas fases, sobretudo na fase do julgamento.
Princípio
É um conjunto de regras ou padrões de conduta a serem seguidos por uma pessoa ou
instituição.
Para Celso de Melo, “princípio Jurídico é o mandamento nuclear de um sistema, é um
verdadeiro alicerce, são disposições fundamentais que se irradia sobre diferentes normas
compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exacta compreensão , serve
para definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo”.

Segundo Afrânio Silva Jardim, “os princípios são extraídos da legislação positiva,
estando nela consagrados de forma expressa ou implícita, possuindo duas relevantes
funções ”a estruturação das leis e o limite para interpretá-las” .
A doutrina tem procurado classificar os princípios em dois grandes grupos:
a) os princípios gerais informadores do processo; e
b) os princípios informadores do processo penal.

princípios relativos á prossecução processual


Correspondem a certas soluções organizadas de acordo com uma certa proposição
normativa.
Segundo Robert Alexy, considera que os princípios são “mandatos de optimização”: o
aplicador do direito deve materializar os princípios em caso concreto que tenha em
mãos. Destes mandatos podem resultar regras de optimização: para se chegar ao
objectivo do principio, há que adoptar a regra processual.

Funções dos princípios relativos á prossecução processual

Podemos destacar quatro funções dos princípios:


Função orientadora
Quer para ao legislador, quer para o intérprete, quer para o aplicador do direito, os
princípios são a realidade que está por detrás da actuação das várias autoridades
judiciais e dos sujeitos processuais, e a realidade pela qual estes se devem reger.
Função limitadora
Há certas questões que não são admissíveis porque a sua aceitação implica a violação de
um Direito Constitucional.
Função argumentativa
Os princípios podem ser utilizados para fundamentar decisões e pretensões, a nível
argumentativo.
Função integradora de lacunas
O processo penal consagra-se como uma solução em caso de lacunas.1

Aplicação dos princípios relativos á prossecução processual


Os princípios fundamentais do processo penal são aplicados por:
 Legislador: nas revisões processuais que façam.
 Aplicadores do direito: tribunais, Ministério Público, órgãos de polícia criminal,
advogados, arguidos, demais participantes processuais.

PRINCÍPIOS DA PROSSECUÇÃO PENAL

Na prossecução penal são aplicáveis os seguintes princípios:

Princípio da investigação

Consiste no poder “dever” que o tribunal tem de esclarecer e investigar autonomamente


o facto trazido a julgamento. O juiz deve fazer uma investigação autónoma dos factos,
do objecto do processo, para além das contribuições da acusação e da defesa.

O nosso processo penal tem estrutura acusatória integrada por um principio da


investigação, compete ao juiz/tribunal, recolher provas para fundamentar a sua decisão.
porque ele tem de decidir na base das provas que são produzidas no processo, e como o
sujeito não tem ónus da prova e o juiz não está limitado aos contributos dos sujeitos
processuais, o juiz para alcançar a verdade material, pode e deve investigar livremente. 2
O tribunal não está apenas dependente dos contributos que os sujeitos processuais

1
Os princípios têm um peso importantíssimo desde a sua criação à sua aplicação e compreensão, o que os
torna completamente fundamentais.
2
O juiz não é apenas aquele que recebe a acusação e a defesa, mas tem um poder-dever de investigação
autónoma dos factos. Este principio também é chamado de verdade material, porque o juiz deve fazer
todas as diligencias necessárias para descobrir a verdade material a respeito daqueles factos (como
ordenar a produção de prova, inquirição de testemunhas). O juiz pode ordenar qualquer acto que entenda
ser essencial para os factos.
possam trazer ao processo, mas tem um poder-dever de investigação autónoma dos
factos.

No processo civil, as provas são indicadas pelos articulados, no processo penal, as


provas são plasmadas na acusação. O arguido não tem ónus da prova, porque é o
ministério público, que tem de provar tudo. Existe a possibilidade do arguido, arrolar
previamente testemunhas no decurso do julgamento. Este processo faz-se por
requerimento oral, dirigido ao juiz e ditado para ata, que na maior parte das vezes é
diferido, por ser sustentado na sua necessidade para a descoberta da verdade material.

O princípio da investigação existe já em momento da instrução, onde o JIC tem uma


tarefa específica de investigação, sendo que pode ordenar os actos necessários, sendo
contra o arguido ou á favor deste. Podemos ver o art. 307ºCPC, que permite ao juiz
maior margem de manobra que na maior parte dos processos não tem. O juiz pode
ordenar actos de forma autónoma.

Princípio da contrariedade e audiência


É o principio segundo o qual na descoberta da verdade material e na aplicação da
justiça devem ser igualmente considerados tanto as razões da acusação como os pontos
de vista de defesa. A justiça é a resultante da actividade de todos os sujeitos processuais
e não apenas da actividade do juiz não podendo pois alguém ser condenado sem que se
conceda o direito de se fazer ouvir.
O principio da audiência é a primeira das expressões do principio do contraditório e
este ultimo assume a sua forma mais acabada no direito de contestação concedido ao
arguido sobre os factos alegados contra ele.
No processo penal, diferente do que ocorre no âmbito civil, a efectiva
contrariedade à acusação é imperativa para o atingimento dos escopos jurisdicionais,
objectivo só possível com a absoluta paridade de armas conferida às partes. O arguido,
pelo princípio do contraditório, tem o direito de conhecer a acusação a ele imputada e de
contrariá-la, evitando que venha a ser condenado sem ser ouvido, O processo penal
subordina-se ao princípio do contraditório. Vide o arto 5º do CPP.3

3
Princípio do contraditório.
Trata-se da exteriorização da ampla defesa, impondo uma condução dialéctica do
processo, pois “a todo acto produzido caberá igual direito da outra parte de opor-se-lhe
ou de dar lhe a versão que lhe convenha, ou, ainda, de fornecer uma interpretação
jurídica diversa daquela feita pelo autor”.
Percebe-se, portanto, que o princípio do contraditório é uma garantia constitucional que
assegura a ampla defesa do acusado, proporcionando a este o exercício pleno de seu
direito de defesa.
Segundo Canuto Mendes de Almeida que, sobre o tema, ensina:“A verdade
atingida pela justiça pública não pode e não deve valer em juízo sem que haja
oportunidade de defesa do indiciado. É preciso que seja o julgamento precedido de actos
inequívocos de comunicação ao réu: de que vai acusado; dos termos precisos dessa
acusação; e de seus fundamentos de facto (provas) e de direito. 4
Para Júlio Fabrini Mirabete e Fernando da Costa Tourinho Filho “esclarecem que do
princípio do contraditório decorrem duas importantes regras: a da igualdade processual
e a da liberdade processual. Pela primeira, as partes acusadora e acusada estão num
mesmo plano e, por conseguinte, têm os mesmos direitos; pela segunda, o acusado tem
a faculdade, entre outras, de nomear o advogado que bem entender, de apresentar provas
lícitas que julgar as mais convenientes e de formular ou não reperguntas às testemunhas.
O contraditório trata- de uma garantia constitucional nuclear na fase do julgamento.
Todas as decisões que sejam feitas no processo devem ser sujeitas à intervenção dos
outros sujeitos processuais.
O contraditório é sujeito de ser graduado, comportando três níveis:
 O direito de audiência: direito a ser ouvido antes da decisão ser tomada;
 O direito a obter informação e participar na decisão;
 Possibilidade de impugnar a decisão.

Principio da suficiência e questões prejudicais

O tribunal penal resolve todas as questões de qualquer ramo do direito cuja resolução
seja necessária à boa decisão da causa. Em termos técnicos, isto significa uma

4
Necessário também é que essa comunicação seja feita a tempo de possibilitar a contrariedade: nisso está
o prazo para conhecimento exacto dos fundamentos probatórios e legais da imputação e para oposição da
contrariedade e seus fundamentos de fato (provas) e de direito.”
competência material alargada do tribunal. Um tribunal penal tem competência material
alargada quando compete a questão penal e para a resolver resolve todas as questões
mesmo que sejam não penais necessárias para resolver a questão penal. O inverso já não
é verdadeiro. Se no tribunal civil ocorrer uma situação penal, o tribunal civil não tem
competência para avaliar a questão penal. O regime substantivo do principio é o da
competência material alargada e devolução facultativa. (o tribunal pode conhecer a
questão, mas facultativamente pode devolver a situação prejudicial a um tribunal de
outra natureza, o que se vai manifestar no regime processual).5

Neste caso a decisão do outro tribunal terá de ser filtrada pelo tribunal de processo
penal, sendo que poderá até rejeitar essa decisão e decidir de forma diferente se houver
uma violação fundamental das regras do processo penal.

A doutrina apresenta três situações:


 Podem surgir questões civis em processo penal;
 Podem surgir questões penais em processo penal;
 Podem surgir questões não penais em processo penal, o que leva à suspensão do
processo.

princípio da suficiência do processo penal remete-nos para um outro: o das questões


prejudiciais em processo penal

Questões prejudiciais

São todas as questões jurídicas, com exclusão de questões processuais, que possuindo
objecto ou natureza diferente da questão principal (objecto do processo), no processo
principal em que surgem, são autónomas quanto ao objecto e, por vezes, até mesmo
quanto à natureza, cujo conhecimento prévio se afigura indispensável para que o
tribunal decida do mérito da questão principal, pois a boa decisão desta, depende do
esclarecimento da questão prejudicial.

É o que prevê o artigo 14 do CPP:

“Quando, para se conhecer da existência da infracção penal, seja necessário resolver


qualquer questão de natureza não penal que não possa convenientemente decidir-se no

5
Art. 13 do CPP.
processo penal, pode o juiz suspender o processo, para que se intente e julgue a
respectiva acção no tribunal competente.”

Para a qualificação de uma questão, no plano processual, como prejudicial, terão de se


verificar cumulativamente os seguintes requisitos:

Antecendente juridico concreto

A questão prejudicial terá que constituir um antecedente jurídico-concreto da decisão da


questão principal, o que impõe que a primeira seja decidida antes da segunda. A
antecedência das questões prejudiciais relativamente à questão principal é de ordem
cronológica e não lógica;

Questão autónoma do objecto

A questão prejudicial terá de apresentar-se como autónoma quanto ao objecto e, por


vezes, quanto à sua natureza. Como tal, tendo objecto próprio, essa questão poderá ser
susceptível de constituir objecto de um processo autónomo, específico.

Questão necessária

A questão prejudicial terá de apresentar-se como necessária, do ponto de vista lógico,


para que o tribunal possa conhecer do mérito da questão prejudicada, ou seja, da
existência de um crime. Não se afigura suficiente a necessidade de uma antecedência
cronológica na resolução de uma questão, como acontece com as chamadas questões
prévias, de natureza processual, em relação à questão de mérito. A questão prejudicial
terá que contender com o conhecimento de um elemento constitutivo da infracção e não
de uma circunstância geral agravante ou atenuante. Estão incluídas aqui, as questões
prejudiciais que possam contender com uma causa de justificação de um crime.

Conforme o Arto. 14 no 2 do CPP, presume-se a inconveniência do julgamento da


questão prejudicial no processo penal:
a) quando incida sobre o estado civil das pessoas;
b) quando seja de difícil solução e não verse sobre factos cuja prova a lei civil
limite.
Princípio da Concentração
O principio da concentração pode ser espacial ou temporal. O processo deve decorrer de
uma forma unitária e continuada, não havendo uma fragmentação do mesmo nem no
tempo, nem no espaço. Deve ocorrer sem grandes vazios entre os vários momentos
processuais. Este principio é fundamental a nível da produção de prova, já que se o
tribunal fizer uma sequencia continuada de audiências de julgamento, terá maior
capacidade de absorção dos factos que sejam processualmente relevantes. Se,
porventura, fragmentar o processo no tempo, tal poderá constituir uma maior
dificuldade no sentido de produção da prova.
Nos grandes julgamentos isso acaba por ser inevitável. Então coloca-se a questão de
saber se isso é ou não legítimo.
Principio da concentração especial

Princípio da celeridade processual


O Princípio da celeridade processual diz respeito ao tempo em que o processo se
desenvolve perante o juízo competente, de forma que não é devida a sua eternização
em razão de questões burocráticas e protelatórias, que somente afastam o cidadão dos
direitos que lhes são cabíveis.

princípio da economia processual

O princípio da economia processual orienta os atos processuais na tentativa de que a


atividade jurisdicional deva ser prestada sempre com vistas a produzir o máximo de
resultados com o mínimo de esforços, evitando-se, assim, gasto de tempo e dinheiro
inutilmente.
Conclusão
Referência bibliográfica
República de Moçambique, Código do Processo Penal, (2019) In: boletim da Republica
Lei n.º 26/2019 de 26 de Dezembro.
Melo, Celso bandeira. Curso de Processo Penal. Saraiva, 1998, pág. 13.

Alexy, Robert,. Elementos de direito processual penal, 2ª ed., Forense, v.1, p.20.

FIGUEIREDO DIAS, Jorge. Direito processual penal, v. 1, p. 58 a 69.

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