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6 - PRINCÍPIOS INFORMADORES DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

6.1. INTRODUÇÃO: CONCEITO E RELEVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS

6.1.1. Constitucionalização do processo

● Tutela Constitucional do processo é uma matéria atinente à TGP e comprota dupla

formação
o O direito de acesso à justiça, também denominado direito de ação e de defesa;
o O direito ao processo (garantias do devido processo legal).

● Para a constituição o processo é instrumento de exercício da cidadania, adequado e

apto à pacificação social.

6.1.2. Sistema principiológico e o NCPC

6.1.2.1. Sistema

● Nesse tópico tem um trecho interessante que eles falam sobre o fato de Alexy ter sido

um dos precursores da escola pós-positivista: “diante de um caso difícil (hard case),


não há como autorizar ao magistrado decidir arbitrariamente, devendo, pois, se valer
das regras e dos princípios de direito, uma vez que estes também compõem o sistema
jurídico.”

6.1.2.2. Princípios
inseridos que estamos em um novo sistema e ordenamento jurídico permeados por inúmeras
cláusulas gerais e comandos principiológicos, imperioso o papel da jurisprudência, cabendo
aos nossos Tribunais, notadamente os Tribunais superiores, a concretização da força
normativa de que se revestem os princípios processuais.

6.2. ACESSO À JUSTIÇA E EFETIVIDADE DO PROCESSO

● Está diretamente relacionado à questão da Justiça social, tendo em vista interligar o

processo com a Justiça social.


● Mauro Cappelletti sobre o tema: “O acesso à Justiça pode, portanto, ser encarado

como o requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema


jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os
direitos de todos”;

● A Declaração Universal dos Direitos do Homem veicula no seu artigo 10º, entre outros

princípios, que “Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que sua causa seja
equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que
decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria
penal que contra ela seja deduzida” (OLHA AÍ OS TRATADOS INTERNACIONAIS COMO
FONTE DE NORMA PROCESSUAL);

● Brasil – estado social – dever de prestar serviços sociais ao cidadão – serviço de devida

tutela jurisdicional, justa e efetiva;

● Mais do que o simples ingresso em juízo – garante sim o direito a uma tutela justa,

adequada ao plano material e efetiva;

● Tem imbricação com os princípios:

o Da efetividade do processo;
o Da tempestividade da tutela jurisdicional;
o Da adequação dos meios à natureza do conflito;
o Da gratuidade da justiça.

● Sobre a efetividade – de nada adianta oferecer um processo que não produza efeitos

reais e que esses efeitos não sejam justos;

● Sobrecarga da justiça e estímulo que o NCPC dá aos meios adequados de resolução de

conflitos

6.3. DEVIDO PROCESSO LEGAL OU PROCESSO JUSTO

● Constitui o limite mais representativo e protetor dos direitos de liberdade do cidadão

contra a usurpação do poder público, representando não apenas o direito à obtenção


de uma tutela jurisdicional (direito a uma tutela processual), mas assegurando
também a tutela ao direito (direito a uma tutela material) por meio do processo
judicial ou administrativo. – União Direito processual e material se dá aqui;
● art. 5º, inciso LIV, da Constituição de 1988 assegura, sob a cláusula de que “ninguém

será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” – aspecto
criminal ou punitivo;

● limitação ao exercício do poder do Estado:

o contraditório;
o ampla defesa;
o duração razoável;
o juiz natural;
o inadmissibilidade de produção de provas ilícitas;

● A maioria dos princípios relativos ao processo derivam do devido processo legal

● garante-se a proteção jurisdicional decorrente de lesão ou ameaça a direito; proíbem-

se os tribunais de exceção; impede-se que um indivíduo seja processado e sentenciado


por autoridade incompetente; garante-se o contraditório e a ampla defesa em
igualdade de condições entre as partes; os atos processuais como regra são marcados
pela publicidade; proíbem-se as provas obtidas por meio ilícito, assegura-se a
motivação das decisões judiciais a fim de que se possa exercitar o duplo grau de
jurisdição.

6.4. CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E VEDAÇÃO DA DECISÃO SURPRESA

● art. 5º, LV, da CF o contraditório e a ampla defesa, determina o legislador constituinte

que: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes”.

● José Roberto dos Santos Bedaque: Ampla defesa é a garantia de participação conferida

exclusivamente às partes da relação processual. “Já o contraditório é fenômeno mais


amplo, pois ele se refere também ao juiz, que deve, juntamente com os sujeitos
parciais do processo, assumir postura ativa no desenvolvimento do processo,
preocupando-se com seu resultado”.

● dever imposto ao juiz de informar a parte sobre tudo o que ocorre no processo,

daquilo que é de seu conhecimento a respeito da causa e de todas as atividades da


parte contrária, de maneira a ser efetivada a oportunidade para manifestação;
● direito das partes – dever do juiz;

● art. 9º do Código de Processo Civil brasileiro: “Não se proferirá decisão contra uma das

partes sem que ela seja previamente ouvida”, tabém o 7º e o 10º;

● a) o direito de receber informações adequadas e tempestivas sobre as atividades

realizadas, as iniciativas empreendidas e os atos de impulso realizados pela parte


contrária e pelo juiz, durante todo o processo; b) o direito de se defender ativamente,
posicionando-se sobre cada questão, de fato ou de direito, que seja relevante para o
deslinde da causa; como de resto, também, c) o direito de pretender que o juiz leve
em consideração as suas defesas, as suas alegações e as suas provas, quando da
prolação da decisão.

● Vedação da “decisão surpresa”- fundamentos não mencionados no processo;

6.5. INÉRCIA DA JURISDIÇÃO, DISPOSITIVO, DEMANDA, IMPULSO OFICIAL E CONGRUÊNCIA


DA TUTELA JURISDICIONAL

● art. 2º do NCPC: “O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por

impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”;

● os juízes não saem em busca das lides para resolvê-las, mas aguardam que os

interessados, frustradas eventuais tratativas amigáveis, busquem espontaneamente a


intervenção estatal, propondo a demanda.

● O princípio da inércia da jurisdição é o mesmo princípio da demanda visto pelo lado

passivo;

● Imparcialidade do juiz;

● Exceções à inércia:

o Poderes instrutórios do juiz;


o Conhecimento das matérias de ordem pública.

● Consiste a demanda no ato pelo qual alguém pede ao Estado a prestação de atividade

jurisdicional;

● Em que pese à relação entre o princípio da demanda e o princípio dispositivo,

porquanto ambos decorrem do princípio da autonomia da vontade;


● Delimitação do objeto do processo, da extensão do julgamento – limites do pedido –

princípio da congruência;

● Princípio dispositivo: diferença em relação ao princípio inquisitivo (sistema acusatório

e sistema inquisitório), evidencia que o processo se move pelo impulso das partes,
delimita o objeto do processo

● Vale dizer, será congruente a sentença que não estiver eivada dos vícios de

incongruência e, nessa medida, não for extra, ultra ou citra petita.

● 322 do NCPC, que determina que “A interpretação do pedido considerará o conjunto

da postulação e observará o princípio da boa-fé”;


o Permite-se, pois, ao magistrado extrair pedidos não expressos na petição
inicial, mas que, em tese, seriam passíveis de ser deduzidos, de acordo com o
conjunto da postulação, desde que em respeito ao princípio da boa-fé.

● Posição da lide, para o resguardo da norma principiológica da boa-fé. (…). O STJ tem

adotado cada vez mais a tese de que o pedido deve ser extraído da interpretação
lógico-sistemática da petição inicial, a partir da análise de todo o seu conteúdo

6.6. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

● Não existe um lapso temporal definido, está mais associado à não protelação dos atos,

à colaboração, à primazia da instrumentalidade das formas;

● Convenção Americana de Direitos Humanos, assinada em 1969 em São José da Costa

Rica, segundo previsão contida em seu art. 8º, I: “Toda pessoa tem direito a ser ouvida,
com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal
competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se
determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de
qualquer outra natureza” (Mencionar como tratados internacionais – fonte de
normas processuais);

● art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal de 1988; art. 4º do NCPC revela

exatamente essa preocupação da processualística: “As partes têm o direito de obter


em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”.;
● falar dos processos eletrônicos.

6.7. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

● uma norma de comportamento, de fundo ético, juridicamente exigível e independente

de qualquer questionamento em torno da presença de boa ou de má intenção;

● Humberto Theodoro Junior: A procrastinação maliciosa, a infidelidade à verdade, o

dolo, a fraude, e toda e qualquer manifestação de má-fé ou temeridade, praticados


em juízo, conspurcam o objetivo do processo, litigância de má-fé, na fraude
processual, no manifesto propósito protelatório;

● Multa por litigância de má-fé;

● Artigos 77, 322, §2º; 489, §3º; 774, todos do NCPC.

6.8. COOPERAÇÃO

● Art. 6º NCPC - “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se

obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”;

● Além das partes e do juiz, também participam do processo os auxiliares da justiça e,

eventualmente, terceiros intervenientes, o Ministério Público, a Defensoria etc;

● Possibilidade de celebração de negócios processuais (art. 190) é um bom exemplo,

mas o princípio não se resume a isso.;

6.9. PRINCÍPIO DA ISONOMIA

● Isonomia real e isonomia formal – tratar os desiguais na medida de sua desigualdade

(inversão do ônus da prova quando uma parte foi hipossuficiente em relação à outra);

● Isonomia vai além de um processo específico, é um princípio que deve ordenar a

atuação do juiz diante de jurisdicionados que se encontram em processos diferentes


também. Exemplo art. 12, segundo a qual “os juízes e os tribunais atenderão,
preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou
acórdão”, entra nesse contexto de dar tratamento isonômico às partes;
6.10. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

● art. 5º, inciso LX, segundo o qual “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos

processuais quando a defesa da intimidade ou interesse social o exigirem”. Mais


adiante, o art. 93, inciso IX, estabelece que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”;

● Exceções – Segredo de Justiça - art. 189 CPC

o (I) o exigir o interesse público ou social;


o (II) nos processos que digam respeito a “casamento, filiação, separação de
corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de
crianças e adolescentes”;
o (III) em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
ou;
o (IV) “que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta
arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo”

● Rol de segredo de justiça é taxativo? Divergência doutrinária.

o Fernando Gajardoni entende não ser taxativo e sim exemplificativo;


o Pedro Henrique Nogueira – Taxativo

6.11. PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS


o 489, ao elencar os requisitos essenciais da sentença, notadamente em seu §
1º, pormenoriza, pela negativa, como deve se caracterizar a motivação das
decisões: “§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja
ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
o I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
o II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
o III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
o IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de,
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
o V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento
se ajusta àqueles fundamentos;
o VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento”

● Deve o juiz fornecer as razões que o levam à decisão, possibilitando que dela tomem

conhecimento as partes e o tribunal em apreciação de eventual recurso, sob pena de o


vício transformar o dispositivo em comando de autoridade e a sentença que dele
padece se revestir, tão só, de aparência de legalidade, eis que a legalidade substancial
da prestação jurisdicional está adstrita à coerência lógica do processo mental seguido
pelo juiz.

6.12. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL

● veda expressamente a criação de juízo ou tribunal de exceção, especificamente para

julgamento de determinado caso. Nesse contexto, prescreve o art. 5º, inciso XXXVII,
que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”;

● Explicar sobre competência relativa (interesse das partes) e absoluta (interesse da

justiça);

6.13. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

● O princípio do duplo grau de jurisdição reserva às partes a possibilidade de

provocarem, mediante a interposição de recurso, o reexame da matéria decidida,


normalmente por órgão hierarquicamente superior.

6.14. VEDAÇÃO DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIO ILÍCITO

● art. 369 do NCPC, “As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem

como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar
a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na
convicção do juiz”;

● Constituição Federal, art. 5º, inciso LVI, “são inadmissíveis, no processo, as provas

obtidas por meio ilícitos”.

● Três correntes sobre a admissibilidade da prova obtida por meio ilícito:

o Teoria dos frutos da árvore envenenada - obstativa;


o Permissiva: aceita a prova, punindo quem praticou o ato ilícito;
o Intermediária: Há que se verificar em cada caso concreto se a transgressão, a
violação justifica o comportamento da parte na obtenção da prova a partir da
ponderação entre valores constitucionais distintos. (Freddie Didier Jr.)
o Utilização pro reo e o processo penal

6.15. LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO

● art. 371: “O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito

que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu


convencimento”;

● O legislador, ao substituir a expressão “O juiz apreciará livremente a prova”, constante

no art. 131 do CPC/1973, por “O juiz apreciará a prova”, consoante o art. 371 do NCPC,
deu margem à discussão, no novo sistema processual civil, acerca da permanência (ou
não) do princípio da livre convicção motivada, também denominado princípio da
persuasão racional;

● Três sistemas de valoração da prova no direito processual

o Sistema da prova legal ou tarifada: lei fixa valor da prova;


o Sistema do livre convencimento puro: magistrado tem total liberdade para
apreciar e valorar a prova, sem necessidade de fundamentação (juri);
o Sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional: liberdade do
julgador para apreciar e valorar a prova, precisa expor as razões de seu
convencimento na decisão que será pública.

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