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ARA1238 TEO. GER. DO PROC E FASE DE CONHEC. NO PROC.

CIVIL
AULA 1: Fundamentos do Direito Processual
INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Conceito: O Direito Processual Civil é o sistema de normas que regulam o funcionamento e o exercício
da jurisdição civil. É ramo do direito público, e o é porque regula a relação não somente das partes ou
de legiAmados, mas conta com a parAcipação efeAva do Estado-juiz na condição de exercente do poder
estatal que resolverá a questão.

Processo é caminho, é meio de se alcançar algo. É instrumento para o exercício de um direito ou poder.

O procedimento é a exteriorização do processo, na medida em que se revela por meio de uma


sequência encadeada de atos que levam à prolação de uma decisão de mérito.
• O código de processo civil, Lei n.o 13.105/2015, no
NORMAS 8tulo único do livro I da parte geral, dedicou-se
FUNDAMENTAIS exclusivamente às normas fundamentais do processo civil.

DO PROCESSO • O rol de normas fundamentais apresentado pelo


CIVIL CPC/2015 não é exausGvo (enunciado 369 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis – FPPC). Ademais, as
normas fundamentais podem ser normas regras ou
normas princípios (enunciado 370 do FPPC)2.
Princípio do devido processo legal

Trata-se de um direito fundamental previsto na Cons4tuição Federal, em uma cláusula geral (art.
5o, LIV da CF), o qual se revela por meio de um conjunto de normas (regras e princípios)
ins4tuidoras de garan4as processuais e materiais, permi4ndo que a norma jurídica individualizada
a ser produzida no processo seja mais justa, tempes4va e efe4va possível.

Processo devido é aquele cujo procedimento tem previsão em lei, que se desenvolve em tempo
razoável perante um juízo natural e competente, que garante a par4cipação em cooperação e com
boa-fé de todos os atores do processo, que garante o efe4vo contraditório a ambas as partes, e que
culmina em uma decisão de mérito devidamente fundamentada.
Devido processo legal formal e material

• dimensão formal se refere à observância das garanAas processuais, ou seja, que dizem respeito ao
procedimento (observância do juízo natural, das regras de competência, conexão, conAnência etc.).

• dimensão material (ou substancial) representa um verdadeiro controle, por parte do Poder
Judiciário, de eventual aAvidade legislaAva abusiva, desproporcional.

• Tal compreensão pode ser extraída do art. 8o do CPC/2015, in verbis:


Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem
comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
O princípio do contraditório é um direito
fundamental previsto em uma cláusula
geral (art. 5o, LV, da CF). Tal princípio
decorre da cláusula geral do devido
processo legal.

Princípio do O contraditório é direito de ambas as

contraditório
partes e não necessariamente do réu.

Ao falarmos em contraditório, devemos ter


em mente três importantes sen4dos:
contraditório é reação, par?cipação e
influência.
Princípio do contraditório

Segundo o art. 9o do CPC/2015, nenhuma decisão pode ser proferida contra


uma parte sem que ela seja previamente ouvida. A prévia oiDva da parte serve
justamente para que ela possa buscar influir na decisão.

Segundo o referido disposiDvo, o juiz não pode decidir em grau algum de


jurisdição com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às
partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a
qual deva decidir de oJcio.
Princípio da ampla
defesa

• é a concreGzação, no mundo fenomênico,


do princípio do contraditório. Portanto,
sempre que houver, na práGca, a efeGva
parGcipação e o efeGvo exercício do poder
de influência pela parte, diz-se, então, que a
ampla defesa foi exercida.
Princípio da duração razoável do processo

• O referido princípio foi ins-tuído pela Emenda Cons-tucional (EC) n.o 45/2004, e não se confunde
com o princípio da celeridade. Tal princípio tem expressa previsão no art. 5o, LXXVIII, da CF e no art.
4o do CPC.

• Processo devido é aquele que se desenvolve em tempo razoável. O processo, portanto, deve durar o
tempo que for necessário para a construção da norma jurídica.

• O princípio da razoável duração do processo se dirige a todos os atores do processo.

• Em relação ao juiz, cabe a ele, nos termos do art. 139, II, do CPC, velar pela razoável duração do
processo.
Princípio da publicidade dos autos processuais

• O princípio da publicidade dos atos processuais decorre de uma imposição consGtucional (art. 93,
IX, da CF).
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
inAmidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

• Art. 11 do CPC: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade”. Tal princípio também é reafirmado pelo art.
8o do CPC.

• Dupla garanGa: a) garanGa de controle e fiscalização da sociedade em geral em relação aos atos do
poder público, em especial da aGvidade jurisdicional; b) garanGa de imparcialidade do julgador.
Princípio da publicidade dos autos processuais

• É importante registrar que este princípio não é absoluto, comportando, pois, mi?gações, as quais constam do
art. 189 do CPC, in verbis:

Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de jus4ça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda
de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito cons4tucional à in4midade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade
es4pulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.

• Art. 367, §§ 5o e 6o, do CPC, admite que a audiência seja integralmente gravada em imagem e em áudio, em
meio digital ou analógico, desde que seja assegurado o rápido acesso das partes e dos órgãos julgadores,
independentemente de autorização judicial.
Princípio da mo-vação (ou fundamentação)
das decisões judiciais
• Decorre de uma imposição cons?tucional (art. 93, IX, da CF).
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena
de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à in4midade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação.

• O inciso X do art. 93 da CF/88 também traz previsão expressa quanto à observância do dever de mo?vação das
decisões administra?vas dos tribunais: “ as decisões administra?vas dos tribunais serão mo?vadas e em sessão
pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros”.

• Art. 11 do CPC “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade”.

• Dupla garan?a: a) garan?a de fiscalização da sociedade em geral; b) permite que as partes conheçam as razões
que levaram o órgão julgador a decidir em determinado sen?do.
• O princípio da isonomia está previsto no
ar1go 7o do CPC. O art. 139, inciso I, do CPC
dirige uma obrigação ao juiz, uma vez que ele
deve velar pelo tratamento igualitário das

Princípio da partes. Este princípio decorre do princípio da


igualdade, previsto no art. 5o, caput, da CF.
• Busca-se uma igualdade não apenas formal
isonomia entre as partes, mas, sim, uma igualdade
material, que na visão aristotélica nada mais é
do que tratar os iguais de forma igual e os
desiguais de forma desigual na medida de suas
desigualdades. Busca-se a chamada “paridade
de armas”.
Princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário (princípio
do acesso à jus8ça)

• Tal princípio está consagrado no inciso XXXV do art. 5o da CF, segundo o qual
“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”.

• O acesso à jusFça é um direito fundamental, sendo, portanto,


inconsFtucionais eventuais barreiras a esse acesso.

O art. 3o do CPC, por sua vez, reproduziu o comando consFtucional,
dispondo que “não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a
direito”.
Flexibilização do Princípio da inafastabilidade do Poder
Judiciário

• Lides despor?vas: para se ajuizar uma ação envolvendo lide despor4va, é necessário o esgotamento da via
administra4va (despor4va), nos termos do art. 217, § 1o da CF;

• Habeas data: nos termos do art. 8o, parágrafo único, da Lei n.o 9.507/1997, a pe4ção inicial deverá ser instruída
com a prova: I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de 10 (dez) dias sem qualquer decisão
sobre tal pedido; II - da recusa em fazer a re4ficação ou transcurso de mais de 15 (quinze) dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer a anotação a que se refere o § 2o do art. 4o ou do decurso de mais de 15 (quinze) dias
sem decisão. É importante destacar que no caso do habeas data, não se exige o esgotamento da via
administra4va, mas tão somente a demonstração de tais requisitos na pe4ção;

• Ações previdenciárias: para o ajuizamento de uma ação obje4vando a concessão de bene`cio previdenciário, é
necessário que tenha havido o prévio requerimento administra4vo, ainda que não haja decisão administra4va
defini4va junto ao respec4vo órgão.
Princípio do juízo natural
• O princípio do juízo natural impede a escolha casuís7ca
de juiz (ou juízo) para o processamento e julgamento de
determinada causa.
• É preciso que as regras de competência previstas na
Cons7tuição Federal e nas leis sejam anteriores ao fato,
sob pena de se criar, para o caso, um indevido juízo (ou
tribunal) de exceção.
• O princípio do juízo natural pode ser extraído dos incisos
XXXVII e LIII do art. 5o da CF. Vejamos:
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção.
[...] LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente.
Princípio do duplo grau de
jurisdição

Tal princípio não possui previsão cons4tucional e não se trata de um


direito fundamental previsto na CF.

O princípio do duplo grau de jurisdição garante que a parte não fique


vinculada apenas a uma única decisão.

O referido princípio evita a concentração do poder nas mãos de um


único órgão julgador e permite que a decisão seja revista por outro
órgão jurisdicional.

O princípio do duplo grau de jurisdição não impõe que qualquer


decisão seja suscebvel de recurso.
Nos termos do art. 5o do CPC, “aquele que de
qualquer forma par6cipa do processo deve
Princípio comportar-se de acordo com a boa-fé”.

da boa-fé
processual Tal princípio tem suas raízes na Cons6tuição
Federal, a saber: a) art. 1o, inciso III, da CF/88
(dignidade da pessoa humana); b) art. 3o,
inciso I, da CF/88 (solidariedade); c) art. 5o,
inciso LIV, da CF/88 (princípio do devido
processo legal).
Proibição de li8gância de má-fé

• Aquele que li?ga de má-fé viola a boa-fé processual. Nos termos do art. 79 do CPC, “responde por perdas e danos
aquele que li?gar de má-fé como autor, réu ou interveniente”.

Art. 80. CPC. Considera-se li4gante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir obje4vo ilegal;
IV - opuser resistência injus4ficada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

• Art. 81 do CPC, “de oncio ou a requerimento, o juiz condenará o li?gante de má-fé a pagar multa, que deverá ser
superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos
prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocaocios e com todas as despesas que efetuou”.
Princípio da cooperação

• Nos termos do art. 6o do CPC, “todos os sujeitos do


processo devem cooperar entre si para que se obtenha,
em tempo razoável, decisão de mérito justa e efeDva”.

• Quando falamos em princípio da cooperação, é


necessário compreender três Dpos de sistemas de
estruturação do processo.
Princípio da adequação (adaptabilidade ou flexibilização) do
procedimento

• Processo devido é processo adequado às peculiaridades da causa. Nesse sen7do, pode


o juiz adequar/flexibilizar o procedimento, inclusive com a dilação de prazos processuais,
para adequar o processo às peculiaridades da causa, conforme previsão do art. 139, VI, do
CPC.
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
VI – dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova,
adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efeGvidade à tutela do
direito.
• Impende destacar, contudo, que a dilação do prazo processual, conforme dispõe o
parágrafo único do art. 139 do CPC, somente pode ser determinada antes de encerrado o
prazo regular.
Situação Problema

• Leia a no'cia re*rada de um site da internet: Um advogado que pediu para não ter seu
nome iden*ficado divulgou uma pe*ção que ele teria redigito para uma de suas causas, a
intenção dele seria provar que juiz não lê jurisprudências. Nossas pe*ções nunca são lidas
com a atenção necessária. A maior prova disso será demonstrada agora, pois se somos
tratados como pamonhas, nada mais justo do que trazer aos autos a receita desta tão
famosa iguaria. Rale as espigas ou corteas rente ao sabugo e passe no liquidificador, diz
um trecho da pe*ção do advogado que não quis se iden*ficar.

• A par*r disso, é possível iden*ficar: Qual princípio processual você acha que foi
violado? Explique
Estudo de Caso
• Durante o julgamento de uma causa, o juiz, de oacio
e sem prévia manifestação das partes, decidiu pela
prescrição da pretensão do autor. O fundamento da
decisão limitou-se à reprodução de um disposiGvo legal,
bem como à invocação de um precedente, sem
idenGficar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta ao
referido precedente. Analisando as condutas do juiz
neste processo, idenGfique e explique qual(is)
princípio(s) foi(ram) inobservado(s) pelo magistrado.

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