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Princípios do Código de

Processo Civil 2015


Profº Dr. Ruy Alves Henriques Filho
Princípios: são orientadores de todo o sistema processual, mandamentos de otimização. Não
se pode analisar um artigo do código por si só, mas através da lógica sistemática e estrutural
.

 Os princípios do Neoconstitucionalismo - se desenrolou um longo e


profundo processo de constitucionalização do Direito - unidade e
harmonia com a ordem constitucional - leitura de todo o sistema a
partir da ótica constitucional - reflexos também no novo CPC.
 Os vetores de insatisfação em face da prestação jurisdicional são:
morosidade (combatida pelos princípios da eficiência, satisfação e
negociação processual); o custo (flexibilizado pela tentativa de
dinamizar a fase do pré-julgamento); e a imprevisão (arrefecida pela
unificação de julgamentos, uniformização de jurisprudências e adoção
da Teoria dos Precedentes Judiciais).
O Código de Processo Civil inaugura na Parte Geral com as
normas fundamentais e a aplicação das normas processuais:

 O Art. 1º do CPC/2015: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado


conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.”
 O conjunto de normas processuais é chamado de Direito Processual Fundamental ou
Direito Processual Geral.
 Norma fundamental é o que estrutura o modelo de processo civil brasileiro – norte
de compreensão das demais normas.
 As normas fundamentais ora são princípios como o devido processo legal, ora são
regras como a proibição de provas ilícitas.
 Portanto parte das normas fundamentais decorrem diretamente da Constituição, o
chamado Direito Processual Fundamental Constitucional e, parte decorre da
legislação infraconstitucional que estão nos arts. 1º ao 12º do CPC/2015.
 Princípio da legalidade – art. 5º, II, CF/88 – esse princípio foi
adotado expressamente no art. 8º do CPC/2015:
“Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais
e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.”

 Princípio da motivação (lógico - universal) - impõe a necessidade


de fundamentação das decisões dentro de uma sustentação
racional da aplicação da lei com base no caso em concreto – art.
93, IX, CF/88 –
Desnecessidade de fundamentação prolixa. E dependerá da
complexidade do objeto - § 1º e § 2º do art. 489 do CPC
 Princípio da inafastabilidade da jurisdição – Art. 5º, XXXV da CF/88.
CPC: Art. 3º “Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.”
O jurisdicionado poderá buscar o Poder Judiciário para evitar, cessar ameaça ou
lesão à direito, formas de reavê-lo, restabelecê-lo ou ressarci-lo.

 Princípio do devido processo legal – art. 5º, LIV da CF/88 – arts. 2º ao 11º do CPC.
É o direito fundamental a um processo devido, justo, equitativo.
Devido processo legal corresponde due processo of law – conformidade do processo
com o Direito como um todo
Duas dimensões do devido processo legal –
1. Formal ou procedimental – direito ao contraditório, ao juiz natural, a duração
razoável do processo
2. Substancial – devido processo é aquele que gera decisões jurídicas
substancialmente devidas. No Brasil se considera a dimensão substancial como aquele
que emprega as máximas da proporcionalidade e razoabilidade. Processos Estruturais e
adequação procedimental!
 Princípio da dignidade da pessoa humana – conjunto de direitos
fundamentais previstos ou não na Constituição - Art. 1º, III, CF/88
Também está no art. 8º do CPC:

“Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às


exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência.”

 Aqui significa dizer que o juiz deve aplicar a norma jurídica resguardando a
dignidade da pessoa humana (pode-se aplicar de ofício, utilizar-se da
cláusula geral de atipicidade – art. 536, § 1º ). Exemplo: a prioridade na
tramitação do processo.
 Princípio do contraditório – art. 5º, LV da CF/88 - derivado do princípio do devido
processo legal é composto de duas garantias:
1. participação (dimensão formal)
2. possibilidade de influência na decisão interferindo com argumentações, ideias,
alegações de fatos (dimensão substancial).
* Portanto a parte tem direito de participar sendo ouvida e podendo influenciar
no conteúdo da decisão.

 O art. 9 e 10 do CPC também consagram o contraditório (substancial):

 A ”proibição de surpresa” - “Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes
sem que ela seja previamente ouvida.”

 “Art. 10º O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.” (Salvo
as exceções dos seus incisos – tutela provisória de urgência de evidência e art. 701)
 Princípio da ampla defesa - art. 5º, LV da CF/88 – ampla defesa é direito
fundamental de ambas as partes que corresponde ao aspecto substancial do
contraditório.

É um direito fundamental de ambas as partes – constituindo-se no conjunto


de meios adequados para exercício do adequado contraditório.

 possibilidade de influência na decisão interferindo com argumentações,


ideias, alegações de fatos (dimensão substancial do contraditório).
 Leonardo Greco aduz que:
 Hoje, o contraditório participativo e o diálogo humano que dele deve resultar
exigem [...] que o juiz antecipe as suas opiniões, e que o faça de público, e
não às escondidas, para que as partes possam acompanhar o desenvolvimento
do seu raciocínio e assim influir eficazmente na formação da decisão final.
 Princípio da publicidade - art. 5º, LX, CF/88 - corrobora o devido processo
legal - direito fundamental que tem como fim proteger as partes contra juízos
arbitrários e secretos e permitir o controle da opinião pública sobre os serviços
da justiça, sobre o exercício da atividade jurisdicional.
 Os arts. 8º e 11º do CPC reafirmam essa exigência:
“Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às
exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência.

Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.“
 Tem duas dimensões – a interna: ampla publicidade para as partes; externa:
para terceiros que pode ser restringida como nos casos de segredo de justiça.
 Princípio da duração razoável do processo - Emenda 45/2004 (incluiu o
inciso LXXVIII no art. 5º da CF/88: “a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Previsão legal
também no art. 8º do Pacto de São José da Costa Rica.

 Art. 4º do CPC: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a


solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.”

 CPC: Inciso II do art.139. “O juiz dirigirá o processo conforme as


disposições deste Código, incumbindo-lhe: II - velar pela duração
razoável do processo;”
 Princípio da igualdade processual (paridade de armas) - art. 5º,
caput, da CF/88: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza (...)”.
 CPC: Art. 7º “É assegurada às partes paridade de tratamento em
relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios
de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções
processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.”
 A igualdade processual deve observar: a imparcialidade do juiz; a
igualdade de acesso à justiça; redução das desigualdades de que
possam de algum modo dificultar o acesso à justiça; igualdade de
acesso às informações necessárias ao contraditório.
 Segundo Miguel Teixeira de Sousa (1997, p. 149-158), o dever de
colaboração do órgão jurisdicional para com as partes se desdobra em
cinco deveres anexos: de esclarecimento, de prevenção, de consulta,
de auxílio, bem como de correção e urbanidade.
 * Importante: dever de o órgão julgador confrontar o caso concreto com o caso paradigma
(art. 489, § 1 o, V e VI, CPC).
 CPC - Art. 489, § 1o :
“Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.”

 Princípio da eficiência/procedimental - art. 37, caput, da CF/88. O processo devido


deve ser eficiente – impõe que o órgão jurisdicional promova a condução eficiente do
processo com adequada gestão do processo (economia processual).
Art. 8º do CPC:
“Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências
do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando
a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.”
 Princípio da proteção da confiança – subprincípio da segurança jurídica – um
dos princípios que estruturam o Direito Processual Civil. Impõe ao Tribunal
uniformizar a própria jurisprudência.

 Dele decorre o dever de o Tribunal modular a eficácia da decisão que altera


jurisprudência consolidada.

 CPC: Art. 927, § 4o “A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência


pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a
necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os
princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.”
 Art. 926 e 927, ambos do CPC:
 Art. 926.  Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e
coerente.
 § 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os
tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
 § 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas
dos precedentes que motivaram sua criação.
 Art. 927.  Os juízes e os tribunais observarão:
 I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
 II - os enunciados de súmula vinculante;
 III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
 IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e
do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
 V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
 § 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1o, quando
decidirem com fundamento neste artigo.
 § 2o A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em
julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas
e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para
a rediscussão da tese.
 § 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo
Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento
de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no
interesse social e no da segurança jurídica.
 § 4o A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou
de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade
de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da
segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.
 § 5o Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por
questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede
mundial de computadores.
 Princípio da boa-fé processual – Art. 3º, I, da CF/88 (construir uma
sociedade, livre, justa e solidária é um dos objetivos da República Federativa
do Brasil)
 norma de conduta - cláusula geral processual – sua consagração foi resultado
de uma expansão da exigência da boa-fé do direito privado ao direito público
– atinge todos os sujeitos processuais e não apenas as partes.

 art. 5º do CPC: “Aquele que de qualquer forma participa do processo deve


comportar-se de acordo com a boa-fé.”

 CPC - Art. 489, § 3º: “A decisão judicial deve ser interpretada a partir da
conjugação de todos os seus elementos e em conformidade com o princípio da
boa-fé.”
 Princípio da efetividade/eficácia – direito a atividade satisfativa – direito à
execução – direito de alcançar de fato o bem da vida perquirido.
 Garantia não apenas da resolução de mérito, mas do alcance pelo
jurisdicionado do resultado material que se depreende da titularidade do
direito que lhe foi conferido com a entrega da tutela jurisdicional.
 Art. 4º do CPC: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.”

 Para Ovídio Baptista, satisfatividade é quase um sentir, algo sensorial.


Material, corpóreo ou concreto em seus efeitos.
 Princípio da primazia da decisão de mérito – deve-se priorizar a decisão de mérito. Fazer o
possível para que seja resolvido o mérito da causa, determinando a correção de vícios,
suprimento de pressupostos processuais.

 CPC: Art. 4º “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do
mérito, incluída a atividade satisfativa.” Corroborado pelo art. 4º do CPC.
 CPC: Art. 282. Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e ordenará
as providências necessárias a fim de que sejam repetidos ou retificados.
§ 1o O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não prejudicar a parte.
§ 2o Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da
nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.
 Art. 283. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não
possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se
observarem as prescrições legais.
Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo
à defesa de qualquer parte.

 (CPC: art. 317, 321, 485, § 7º, art. 488, 932, par. ú., art. 1.029, §3º)
 Princípio da cooperação – Esse princípio tem como base a boa-fé processual, o
contraditório e o devido processo legal uma vez que a condução do processo deixa
de ser determinada pela vontades das partes, bem como deixa de seguir o modelo
inquisitorial e passa a incluir o órgão jurisdicional no rol dos sujeitos do diálogo
processual.
 Busca-se uma condução cooperativa do processo sem destaque para qualquer dos
sujeitos processuais – pressupõe participação na gestão adequada do processo,
portanto, uma posição paritária, com diálogo e equilíbrio.

 CPC: Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

 Reflete a preocupação com a consolidação da democracia no que tange o processo


civil brasileiro. Peter L. Murray e Rolf Stürner (2004, p. 167) observam que o dever
do juiz de dar conselhos e feedback determina que o juiz aconselhe e assista as
partes em resolver sua disputa de acordo com o direito. São exemplos os §§ 139,
279(3) e 285 da ZPO alemã, bem como os artigos 590, n.o 2, “b” e 591, n.o 1, “c”;
do CPC português de 201335.
 Princípio do respeito ao autorregramento da vontade no processo – art. 5º,
caput, CF/88. Alinha-se com o princípio da adequação do processo.
 Decorre do direito à liberdade donde todo sujeito deve regular juridicamente
seus interesses definindo o que é melhor ou mais adequado para sua
existência. CPC: Art. 3º, § 3o, 2º e 1º - Direito a escolher pela solução
consensual do conflito ou não.
 
 O princípio do respeito ao autorregramento da vontade no processo tem como
fim um ambiente processual que resguarde o direito fundamental de
autorregular-se sem restrições que não razoáveis ou justas.
 Visa, pois, tonar o processo jurisdicional um espaço propício ao exercício da
liberdade.
 A celebração de uma convenção processual não implica, necessariamente, a
disposição do direito material que está sendo discutido no processo.
Negociações Processuais
 Princípio da adequação do processo (decorre do princípio da
inafastabilidade de jurisdição) – a adequação do processo visa a entrega da
tutela jurisdicional e sua efetividade. Deve ser precedida de intimação das
partes, preservando o contraditório. É uma continuidade da adequação
legislativa, mas na seara jurisdicional. Alinha-se com o princípio do
autorregramento e cooperação.
 Adequação:
 a) legislativa - informador da produção legislativa das regras processuais;
 b) jurisdicional – cabe ao juiz em análise ao caso em concreto adaptar o
procedimento às peculiaridades da causa a exemplo a possibilidade de
dilação dos prazos processuais (art. 373, § 1°, CPC); o julgamento
antecipado do mérito em que se pode abreviar o rito processual (arts.355-
356, CPC); não realização de audiência de autocomposição quando o caso
não a admitir (art. 334, §4°, II, CPC).
 c) negocial – o procedimento é adequado pelas próprias partes.
 Toda questão passa pela discussão sobre o caráter publicista ou privatista do
processo. Desde Chiovenda (relação jurídica de direito público, independente
da relação de direito material); Carnelutti (entendia que eram as partes que
serviam ao processo) e Calamandrei (que criticou a lide de Carnelutti porque
acentuava o caráter privado do processo).
 Rodrigo Ramina critica o ”hiperpublicismo danoso” que acabou por sufocar o
interesse dos maiores interessados: as partes. Até mesmo o STJ rejeitou a
desistência de recurso amparada em transação porque o julgamento do caso
seria relevante à sociedade e à homogeneização de um tema controverso.
RESP 1.063.343/RS
 O publicismo e o privativismo devem conviver harmoniosamente,
complementando-se de modo a viabilizar um processo regido pelo devido
processo legal (e também respeito aos precedentes judiciais) para alcançar
um resultado justo e juridicamente correto.
 O art. 12, §1o, do Code de Procédure Civile francês estabelece que o juiz
deve ditar sua sentença conforme as regras de direito que se aplicam a cada
caso. Assim, a sentença deve estar de acordo com o Direito, ou ser á́
censurada pelo Tribunal de Cassação. Entretanto, este dever não é absoluto,
já́ que as partes podem reduzir ou ampliar o poder do juiz por meio de
uma convenção. o acordo das partes pode igualmente ter por objeto
estender a função do juiz, outorgando-lhe a missão de decidir como
compositor amigável (art. 12, §4o, CPC francês). Neste caso, o magistrado
não tem o dever de aplicar as regras de direito, mas pode aplicar as leis e
normas regularmente aplicáveis se, desta forma, consegue uma solução
equitativa do litígio
 O Art. 114 do Codice di Procedura Civile italiano permite o julgamento por
equidade do mérito da causa que verse sobre direitos disponíveis, a pedido
conjunto de ambas as partes
 A Lei 9.099/95 também autoriza o julgamento por equidade (art. 6.)
 Exemplos: eleição de foro (art. 63); negócio tácito que em que a causa tramite
em foro relativamente competente (art. 65); calendário processual (191, 2 e 2);
renúncia de prazo (art. 225); acordo de suspensão do processo (313, II);
organização consensual do processo (art. 357, 2); adiamento negociado da
audiência (362,I); convenção sobre o ônus da prova ((373, 3 e 4); escolha
consensual do perito (471); escolha de arbitramento como técnica de liquidação
(509,I); desistência do recurso (999 – atenção para o julgado STJ QO em Resp.
1308830/RS de 8.5..2012 – matéria de interesse social e não sujeita à
desistência de rec), bem como pacto de mediação prévia obrigatória
(13.140/15, art. 2).
 A saber: o artigo 190 propõe negócio processuais ATÍPICOS
 O caput do art. 190 do CPC é uma cláusula geral, da qual se extrai o
subprincípio da atipicidade da negociação processual. Subprincípio, porque
serve à concretização do princípio de respeito ao autorregramento da vontade
no processo. Não se trata de negócio sobre o direito litigioso – essa é a
autocomposição, já́ bastante conhecida. No caso, negocia-se sobre o processo,
alterando suas regras, e não sobre o objeto litigioso do processo. São negócios
que derrogam normas processuais – Normdisposition, conforme designação de
Gerhard Wagner
 O art. 41, §1o do Code de Procédure Civil (CPC) francês dispõe que, nascido o litígio, as
partes poderão acordar que este será resolvido por determinado órgão jurisdicional,
ainda que incompetente em razão da quantia.
 Remo Caponi faz uso dos termos “accordi processuali” e “contratti processuali” para
denominar as convenções sobre matéria processual.

 A existência, a validade e a eficácia da convenção processual celebrada antes do início do


processo não dependem da intervenção do juiz. Neste caso, o magistrado simplesmente
verifica a juridicidade do acordo após o ajuizamento da ação. Assim, seria incongruente
exigir que o juiz fosse parte na convenção processual celebrada no curso do processo.
Contrato de Adesão – art. 424 CC. Nula será cláusula que impões renúncia a direito. Desta
forma, o juiz (pelo NCPC) deve esperar o requerimento da parte vulnerável.
 Segundo Robson Godinho, o consentimento é necessário à disposição, devendo-se
observar quanto a este, a presença de ao menos três elementos principais: capacidade –
e, nos casos de convenções processuais, importa o atendimento às capacidades
processuais (Ramina entende que não basta ter capacidade para estar em juízo. Tem que
ser maior de 18)–; voluntariedade – significando a ausência de pressões, e, no processo,
há que se considerar, além dos diversos vícios de vontade, a questão da vulnerabilidade,
especialmente em virtude do ônus da prova–; e informação – avultando o modelo
cooperativo de processo, com todos os seus consectários.
 Giuseppe De Stefano entende que, embora as partes possam celebrar um
“negócio de verificação” que estabeleça a existência ou a inexistência de
determinados fatos, este negócio não vincula o juiz. Entretanto, as partes
podem convencionar, escolhendo entre os vários meios de prova oferecidos
pela lei ou escolhendo, no âmbito de um determinado meio de prova, entre
várias formas e modos pelos quais o meio pode realizar-se. Na realidade, não
será válida e, tampouco, eficaz uma convenção por meio da qual as partes
ajustem retirar do juiz um poder a ele conferido pela lei. O juiz não pode
abrir mão de seu poder de determinar provas de oficio, embora deva
exercê-lo em caráter subsidiário, conforme Greco.
 Nada impede que o juiz proponha às partes determinada flexibilização do
processo legal. Entretanto, esta deve necessariamente ocorrer por meio de
convenção das partes, vide Processos Estruturais.
 Importante ressalvar que o dever de cooperação decorrente do princípio do
contraditório e não impõe às partes o dever de celebrar qualquer tipo de
acordo.
Gerenciamento Processual:
 DOS PODERES, DOS DEVERES E DA RESPONSABILIDADE DO JUIZ
 Art. 139.  O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
 I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
 II - velar pela duração razoável do processo;
 III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente
protelatórias;
 IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para
assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;
 V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores
judiciais;
 VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às
necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito;
 VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança interna dos
fóruns e tribunais;
 VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa,
hipótese em que não incidirá a pena de confesso;
 IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais;
 X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério P úblico, a Defensoria
Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei no
 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso,
promover a propositura da ação coletiva respectiva.
 Parágrafo único.  A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o
prazo regular.
 Art. 140.  O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico.
 Parágrafo único.  O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
 Art. 141.  O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes,
sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei
exige iniciativa da parte.
 Art. 143.  O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos
quando:
 I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;
 II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva
ordenar de ofício ou a requerimento da parte.
 Parágrafo único.  As hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas
depois que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o
requerimento não for apreciado no prazo de 10 (dez) dias.
 Artigo 188 – liberdade de forma: Os atos e os termos processuais independem de
forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se
válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.
 Artigo 190 – Negociação Processual – gerenciamento do processo: Versando o
processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes
plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades
e deveres processuais, antes ou durante o processo.
 Parágrafo único.  De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das
convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de
nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se
encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
 Art. 191.  De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a
prática dos atos processuais, quando for o caso.
 § 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente
serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados.
 § 2o Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a
realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário.
 Art. 313.  Suspende-se o processo:
 I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu
representante legal ou de seu procurador;
 II - pela convenção das partes;
 Art. 357.  Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de
saneamento e de organização do processo:
 I - resolver as questões processuais pendentes, se houver;
 II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando
os meios de prova admitidos;
 III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373;
 IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito;
 V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.
 § 1o Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar
ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável.
 § 2o As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das
questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual, se homologada,
vincula as partes e o juiz.
 § 3o Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o
juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as
partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou
esclarecer suas alegações.
 § 4o Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo
comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de
testemunhas.
 § 5o Na hipótese do § 3o, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo
rol de testemunhas.
 § 6o O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3
(três), no máximo, para a prova de cada fato.
 § 7o O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade
da causa e dos fatos individualmente considerados.
 § 8o Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz deve observar o
disposto no art. 465 e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para sua
realização.
 § 9o As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as
audiências.
 Art. 373.  O ônus da prova incumbe:
 I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
 II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito
do autor.
 § 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou
à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o
ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
 § 2o A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar situação em que a
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.
 § 3o A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das
partes, salvo quando:
 I - recair sobre direito indisponível da parte;
 II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
 § 4o A convenção de que trata o § 3o pode ser celebrada antes ou durante o processo.
 Art. 471.  As partes podem, de comum acordo, escolher o perito, indicando-o
mediante requerimento, desde que:
 I - sejam plenamente capazes;
 II - a causa possa ser resolvida por autocomposição.
 § 1o As partes, ao escolher o perito, já devem indicar os respectivos
assistentes técnicos para acompanhar a realização da perícia, que se realizará
em data e local previamente anunciados.
 § 2o O perito e os assistentes técnicos devem entregar, respectivamente,
laudo e pareceres em prazo fixado pelo juiz.
 § 3o A perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria
realizada por perito nomeado pelo juiz.
 Art. 472.  O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial
e na contestação, apresentarem, sobre as questões de fato, pareceres
técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes.

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