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UNIDADE 4 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

PROCESSUAIS E PRINCÍPIOS DO CPC

Prof. Milena Furghestti Machado


PRINCÍPIOS
 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS CONSTITUCIONAIS: possuem
grau de hierarquia superior às normas processuais
infraconstitucionais, com generalidade e abstração maiores – pontos
fundamentais do Processo brasileiro;

 CARACTERÍSTICAS:

a) Status de direito fundamental: num Estado Democrático de Direito


são direitos fundamentais todos aqueles que não podem ser suprimidos
pelo Estado sob pena de descaracterização do modelo – irradiam seus
efeitos para as partes, advogados, juízes, auxiliares, órgãos legislativos,
etc. – Ex.: Liberdade, Igualdade, rol do art. 5°, da CF;
PRINCÍPIOS
- Aqui há a caracterização de direitos processuais como fundamentais e
a concepção de processo como método voltado à proteção dos direitos
fundamentais (lesados ou ameaçados);

b) Natureza de cláusula pétrea: para alterar o texto constitucional há


necessidade de Emenda (art. 60), mas nem todas as normas podem ser
alteradas, como aquele que tendem a abolir a forma federativa do
Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos
Poderes, os direitos e garantias fundamentais;

- É possível, contudo, Emendas Constitucionais para adicionais direitos,


como a EC n. 45, que garantiu a duração razoável do processo;
PRINCÍPIOS
c) Dupla dimensão:

- Dimensão Objetiva: representa o caráter normativo dos princípios,


como imposições fundamentadoras do dever concreto do Estado e
poderes públicos criarem instituições, procedimentos, condições
materiais para o exercício efetivo do direitos fundamentais, estruturação
judiciária, da Defensoria Pública, Assistência Judiciária, etc.;

- Dimensão Subjetiva: aptidão dos direitos fundamentais integrarem o


patrimônio jurídico do cidadão, que tem o direito de exigir sua prestação
– direitos subjetivos públicos – Exs.: Art. 5°, LIV, LX, LXXVIII, da CF;
PRINCÍPIOS
d) Vários destinatários: legisladores, todos os operadores do Direito,
partes, magistrado, etc.

- Legislador: dever constitucional de estabelecer em lei as regras e


procedimentos para o exercício pleno dos direitos e garantias
fundamentais e os valores para o modelo constitucional do processo;

- Magistrado: deve zelar pelo condução válida e regular do processo,


sempre recorrendo aos princípios constitucionais (casos de
interpretações dúbias, lacunas na lei, etc.) – Princípio da
Proporcionalidade;

- Advogado: conhecimento dos princípios constitucionais processuais


para representar as partes da melhor forma (art. 1°, CPC);
PRINCÍPIOS
e) Aplicabilidade imediata: os direitos consagradas nos princípios
processuais constitucionais podem ser exercidos ainda que não haja lei
infraconstitucional que o regularize – a carga de abstração não implica
uma menor carga de eficácia normativa;

f) Diversas funções: princípios processuais exercem múltiplos papéis e


funções:

- Função fundamentadora: princípios como normas chaves do sistema


normativo, guiam e fundamentam as demais normas jurídicas (art. 5°,
XXXV e LVII, da CF);

- Função limitadora: ao mesmo tempo que garante a amplitude das


normas serve de limite à atividade legislativa ou judiciária (art. 5°,
PRINCÍPIOS
- Função supletiva e integrativa: na falta de previsão legislativa os
princípios contribuem para o preenchimento das lacunas processuais
infraconstitucionais;

- Função interpretativa: os princípios processuais constitucionais


(mandamentos de otimização) servem de guia do intérprete e aplicador
da lei processual, que deve buscar a interpretação que mais se ajuste aos
valores constitucionais – lembrando que os próprios princípios carecem
de interpretação;

g) Aplicação da proporcionalidade: o conflito entre princípios deve


ser analisado com moderação, de modo que num determinado caso um
deles prevaleça sobre o outro, mas este não se torna inválido;
PRINCÍPIOS
- A Lei do sopesamento (proporção) pode ser formulada assim: “quanto
maior for o grau de não satisfação ou de afetação de um princípio, tanto
maior terá de ser a importância da satisfação de outro” – Robert Alexy;

- (Ex.: ampla defesa X duração razoável do processo, recursos


repetitivos; protelatórios X duração razoável do processo) – art. 8°,
CPC.
Princípios Processuais Constitucionais
 Inafastabilidade do controle jurisdicional e do acesso à Justiça
(art. 5°, XXXV, CF): posição superior da CF, capaz de ditar
comandos para o Legislativo, sendo proibido que regras inviabilizem,
dificultem ou restrinjam o acesso ao Poder Judiciário – amplo e
irrestrito;

- Ex.: Direito de ação – provocar o Judiciário – exigir a prestação


jurisdicional contra direitos lesados/ameaçados;

- Tal princípio garante a um só tempo o direito de acesso ao Judiciário


e o direito a uma resposta justa, efetiva e em tempo razoável; (Ex.:
Tutelas preventivas).
Princípios Processuais Constitucionais
 Contraditório (art. 5°, LV, CF): garantido a todos os litigantes em
processo administrativo ou judicial – garantia de conhecimento do
processo e atos + poder de reagir aos atos desfavoráveis
(binômio informação/reação) + participação e cooperação +
consideração judicial;

- Implica paridade de armas, que devem ser oportunizadas de igual


forma, com os mesmos instrumentos processuais, para que a parte
possa valer seus direitos e pretensões, ajuizando ações, respostas,
provas, recursos... (Nelson Nery Jr);

- Deve ser garantido pelo Legislativo e considerado pelo Judiciário


(promoção do diálogo) – decisões fundamentadas – art. 93, IX, CF).
Princípios Processuais Constitucionais

 Ampla Defesa (art. 5°, LV, CF): com todos os meios e recursos a
ela inerentes – desdobramento do contraditório – a oportunidade
prevista em lei e oferecida pelo juiz deve ser realmente apta e
efetiva;

- Exs.: prazos razoáveis, produção de provas lícitas, participação na


atividade probatória, manifestações sobre documentos juntados,
participação nas perícias, na oitiva e questionamento das
testemunhas, etc.
Princípios Processuais Constitucionais
 Inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (art. 5°,
LVI, CF): são inadmissíveis no processo provas obtidas por meios
ilícitos – deve se dar de acordo com as regras jurídicas – os fins não
justificam os meios!

- Exs.: confissão mediante tortura, documentos ou imagens obtidas por


violação do sigilo telefônico, do sigilo de correspondência, da
intimidade/privacidade;

- Teoria de Frutos da Árvore Envenenada: as provas obtidas por


meios ilícitos contaminam as provas que delas decorrem, sendo
inadmissíveis no processo – art. 157, Lei n. 11.690/2008.
Princípios Processuais Constitucionais
 Motivação das decisões judiciais (art. 93, IX, CF): todos os
julgamentos do Judiciário serão públicos e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade – o magistrado deve dar as razões de
fato e de direito que o convenceram a decidir a questão – motivos
claros, coerentes, específicos, suficientes;

- Razões de fato: situações e eventos cuja ocorrência seja capaz de


influenciar a decisão judicial – todos os fatos relevantes e
controvertidos devem ser trazidos e provados no processo – com base
nesses fatos o juiz deve decidir – “o que não está nos autos não está
no mundo”!
- Qual das versões dos fatos se mostrou verdadeira?
Princípios Processuais Constitucionais
- Art. 371, CPC – Ler! - O livre convencimento motivado do juiz
existe desde que se atenha ao conjunto probatório dos autos e que
demonstre fundamentadamente as razões de sua decisão;

- Razões de direito: magistrado deve explicitar o porquê da incidência


de determinadas regras jurídicas aplicadas ao caso, além de seu
alcance, sentido e interpretação, bem como o porquê de outros
argumentos jurídicos não terem sido considerados – art. 489, §1°,
CPC – Ler!

- A nulidade da sentença pode ser requerida através de Embargos de


Declaração (art. 1.022, CPC).
Princípios Processuais Constitucionais
 Publicidade (arts. 5°, LX e 93, IX, CF): todos os julgamentos dos
órgãos do Judiciário serão públicos, sob pena de nulidade, podendo a
lei limitar a presença das partes ou seus advogados em casos nos
quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo
não prejudique o interesse público à informação;

- A regra geral então é a publicidade, essencial ao sistema processual


democrático, o processo não deve ter nada a esconder – garante às
partes participação efetiva, obrigando o poder estatal a prestar contas
de seus atos à sociedade, que conhecerá as decisões judiciais (Pariz);
Princípios Processuais Constitucionais
- Exs.: livre consulta do autos e documentos do processo, livre acesso às
audiências, aos julgamentos de recursos nos tribunais e juízes,
transmissão televisiva ou por internet das atividades dos órgãos
jurisdicionais;

- Já o art. 189, CPC, comenta sobre situações em que a publicidade pode


ser limitada, como nas ações que exijam interesse público ou social,
casamento, separação de corpos, separação, divórcio, alimentos, união
estável, filiação, guarda de menores, que contenham dados protegidos
pelo direito à intimidade, arbitragem, carta arbitral, etc.

- Contudo, as partes possuem o direito de consultar o processo e pedir


certidões, mesmo com o segredo de justiça – proibição de julgamentos
secretos.
Princípios Processuais Constitucionais
 Juiz natural e vedação de Tribunais de exceção (art. 5°, LIII e
XXXVII, CF): da mesma forma que ninguém será
processado/sentenciado senão pela autoridade competente (juiz
constituído na forma da lei – imparcial), também não haverá juízo ou
tribunal de exceção (constituído após o fato que será julgado) – é
vedada a escolha do juiz pelas partes;

- Juiz natural é aquele que a CF indicar como competente para a


causa ou permitir que o seja – necessário analisar as leis de
organização judiciária e repartição de competência para as diferentes
espécies de litígio;

- Critérios: a) matéria que está sendo discutida; b) pessoas que


integram a lide; c) função exercida pelo órgão jurisdicional; d)
domicílio das partes; e) valor da causa.
Princípios Processuais Constitucionais
- Caso haja mais de um juízo competente para a lide (várias Varas)
impõe-se a necessidade de distribuição por sorteio, a princípio;

- Juiz Imparcial: aquele que não tenha qualquer interesse na causa e


não possua relações com as partes – arts. 144 e 145, CPC – Ler! –
circunstâncias onde o juiz é considerado impedido (situações mais
graves e objetivas) ou suspeito (situações menos graves e subjetivas)
de julgar o processo;

- Tanto o juiz pode se declarar suspeito/impedido, como as partes,


sabendo da situação, podem provocar a declaração do magistrado –
tal exceção de impedimento ou suspeição pode ser decretada em
qualquer grau de jurisdição, anulando todas as decisões proferidas.
Princípios Processuais Constitucionais
 Duplo grau de jurisdição: por ser um sistema operado por seres humanos
(falíveis e inconformados), o Direito estabelece a possibilidade de recursos
contra as decisões judiciais de 1° grau, viabilizando a revisão e eventual
reforma ou cassação de uma decisão judicial em 2° grau;

- Embora não haja artigo expresso sobre este princípio, de maneira indireta, a
CF oferece o direito das partes recorrerem contra as decisões judiciais aos
Tribunais superiores (competência recursal) – arts. 108, II, 102, II, 105, II,
CF;

- Mitigação do princípio: a) vedação pura e simples do direito de recorrer


(art. 102, I, CF – STF – recurso extraordinário); b) previsão de recurso para
o mesmo órgão que decidiu e não para um de hierarquia superior (Execução
Fiscal - valor até 50 OTNs – mesmo juízo); c) previsão de recurso para
outro órgão jurisdicional que não os tribunais de segundo grau (Juizados
Especiais – Turmas de Recurso);
Princípios Processuais Constitucionais
 Duração Razoável do Processo (art. 5°, LXXVIII, CF): a tutela
jurisdicional deve ser prestada em tempo razoável, não durando além
do necessário para a solução da lide, garantindo meios de celeridade
ao processo X os princípios processuais;

- Para tanto, é preciso analisar: a) o sistema processual positivado em


lei; b) a estrutura do Poder Judiciário; c) a complexidade do assunto;
d) o comportamento dos litigantes; e) a atuação do órgão
jurisdicional na condução do processo e julgamento;

- A ideia é não tolerar o desperdício da atividade processual e a


paralização/interrupção do processo sem justificativa ou a extensão
inútil do tempo pelas partes (litigância de má fé) – o que acontece na
realidade;
Princípios Processuais Constitucionais
- Desdobramentos do princípio para o juiz: a) determinar e viabilizar o
andamento do feito, evitando paralisações e lapsos temporais sem
atividade jurisdicional; b) praticar os atos ordinatórios que lhes cabe;
c) determinar atos de movimentação e comunicação processuais
pelos auxiliares, conforme suas atribuições; d) evitar a prática de
atos protelatórios pelas partes; e) proferir decisão no momento
adequado e em tempo compatível com a complexidade da causa

- Garantias processuais X tempo para esgotamento X amadurecimento


para julgamento de mérito;

- Ainda é preciso boa estrutura física, de material e pessoal, eficiente


legislação (jurisprudência, precedentes, súmulas, doutrina, etc.) para
o melhor resultado possível - eficiência.
Princípios Processuais Constitucionais
 Devido Processo Legal (art. 5°, LXVI, CF): ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (inspiração na
cláusula due process of law – Carta Magna Inglesa de 1250) – abarca o
contraditório, ampla defesa, juiz natural, etc. – ligação com o princípio
da proporcionalidade;

- “(...) deve ser entendida, na abrangência de sua noção conceitual, não


só sob o aspecto meramente formal, que impõe restrições de caráter
ritual de atuação do Poder Público, mas, sobretudo, em sua dimensão
material, que atua como decisivo obstáculo a edição de atos legislativos
revestidos de conteúdo arbitrário ou irrazoável”. (STF, ADI 1.755-85)

- É a norma constitucional que, em primeiro lugar, representa a garantia


constitucional de que todas as outras normas processuais devem ser
observadas – cláusula integrativa.
Princípios Processuais Constitucionais

 Isonomia do Processo Civil (art. 5°, caput): temos a dupla


perspectiva do princípio para o processo, a igualdade formal perante
a Lei, vedando privilégios, isenções ou regalias a indivíduos sujeitos
à norma – por outro lado temos a igualdade material, onde deve-se
considerar as desigualdades entre os sujeitos e buscar pelo tratamento
diferenciado um reequilíbrio da situação;

- Exs.: prazo em dobro para a Defensoria Pública e Advocacia Pública,


que não podem recusar feitos, diferente de advogados particulares/
inversão do ônus da prova no Código de Defesa do Consumidor;
Princípios Processuais Constitucionais
- No DPC, portanto, há a igualdade formal quanto ao tratamento e
oportunidades dadas aos litigantes, bem como a necessidade do
processo ser conduzido de modo a oportunizar que todos os sujeitos
estejam numa mesma situação no plano do direito material, obtendo
a mesma resposta jurisdicional (igualdade material) – Art. 7°, CPC -
ler;

- Para evitar a “loteria jurisdicional” ou os “diferentes entendimentos”,


o CPC busca o respeito à Lei, jurisprudência (em especial do STF e
tribunais superiores), precedentes e súmulas (arts. 926 e 927, CPC -
ler);

- Qual o risco desse entendimento?


Princípios Processuais Constitucionais
 Assistência Judiciária Integral e Gratuita (art. 5°, LXXIV, CF):
para aqueles que comprovarem insuficiência de recursos para arcar com
as custas dos processo – hipossuficiente econômico – acesso gratuito à
tutela jurisdicional e representação técnica profissional provida pelo
Estado - arts. 98 a 102, do CPC;

- Defensoria Pública – art. 135, CF – dever de orientação jurídica,


promoção dos direitos humanos e defesa, em todos os graus de
jurisdição, judicial ou extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos,
de forma integral e gratuita, aos necessitados – Lei Complementar n.
80/94;

- Exige-se a comprovação de hipossuficiência, embora o CPC exija


apenas a afirmação pela parte (art. 99, CPC), cabendo ao juiz indeferir
o pedido quando houver elementos contrários ou a outra parte
Princípios Processuais Constitucionais
 Definitividade das decisões judiciais – coisa julgada (art. 5,
XXXVI, CF): a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada (que torna imutável e indiscutível a
sentença, não mais sujeita aos recursos extraordinário (STF) e
especial (STJ));

- Garante a segurança jurídica, a força de estabelecer a


imodificabilidade do direito material deduzido em juízo e resolvido
pela sentença de mérito – trânsito em julgado;

- A Lei (Poder Legislativo) não pode atingir as decisões judiciais


acobertadas pela coisa julgada – assim cabe ao juiz, promotor,
advogado, defensor, etc. atuarem no processo cientes da
oportunidade de resolvê-lo da melhor forma possível.

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