Modelo de Habeas Corpus - Fiança Arbitrada e Não Paga

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR
PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO

ESTADO DE MATO GROSSO
COM PEDIDO LIMINAR
Os advogados WALTER DJONES RAPUANO, RHENAN

ARTHUR FUZINATO e ANTONIO LENOAR MARTINS, brasileiros, casado,
solteiro e divorciado, inscritos na OAB/MT sob nºs. 16.505-B, 26.183 e 7.975-B, RG nºs
1945074 – SSP/PB, 24132837 – SSP/MT e 6000803061 – SSP/RS, CPF nºs.
840.468.484-72, 046.882.401-47 e 223.209.460-04, respectivamente, todos com
domicílio profissional na Avenida Otávio de Souza Cruz, 1292, Centro, Sorriso, MT,
CEP 78890-000, vêm perante Vossa Excelência, nos termos do artigo 5º, inciso LXVIII,
da Constituição Federal, c/c os artigos 647 e 648, inciso I, do Código de Processo
Penal, impetrar o presente
em favor de JERLÂNDIO DE RESENDE PACHECO, brasileiro, convivente,

motorista, RG nº 1313366 – SSP/MA, CPF nº 591.016.281-00, filho de José Ribamar
Pacheco e Raimunda Coelho de Resende Pacheco, natural de São Mateus do
Maranhão, MA, nascido em 28/07/1972, residente e domiciliado na Rua Taquari, 84,
Bela Vista, Sorriso, MT, CEP 78890-000, paciente que se encontra padecendo de
constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção, por ato do Juízo de Direito da
Segunda Vara Criminal da Comarca de Sorriso, MT, doravante indicado como
autoridade coatora, o que fazem para garantir o usufruto do direito de liberdade do
paciente, expondo, alegando e requerendo o seguinte:
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A v e n i d a Ot á v i o d e S o u z a C ru z , 1 2 9 2, C e n t r o , S o r ri s o , M T , F o n e ( 6 6) 3 5 4 4 - 8 7 3 6
A n t o ni o Le n o a r M a r t i n s | O A B / M T N º 7. 9 7 5 - B | ( 6 6) 9 9 6 4 4 - 7 4 5 7 | a l m. a d v@ h o t m a i l . c o m
W a l te r D j o n e s R a pu a n o | O A B / M T N º 1 6 . 5 0 5 - B | ( 6 6) 9 9 9 5 9 - 1 2 3 0 | w a l t e r _ r ap u a n o @ h o t m ai l . c o m
M a t hi s H a l e y P u e r a ri P e d r a | OA B / M T N º 2 2. 7 64 | ( 6 6) 9 9 9 7 5 - 5 9 7 7 | m a t h i s h a l e y . a d v@ g m ai l . c o m
R h e n a n A r th u r Fu z i na t o | O A B / M T N º 2 6. 1 8 3 | ( 6 6) 9 9 9 5 2 - 5 8 2 2 | r h e n a a n @ h o t m a i l . c o m
D E S D E M A RÇ O D E 1 99 8
I – Da Prova Pré-constituída
Instrui este writ cópia completa dos autos da

COMUNICAÇÃO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO – CPFD,
distribuída sob nº 1000119-06.2021.8.11.0040, no Plantão Judiciário da
Comarca de Sorriso, MT, no dia 09/01/2021 e redistribuído no dia
11/01/2021 para a Segunda Vara Criminal da referida Comarca, além
de outros documentos ainda não judicializados, para formar prova pré-
constituídas nestes autos.
II – Objeto do Whrit
O presente Madamus tem por finalidade a concessão
da liberdade provisória do paciente, com fulcro no art. 350 do Código
de Processo Penal, visto que ele não tem a mínima condição de
efetuar o pagamento da fiança arbitrada, ou de qualquer valor a
título de fiança, como será demonstrado, bem como que a decisão
reprochada desrespeita a decisão do HC Coletivo nº 568.693 do
STJ, cujo teor já é de pleno conhecimento de toda a seara jurídica
nacional.
III – Sinopse dos Fatos

O Paciente foi preso em flagrante delito por volta das
17h30min do dia 08/01/2021, na Rua Cláudia, 37, Novos Campos,
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Sorriso, MT, sob a acusação da prática do delito capitulado no artigo
217-A do Código Penal.
O Auto de Prisão em Flagrante Delito (APFD) foi

lavrado no dia 09/01/2021 (sábado) com a devida comunicação ao
Poder Judiciário, em plantão forense.
O Juízo Plantonista, ao receber a comunicação do

APFD, realizou a competente audiência de custódia na mesma data
(09/01/2021), ocasião em que concedeu ao MP e depois à Defensoria
Pública, sucessivamente, o prazo de duas horas para manifestação
sobre a possibilidade de decretação da prisão preventiva ou da
concessão da liberdade provisória ao paciente.
Ao ser ouvido na audiência de custódia, viu-se que o

paciente estava visivelmente abalado e se sentindo injustiçado pela sua
prisão (VÍDEO 01 em anexo).
Após a manifestação do Parquet e da Defensoria

Pública, o Juízo Plantonista concedeu ao paciente a liberdade
provisória, mas, contudo, mediante o pagamento de fiança, em valor
equivalente a 10 (dez) salários mínimos, ou R$ 11.000,00 (onze mil
reais).
O paciente, motorista de caminhão, atualmente

desempregado, por óbvio, não reunia condições para efetuar o
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pagamento da fiança, permanecendo preso em razão de sua
hipossuficiência.
No dia 11/01/2021 a Defensoria Pública requereu a

dispensa do pagamento da fiança, nos termos do art. 350 do CPP, visto
que o paciente não tem a mínima condição de efetuar o seu pagamento,
no valor arbitrado ou em qualquer outro valor, mormente no momento
econômico que o país atravessa.
O Ministério Público pugnou pelo indeferimento do

pedido.
A autoridade coatora, em sua decisão prolatada no dia

11/01/2021, decidiu pela não dispensa do encargo, todavia, reduziu
para o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), determinando, em caso
de pagamento da fiança, a imediata expedição do alvará de soltura.
Para, ainda, manter a cautelar de fiança, ao invés de

dispensá-la com supedâneo no art. 350 do CPP, a decisão vergastada
explana os seguintes argumentos:
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O PACIENTE É HIPOSSUFICIENTE
FINANCEIRAMENTE, visto que trabalhava como
motorista de caminhão (como empregado), sendo que
quando foi preso se encontrava desempregado.
No período de safra, quando a procura

por motoristas está em alta, o paciente aufere renda
mensal média que gira em torno de R$ 2.000,00 (dois
mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), sendo que
atualmente, não está trabalhando.
É de se registrar que o paciente é oriundo do estado

do PARÁ, tendo vindo para Sorriso (onde se encontrava há poucos
meses) justamente a procura de emprego, já que no seu estado de
origem há meses se encontrava desempregado, apesar de ter esposa
e filhos para manutenir e ser arrimo de família.
Intimado o paciente da redução do valor da fiança, no

dia 11/01/2021, nada mais aconteceu, visto que não dispõe de tal valor
para realização do pagamento.
Em razão desse impasse, o paciente já se queda

preso, FAZ 05 (CINCO) DIAS, apenas e tão somente porque É
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POBRE, porque não possui condições financeiras para arcar com
o pagamento da fiança arbitrada.
Ninguém, em sã consciência, se
quedaria preso por causa de R$ 5.000,00 de
fiança, se tivesse essa quantia para efetuar o
pagamento. O paciente permanece preso
justamente porque não tem essa quantia, o
que, aliado ao momento de resseção
econômica e efeitos da pandemia, conduz
justamente à presunção de sua
hipossuficiência financeira.
O local onde se encontrava residindo provisoriamente

na Rua Cláudia, 37, Bairro Industrial I, Sorriso, MT, fica localizado na
área conhecida como Zona Leste, que é exatamente a região
sorrisense onde se encontra a maior parte da população carente e
hipossuficiente financeiramente (vide imagens do Google Maps, DOC
06).
Na referida Rua Cláudia, nº 37, estava dividindo uma

quitinete com outro motorista, exatamente pela falta de condições
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financeiras. Se encontrava morando desde o dia 05/01 no referido
endereço porque sua esposa e seus dois filhos viajaram para Altamira,
PA, para que sua companheira acompanhasse sua genitora, de idade
avançada, que se encontra enferma.
Para diminuir a despesa, devolveu a quitinete que

alugava na Rua Taquari e mudou-se para a quitinete do amigo e
companheiro caminhoneiro, cabendo parte de seus bens em um
cubículo.
Em seu último emprego com CTPS assinada, o

paciente recebia rendimento líquido de R$ 2.417,54 (dois mil e
quatrocentos e dezessete reais e cinquenta e quatro centavos) e,
agora, se encontra desempregado (DOC 04).
Registre-se ainda que, segundo seu depoimento na

audiência de custódia, o paciente tem entrevista de emprego na
empresa SAFRAS agendada para o próximo dia 18/01/2021, próxima
segunda-feira.
Este é o perfil do indivíduo que, segundo a

autoridade coatora, tem condições financeiras para arcar com o
pagamento de fiança no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). NÃO
TEM E NÃO TERÁ CONDIÇÕES FINANCEIRAS PARA ARCAR COM
TAL VALOR.
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Registre-se ainda que o paciente nunca foi preso ou
processado anteriormente, conforme se vê das Certidões Negativas de
Antecedentes Criminais das Justiças Estaduais e Federal do Mato
Grosso e do Pará, em anexo, bem como tem residência fixa, sempre
trabalhou para sustentar a sua família, é muro de arrimo e atualmente
se encontra em busca de emprego na sua área de atuação.
Diante do quadro que se apresenta, ESTÁ CLARO

COMO O SOL DO MEIO DIA, QUE O PACIENTE NÃO TEM
CONDIÇÕES DE EFETUAR O PAGAMENTO DE QUALQUER
FIANÇA, EM QUALQUER VALOR, VISTO QUE É POBRE NA FORMA
DA LEI E NÃO TEM COMO DISPOR DO VALOR ARBITRADO, OU DE
QUALQUER OUTRO VALOR.
É a sinopse do necessário.
IV – Do Constrangimento Ilegal
1 - DA DETERMINAÇÃO DE SOLTURA DE TODOS OS PRESOS

QUE SE ENCONTRAM SUBMETIDOS À PRIVAÇÃO CAUTELAR DE
LIBERDADE EM RAZÃO DO NÃO PAGAMENTO DA FIANÇA:
De largada, a decisão vergastada, tida como ato de

coação ilegal, desrespeita a ORDEM DE HABEAS CORPUS
COLETIVO nº 568.693/ES, que teve seus efeitos estendidos para
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todo o território nacional pelo Min. Relator Sebastião Reis Junior,
a qual é de conhecimento público e notório de toda a seara
jurídica. A despeito da violação da ORDEM DE HABEAS CORPUS
COLETIVO, cita-se o suprassumo do acórdão:
“...HABEAS CORPUS COLETIVO. PROCESSO PENAL.

PRISÃO PREVENTIVA. PRESOS QUE TIVERAM A
LIBERDADE PROVISÓRIA CONDICIONADA AO
PAGAMENTO DE FIANÇA. CONTEXTO DA PANDEMIA DE
COVID-19. RECOMENDAÇÃO N. 62/CNJ.
EXCEPCIONALIDADE DAS PRISÕES. ORDEM
CONCEDIDA. EXTENSÃO DOS EFEITOS PARA TODO O
TERRITÓRIO NACIONAL. Ordem concedida para determinar
a soltura, independentemente do pagamento da fiança, em
favor de todos aqueles a quem foi concedida liberdade
provisória condicionada ao pagamento de fiança [...], e ainda
se encontram submetidos à privação cautelar de liberdade em
razão do não pagamento do valor, com determinação de
extensão dos efeitos desta decisão aos presos a quem foi
concedida liberdade provisória condicionada ao pagamento de
fiança, em todo o território nacional. Nos casos em que
impostas outras medidas cautelares diversas e a fiança, fica
afastada apenas a fiança, mantendo as demais medidas.”
(STJ, HC nº 568.693/ES – Relator: Min. Sebastião Reis Júnior
– 14.10.2020).
Tal determinação se deu em razão da ampliação dos

efeitos da Decisão proferida em HC coletivo no Estado do Espirito
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Santo aos demais estados da federação, TENDO EM VISTA O
QUADRO FÁTICO DA PANDEMIA E O RISCO DE CONTÁGIO PELO
CORONAVIRUS (COVID-19) NOS PRESIDIOS SUPERLOTADOS E
INSALUBRES BRASILEIROS.
A Decisão prolatada em 01 de abril de 2020, no

HABEAS CORPUS Nº 568.693 - ES (2020/0074523-0), determinou a
extensão dos efeitos da liminar para TODO O TERRITÓRIO
NACIONAL, oficiando os Presidentes dos Tribunais de todos os
Estados para imediato cumprimento do determinado.
Vislumbra-se que o presente caso se enquadra nos

casos abrangidos por tal decisão, visto que CONCEDIDA LIBERDADE
PROVISÓRIA CONDICIONADA AO PAGAMENTO DE FIANÇA ao
paciente, este se encontra encarcerado apenas pela impossibilidade de
efetuar o pagamento, como se pode observar:
*Decisão ID46875128, Proc. 1000119-06.2021.8.11.0040
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*Decisão ID46930034, Proc. 1000119-06.2021.8.11.0040
Conforme pode-se observar, o paciente encontra-se

encarcerado até o presente momento TÃO SOMENTE PELO NÃO
PAGAMENTO DO VALOR DA FIANÇA, o que demonstra que o
presente caso em concreto se adequa aos casos em que foram
determinados a soltura.
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2 – DA HOMOGENEIDADE NO TRATAMENTO DAS CLASSES
SOCIAIS DIVERSAS:
No momento em que os impetrantes iniciaram este

tópico, veio a lume duas máximas populares, pelo que pede-se venia
para expô-las, em que pese o palavreado. A primeira: “cadeia é para
PPP (POBRE, preto e puta)” ; e a segunda: “só fica preso
quem é POBRE”. A partir daí, questiona-se: AS NORMAS

PROCESSUAIS QUE TRATAM DA PRISÃO E DA LIBERDADE
FORAM MESMO FEITAS PARA BENEFICIAR OS ABASTADOS, OU
AS NORMAS SE APLICAM IGUALMENTE A TODOS,
INDEPENDENTE DA CONDIÇÃO FINANCEIRA?
A partir destes prolegômenos, parte-se para a tese do

constrangimento ilegal, o qual se configura, no caso sub judice, em face
da não aplicação pelo Juízo coator do art. 350 do Código de Processo
Penal, in verbis:
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz,

verificando a situação econômica do preso, poderá
conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às
obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e
a outras medidas cautelares, se for o caso.
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Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar1, ao
tratarem da dispensa da fiança, iniciam o tópico justamente tratando
sobre a diferença de tratamento entre RICOS e POBRES:
Sendo a fiança um direito, é inimaginável que os incluídos

financeiramente pudessem ficar livres, por terem
condições de pagar, e os pobres tivessem que ficar
reclusos, pelo desprestígio da condição financeira. Como
o art. 5º, caput da CF assevera o princípio da igualdade, e
esta tem que ser material, tratando-se desigualmente os
desiguais, prevê o art. 350 do CPP que (...)
E seguem os ilustres professores, tratando acerca do

caráter de direito subjetivo à liberdade com dispensa do pagamento da
fiança arbitrada:
A dispensa não é uma discricionariedade do magistrado,

e sim um direito do beneficiário. Presentes os requisitos
que admitiriam a fiança e demonstrada a hipossuficiência,
a concessão é de rigor.2
Segundo Vicente Greco Filho:
Se o acusado for pobre, o juiz poderá conceder a liberdade

sem fiança (art. 350), observando-se, porém, que se trata
de direito do réu e não faculdade discricionária do
juiz.3 [destaque nosso]
1
In Curso de direito processual penal. 10. ed. Salvador: Jus Podium. 2015, p. 944.
2
Idem, ibidem.
3
In Manual de Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 805.
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É dizer, a aplicação do art. 350 do CPP não é mera
faculdade ou discricionariedade do Juízo, mas um direito subjetivo do
réu.
A jurisprudência do Tribunal de Justiça de Mato

Grosso é uníssona no sentido de que, concedida a liberdade provisória
mediante pagamento de fiança, caso o preso não tenha condições de
prestá-la, deve ser concedida a liberdade com a dispensa de seu
pagamento, ex vi do art. 350 do CPP, mediante o compromisso de
cumprir as obrigações prevista nos arts. 327 e 328 do CPP, ou ainda,
caso necessário, mediante a imposição de medidas cautelares
previstas no art. 319 do mesmo diploma legal, vez que a concessão da
liberdade provisória mediante prestação de fiança é reconhecimento de
que o periculum libertatis não está configurado.
E, para que fique bem claro que a vertente pela

desobediência ao HC nº 568.693/ES, que nossos JUÍZES DE
PRIMEIRO GRAU estão seguindo ESTÁ EQUIVOCADA, permissa
venia, cita-se ementa de acórdão do HC nº 1024435-
43.2020.8.11.0000, julgado em 18/12/2020, impetrado exatamente
contra o Juízo de Direito da Segunda Vara Criminal de Sorriso, pelas
mesmas razões, onde a liminar foi concedida (em plantão, pelo Des.
Pedro Sakamoto) para determinar a soltura imediata do paciente
independente do pagamento de qualquer valor a título de fiança, e,
no mérito, confirmada a liminar, relatado pelo Des. Marcos Machado,
verbis:
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EMENTA
HABEAS CORPUS – LESÃO CORPORAL, AMEAÇA E
DANO – PRISÃO PREVENTIVA – DECISÃO NÃO
FUNDAMENTADA, PRIMARIEDADE, ENDEREÇO
CERTO E PROFISSÃO LÍCITA, PANDEMIA DE COVID-
19, MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS JÁ
IMPOSTAS SERIAM SUFICIENTES – PEDIDO DE
DISPENSA INTRGRAL DA FIANÇA ARBITRADA –
CONCESSÃO DE LIBERDADE MEDIANTE FIANÇA E
FIXAÇÃO DE OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES –
CONDIÇÕES FINANCEIRAS DO PACIENTE –
HIPOSSUFICIÊNCIA – AUSÊNCIA DE REQUISITOS
PARA CUSTÓDIA – FALTA DE RECURSOS PARA O
VALOR DA FIANÇA – INSUFICIÊNCIA PARA
SEGREGAÇÃO – VALOR ARBITRADO
DESPROPORCIONAL - RECOMENDAÇÃO Nº 62/2020
DO CNJ - PRISÃO NÃO JUSTIFICADA – LIBERDADE
PROVISÓRIA COM DISPENSA INTEGRAL DA FIANÇA
ARBITRADA – ORDEM CONCEDIDA.
“Ordem concedida para determinar a soltura,
independentemente do pagamento da fiança, em favor de
todos aqueles a quem foi concedida liberdade provisória
condicionada ao pagamento de fiança [...], e ainda se
encontram submetidos à privação cautelar de liberdade
em razão do não pagamento do valor, com determinação
de extensão dos efeitos desta decisão aos presos a quem
foi concedida liberdade provisória condicionada ao
pagamento de fiança, em todo o território nacional. Nos
casos em que impostas outras medidas cautelares
diversas e a fiança, fica afastada apenas a fiança,
mantendo as demais medidas.” (STJ, HC nº 568.693/ES).
(N.U 1024435-43.2020.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS

CRIMINAIS, MARCOS MACHADO, Primeira Câmara
Criminal, Julgado em 18/12/2020, Publicado no DJE
18/12/2020)
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Não é demais citar outras decisões do E. TJMT, que
seguem o mesmo norte:
HABEAS CORPUS – RECEPTAÇÃO E POSSE

IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO
– LIBERDADE PROVISÓRIA CONDICIONADA AO
PAGAMENTO DE FIANÇA NO VALOR DE R$ 4.400,00
(QUATRO MIL E QUATROCENTOS REAIS), CUJO
VALOR DEPOIS FOI REDUZIDO PARA R$ 2.200,00
(DOIS MIL E DUZENTOS REAIS) – HIPOSSUFICIÊNCIA
FINANCEIRA DO PACIENTE – BENEFÍCIO QUE
INDEPENDE DA QUITAÇÃO DO QUANTUM
ARBITRADO PELO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU –
INTELIGÊNCIA DO ART. 350 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL – ORDEM CONCEDIDA PARA
CONFIRMAR A LIMINAR DEFERIDA.
Ausentes os requisitos necessários à manutenção da
prisão cautelar, torna-se imperativa a concessão do
benefício da liberdade provisória ao paciente, mediante
compromisso de comparecimento a todos os atos do
processo, independentemente do recolhimento
de fiança, pois, na hipótese em apreço, restou
demonstrado que ele não possui condições
financeiras de arcar com o valor arbitrado (art. 350 da
Lei Adjetiva Penal). Ordem concedida, liminar
ratificada.
(TJMT – HC 153032/2016, DES. LUIZ FERREIRA DA

SILVA, TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em
16/11/2016, Publicado no DJE 24/11/2016)
HABEAS CORPUS – RECEPTAÇÃO – CONCESSÃO DE

LIBERDADE PROVISÓRIA MEDIANTE O
RECOLHIMENTO DE FIANÇA – FIANÇA QUE AFIGURA-
SE ILEGAL EM RAZÃO DA CONDIÇÃO DE
HIPOSSUFICIÊNCIA DO PACIENTE - PEDIDO DE
LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA – PACIENTE
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QUE TRABALHA COMO MECÂNICO – RENDA MENSAL
DE R$1.500,00 (MIL E QUINHENTOS REAIS) - ARRIMO
DE FAMÍLIA – SITUAÇÃO SOCIAL QUE INDUZ A
HIPOSSUFICIÊNCIA ECONÔMICA - JULGADOS DO
STJ E TJDF - ORDEM CONCEDIDA PARA OUTORGAR
LIBERDADE PROVISÓRIA COM DISPENSA DO
RECOLHIMENTO DE FIANÇA, SEM PREJUÍZO DAS
MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS IMPOSTAS
PELO JUÍZO SINGULAR.
“[...] o não pagamento da fiança arbitrada, por si só,
não justifica a preservação da custódia cautelar, a teor
do artigo 350 do Código de Processo Penal, além de
tratar-se de réu juridicamente pobre. 4. Ordem
concedida, confirmando a liminar deferida, a fim de
garantir a liberdade provisória ao paciente,
independentemente do pagamento de fiança,
mantidas as cautelares anteriormente impostas,
previstas no artigo 319 [...] do Código de Processo
Penal.” (STJ, HC nº 345.353/SP)
(TJMT – HC 153469/2016, DES. MARCOS MACHADO,

PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em 29/11/2016,
Publicado no DJE 05/12/2016)
HABEAS CORPUS – AMEAÇA, DESOBEDIÊNCIA E

DESACATO – LIBERDADE PROSIVÓRIA CONCEDIDA
MEDIANTE O RECOLHIMENTO DE FIANÇA –
HIPOSSUFICIÊNCIA ECONÔMICA QUE PRESSUPÕE A
BOA-FÉ DO AGENTE – DISPENSABILIDADE DA
FIANÇA – POSSIBILIDADE – INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 350 DO CPP – ORDEM CONCEDIDA PARA
RATIFICAR A LIMINAR DEFERIDA.
Se o agente afirma não possuir condições financeiras
de arcar com o valor arbitrado a título de fiança, por se
tratar de pessoa hipossuficiente economicamente,
deve ser dispensado o seu recolhimento, consoante
inteligência do artigo 350 do Código de Processo
Penal, sobretudo quando ausentes os requisitos
indispensáveis à manutenção de sua segregação
cautelar.
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(TJMT – HC 149780/2016, DES. PEDRO SAKAMOTO,
SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em 16/11/2016,
Publicado no DJE 23/11/2016)
HABEAS CORPUS – EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E

DESACATO – PRISÃO EM FLAGRANTE – LIBERDADE
PROVISÓRIA DEFERIDA MEDIANTE A ASSUNÇÃO DE
OBRIGAÇÕES E A PRESTAÇÃO DE FIANÇA –
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA DO PACIENTE E
CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS – IMPOSSIBILIDADE DE
PRESTAR FIANÇA E PERMANÊNCIA DO INDICIADO
NO CÁRCERE – DISPENSA DA FIANÇA –
INTELIGÊNCIA DO ART. 350 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL – SUBSTITUIÇÃO PELAS
MEDIDAS CAUTELARES DELINEADAS NO ART. 319, I
e II, DO CPP – LIMINAR CONFIRMADA – ORDEM
CONCEDIDA.
Se não se fazem presentes os requisitos autorizadores da
prisão preventiva [periculum libertatis], sendo o crime
afiançável e lhe tendo sido concedida a liberdade
provisória por intermédio da assunção de obrigações, nos
termos do art. 350 do Código de Processo Penal, a
ausência de pagamento da fiança, por inequívoca
impossibilidade de fazê-lo ante sua manifesta
precariedade econômica e o alto valor arbitrado, não
pode constituir motivo a mantê-lo preso
cautelarmente.
(TJMT – HC, 52646/2013, DES.ALBERTO FERREIRA DE

SOUZA, SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL, Data do
Julgamento 29/05/2013, Data da publicação no DJE
07/06/2013)
HABEAS CORPUS - PRISÃO EM FLAGRANTE - FATO

TÍPICO APENADO COM DETENÇÃO - CRIME
AFIANÇÁVEL - FIANÇA FIXADA PELA AUTORIDADE
POLICIAL - IMPOSSIBILIDADE DE PRESTAR FIANÇA -
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA DO PACIENTE
MANIFESTAMENTE DEMONSTRADA - ART. 350 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL -
IMPRESCINDIBILIDADE DA CONCESSÃO DE
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LIBERDADE PROVISÓRIA - ORDEM CONCEDIDA. Se o
crime é afiançável e o paciente não prestou a fiança
por inequívoca impossibilidade de fazê-la, na medida
em que se manteve segregado mesmo diante da
possibilidade de livrar-se, imperiosa se faz a
concessão da liberdade provisória, sem fiança, por
intermédio da assunção de obrigações, nos termos do
art. 350, do Código de Processo Penal.
(TJMT – HC, 10184/2008, DR. CARLOS ROBERTO C.

PINHEIRO, SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL, Data do
Julgamento 20/02/2008, Data da publicação no DJE
29/02/2008)
Das várias decisões aqui citadas, extrai-se que o

entendimento das Câmaras Criminais do Colendo TJMT são no
sentido de se afastar a prisão, com a dispensa de seu pagamento,
forte no art. 350 do CPP, com a sua substituição por outras
medidas cautelares diversas da prisão, previstas no art. 319 do
CPP.
Em bosquejo, entendem os Impetrantes que a

manutenção da prisão do paciente após lhe ser concedida liberdade
provisória, mediante pagamento de fiança de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), valor que este não dispõe, em que pese ter se declarado pobre
e requerido a dispensa, ex vi art. 350 do CPP, aliado à resseção
econômica que atinge mais drasticamente as classe mais baixas e os
prestadores de serviços, são fatos suficientes para demonstrar que a
manutenção de seu cárcere, no particular, constitui coação ilegal e até
discriminação de classe social.
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Urge, pois, que se afaste o constrangimento através
deste remédio heroico, inclusive em sede de liminar a ser concedida
no Plantão do C. TJMT.
V - Da Necessidade de Liminar
No habeas corpus, o pedido poderá conter

requerimento de liminar, para cessação incontinenti da ameaça de
violência, quando o constrangimento evidencie-se manifesto, com boa
demonstração documental, adiantando o magistrado ou o Tribunal,
cautelarmente, a prestação jurisdicional, desde que estejam presentes
seus pressupostos, quais sejam, a razoabilidade da pretensão, isto é,
o fumus boni juris e o perigo que a demora poderá causar, ou seja,
o periculum in mora.
Não resta nenhuma dúvida de que o paciente

sofre gritante e abusivo constrangimento ilegal com o seu recolhimento
à cárcere do Centro de Ressocialização de Sorriso, MT, em virtude da
manutenção de sua prisão, como singelamente demonstrado, o que
evidencia o fumus boni juris.
Sendo a prisão ilegal, a demora na concessão

do presente writ, sem dúvida alguma, acarretará sérios problemas a
sua vida. Acrescente-se ainda o trauma psicológico por saber o
paciente que ainda está preso em virtude de uma decisão que não se
20 / 22
amolda aos permissivos da Lei. Desta forma, evidenciado está o
periculum in mora.
Logo, comprovada de plano a ilegalidade atinente ao

jus manendi, ambulandi, eundi ultro citroque do Paciente, a
concessão liminar do writ of habeas corpus se impõe. Nada mais
lógico que o poder acautelatório do Estado-juiz dever preponderar,
dando agasalho ao pedido cautelar, com isso fazendo cessar de
imediato o constrangimento ilegal noticiado.
DIANTE DESSE QUADRO DE COAÇÃO ILEGAL, os

Impetrantes esperam desta Elevada Corte de Justiça a concessão de
liminar, initio litis, pelos motivos apresentados para que se determine
a soltura, incontinenti, do Paciente, em face da evidenciada presença
do fumus boni juris e do periculum in mora, que autorizam, neste
particular, o deferimento da medida liminar, eis que a medida extrema
configura constrangimento ilegal à liberdade do Paciente, como visto.
VI – Da Conclusão
EX POSITIS, deferida a medida liminar

pleiteada, esperam e confiam os Peticionários que esta Corte
de Justiça, fiel aos precedentes, conceda a presente ordem,
para o efeito de, declarando-se a ilegalidade da coação,
FAZER CESSAR A PRISÃO DO PACIENTE, com a dispensa
21 / 22
do pagamento da fiança, forte no art. 350 do CPP, e via de
consequência, determinar sua imediata liberação,
comunicando-se, para tanto, o Juízo de Direito da Segunda
Vara Criminal da Comarca de Sorriso, MT, informando ainda
que o paciente se encontra encarcerado no Centro
Ressocialização de Sorriso.
Nestes Termos,
Pedem a Concessão da Ordem.
Sorriso, MT, em 13 de janeiro de 2021.
22 / 22

Modelo de Habeas Corpus - Fiança Arbitrada e Não Paga

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