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I. AÇÃO RESCISÓRIA – Art.

966 e seguintes, CPC/20151

1. Do Objeto.

A ação rescisória é a ação autônoma que visa a impugnação da decisão de mérito já transitada em
julgado.

Não obstante, o novo CPC inova ao dispor que será possível o ajuizamento de ação rescisória visando
a rescisão de decisão que, embora não trate do mérito da demanda, não permita a repropositura da
demanda ou impeça a análise do mérito.

As hipóteses legais de cabimento estão previstas no art. 966 do novo CPC (art. 485 do CPC73) e,
segundo Didier e Cunha, “trata-se, em verdade, de uma ação constitutiva negativa ou desconstitutiva,
porquanto visa o desfazimento de coisa julgada material anteriormente formada em outro processo”.

2. Do Cabimento

Conforme exposto acima, o art. 966 do Novo CPC prevê as hipóteses de cabimento da ação rescisória.

Assim, poderá ser rescindida a decisão de mérito transitada em julgado quando:

i. Se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
ii. Proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;
iii. Resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de
simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
iv. Ofender a coisa julgada;
v. Violar manifestamente norma jurídica;
vi. Se fundar em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal, ou venha a ser
demonstrada na própria ação rescisória;
vii. O autor, posteriormente ao trânsito em julgado, obtiver prova nova, cuja existência ignorava ou
de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar o pronunciamento favorável; e
viii. Fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. O §1º do artigo supracitado dispõe que
haverá erro de fato quando a decisão rescindenda admitir um fato inexistente ou quando
considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido.

O §1º do artigo supracitado dispõe que haverá erro de fato quando a decisão rescindenda admitir
um fato inexistente ou quando considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido.

3. Da Legitimidade ativa

O Novo CPC prevê, no art. 967, que a ação rescisória poderá ser proposta

(i) por quem foi parte no processo ou seu sucessor a título universal ou singular;
(ii) pelo terceiro juridicamente prejudicado;
(iii) pelo Ministério Público nas hipóteses previstas nas alíneas a-c do inc. III do art. 967 do
Novo CPC, e
(iv) por aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção.

4. Da Interposição

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Trata-se de um roteiro de estudos que busca facilitar e nortear os estudos dos discentes, mas não dispensa a
presença em aulas e a leitura de doutrinas específicas sobre os temas delineados.
A petição de interposição deverá conter os requisitos essenciais previstos no art. 319,
CPC/2015, devendo o autor cumular o pedido de rescisão (juízo rescindente) com o de novo
julgamento (juízo rescisório).

A interposição do pedido depende de depósito de valor referente a cinco por cento do valor
da causa (art. 968, II do novo CPC), o qual não poderá ser superior a mil salários mínimos.

Registre-se que a petição será indeferida quando não efetuado o depósito exigido (art. 968,
§3º, novo CPC).

Estão isentos do depósito a União, os Estados, o Distrito Federal, Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações, o Ministério Público, a Defensoria Pública e aqueles que tiverem obtido o
benefício da gratuidade de justiça.

Cabe ressaltar, ainda, que a propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da
decisão rescindenda (objeto da ação), exceto quando for concedida tutela provisória (art. 969 do
novo CPC).

5. Do Processamento

Quanto à competência para processamento e julgamento da ação, salientam Didier e Cunha


que:

“A ação rescisória constitui demanda de competência originária de tribunal, não ser ajuizada
perante juízo de primeira instância, ao qual não compete nem processá-la nem julgá-la. A regra de
competência para processamento e julgamento da ação rescisória resume-se no seguinte
postulado: os tribunais julgam as ações rescisórias de seus próprios julgados”.

O relator ordenará a citação do réu para se manifestar no prazo de 15 a 30 dias e, findo o


prazo, com ou sem contestação, será observado o procedimento comum, sendo cabível destacar
que, se os fatos alegados na ação carecerem de instrução probatória, o relator poderá delegar ao
órgão prolator da decisão rescindenda que o faça via cartas precatórias.

Para tanto, será fixado o prazo de um a três meses para que os autos sejam devolvidos ao
relator. (art. 972 do novo CPC) e, concluída a instrução probatória (quando necessário), as partes
serão intimadas para, querendo, exporem suas razões finais no prazo de 10 dias, sucessivamente
(art. 973, CPC).

Ao término do prazo, os autos serão conclusos ao relator e posteriormente, serão julgados


pelo órgão competente (art. 973,§ único, do novo CPC).

Na ação rescisória, o julgador também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido, na


forma e nas hipóteses do artigo 332 do CPC (decisão de improcedência liminar do pedido).

6. Do Prazo

A ação rescisória deverá ser proposta no prazo de dois anos, contados do trânsito em julgado
da última decisão proferida no processo, conforme o art. 975 do novo CPC (art. 495, CPC73).

“Art. 975. O direito de propor ação rescisória se extingue em dois anos contados do trânsito
em julgado da última decisão proferida no processo.

§ 1o Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se refere o
caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em que não houver
expediente forense.
§ 2o Se fundada a ação no inciso VII do art. 963, o termo inicial do prazo será a data de
descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de cinco anos, contados do trânsito em
julgado da última decisão proferida no processo.

§ 3o Nas hipóteses de simulação ou colusão das partes, o prazo começa a contar para o terceiro
prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir do momento em
que têm ciência da simulação ou da colusão.”

7. Do Julgamento

O pedido poderá ser julgado procedente, com rescisão do julgado transitado em julgado,
hipótese em que o Tribunal, se for o caso, proferirá novo julgamento e determinará a restituição
do depósito efetuado na interposição da ação (art. 974 do novo CPC).

Contudo, se, por unanimidade de votos, for considerado improcedente ou inadmissível, será
determinada a reversão do valor pago a título de depósito em favor do réu (art. 974, § único, novo
CPC)

8. Ação rescisória x querela nullitatis

Em algumas hipóteses bastante restritas, é possível a anulação da decisão judicial mesmo após
o prazo de dois anos para a propositura da ação rescisória quando se verificarem vícios chamados
transrescisórios, tal como ocorre no caso da decisão ser proferida em desfavor do réu, em processo
em que correu à sua revelia, quer porque não fora citado, quer porque o fora de maneira
defeituosa, oportunidade em que a parte poderá ajuizar uma ação declaratória de nulidade da
sentença.

Alguns autores, como Cândido Dinamarco, consideram que a citação é pressuposto de


existência do processo, assim, a sentença proferida em processo em que a citação não ocorreu
seria igualmente inexistente.

Tais autores entendem que a ação cabível seria de declaração de inexistência da decisão
judicial que, ao contrário da ação rescisória, não autoriza o novo julgamento da demanda (eventual
juízo rescisório), pois a ação declaratória de nulidade (ou de inexistência) autoriza tão somente a
anulação da decisão impugnada.

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