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A lei prevê recursos de que as partes podem valer para impugnar as decisões
judiciais. Utilizados todos eles ocorre a preclusão consumativa ou se o interessado não
interpôs o recurso adequado a tempo (preclusão temporal), a sentença transita em
julgado. Trata-se da coisa julgada formal, que decorre da impossibilidade de discutir, no
mesmo processo, a decisão judicial prolatada.
Trata-se da coisa julgada formal, que decorre da impossibilidade de discutir, no
mesmo processo, a sentença prolatada.
Mas a decisão ou a sentença de mérito fará também coisa julgada material. Além
de não poder mais discutir tal decisão no mesmo processo, haverá óbice para que outras
demandas sejam propostas, versando sobre a mesma questão já decidida.
A lei prevê a ação rescisória (ação autônoma da impugnação), que visa a
desconstituir a decisão transitada em julgado, postulando a reapreciação daquilo que já
estava decidido em caráter definitivo.
Trata-se da última oportunidade que se dá ao interessado para tentar desfazer a
decisão. Não se trata mais de um recurso, porque estes já foram esgotados, mas de uma
ação autônoma de cunho cognitivo e natureza desconstitutiva, que tem por objeto
desfazer o julgado. (Marcus Vinicius)
A rescisória tem natureza da ação constitutiva negativa, que produz, portanto, uma
sentença desconstitutiva, quando julgada procedente. Podem-se formular dois pedidos: o da
desconstituição da coisa julgada (juízo rescidens) e o do rejulgamento da causa, quando for o
caso (juízo rescissorium). Diz-se que é uma ação desconstitutiva com base no primeiro pedido,
que sempre precisará estar presente. (Wambier e Talamini)
Assim a ação rescisória é uma ação, geradora de novo processo, implica, por um lado a
necessidade de observância dos requisitos da propositura de uma demanda e, por outro, a
exigência de citação do adversário (a parte beneficiada pela decisão rescindenda) e a concessão,
a ele, de todas as garantias inerentes ao direito de defesa. (Wambier e Talamini)
A ação rescisória tem por objeto as decisões de mérito revestidas da coisa julgada
material. (art. 966).
“Decisão” assume nessa hipótese, sentido amplo. Não se restringe às sentenças de
primeiro grau que julgam o mérito. Abrange também as decisões interlocutórias de mérito (arts.
356 e 502 do CPC) e os acórdãos dos Tribunais com o mesmo conteúdo.
Não é requisito que todos os recursos passíveis tenham sido interpostos contra a decisão
de mérito no processo de origem (Súmula 514 do STF). A não interposição, a renúncia ou a
desistência de recurso não bloqueia o emprego da ação rescisória.
A ação rescisória pode limitar-se a um ou alguns dos diversos capítulos da decisão (art.
966, § 3º do CPC) – rescisória parcial.
2 –REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE
De acordo com o art. 966, CPC, o primeiro requisito é que haja uma decisão de
mérito, pois somente elas são rescindíveis. As decisões meramente terminativas não
fazem coisa julgada material, mas apenas formal, o que não impede que a questão seja
novamente levada a juízo em outra demanda. As de mérito, se não forem rescindidas,
impedem que a questão seja novamente discutida em qualquer outro processo.
A expressão “decisão de mérito” abrange, além das sentenças e acórdãos,
também as decisões interlocutórias, quando o juiz, em julgamento antecipado parcial,
resolver alguns pedidos, ou parcelas deles, que resultarem incontroversos ou puderem
ser julgados de imediato.
Todavia, não cabe contra as sentenças homologatórias de acordo, de
reconhecimento, de reconhecimento jurídico do pedido e de renúncia à pretensão inicial,
ainda que a lei as considere como de mérito (art. 487 e art. 966, § 4º). Se tais atos forem
maculados por erro, dolo ou coação e forem homologados, não caberá ação rescisória,
mas ação anulatória. (Marcus Vinicius)
Assim, a ação rescisória cabe contra decisão ou sentença, se foi ela que transitou
em julgado, ou contra acórdão, se este as substituiu, no julgamento de recurso que foi
conhecido pelo tribunal.
3 -HIPÓTESES DE CABIMENTO
Trata-se de rol taxativo das hipóteses de cabimento da ação rescisória e não comporta
aplicação analógica. (art. 966, I a VIII).
Também, não é possível que, mediante negócio processual, as partes criem novas
hipóteses rescisórias, pois isso mitigaria o valor da coisa julgada, o que está fora do âmbito de
disponibilidade dos jurisdicionados.
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção
do juiz;
II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida
ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar manifestamente norma jurídica;
VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal
ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;
VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja
existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável;
VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.
A Concussão fica caracterizada quando o agente público (no caso, o magistrado) exige
vantagem indevida para si, ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função,
ou antes de assumi-la, (art. 316 do CP);
A prevaricação consiste em omitir ou retardar a prática de ato devido ou agir contra a
lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (art. 319 do CP);
A corrupção (no caso, passiva) ocorre quando o agente público pedir ou receber, para si
ou para outrem, direta ou indiretamente, em virtude da função, ou ainda que fora dela ou antes
de assumi-la, vantagem indevida.
São raríssimos os casos de ação rescisória intentada com este fundamento, o que muito
provavelmente se deve à dificuldade que existe quanto à comprovação daquilo que se suspeita
ter ocorrido (Teresa Wambier e Medina).
3) Dolo ou coação do vencedor, simulação ou colusão entre as partes (art. 966, inc. III)
Ocorre dolo da parte vencedora quando ela engana o juiz ou a parte contrária para
influenciar o julgamento. E coação quando ela incute no adversário fundado temor de dano
iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens.
Um dos deveres dos litigantes é o agir com lealdade e boa-fé. Se um deles emprega
ardis para induzir em erro o adversário ou o juiz a respeito de fatos relevantes para a causa, que
influenciam no julgamento, haverá dolo. É indispensável que o ardil da parte vencedora tenha
sido a causa de seu sucesso. Somente o dolo do vitorioso ensejará a rescisão, desde que se
demonstre que foi a causa do êxito. (Marcus Vinicius)
Colusão é o conluio entre as partes, que utilizam o processo para fins ilícitos. O art. 142
do CPC diz: “Convencendo-se, pelas circunstâncias da causa, de que o autor e réu se serviram
do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão
que impeça aos objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-
fé”. Pode ocorrer que o juiz não consiga evitar a colusão, ou que ela só seja descoberta depois
do trânsito em julgado. Aquele que foi por ela prejudicado ajuizará a ação rescisória. As
próprias partes envolvidas na colusão não podem posteriormente impugnar a sentença. Vale o
princípio de que ninguém pode alegar a própria torpeza em seu proveito. Assim, a legitimidade
ativa caberá ao litisconsorte que não tenha participado do conluio, ao MP e a terceiros
prejudicados.
A simulação ocorre quando uma das partes se vale dos expedientes enumerados no art.
167, §§ 1º e 2º do código civil, aplicando-se a ela as mesmas regras da colusão.
Não cabe a rescisão por injustiça da sentença ou exame inadequado das provas. O
dispositivo em questão é preciso que haja afronta direta e induvidosa às normas jurídicas em
geral, de natureza constitucional ou inconstitucional. É preciso que a sentença seja incompatível
com a norma jurídica, não podendo haver coexistência lógica das duas coisas. É preciso que a
violação da lei tenha nexo de causalidade com o resultado obtido. Se ela não repercutiu no
julgamento, nada há a rescindir. A ofensa pode ser à lei material (error in judicando) ou
processual (error in processando), desde que repercuta sobre a decisão rescindenda.
Vale ressaltar que a rescisão cabe se houver violação à norma que estava em vigor na
data da decisão. Se a norma é superveniente, não cabe a rescisória. Abrange as normas de
direito estadual, municipal e estrangeiro também. (Wambier)
6) for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha
a ser demonstrada na própria ação rescisória (art. 966, inc. VI)
É indispensável que prova falsa tenha nexo de causalidade com o resultado, isto é, que a
sentença se tenha fundado nela, e não possa subsistir sem a prova falsa. Para as que se
caracterize a falsidade relevante basta a constatação objetiva de falta de correspondência entre
aquilo que efetivamente ocorreu ou ocorre e aquilo que está representado na prova. Não é
preciso demonstrar o dolo daquele que produziu a prova. A regra versa sobre a falsidade de toda
e qualquer espécie probatória. Não se restringe à falsidade documental.
7) prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de
lhe assegurar pronunciamento favorável (art. 966, inc. VII)
Prova nova não é aquela que se formou após o trânsito em julgado, mas aquela anterior,
cuja existência era ignorada pelo autor da rescisória, ou de que não pôde fazer uso. Não pode ser
considerada como tal aquela que deixou de ser apresentada por desídia ou negligência, cuja
existência se conhecida, ou cuja obtenção era acessível. É indispensável que a prova seja de tal
ordem que possa assegurar, por si só, um pronunciamento favorável.
A petição inicial deve preencher os requisitos do art. 319 do CPC e indicar os elementos
da ação: as partes, o pedido e a causa de pedir.
Tem legitimidade para propor ação rescisória todo aquele que tenha sido parte no
processo, ou seu sucessor, a título universal ou particular, o terceiro prejudicado e o MP (art.
967). É possível litisconsórcio.
Proposta por uma das partes, as demais ou seus sucessores serão réus na rescisória.
A petição inicial dever conter a indicação precisa do pedido. Pode haver cumulação do
pedido de rescisão e do novo julgamento da causa. Nem sempre será o caso de cumulação das
duas coisas (art. 968, I). A rescisão pode não englobar a decisão toda, mas apenas um ou alguns
capítulos, caso em que somente estes serão substituídos por nova decisão (art. 966, §3º).
A causa de pedir deve corresponder a uma ou mais das hipóteses do art. 966. O pedido
pode estar fundamentado em mais de uma causa de pedir.
O valor da causa deve corresponder ao proveito econômico que se obterá com a
desconstituição do provimento judicial. É possível que coincida com o valor da causa
antecedente, com o acréscimo de correção monetária.
O art. 968, II apresenta a exigência ao autor depositar a importância de 5% sobre o
valor da causa, que ser converterá em multa, caso a ação seja, por unanimidade de votos,
declarada inadmissível, ou julgada improcedente. A falta de depósito prévio é causa de
indeferimento da inicial. A insuficiência também, desde que o autor não recolha a diferença
quando instado a recolhê-la. Esse valor será restituído caso a rescisória seja julgada procedente
ou se o resultado lhe for desfavorável, mas não por unanimidade de votos.
A função da multa é desestimular a proliferação de rescisória descabida.
A competência para o julgamento de ação rescisória é o tribunal competente para o
julgamento de agravo de instrumento ou da apelação que contra eles poderia ter sido interposto.
A propositura de rescisória não impede o cumprimento da decisão ou acórdão
rescindendo, ressalvada a concessão da tutela provisória (CPC, art. 969. E a execução em curso
não se torna provisória. Cabível a postulação de tutelas provisória para atribuição de efeito
suspensivo à ação rescisória (art. 969, do CPC.
A petição inicial será indeferida nas mesmas situações das iniciais de outras
ações (art. 330, do CPC) e acresce-se outra hipótese de indeferimento: a falta do
depósito exigido no art. 968, II.
O relator tem poderes para indeferir a inicial da rescisória, contra o qual caberá
agravo interno para o órgão que seria competente para julgar a ação.
Caso a petição inicial esteja apta e seja recebida, o relator determinará a citação
do(s) réu(s), conferindo-lhes prazo nunca inferior a 15 dias e nem superior a 30 dias
(art. 970). No prazo estabelecido pelo juiz, os réus apresentarão defesa em forma de
contestação.. A ausência de contestação não implica a presunção de veracidade dos
fatos alegados na petição, pois o autor não exime de comprovar as hipóteses do art. 966.
Apresentada ou não a defesa, o processo segue o procedimento comum.
Se houver necessidade de produção de provas, o relator poderá delegar a
competência para colhê-la ao órgão que proferiu a decisão rescindenda, com prazo de
um a três meses para devolução dos autos (art. 972).
Feita a instrução, será aberta vista sucessivamente ao autor e ao réu para que, em
10 dias, apresentem suas razões finais, passando-se em seguida ao julgamento (art. 973,
caput e parágrafo único).
Caso seja julgado procedente o pedido, a decisão em exame será rescindida,
proferindo-se o tribunal, se for o caso, novo julgamento, restituindo-se o valor
depositado (do art. 968, II) ao autor (art. 974).
Caso seja julgado improcedente por unanimidade ou inadmissível o pedido, o
tribunal determinará a reversão em favor do réu, a importância do valor depositado (art.
968,II) além de pagar ao vencedor as despesas que antecipou (art. 82, §2º).