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TÍTULOS EXECUTIVOS

Vide agora a matéria pertinente aos títulos executivos, cuja teoria geral da execução,
os títulos judiciais e extrajudiciais, além disso, tratar-se-á da competência e legitimidade
executória.

Títulos executivos judiciais

Reputam se judiciais os títulos oriundos de um provimento emanado de um juiz (ou


órgão colegiado), que geram uma presunção, em princípio absoluta, de nascimento do crédito
e, por essa razão, não permitem a alegação de qualquer matéria relativa à nulidade do título
OU a inexistência da divida em sede de impugnação, salvo a nulidade referente à citação no
processo do qual resultou a formação do título, ou a extinção da dívida por fato superveniente
a sua formação. Assim, o art. 515 traz o rol de títulos executivos judiciais:

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á


de acordo com os artigos previstos neste Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou
de entregar coisa;
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;
III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de
qualquer natureza;
IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao
inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou
universal;
V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou
honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial;
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VII - a sentença arbitral;
VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de
Justiça;
IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do
exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;
X - (VETADO).62
§ 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível
para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15
(quinze) dias.
§ 2º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao
processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida
em juízo.

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O inciso X, vetado, fazia referencia ao acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo quando do
julgamento de acidentes e fatos da navegação.

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A regulação mais amiúde deve se ao fato de que o cumprimento não inaugura
processo novo, mas só uma nova fase no processo, com a ideologia de que a parte deve extrair
toda e qualquer eficácia prática do provimento obtido, quer seja ele declaratório ou
constitutivo.

É importante salientar que serão títulos executivos as decisões proferidas no processo


civil que reconheçam a exigibilidade da obrigação, não se limitando, portanto, as sentenças.
Esta norma soluciona a problemática existente na vigência do CPC/73 quanto à tutela de
urgência, que não estava inserida no rol de títulos executivos judiciais. Outrossim, os incisos II
e III referem-se a autocomposição, estendendo a configuração de título executivo a todas as
modalidades de acordo, judicial ou extrajudicial, homologadas judicialmente.

Ademais, fica claro que e titulo executivo judicial a decisão que homologa o acordo, e
não o acordo em si. Considera-se de jurisdição voluntária o procedimento de homologação
judicial de autocomposição extrajudicial, na forma do art. 725, VIII, do CPC.

Oportuno salientar que o Superior Tribunal de Justiça, na vigência do CPC/73, adotara


entendimento no sentido de que a interpretação dos títulos executivos judiciais deve ser
restritiva, em observância aos princípios da proteção da coisa julgada, do devido processo legal
e da menor onerosidade.

Contudo, o mesmo STJ, em decisão realizada sob o regime dos recursos repetitivos,
entendeu que a sentença meramente declaratória pode embasar execução de título judicial.
Na ação originaria, foi discutido se a cobrança feita ao autor pela fornecedora de energia
elétrica era valida. A sentença entendeu parcialmente válida a dívida. A questão foi levada ao
STJ com o objetivo de permitir a credora o direito de ingressar com a execução diretamente
contra o consumidor para exigir a dívida que foi reconhecida em seu favor, o que lhe foi
deferido.

Como se percebe, a relevância da decisão está na afirmação de que tal sentença pode
ser utilizada, inclusive, pela pane ré da demanda, de modo que não apenas o autor poderia dar
continuidade à fase executiva (caso vencedor), exceção feita apenas a execução da
sucumbência pelo réu.

Incluem-se da mesma forma os encargos da sucumbência arbitrados em sentenças


definitivas ou terminativas, sejam elas declaratórias, constitutivas ou condenatórias, e a

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indenização por erro judiciário, na hip6tese de o pedido na revisão criminal ser julgado
procedente.

Com relação a sentença penal transitada em julgado, esta gera efeitos penais (como,
por exemplo, a restrição da liberdade), mas também pode gerar efeitos civis (como, por
exemplo, a condenação a reparar danos causados) e administrativos (no caso dos servidores
públicos, pode haver punição, desde uma simples advertência até a perda do cargo).

Contudo, não é título executivo em face daquele que não participou do processo
criminal, obrigando apenas, como sujeito passivo da execução, aquele que foi condenado e,
como tal, consta do título.

No Direito Brasileiro, a reparação civil decorrente do crime não pode ser obtida no
próprio processo criminal, como regra. Assim, no nosso sistema, cabe à vítima a propositura de
ação condenatória na jurisdição civil ou a promoção da execução civil da sentença
condenatória penal, que torna certa a obrigação do acusado de reparar o dano resultante da
ação delituosa, nos termos do art. 91, I, do CP, com pedido de liquidação concomitante.

Quanto à sentença arbitral, adotou o legislador, no art. 29 da Lei n. 9.307/96, a


denominação "sentença'' para designar o ato que "põe fim à arbitragem", em vez da
terminologia consagrada no ordenamento anterior, "laudo arbitral", conferindo ao
pronunciamento autoridade analogia a da sentença proferida por órgão judiciário, a teor do
art. 31 da referida Lei. Assim, constitui o exemplo típico da imperfeição da classificação de
títulos judiciais e extrajudiciais, uma vez que qualifica como judicial o titulo que não resulta de
ato de juiz.

Por outro lado, e forte hoje o entendimento no sentido de que a arbitragem se insere
no conceito de jurisdição. Nesse sentido, e razoável considerar a sentença arbitral como titulo
executivo judicial. Com relação às decisões estrangeiras e sua homologação, a matéria é
tratada no capítulo que trata do processo nos tribunais, especificamente no art. 960 e
seguintes do CPC.

Finalmente, a partilha de bens em inventário ou em arrolamento é decidida por


sentença, constituindo, portanto, título executivo judicial o formal de partilha na carta de
sentença extraída dos autos de inventário, com as formalidades legais, para título e
conservação do direito do interessado, e a certidão, documento mais simples que o formal,
que atesta o teor da sentença de partilha.

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Assim, a rigor, títulos executivos não são propriamente o formal e a partilha que
devem ser procedidos junto ao registro publico competente, para fins de publicidade da
transmissão dos bens adjudicados, mas a própria sentença de partilha.

Títulos executivos extrajudiciais

O rol dos títulos extrajudiciais, elencado no art. 784, CPC, inicia se com os
denominados títulos de crédito, cujas características são a literalidade, a abstração e a
autonomia.

Em razão de tais características, o devedor não pode, nos embargos a execução, alegar
quaisquer matérias relativas ao negócio jurídico subjacente, salvo se exequente e executado
forem as próprias panes do negócio em discussão ou se se tratar de matéria relativa a relação
pessoal direta entre eles.

A lei também não protege o terceiro adquirente de má-fé, vale dizer, aquele que
adquiriu o titulo conscientemente em detrimento do devedor. Nesse caso, o terceiro adquire
direito derivado, estando vulneráveis as exceções em que o devedor possa arguir com base na
relação causal.

O art. 784 assegurou, também, o cabimento da confissão de dívida no rol dos títulos
executivos, sendo cabível não apenas a obrigação de pagar quantia determinada ou entregar
coisa infungível, mas a qualquer espécie de prestação, como também a entrega de coisa
fungível, obrigação de fazer e não fazer. Ademais, a forma exigida do documento-escritura
pública ou outro documento público, documento particular assinado por duas testemunhas -
soleniza o ato como garantia de que o reconhecimento foi prestado pelo devedor consciente
de que estará se submetendo a via executiva em caso de inadimplemento da obrigação.

O inciso IV do art. 784 prestigia os meios autocompositivos, tanto o instrumento de


transação referendado pelo MP, DP ou advogados, bem como os acordos promovidos por
conciliador ou mediador credenciado no Tribunal. Já o inciso V expressamente prevê que
qualquer contrato garantido por direito real de garantia também constitui título executivo
extrajudicial, além dos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução.

O inciso VI do art. 784, CPC, restringe a formação de titulo executivo extrajudicial para
os contratos de seguro de vida em caso de morte.

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Estão previstos, ainda, como títulos extrajudiciais o foro e o laudêmio são créditos
decorrentes do contrato de enfiteuse. Apesar de a enfiteuse ter sido extinta pelo Código Civil
(art. 2.038), o CPC manteve o crédito decorrente de foro e laudêmio em razão daquelas que
ainda existam. Assim, não efetuado o pagamento desses, o credito poderá ser cobrado por
meio de execução autônoma, desde que apresentado o título executivo: o contrato de
enfiteuse e, no caso de laudêmio, a prova de alienação do bem.

Da mesma forma, o aluguel ou renda de im6vel constitui credito que, uma vez
comprovado, integra um titulo executivo extrajudicial. Com base no que dispõe o inciso VIII do
art. 784, CPC, conclui-se que o locador pode executar o locatário para cobrar os aluguéis não
pagos, assim como todos os encargos acessórios devidos. Contudo, não serve este inciso de
base para que o condomínio execute o condômino quanto aos encargos condominiais não
adimplidos.

O inciso IX autoriza a execução baseada em certidão da divida ativa (CDA) da Fazenda


Pública, ou seja, fundada em crédito, tributário ou não tributário, da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios e das suas autarquias. O ato de inscrição vem regulado no art.
202 do CTN e no art. 2°, § 5°, da Lei n. 6.830/80.

A previsão contida no inciso X do art. 784 autoriza que sejam cobradas em processo
autônomo de execução as quotas condominiais em atraso, tal qual o faz o art. 12, § 2°, da Lei
n. 4.591/64.

O inc. XI, por sua vez, não têm correspondente no CPC/1973.0 dispositivo prevê que a
certidão expedida por serventia notarial ou de registro, referente a valores de emolumentos
ou outras despesas fixados de acordo com as tabelas estabelecidas em lei, e considerada título
executivo extrajudicial.

Por fim, o inc. XII reporta se a outras leis especiais, atribuindo eficácia executiva a
diversos documentos. Por essa forma, reafirma o legislador que somente lei expressa pode
outorgar força executiva aos documentos, vedando se a criação de titulo executivo por
pactuação contratual. Destarte, incluem se na previsão do mencionado inciso, entre outros:

a) A cédula rural pignoratícia, cédula rural hipotecária, nota de credito rural, nota
promissória rural e duplicata rural (art. 41, caput, Decreto Lei n. 167/1967);

b) Os honorários de advogado (art. 24, Lei n. 8.906/1994);

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c) As multas e obrigações de fazer decorrentes de decisão do plenário do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (art. 60 da Lei n. 8.884/1994);

d) O compromisso arbitral que fixa os honorários do(s) arbitro(s) (art. 11, parágrafo
único, da Lei n. 9.307/96);

e) O compromisso de ajustamento de conduta (art. 82, § 3°, da Lei n. 8.078/1990, e


art. 5°, § 6°, da Lei n. 7.347/1985);

f) As decis6es dos Tribunais de Contas (art. 71, § 3° da Constituição da República).

Não custa lembrar que o título executivo, judicial ou extrajudicial, deve conter
obrigação certa, líquida e exigível. E o que prescreve claramente o art. 783, em relação à
execução de títulos extrajudiciais. E importante atentar, aqui, que tais características,
notadamente cumulativas, são atributos da obrigação a ser executada, e não do título
executivo em si.

QUESTÕES PARA FIXAÇÃO DE CONTEÚDO

1. (CESPE / CEBRASPE - 2023 - TJ-SC - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Provimento


De acordo com o Código de Processo Civil (CPC), são títulos executivos extrajudiciais)
A) a certidão de serventia notarial referente a emolumentos legais de atos por ela praticados,
a sentença arbitral e a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial.
B) a sentença arbitral, a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial e o contrato
de seguro de vida em caso de morte.
C) a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial, o contrato de seguro de vida em
caso de morte e o crédito decorrente de foro e laudêmio.
D) o contrato de seguro de vida em caso de morte, o crédito decorrente de foro e laudêmio, e
a certidão de serventia notarial referente a emolumentos legais de atos por ela praticados.
E) o crédito decorrente de foro e laudêmio, a certidão de serventia notarial referente a
emolumentos legais de atos por ela praticados e a sentença arbitral.

Gabarito 1(D)

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