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ANOTAÇÕES SURTADAS DE PROCESSO CIVIL III – primeira unidade


“assunto pequeno e tranquilo igual uma mandioca no cu”

CONCEITOS IMPORTANTES:

1) PENHORA: é um ato judicial que “segura” os bens, móveis ou imóveis, do executado a fim de garantir a
execução e adimplemento do título executivo.
2) AJUDICAÇÃO: aqui ocorre logo após a penhora e consiste em ato judicial dentro da fase expropriatória,
que se declara e transfere a propriedade de um bem do executado/devedor para o exequente/credor. Diferencia-
se da expropriação por que aqui o próprio executado vende o bem ao exequente (ou terceiro interessado) para
pagar a dívida (recebe o bem diretamente para pagar a dívida).
3) EXPROPRIAÇÃO: é a retirada forçada da propriedade de um bem do devedor para garantir a satisfação
de uma dívida. A expropriação, ou fase expropriatória, ocorre após a penhora dos bens. Difere-se da ajudicação
por que aqui o bem é forçadamente leiloado em hasta pública, utilizando o valor para quitar a dívida.
N/A: o mais comum é a expropriação; no cumprimento de sentença pode ocorrer a ajudicação se:
não houver licitantes no leilão público ou se o valor arrecadado não for suficiente para quitar a
dívida, então o exequente pode requerer a ajudicação.

DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

ART. 513 a ART. 519/CPC.

Aqui é a fase, posterior à fase de conhecimento do processo, que após a liquidação da sentença,
vai dar o direito ao ganhador de exigir pagamento/cumprimento de obrigação do perdedor do
processo. O cumprimento de sentença que trata o Código é referente aos títulos executivos
judiciais (a sentença da fase de conhecimento é um título executivo judicial).

Cumprimento de sentença NÃO é o mesmo que execução! Execução é uma ação própria,
utilizada para os títulos extrajudiciais. O cumprimento de sentença é a concretização do que foi
determinado pelo juiz na fase de conhecimento (é uma fase complementar ao processo).

Os tipos de títulos executivos judiciais encontram-se no art. 515, incisos I a IX (detalhe:


somente os incisos VI ao IX que vão configurar ação autônoma, porque o título executivo
judicial se origina num processo diferente, ou seja, o cumprimento de sentença não é mera fase
complementar).

Os incisos VI a IX são chamados de títulos executivos especiais, pois eles não são
executados no juízo que foram formados (são sentenças suis generis = “únicas de
seu gênero”). Outro detalhe importante desses títulos é que para o cumprimento de
sentença vai CITAR o executado, enquanto nos outros títulos (I a V) INTIMA-SE o
executado.

Os incisos VIII e IX serão executados na Justiça Federal de 1ª instância.

O foro para cumprimento de sentença, em regra geral, é no juízo onde se decidiu a causa (ode
ocorreu a fase de conhecimento); em forma excepcional vai ser no tribunal, se a ação já se
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originou ali ou, para os casos de títulos executivos especiais, vai ficar à escolha do exequente,
podendo ser: 1) domicílio do executado, 2) domicílio onde se encontram os bens para a
execução ou 3) lugar onde deve ser cumprida a obrigação.

CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE OBRIGAÇÃO PECUNIÁRIA

ART. 520 a ART. 522/CPC.

É a mais comum; aqui não quer dizer que a execução/cumprimento de sentença é provisório,
mas sim que o título executivo judicial que fundamenta a execução é provisório, visto que
há recurso pendente (recurso sem efeito suspensivo) – ART. 520.

O cumprimento de sentença provisório será feito por petição simples dentro dos autos do
mesmo processo. Se não for eletrônico (muito raro), o advogado deve juntar à petição, cópia
dos seguintes documentos: 1) decisão exequenda (o título executivo né), 2) certidão de
interposição de recurso/impugnação sem efeito suspensivo, 3) procurações e 4) decisão de
habilitação.

Aqui é de iniciativa e responsabilidade do exequente (não pode ser declarada de ofício e, se


caso a sentença seja reformada ou anulada, o exequente fica encarregado de reparar os danos
causados ao executado – é uma reparação de danos OBJETIVA, ou seja, independe de culpa do
exequente).

O cumprimento provisório, para ocorrer, em regra geral, deve vir com uma CAUÇÃO, ou seja, o
exequente deve dar uma caução (contracautela) real ou fidejussória suficiente e idônea. A
finalidade disso é servir de proteção ao executado. Existem exceções? SIM: ART. 521 traz as
hipóteses que são dispensadas a caução: 1) crédito de natureza alimentar, 2) se o exequente
demonstrar necessidade, 3) pender agravo do art. 1042, 4) a sentença estiver em consonância
com súmula do STJ/STF.

Detalhe importante: esse ponto 3 é: agravo de recurso especial e extraordinário


contra decisão que inadmite recurso especial. Nesse caso, a caução vai ser
dispensada por que o intuito desse agravo é justamente protelar o trânsito em
julgado e tornar mais difícil a execução.

Aqui incide multa, mas como funciona? Se o executado, após intimação para pagar (prazo de 15
dias), se recusar a cumprir e quiser impugnar, já imediatamente incide sobre o valor da dívida
a multa de 10% do valor e 10% dos honorários advocatícios. Tem como se livrar da multa e
ainda sim impugnar? SIM, se o executado comparecer por livre e espontânea vontade e
depositar o valor, somente com a finalidade de se isentar da multa, isso ai não vai impedir que
haja a impugnação.

OBS: não é necessário ter primeiro o cumprimento provisório para depois se ter o definitivo,
afinal, o cumprimento provisório torna-se definitivo após transitado em julgado.
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CUMPRIMENTO DEFINITIVO DE SENTENÇA (PAGAR)

ART. 523 a ART. 527/CPC.

Na mesma regra do cumprimento provisório, o cumprimento definitivo se faz por


requerimento do exequente e o executado é intimado a pagar no prazo de 15 dias. Não
havendo pagamento, incidirá a multa de 10% e os honorários advocatícios (caso haja
adimplemento parcial, a multa incide sobre o restante).

Quando o executado NÃO paga dentro do prazo de 15 dias, haverá: 1) multa de 10%, 2)
honorários advocatícios, 3) o exequente pode pedir anotação do nome do devedor e da dívida
no Cartório de Títulos e Protestos (fazer um protesto = negativa o nome). IMPORTANTE: o
protesto só vale para o cumprimento de sentença DEFINITIVO.

O requerimento também é feito por petição simples, contendo o demonstrativo atualizado e


objetivo do crédito devido, e a petição também deve conter: 1) nome e CPF/CNPJ do exequente
e executado, 2) índice de correção monetária atualizado, 3) os juros aplicados e as taxas, 4)
termo inicial e final dos juros, 5) especificação de eventuais descontos, 6) indicação dos bens
passíveis de penhora.

E se o crédito exceder os limites da condenação??? A execução inicia-se com o valor apontado


no demonstrativo na petição, porém a penhora vai ser a partir do valor determinado
pelo juiz (devidamente fundamentado a mudança de valor). Para verificar os valores, o juiz
pode utilizar um contabilista do juízo, tendo o prazo de 30 dias para fazê-lo (só faz essa revisão
na hipótese de exceder os limites, se não segue com o valor pretendido pelo exequente
normalmente).

Na impugnação, o executado também pode alegar o excesso de execução, mas ele


deve, obrigatoriamente, apontar o valor que entende correto; caso não o aponte, e o
excesso de execução for seu único argumento, a impugnação deverá ser
liminarmente indeferida (se tiver outros argumentos, só não analisa o do excesso).

OBS: a impugnação NÃO tem efeito suspensivo normalmente; seu caráter suspensivo da
execução é excepcional e ocorre quando a execução ferir direitos/causar danos (estando
manifestamente explícito em seus fundamentos isso). – ART. 525, § 6º/ CPC. Se a execução for
feita contra mais de um executado, o efeito suspensivo da impugnação de um deles não
suspende a execução dos demais.

§10º do ART. 525/CPC = aqui é o que Marta denominou como CONTRACAUÇÃO; digamos que
a impugnação teve efeito suspensivo né, só que o exequente, querendo que dê continuidade ao
cumprimento de sentença, dá ao magistrado uma garantia (uma caução) para que ele continue
com o cumprimento mesmo assim – basicamente o executado dá uma garantia, aplica-se o
efeito suspensivo e o exequente dá uma garantia contra a garantia do executado.
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N/A: imagina isso ai como o exequente aplicando um UNO REVERSO na caução do


executado. DETALHE: caso, ao longo do processo, seja provado a má-fé do
exequente, mas já aconteceu a penhora, o magistrado impede que haja a fase de
expropriação dos bens, então o executado fica desapossado, mas não
desapropriado.

Em caso de fato superveniente à impugnação, o que faz? Pode-se alegar o fato relativo à
validade, a adequação da penhora, etc. em petição simples, no prazo de 15 dias, desde que
comprovada ciência do fato. Também é importante citar na hipótese de inexigibilidade do
título executivo fundamentado em lei ou ato normativo que, posteriormente, for declarado
inconstitucional pelo STF.

OBS: a inconstitucionalidade deve ser declarada antes do trânsito em julgado da


execução, se for depois somente caberá ação rescisória (dentro do prazo de 2 anos
após a decisão do STF).

Cumprimento de sentença espontâneo ou invertido (ART. 526) = o executado, antes


mesmo de ser intimado, deposita em juízo o valor que entender devido da dívida. Aqui o
exequente tem 5 dias para ser ouvido em relação ao valor depositado, podendo impugnar caso
achar que esteja faltando (não havendo impugnação, o juiz declara como satisfeita a obrigação
e extingue o processo). Caso o juiz aceite a impugnação do exequente, vai incidir ao devedor as
multas de 10% e os honorários advocatícios somente em cima do montante que falta, e segue
para a penhora.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – ALIMENTOS

ART. 528 a ART. 533/CPC.

A requerimento do exequente, o executado é intimado e tem o prazo de 3 dias para adimplir a


obrigação, provar que o fez ou justificar a inadimplência. Somente a comprovação de TOTAL
IMPOSSIBILIDADE justifica a inadimplência da prestação de alimentos (ai o juiz suspende o
caso até que o motivo da impossibilidade deixe de existir).

O disposto nesse capítulo vale também para alimentos provisórios. Se o pedido foi feito, mas
ainda não transitou em julgado, a execução faz em autos diferentes (se já transitou, é nos
mesmos autos)

Caso o executado não o faça ou não justifique/ não seja aceita a justificativa, o magistrado além
de fazer um protesto da dívida, pode decretar a prisão do executado pelo prazo de 1 a 3 meses.
A prisão civil por dívida alimentícia NÃO é sanção penal, apenas um meio de coerção, já que
uma vez cumprida a obrigação, o executado deve ser solto.

OBS: Só porque foi preso, não quer dizer que suspende a execução não! Mesmo
preso e mesmo tendo sido protestado a dívida, o cumprimento de sentença
segue o fluxo e começa a fase de penhora e apreensão e expropriação de bens.
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Aqui vale somente para as 3 prestações imediatamente anteriores ao ajuizamento e as


vincendas ao longo do processo, isso porque as mais antigas que isso perdem seu caráter
imediatista/emergencial alimentício e passa a assumir natureza indenizatória (para essas mais
antigas será cumprimento normal de sentença).

É importante ressaltar que o disposto nesse capítulo é procedimento especial,


feito totalmente na vontade do credor/exequente; pode-se optar por esse
procedimento, invés do cumprimento de sentença normal, por que aqui tem a
possibilidade da prisão civil por inadimplemento de pensão alimentar (isso no
cumprimento normal de sentença não vai ser possível, por mais que seja sobre
alimentos).

Caso o exequente opte pelo cumprimento de sentença padrão, vai recair sobre o
executado a penhora e todo o procedimento normal (impugnação, etc), mas isso não
impede do exequente pedir mensalmente a pensão.

Uma diferença dessa modalidade do cumprimento padrão é que aqui o exequente


pode pedir que o foro para execução da prestação alimentícia seja o SEU domicílio.

Se o executado for funcionário público, militar, diretor, gerente ou empregado de empresa


(cargos CLT e que tem folha de pagamento), o exequente pode pedir o desconto direto na
folha de pagamento, que começa a ocorrer na primeira remuneração logo após (se não
cumprir, é crime de desobediência e pode também sofrer multa de até 20% por ato atentatório
à Justiça).

Detalhe: essa modalidade de desconto na folha de pagamento também pode ser


usada para pagar o crédito de parcelas vencidas sem atrapalhar as parcelas que
ainda vão vencer, sendo o pagamento dessas vencidas feito de forma parcelada.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA FAZENDA PÚBLICA

ART. 534 e ART.535/CPC.

Esse tópico é mais chatinho porque o cumprimento de sentença aqui é regido por dois
princípios fundamentais do direito administrativo: o da legalidade e da primazia do interesse
público (tendo que considerar também a questão do princípio da reserva do possível).

As regras aqui são bem semelhantes à do cumprimento de sentença definitivo normal, só que
como o executado é o ente fazendário, há algumas mudanças, dentre elas: a União NÃO SOFRE
PENHORA e NÃO INCIDE MULTA + HONORÁRIOS. Outra diferença também é o prazo para a
impugnação: para a Fazenda Pública o prazo é de 30 dias úteis, invés de 15.

O cumprimento de sentença de pagar valor devido por ente fazendário vai ser por meio
de PRECATÓRIOS ou RPV (requisições de pequeno valor). O precatório deve ser escrito e
previsto no orçamento anual; será pago por ordem cronológica e levando em consideração a
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natureza da obrigação (ex: se for de natureza alimentar, titular com mais de 60 anos, portador
de doença grave ou deficiente tem prioridade sobre os demais débitos).

O pagamento do precatório deveria ser feito dentro do ano que ele foi sentenciado
(concepção utópica). Se for devido pela União, o precatório é pago em data certa,
porém os débitos devidos pelos estados e municípios demoram a serem pagos. O
RPV deve ser pago em até 2 meses contando a data de entrega da requisição.

Aqui também se aplica a inexigibilidade do título executivo em hipótese de


inconstitucionalidade declarada pelo STF e também cabe ação rescisória se a decisão for após
trânsito em julgado.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER OU ENTREGAR


COISA

ART.536 a ART.538/CPC

Aqui tem uma grande diferença das obrigações pecuniárias: o juiz pode requerer ex officio ou
a requerimento do exequente, as medidas necessárias para satisfazer o título executivo.

O disposto nesses artigos configura um modelo atípico dos meios de execução, já que não
especifica completamente todos os meios possíveis de execução, uma vez que como a
obrigação é de fazer ou não fazer (tendo natureza econômica ou não), torna isso um leque
muito abrangente de possibilidades.

Algum dos meios possíveis de coerção executiva são: busca e apreensão, multa,
desfazimento de obras, impedimento de atividade, etc (§1º). Caso o executado
descumpra injustificadamente a ordem judicial, sobre ele vai incidir: multas por ato
atentatório da justiça, crime de desobediência e multas por litigância de má-fé.

A multa nem sempre é o meio coercitivo mais eficiente, vai de caso em caso. Mas
quando for aplicada, deve ser baseada na capacidade patrimonial do executado e
não da dívida, já que assim ela será uma medida suficiente de constranger o
devedor – a multa que melhor cumpre seu papel é aquela que não precisa ser
paga, pois constrange o devedor a, tempestivamente, cumprir a ordem
judicial.

A multa independe de requerimento do exequente e pode ser estabelecida na fase de


conhecimento, em tutela provisória ou sentença ou na fase executiva. O juiz também tem a
prerrogativa, de ofício ou a requerimento, extinguir ou modificar o valor ou a periodicidade da
multa, desde que verifique: 1) se tornou insuficiente ou excessiva ou 2) o executado cumpriu
parcialmente a obrigação ou apresentou justa causa.
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Só pode fazer essa alteração de valor em multas VINCENDAS; multas que já


venceram não podem ser alteradas (isso violaria o direito de crédito já estabelecido
ao exequente).

A multa por atraso no cumprimento é devida desde o dia que configurar o descumprimento da
decisão e incide até o momento que for cumprida.

No cumprimento de sentença de obrigação de ENTREGAR COISA, a matéria de retenção ou


indenização das benfeitorias NÃO É DISCUTIDA AQUI, uma vez que deveria ter sido
debatida de forma discriminada na fase de conhecimento, na contestação. O prazo pra
entregar a coisa é estabelecido na sentença e começa a correr a partir da intimação do
executado.

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