Você está na página 1de 12

/ ARTIGOS / DIREITO PROCESSUAL CIVIL / PÁGINA ATUAL

O que mudou na impugnação ao cumprimento de sentença no


Novo CPC

Rodrigo Tissot

15 ago 2019 • 10 min de leitura


Artigo atualizado 14 dez 2022

Navegue por tópicos -

O que é cumprimento de sentença?

O que é impugnação ao cumprimento de sentença?

Impugnação ao cumprimento de sentença no novo CPC

Matérias de defesa na impugnação ao cumprimento de sentença

Garantia do juízo e efeito suspensivo

Recurso cabível à rejeição da impugnação ao cumprimento de


sentença

Conclusão

A impugnação ao cumprimento de sentença é a defesa


conferida ao executado na fase de cumprimento de sentença.
Trata-se de defesa típica e incidental ao procedimento, de modo
que não constitui uma ação autônoma. Está prevista no artigo
525 do Novo CPC.

No artigo de hoje, abordarei com maior profundidade a impugnação ao


cumprimento de sentença. Vamos relembrar conceitos da formação do
título judicial e a necessidade da fase de cumprimento de sentença.
Além disso, veremos os pormenores da impugnação que pode ser
dirigida pelo executado, destacando a importância prática que tal
incidente pode representar. 
A impugnação ao cumprimento de sentença no Novo CPC está
A impugnação ao cumprimento de sentença no Novo CPC está
disciplinada apenas no artigo 525. Ainda assim, o tema apresenta
detalhes importantes em seus parágrafos e incisos. Os atores jurídicos,
portanto, não devem tratar com desprezo a impugnação ao
cumprimento de sentença. A mencionada defesa processual pode, por
vezes, reduzir o valor a ser executado e até mesmo extinguir
completamente a execução que se voltava contra a parte executada. 
Além do conceito acima, é importante diferenciar o tema dos
embargos do devedor, outra modalidade de defesa do executado. Ao
passo que a impugnação ao cumprimento de sentença não perfaz ação
autônoma, mas sim incidente processual (já que é parte da fase de
cumprimento de sentença), os embargos do devedor podem ser
opostos em sede de ações autônomas.

O que é cumprimento de
sentença?
A fase de conhecimento, muitas vezes longa, tem por finalidade o
reconhecimento judicial de um direito pleiteado pelo autor. Para que o
título judicial seja formado, as partes são ouvidas, as provas são
produzidas e o direito de defesa é meticulosamente observado. 
O contexto mencionado já é capaz de conferir ao Poder Judiciário as
condições necessárias para que seja proferida uma decisão segura,
eficaz e acertada. Ocorre que, mesmo com a cuidadosa formação do
título judicial, diversas obrigações ainda dependem de um
comportamento do réu para que o direito reconhecido seja
materializado no mundo dos fatos.
O reconhecimento do direito na fase de conhecimento não satisfaz,
necessariamente, os anseios do autor. Assim, diante da decisão judicial
que determina o cumprimento de uma obrigação por parte do réu,
resumidamente, dois caminhos se abrem: o cumprimento voluntário
e a inércia do réu. 
O direito fundamental ao acesso à justiça compreende não apenas a
decisão judicial, mas também o seu efetivo cumprimento. Deste modo,
o legislador viu-se obrigado a fornecer meios executivos idôneos à
concretização das determinações judiciais. Nesse contexto, o
legislador estabeleceu a fase processual de cumprimento de
sentença.
Conheça os 3 mais importantes princípios gerais do direito.

O que é impugnação ao
cumprimento de sentença?
A impugnação ao cumprimento de sentença é a defesa conferida ao
executado na fase de cumprimento de sentença Trata se de defesa
executado na fase de cumprimento de sentença. Trata-se de defesa
típica e incidental ao procedimento, de modo que não constitui uma
ação autônoma. Está prevista no artigo 525 do Novo CPC.

A reforma legislativa processual de 2005


Vale ressaltar, a título de curiosidade histórico-processual, que até
antes da reforma legislativa processual ocorrida em 2005 (ainda no
âmbito de vigência do CPC de 1973), as decisões judiciais e os títulos
executivos extrajudiciais eram necessariamente efetivados por meio de
ações de execuções autônomas. Eram necessárias duas ações para a
tutela e a efetividade de um direito. A primeira para o
reconhecimento do direito e a segunda para a efetivação do direito.

Com a reforma, no que toca aos títulos executivos judiciais, o processo


tornou-se sincrético, de modo que o cumprimento de sentença é
apenas uma fase processual da mesma ação cuja fase de
conhecimento reconheceu o direito. Assim sendo, se a obrigação
estabelecida na sentença não for cumprida de forma voluntária, o
autor deve informar ao juízo que a decisão judicial não fora respeitada,
dando início à fase de cumprimento de sentença. 
Nesse contexto, ainda que a fase de conhecimento seja exaustiva no
sentido de permitir ampla matéria de defesa e profundidade
probatória, o executado tem a possibilidade de elaborar uma defesa
incidental à fase de cumprimento de sentença: a impugnação ao
cumprimento de sentença, de que trataremos a seguir. 😉

Impugnação ao cumprimento de
sentença no novo CPC
Os estudiosos que se dedicam ao processo civil criticam a
oportunidade perdida pelo novo CPC de disciplinar o cumprimento de
sentença de forma mais alargada e detalhada, positivando formas
alternativas capazes de aumentar a efetividade das decisões judiciais. É
importante destacar que a sistemática é a mesma desde a reforma
de 2005. Ou seja, de um procedimento sincrético. Não houve,
portanto, inovação substancial. 
Estabelecido o direito para o caso concreto, na hipótese de não haver o
cumprimento voluntário e espontâneo da obrigação delineada, surge a
necessidade do início da fase de cumprimento de sentença. 

Prazos da impugnação ao cumprimento de


sentença
Conforme os procedimentos estabelecidos, ao ser informado do
descumprimento da decisão judicial, o juízo intimará o réu para que
d i ã d 15 di
cumpra a decisão no prazo de 15 dias.
Decorrido este prazo sem que a obrigação seja cumprida, inicia-se,
automaticamente, novo prazo de 15 dias para que o executado
apresente impugnação ao cumprimento de sentença. 
O §3º do artigo 525 excepciona o prazo de 15 dias, determinando que
seja concedido em dobro nas hipóteses de existência de mais de um
executado, cada qual representado por advogados distintos e de
escritórios de advocacia distintos. O parágrafo citado aplica o que está
disposto no art. 229, que diz:

Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores,


de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em
dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou
tribunal, independentemente de requerimento.
§ 1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2
(dois) réus, é oferecida defesa por apenas um deles.
§ 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos
eletrônicos.”

Matérias de defesa na
impugnação ao cumprimento de
sentença
A defesa permitida na fase de cumprimento de sentença funda-se na
garantia do contraditório e da ampla defesa, alicerces do sistema
processual civil. No entanto, como já houve a oportunidade para que
as partes se manifestassem sobre o cerne da discussão, as matérias
que podem ser alegadas na impugnação ao cumprimento de sentença
sofrem limitação pelo legislador. 
As matérias alegáveis em sede de impugnação ao cumprimento de
sentença estão disciplinadas nos incisos do §1º do artigo 525 do CPC,
e são:

Defeito/nulidade/inexistência da citação na
fase de conhecimento
Hipótese em que o executado foi revel no curso do processo em
decorrência de equívoco no processamento da citação (que é
pressuposto de existência do processo). É importante destacar que não
basta apenas a ausência de contestação, mas sim de ausência do
executado em toda a fase de conhecimento.
Saiba como funciona a revelia.

Ilegitimidade de parte
O executado pode alegar que não deve sofrer a execução. É o
exemplo típico do fiador que não foi chamado ao processo no curso da
fase de conhecimento e que é alvejado na fase de cumprimento de
sentença. 

Defeitos/falhas em relação à penhora ou à


avaliação dos bens penhorados
Caso a penhora recaia, por exemplo, sobre um bem de família
(protegido pela lei nº 8.009/1990), há um defeito que merece ser
sanado. Quando a avaliação do bem é feita de modo a não
coincidir com a realidade, é possível que ela seja discutida na
impugnação ao cumprimento de sentença. 

Igualmente, é cabível tal alegação quando a penhora recai sobre coisa


diversa da determinada judicialmente, quando a penhora atinge bens
em valor superior ao da execução ou quando há cumulação indevida
de execuções.
Leia também: as possibilidades da impenhorabilidade do bem de
família

Inexigibilidade da obrigação ou
inexequibilidade do título
Se o título não for exigível, como nos casos de obrigações
condicionais não satisfeitas; ou se o título não for exequível (por falta
de certeza, liquidez ou exigibilidade), a impugnação ao cumprimento
de sentença mostra-se como o momento processual adequado para
que o executado afaste a execução.
São consideradas obrigações inexigíveis aquelas que forem baseadas
em leis ou atos normativos considerados inconstitucionais pelo
Supremo Tribunal Federal. A decisão do STF deve ser anterior ao
trânsito em julgado do título executivo judicial. Caso seja posterior, é
cabível ação rescisória, cujo prazo será contado a partir do trânsito em
julgado da decisão do STF que reconheceu a inconstitucionalidade da
norma.

Excesso de execução
Quando o credor extrapola o valor que é devido pelo devedor, o
executado pode buscar reparar o valor que compõe o cumprimento de
sentença. É importante mencionar que a impugnação deve vir
acompanhada de uma memória de cálculo que demonstre quais
valores o devedor entende como devidos. A impugnação genérica, sem
o demonstrativo, será rejeitada liminarmente. 

Incompetência absoluta ou relativa do juízo


da execução
O novo CPC teve um claro objetivo de simplificar o procedimento,
tornando as alegações de incompetência facilitadas e possíveis durante
as fases do processo. Ainda assim, ocorre a preclusão caso a
incompetência relativa não seja afirmada na impugnação ao
cumprimento de sentença. 
Já a incompetência absoluta poderá ser retificada e corrigida, até
mesmo de ofício, em qualquer grau de jurisdição.
Saiba mais sobre alegações finais.

Causas modificativas ou extintivas da


obrigação
São exemplos o pagamento, a novação, a compensação, a
transação ou a prescrição, desde que ocorridos após a sentença.
Aqui discute-se o mérito, ou seja, a quantia do débito, mas sempre
decorrentes de fatos supervenientes à sentença. 
Atenção: Nos termos do art. 525, §2º, eventual impedimento ou
suspeição do juiz deverá ser arguido em petição simples, em separado,
e não na impugnação. Além disso, questões que surjam após a
impugnação podem ser alegadas no prazo de 15 dias da ciência do
fato, por petição simples, conforme mandamento do §10º do art. 525. 
Saiba mais sobre petição inicial aqui no Portal da Aurum.

Garantia do juízo e efeito


suspensivo
Na vigência do CPC de 1973, era necessária a garantia do juízo como
requisito de admissibilidade da impugnação ao cumprimento de
sentença. O novo Código de Processo Civil e sua sistemática
afastaram a necessidade de garantia do juízo para que a
impugnação seja apreciada.
Ocorre que, como regra, a impugnação ao cumprimento de sentença
não apresenta o efeito suspensivo. De qualquer modo, o §6º do art.
525 autoriza, excepcionalmente, a concessão do efeito suspensivo
(total ou parcialmente) se o devedor lograr êxito em reunir 4
requisitos: 

1. Garantia do juízo (caução)


2. Requerimento expresso
3. Relevância dos fundamentos (probabilidade do direito alegado) 
4. Risco de dano em decorrência da continuidade da execução

O efeito suspensivo não impede a substituição, o reforço ou a redução


da penhora, assim como a avaliação dos bens. Concedido o efeito
suspensivo, o credor pode requerer o prosseguimento da execução
mediante oferecimento de caução. 

+70.000 ADVOGADOS
APROVAM

Automatize suas
atividades com o
Astrea e viva uma
rotina tranquila em
2023.

Quero conhecer grátis

Recurso cabível à rejeição da


impugnação ao cumprimento de
sentença
Se a impugnação for rejeitada, a decisão proferida é considerada
decisão interlocutória, da qual cabe o recurso de agravo de
instrumento. Do mesmo modo, com o acolhimento parcial a execução
prossegue normalmente, de modo que o recurso cabível é o agravo de
instrumento. 
Quando o juiz acolher a impugnação ao cumprimento de sentença ,
extinguindo a execução, a decisão é finalística. Assim sendo, é
considerada uma sentença, que pode ser reanalisada por meio de
recurso de apelação. 

Conclusão
Da análise do exposto, pode-se perceber que a impugnação ao
cumprimento de sentença é capaz de alterar os rumos do
cumprimento de sentença. Seja para adequar a obrigação exigida
pelo exequente (correção do montante cobrado, por exemplo). Seja
para extinguir a fase processual (nas hipóteses em que a obrigação não
pode ser exigida do executado).
Ainda que o novo CPC não tenha trazido inovações substanciais a
respeito da impugnação ao cumprimento de sentença, é importante
ressaltar que o Código não exige a garantia do juízo para que a
impugnação seja apreciada. O que era diferente no CPC/73.
A limitação de matérias alegáveis deve ser observada com atenção
A limitação de matérias alegáveis deve ser observada com atenção
pelos advogados, já que decorre de lei. Por outro lado, o instituto da
impugnação jamais deve ser desprezado pelos advogados por sua
aparente “feição protelatória”. Isso porque o seu técnico e adequado
manuseio são capazes de reduzir ou até mesmo extinguir o débito
demandado por meio do cumprimento de sentença.

Mais conhecimento para você


Se você gostou deste material, tenho algumas sugestões de conteúdos
sobre mudanças do novo CPC. Confira aqui no Portal da Aurum artigos
sobre os seguintes temas:

Adjudicação

Usucapião extrajudicial
Liquidação de sentença
Juntada de petição
Ativismo judicial
Ação monitória

Continue acompanhando os conteúdos do Portal da Aurum! Assine a


newsletter da Aurum e receba e-mails exclusivos com as novidades
sobre o universo do direito e tecnologia.
E aí, gostou do texto? Tem alguma dúvida ou sugestão? Compartilhe
com a gente nos comentários abaixo!

Gostou do artigo e quer evoluir a sua


advocacia?
Assine grátis a Aurum News e receba uma dose
semanal de conteúdo no seu e-mail! ✌️

Digite seu e-mail

Qual seu e-mail? Assinar

Ao se cadastrar você declara que leu e


aceitou a política de privacidade e cookies
do site.

Rodrigo Tissot
Advogado (OAB 51419/SC). Sócio de Bertoncini,
Gouvêa & Tissot Advogados, onde atua nas áreas
de Direito Civil, Direito Empresarial, Direito dos
Contratos, Responsabilidade Civil e Direito do
Consumidor. Mestrando em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Pós-graduado em...

Ler mais

Tem algo a dizer? 7 29

Deixe seu comentário e vamos conversar!

Nome E-mail

Nome E-mail

Mensagem

Mensagem

Comentar

Jones
31/10/2022 às 10:08

Parabéns!! Texto Objetivo, claro e inteligente!!

0 Responder

Thuane Kuchta
31/10/2022 às 17:02

Que bom que o texto foi útil para você, Jones! Para receber
nossos e-mails e avisos de matérias, indicamos também se
cadastrar gratuitamente neste link:
https://materiais.aurum.com.br/assinar-newsletter 😊

0 Responder

Nina Cerniavskis
10/06/2022 às 15:23
Boa tarde doutores
Gostei muito do artigo sobre impugnação ao cumprimento de
sentença.
Obrigada

0 Responder

1 2 3 4

AURUM RECOMENDA

Conteúdos para elevar sua atuação


na advocacia
Separamos os principais artigos sobre advocacia e
tecnologia para você!

369 310

Direito Processual Civil Direito Processual Civil

Entenda o que é expropriação, como Veja o que é a ata notarial e suas


fazer e o que diz o novo CPC principais características

Por Rodrigo Tissot Por Mariana Costa Reis


12 dez 5 dez
• 13 0 • 6 0
2022 min de 1 2022 min de 3
leitura leitura

Assine grátis a Aurum News e receba uma dose semanal de conteúdo gratuito no seu e-
mail!

Qual seu e-mail?


Ao se cadastrar você declara que leu e aceitou a política de privacidade e cookies do site.

Assinar Aurum News

Dúvidas? Fale conosco!

Sobre a Nossos produtos Iniciativas Conhecimento


Aurum
Astrea para advogados Aurum News Artigos
Quem somos autônomos e escritórios
Aurum Summit Materiais gratuitos
Trabalhe conosco Themis para
Departamentos O Futuro da Colunistas
Nossos produtos Jurídicos Advocacia

Themis para Grandes


Bancas
© 2023 Aurum Software Ltda. Todos os direitos reservados. | Política de privacidade |
CNPJ 65694739/0001-96

Você também pode gostar