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EXECUÇÃO, PROCESSO COLETIVO E JUIZADOS ESPECIAIS – CCJ0038

PROF. ALEX CADIER - AULA 5 – 18/03/2022

TEMA DA AULA PASSADA: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA (cont.)

 Cumprimento de sentença (arts. 513-538, CPC)


 Cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de prestar
alimentos (arts. 528-533, CPC).
 Cumprimento da sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar
quantia certa pela fazenda pública (arts. 534-535, CPC).
 Cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer, de
não fazer ou de entregar coisa (arts. 536-538, CPC).

TEMA DA AULA DE HOJE: DEFESAS DO EXECUTADO

Qualquer que seja a modalidade da execução, se fundada em título executivo judicial ou


extrajudicial, se processada por execução direta ou indireta, é certo que em respeito aos princípios
do contraditório e da ampla defesa, em algum momento o executado terá a oportunidade de se
defender.

Por mais que a execução seja fundada num título que contenha uma obrigação certa,
líquida e exigível, é possível que esse título contenha algum defeito ou mesmo a obrigação não
apresente de fato todas as características necessárias para se exigir o seu cumprimento forçado,
de forma que o executado deve ter a oportunidade de apontar essas possíveis falhas.

Veremos a seguir as formas que o executado tem para se defender, que irão variar
principalmente com relação ao título executivo apresentado, se judicial ou extrajudicial.

DEFESA DO EXECUTADO NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - IMPUGNAÇÃO

A modalidade de defesa do devedor no cumprimento da sentença é a impugnação.


Determina o art. 525, CPC, que “transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento
voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de
penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação”.

Assim, não é necessário garantia do juízo, bastando que se apresente a impugnação no


prazo de quinze dias contados do término do prazo para pagamento, independente de intimação.
Em caso de litisconsórcio passivo, aplica-se a regra do art. 229 do CPC.

A impugnação tem natureza jurídica de exceção e visa a concretizar o exercício do direito


de defesa. Por isso, o executado resiste e se opõe ao cumprimento de sentença. Isso não significa
que, porque a impugnação pode ter por conteúdo a alegação de um defeito do título (art. 525, §
1º, I, por exemplo) ou a alegação de uma objeção ou exceção substancial (art. 525, § 1º, VII), ela
terá a natureza de ação. É claramente um instrumento de defesa.

Como já tivemos a oportunidade de analisar, a impugnação versará necessariamente os


temas elencados pelo art. 525 do CPC:

I. Falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;

II. Ilegitimidade de parte;

III. Inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;

IV. Penhora incorreta ou avaliação errônea;

V. Excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

VI. Incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VII. Qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,


compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença.

Além disso, é importante mencionar que em relação à inexequibilidade prevista no inciso


III, de acordo com o § 12 do mesmo artigo, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo no qual
se funda o título é causa de sua inexigibilidade.

Com efeito, a declaração de inconstitucionalidade, ou a interpretação dada ao ato


normativo ou lei, deve advir de decisão do STF dada em controle concentrado de
constitucionalidade. Contudo, os §§ 13 e 14 deixam claro que na hipótese de eventual modulação
dos efeitos da declaração no tempo, o título pode ser tido como exigível, a depender da época de
sua formação.

A referida norma atende a posicionamento anterior à sua vigência de parte da doutrina e


que já vinha sendo referendado pelo próprio STF (AgRg no RE 659.803-RS, rel. Min. Celso de Mello,
j. em 27-11-2012) na interpretação do CPC/73 – arts. 475-L, § 1º, e 741, parágrafo único. De
acordo com parcela majoritária da doutrina, quanto à decisão tomada em controle difuso, é
indispensável a resolução do Senado suspendendo a execução da norma (na forma do art. 52, X,
da CRFB/88) e que tal resolução produz efeitos apenas ex nunc (para a frente ou a partir de então).

Ainda, o § 15 determina que terá cabimento a ação rescisória, e não impugnação, na


hipótese de a decisão do STF ter sido proferida após o trânsito em julgado da sentença. Merece
realce a previsão expressa de que o termo inicial do prazo da rescisória, aqui, será a data da
decisão do STF, e não o momento do trânsito em julgado da decisão.

A impugnação, como regra, não gera efeito suspensivo da decisão reclamada. A


excepcional concessão do efeito suspensivo, conforme § 6º, depende da demonstração de
garantia do juízo por penhora, caução ou depósito, cumulada com a relevância da argumentação –
fumus boni juris – e com o risco de dano grave de difícil ou incerta reparação – periculum in mora –
e não obsta a prática de atos de avaliação de bens ou reforço, diminuição ou substituição de
penhora Entretanto, ainda que concedido, o exequente, apresentando caução, poderá dar
prosseguimento à execução (§ 10).

O § 8º autoriza o efeito suspensivo “parcial”, de modo que, recaindo sobre parte do objeto
da execução, prosseguirá quanto à parte restante. É viável também, segundo o § 9º, a concessão
de efeito suspensivo a apenas um dos devedores, no caso, aquele que impugnou.

DEFESA DO EXECUTADO NO PROCESSO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL –


EMBARGOS À EXECUÇÃO

Ao contrário do cumprimento de sentença, que se presta a buscar a efetivação de um


direito contido em um título executivo que foi construído em processo prévio de conhecimento,
no caso das execuções fundadas em título executivos extrajudiciais, o título já é apresentado
pronto e acabado ao Poder Judiciário, gerando assim um processo autônomo para a execução, ao
contrário do modelo sincrético dos títulos judiciais.

Sendo assim, nos processos autônomos de execução, o executado poderá exercer o seu
direito de defesa constitucionalmente assegurado através dos embargos à execução. Estes
embargos do devedor têm natureza jurídica de ação, sendo que o ingresso dessa espécie de
defesa faz com que no mesmo processo passem a tramitar duas ações: a execução e os embargos
à execução.

A natureza jurídica dos embargos pode ser inteiramente creditada à tradição da autonomia
das ações, considerando-se que no processo de execução busca-se a satisfação do direito do
exequente, não havendo espaço para a discussão a respeito da existência ou da dimensão do
direito exequendo, o que deverá ser feito em processo cognitivo, chamado de embargos à
execução. Ainda que a tradição da autonomia das ações esteja sendo gradativamente afastada
com a adoção do sincretismo processual, o legislador parece ter preferido manter a tradição de
autonomia dos embargos como ação de conhecimento incidental ao processo de execução.

Os embargos terão o caráter de uma nova ação, na qual o devedor - executado passa a ser
o demandante, recebendo a nomenclatura de embargante; já o credor - exequente, que foi quem
propôs a execução, passará a ser o demandado, ou seja, o embargado.

Assim, os embargos têm natureza jurídica autossuficiente, de uma ação autônoma e


incidental, que cuidará de tratar de questões de fato e de direito, que visem a desconstituir o
título executivo e que não poderiam ser tratadas na ação principal, a de execução, dada
característica desta última de não cognitiva. Os embargos buscam uma sentença que desconstitua
o título (constitutiva negativa).

A competência é funcional e, portanto, absoluta, devendo o ajuizamento se dar perante o


mesmo juízo da execução. Extinta essa, os embargos perdem seu objeto automaticamente. Sendo
a execução por carta, os embargos poderão ser apresentados tanto ao juízo deprecado quanto ao
deprecante, a teor do art. 914, § 2º. O mesmo dispositivo aponta que se eles versarem
exclusivamente sobre atos de penhora, avaliação ou alienação praticados pelo juízo deprecado, a
ele caberá apreciar a defesa do executado. O mesmo ocorre se o alegado vício do ato for
intrínseco, por exemplo, quando a constrição recai sobre bem impenhorável.

Aquele que for considerado responsável patrimonial, podendo ser afetado pela atividade
judicial satisfativa, terá legitimidade para propor os embargos à execução. Assim sendo, não
apenas o executado, mas, por exemplo, o consorte que responder pela dívida contraída com seus
bens próprios ou da meação. Contudo, quem não faz parte da execução, nem tem
responsabilidade patrimonial, se tiver um bem indevidamente constrito por ato judicial, deve
buscar a desconstituição da decisão por meio de embargos de terceiro, falecendo legitimidade
para apresentar embargos do devedor.

O prazo para embargos é de quinze dias, contados da juntada do mandado citatório (art.
915, CPC). Mesmo que haja litisconsórcio facultativo, não será necessário se aguardar a juntada do
último mandado, iniciando-se o prazo para cada executado a partir da juntada do seu mandado.

Para que os embargos sejam recebidos, é preciso atender a certos requisitos. Assim, os
embargos do devedor só poderão ser recebidos se forem tempestivos. Contudo, se liminarmente
indeferidos, são indevidos honorários advocatícios.

Quanto à execução por carta, os §§ 2º a 4º do art. 95 do CPC regulamentam o início do


prazo para oposição de embargos às execuções e dos atos de comunicação por “carta”, gênero
que abarca as espécies carta precatória, rogatória ou de ordem. Assim, a contagem do prazo para
embargos é estabelecida conforme a matéria versada.

Quando versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, da avaliação ou da


alienação dos bens, o prazo terá início da juntada, na carta, da certificação da citação. Por outro
lado, quando versarem sobre questões diversas, inicia-se o prazo da juntada, nos autos de origem,
do comunicado de que trata o § 4º do art. 915 do CPC ou, não havendo este, da juntada da carta
devidamente cumprida.

As matérias oponíveis em sede de embargos à execução estão previstas no art. 917 do CPC.
O § 1º traz a possibilidade de impugnação de incorreções da penhora ou avaliação, que poderá ser
oposta por simples petição, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da ciência do ato. É importante,
principalmente, quando a apresentação dos embargos ocorre antes da penhora. Como nota-se em
doutrina, o processamento da impugnação nos próprios autos, quando houver ampliação da
atividade cognitiva, pode se demonstrar inadequado.

Quando o executado entender que o exequente está pleiteando quantia superior à do


título – situação que configura excesso de execução – o embargante deve declarar na petição
inicial o valor que entende correto, com o demonstrativo do cálculo (art. 917, § 3º, CPC).

Além desse caso de excesso de execução, há também as hipóteses de a execução recair


sobre coisa diversa daquela declarada no título, ou mesmo de se processar de modo diferente do
que foi determinado no título; de o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde,
exigir o adimplemento da prestação do executado; ou de o exequente não provar que a condição
se realizou.
Tal como na impugnação, os embargos não terão efeito suspensivo (art. 919, caput, CPC),
podendo o magistrado, a requerimento do embargante, atribuir o referido efeito, sendo
relevantes os motivos e ainda suscetíveis de causar ao executado grave dano e de difícil
reparação, desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes
(art. 919, § 1º, CPC). Trata-se, assim, de critério ope iudicis, cabendo ao magistrado,
discricionariamente, conceder ou não efeito suspensivo.

Para que o juiz possa atribuir esse efeito suspensivo, contudo, será preciso que a execução
esteja garantida. Assim, interpretando-se o dispositivo de forma literal, vai se concluir que deve se
fazer depósito ou prestar caução correspondente ao valor executado. Contudo, há entendimento
doutrinário que sustenta que a norma deve ser interpretada de acordo com as forças patrimoniais
do executado, devendo-se suspender a execução, mesmo sem garantia, quando for demonstrada
a evidência ou a urgência do direito requerido nos embargos.

Serão tidas como causas de rejeição liminar dos embargos, pelo juiz a intempestividade, a
inépcia da petição inicial ou quando forem manifestamente protelatórios, assim considerada a
conduta atentatória à dignidade da justiça e o oferecimento de embargos manifestamente
protelatórios.

No caso de intempestividade, fica fechada a via dos embargos para o executado exercitar
sua pretensão jurisdicional, o que não quer dizer que ele não possa mais se manifestar sobre
questões de ordem pública ou fatos novos.

No caso de embargos protelatórios, será imposta pelo juiz, em favor do exequente, multa
ao embargante em valor não superior a 20% do valor em execução, regra do parágrafo único do
art. 920 do CPC.

Recebidos os embargos, deverá ser intimado o exequente-embargado para apresentar


contestação em quinze dias (art. 920, I, CPC). Fica vedada, contudo, a apresentação da
reconvenção, pelo fato de o exequente- embargado já ter formulado o seu pedido na inicial da
execução.

Nos embargos de retenção por benfeitorias, o exequente-embargado poderá requerer a


compensação de seu valor com o dos frutos ou dos danos considerados devidos pelo executado,
cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos valores, nomear perito (art. 917, § 5º, CPC).

O exequente-embargado poderá a qualquer tempo ser imitido na posse da coisa, desde


que preste caução ou deposite o valor devido pelas benfeitorias ou resultante da compensação
(art. 917, § 6º, CPC). Bem como na impugnação, nos embargos do executado não são cabíveis as
modalidades de intervenção de terceiros.
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE OU OBJEÇÃO DE NÃO EXECUTIVIDADE

A “exceção de pré-executividade” ou ainda “objeção de não executividade” surge como


modalidade de resposta à execução fundada em título que não cumpra os requisitos básicos para
a ação executória, ou seja, a liquidez, a certeza e a exigibilidade.

Tal modalidade de defesa não encontra previsão legal expressa e é fruto de construção
doutrinária e jurisprudencial. Ela acabou sendo mais conhecida como exceção de pré-
executividade, mas parte da doutrina critica a falta de técnica nesta nomenclatura. Objeções
consistem em matérias que o magistrado pode conhecer de ofício, enquanto as exceções
demandam alegação por parte do interessado para seu reconhecimento.

A exceção de pré-executividade vem a ser um dos instrumentos utilizados no processo de


execução pelo devedor, através da provocação do órgão jurisdicional, com o intuito de suspender
a ação executiva, mediante a arguição de uma nulidade processual, através de matérias de ordem
pública, embora o STJ tenha já admitido, também, defesas de mérito indiretas extintivas, como o
pagamento, desde que não haja dilação probatória.

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