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EXECUÇÃO, PROCESSO COLETIVO E JUIZADOS ESPECIAIS – CCJ0038

PROF. ALEX CADIER - AULA 4 – 04/03/2022

TEMA DA AULA PASSADA: REQUISITOS DA EXECUÇÃO / CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

 Requisitos da execução:
 Apresentação de um título executivo que comprove existência de um direito a uma
prestação líquida, certa e exigível;
 Afirmação de que o executado está inadimplente na obrigação vinculada a esse
direito de prestação, o que automaticamente demanda também a apresentação de
uma planilha que irá atualizar o valor devido contido no título.

 Liquidação de sentença (arts. 509-512, CPC)


 Por arbitramento;
 Por juntada de novos documentos.

 Cumprimento de sentença (arts. 513-538, CPC)


 Cumprimento provisório de sentença.
 Cumprimento definitivo da sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de
pagar quantia certa.

TEMA DA AULA DE HOJE: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA (cont.)

DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PRESTAR


ALIMENTOS (arts. 528-533, CPC)

A execução de alimentos é uma execução de pagar quantia certa, que em razão da especial
natureza do direito tutelado é tratada como execução especial. A especialidade da execução de
alimento dá-se principalmente em razão da previsão de atos materiais específicos a essa espécie
de execução, sempre com o objetivo de facilitar a obtenção da satisfação pelo exequente.

Há divergência a respeito da espécie de direito de alimentos que pode ser executada pela
via especial. Parcela da doutrina entende que a via especial é limitada aos alimentos legítimos,
decorrentes em razão de parentesco, casamento ou união estável, excluindo-se da proteção
especial os alimentos indenizatórios, decorrentes de ato ilícito. No entanto, acaba predominando
o entendimento de que não se deve fazer nenhuma distinção, porque a necessidade especial do
credor de alimentos não se altera em razão da natureza desse direito, não havendo sentido criar
um procedimento mais protetivo limitando sua aplicação a somente uma espécie de direito
alimentar (a própria redação do art. 531 do CPC reforça este entendimento).

Nos termos do § 8º do art. 528 do Novo CPC, a escolha entre os diferentes meios
executivos previstos em lei para a execução de alimentos é sempre livre, dependendo
exclusivamente da vontade do exequente. Cabe ressaltar também não haver nenhuma distinção a
ser feita se a obrigação alimentar esta contida em um título executivo judicial ou extrajudicial,
apenas que no caso de execução de uma sentença que contenha a obrigação alimentar, teremos a
extensão do processo através da fase de cumprimento de sentença, enquanto com a obrigação
contida num título executivo extrajudicial, será preciso inaugurar uma relação jurídica processual
para promover a execução dos valores pretendidos (arts. 911-913, CPC).

Em se tratando de cumprimento de decisão judicial que contenha obrigação alimentar,


essa espécie de execução não necessita estar fundada em sentença civil condenatória, podendo
ser aplicada também às decisões interlocutórias que determinem a condenação ao pagamento de
alimentos provisionais ou provisórios, ainda que essa distinção terminológica tenha perdido
sentido com o Novo CPC, que não prevê mais a ação cautelar de alimentos provisionais. É
justamente nesse sentido a previsão do art. 528, caput, do CPC, ao prever a executabilidade de
sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que
fixe alimentos.

O cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de prestar


alimentos está prevista nos arts. 528 a 533 do CPC e o processo de execução de alimentos nos
arts. 911 a 913 do CPC. Há um paralelismo significativo nos dois procedimentos, sendo o caput do
art. 911 uma adequação ao processo de execução do caput do art. 528, e os arts. 912 e 913 uma
adequação dos arts. 529 e 528, § 8º, todos do CPC.

Enquanto o art. 528, caput, do CPC prevê a intimação pessoal do executado para pagar o
débito em três dias, provar que o fez ou justificar sua impossibilidade de efetuá-lo, o art. 911,
caput, do CPC apenas modifica a intimação por citação e especifica que o pagamento deve
abranger as parcelas anteriores ao início da execução e das que se vencerem no seu curso.

O art. 529 do CPC trata da penhora de salário do funcionário público, militar, diretor ou
gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, com o tradicional desconto
em folha de pagamento. O art. 912 do CPC trata do mesmo tema, inclusive com as mesmas regras,
sendo apenas curiosa a não repetição no art. 912 do § 3º do art. 529 do CPC, que versa sobre a
possibilidade de se prestar o desconto em folha de pagamento à quitação de parcelas vencidas e
vincendas. Apesar da omissão, uma análise sistêmica da execução de alimentos exige a conclusão
da aplicação de tal regra ao processo autônomo de execução.

O art. 532 do CPC traz uma interessante novidade quanto à ciência do Ministério Público
pelo juiz para apuração do crime de abandono material. Embora prevista apenas no Capítulo
referente ao cumprimento de sentença da obrigação alimentar, entende-se que a regra também
seja aplicável ao processo autônomo de execução. Não há, contudo, um esclarecimento no texto
legal acerca de quais os indícios que levarão o juiz a tomar tal providência. Fala-se em postura
procrastinatória do executado, mas, naturalmente, não há como imaginar um abandono material
se os alimentos estiverem sendo pagos, ainda que o executado assuma postura procrastinatória.
Por outro lado, mesmo que não haja qualquer postura nesse sentido, a resistência em pagar os
alimentos poderia, em tese, configurar o crime de abandono material.
Quanto à competência para o cumprimento de sentença, o art. 528, § 9º do CPC incluiu
mais um foro além daqueles previstos no art. 516, parágrafo único, do CPC: o foro do domicílio do
exequente. Portanto, fica o exequente livre para escolher entre o juízo que prolatou a decisão
exequenda, o foro do local dos bens do executado, o foro do domicílio do executado e o foro de
seu domicílio. A previsão consagra entendimento jurisprudencial no sentido de poder o exequente
de alimentos executar a sentença no foro de seu domicílio, independentemente do foro que
proferiu a decisão exequenda.

DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR


QUANTIA CERTA PELA FAZENDA PÚBLICA (arts. 534-535, CPC)

Principalmente em razão da natureza dos bens públicos – de uso comum, de uso especial
ou dominicais – considerados inalienáveis e, por consequência lógica, impenhoráveis, o
procedimento da execução de pagar quantia certa contra a Fazenda Pública demanda uma forma
diferenciada daquela existente para a execução contra o particular. Também se costuma afirmar
que a especialidade do procedimento está relacionada ao princípio da continuidade do serviço
público, já que os bens não poderiam ser afastados de sua utilização pública, sob pena de prejuízo
à coletividade. Por fim, o procedimento especial também é justificado no princípio da isonomia,
sendo o pagamento por precatórios a única maneira apta a garantir que não haja preferências na
ordem de pagamento aos credores da Fazenda Pública.

Existem aqui dois limitadores, de caráter subjetivo e objetivo, respectivamente: apenas


pode constar do polo passivo a Fazenda Pública stricto sensu, de modo que se excluem as
empresas públicas e as sociedades de economia mista; e se trata de execução por quantia certa,
excluídas as de fazer ou de dar.

Da mesma forma que vimos acima quanto à obrigação alimentar, na execução contra a
Fazenda Pública, haverá cumprimento de sentença quando o título executivo for judicial (arts.
534-535, CPC) e processo autônomo de execução, quando o título executivo for extrajudicial (art.
910, CPC). Ainda que haja diferenças procedimentais entre as duas formas executivas, é inegável a
existência de diversas regras comuns a ambas, o que é confirmado pela previsão do art. 910, § 3º
do CPC, no sentido de serem aplicáveis ao processo de execução, no que couber, as regras do
cumprimento de sentença.

O art. 534 do CPC prevê os requisitos formais do requerimento inicial do cumprimento de


sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa. Na hipótese de
litisconsórcio ativo, o § 1.º do dispositivo ora analisado prevê que cada um dos exequentes
apresentará o seu próprio demonstrativo, sendo aplicáveis as regras do litisconsórcio
multitudinário previsto no art. 113 do CPC.

O dispositivo tem em sua maioria de incisos a repetição das regras formais previstas no art.
524 do Novo CPC, que regulamenta o requerimento inicial do cumprimento de sentença que
reconheça a exigibilidade de pagar quantia certa contra devedores em geral. Por óbvio, não
haverá a necessidade de se qualificar precisamente a Fazenda Pública, apenas a indicação do ente
federativo executado, assim como o credor não deverá nomear bens do executado a penhorar.

Segundo o art. 535, caput, do CPC, a intimação da Fazenda Pública será realizada na pessoa
de seu representante legal, mediante carga, remessa ou meio eletrônico, abrindo-se prazo de 30
dias para a impugnação, que será apresentada nos próprios autos. Tratando-se de execução de
título judicial, naturalmente não pode a Fazenda Pública – bem como qualquer outro executado –
voltar a discutir o direito exequendo fixado em sentença, sob pena de ofensa à coisa julgada
material ou à eficácia preclusiva da coisa julgada.

Dessa forma, haverá, na impugnação, uma limitação da cognição horizontal, restringindo-


se às matérias passíveis de alegação nessa espécie de defesa. Não impugnada a execução ou
rejeitadas as arguições da executada, deverá ser expedido por intermédio do presidente do
tribunal competente, precatório em favor do exequente, observando-se o disposto na
Constituição Federal. Sendo caso de expedição de RPV (Requisição de Pequeno Valor), o inciso II
do § 3º do art. 535 do Novo CPC prevê que por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de
quem o ente público foi citado para o processo, o pagamento de obrigação de pequeno valor será
realizado no prazo de dois meses, contado da entrega da requisição, mediante depósito na
agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente.

Sendo a impugnação apenas parcial, a parte incontroversa será, nos termos do art. 535, §
4º, do CPC, objeto de cumprimento.

O § 2º do art. 534 do CPC expressamente exclui a multa prevista no art. 523, § 1º, do CPC,
o que significa que, mesmo não pagando o valor devido em 15 dias, a Fazenda Pública não
suportará a aplicação de multa de 10% do valor exequendo. O dispositivo guarda lógica com o
caput do art. 535 do CPC, que determina a intimação da Fazenda Pública para impugnar a
execução, e não para pagar.

DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE FAZER,


DE NÃO FAZER OU DE ENTREGAR COISA (arts. 536-538, CPC)

Os arts. 536 e 537 do CPC buscam assegurar ao credor a tutela específica referente à
obrigação de fazer ou não fazer pretendida. De acordo com o art. 536 do CPC, não há um
procedimento executivo para o cumprimento da sentença, limitando-se a indicar aqui os meios
materiais à disposição do juízo para efetivar o direito do credor. O art. 537 do CPC se limita a
tratar dos aspectos procedimentais da multa (astreintes), forma executiva que mereceu uma
posição de destaque em razão de sua relevância para a efetivação das decisões judiciais e de sua
frequência na praxe forense. Por opção de política legislativa deixou-se de prever um
procedimento específico para o cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de fazer e de não fazer para libertar o juiz na criação, caso a caso, do procedimento que
melhor se adequar às exigências do caso concreto.
Na hipótese de manifestação do demandante pleiteando o início da fase de cumprimento
de sentença, basta um mero requerimento com os dados mínimos para que o juiz compreenda a
sua pretensão. A petição inicial é dispensável porque não se está criando um novo processo, mas
somente dando-se início a uma fase procedimental de satisfação do direito já reconhecido em
sentença. Convém ao juiz determinar um prazo para que a obrigação seja cumprida, levando em
conta as particularidades do caso concreto, em especial a complexidade da obrigação.

Não há dúvida de que a tutela específica tenha mais qualidade do que a tutela pelo
equivalente em dinheiro, a execução é mais bem-sucedida quando entrega ao credor exatamente
o que o cumprimento voluntário da obrigação lhe entregaria. Todas as formas executivas previstas
exemplificativamente no art. 536, § 1º, do CPC se prestam justamente para instrumentalizar a
obtenção da tutela específica.

Ocorre, entretanto, que a tutela específica nem sempre é obtida no caso concreto, sendo
possível a obrigação de fazer e não fazer ser convertida em prestação pecuniária quando essa for a
vontade do exequente ou pela impossibilidade material ou jurídica de obtenção da tutela
específica.

Sendo a conversão fruto da vontade do exequente, basta uma mera petição informando o
juízo para que se passe à fixação do valor das perdas e danos, o que será feito por meio de
liquidação de sentença incidental. Como a mera vontade do exequente já é suficiente para
legitimar a conversão da obrigação em perdas e danos, não há necessidade de intimação do
executado para a decisão sobre o pedido de conversão, até mesmo porque a oitiva seria inútil,
considerando-se que o juiz está vinculado ao pedido do exequente.

Na hipótese de impossibilidade de obtenção da tutela específica ou de resultado prático


equivalente, qualquer das partes poderá pedir ao juiz a conversão em perdas e danos, ainda que
nesse caso o interesse maior seja do exequente. O executado poderá, entretanto, fazer tal pedido
para justificar a inaplicabilidade de uma medida de coerção psicológica, tal como as astreintes.
Havendo pedido de uma das partes, o juiz, em respeito ao contraditório, intimará a parte contrária
para manifestação no prazo de cinco dias, proferindo sua decisão. O próprio juiz poderá
determinar a conversão de ofício se entender pela impossibilidade da obtenção da tutela
específica ou de resultado prático equivalente, mas nem por isso justifica-se o sacrifício ao
contraditório, devendo intimar as partes para manifestação no prazo comum de cinco dias antes
de proferir a decisão.

A decisão que defere o pedido ou determina de ofício a conversão em perdas e danos tem
natureza interlocutória, sendo recorrível por agravo de instrumento. Na liquidação incidental, por
arbitramento ou pelo procedimento comum, a depender do caso concreto, além de todos os
prejuízos advindos ao exequente pelo não cumprimento da obrigação por tutela específica,
também se calculará o valor da multa fixada para pressionar o executado a cumprir a obrigação
(art. 500 do CPC), sempre que tiver sido aplicada pelo juiz. A decisão judicial que fixa o quantum
debeatur é título executivo judicial, seguindo-se a ela a execução de obrigação de pagar quantia
certa pelo procedimento do cumprimento de sentença.
Prevê o art. 536, § 1º, do CPC que o juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exequente,
determinar as medidas necessárias para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do
resultado prático equivalente, enumerando exemplificativamente a aplicação de multa por tempo
de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas ou coisas, desfazimento de obras e
impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.

No tocante à execução de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de entregar


coisa, o art. 538, caput, do CPC prevê tão somente o procedimento inicial, em especial para a
hipótese de entrega de coisa incerta. Novamente o legislador deixou de prever um procedimento
específico para a fase de cumprimento de sentença – como já havia feito no cumprimento de
sentença de obrigação de fazer e não fazer. Caberá ao juiz adotar o procedimento que parecer
mais adequado no caso concreto para a efetiva satisfação do direito do credor, em nítida adoção
das técnicas de tutela diferenciada.

Aduz o art. 538, § 3º, do CPC que se aplicam ao cumprimento de sentença de obrigação de
entregar coisa as disposições sobre o cumprimento de obrigação de fazer e não fazer.

Segundo o art. 498, caput, do CPC, o juiz, ao conceder tutela específica de entregar coisa,
fixará o prazo para o cumprimento da obrigação, não sendo a omissão quanto a esse prazo um
vício suscetível de anular a decisão. Uma vez descumprida a regra prevista no dispositivo legal,
caberá ao juiz, no início do cumprimento de sentença, fixar o prazo para a entrega da coisa,
levando em conta as particularidades do caso concreto, em especial a complexidade da obrigação.

O parágrafo único do art. 498 do CPC prevê que, sendo a coisa incerta – determinada pelo
gênero e quantidade –, o autor a individualizará na petição inicial se lhe couber a escolha; e sendo
do devedor a escolha, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz. Não cabe ao
devedor apenas individualizar a coisa sem entregá-la, de forma que a mera individualização não
impede que o direito de escolha passe a ser do credor. Apesar da omissão legal, não sendo
entregue a coisa pelo devedor, a escolha será devolvida ao credor, e diante de sua inércia o
cumprimento de sentença será extinto sem a resolução de mérito.

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