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LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA1

1. NATUREZA JURÍDICA DA LIQUIDAÇÃO

A atividade desenvolvida na liquidação da sentença tem natureza cognitiva, já que nela não são praticados atos de
execução

2. CONCEITO DE LIQUIDEZ E OBRIGAÇÕES LIQUIDÁVEIS

Liquidar uma sentença significa determinar o objeto da condenação, permitindo-se assim que a demanda executiva
tenha início com o executado sabendo exatamente o que o exequente pretende obter para a satisfação de seu direito.
Há uma séria divergência a respeito de quais as obrigações que podem efetivamente ser liquidadas.

1ª posição (ampliativa): a liquidação poderá ter como objeto qualquer espécie de obrigação, sendo possível liquidar a
obrigação de fazer, não fazer, entrega de coisa e pagar quantia certa.

2ª posição: são excluídas do âmbito da liquidação algumas espécies de obrigação que materialmente não podem ser
liquidadas, porque, sendo a certeza da obrigação precedente à liquidez, o que faltará a essas obrigações é a certeza, e
não a liquidez. Tal circunstância se verifica nas obrigações de fazer e não fazer, porque a certeza de uma obrigação
dessa espécie é justamente indicar o que deve ser feito ou o que deve deixar de ser feito. Tratando-se de obrigação
alternativa ou de entregar coisa incerta, ao título executivo não faltará propriamente liquidez, tanto que a demanda
executiva poderá ser imediatamente proposta. A individualização do bem desenvolver-se-á por meio de um
procedimento incidental na própria demanda executiva, sem que se confunda com a liquidação de sentença.
Fenômeno similar ocorre na obrigação alternativa de entrega de coisa certa, na qual não se fará necessária a
liquidação de sentença, mas a especificação do bem a ser entregue ao exequente (art. 800). Segundo Daniel
Assumpção, na hipótese contemplada pelo art. 324, § 1º, I, (demanda que tenha como objeto uma universalidade de
bens), parece correto concluir pela necessidade de liquidação, ainda que se trate de obrigação de entrega de coisa.

3ª posição (restritiva): a liquidação de sentença é instituto processual privativo das obrigações de pagar quantia certa,
inclusive como prevê a redação do art. 783 que expressamente se refere a “cobrança de crédito”, quando exige da
obrigação a certeza, liquidez e a exigibilidade.

Por outro lado, o art. 509 é claro ao prever o cabimento da liquidação quando a sentença condenar ao pagamento de
quantia ilíquida, limitando sem qualquer margem à dúvida a liquidação ao valor da obrigação, o que naturalmente
afasta desse instituto jurídico o incidente de escolha de bens ou de concentração de obrigações. Excepcionalmente é
possível a liquidação de obrigação de entrega de coisa, que não deve ser a priori excluída do âmbito da liquidação pela
interpretação literal do art. 509. Tal circunstância se verifica na condenação ilíquida de pedido que tenha como objeto
a entrega de uma universalidade de bens

3. TÍTULOS QUE PODEM SER OBJETO DE LIQUIDAÇÃO

Ainda que o NCPC, seguindo tendência inaugurada pela Lei 11.232/05, tenha alocado a liquidação de sentença logo
depois da coisa julgada, não é viável limitar a aplicação do instituto jurídico tão somente à sentença condenatória civil
ou, como prefere o legislador, à sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de uma obrigação.
Todos os títulos executivos judiciais poderão ser objeto de liquidação, inclusive a homologação de sentença
estrangeira, que nem sentença é, e a sentença arbitral, produzida fora do Poder Judiciário. Importante a lembrança,
embora consagrado a expressão “liquidação de sentença”, de que não se liquidam sentenças, mas sim as obrigações
ilíquidas contidas em sentenças genéricas. Por outro lado, o título executivo extrajudicial tem necessariamente que
conter uma obrigação líquida, porque caso contrário a ele faltará um elemento indispensável para ser título. É cabível,
e extremamente comum, que nessa situação o valor da obrigação exequenda seja atualizado por meio de meros
cálculos aritméticos do credor, mas nesse caso não existe liquidação, como, inclusive, reconhecido pelo NCPC.

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Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil. 8ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016.

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Segundo o STJ, sentença proferida na ação de complementação de ações não precisa ser liquidada. O cumprimento de
sentença condenatória de complementação de ações dispensa, em regra, a fase de liquidação de sentença. Isso
porque o cumprimento dessa sentença depende apenas de informações disponíveis na própria companhia ou em
poder de terceiros, além de operações aritméticas elementares (REsp 1.387.249-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, 2ª Seção, 26/2/2014, recurso repetitivo, Info 536).

4. VEDAÇÃO À SENTENÇA ILÍQUIDA

A sentença ilíquida é a exceção no direito brasileiro por óbvia razão: é sempre desejável a criação de um título
executivo judicial que contenha obrigação líquida que permita a imediata instauração do cumprimento de sentença.
Ainda na vigência do CPC/1973, o STJ entendia que, em respeito ao princípio do livre convencimento motivado,
mesmo sendo o pedido certo e determinado, o juiz poderia proferir sentença ilíquida se não estivesse convencido da
procedência da extensão do pedido formulado pelo autor. O NCPC não cria mais uma correlação necessária entre
pedido determinado e sentença líquida, pelo contrário, admitindo nos incisos do art. 491 que mesmo havendo pedido
com indicação expressa do valor pretendido pelo autor possa o juiz proferir sentença ilíquida. Ainda que formulado
pedido genérico de pagar quantia, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção
monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros (art. 491). Fica clara a
opção do legislador pela sentença líquida, que deve ser tentada mesmo quando o pedido do autor é genérico.

Independentemente de ser determinado ou genérico o pedido do autor, há hipóteses em que simplesmente não é
possível a fixação do valor da obrigação no momento de se decidir o pedido do autor. Vai nesse sentido o art. 491, I,
do Novo CPC ao prever a possibilidade de prolação de sentença ilíquida se não for possível determinar, de modo
definitivo, o montante devido. Por outro lado, pode valer a pena a prolação da sentença ilíquida quando o processo já
estiver pronto para a decisão sobre o an debeatur, mas ainda depender de atos processuais complexos e demorados a
fixação do quantum debeatur. Nesse caso, o art. 491, II prevê a possibilidade de prolação de sentença ilíquida quando
a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa,
assim reconhecida na sentença.

5. LIQUIDAÇÃO NA PENDÊNCIA DE RECURSO RECEBIDO NO EFEITO SUSPENSIVO

O art. 512 permite a liquidação da sentença ainda que no processo exista pendente de julgamento um recurso que
tenha sido recebido no efeito suspensivo. A liquidação será autuada em autos em apenso, decorrência lógica da
existência de um recurso pendente de julgamento, o que fará com que os autos principais estejam no respectivo
tribunal aguardando julgamento. Mesmo desenvolvendo-se em autos próprios, a liquidação de sentença continuará a
ser uma mera fase procedimental, ainda que excepcionalmente, nesse caso, ela se desenvolva concomitantemente
com a fase cognitiva em sede recursal. A liquidação de sentença, a exemplo do que ocorre no cumprimento de
sentença, só ocorrerá mediante provocação da parte interessada, ainda mais na hipótese de liquidação provisória, na
qual o demandante assume todos os riscos de começar a liquidar uma sentença que poderá ser modificada pelo
recurso pendente de julgamento. Ainda que seja aplicável na liquidação provisória a teoria do risco-proveito.

O requerimento inicial – aqui também se dispensa a petição inicial –, sem maiores formalidades, deverá ser instruído
com “cópias das peças processuais pertinentes”, cuja pertinência deverá ser analisada pelo demandante no caso
concreto, sendo possível, mas não obrigatória, a aplicação por analogia do art. 522, parágrafo único:

i) as peças não precisam ser autênticas, sendo dispensável inclusive a declaração de autenticidade pelo próprio
advogado, como sugere o art. 425, IV;

ii) eventual falha na instrução não gera o indeferimento de plano da liquidação, devendo-se conceder ao
demandante a oportunidade de juntar as peças que o juiz entender indispensáveis no caso concreto.

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6. DECISÃO QUE JULGA A LIQUIDAÇÃO: DECISÃO INTERLOCUTÓRIA OU SENTENÇA?

O art. 475-H do CPC/1973 previa que contra a decisão de liquidação caberia agravo de instrumento. Para parcela da
doutrina, a expressa previsão legal de cabimento de agravo de instrumento era suficiente para concluir que a decisão
que julgava a liquidação era uma decisão interlocutória, espécie de pronunciamento judicial recorrível por essa
espécie de recurso. O NCPC não tem mais previsão expressa a respeito do recurso cabível contra a decisão que julga a
liquidação de sentença.

Para Daniel Assumpção, se a sentença é, nos termos do art. 203, § 1º, o pronunciamento por meio do qual o juiz, com
fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução,
sendo a decisão interlocutória, nos termos do art. 203, § 2º, todo pronunciamento judicial de natureza decisória que
não for sentença (considerando-se somente as decisões judiciais proferidas em primeiro grau), a decisão que julga a
liquidação de sentença pondo fim ao processo é indubitavelmente uma sentença e a decisão que declara o valor
devido também.

Afirma-se que no processo de conhecimento – em lição totalmente aplicável a uma fase cognitiva, como é a da
liquidação – o fim normal é o acolhimento ou rejeição do pedido do autor. Na liquidação, o acolhimento do pedido
significa a quantificação da obrigação fixada em sentença; mas a rejeição do pedido seria possível? Há doutrina que
defende a improcedência em razão da ausência de provas do valor do dano. Por outro lado, há a liquidação de valor
zero, na qual, embora o pedido do autor seja acolhido, não haverá cumprimento de sentença subsequente à prolação
da sentença. Por outro lado, é possível uma decisão terminativa da liquidação de sentença, tanto quando a fase de
liquidação de sentença é a primeira fase procedimental do processo (sentença penal condenatória transitada em
julgado; sentença arbitral; homologação de sentença estrangeira), como quando sucede a fase de conhecimento.
Proposta a demanda judicial por meio da liquidação de sentença, e sendo esse o primeiro momento de contato do
Poder Judiciário com a pretensão do demandante, é plenamente possível que alguma matéria processual gere a
extinção do processo sem a resolução do mérito (art. 485). Mesmo na liquidação de sentença como fase
procedimental desenvolvida após a fase de conhecimento poderá haver a extinção do procedimento em primeiro grau
por meio da decisão que antecipe o conhecimento pelo juiz de matérias que deveria conhecer somente na fase
executiva, como o pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença
(art. 525, § 1º, VII).

Segundo Daniel Assumpção, em qualquer dessas hipóteses não parece haver dúvida da existência de uma sentença
como decisão que julga a liquidação. Afinal, por meio dela estará se colocando um fim na fase cognitiva e por
consequência ao processo (já que não haverá cumprimento de sentença).

A decisão que julga a liquidação fixando o valor devido é mais problemática. Se os conceitos de sentença e de decisão
interlocutória consagrados nos §§ 1º e 2º do art. 203 forem levados a sério, a decisão ilíquida que decide o an
debeatur será uma decisão interlocutória (recorrível por agravo de instrumento) e a decisão que declara o quantum
debeatur uma sentença (recorrível por apelação)2.

7. NATUREZA DA DECISÃO PELA QUAL A LIQUIDAÇÃO É JULGADA

A natureza da decisão que julga a liquidação, fixando o quantum debeatur, divide a doutrina.

1ª posição: a natureza da decisão da liquidação de sentença é meramente declaratória, porque por meio dela
somente se declara o valor da obrigação. Nesse entendimento, a quantificação da obrigação já se encontra no título
executivo, ainda que a sua plena definição dependa de atos processuais a serem praticados durante a fase
procedimental de liquidação. A natureza meramente declaratória fundamenta-se na ideia de que a sentença
condenatória já é um título executivo, sendo que existe uma incerteza jurídica a respeito do quantum debeatur,
incerteza essa afastada pela decisão que julga a liquidação (Liebman, Dinamarco, Daniel Assumpção).

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Segundo Assumpção, essa não deve ser a solução, até porque ela altera substancialmente a realidade já consagrada em sentido contrário. A doutrina e a
jurisprudência tendem a criar alguma espécie de interpretação, ainda que extravagante, para justificar a manutenção do binômio sentença ilíquida-decisão interlocutória
que declara o valor devido. Ou simplesmente fingir que os §§ 1º e 2º do art. 203 não dizem exatamente o que dizem... “Como acredito que a decisão que julga a
liquidação declarando o valor devido continuará a ser uma decisão interlocutória é importante ressaltar que se trata de decisão de mérito, apta a gerar coisa julgada
material e a ser rescindida por meio de ação rescisória”.

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2ª posição: a natureza da decisão da liquidação de sentença é constitutiva pois além de simplesmente declarar o
valor, a decisão gera uma nova situação jurídica, tornando o incerto em certo. Antes de a decisão ter sido proferida, a
situação jurídica não permitia o desencadeamento dos atos executivos, e após a sua prolação houve uma modificação
nessa situação jurídica, considerando-se que por meio dela passou a ser possível o cumprimento de sentença (Pontes
de Miranda, Nelson Nery).

8. LIQUIDAÇÃO COMO FORMA DE FRUSTRAÇÃO DA EXECUÇÃO

O fim normal da liquidação é a declaração do valor devido. O efeito normal da liquidação é a execução.
Excepcionalmente, a liquidação pode frustrar a execução (o que se verifica quando o resultado da liquidação impedir
que o demandante execute o título executivo ilíquido que tem a seu favor), o que pode se verificar em quatro
hipóteses: decisão terminativa, prescrição, liquidação extinta por ausência de provas e liquidação de valor zero. Nas
três primeiras hipóteses tem se um fim atípico e, por consequência lógica, efeito atípico, já que a decisão da
liquidação, ao deixar de declarar o valor devido, inviabiliza a execução. Já na liquidação de valor zero, o resultado é
típico, visto que há declaração do valor devido, mas, como esse valor é zero, o efeito será atípico, pois não haverá o
que executar.

Não se pode negar a possibilidade de extinção terminativa da liquidação com fundamento no art. 485. Alguns incisos
preveem matérias que parecem ser de difícil cabimento numa liquidação de sentença, tais como perempção,
litispendência ou coisa julgada (V), convenção de arbitragem (VII), ação considerada intransmissível (IX). Mas outros,
tais como o abandono (III), falta de pressuposto processual de validade ou existência (IV), carência de ação (VI),
desistência (VIII), são totalmente aplicáveis à liquidação, ainda que de incidência prática rara. Ainda que rara na praxe
forense, essa decisão terminativa, com fundamento no art. 485, pode servir para julgar a liquidação frustrando a
execução, considerando-se que, nesse caso, haverá a extinção do processo sem possibilidade de execução. Como a
decisão é terminativa, ao menos o credor poderá posteriormente ingressar com nova liquidação de sentença, de
forma que sua frustração é apenas momentânea.

A liquidação de sentença tem natureza declaratória, e por essa razão não está sujeita a prazos prescricionais. Porém,
por medida de economia processual o juiz poderá adiantar para a liquidação o reconhecimento da prescrição da
pretensão executiva, extinguindo a liquidação com julgamento de mérito da execução. Dessa forma, apesar de não
declarar o valor devido (mérito da liquidação), essa decisão fundada na prescrição da pretensão executiva extinguirá o
processo e frustrará de forma definitiva o ingresso da execução.

Discute-se, na doutrina, a respeito da possibilidade de se determinar em liquidação que o dano suportado pelo
vencedor tenha valor zero, sem que com isso se afronte a coisa julgada decorrente da sentença que, reconhecendo o
an debeatur, condenou o réu ao pagamento de algo que deveria ser valorado em liquidação da sentença. Ainda que
de extrema raridade na praxe forense, parece absolutamente viável tal situação, inclusive como já reconhecido pelo
STJ, devendo-se destacar a distinção entre duas situações juridicamente distintas, ainda que no plano fático se
equivalham: não obrigação de pagar e obrigação de pagar zero.

A constatação anômala de que o derrotado tem uma obrigação de pagar zero não desconstitui a sentença
condenatória, porque o elemento vinculativo de obrigatoriedade de cumprimento de uma prestação continua a
existir, não obstante essa obrigação tenha um valor zero. Há uma diferença jurídica que deve ser considerada. Quando
há uma condenação ao pagamento de alimentos, é possível que em determinado momento, provando-se a falta de
capacidade de pagar e/ou a falta de necessidade em receber, o obrigado pare de realizar o pagamento. Porém, isso
não significa que ele estará exonerado da obrigação, até porque, advindo circunstâncias supervenientes, será possível
que, sem a necessidade de nova condenação, volte a pagar algum valor. Na realidade, durante o período em que não
realizou os pagamentos, o devedor continuava obrigado a pagar, mas a sua obrigação era de pagar zero. É lógico que
no plano fático as situações são equivalentes, mas no plano jurídico há evidente diferença.

A fixação de valor zero, ainda que atípica para alguns e fruto de uma sentença nula para outros, pode se mostrar uma
decorrência natural do caso concreto, não havendo outra conduta possível a ser adotada pelo juiz senão a declaração
do valor zero. Uma vez fixado o valor zero, a doutrina entende ser hipótese de procedência do pedido do autor, por

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meio de decisão de mérito que colocará fim ao procedimento em primeiro grau – sentença. Apesar de não ser o valor
esperado pelo autor, a declaração de valor zero representa o acolhimento do pedido do autor, que é a fixação do valor
devido, e por essa razão a decisão será de procedência.

Outra situação inusitada na liquidação se refere à ausência de provas relativamente ao dano. Na liquidação de valor
zero a prova necessária foi devidamente produzida, mas apontou para um valor zero, enquanto na hipótese que será
nesse momento tratada o dano muito provavelmente tem um valor, mas por inépcia do demandante não houve a
produção de prova necessária para que o juiz pudesse declará-lo.

1ª posição (STJ): se o juiz, na liquidação da sentença, percebe que não há provas suficientes para definir o quantum
debeatur, ele poderá pronunciar um non liquet. Assim, o juiz deve deixar de decidir a respeito do pedido em virtude da
ausência das provas, com extinção da liquidação sem resolução de mérito. A ausência de provas não impede que a
parte relapsa peça uma nova liquidação, após a frustração da anterior. Mesmo não havendo previsão no CPC 1973,
permite-se que seja aplicada essa regra. O silêncio do atual diploma processual, entretanto, não é suficiente nessa
visão doutrinária para afastar a possibilidade de nova propositura da liquidação de sentença, em entendimento já
adotado pelo STJ (REsp 1.280.949-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, 25/9/2012, HTJ, Dinamarco).

2ª posição: as regras do ônus da prova são plenamente aplicáveis na liquidação de sentença, sendo de improcedência
a sentença que declarar não provada a extensão valorativa do dano suportado. A sentença será de mérito, pela
improcedência do pedido, inclusive produzindo coisa julgada material. Não há ofensa à coisa julgada formada pela
sentença condenatória genérica, porque o an debeatur terá se tornado indiscutível e imutável, mas em virtude da
nova sentença de improcedência na liquidação jamais poderá ser executado (Teori Zavascki).

Em todas as quatro situações descritas o ponto em comum é a frustração da execução, com a decisão, resolvendo ou
não o mérito, extinguindo o processo sem a possibilidade de continuidade por meio de execução. Sempre que tal
circunstância se verifica, a decisão judicial é uma sentença recorrível por apelação.

9. NATUREZA JURÍDICA DA LIQUIDAÇÃO

Antes das alterações promovidas pela Lei 11.232/05 no CPC/1973, a doutrina afirmava que a liquidação de sentença
poderia ser um processo autônomo ou um mero incidente processual, tudo a depender das circunstâncias concretas.
Devendo-se realizar a liquidação de uma sentença, posteriormente à formação do título ao qual faltava a liquidez,
entendia-se necessário o processo autônomo de liquidação. Seria a liquidação de sentença um mero incidente
processual sempre que, durante a execução de uma obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa, a obtenção da
tutela específica se tornasse impossível ou dela desistisse o demandante.

O legislador, atento ao ideal de sincretismo processual que norteia o processo civil atual, extinguiu de forma definitiva
o processo autônomo de liquidação de sentença, que passa a ser sempre uma mera fase procedimental. Para parcela
da doutrina, a liquidação de sentença continua a se desenvolver por meio de uma ação, mas agora incidental ao
processo em que foi proferida a sentença ilíquida (Araken de Assis, Nelson Nery).

Sendo o título executivo uma sentença penal condenatória, sentença arbitral, homologação de sentença estrangeira
ou a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo STJ, o demandado será
citado para a execução ou para a liquidação (art. 515, § 1º).

1ª posição: esse dispositivo legal é suficiente para que se reconheça a manutenção, ainda que limitado a esses casos,
do processo autônomo de liquidação (Fredie Didier Jr).

2ª posição: a liquidação nesse caso é a primeira fase procedimental de um processo que não se extingue com a
definição do quantum debeatur, porque após essa definição se passará à fase de cumprimento de sentença. O
processo não é de liquidação, ao menos não é somente de liquidação, é de liquidação e de execução, processo
sincrético. Veja-se que o fato de a fase de liquidação ter sido ou não precedida por uma fase de conhecimento é
irrelevante, porque não é a primeira fase do processo que determina a sua natureza. Somente na excepcional
hipótese de essa fase de liquidação ser extinta por sentença que não permita o seu cumprimento, estar-se-á diante de
genuíno processo autônomo de liquidação, mas, como não se pode definir a natureza de um fenômeno levando-se em

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conta sua frustração, parece mais adequado o entendimento de que o processo autônomo de execução não existe
mais (Daniel Assumpção).

10. LEGITIMIDADE ATIVA

O interesse em obter o valor exato da condenação não é exclusivo do autor, que naturalmente terá tal interesse para
que possa dar início ao cumprimento de sentença. Também o réu condenado tem interesse na liquidação,
considerando-se que, ciente do valor exato de sua dívida, poderá quitá-la ou oferecer uma transação com base mais
concreta. Ao menos como regra, tanto o credor como o devedor – assim reconhecidos no título executivo – têm
legitimidade ativa para dar início à fase procedimental de liquidação de sentença (art. 509). Trata-se de ação (ou fase)
dúplice, de forma que a posição no processo dos titulares da relação jurídica de direito material dependerá apenas de
quem for mais rápido. Se o credor, como é o mais comum, ingressar com a liquidação, o devedor será o réu; se
excepcionalmente o réu ingressar com a liquidação, o credor será o réu. Sendo o credor o autor da liquidação, será
cabível o cumprimento de sentença caso não haja a satisfação voluntária da obrigação. Sendo o devedor o autor da
liquidação, será cabível a consignação em pagamento na hipótese de o credor não aceitar o pagamento.

11. COMPETÊNCIA

Não há nenhuma norma expressa a respeito da competência para a liquidação de sentença, devendo-se analisar o
momento procedimental no qual a liquidação ocorre para determinar o órgão jurisdicional competente. Tratando-se
de liquidação incidental em execução – fase de satisfação de sentença ou processo autônomo –, é natural que seja
competente para conhecer da liquidação o próprio juízo no qual já tramita a demanda executiva. Tratando-se de
liquidação que dá início a processo sincrético que buscará ao final a satisfação do direito do demandante, este deverá
fazer um exercício de abstração, determinando qual seria o órgão competente para a execução daquele título caso
não fosse necessária a liquidação. Por fim, tratando-se de liquidação entre a fase de conhecimento e a fase de
execução, haverá competência absoluta – de caráter funcional – do juízo que proferiu a sentença ilíquida, não se
aplicando ao caso o permissivo do art. 516, parágrafo único.

A existência de foros concorrentes para o cumprimento de sentença busca facilitar a satisfação do direito, permitindo
ao demandante a escolha entre o juízo que formou o título, o foro do atual domicílio do executado, ou ainda o foro do
local em que se encontrem seus bens (art. 516, parágrafo único). No entanto, essa facilitação da satisfação do direito
nada tem a ver com a liquidação da sentença, entendida como atividade cognitiva integrativa da sentença genérica
proferida no encerramento da primeira fase de natureza cognitiva. O juízo que exerceu a função judicante nessa
primeira fase de solução da lide automaticamente se tornará competente para a segunda fase, em nítida ocorrência
de competência funcional.

12. REGRA DA FIDELIDADE AO TÍTULO EXECUTIVO (art. 509, § 4º)

A liquidação de sentença tem como único e exclusivo objetivo a fixação do quantum debeatur, sendo vedada pela
própria lógica do instituto processual a discussão de qualquer matéria alheia a esse objetivo. Não se permite que a
liquidação se preste a discutir matérias que foram discutidas na fase de conhecimento que gerou a sentença
condenatória, ou nela deveriam ter sido discutidas. Significa dizer que qualquer matéria que seja alheia ao valor da
prestação reconhecida em sentença condenatória ilíquida é estranha ao objeto da liquidação. Estar-se-ia diante de um
vício processual: caso a sentença condenatória já estiver transitada em julgado, haverá ofensa à coisa julgada ou à
eficácia preclusiva da coisa julgada; havendo recurso contra ela pendente de julgamento, haverá litispendência. Num
caso ou noutro, há no caso concreto um pressuposto processual negativo, o que gera a nulidade da liquidação. Atento
a essa circunstância, o art. 509, §4º prevê ser vedado na liquidação discutir de novo a lide ou modificar a sentença que
a julgou.

É até mesmo possível imaginar uma terceira espécie de vício, quando se discutem na liquidação questões referentes
ao an debeatur fora dos próprios limites objetivos do pedido condenatório do autor. Nesse caso, não se poderá falar

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tecnicamente em ofensa à coisa julgada, mas de fixação de valor de uma prestação que não está reconhecida em
título executivo judicial. Ex: demanda em que foi pedida a condenação do réu ao pagamento de uma quantia em
decorrência de dano moral, a parte busque na liquidação alegar e provar fatos simples para aumentar o valor da
condenação. Nesse caso, haveria ofensa à coisa julgada ou litispendência. Caso, entretanto, se pretenda incluir na
liquidação também uma discussão sobre eventuais danos materiais suportados, não se poderá falar em coisa julgada
nem em litispendência, porque esse pedido não faz parte da demanda.

Essa limitação da matéria objeto de cognição na liquidação da sentença, seja para proteger a coisa julgada, seja para
evitar a litispendência ou impedir a valoração de dano não reconhecido por título executivo, chamada pela doutrina
de regra da “ fidelidade ao título executivo”, não é absoluta, havendo a excepcional possibilidade de inclusão na
liquidação de matéria não posta na fase de conhecimento da qual resultou a condenação genérica. A jurisprudência
vem prestigiando uma interpretação lógica da sentença, não se limitando ao aspecto gramatical, para concluir que
deve se admitir contido na sentença não só o que está expressamente afirmado, mas também o que virtualmente se
possa presumir como incluído. A Súmula 254, STF indica a possibilidade de inclusão de juros moratórios na liquidação,
ainda que a sentença seja omissa a esse respeito. Ainda que não haja súmula nesse sentido, também a correção
monetária (desde que não haja exclusão expressa na decisão) e as custas processuais poderão ser incluídas nas
mesmas circunstâncias.

13. ESPÉCIES DELIQUIDAÇÃO

Com a exclusão da “liquidação por mero cálculo aritmético” do CPC, o art. 509 prevê apenas a liquidação:

I) por arbitramento

II) pelo procedimento comum

Há liquidação por arbitramento quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela
natureza do objeto da liquidação, e liquidação pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e
provar fato novo (antiga liquidação por artigos) 3. Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético,
o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença (art. 509, §2º). Para facilitar a elaboração de tal
cálculo, o CNJ desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa de atualização financeira (§3º).
Independentemente da espécie de liquidação de sentença cabível no caso concreto, o art. 509, § 1.º, do Novo CPC,
consagra a teoria dos capítulos da sentença, permitindo à parte concomitantemente liquidar capítulo ilíquido e
executar capítulo líquido.

13.1. Liquidação Por Arbitramento

13.1.1. Cabimento

A liquidação por arbitramento deve ser realizada em três hipóteses: determinação na sentença; acordo entre as
partes; quando o exigir a natureza do objeto da liquidação (art. 509, I). Sempre que o cálculo do valor de um bem,
serviço ou prejuízo depender de conhecimentos técnicos específicos, será o caso de liquidar a sentença por
arbitramento. Ou, em outras palavras, sempre que se fizer necessária a elaboração de uma perícia para se obter o
quantum debeatur, o caminho será a liquidação por arbitramento. O juiz somente fixará em sentença essa espécie de
liquidação quando entender que o quantum debeatur só poderá ser obtido por meio da realização de uma perícia.
Segundo o STJ, a liquidação por espécie distinta da constante da sentença não gera nulidade.

Súmula 344, STJ: A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a
coisa julgada.

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Sempre se entendeu que a liquidação prevista pelo CPC/1973 como liquidação por mero cálculo aritmético era uma pseudoliquidação, já que supostamente estar-se-ia
a liquidar o que já era líquido, considerando que a liquidez da obrigação é sua determinabilidade e não sua determinação. Significa dizer que sendo possível se chegar ao
valor exequendo por meio de um mero cálculo aritmético, a obrigação já será líquida e por tal razão seria obviamente dispensada a liquidação de sentença.

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O consenso entre as partes só gerará efeitos se a perícia for necessária e não houver necessidade de alegação e prova
de fatos novos. A vontade das partes não vincula o juiz na determinação da espécie de liquidação. Segundo o STJ, na
chamada “liquidação por cálculos do credor”, o exequente não pode transferir para o executado o ônus que ele teve
com o pagamento de honorários a um perito para que este elaborasse a memória de cálculos. Para o STJ, na
liquidação por cálculos do credor, as operações aritméticas necessárias para se chegar ao quantum debeatur são
elementares (soma, subtração, divisão e multiplicação). Por isso, não há necessidade de o credor contratar um
profissional para a sua elaboração. Essa memória de cálculos deverá ser elaborada diretamente pela parte ou por seu
advogado. Se o credor contratar um expert para elaborar a planilha isso é um problema dele, ou seja, é um custo extra
que o credor decidiu assumir, não havendo previsão no CPC de que esse ônus possa ser repassado ao devedor (REsp
1.274.466-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 2ª Seção, 14/5/2014, recurso repetitivo, Info 541).

O perito não pode realizar o enfrentamento de fatos novos, porque essa circunstância necessariamente exigirá que a
liquidação seja feita pelo procedimento comum, ainda que se mostre necessária apenas a prova pericial. A liquidação
por arbitramento será realizada quando não forem necessárias a alegação e a prova de fato novo, bastando a
realização de uma prova pericial a respeito dos fatos já estabelecidos na sentença ilíquida. É possível que o perito
tenha no caso concreto necessidade de ouvir testemunhas, exigir novos documentos para uma melhor elucidação dos
fatos já fixados em sentença, providências que não desvirtuam a natureza da liquidação (art. 473, §3º).

De acordo com o STJ, é possível ao julgador, na fase de liquidação de sentença por arbitramento, acolher as
conclusões periciais fundadas em presunções e deduções para a quantificação do prejuízo sofrido pelo credor a título
de lucros cessantes. A utilização de presunções não pode ser afastada de plano, uma vez que esta espécie de prova é
utilizada pelo direito processual nacional como forma de facilitação de provas difíceis, desde que razoáveis. Na
apreciação de lucros cessantes, o julgador não pode se afastar de forma absoluta de presunções e deduções,
porquanto deverá perquirir acerca dos benefícios legítimos que não foram realizados por culpa da parte ex adversa.
Exigir prova absoluta do lucro que não ocorreu, seria impor ao lesado o ônus de prova impossível (prova diabólica)
(REsp 1.549.467-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Turma, 13/9/2016, Info 590).

Se o credor for beneficiário da gratuidade da justiça, pode-se determinar a elaboração dos cálculos pela contadoria
judicial (REsp 1.274.466-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 2ª Seção, 14/5/2014, recurso repetitivo, Info 541).

13.1.2. Procedimento

A formalidade desse início dependerá do momento processual: sendo a liquidação uma fase incidental, o início se dará
por meio de mero requerimento, enquanto se a liquidação der início ao processo sincrético, deverá haver uma petição
inicial, nos termos do art. 319 (art. 510). O art. 510 é omisso quanto à possibilidade de apresentação de defesa pelo
demandado, prevendo apenas a intimação das partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos.
Para Daniel Assumpção, essa intimação só deve ocorrer depois de admitida a liquidação de sentença no caso concreto,
de forma que antes dela, em respeito ao princípio do contraditório, o demandado deve ser intimado (quando a
liquidação for fase intermediária) ou citado (quando a liquidação for fase inicial), sempre na pessoa de seu advogado,
para que ofereça sua defesa no prazo geral de 5 dias (art. 218, § 3º). Decorrido o prazo de cinco dias, caso o
demandado tenha apresentado defesa, o juiz deverá, sempre que possível, resolvê-la de plano. Sendo acolhida alguma
defesa peremptória (por exemplo, inadequação da forma de liquidação), a liquidação será extinta, e, sendo acolhida
alguma defesa dilatória (por exemplo, incompetência do juízo), as medidas cabíveis serão tomadas. Sendo rejeitada a
defesa, ou não tendo sido apresentada, o juiz, nos termos do art. 510, intimará as partes para a apresentação de
pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, tendo tal medida o objetivo de municiar o juiz de
elementos de convicção suficientes para a prolação de decisão, fixando o valor devido sem a necessidade da
realização da perícia.

Apesar da nobre intenção do legislador, considerando-se o custo e demora da prova pericial, a experiência no tocante
ao tema não é animadora, tendo em vista a extrema raridade na praxe forense da dispensa da perícia motivada por
documentos apresentados pelas partes. Não há na liquidação de sentença os efeitos da revelia na hipótese de o

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demandado deixar de se manifestar, até porque não existem fatos que possam se presumir verdadeiros. Ademais,
tendo advogado constituído nos autos, o demandado continuará a ser regularmente intimado. Na realidade, a
intimação/citação tem como objetivo o convite ao demandado para que participe da prova, respeitando-se assim o
princípio do contraditório.

Caso o juiz não consiga decidir de plano, o que fatalmente ocorrerá no caso concreto, deverá nomear um perito,
observando-se a partir daí, no que couber, o procedimento da prova pericial. De acordo com o STJ, cabe ao executado
a antecipação do pagamento dos honorários do perito, pois, na fase de conhecimento, esse ônus é do autor somente
porque não se sabe ainda quem será o vencedor da demanda. O autor adianta os valores, mas quem paga é quem
perde o processo, ou seja, a parte sucumbente. Na liquidação, entretanto, já se parte da premissa de que o vencedor
é o liquidante, de forma que não teria sentido aplicar nesse caso a previsão consagrada no art. 95, exigindo dele um
adiantamento para depois cobrar o valor do réu. Assim, na fase autônoma de liquidação de sentença por
arbitramento, incumbe ao DEVEDOR a antecipação dos honorários periciais. Se a perícia é obrigatória para se
determinar o quantum debeatur e se já houve o trânsito em julgado onde se concluiu que o devedor é o “culpado”,
não seria justo que o credor tivesse mais essa despesa (REsp 1.274.466-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 2ª
Seção, 14/5/2014, recurso repetitivo, Info 541).

13.2. Liquidação Pelo Procedimento Comum

A liquidação por procedimento comum é a última alternativa no âmbito das liquidações, porque é a mais complexa e
demorada entre todas as suas espécies. Essa espécie de liquidação era tradicionalmente chamada de “liquidação por
artigos”. A liquidação pelo procedimento comum é cabível quando for necessária para a definição do quantum
debeatur a alegação e prova de fato novo, sendo essencial para a compreensão do instituto processual a conceituação
de “fato novo”. Deve ser evitada na conceituação de fato novo a confusão quanto ao momento em que o fato
ocorreu, sendo inadmissível confundir fato novo com fato superveniente. O fato novo pode ter ocorrido antes,
durante ou depois da demanda judicial donde se produziu o título executivo ilíquido, não sendo o momento um
critério correto para conceituar o fenômeno processual. Por fato novo deve-se entender aquele que não foi objeto de
análise e decisão no processo no qual foi formado o título executivo que se busca liquidar. Portanto, a novidade não é
temporal, mas diz respeito ao próprio Poder Judiciário, que pela primeira vez enfrentará e decidirá determinados fatos
referentes ao quantum debeatur (Dinamarco, Araken de Assis).

Após a intimação do requerido e do transcurso de seu prazo de 15 dias para a contestação será observado, no que
couber, o disposto no Livro I da Parte Especial do diploma processual. Em virtude da própria complexidade dessa
espécie de liquidação de sentença, após a intimação/citação do demandado, sempre na pessoa de seu advogado ou
da sociedade de advogados a que estiver vinculado, a resposta do requerido poderá ser a mais ampla possível, dentro
apenas dos limites do procedimento estabelecido. Apesar de certa divergência, Daniel Assumpção afirma ser possível
o demandado responder à sua intimação/citação com intervenções de terceiros ou reconvenção, o que parece
admissível desde que haja no caso concreto o preenchimento dos requisitos legais (o que certamente se mostrará
difícil), não resta muita dúvida de que a contestação poderá ser a mais ampla possível, com defesas processuais
dilatórias e peremptórias e defesas de mérito direta e indireta.

Diferente da liquidação por arbitramento, na qual não há fatos novos que precisem de prova, de forma que não há
nenhuma lógica em falar em presunção de veracidade dos fatos alegados pelo demandante diante da ausência de
defesa do demandado, na liquidação pelo procedimento comum a situação é outra. Nessa espécie de liquidação, o
demandante indica expressamente em sua peça inaugural – petição inicial ou requerimento – quais são os fatos que
pretende provar como verdadeiros para chegar à fixação do quantum debeatur, de forma que a ausência de defesa do
demandado, configura sua revelia e, ainda mais importante, a geração de presunção de que os fatos que o
demandante pretendia provar são verdadeiros.

A liquidação pelo procedimento comum é uma verdadeira fase de conhecimento de cognição limitada, seguindo o
procedimento comum, por isso, tudo o que se aplica em fase de conhecimento que siga o procedimento comum deva
também se aplicar à liquidação pelo procedimento comum.

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