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Direito Processual Civil II

Professor Leonardo Vieira

Aula 04

Liquidação de Sentença

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4.1. Noções Gerais e Finalidades

No Direito Processual Civil Brasileiro, o pedido feito pelo autor


deve ser, em regra, certo e determinado. Tem o autor o ônus
de formular o pedido certo (discrimina o que pede e o quanto
pede), mas por outro lado tem o direito de receber uma sentença
certa e líquida.

Todavia, admitem-se algumas exceções, a formulação de


pedidos ilíquidos, como por exemplo, herança; indenização que

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ainda não foi apurado todo o prejuízo; ação de prestação de
contas cumulada com o pagamento do saldo devedor.

Art. 322. O pedido deve ser certo.


Art. 324. O pedido deve ser determinado.
§ 1o É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se o autor não puder
individualizar os bens demandados; (herança)
II - quando não for possível determinar, desde
logo, as consequências do ato ou do fato;
(indenização ainda a ser apurada)

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III - quando a determinação do objeto ou do valor
da condenação depender de ato que deva ser
praticado pelo réu. (prestação de contas)
As exceções à exigência do pedido e sentença líquidos e certos
tem relação com a impossibilidade do autor, no momento da
propositura da ação (e do juiz, por sentença) saber o
quantum que lhe é devido.

Portanto, a função da liquidação da sentença é identificar o


valor exato ou o objeto contido na sentença que seja devido
ao autor que tenha formulado um pedido genérico em sua

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petição inicial e que não tenha sido possível fixá-lo por
sentença.

Ocorre que antes de iniciar a execução dos títulos executivos,


inclusive os judiciais, todos devem ser liquidados.

Caso não haja liquidez, ou seja, se for ilíquido, não se


constituirá em um título executivo, ainda que esteja
enumerado no rol de títulos executivos extrajudiciais,
devendo ser proposta ação de conhecimento.

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Ou seja, não há liquidação de título executivo extrajudicial,
apenas dos judiciais.

Portanto, a liquidação somente se liga aos títulos executivos


judiciais, estando diretamente relacionados com a excepcional
possibilidade da existência de sentenças ilíquidas, visando
liquidá-la, determinando o valor da condenação ou o seu objeto
com o escopo de eliminar a sua generalidade.

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4.2. Natureza Jurídica

A liquidação de sentença se trata de mera fase processual


dentro do processo de conhecimento, fase esta posterior a
prolação da sentença e anterior ao cumprimento de
sentença, estando disposto nos arts. 509 a 512 do NCPC.

Ao contrário do que ocorria anteriormente, em que a liquidação


de sentença consistia em um novo processo de conhecimento,
autônomo e independente, tanto do processo que originou a
sentença genérica, quanto da execução de título judicial que

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serviria para extrair os resultados concretos do procedimento
judicial, o que foi posteriormente modificado pela Lei
n. 11.232/05.

OBS: O juízo competente sempre será o juízo de origem.

4.3. Legitimidade para Requerer a Liquidação de Sentença

Uma modificação do NCPC é que agora tanto o credor como o


devedor podem requerer a liquidação da sentença. O natural

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é que o credor requeira a liquidação, para obter o quantum
debeatur.

Contudo, para o devedor é importante saber o valor do título


judicial para dimensionar a sua responsabilidade,
especialmente para que possa promover o pagamento em
dinheiro ou reservar o patrimônio suficiente para tanto,
exonerando-se da sua obrigação.

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Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento
de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a
requerimento do credor ou do devedor:

Ora, fosse apenas o credor a parte legítima para requerer a


liquidação, estaria o devedor impedido de praticar os atos
necessários à realização desse seu direito de exonerar a
obrigação, extinguindo-a pelo pagamento.

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4.4. Determinação do Valor da Condenação por Simples
Cálculo

Cumpre destacar que não se considera ilíquida a obrigação


reconhecida na decisão quando o quantur depender apenas
de cálculo aritmético, conforme dispõe o art. 509, §2o, do
NCPC.

Art. 509 (...)


(...)

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§ 2o Quando a apuração do valor depender apenas
de cálculo aritmético, o credor poderá promover,
desde logo, o cumprimento da sentença.

Assim, por exemplo se a sentença condenou o réu a pagar ao


autor uma certa quantia em dinheiro, com a atualização
monetária e juros de mora, estabelecendo o termo inicial, além
do percentual de incidência, bastará realizar um cálculo
aritmético para chegar-se ao valor do crédito exequendo.

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Nesses casos, é ônus do exequente elaborar os cálculos
necessários para que se possa dar início da execução da
obrigação, sem a necessidade de liquidação da sentença
(liquidação-ato segundo Cássio Scarpinella Bueno).

Além disso, incube ao CNJ criar e pôr à disposição das


partes um programa de atualização financeira, o qual
permitirá o cálculo do valor do débito acrescido de incidência de
juros, correção monetária e demais verbas sucumbenciais, nos
termos do art. 509, §3o.

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Art. 509 (...)
(...)
§ 3o O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá
e colocará à disposição dos interessados
programa de atualização financeira.
OBS: O Tribunal de Justiça do Ceará disponibiliza uma
calculadora no seu site. (https://portaladmin.tjce.jus.br/scjud-
web/pages/home.jsf)

4.5. Limite da Liquidação de Sentença

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No momento processual anterior que se proferiu a sentença
ilíquida, a lide estava delineada ao pedido de condenação de
determinada obrigação. Tratava-se de investigar a existência
dessa obrigação.

Na liquidação o mérito está limitado pelo pedido de


mensuração da extensão ou do valor dessa obrigação, que já foi
reconhecida anteriormente como existente pela sentença que
está sendo liquidada.

Art. 509 (...)

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(...)
§ 4o Na liquidação é vedado discutir de novo a lide
ou modificar a sentença que a julgou.

Assim, o objetivo da liquidação não é rediscutir a existência


da obrigação, nem o acréscimo de outras obrigações, mas
chegar-se ao quantum debeatur da condenação (art. 509,
§4o).

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4.6. Espécies de Liquidação

a) Liquidação por Arbitramento

A liquidação por arbitramento ocorrerá nos casos em que os


fatos necessárias para se determinar o quantum debeatur já
estejam colacionadas nos autos, necessitando tão somente
a realização de uma perícia para a fixação da quantidade
devida.

Basicamente, em apenas duas hipóteses deverá ocorrer a


liquidação por arbitramento:

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 Determinado pela sentença ou convencionado
pelas partes;
 Exigir a natureza da obrigação.

Nesse sentido, dispõe o CPC/2015:

Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento


de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a
requerimento do credor ou do devedor:

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I - por arbitramento, quando determinado pela
sentença, convencionado pelas partes ou exigido
pela natureza do objeto da liquidação;
Nesse caso, o juiz deverá intimar as partes para que apresentem
pareceres ou documentos elucidativos no prazo em que fixar.

O material apresentado pelas partes pode ser suficiente para


se chegar ao valor devido, dispensando-se a realização de
perícia, caso em que o juiz o pronunciará.

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Caso não seja possível, o juiz deverá nomear perito,
seguindo o procedimento para a produção de prova pericial. Ao
final, o juiz definirá qual o valor do quantum.

Exemplos: ação que condena a ré a ressarcir pela destruição de


determinado bem, como, por exemplo, animais, imóveis; ou,
decisão que condena ao pagamento de aluguéis, etc.

A liquidação por arbitramento decorrerá da natureza da


sentença, quando houver convenção das partes optando por

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esta técnica de definição do valor da condenação ou a natureza
do objeto da liquidação a exigir.

Entretanto, continua em vigor a orientação constante do


enunciado de súmula do STJ no 344 dispondo que “a liquidação
por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a
coisa julgada”.

O NCPC trouxe importante modificação no roteiro procedimental


a ser seguido nesta espécie de liquidação.

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No modelo da codificação revogada, uma vez requerida o
arbitramento, cabia ao juiz, após verificar a adequação do
pedido, nomear perito de sua confiança, fixando prazo para
a entrega do laudo e oportunizando às partes a oferta de
quesitos e indicação de assistentes técnicos.

No sistema atual esta fórmula foi abandonada. Havendo o


pedido de liquidação por arbitramento, o juiz irá intimar as
partes para a apresentação de pareceres ou documentos
elucidativos, capazes de auxiliar no seu convencimento,
fixando o prazo que entender adequado.

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Caberá, portanto, as partes se encarregarem de trazerem ao
juízo as informações adequadas para a determinação do valor da
condenação.

Entretanto, entendemos que não restou afastada a possibilidade


do juiz, em não se sentindo em condições de decidir frente aos
laudos que lhe foram apresentados pelas partes e que poderão
até serem contraditórios entre si, optar por designar perito de sua
confiança, caso em que se observara o procedimento previsto
para a realização das provas periciais, conforme indicado nos
arts. 464 e seguintes.

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b) Liquidação por Procedimento Comum

A liquidação por procedimento comum deverá ocorrer


naqueles casos em que a apuração do quantum dependa da
alegação ou prova de fato novo. Fato novo não deve ser
entendido como sinônimo de fato superveniente à sentença. Fato
novo significa dizer fato inédito no processo, isto é, que jamais
tenha sido submetido a apreciação ao longo do processo, ainda
que prévio a sentença.

 Fato Novo:

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 Fato Superveniente
 Fato Desconsiderado na Instrução
 Fato Provado Posterior à Sentença

A liquidação pelo procedimento comum equivale à antiga


liquidação por artigos, de forma que o juiz intimará o requerido,
na pessoa de seu advogado ou da sociedade a que estiver
vinculado, para a apresentação de contestação, no prazo de
quinze dias. Na sequência será observado o roteiro de atos do
procedimento comum visando à obtenção do quantum debeatur.

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4.7. Recurso Cabível

Sendo a sentença mero incidente processual, sua resolução se


dá por decisão interlocutória, motivo pelo qual o recurso
cabível será o agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo
único)

Art. 1.015. (...)

(...)

Parágrafo único. Também caberá agravo de


instrumento contra decisões interlocutórias proferidas

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na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento
de sentença, no processo de execução e no processo
de inventário.

4.8. Liquidação Anterior ao Trânsito em Julgado da Decisão

Assim, a liquidação de sentença pode ser instaurada pela parte


interessada, credor ou devedor, tão logo seja proferida a
sentença a ser liquidada, mesmo que tenham sido ou possam
ser interpostos recursos com ou sem efeito suspensivo.

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Quando tal requerimento for feito na pendência de recurso, o
liquidação será processada em autos apartados, formados
pela cópia das peças contidas nos autos originais (art. 512).

Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na


pendência de recurso, processando-se em autos
apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante
instruir o pedido com cópias das peças processuais
pertinentes.
Igualmente, a sentença far-se-á em autos apartados, quando
parte dela for líquida e parte dela for ilíquida, optando o
credor por executar logo a primeira parte (art. 509, §1o).

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Art. 509. (...)
§ 1o Quando na sentença houver uma parte líquida e
outra ilíquida, ao credor é lícito promover
simultaneamente a execução daquela e, em autos
apartados, a liquidação desta.

4.9. Liquidação Igual a Zero

Pode ocorrer hipóteses em que o valor da liquidação seja zero.


Exemplos: alguém é condenado a reparar um dano material
decorrente de um acidente e, na liquidação de sentença, se
verifique que nenhum bem de valor econômico tenha sido

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danificado, nesse caso, o valor da indenização será igual a zero;
alguém é condenado a pagar o tratamento que o autor tenha que
se submeter em razão de determinado acidente. Posteriormente
ao acidente, o autor requer a liquidação de sentença pelo
procedimento comum, mas não comprova que a cirurgia estava
ligada à consequência do acidente ou não comprova a realização
da cirurgia.

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