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LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA
Art. 509 a 512, CPC
Um dos requisitos fundamentais da execução é que esteja fundada em título líquido. Não há
como iniciá-la, se não se conhece com precisão o quantum debeatur.
Título líquido é aquele que indica a quantidade de bens ou valores que constituem a obrigação.
Será líquido quando indicar a quantidade, seja expressamente, seja permitindo apurá-la por simples
cálculo aritmético.
A execução pode estar fundada em título executivo judicial ou extrajudicial. Os títulos
executivos extrajudiciais devem ser sempre líquidos. Perde a executividade o título extrajudicial que
não for dotado de liquidez, quando não permita quantificar o objeto da obrigação diretamente, ou por
simples cálculos aritméticos. Não se fala em liquidação de título extrajudicial. Ou seja, os títulos
extrajudiciais, faltando-lhes a determinação exata da soma devida, perdem a própria natureza executiva
e só podem ser cobrados pelo processo de cognição.
Assim, em regra, não é possível falar em liquidação de título executivo extrajudicial, já que a
liquidez, ao lado da certeza e da exigibilidade, são atributos indispensáveis para o título permita um
processo de execução. (arts. 783 e 786). Todavia, existem situações em que demanda um procedimento
de liquidação em processo de execução de título extrajudicial. Nas execuções para entrega de coisa e
de fazer ou não fazer, fundadas em título extrajudicial, é possível que a tutela específica seja
convertida em perdas e danos (prestação pecuniária) e estas devem ser apuradas mediante liquidação
(arts. 809, §2°, 816, par. ún , 821, par. ún., e 823, par. ún.)
Nosso ordenamento jurídico admite que o juiz, em determinadas circunstâncias, profira
sentença ilíquida ou decisão interlocutória ilíquida. Para que ela adquira força executiva, terá de passar
por prévia liquidação, na qual se apurará o quantum debeatur. Daí a necessidade de recorrer o credor à
prévia liquidação sempre que a sentença não determine o “valor devido” (o objeto da condenação). É
que embora o título executivo esteja dotado de certeza e exigibilidade, ainda está incompleto porque
carece de liquidez, requisito que lhe será agregado por nova decisão no procedimento liquidatório, que
ainda tem natureza de atividade de conhecimento.
Assim, a liquidação só se liga às decisões judiciais ilíquidas (também chamadas de sentenças
condenatórias genéricas), em que não tenha sido possível ao Poder Judiciário determinar o valor da
condenação ou individuar o seu objeto. A liquidação tem por objetivo, portanto, eliminar essa
generalidade, tornando líquida a sentença condenatória genérica. Em outras palavras, o objetivo da
liquidação da liquidação de sentença, que é o de alcançar a liquidez necessária e imprescindível para
que se dote a sentença com eficácia condenatória de condições de exequibilidade, faz com que o
pedido de liquidação fique condicionado pelos termos da condenação.
Trata-se de fase intermediária entre a de conhecimento e a de execução, que se destina à
apuração o quantum quando o título judicial for ilíquido. A natureza jurídica da liquidação de sentença
é de incidente processual. Simples fase processual. Por isso não há citação, mas simples intimação de
seu advogado para acompanhar os atos de definição do quantum debeatur.
A competência para a liquidação será a do juiz que prolatou a sentença na fase condenatória.
Qualquer título executivo judicial pode ser objeto de liquidação, seja ele sentença civil, penal
ou de homologação de transação.
Importante observar que a liquidação não se presta a “rediscussão” da existência da obrigação
nem ao acréscimo de outras obrigações no objeto da condenação (art. 509, II, § 4º). Ou seja, a decisão
de liquidação é um simples complemento de sentença de condenação. O procedimento preparatório da
liquidação não pode ser utilizado como meio de ataque à sentença liquidanda, que há de permanecer
intacta. Sua função é apenas a de gerar uma decisão declaratória do quantum debeatur que, na espécie,
já se contém na sentença genérica, é que é proferida em complementação desta.
Não apenas o credor, mas também o devedor passa a ter legitimidade para o pedido de
liquidação da sentença. Segundo dispõe o art. 509, caput, o pedido de liquidação pode ser formulado
tanto pelo credor quanto pelo devedor.
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Em regra, tendo sido proferida sentença ilíquida, é natural que o credor promova
imediatamente a sua liquidação, para obter o quantum debeatur, isto é, o valor da condenação, de
modo que, conferida liquidez à sentença, esteja devidamente constituído o título executivo judicial e
possa o credor promover o seu cumprimento, mediante requerimento para que ocorram os atos
executivos adequados e necessários à expropriação de bens do devedor e à consequente satisfação do
crédito.
Mas o legislador do CPC/2015 inovou e atribuiu expressamente legitimidade também ao
condenado. Embora possa causar alguma estranheza, a opção legislativa é perfeitamente justificável,
bastando que se pense na situação em que ao devedor é importante saber o valor ao título judicial para
que possa promover o pagamento em dinheiro ou reservar patrimônio suficiente para tanto. Sem que o
devedor tenha noção a respeito do valor da obrigação, a cujo cumprimento tenha sido condenado,
sequer a sua responsabilidade patrimonial pode ser corretamente dimensionada.
A iliquidez da condenação pode dizer respeito à quantidade, à coisa, ou ao fato devido. Dá-se a
iliquidez da sentença, em relação ao quantum debeatur quando:
a) condena ao pagamento de perdas e danos, sem fixar o respectivo valor;
b) condena em juros, genericamente;
c) condena à restituição de frutos, naturais ou civis;
d) condena o devedor a restituir o equivalente da coisa devida;
e) em lugar do fato devido, e a que foi condenado o devedor, o credor prefere executar o valor
correspondente, ainda não determinado.
Com relação ao fato devido, ocorre iliquidez quando condena o vencido a obras e serviços não
individualizados, tais como reparação de tapumes, medidas para evitar ruína, poluição ou perigo de
dano a bens de outrem, etc.
O procedimento da liquidação faz-se, ordinariamente, nos próprios autos da ação condenatória.
Quando couber a execução provisória (na pendência de recurso), liquida-se a sentença em autos
apartados formados com cópias das peças processuais pertinentes (art. 512). Da mesma forma ocorre
quando a sentença contém parte líquida e parte ilíquida, se o credor quiser promover, paralelamente, o
cumprimento da condenação já liquidada na sentença e a liquidação na parte genérica (art. 509, II, §
1º). Nas hipóteses de sentença penal condenatória, sentença arbitral, sentença estrangeira a liquidação
é feita em processo autônomo, sendo necessária a citação do demandado.
ESPÉCIES DE LIQUIDAÇÃO:
O Código do Consumidor prevê uma terceira: para apuração do quantum devido às vítimas,
quando proferida a sentença genérica, de condenação nas ações civis públicas para a defesa de
interesses individuais homogêneos.
Embora o § 2º do art. 509 faça referência à apuração de valor por meros cálculos, não se está
diante de outra modalidade de liquidação, pois o próprio dispositivo da lei diz que nesse caso, “o
credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença”. Na verdade, a sentença que
dependa apensas de contas para que se cheque ao valor da obrigação é, substancialmente, sentença
líquida.
Exemplos:
1) uma sentença condenou o réu a indenizar o autor por todos os danos pessoais sofridos em acidente
de veículos. Durante a instrução processual que antecedeu a sentença provou-se que em
decorrência do acidente, houve necessidade de amputar o pé do autor. Depois da sentença, constata-
se que a situação agravou-se e o autor teve toda a perna amputada. Trata-se de fato superveniente,
mas que houve nexo de causalidade entre o dano e a lesão. Caberá liquidação por procedimento
comum, para provar este nexo de causalidade e a extensão do dano ocorrido neste fato novo.
3) Um sitiante foi condenado a indenizar seu vizinho pelo prejuízo decorrente da invasão da lavoura
por animais com destruição de toda a colheita esperada. Na fase de conhecimento, ficaram provadas
a invasão e a destruição da lavoura, o que decorrerá a condenação à indenização. Na fase de
liquidação, o prejudicado precisará provar a extensão da área destruída, a produtividade da lavoura,
o volume da produção prevista, a qualidade do produto esperado, a sua cotação no mercado e o
valor final líquido da produção não obtida (o quantum do prejuízo a ser indenizado).
Assim, esta espécie de liquidação seguirá o rito da uma ação de procedimento comum, com
produção de provas, audiências e decisão final. Prevê o art. 511 que o requerimento de liquidação será
acompanhado de intimação da parte contrária, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de
advogados, abre-se prazo para oferecimento de contestação.
Ressalte-se que a liquidação tem objeto diverso da ação condenatória (fase de conhecimento)
que a precede, pois, nesta, o autor pede o reconhecimento da obrigação (an debeatur), enquanto na
liquidação, o legitimado (credor ou devedor) pede a determinação do valor ou da extensão dessa
mesma obrigação. Na fase de conhecimento se pede a sentença condenatória e na fase de liquidação se
busca decisão que resolva outra lide, até então não discutida, que é a exata e precisamente a lide de
liquidação. O juiz ao resolver a lide de liquidação o faz por meio de decisão que tem conteúdo típico
de sentença de mérito, mas o legislador a classifica como decisão interlocutória. Isto porque a regra do
parágrafo único do art. 1.015 diz que da decisão da liquidação o recurso cabível é o agravo de
instrumento. Trata-se de decisão com conteúdo de sentença de mérito, mas por haver expressa
disposição legal desafia o agravo de instrumento.
O art. 512 dispõe sobre a liquidação provisória, de que o credor ou o devedor lançam mão da
pendência de recurso, hipótese em que deverá ser processada em autos separados, no juízo de origem.
Bibliografia consultada
DIDIER JR, Fredie e outros. Curso de direito processual civil. Vol. 3. Salvador: JusPodivm.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rio. Novo curso de direito processual civil, vol 3. São Paulo: Saraiva
THEODORO JR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I e III. Rio de Janeiro: Editora Forense
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. Vol. 3. São Paulo: RT.