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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

11/01/2023

Número: 1000053-09.2023.4.01.3907
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Tucuruí-PA
Última distribuição : 06/01/2023
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Fundo de Participação dos Municípios
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MUNICIPIO DE TUCURUI (AUTOR) ARTUR DA SILVA RIBEIRO (ADVOGADO)
FUNDACAO INSTIT BRAS DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA
IBGE (REU)
UNIÃO FEDERAL (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
14487 11/01/2023 07:35 Decisão Decisão
66858
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Subseção Judiciária de Tucuruí-PA
Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Tucuruí-PA

PROCESSO: 1000053-09.2023.4.01.3907
CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)
POLO ATIVO: MUNICIPIO DE TUCURUI
REPRESENTANTES POLO ATIVO: ARTUR DA SILVA RIBEIRO - PA26150
POLO PASSIVO:FUNDACAO INSTIT BRAS DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA IBGE e outros

DECISÃO

Trata-se de ação de conhecimento proposta pelo MUNICÍPIO DE TUCURUÍ em face da UNIÃO


e do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE.

Em sua petição inicial, o Município de Tucuruí alega que, de modo irregular, houve a redução do
coeficiente aplicado ao cálculo das quotas referentes ao seu Fundo de Participação dos
Municípios (FPM) de 3.4 para 2.8. A redução seria aplicável aos cálculos do FPM a partir de 01
de janeiro de 2023.

Sustenta que a prévia populacional produzida pelo IBGE teria sido utilizada de modo equivocado
pelo TCU com base nos seguintes os argumentos:

“1) A mudança na metodologia dos dados não tem amparo legal e os dados
apresentados pelo IBGE ao TCU não se revestem de 100% de precisão e
ocorreram fora do prazo legal, o que impossibilitou que os Municípios
contestassem os dados de forma administrativa tempestivamente;

2) Veja que os dados enviados não se tratam de dados de prévia da população


(estimativa), eis que o novo censo de 2022 não fora finalizado, o TCU não
poderia reduzir o coeficiente de Municípios que tiveram redução dos seus
coeficientes, por imposição legal da Lei Complementar 165/2019.

3) O relatório preliminar do Censo/2022 informa que o município de Tucuruí


possui 90.232 habitantes, acontece que no mesmo município a Justiça eleitoral
tem cadastrado 75.275 mil eleitores aptos para votar (https://apps2.trepa.
jus.br/infozonas/f?p=150:425:9865535458516:::RP,425:P425_
SIGLA_UNID,P425_SEDE:40%C2%AA%20ZE,TUCURU%C3%8 D), ou seja, o

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número de eleitores é quase o mesmo número de habitantes do município,
apontando assim uma grande incoerência e imprecisão nos dados apresentados
pelo IBGE;

4) O munícipio de Tucuruí possui na rede pública municipal de ensino 19.030 mil


alunos na rede municipal e 4.493 mil alunos na rede estadual, fora os alunos que
estão aguardando matricula e os alunos da rede particular de ensino,
demonstrando assim que só em números de alunos, o município possui
aproximadamente 30 (trinta) mil, ficando demonstrado uma inconsistência nos
dados quando o IBGE aponta que o município de Tucuruí possui somente 90.232
mil habitante.”.

O Município de Tucuruí pede, em sede de tutela antecipada, “o deferimento do pedido liminar


para determinar que a UNIÃO mantenha, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2023, o
mesmo coeficiente e valores do Fundo de participação dos Municípios fixado no exercício de
2022”.

Vieram os autos conclusos para decisão.

A concessão da medida antecipatória, agora denominada de “tutela de urgência”, está


condicionada aos pressupostos dos arts. 294 e 300 do Código de Processo Civil, combinado com
o art. 4º da Lei n.º 10.259/2001 (aplicado por analogia), a saber: a) probabilidade do direito; b)
perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo e c) que os efeitos dessa decisão sejam
reversíveis.

Após examinar os argumentos e documentos apresentados pelo município requerente, conclui-se


que existem elementos que autorizam a suspensão temporária e parcial da aplicação da Decisão
Normativa nº. 201, de 28/12/2022, publicada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em relação
ao Município de Tucuruí/PA.

Acerca do tema, o art. 1º LC nº 91/1997 estabeleceu que:

Art. 1º. Fica atribuído aos Municípios, exceto os de Capital, coeficiente individual
no Fundo de Participação dos Municípios – FPM, segundo seu número de
habitantes, conforme estabelecido no § 2° do art. 91 da Lei n° 5.172, de 25 de
outubro de 1966, com a redação dada pelo Decreto-lei n° 1.881, de 27 de agosto
de 1981.

§ 1° Para os efeitos deste artigo, consideram-se os Municípios regularmente


instalados, fazendo-se a revisão de suas quotas anualmente, com base nos
dados oficiais de população produzidos pela Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística – IBGE, nos termos do § 2° do art. 102 da Lei n°
8.443, de 16 de julho de 1992.

§ 2° Ficam mantidos, a partir do exercício de 1998, os coeficientes do Fundo de


Participação dos Municípios – FPM atribuídos em 1997 aos Municípios que
apresentarem redução de seus coeficientes pela aplicação do disposto no caput
deste artigo.

A LC nº 165/2019 acrescentou o § 3º ao art. 2º da LC nº 91/1997, que dispõe que “A partir de 1º


de janeiro de 2019, até que sejam atualizados com base em novo censo demográfico, ficam
mantidos, em relação aos Municípios que apresentem redução de seus coeficientes decorrente
de estimativa anual do IBGE, os coeficientes de distribuição do FPM utilizados no exercício de
2018”.

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Ocorre que, como apontado pelo requerente, o Censo 2022 não foi concluído, havendo notícias
de falhas acerca da contabilização de pessoas residentes em zonas rurais e áreas irregulares.
Portanto, até que o procedimento seja definitivamente concluído, mostra-se irregular o uso destes
dados provisórios em detrimento do município requerente. Os Municípios de Novo
Repartimento/PA e Pacajá/PA, cujos territórios integram a jurisdição desta subseção, inclusive,
em ações próprias demonstram que grande parte das populações locais não teriam sido objeto de
pesquisa pelos recenseadores, segundo informação prestada pelo próprio IBGE.

A Nota Técnica emitida pela SEMAG/TCU traz a informação de que a Decisão Normativa n.º
201/2022 foi proferida levando em consideração dados parciais do censo apurados pelo IBGE até
25/12/2022:

7. A metodologia utilizada pela Fundação foi divulgada em Nota Medotológica


“Prévia da População dos Municípios com base nos dados do Censo
Demográfico de 2022 coletados até o dia 25/12/2022”, de 28/12/2022, disponível
no site <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/22827-
censodemografico2022. html?=&t=resultados>. 8. Segundo recomendação
técnica do IBGE, os dados de população obtidos pelo Censo constituem a melhor
informação sobre a população de estados e municípios do país para o ano de
2022, por apresentarem um grau de acuidade maior do que aquela que poderia
ser obtida por meio de estimativas (TC 014.375/2022-2, peça 3).

Em se tratando de dados parciais e não definitivos, há de ser aplicado o disposto no citado § 3º


do art. 2º da Lei Complementar nº 91, de 22 de dezembro de 1997, com a utilização dos
coeficientes de distribuição do exercício anterior.

A plausibilidade do direito vindicado está demonstrada. O perigo da demora decorre da iminente


redução do coeficiente do município requerente.

Ante o exposto, DEFIRO o pedido de tutela de urgência para determinar a suspensão dos efeitos
da Decisão Normativa/TCU n.º 201/2022 em relação ao Município de Tucuruí/PA, que sofreu
perda no coeficiente populacional quando da divulgação da prévia do IBGE do Censo 2022,
devendo ser utilizado como parâmetro para o cálculo da quota do FPM o mesmo coeficiente
utilizado no ano de 2022, somente até que seja devidamente concluída a análise dos dados
para o exercício de 2023, cabendo à União adotar as providências legais cabíveis no prazo de
10 (dez) dias, sob pena de multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por cada dia de atraso, em caso
de descumprimento, limitada a multa ao valor de R$ 50.000 (cinquenta mil reais).

Intimem-se as partes, com urgência, acerca desta decisão.

Citem-se os réus para responder à ação.

Após apresentação das contestações, intime-se a parte autora para se manifestar no prazo de 15
dias.

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TUCURUÍ, 10 de janeiro de 2023.

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