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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

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Quinta Câmara Cível

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Apelação Cível nº 0122302-77.2010.8.19.0001

Apelante: REINALDO SANTOS OLIVEIRA


Apelado: ESPÓLIO DE NILZA PINHEIRO DE ATHAYDE LIEH
rep/p/s/inventariante BRUNA OLIVEIRA LIEH
Relatora: Desembargadora DENISE NICOLL SIMÕES

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE


POSSE. CESSÃO DE DIREITOS. POSSE TRANSMITIDA POR
MEIO DE COMODATO. POSTERIOR MANIFESTAÇÃO
INEQUÍVOCA PELO CEDENTE PELO TÉRMINO DO
CONTRATO. POSSE QUE SE TORNOU INJUSTA. Ação de
reintegração de posse na qual a parte autora alega, em síntese,
que sofreu injustamente esbulho da posse de seu imóvel por
conduta ilegal praticada pelo Réu, que se recusa a sair do bem.
Prolatada sentença de procedência, insurge-se o Demandante
da decisão. Recorrente que sustenta que a Recorrida alegou
tão-somente exceção de domínio. Irresignação que não merece
acolhimento. Parte autora que é cessionária de direitos do bem
em análise a partir de 1965, adquirindo então a posse legítima
do apartamento, podendo utiliza-lo diretamente ou não. In casu,
verifica-se que a Demandante concedeu ao seu filho permissão
para uso do imóvel de forma gratuita, transmitindo a ele - e a sua
cônjuge (irmã do Réu) a posse direta do bem. Autora que
permaneceu na posse indireta do apartamento. Posse direta que
não anula a indireta, sendo que ambas são legitimadas para o
ajuizamento de eventual demanda possessória, inclusive um em
face do outro. Existência de contrato de comodato. Autora que
emprestou o imóvel para que ente próximo exercesse a moradia
no local com sua família. No comodato a posse é transmitida a
título provisório, de modo que o comodatário adquire a posse
precária, sendo obrigado a devolvê-la tão logo o comodante
reclame a coisa de volta. Com a notificação extrajudicial ou a
manifesta intenção declarada de reaver o bem, extingue-se o
comodato, transformando-se em injusta a posse anteriormente
justa, em virtude da recusa de devolução do imóvel quando
assim solicitado. No caso dos autos é incontroversa a intenção
de rescisão do contrato de comodato bem como da reiterada
negativa do Réu em devolver o bem. Possessória que deve ser
julgada procedente. Manutenção da sentença que se impõe.
RECURSO DESPROVIDO.

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Assinado em 27/05/2020 01:05:34


DENISE NICOLL SIMOES:17538 Local: GAB. DES(A) DENISE NICOLL SIMOES
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Apelação Cível nº 0122302-77.2010.8.19.0001

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível nº


0122302-77.2010.8.19.0001 ACORDAM, por UNANIMIDADE de votos, os
Desembargadores que compõem esta E. 5ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em CONHECER e NEGAR
PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto que segue.

RELATÓRIO

Trata-se de apelação cível interposta por REINALDO SANTOS


OLIVEIRA da sentença de procedência prolatada nos autos da ação
possessória movida por ESPÓLIO DE NILZA PINHEIRO DE ATHAYDE LIEH
rep/p/s/inventariante BRUNA OLIVEIRA LIEH.

Narra a parte autora, em síntese, que adquiriu o imóvel descrito


na inicial em 1965. Sustenta que, após o óbito de seu filho, o apartamento ficou
na posse de sua nora.

Afirma que foi residir no exterior e quando retornou, em 2006,


verificou que o imóvel tinha sido invadido pelo Réu, que se recusa a desocupá-
lo.

Salienta que é executada em ação de cobrança e está arcando


com o pagamento das cotas condominiais. Alega que vem sendo ameaçada
pelo Demandado, que responde vários processos criminais.

Sustenta que se trata de posse nova, requerendo a concessão da


liminar. Ao final requer seja reintegrada na posse do imóvel.

Decisão deferindo a gratuidade de justiça (index 000163).

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Apelação Cível nº 0122302-77.2010.8.19.0001

Audiência de conciliação na qual não foi possível o acordo, sendo


indeferida a liminar (index 000194).

Em sua defesa, o Réu alega que a Autora é mera cessionária dos


direitos do imóvel, adquiridos em 1965, juntamente com seu cônjuge.
Prossegue aduzindo que, com o falecimento do cônjuge da autora, o imóvel foi
legado para o filho do casal, que, ao falecer, transmitiu os direitos sobre o
imóvel para sua única filha (neta da Autora), fruto do casamento do filho da
autora com a irmã do Réu.

Alega que passou a residir no imóvel, com sua irmã e sua


sobrinha, sendo que, em 1999, estas se mudaram para a Espanha e o
deixaram na posse do bem. Afirma, ainda, que é o responsável pela
administração do patrimônio, por meio de procuração outorgada por sua irmã,
em 20/09/2002.

Esclarece que, desde então, exerce a posse justa e de boa-fé do


imóvel, não havendo que se falar em esbulho possessório.

Salienta que, desde setembro de 1990, sua irmã exerce o cargo


de inventariante dos dois espólios (do cônjuge e do filho da Demandante), em
substituição à Autora. Afirma que vem quitando as cotas condominiais,
esclarecendo que os valores são de um período de extrema dificuldade
financeira do Réu. Pugna pela improcedência dos pedidos (index 000196).

Dos documentos acostados junto à contestação destacam-se,


especialmente, procuração outorgada por Rosangela Santos Oliveira Lieh em
favor do Réu (index 000201), contas do condomínio pagas, IPTU do imóvel e
cópias dos inventários (index 000220/422).

Réplica (index 000640).

Petição da parte autora informando que o imóvel se encontra em


dívida ativa e em execução fiscal, motivo pelo qual requer o julgamento do feito
com urgência (index 000657).

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O juízo da 14ª Vara Cível da Comarca da Capital prolata sentença


de procedência nos seguintes termos (index 000707):

“(...) Face ao exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido,


ficando extinto o feito, com resolução de mérito, na forma
do art. 269, I do CPC, para reintegrar a autora na posse
do imóvel objeto desta Ação, face ao esbulho perpetrado
pelo réu.
Condeno o Réu no pagamento das despesas processuais
e honorários advocatícios que arbitro em 10% (dez por
cento) do valor da causa, devidamente corrigido da
propositura da ação até a data do efetivo pagamento”.

O Réu interpõe recurso de apelação no qual alega, em síntese,


que a parte autora ingressou com demanda possessória sob o fundamento de
que é proprietária do imóvel. No entanto, em momento algum demonstrou ter
exercido posse sobre o bem, já que sempre residiu com seu cônjuge em
apartamento localizada em Copacabana.

Aduz que de acordo com o CPC, no juízo possessório o


postulante deve demonstrar sua posse anterior e a data e ocorrência do
esbulho, turbação ou ameaça e que nenhum desses requisitos foi efetivamente
demonstrando no caso dos autos. Defende, ainda, que a parte autora não tem
a propriedade do imóvel, sendo mera cessionária de direitos. Aduz que a
procuração é verdadeira, ao contrário das alegações da Demandante e que
vem administrando o bem por anos a fio. Pugna pela reforma integral da
sentença (index 000773).

Certidão atestando que as contrarrazões são intempestivas (index


000837).

VOTO

Em juízo de admissibilidade, reconheço a presença dos requisitos


extrínsecos e intrínsecos, imprescindíveis à interposição do recurso.

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Apelação Cível nº 0122302-77.2010.8.19.0001

Cuida-se de ação de reintegração de posse na qual a parte autora


alega, em síntese, que sofreu injustamente esbulho da posse de seu imóvel por
conduta ilegal praticada pelo Réu, que se recusa a sair do bem. Prolatada
sentença de procedência, insurge-se o Demandante da decisão.

Sustenta o Recorrente, em síntese, que a presente demanda


versa sobre demanda possessória, tendo a Recorrida alegado tão-somente
exceção de domínio. Aduz, ainda, que está desde a década de 90 residindo no
local, administrando o bem a pedido de sua irmã, quando foi morar no exterior.

Com efeito, de acordo com o ordenamento jurídico, na ação de


reintegração de posse incumbe ao autor fazer prova de posse anterior, do
esbulho praticado, bem como da perda da posse, na forma do artigo 561 e
incisos do CPC:

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse


em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho.

Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção, ou a perda da posse, na ação de
reintegração.

Na ação de reintegração de posse, o possuidor visa recuperar a


posse, uma vez que a ofensa exercida contra ele, o impediu de continuar
exercendo as suas prerrogativas e direitos. Nesse sentido, confira-se o que
lecionam Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald1:

“(...) É o remédio processual adequado à restituição da


posse. Àquele que a tenha perdido em razão de um
esbulho, sendo privado do poder físico sobre a coisa. A
pretensão contida na ação de reintegração de posse é a
reposição do possuidor à situação pregressa ao ato

1 ROSENVALD, Nelson e CHAVES Cristiano - Direitos Reais, 4ªed., RJ; lumen juris, 2007,
p.121/122

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de exclusão da posse, recuperando o poder fático de


ingerência socioeconômica sobre a coisa.
Não é suficiente o incômodo e a perturbação; essencial é
que a agressão provoque a perda da possibilidade de
controle e atuação material no bem antes possuído.
(...)
A tutela possessória pressupõe uma situação anterior
de poder fático sobre o bem, tenha sido ela emanada
de um ato-fato (ocupação do bem); de um direito real
(usufruto) ou obrigacional (locação), ou mesmo, do
próprio direito de propriedade.
Em qualquer dos casos, o titular da relação jurídica
fundamentará a pretensão com base na posse que
afirma exercer e não na qualidade de seu título.”
(grifos nossos)

No caso dos autos, sustenta a parte autora ser devida a procedência


da demanda na medida em que é a legítima proprietária e possuidora do
imóvel situado na Rua Senador Vergueiro, 98, cobertura 03. Em sua defesa,
alega o Réu que a parte autora jamais exerceu a posse, não sendo possível
reintegrar a Demandante de algo que nunca teve.

Compulsando os documentos acostados, denota-se que a parte


autora é cessionária de direitos do bem em análise a partir de 1965 (index
00007. fls. 11).

Note-se que no momento em que se tornou cessionária, a parte


autora adquiriu a posse legítima do apartamento, podendo utiliza-lo
diretamente ou não.

In casu, verifica-se que a Demandante concedeu ao seu filho


permissão para uso do imóvel de forma gratuita, transmitindo a ele (e a sua
cônjuge – irmã do Réu) a posse direta do bem. Ao proceder dessa forma,
permaneceu a Autora na posse indireta do apartamento.

Nesse contexto, há que se esclarecer que a posse direta não anula


a indireta, sendo que ambas são legitimadas para o ajuizamento de eventual
demanda possessória, inclusive um em face do outro. Enquanto a posse direta

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é a de quem recebe o bem para usar, detendo materialmente a coisa; a posse


indireta é a de quem cede o uso do bem.

No caso dos autos, há verdadeira presença de comodato do bem, na


medida em que a Autora emprestou o imóvel para que ente próximo exercesse
a moradia no local com sua família. Com o seu falecimento, o comodato
continuou com sua cônjuge, irmã do Réu, sendo a posse sempre decorrente de
comodato e não legado com alega o Demandado.

No comodato a posse é transmitida a título provisório, de modo que


o comodatário adquire a posse precária, sendo obrigado a devolvê-la tão logo o
comodante reclame a coisa de volta. Com a notificação extrajudicial ou a
manifesta intenção declarada de reaver o bem, extingue-se o comodato,
transformando-se em injusta a posse anteriormente justa, em virtude da recusa
de devolução do imóvel quando assim solicitado.

Porquanto não se tenha certeza acerca da natureza da posse no


início pelo Réu – que argumenta que permaneceu no bem após sua irmã partir
para a Espanha, com sua anuência, fato é que há muito tempo a posse do
Demandado se tornou injusta e clandestina, na medida em que a parte autora
vem tentando reaver a posse direta de seu bem, sem, contudo lograr êxito.

É incontroverso o esbulho, na medida em que o próprio Réu afirma


que até a presente data se recusa a desocupar bem que não é seu. Viável e
adequada, portanto, a presente reintegração de posse.

Não é razoável entender que o Réu possua qualquer proteção ou


direito de permanecer o local, sendo imperiosa a sua saída imediata. Nesse
sentido:

APELAÇÃO CÍVEL - REINTEGRAÇÃO DE POSSE -


COMODATO VERBAL POR PRAZO INDETERMINADO -
RESILIÇÃO UNILATERAL - ESBULHO POSSESSÓRIO -
PRETENSÃO DA RÉ DE INDENIZAÇÃO POR
BENFEITORIAS - NÃO COMPROVAÇÃO PELA
DEMANDADA - TAXA DE OCUPAÇÃO DO IMÓVEL
DEVIDA - TERMO INICIAL - DATA DA CITAÇÃO VÁLIDA
ANTE A AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO PELA AUTORA
DA NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DA RÉ - VALOR QUE DEVE
SER APURADO EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA -

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Comodato verbal por tempo indeterminado. Resilição


unilateral. A partir do momento em que o imóvel foi
reivindicado pela comodante, extingue-se o comodato,
transformando-se em injusta a posse anteriormente
justa, caracterizando o esbulho que legitima o manejo
reintegratório como meio apto para reaver o bem. O
pleito da ré de indenização pelas benfeitorias realizadas no
imóvel não prospera, porquanto não demonstrados os
gastos efetuados com a obra. Ante a ausência de
comprovação da notificação prévia, considera-se a data da
citação válida para constituição da ré em mora. Taxa de
ocupação devida, eis que configura meio de vedação ao
enriquecimento sem causa, ante o esbulho possessório.
Para a fixação do valor da taxa de ocupação, deve-se levar
em consideração as características do imóvel, bem como a
sua localização. Assim, tal valor precisará ser apurado em
liquidação de sentença, por perícia, já que não pode ser
arbitrado sem que sejam analisadas todas as peculiaridades
do imóvel. Negado provimento ao recurso da autora.
Provimento parcial ao recurso da ré.
0043962-30.2017.8.19.0210 – APELAÇÃO
Des(a). EDSON AGUIAR DE VASCONCELOS -
Julgamento: 05/02/2020 - DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA
CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE.


COMODATO. PROCEDÊNCIA. INCONFORMISMO DA RÉ.
1. Pedido de reintegração de posse. Alegação autoral de
ter adquirido o imóvel para cedê-lo em comodato para
moradia da família constituída por seu filho e a ré.
Sobreveio a dissolução do núcleo familiar,
permanecendo a demandada no imóvel. 2. Preliminar de
perda superveniente do interesse de agir. Rejeição.
"Interesse de agir" é um termo técnico da ciência processual
e que não se confunde com a aferição de motivações de
ordem econômica, psicológica ou moral para o ajuizamento
da demanda. Teoria da asserção. O interesse processual
consiste simplesmente da relação de adequação entre a
posição jurídica de vantagem vindicada e o meio processual
sem o qual não pode ser removida a resistência
(hipoteticamente) antijurídica à satisfação da pretensão. 3.
Abstratamente, a narrativa autoral delineia a
reivindicação de uma posição jurídica de vantagem,
qual seja, o direito de posse decorrente de título de
propriedade. A resistência antijurídica à satisfação da
pretensão é a permanência do esbulho, pois a legítima
posse direta da ré teria se findado com a extinção do

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contrato de comodato. A proteção possessória é, pois, é


a via judicial adequada e necessária para a solução do
conflito, tendo em vista o descabimento da autotutela. 4.
Arguição de prejudicialidade externa do presente feito com a
ação declaratória de união estável e partilha de bens
ajuizada em face do filho do autor/recorrido. Rejeição. A
demanda alegadamente prejudicial não se mostra adequada
para agregar o bem objeto da presente lide ao patrimônio
comum do ex-casal. 5. O demandante/apelado demonstrou
nos autos que o bem foi adquirido mediante escritura pública
de compra e venda em seu nome. Assim, a tese da apelante
na verdade implica que o referido negócio jurídico consistiu
de uma simulação. O real adquirente do imóvel seria, então,
o ex-companheiro, em plena vigência da união estável. 6.
Sem engano, além de não haver qualquer prova nestes
autos em relação a tal alegação, somente seria possível
aventar uma prejudicialidade externa com uma ação visando
à declaração de tal vício no contrato de compra e venda do
imóvel, com o seu aproveitamento substancial em relação
ao efetivo comprador - alegadamente, o filho do apelado. 7.
Prova documental da propriedade do autor. Provas
documental e oral da caracterização do esbulho com o fim
do contrato de comodato em favor da ora recorrente.
Nesses termos, a tutela concessiva da proteção possessória
deve ser prestigiada, razão pela qual se mantém a sentença
recorrida. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
0005070-13.2014.8.19.0063 – APELAÇÃO
Des(a). CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA - Julgamento:
04/02/2020 - VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL (grifos
nossos)

Assim, impõe-se a manutenção da sentença que reconheceu a


procedência dos pedidos.

Por tais fundamentos, VOTO NO SENTIDO DE NEGAR


PROVIMENTO AO RECURSO.

Rio de Janeiro, 26 de maio de 2020

Desembargadora DENISE NICOLL SIMÕES


Relatora

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