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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AFS
Nº 70005565213
2002/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


1. CERCEAMENTO DE DEFESA. Não há que se
acolher o pleito de nulidade da sentença por alegado
cerceamento de defesa quando o julgamento
antecipado da lide se mostra cabível e as partes não
requereram a produção de outras provas no
momento processual adequado. Preliminar rejeitada.
2. PRESCRIÇÃO. As notas promissórias, conforme a
Lei Uniforme, prescrevem em três anos. Prejudicial
de mérito ultrapassada.
3. IMPENHORABILIDADE. É passível de penhora
aquele bem imóvel cuja execução é movida pelo
titular do crédito decorrente do financiamento
destinado à sua construção ou à sua aquisição,
conforme a Lei nº 8.009/90.
4. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO ENTRE
CÔNJUGES. Não se cogita de litisconsórcio
necessário quando a união estável já se encontra
dissolvida, e a penhora incidiu exclusivamente sobre
a meação do executado.
NEGARAM PROVIMENTO AO APELO.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70005565213 OSÓRIO

ELISEU DA SILVA VIEIRA APELANTE

JOVELINO PEDRO DA COSTA APELADO

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Sétima
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar
provimento ao apelo.
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes


Senhores, Des. Jorge Luís Dall'Agnol, Presidente, e Des. Alexandre Mussoi
Moreira.
Porto Alegre, 11 de fevereiro de 2003.

DES. ALZIR FELIPPE SCHMITZ,


Relator.

RELATÓRIO
DES. ALZIR FELIPPE SCHMITZ (RELATOR) –
Demanda. Trata-se de apelação interposta por ELISEU DA
SILVA VIEIRA nos autos dos Embargos à Execução opostos contra JOVELINO
PEDRO COSTA, pois inconformado com a sentença (fls. 19/21) que julgou
improcedente a ação.
Razões de Apelação: O recorrente postula a reforma do julgado,
reprisando os fundamentos contidos na inicial. Em preliminar, sustenta o
cerceamento de defesa em decorrência do julgamento antecipado da lide e
invoca a prescrição devido à ausência de citação de litisconsorte passivo
necessário. No mérito, discorre sobre a existência do suposto litisconsórcio e a
impenhorabilidade do bem de família. Requereu sejam julgados procedentes
os Embargos à Execução. Outrossim, postulou a inversão e a majoração dos
ônus da sucumbência, além da condenação da parte adversa às penas por
litigância de má-fé. Alternativamente, pediu seja decretada a nulidade da
sentença por cerceamento de defesa, retornando os autos à origem para a
devida instrução. Pediu o provimento do apelo – fls. 27/33. Recurso
tempestivo, porém sem preparo devido à AJG deferida em sentença.
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Contra-razões ao apelo. O apelado pediu a manutenção da


sentença recorrida, reiterando os fundamentos da sentença – fls. 36/37.
É o relatório.

VOTO
DES. ALZIR FELIPPE SCHMITZ (RELATOR) –
A questão posta em debate é singela e não demanda maiores
explanações, especialmente porque a sentença recorrida foi muito bem
fundamentada, devendo ser mantida integralmente. De qualquer sorte, analiso,
inicialmente, as preliminares suscitadas no apelo.
Sustenta o apelante que a sentença é nula, já que houve
cerceamento de defesa quando o juízo de primeiro grau “não permitiu a
produção de provas quanto à abusividade e impossibilidade legal da penhora
do único bem imóvel do casal” (sic). Ao analisar os autos, verifico que o
embargante/apelante apenas fez breve referência a que lhe fosse possibilitada
“a produção de todos os meios de prova em direito admitidos” (sic) – fl. 06.
Todavia, quando se manifestou sobre a impugnação ofertada pelo embargado
(fls. 16/17), não apresentou qualquer requerimento de produção de provas.
Veja-se que tão-somente requereu a total procedência dos embargos e a
declaração de prescrição dos títulos executados.
Ora, fato é que nem mesmo o próprio embargante/recorrente
postulou a produção de provas em relação a qualquer de suas alegações.
Assim, não cabe agora a sua irresignação. Ademais, conforme bem asseverou
a magistrada prolatora do julgado, estamos diante de caso ao qual se aplicam
as disposições contidas no parágrafo único do artigo 740 do Código de
Processo Civil. Portanto, rejeito a preliminar de cerceamento de defesa
sustentada.
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Quanto à prejudicial de mérito relativa à suposta prescrição dos


títulos executados, considerando que a Lei Uniforme estabelece que a
prescrição correspondente se opera em três anos, não vejo qualquer
fundamento para que seja acolhida a tese do apelante. Afinal, os títulos objeto
de execução venceram entre junho de 1999 e março de 2000, ao passo que a
execução foi ajuizada em outubro de 2001, e a citação do executado se deu no
mesmo mês.
Afastadas as preliminares apontadas pelo recorrente, resta-me
analisar as alegações de impenhorabilidade do bem e de litisconsórcio
necessário. Aqui, penso que a sentença recorrida merece transcrição, já que
os fundamentos adotados pelo juízo de primeiro grau são irretocáveis,
passando a integrar o presente voto porque formaram o meu convencimento:
“(...) No que concerne à impenhorabilidade, igualmente,
a argüição não é procedente. Os dados do processo em
apenso demonstram que o débito em execução decorre
da alienação a Eliseu da Silva Vieira e Terezinha da
Silva Morais do apartamento situado na Rua Marechal
Floriano, 1.038/102 (Edifício Jozelma), em Osório, tendo
sido emitidas em função do contrato de fl. 07 as
promissórias que instruem a demanda. Dessa forma,
incide a previsão do inc. II do art. 3º da Lei 8.009/90, que
veda a argüição de impenhorabilidade quando a
execução é movida pelo titular do crédito decorrente do
financiamento destinado à construção ou à aquisição do
imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos
em função do respectivo contrato. Além disso, o devedor
reside na Rua Barão do Triunfo, 1.607, não no endereço
do bem penhorado à fl. 29 (cuja meação pertencente ao
executado foi constrita na execução), como constou na
inicial executiva e nos documentos de fls. 31 e 32 do
apenso, o que supera em definitivo a idéia de
impenhorabilidade. Quem mora no apartamento
penhorado, conforme indicação do Oficial de Justiça na
constrição, são os filhos de Terezinha”.

“Não há o alegado litisconsórcio necessário. O


devedor não é casado, mas divorciado, como se vê na

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qualificação do adquirente (fl. 27v. do apenso). Na


verdade, conforme os dados extraídos dos embargos já
julgados (processo 29.743), o embargante viveu em
união estável com a avalista Terezinha, já estando
julgada também a ação de dissolução de união estável
que tramitou entre eles na 1ª Vara desta Comarca, de
modo que não se cogita da ciência da demanda ao
cônjuge, porque a união estável está dissolvida e porque
a penhora incidiu exclusivamente sobre a meação de
Eliseu no imóvel em condomínio”.

Por derradeiro, no que diz respeito ao pedido de inversão da


sucumbência e majoração dos honorários, considerando que a decisão
recorrida foi integralmente mantida, evidente que não há que se falar em
revisão dos ônus da sucumbência, restando tal pedido prejudicado. Ademais, o
pleito de condenação do apelado às penas de litigância de má-fé, além de não
possuir qualquer fundamento, não encontra guarida nas disposições do artigo
17 do Código de Processo Civil.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso, confirmando a
decisão de primeira instância por seus próprios fundamentos.

DES. JORGE LUÍS DALL'AGNOL – De acordo.

DES. ALEXANDRE MUSSOI MOREIRA – De acordo.

Julgadora de 1º Grau: Anaisa Accorsi Peruffo.

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