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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Processo : 1080000002
Espécie : Ação Anulatória
Comarca : Caxias do Sul
Autora : Olinda Pedroso
Réu : Pedro Joaquim

Olinda Pedroso, brasileira, casada, do lar, CPF xxx.xxx.xxx-xx,


residente e domiciliada na rua Joaquim Nascimento, n°100, bairro Planalto, Caxias do Sul,
RS, por seus procuradores infra-assinados, com endereço profissional na rua Luiz
Michelon, n° 1771, bairro Cruzeiro, Caxias do Sul, RS, conforme Procuração em anexo
(doc. 1), vem perante V. Exa., no prazo e na forma do art. 522 e seguintes do Código de
Processo Civil, interpor o presente

AGRAVO DE INSTRUMENTO
com pedido de tutela antecipada recursal (Art. 527, III do CPC)

contra a decisão proferida pelo Juízo Monocrático da 3ª. Vara Cível da Comarca de
Caxias do Sul-RS, requerendo seja o mesmo conhecido e provido pelos argumentos
constantes das razões que passa a expor:

1. DO FATO E DO DIREITO

Pedro Joaquim locou o imóvel de sua propriedade para Manoela


Oliveira, tendo Bruno Pedroso (esposo de Olinda Pedroso) prestado fiança no referido
contrato sem o consentimento de sua esposa.
Tendo a locatária inadimplido o pagamento dos aluguéis, Pedro
Joaquim, na condição de locador, buscou no judiciário a cobrança dos valores devidos,
ajuizando ação de execução contra a locatária (Manoela) e o fiador (Bruno), em
tramitação na 3ª. Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul-RS (processo 1080000001),
tendo havido penhora sobre um veículo de propriedade Bruno. Opostos embargos de
devedor exclusivamente em nome de Bruno, sustentando a nulidade da fiança, foi o
mesmo julgado improcedente, com decisão transitada em julgado.

Com o prosseguimento da ação de execução, houve ampliação da


penhora, através da Carta Precatória de atos executórios ao Juízo de Farroupilha-RS
(processo nro. 1080000002, da 2ª. Vara Cível), agora sobre o imóvel residencial de Olinda
e Bruno, identificado como Apartamento nro. 500, do Edifício Empire State, localizado na
Rua New York, 001, em Farroupilha-RS, , matriculado no Registro de Imóveis de
Farroupilha-RS sob nro. 5.000.

O domínio e a posse de Olinda decorre do fato de ser ela esposa de


Bruno, com quem já era casada quando da aquisição do referido imóvel.

Entendendo ser parte legítima para pleitear a nulidade da fiança


prestada exclusivamente por seu esposo, Olinda ajuizou ação anulatória de fiança contra
o autor da ação em que houve a penhora do imóvel residencial. Sustenta na referida
demanda que a fiança prestada por quem é casado constitui garantia que só se
perfectibiliza diante da outorga uxória, nos termos do art. 1.647, III, do Código Civil. E no
caso em apreço a fiança prestada pelo seu marido (Bruno) não contou com a necessária
interveniência do cônjuge, o que torna o ato sem nenhum efeito jurídico.

Olinda postulou tutela antecipada recursal no sentido de determinar


a suspensão dos atos executórios contra ela e seu marido, no processo de execução em
tramitação, em função de débitos decorrentes do contrato de locação firmado entre Pedro
e Manoela, tendo em vista que o imóvel penhorado naqueles autos corre o risco de ser
levado a leilão a qualquer momento.

Ao apreciar a ação anulatória, o Juízo não deferiu a tutela


antecipada requerida, cuja decisão está assim redigida:

Vistos etc.
Entendo inviável o requerimento da parte autora para suspensão dos atos
executórios do processo de execução pelo simples ajuizamento da ação anulatória em apreço.
Notifique-se.
Cite-se.
Intimem-se.
Sustenta na referida demanda que a fiança prestada por quem é
casado constitui garantia que só se perfectibiliza diante da outorga uxória, nos termos do
art. 1.647, III, do Código Civil. E no caso em apreço a fiança prestada pelo seu marido
(Bruno) não contou com a necessária interveniência do cônjuge, o que torna o ato sem
nenhum efeito jurídico.

A Agravante postulou tutela antecipada recursal no sentido de


determinar a suspensão dos atos executórios contra ela e seu marido, no processo de
execução em tramitação, em função de débitos decorrentes do contrato de locação
firmado entre Pedro e Manoela, tendo em vista que o imóvel penhorado naqueles autos
corre o risco de ser levado a leilão a qualquer momento.

É contra esta decisão que é movido o presente recurso de agravo de


instrumento, visando a antecipação de tutela para suspender o andamento da ação de
execução, onde encontra-se constrito o imóvel da agravante, até o julgamento do mérito
da ação anulatória de fiança.

2. DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA

Conforme o artigo Art. 1.647, III, do código Civil, nenhum dos


cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta,
prestar fiança ou aval. A outorga uxória é utilizada como forma de impedir a dilapidação
do patrimônio do casal por um dos cônjuges. Por isso, a fiança prestada sem a anuência
do cônjuge do fiador é nula.

Além do mais, necessário também lembrar que já existe


entendimento consolidado sobre o tema. O enunciado da Súmula 332 do STJ dispõe:
“Fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da
garantia.”

Constata-se que tanto a súmula 332 do STJ, quando o artigo


1.647,III do CC afirmam que a falta da autorização do cônjuge para prestar fiança e aval,
exceto no regime de separação absoluta que não é o caso em tela, torna o ato jurídico
imperfeito, isto é, inválido, sem sofrer qualquer efeito.

Consoante a isso também, o artigo 166, V, do CC dita que “É nulo o


negócio jurídico quando: V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial
para a sua validade.”
O Egrégio Tribunal De Justiça de São Paulo também decide a favor:

LOCAÇÃO DE IMÓVEIS - COBRANÇA EM FACE DOS FIADORES -


GARANTIA PRESTADA SEM OUTORGA UXÓRIA - INEFICÁCIA
TOTAL - ARTIGO 1.647, III, CÓDIGO CIVIL - SÚMULA 332 DO STJ -
SENTENÇA MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO. A fiança prestada
por um dos cônjuges sem autorização expressa do outro invalida
o ato por inteiro, a teor do artigo 1.647, III, do Código Civil e da
Súmula 332 do STJ.
(TJ-SP - APL: 992090320912 SP , Relator: Clóvis Castelo, Data de
Julgamento: 18/10/2010, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 22/10/2010)

Em grau superior também se sustenta o mesmo entendimento.

11445553 - DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. LOCAÇÃO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. DEFICIÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA Nº 284/STF. FIANÇA. OUTORGA
UXÓRIA. AUSÊNCIA. NULIDADE. PRECEDENTES. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. A teor da pacífica e
numerosa jurisprudência, para a abertura da via especial, requer-se o
prequestionamento, ainda que implícito, da matéria
infraconstitucional. Hipótese em que a Turma Julgadora não emitiu
nenhum juízo de valor acerca do art. 283 do CPC, restando ausente
seu necessário prequestionamento. Incidência das Súmulas nºs
282/STF e 211/STJ. 2. A ausência de indicação do dispositivo de Lei
Federal a que a Corte de origem teria malferido ou dado interpretação
divergente da firmada por outros tribunais implica deficiência de
fundamentação. Súmula nº 284/STF. 3. É nula a fiança prestada
sem a anuência do cônjuge do fiador. Precedentes. 4. Tendo o
arresto sido invalidado em decorrência da decretação da nulidade da
fiança prestada sem a anuência do esposa do fiador, torna-se
irrelevante se perquirir se houve a comprovação de que o imóvel
penhorado seria ou não bem de família. 5. Recurso Especial
conhecido e improvido. (STJ; REsp 797.853; Proc. 2005/0190531-9;
SP; Quinta Turma; Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima; Julg.
27/03/2008; DJE 28/04/2008)

É claro o entendimento que da fiança dada sem o devido


consentimento do cônjuge, torna a garantia fidejussória inválida, acarretando em nulidade
total, ou seja, a fiança deixará de produzir a totalidade de seus efeitos.
3. TUTELA ANTECIPADA

O risco de dano irreparável ou de difícil reparação e que enseja


antecipação assecuratória, é o risco concreto e iminente da perda do seu único bem
familiar, e potencialmente grave pela demora da decisão judicial. Ao fato que já houve
ampliação da penhora deste bem, através da Carta Precatória de atos executórios ao
Juízo de Farroupilha-RS (processo n°. 1080000002, da 2ª. Vara Cível).

De fato que a espera pela decisão judicial final, apresenta grave


ameaça a um direito aqui já afirmado, e pressupõe verossimilhança quanto ao
fundamento de direito, que decorre de relativa certeza quanto à verdade dos fatos.

A Agravante não tem renda suficiente para arcar com um aluguel de


uma casa, que mal consegue sobreviver com um salário mínimo, e não pode sujeitar seu
único patrimônio a um fato que não deu causa. A Improcedência deste pedido certamente
lhe causará um dano irreparável caso não lhe seja concedida a tutela antecipada, devido
a grande demora de uma decisão judicial final, sabendo que aqui foram mostradas razões
suficientes que a Agravada terá êxito nesta ação.

Assim, estando presente fundamentação relevante e circunstâncias


que causam lesão grave e de difícil reparação à agravante (art. 558 do CPC), a
concessão de antecipação de tutela recursal é plenamente cabível e necessária no caso
em apreço.

Nestas circunstâncias, cabível se mostra o disposto no art. 527, III 1,


bem como do art. 5222, do Código de Processo Civil, com a redação da Lei 11.187/2005,
pelo qual pode o relator do presente recurso conceder tutela antecipada, o que requer a
agravante.

Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator:


...
III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a
pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;

Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar
de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da
apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por
instrumento.
É possível ainda, caso entenda V. Exa., o provimento liminar do
presente recurso, nos termos do art. 557, § 1º-A, do CPC, o que igualmente requer a
Agravante.

4. NOME E ENDEREÇO DOS PROCURADORES

Da agravante:
Olinda Pedroso, residente e domiciliada na rua Joaquim Nascimento,
n°100, bairro Planalto, Caxias do Sul, RS

Do agravado:
Sem representação nos autos.

5. PEDIDOS

Pelo exposto, requer:

a) O provimento liminar do presente recurso, nos termos do art. 557, § 1º-A, do CPC,
para determinar a suspensão da ação de execução onde encontra-se constrito o imóvel
da agravante até o julgamento do mérito da ação anulatória de fiança;

b) Caso assim não entenda V. Exa., a concessão de tutela antecipada recursal, nos
termos do art. 527, III, do CPC, para determinar a suspensão da ação de execução onde
encontra-se constrito o imóvel da agravante até o julgamento do mérito da ação anulatória
de fiança;

c) O provimento do presente recurso para reformar a decisão agravada, no sentido de


determinar a suspensão da ação de execução onde encontra-se constrito o imóvel da
agravante até o julgamento do mérito da ação anulatória de fiança.
Nestes termos,
Pede deferimento.

Caxias do Sul, 21 de agosto de 2015.

RODRIGO ZANELLA KELLY FERRAZ OLIVEIRA

OAB-RS xx.xxx OAB-RS xx.xxx

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