EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA
COMARCA DE FORMOSA DO OESTE - ESTADO DO PARANÁ
Autos n.º 0001673-91.2019.8.16.0082
Execução de Título Extrajudicial
V BERGAMIN E BERGAMIN LTDA e outros, já
devidamente qualificados nos autos do processo em epígrafe, por intermédio de seus advogados que abaixo subscrevem, vêm respeitosamente à presença de Vossa Excelência, para expor e requerer o que segue adiante.
Primeiramente, ressalta-se que o auto de constatação,
realizado pelo Oficial de Justiça, restou demonstrado que o imóvel, Lote Urbano n° 12-A da Quadra 47, matriculado sob o n° 23.307, objeto da discussão, trata-se de uma edícula anexa ao corpo da casa dos Executados e que não possui acesso à rua.
Passado essas premissas, constata-se que o Auto de
Constatação apenas corroborou com as alegações da petição de mov. 54.
Destaca-se que como o referido imóvel não possui saída
para a rua, impossibilita a divisão dos bens, (casa e edícula) sem acarretar sérios prejuízos ao imóvel dos Executados, vez que a construção dos dois imóveis é sustentada por paredes com função estrutural e a infraestrutura hidráulica e elétrica são interligadas entre as construções.
Logo, não se verifica possibilidade de desmembramento
do imóvel em unidades autônomas, para prosseguir com a expropriação. Sendo este o entendimento consolidado do Supremo Tribunal de Justiça:
“admite-se, excepcionalmente, a penhora de parte do
imóvel quando for possível o seu desmembramento em unidades autônomas, sem descaracterizá-lo, levando em consideração, com razoabilidade, as circunstâncias e peculiaridades do caso” (AgInt no AREsp 1146607/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/05/2020, DJe 07/05/2020)”.
Segue o mesmo entendimento o Tribunal de Justiça do
Paraná: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS A EXECUÇÃO. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. RECONHECIDA. PROTEÇÃO CONFERIDA PELA LEI Nº 8.009/90. DESMEMBRAMENTO QUE, NO CASO CONCRETO INVIABILIZA E PREJUDICA A RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA. PRECEDENTES DO STJ. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS COM BASE NO VALOR ATUALIZADO DA CAUSA. CABIMENTO. VALOR PROPORCIONAL AO TRABALHO E TEMPO DESPENDIDO. SENTENÇA MANTIDA. HONORÁRIOS RECURSAIS ARBITRADOS. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR - 13ª C.Cível - 0016207-08.2017.8.16.0083 - Francisco Beltrão - Rel.: DESEMBARGADOR FERNANDO FERREIRA DE MORAES - J. 09.07.2021)
Posto isto, se denota a inviabilidade da manutenção da
referida penhora, pelos argumentos trazidos e por ir de encontro com matéria pacificada nos Tribunais Superiores.
Aduz o Exequente que não ficou demonstrado que os
Executados residem no referido imóvel, pois bem, no próprio Auto de Constatação o Oficial de Justiça reconheceu o imóvel como sendo de moradia familiar e que no momento da perícia, estavam presentes a Executada e seus filhos. Deste modo, a alegação do Exequente é infundada.
Por fim, sustenta o Exequente que a impenhorabilidade
do bem discutido deve ser afastada, pois foi oferecido em garantia hipotecária.
Note-se Excelência, que o bem dado em garantia é o
imóvel de matrícula 23.307, penhorado junto ao evento 32.4, que se encontra em anexo a casa e, não a residência dos Executados!
Deste modo, não deve ser afastada a impenhorabilidade
do bem de família, por ser medida de inteira justiça! Até mesmo porque não se enquadra em nenhuma das exceções, disposto no art. 3º, inciso II:
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer
processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato.
E segundo o posicionamento adotado pelo Superior
Tribunal de Justiça, as hipóteses previstas no art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90, por configurarem exceção à regra de impenhorabilidade do bem de família, devem ser interpretadas de forma restritiva, de forma que não atingem circunstâncias alheias às descritas no referido diploma. Vejamos:
“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO EM FASE DE
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. 1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. QUESTÕES DEVIDAMENTE ANALISADAS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. 2. PRETENDIDA PENHORA SOBRE O IMÓVEL EM QUE FORAM REALIZADAS AS BENFEITORIAS PELO GENITOR DOS EXEQUENTES, AS QUAIS AS EXECUTADAS FORAM OBRIGADAS A INDENIZAR.IMPOSSIBILIDADE. BEM DE FAMÍLIA. HIPÓTESE QUE NÃO SE ENQUADRA NA EXCEÇÃO DO ART. 3º, INCISO II, DA LEI 8009/90. 3. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA ENTRE OS ARESTOS CONFRONTADOS. 4. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.(...) 2. Nos termos do que dispõe o art. 3º, inciso II, da Lei n. 8.009/1990, a impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato. 2.1. Na hipótese, ao contrário do que alegam os recorrentes, tanto o Juízo de primeiro grau como o Tribunal de Justiça entenderam, com base no que ficou expressamente consignado no título judicial transitado em julgado, que o crédito discutido no cumprimento de sentença era decorrente de benfeitorias realizadas no respectivo imóvel, não se referindo, portanto, à aquisição ou construção dele. Desta forma, revela-se correto o entendimento das instâncias ordinárias que reconheceram a impenhorabilidade do imóvel em questão, por se tratar de bem de família. 2.3. Não se pode olvidar, ainda, que as hipóteses de afastamento da proteção do bem de família, previstas nos incisos do art. 3º da Lei n. 8.009/1990, dado o seu caráter excepcional, devem ser interpretadas de forma restritiva. Precedentes. 3. A divergência jurisprudencial não foi devidamente comprovada, tendo em vista a manifesta ausência de similitude fática entre os acórdãos confrontados. 4. Recurso especial desprovido. (REsp 1765656/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2018, DJe07/12/2018”
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