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As opções totalitárias

Os efeitos da primeira guerra e as consequências da crise de 1929 foram os grandes


motivos que levaram à afirmação das forças conservadoras de direita (regimes
totalitários), radicalmente contrárias à democracia parlamentar e vistas, por muitos,
como a única solução da europa.

O totalitarismo é um sistema político em que o Estado se sobrepõe ao indivíduo e


onde o partido único, liderado por um chefe, promove uma ideologia oficial que deve
ser seguida, não admitindo qualquer forma de contestação e estendendo o controlo
total a todos os domínios da sociedade e da economia (redução das liberdades
individuais). Este regime consolidou-se na Alemanha (partido nazi, com Adolf Hitler),
na Itália (partido nacional fascista, com Benito Mussolini) e na URSS (partido
comunista, liderado por Lenine).

Os fascismos, teoria e práticas: uma nova ordem


nacionalista, antiliberal e antissocialista
O fascismo italiano e o nazismo alemão apresentam alguns princípios ideológicos
comuns. Assim, ambos rejeitavam: as liberdades individuais (pois os direitos do
indivíduo tinham de estar submetidos ao interesse do Estado); o pluripartidarismo
(punha em causa a coesão e a força da Nação e, por isso, defendiam o partido único); o
parlamentarismo (manifestação de fraqueza por parte do poder); o princípio liberal
da igualdade (defendiam a existência de raças superiores e que nasciam para
comandar e outras inferiores que nasciam para obedecer); o liberalismo, porque a
liberdade era vista como uma forma de divisão e enfraquecimento do grupo; a
democracia, pois era considerada um regime de fraqueza, e o direito ao voto;; o
socialismo e o comunismo (porque assentavam na luta de classes, o que provoca
divisões e enfraquecia o corpo social, e na abolição da propriedade privada) e o
liberalismo económico (uma vez que, privilegiava os interesses individuais e vai contra
os interesses do Estado).

Em consequência a estas negações, os regimes nazi-fascistas afirmam um Estado forte


e centralizado, liderado por um chefe (homem providencial) que concentrava nas suas
mãos todo o poder. Alvo de um verídico culto, o chefe era considerado o intérprete da
vontade nacional e, por isso, os indivíduos deviam segui-lo de forma “cega” e
obediente (apoiá-lo numa administração submissa e meter os interesses do Estado em
primeiro lugar).

O nacionalismo exacerbado foi outra das características comuns nos movimentos


fascistas e nazis, que apelavam à grandeza da nação (como valor sagrado) e aspiravam
a hegemonia do seu povo. Esta característica, surge associada ao imperialismo e ao
militarismo, uma vez que, o objetivo da Itália e da Alemanha era expandir os seus
territórios e implementar a sua cultura/ideais precisavam de uma força militar
extraordinária.

Para além disto, os regimes nazi-fascistas aceitavam a desigualdade social, pois as


elites (constituídas pelos membros do partido), consideradas as melhores raças, eram
escolhidas para a orientação das massas (população inferior). Assim, houve uma
necessidade de enquadramento de massas, destinadas a veicular princípios ideológicos
destes regimes.

Deste modo, os jovens encontravam nas organizações paramilitares fascistas de


juventude (frequência obrigatória) um lugar e um papel a desempenhar em prol do
estado. Nessas organizações eram-lhe inculcados os princípios fascistas e os valores do
regime (o novo individuo guiava-se pela devoção e culto ao chefe, pela defesa do
Estado e pelos valores de guerra e do desporto).

A doutrinação continuava também nos adultos, por intermédio de várias organizações:


a filiação no partido único e a integração nos sindicatos autorizados (constituem meios
de controlo da sociedade) e a participação em ações recreativas. Para além disto, os
regimes totalitários controlavam as publicações (escritas, a rádio, o cinema, mediante
uma apertada censura) colocavam a produção intelectual ao serviço do Estado (pela
imposição de textos e de programas nacionalistas, proibiam tudo o que fosse contrário
à ideologia do regime) e organizavam manifestações/desfiles, com vista a galvanizar as
massas.

Para além da propaganda, estes regimes também se perpetuaram no poder graças à


organização de um sistema fortemente violento e repressivo (que denunciava,
perseguia, pretendia e torturava todos aqueles se opunham/contestavam as
directrizes do líder ou do partido). As milícias armadas (paramilitares) desempenharam
um papel fundamental na promoção da obediência e no controlo da sociedade (na
Itália esta função ficava à responsabilidade dos esquadristas e da Organização de
Vigilância e de Repressão Antifascista, e na Alemanha cabia às Secções de Assalto, às
Secções de Vigilância e da Gestapo).

O culto da força, da violência e da juventude tornou-se uma prática corrente e uma


forma de ação política, nos movimentos totalitários (a razão e a felicidade individual
foram relegadas e substituídas pela exaltação da guerra e do sacrifício). Contudo, foi
na Alemanha que o culto da violência e a negação dos direitos humanos tiveram mais
expressão, pelo caracter militarista e racista que o regime adotou.

O nazismo levou ao extremo o racismo, pois estes acreditavam que o povo alemão
descendia da uma raça superior (raça ariana) a quem incumbia a obrigação de dominar
o mundo pela dominação dos inferiores. Assim, o primeiro objetivo deste regime
deveria ser a purificação da raça ariana pela seleção dos impuros/inferiores (através da
perseguição e do extermínio de todos aqueles que iam contra o regime, dos ciganos,
dos deficientes, dos homossexuais, dos judeus e dos idosos).

Entre todos os inferiores, o racismo assumiu contornos mais violentos contra os judeus
(antissemitismo), pois acusavam-nos de serem os causadores de todos os males da
sociedade. Por conseguinte, fizeram do seu extermínio um dos grandes objetivos
políticos: numa primeira fase, os judeus foram segregados, boicotados e excluídos dos
serviços públicos; numa segunda fase, surgiram as primeiras investidas contra as
pessoas e os bens, com destruições programadas dos seus locais de culto e de
atividade económica, intensificando-se a sua segregação com o encerramento em
guetos e identificação através do uso obrigatório e vexatório da estrela de David e
numa terceira fase, foi adotada a chamada “solução final” onde os judeus foram
deportados para os campos de extermínio, nos quais ocorreu o genocídio de milhões
de homens, mulheres e crianças (este acontecimento ficou conhecido como
holocausto).

Como já vimos, os totalitarismos cresceram à medida que se agravavam as condições


económicas e financeiras de uma Europa destruída pela guerra e cresciam as
promessas de solução de todos os problemas por ideologias fortemente nacionalistas.
Uma vez no poder, os regimes totalitários fizeram da autossuficiência económica e da
resolução do problema do desemprego poderosos vínculos de afirmação do
nacionalismo político (era o ideal de autarcia traduzido na adoção de politicas
económicas fortemente intervencionistas, através dos quais as atividades produtivas
eram colocadas ao serviço do estado).

Em Itália, o dirigismo económico, no contexto do corporativismo (promoveu a


colaboração entre pratões e trabalhadores, anulando a oposição de interesses entre os
mesmos, mas permitindo um maior controlo do estado), levou Mussolini a incumbir os
organismos estatais da dinamização da atividade económica através de várias
medidas: estimulou o consumo de produtos italianos (para aumenta a produção);
aumentou tarifas alfandegárias (para diminui as importações); promoveu a batalha do
trigo, a batalha da lira e a batalha da bonificação; desenvolveu uma campanha de
modernização das infraestruturas de transportes/comunicações, fixou preços e
salários e implementou um vasto programa de obras públicas;

Na Alemanha, foram tomadas medidas que tinham como objetivo o relançamento da


economia e solucionar os problemas que assolavam o país (o desemprego, a
paralisação industrial, a falta de produção e dependência económica face ao
estrangeiro). A solução passou por adotar um país de autossuficiência que lhe
permitissem produzir os seus próprios produtos:  relançaram e apoiaram as industrias
alemãs; desenvolveram novos setores (nomeadamente no automóvel); criaram um
programa de rearmamento (diminuiu o desemprego); lançaram obras públicas
grandiosas e incentivaram a produção agrícola (de forma a garantir autossuficiência).
Para além destes regimes totalitários, também se destacou o comunismo na URSS.
Após a morte de Lenine,  dois líderes (Trotsky e Estaline) disputaram o poder na União
Soviética, contudo Lenine assumiu de forma violenta o poder e expulsou Trotsky
(chegando mesmo até a persegui-lo).

Assim, a construção da sociedade socialista foi feita através de um regime totalitário,


pela violência e pela força, centrado na coletivização dos campos e na planificação
económica.

Foi neste contexto que Estaline abandonou o processo liberalizador instituído com a
NEP e arrancou irreversivelmente para a nacionalização de todos os sectores da
economia (quase não havia propriedade privada na Rússia, pois o Estado apropriara-se
da terra, do subsolo, das instalações fabris, do comércio, de capitais e de outros
rendimentos de trabalho).

Depois da abolição da propriedade privada, Estaline desenvolveu uma planificação


económica (denominada de Planos Quinquenais, com duração de cinco anos) onde
estabeleceu os objetivos a atingir em cada etapa de crescimento: no primeiro plano,
apostou na nacionalização de todas as empresas industriais/comerciais, apostou no
desenvolvimento da indústria pesada e privilegiou ainda a construção de
infraestruturas; no segundo plano, o objetivo foi o desenvolvimento da indústria ligeira
e de bens de consumo (de forma a proporcionar melhor qualidade de vida às
populações) e o  terceiro plano privilegiou a indústria química e a produção de energia
(mas acabou por ser interrompido devido à participação da URSS na Segunda Guerra
Mundial). Para que os objetivos desta planificação fossem compridos o Estado
recorreu à emulação socialista (foram atribuídos prémios de produtividade, por
exemplo).

Simultaneamente com o programa de industrialização, a planificação da economia


prenunciou a coletivização dos campos, através da separação forçada dos Kulaks
(deskulakização). Estes pequenos/médios proprietários foram integrados nos Kolkhoz
(quintas coletivas onde os camponeses entregavam parte da sua produção ao Estado e
recebiam a sua parte conforme o trabalho realizado) e nos Sovkhoz (herdades do
estado onde os camponeses eram assalariados).

Podemos concluir que apesar de ser todos regimes totalitários, o nazismo se destaca
com antissemitismo,  o fascismo italiano com o corporativismo e o partido comunista
com abolição da propriedade privada.

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