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Contextualização histórico-literário:
REALISMO NATURALISMO
√ Movimento artístico que surge, em Portugal, em meados do séc. √ Movimento estético-literário
XIX, contestando o idealismo romântico. com origem na doutrina
√ Valoriza a observação e a análise de tipos humanos e de costumes positivista, estreitamente
sociais, tentando representar objetivamente a realidade. ligado ao realismo e às
√ Adota uma atitude genericamente descritiva e crítica em relação à transformações sociais,
sociedade do seu tempo, tentando descrevê-la e aos seus científicas, filosóficas e éticas
componentes de forma desapaixonada. ocorridas no século XIX,
√ A narrativa (e em particular o romance) é o género que mais se tendo-se manifestado nas
adequa aos propósitos deste movimento, articulando momentos de artes e na literatura.
narração com momentos de descrição. √ No Naturalismo, a obra
√ Na representação da ação, quase sempre de implicações sociais, é literária surge como a
evidente a pormenorizada descrição dos espaços e a personagem é ilustração das teses científicas.
de capital importância pois permite uma reflexão crítica sobre o ser
humano e os seus problemas concretos, sendo muitas vezes encarada
como personagem-tipo.
Num período marcado pelo Realismo, o romance assume uma enorme importância, na
medida em que explora, na trama das suas histórias, a relação entre o comportamento
das personagens e da sociedade que as integra.
feita por Carlos e Ega e à visita de Carlos a Portugal 10 anos após a “trágica semana”. )
O título da obra remete o leitor para a história trágica de uma família da aristocracia
lisboeta, relato de largos anos, permitindo ao leitor percorrer o Portugal miguelista,
fanático e beato de 1820, o Portugal liberal, representado por Afonso da Maia, o
ambiente romântico português, com Pedro da Maia e a geração da Regeneração,
desencantada com o liberalismo e responsável por uma sociedade falhada e
decadente.
O subtítulo encaminha o leitor para o ambiente social da época relatado pelo olhar
atento e crítico de Eça de Queirós, que faz o retrato satírico, mas realista, da Lisboa do
final do século XIX.
Ação trágica
Uma das dimensões importantes do romance é a configuração trágica da ação. Esta
dimensão permite refletir sobre a incapacidade de o ser humano controlar a sua
existência, marcada por aspetos imprevisíveis e, muitas vezes, inexplicáveis.
Neste romance, a conjugação das características temáticas da intriga, ou seja, a relação
incestuosa de Carlos e Maria Eduarda, que ignoram ser irmãos, o papel do destino e da
sua força trágica implacável – corporizados por Guimarães e o cofre –, bem como a
presença de presságios que acompanham a vida das personagens – a escolha do nome
de Carlos e o fatalismo do Ramalhete anunciado por Vilaça, por exemplo – conferem a
esta obra uma dimensão trágica.
De forma obsessiva, Pedro procura conhecê-la, Desesperadamente, Carlos tenta descobrir quem
contando, para isso, com a ajuda de Alencar, seu é aquela “esplêndida mulher”. Procura-a por
amigo. Lisboa, vai a Sintra, na esperança de a encontrar,
mas é apenas através de Dâmaso que consegue
aproximar-se dela.
Pedro e Maria Monforte namoram e, apesar da O casal apaixona-se, relaciona-se e mantém uma
oposição de Afonso da Maia, casam e têm dois vida social na Toca, apesar da oposição de Afonso
filhos, mantendo vida social em Arroios. da Maia.
Pedro regressa à casa paterna, em Benfica, Depois de mais um encontro com Maria Eduarda,
reconhece o seu erro e suicida-se, deixando o Carlos cruza-se com o avô, em quem vê espelhado
filho, Carlos, com Afonso da Maia. o horror e o desgosto.
Afonso da Maia reage ao desgosto e à dor, isola- Afonso da Maia morre e Carlos parte para o
se em Santa Eulália e dedica-se à educação de estrangeiro.
Carlos.
O sentimento e a paixão são, também, visíveis no relacionamento de João da Ega com
Raquel Cohen, que conhece socialmente na Foz, no Porto. Essa relação é vivida
inicialmente com um certo recato, mas João da Ega acaba por revelá-la ao seu amigo
Carlos da Maia.
Ega homenageia Cohen com um jantar no Hotel Central, jantar que proporciona a
Carlos o seu primeiro contacto com a sociedade portuguesa.
Os encontros amorosos de Ega têm lugar na Vila Balzac. Quando a relação adúltera é
descoberta, Ega, humilhado, refugia-se em Celorico, enquanto o casal Cohen parte
para o estrangeiro.
Ega, mesmo com a passagem do tempo, não esquece Raquel. Ainda apaixonado,
sente-se humilhado quando percebe a nítida aproximação de Raquel a Dâmaso. A
ligação terminará apenas no final – epílogo – quando Ega reconhece que Raquel não
merece a sua atenção.
As personagens /Os protagonistas
Afonso da Maia. Esta personagem é apresentada como um homem robusto, quer do
ponto de vista físico, quer psicológico. Homem de caráter forte reage à dor da morte
do filho com dignidade e alivia a sua mágoa entregando-se à educação do seu neto
Carlos. Generoso, é o símbolo dos princípios e dos valores tradicionais, apesar de ter
escolhido um modelo educacional (britânico) para o seu neto que corta com a tradição
de tudo o que se fazia, na época, em Portugal. Na sua juventude, defendeu os ideais
liberais, tendo passado pela experiência do exílio. Elemento fundamental da família,
não resiste ao comportamento de Carlos, que comete o incesto conscientemente,
morrendo de desgosto.
Pedro da Maia. A caracterização desta personagem é feita de acordo com o modelo
naturalista. O seu comportamento é explicado pela conjugação de três fatores: a
educação, a hereditariedade e o meio. Instável e nervoso, abúlico e passivo, Pedro é,
muitas vezes, assolado por crises de melancolia que o levam ora para uma
religiosidade extrema, ora para uma vida boémia desregrada. Pedro é descrito como
um homem fraco e pouco atento ao que o rodeia. De cunho marcadamente romântico,
apaixona-se perdidamente por Maria Monforte, paixão esta que o impede de reagir e
o leva ao suicídio após a fuga da mulher (cobardia moral).
Maria Monforte. Personagem controversa, Maria Monforte é descrita desde o início
como uma bela mulher, sedutora, enigmática, egocêntrica e caprichosa, sobretudo na
sua relação com Pedro. No entanto, esta mulher, apesar de ter passado por
dificuldades depois de deixar Pedro da Maia, nunca reclamou a herança do marido,
que por direito pertenceria a sua filha.
Carlos da Maia. Personagem central da obra, Carlos é um homem de gosto
requintado, culto, um cosmopolita diletante que se destaca no meio sociocultural em
que se insere. Desde os seus anos de estudante em Coimbra, Carlos vive vários e
arrebatados amores, acabando por envolver-se intensamente numa relação amorosa
proibida com Maria Eduarda, que o marca tragicamente. Carlos é caracterizado pela
dispersão, aspeto que o impede de concretizar os diferentes projetos que idealiza e
inicia. Apesar de ter sido educado para ser um vencedor, rapidamente se deixa
contaminar pelo tédio e indolência de Lisboa e falha em todos os planos da sua vida,
sentindo-se frustrado.
Maria Eduarda. Esta figura feminina é apresentada como uma bela mulher alta e loura,
elegante, mas simples e sóbria. Um certo mistério rodeia Maria Eduarda, de quem
ninguém conhece o passado. A bondade e a capacidade de se emocionar facilmente
são características que lhe são atribuídas.
João da Ega. Amigo inseparável de Carlos, elemento quase familiar, Ega é uma peça
fundamental do romance Os Maias, na medida em que faz parte do universo do
Ramalhete, atuando diretamente na ação central, mas estando também presente em
quase todos os episódios que decorrem do subtítulo e traduzem o ambiente social da
época. Desde a juventude, Ega é um excêntrico, um provocador, um dândi. Homem
culto, irónico e sarcástico, é uma personagem polémica, que gosta de escandalizar a
sociedade lisboeta, considerada por ele ignorante e provinciana. Inicia diferentes
projetos, mas, tal como Carlos, nunca os termina. É Ega que recebe o cofre, elemento
que desencadeia a tragédia, e o faz chegar a Carlos, de quem é amigo e confidente. Na
obra, esta personagem representa o Realismo que se opõe ao Ultrarromantismo de
Alencar.
Educação
Duas perspetivas educativas surgem em oposição: a típica educação portuguesa e a
educação inglesa, que aparecem associadas a Pedro da Maia e Eusebiozinho e a Carlos,
respetivamente.
Afonso da Maia defendia o modelo britânico, que quis aplicar ao seu filho (sem
sucesso, por oposição da mulher, Maria Eduarda Runa), modelo baseado no rigor dos
princípios e no método, mas também na tolerância e na abertura à realidade. Este tipo
de educação valorizava o exercício físico e o contacto com a natureza, o estudo das
línguas e das ciências experimentais. Foi assim que Carlos foi educado pelo avô e pelo
precetor inglês Mr. Brown. Afonso queria fazer do seu neto um ser digno, forte, física e
psicologicamente, capaz de enfrentar a vida, ao contrário do que havia acontecido com
o seu filho Pedro, que tinha sido educado pela mãe e pelo padre Vasques segundo o
modelo tradicional e conservador, que assentava no primado da cartilha e na religião,
no ensino do latim e na memorização de textos, impedindo as crianças de
desenvolverem o espírito crítico e a vontade própria. Num regime de superproteção,
Pedro da Maia, mas também Eusebiozinho, cresceram apáticos e passivos, medrosos e
indiferentes à realidade que os rodeava, sendo incapazes de definirem objetivos para a
sua vida.
Pequeno resumo:
Toda a ação se passa nos finais do séc. XVI, após o desaparecimento de D. Sebastião na Batalha
de Alcácer-Quibir. Com ele parte D. João de Portugal, personagem vital que desaparece
também desencadeando toda a ação dramática em Frei Luís de Sousa. Todos estes
acontecimentos decorrem sob domínio Filipino.
Após o desaparecimento de D. João de Portugal, D. Madalena manda-o procurar
durante sete anos mas em vão. Casa então com D. Manuel de Sousa, nobre cavaleiro, de quem
tem uma filha de 14 anos. D. Madalena vive uma vida infeliz, cheia de angústia e de
tranquilidade, no receio de que o seu primeiro marido esteja vivo e acabe por voltar. Tal facto
acarretaria para Madalena uma situação de bigamia e a ilegitimidade de Maria, sua filha. Esta
é tuberculosa e vive, em silêncio, o drama da sua mãe que será o seu. Efetivamente D. João de
Portugal acaba por regressar, acarretando o desenlace trágico de toda a ação.
Sebastinismo
A população tinha a convicção de que o rei regressaria para pôr fim ao domínio filipino
e devolver ao país o passado e as glórias de outrora, acreditando-se que haveria uma
solução para superar os problemas.
Amor de Perdição