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GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Leia o excerto de Frei Luís de Sousa. Se necessário, consulte as notas.


1 CENA VIII
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- MADALENA, MANUEL DE SOUSA, JORGE
-
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MADALENA – Jorge, meu irmão, meu bom Jorge, vós, que sois tão prudente e refletido, não
-
- dais nenhum peso às minhas dúvidas?
- JORGE – Tomara eu ser tão feliz que pudesse, querida irmã.
-
-
MADALENA – Pois entendeis?...
10 MANUEL – Madalena… senhora! Todas estas coisas são já indignas de nós. Até ontem, a nossa
- desculpa, para com Deus e para com os homens, estava na boa fé e seguridade de nossas
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- consciências. Essa acabou. Para nós já não há senão estas mortalhas (tomando os hábitos de
- cima da banca) e a sepultura de um claustro. A resolução que tomámos é a única possível; e já
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-
não há
- que voltar atrás… Ainda ontem falávamos dos condes de Vimioso... Quem nos diria... oh!
- incompreensíveis mistérios de Deus!... Ânimo, e ponhamos os olhos naquela cruz! – Pela última
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20 vez, Madalena... pela derradeira vez neste mundo, querida... (Vai para a abraçar e recua).
- Adeus,
- adeus! (Foge precipitadamente pela porta da esquerda.)
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25 CENA IX
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MADALENA, JORGE; coro dos frades dentro
-
- MADALENA – Ouve, espera; uma só, uma só palavra, Manuel de Sousa!... (Toca o órgão
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- dentro.)
- CORO (dentro) – De profundis clamavi ad te, Domine; Domine, exaudi vocem meam 1.
- .
-
35 MADALENA (indo abraçar-se com a cruz) – Oh, Deus, Senhor meu! pois já, já? Nem mais um
- instante, meu Deus? – Cruz do meu Redentor, ó cruz preciosa, refúgio de infelizes, ampara-me
-
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tu, que me abandonaram todos neste mundo, e já não posso com as minhas desgraças... e
- estou feita um espetáculo de dor e de espanto para o céu e para a terra! – Tomai, Senhor,
40 tomai tudo...
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- A minha filha também?... Oh! a minha filha, a minha filha... também essa vos dou, meu Deus.
- E, agora, que mais quereis de mim, Senhor? (Toca o órgão outra vez.)
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CORO (dentro) – Fiant aures tuae intendentes; in vocem deprecationis meae 2.
JORGE – Vinde, minha irmã, é a voz do Senhor que vos chama. Vai começar a santa cerimónia.
MADALENA (enxugando as lágrimas e com resolução) – Ele foi?
JORGE – Foi sim, minha irmã.
MADALENA (levantando-se) – E eu vou. (Saem ambos pela porta do fundo).

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa (ato III), Porto, Edições Caixotim, 2004, pp. 144-146.
1 do mais profundo do ser clamo a ti, Senhor; Senhor, ouve a minha voz.
2 estejam os teus ouvidos atentos à voz da minha súplica.

1. Localize na estrutura interna, no tempo e no espaço as cenas apresentadas.

2. Caracterize a evolução do estado de espírito de D. Madalena, considerando as suas


intervenções.
3. Justifique a atitude de Manuel de Sousa Coutinho.

GRUPO II
Leia o texto.
1 Frei Luís de Sousa regressa ao Teatro D. Maria ao fim de 20 anos
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- Um «monumento» que «deve estar disponível de tempos a tempos para ser visitado pelo
5 público», é como o encenador Miguel Loureiro classifica Frei Luís de Sousa, que estreia nova
- versão, no Teatro D. Maria, em Lisboa.
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- Admirador confesso da obra de Almeida Garrett (1789-1854), tanto da literatura de
- viagens como da dramaturgia e da lírica «mais lamechas», Miguel Loureiro encena a peça
10 que subiu pela primeira vez ao palco em 1843 e é baseada na vida de Frei Luís de Sousa
- (1555-1632), o nome adotado pelo frade Manuel de Sousa Coutinho.
-
-
Considerando que a peça tem «uma escrita muito bonita», e que é «um exercício de
- português absolutamente maravilhoso para um palco», Miguel Loureiro afirmou à imprensa
15 que a peça que leva a cena «segue absolutamente o cânone». Assegura que pegou neste
- drama em três atos, «acreditando na lenda que está por trás dele, acreditando nas linhas de
- pensamento que o texto tem sobre a questão do sebastianismo, a questão da saudade, a
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- questão de uma projeção de Portugal que se cumpre ou não, sobre um projeto político
20 diferente para o país».
- Excetuando «duas ou três frases mais pietistas» e «um ou outro gesto mais expressivo», a
- encenação de Miguel Loureiro de Frei Luís de Sousa não se excede em lamúrias, choros ou
-
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gritos, pautando-se antes pelo comedimento e contenção. «Sem trair o espírito do texto
25 original, das fábulas e das fantasmagorias que contém», Miguel Loureiro disse ter tentado
- «tocar nas teclas todas» do drama garrettiano, «sem carregar muito na tecla político-
- nacionalista que a peça tem».
- Acrescentou ter seguido mais «pela zona de uma certa sombra, de uma certa névoa», o
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30 que está também patente na cenografia de André Guedes, assim como na cena em que
- Manuel de Sousa Coutinho deita fogo à própria casa, em Almada, para que os governadores
- do reino não se apoderassem dela para escapar à peste negra que grassava em Lisboa na
- época.
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A ação da peça de Almeida Garrett decorre em pleno domínio dos Filipes de Espanha em
- Portugal, época em que o mito do sebastianismo ainda estava muito presente na sequência
- do desaparecimento do rei na Batalha de Alcácer Quibir.
- Esta peça surge de um desafio que José Luís Ferreira, antigo diretor do S. Luiz, lançou a
-
Miguel Loureiro, disse o encenador. O diretor do D. Maria II achou que seria bom fazê-lo na
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- sala Garrett, já que foi o autor romântico que propôs a edificação daquele teatro no Rossio.
- Vinte anos depois da última encenação desta peça de Almeida Garrett no D. Maria II – a
- de Carlos Avilez, em 1999 –, Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional, achou que
- era tempo de a fazer aqui, argumentou Miguel Loureiro.
45 Agência Lusa, «Frei Luís de Sousa regressa ao Teatro D. Maria ao fim de 20 anos», disponível em
https://www.dn.pt/lusa (texto com adaptações e supressões, outubro de 2019)

1. No primeiro parágrafo do texto, o uso das aspas serve para


(A) introduzir o discurso direto e uma ironia.
(B) assinalar a presença do discurso indireto e de uma hipérbole.
(C) reproduzir o diálogo e destacar uma alegoria.
(D) delimitar uma citação e uma metáfora.

2. A encenação de Miguel Loureiro de Frei Luís de Sousa


(A) excede-se em lamúrias, contendo várias frases pietistas, muito choro e gritos.
(B) rege-se por um tom moderado, excetuando alguns apontamentos mais dramáticos.
(C) pauta-se pelo comedimento, já que segue absolutamente o cânone trágico.
(D) configura-se lamechas, embora as cenas pietistas, o choro e os gritos sejam pontuais.

3. A opção do encenador «pela zona de uma certa sombra, de uma certa névoa» (l. 29)
(A) evidencia a importância dada à vertente político-nacionalista da obra.
(B) homenageia o mito do sebastianismo, que percorre a obra.
(C) traduz-se no cenário ou, por exemplo, na cena do incêndio do palácio de Almada. (D) glorifica o
contexto da obra em que o desaparecimento de D. Sebastião era recente.

4. Nos contextos em que ocorrem, as palavras destacadas em «pautando-se antes pelo


comedimento e contenção» (l. 24) contribuem para a coesão
(A) lexical por sinonímia.
(B) lexical por repetição.
(C) gramatical referencial.
(D) gramatical frásica.

5. As orações subordinadas introduzidas por que em «Miguel Loureiro afirmou à imprensa que a
peça que leva a cena segue absolutamente o cânone» (ll. 14 e 15) são
(A) adjetiva relativa restritiva e substantiva completiva, respetivamente.
(B) substantiva completiva e adjetiva relativa restritiva, respetivamente.
(C) substantiva relativa e adjetiva relativa restritiva, respetivamente.
(D) ambas adjetivas relativas restritivas.

6. Indique os referentes das palavras sublinhadas.


A) «a de Carlos Avilez» (ll. 42 e 43).
B) «achou que era tempo de a fazer aqui» (ll. 43 e 44).

7. Identifique a função sintática do constituinte «Admirador confesso da obra de Almeida Garrett


(1789-1854)» (l. 8).

8. Identifique e classifique os deíticos presentes em “da admiração de uma tão grande virtude
vossa passemos ao louvor” (Grupo I, Texto B, l.1).

9. Identifique o tempo e modo verbais de “fizera” (Grupo I, Texto B, l.21)

GRUPO III

«É verdade quando a filosofia diz que a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. No
entanto, esqueceram-se de outra frase: que ela só pode ser vivida olhando-se para a frente.»
Soren Kierkegaard

A partir da citação transcrita e da peça Frei Luís de Sousa, num texto de opinião bem estruturado, com
um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresente o seu ponto de vista sobre o
saudosismo do povo português. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois
argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

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