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Fernando Pessoa, “Não sei se é sonho, se realidade”

Orientações de leitura

 Neste poema, o elemento “ilha” adquire um valor simbólico, funcionando como


a representação do sonho.

 Esta “ilha” é apresentada, na primeira estrofe, como um espaço mítico,


longínquo (“ilha extrema do sul”), associado à ideia de felicidade que todos
“ansiamos”, uma espécie de paraíso situado numa “terra de suavidade” onde
existe o “amor” e a “vida é jovem”, não conhecendo o desgaste provocado pela
passagem do tempo.

 Há ainda, na segunda estrofe, a referência à “Sombra”, ao “sossego”, aos


“palmares” e às “Áleas”. Todavia, os “palmares” são qualificados como
“inexistentes” e as “Áleas” como “longínquas sem poder ser”, pelo que a “ilha”
começa a surgir como um lugar ilusório. Sem corresponder a uma realidade
física, não deixa, no entanto, de reconfortar os que desejam um espaço de
felicidade (vv. 9-10).

 A utilização da conjunção adversativa (“Mas”) introduz definitivamente uma


mudança no tom do poema: estabelece-se uma oposição entre a crença na
existência de uma “ilha” onde todos os sonhos são possíveis (“terra de
suavidade”; “Ali, ali/A vida é jovem e o amor sorri”) e a consciência de que, ao
concretizá-la pelo pensamento, ela perde as suas virtudes: “Mas já sonhada se
desvirtua,/Só de pensá-la cansou pensar”. No fundo, ao ser pensada, a “ilha”
deixa de ter uma dimensão idílica, pois é dolorosa a consciência do seu
carácter ilusório e amarga a consciência da realidade. Assim, afirma-se: “Sob
os palmares, à luz da lua,/Sente-se o frio de haver luar” e “O mal não cessa,
não dura o bem”.

 O advérbio “ali”, utilizado na primeira estrofe, refere a “ilha extrema do sul”; o


mesmo advérbio, usado na última estrofe, remete já para o interior de cada um
de nós, pois é em nós, e só em nós, que podemos encontrar a felicidade: “É
em nós que é tudo”.

 Neste poema, são evidentes características temáticas da poesia de Fernando


Pessoa ortónimo. É o caso da sobrevalorização da consciência e consequente
dor de pensar, que resultam na desvirtuação da ilha de sonho – “Mas já
sonhada se desvirtua,/Só de pensá-la cansou pensar.” Também a intersecção
entre o sonho e a realidade, tão presente na poesia do ortónimo, é bem
patente no poema em análise – “Não sei se é sonho, se realidade.

 A regularidade métrica (versos de 9 sílabas métricas), a regularidade na rima,


as repetições, as aliterações são elementos que conferem musicalidade ao
poema.

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