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Leia com atenção o excerto de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, que se segue.
Cena VIII
Manuel (passeia agitado de um lado para outro da cena, com as mãos cruzadas detrás das
costas: e parando de repente) – Há de saber-se no mundo que ainda há um português em
Portugal.
5 Manuel – Tenho que não hei de sofrer esta afronta… e que é preciso sair desta casa,
senhora.
Madalena – Pois sairemos, sim; eu nunca me opus ao teu querer, nunca soube que coisa era
ter outra vontade diferente da tua; estou pronta a obedecer-te sempre, cegamente, em tudo. Mas
oh! esposo da minha alma… para aquela casa não, não me leves para aquela casa! (Deitando-lhe
10 os braços ao pescoço).
Manuel – Ora tu não eras acostumada a ter caprichos! Não temos outra para onde ir; e a
estas horas, neste aperto… Mudaremos depois, se quiseres… mas não lhe vejo remédio agora. E
a casa que tem? Porque foi de teu primeiro marido? É por mim que tens essa repugnância? Eu
estimei e respeitei sempre a D. João de Portugal; honro a sua memória, por ti, por ele e por mim;
15 e não tenho na consciência por que receie abrigar-me debaixo dos mesmos tetos que o cobriram.
Viveste ali com ele? Eu não tenho ciúmes de um passado que me não pertencia. E o presente,
esse é meu, meu só, todo meu, querida Madalena… Não falemos mais nisso: é preciso partir, e já.
Madalena – Mas é que tu não sabes… Eu não sou melindrosa nem de invenções; em tudo o
mais sou mulher, e muito mulher, querido; nisso não… Mas tu não sabes a violência, o
20 constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa. Parece-me
que é voltar ao poder dele, que é tirar-me dos teus braços, que o vou encontrar ali… Oh, perdoa,
perdoa-me, não me sai esta ideia da cabeça… que vou achar ali a sombra despeitosa de D. João,
que me está ameaçando com uma espada de dois gumes… que a atravessa no meio de nós,
entre mim e ti e a nossa filha, que nos vai separar para sempre… Que queres? Bem sei que é
25 loucura; mas a ideia de tornar a morar ali, de viver ali contigo e com Maria, não posso com ela. Sei
decerto que vou ser infeliz, que vou morrer ali naquela casa funesta, que não estou ali três dias,
três horas, sem que todas as calamidades do mundo venham sobre nós. Meu esposo, Manuel,
marido da minha alma, pelo nosso amor to peço, pela nossa filha… vamos seja para onde for,
para a cabana de algum pobre pescador desses contornos, mas para ali não, oh, não!...
30 Manuel – Em verdade nunca te vi assim; nunca pensei que tivesses a fraqueza de acreditar
em agouros. […]
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Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Situe o excerto transcrito nas estruturas externa e interna da obra, destacando a sua
importância para o desenvolvimento da ação. (20 pontos)
5. Explique a frase “Há-de saber-se no mundo que ainda há um português em Portugal.” (ll. 2-3).
(12 pontos)
7. Indique se as afirmações que se seguem são Verdadeiras (V) ou Falsas (F). Corrija as
afirmações falsas. (18 pontos)
a. O Romantismo é um movimento literário e artístico que surgiu na cultura europeia nos finais
do século XV.
b. Em Portugal, o Romantismo emerge num clima de paz política.
c. No Romantismo, privilegia-se a liberdade e o nacionalismo, evidenciando-se o interesse pela
Idade Média.
d. A paisagem romântica é designada de locus amoenus.
e. O herói romântico é dominado pela razão.
f. Os românticos valorizam o indivíduo, a sensibilidade, o sentimento e a exaltação do eu interior.
1. Selecione, para cada um dos itens que se seguem, a única opção que permite obter uma
informação adequada ao sentido do texto. (20 pontos)
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1.1. A expressão “Que tens tu, dize, que tens tu?” (l. 4) concretiza um ato ilocutório
(A) diretivo.
(B) assertivo.
(C) compromissivo.
(D) expressivo.
1.2. As palavras “querer” (l. 7) e “vontade” (l. 8) mantêm entre si uma relação
semântica de
(A) oposição.
(B) hierarquia.
(C) equivalência.
(D) inclusão.
1.3. Na frase “Meu esposo, Manuel, marido da minha alma, pelo nosso amor to peço […]”
(ll. 27-28), os constituintes sublinhados desempenham a função sintática de
(A) modificador do nome apositivo.
(B) modificador do nome restritivo.
(C) predicativo do complemento direto.
(D) vocativo.
1.4. A palavra sublinhada na frase “Mas oh! esposo da minha alma…” (ll. 8-9) é
(A) uma preposição.
(B) uma interjeição.
(C) uma conjunção.
(D) um advérbio.
A Batalha de Alcácer Quibir tinha envolvido todo o reino, não só através do esforço
de recrutamento de tropas, mas também através da participação da nobreza dos lugares
mais afastados. Uma breve análise das listas de mortos e de cativos existentes, que dizem
respeito apenas aos fidalgos e às pessoas “principais”, permite-nos detetar a presença de
5 membros de praticamente todas as famílias nobres. O traumatismo coletivo provocado
pelas notícias do desastre pode ser avaliado pela eclosão de práticas divinatórias em todo
o reino, pelo aparecimento de profecias e pelos primeiros sinais do fenómeno do
sebastianismo. (…) Várias medidas concretas foram tomadas para resolver o problema:
em primeiro lugar, foram enviados embaixadores e frades trinos¹, especializados no
10 resgate de cativos, para o Norte de África. Foram estabelecidas conversações com o
xerife², conhecidas as condições impostas e definidas formas de as satisfazer. (…) Para
além destas medidas, o rei procedeu a outras remessas de joias e de roupas para serem
vendidas em Ceuta, destinadas ao pagamento de outros resgates. Alguns bispos
ofereceram igualmente somas avultadas para a libertação dos cativos pobres das suas
15 dioceses. Os frades trinos, bem como alguns jesuítas enviados ao Norte de África,
mantiveram uma ação persistente ao longo de vários anos. Apesar dos acidentes de
percurso, a grande maioria dos nobres cativos já estava no reino ao fim de um ou dois
anos de cativeiro.
Francisco Bethencourt, História de Portugal, dir. José Mattoso, Ed. Círculo de Leitores, 1993
(texto adaptado e com supressões)
_________________________________
trinos: da Ordem da Trindade.
2
xerife: título usado por príncipes mouros
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2. Faça corresponder a cada segmento textual da coluna A um único segmento textual da coluna B,
por forma a obter uma afirmação adequada ao sentido do texto anterior.
(10 pontos)
A B
1. Com o conector “não só … mas também” (ll. 1-2) (A) o enunciador apresenta o conteúdo da frase como
uma possibilidade.
2. Com o recurso à forma do verbo auxiliar modal (B) o enunciador introduz um tópico novo, diferente
“pode” (l. 6) dos que referiu anteriormente.
(C) o enunciador estabelece uma relação de
3. Através do recurso ao adjetivo com valor consequência com a ideia anterior.
apreciativo “persistente” (l. 16) (D) o enunciador realça dois factos, agrupando-os.
(E) o enunciador introduz uma ideia de contraste.
4. Com o uso da expressão “Apesar dos” (l. 16) (F) o enunciador exprime uma opinião acerca de um
facto que relata.
destino [dǝʃ’tinu] n.m. 1. Poder superior à vontade do homem que se supõe fixar de maneira
irrevogável o curso dos acontecimentos; fatalidade; 2. Sucessão de factos que constituem a vida
de alguém e que se crê serem independentes da sua vontade; fado [...].
-- FIM –
BOM TRABALHO!
A Professora: Teresa Paula
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