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“De tarde”, Cesário Verde

Manual, p. 186
“De tarde”, Cesário Verde

De tarde
Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
 

Foi quando tu, descendo do burrico,


Foste colher, sem imposturas1 tolas,
A um granzoal2 azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
 

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Robert Vonnoh, Papoilas, 1890


Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia3.
 

Mas, todo púrpuro4, a sair da renda


Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde (uma seleção), Porto Editora, 2015
“De tarde”, Cesário8.º
Livro aberto, Verde
ano

De tarde
❶ Naquele pic-nic de burguesas, a
b Análise formal
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
a
• Estrofes: 4 quadras
b
Em todo o caso dava uma aguarela.
  • Rima cruzada em todas as
❷ Foi quando tu, descendo do burrico, estrofes: abab
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico • Versos decassílabos
Um ramalhete rubro de papoulas. (10 sílabas métricas)
 
❸ Pouco depois, em cima duns penhascos,

Georgia O’Keeffe, Papoila vermelha, 1927


Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
 

❹ Mas, todo púrpuro, a sair da renda


Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde (uma seleção), Porto Editora, 2015
“De tarde”, Cesário8.º
Livro aberto, Verde
ano

De tarde
Naquele pic-nic de burguesas, Análise formal
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas, • Estrofes: 4 quadras
Em todo o caso dava uma aguarela.
  • Rima cruzada em todas as
Foi quando tu, descendo do burrico, estrofes: abab
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico • Versos decassílabos
Um ramalhete rubro de papoulas. (10 sílabas métricas)
 
Pouco depois, em cima duns penhascos,

Georgia O’Keeffe, Papoila vermelha, 1927


Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
 

Pou
Mas, |todo
co púrpuro,
| de | pois,
a sair| da
emrenda
| ci | ma | duns | pe | nhas [cos],
Dos teus dois seios como duas rolas,
Nós | a | cam | pá | mos | in | da o | sol | se | vi [a];
Era o supremo encanto da merenda
E hou | ve rubro
O ramalhete | ta |das
lhapapoulas!
| das | de | me | lão, | da | mas [cos],
E | pão
Cesário | de
Verde, | lóde| Cesário
O Livro mo | lhaVerde|(uma
do seleção),
em | mal Porto| Editora,
va | si2015
[a].

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