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Análise poema “ De Tarde”:

No poema que a seguir vou ler, intitulado de “De Tarde” é visível o gosto do poeta pelo campo e
pela natureza.

De Tarde
(Cesário Verde)
.
Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal*1 azul de grão-de-bico
Um ramalhete*2 rubro de papoulas.
.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia*3.
.
Mas, todo púrpura*4 a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
.
Esquema rimático: (Rima cruzada)
a - b - a - b 
(4 quadras cada uma com 4 versos)
Demonstrativo "Naquele" e a forma verbal no Pretérito Perfeito "Houve" remetem para o
passado, instaurando a memória como meio de representação poética.
Aliteração: " A um granzoal azul de grão-de-bico", "Um ramalhete rubro de papoulas", "E houve
talhadas de melão, de damascos, / E pão-de-ló molhado em malvasia"
Indicadores de tempo: “inda o Sol se via”
1
Indicadores de espaço: “A um granzoal azul de grão-de-bico”, “Pouco depois, em cima duns
penhascos,”

 *1   Campo de cultivo de grão-de-bico


 *2  s.m. Pequeno molho de flores
 *3   Vinho branco e generoso feito de uva muito doce e odorífera, originária da Grécia
 *4   encarnado

Neste poema verifica-se a capacidade descritiva de Cesário Verde e o seu gosto pela natureza. É
possível verificar-se ainda uma característica muito especial do poeta, o gosto pela simplicidade. O
facto de a burguesa ter descido do burrico descontraída e sem imposturas tolas e ter ido colher
papoulas deu a Cesário um significado belo. Para o poeta o real valor das coisas estava na
simplicidade.
A descrição do local onde a burguesa fora colher as pápulas “um granzoal azul de grão-de-bico”
demonstra a capacidade descritiva do real observado pelo poeta e, assim quando a sua poesia é
lida logo o leitor imagina a sena presenciada pelo poeta.
Verifica-se ainda o gosto de Cesário pela mulher simples que não se dá a luxos e que, tal como ele,
gosta da natureza e do campo.
Na segunda estrofe o poeta usa a aliteração em “granzoal azul grão de bico” e em “ramalhete
rubro” para valorizar a ideia de campo.
Ao usar o gerúndio (“descendo”) faz transmitir a ideia de movimento da figura feminina naquele
momento.
De seguida o sujeito poético faz uma pequena descrição dos elementos que compõem a merenda,
através de alguns substantivos e de enumerações (“talhadas de melão, damascos”, “pão de ló
molhado em malvasia”) onde frisa o erotismo dos frutos e do resto da comida, através de
sensações visuais e gustativas.
Na última quadra, Cesário Verde inicia a frase com uma conjunção coordenativa adversativa que
confere a ideia de que o poeta esqueceu o picnic por um instante e se concentra na mulher que
lhe provoca vários sentimentos e que é portadora de uma grande sensualidade, «Mas, todo
púrpura, a sair da renda, dos teus seios como duas rolas», usando aqui a comparação.
O poema termina com uma frase exclamativa que pretende transpor-nos aquilo que o sujeito
poético reteve do picnic, ou seja, essencialmente a beleza daquela figura feminina que vai
provocando um turbilhão de ideias na cabeça do sujeito poético.
Nesta, os dois seios remetem para a sensualidade da mulher, destaca-se muito a cor vermelha
«rubro» que nos remete para a vida sanguínea, mas também para o calor dos seios da figura
feminina, metonimicamente deslocados para as papoulas.
Em finalização, deste poema retém-se o gosto do poeta pelo campo e a atração que aquela figura
feminina lhe provoca.

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